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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA Relatório de Graduação (GLG0001) Matheus Lisboa Nobre da Silva GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES, CLASSIFICAÇÕES E AMEAÇAS Orientador: Marcos Antonio Leite do Nascimento Monografia nº 426 Natal RN Maio/2016

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Page 1: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

Relatório de Graduação

(GLG0001)

Matheus Lisboa Nobre da Silva

GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN):

VALORES, CLASSIFICAÇÕES E AMEAÇAS

Orientador:

Marcos Antonio Leite do Nascimento

Monografia nº 426

Natal – RN

Maio/2016

Page 2: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

Relatório de Graduação

(GLG0001)

Matheus Lisboa Nobre da Silva

GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN):

VALORES, CLASSIFICAÇÕES E AMEAÇAS

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Marcos Antonio Leite do Nascimento

Prof. Dr. Vanildo Pereira da Fonseca

Prof. Dr. Paulo Cesar de Araújo

Natal – RN

Maio/2016

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial

Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET.

Silva, Matheus Lisboa Nobre da.

Geodiversidade da cidade do Natal (RN): valores, classificações e ameaças /

Matheus Lisboa Nobre da Silva. - Natal, 2016. 170 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio Leite do Nascimento.

Relatório (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro

de Ciências Exatas e da Terra. Departamento de Geologia.

1. Geodiversidade – Monografia. 2. Valores – Monografia. 3. Natal –

Monografia. I. Nascimento, Marcos Antonio Leite do. II. Universidade Federal do

Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE-CCET CDU: 551:504

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Para meus pais Flávio e Luciana e

minha cidade, Natal

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Flávio e Luciana, por tudo que me ensinaram e pelo que sou, vocês são minha base,

através de quem cresço cada dia mais como filho e pessoa! Obrigado por todos os sacrifícios,

carinhos, conselhos, carões e, principalmente, todo o amor que vocês dão a mim e Mariana.

À Mariana, por ser a melhor irmã, entender meus estresses e, mesmo que pouco eu fale, me escutar

sobre meus problemas e vivências. Saiba que sempre estou aqui por você!

À minha namorada-companheira-geóloga, Tarsila, por todos os momentos de compreensão, carinho,

amor e diversão. Obrigado também por todos os conselhos neste trabalho e na vida!

A meus avós, Janete e Pedro, Lourdinha (in memoriam) e Evandro, por terem criado essa família

maravilhosa e única da qual sou parte. Suas histórias e vidas são inspiração para mim!

A Cacá, uma mãe para mim, e meus padrinhos, Salete e Krause (in memoriam). Todo o carinho e

cuidado que vocês têm comigo me ajudou a ser quem sou hoje!

A todos meus tios e primos, pelos copos e taças compartilhados e momentos vividos! Agradeço

especialmente a tio Paulo pelas conversas e material informacional sobre patrimônio e Natal, que

ajudaram no embasamento das discussões deste trabalho.

A todos meus amigos que o CEFET, a Geologia e a vida me deram: Alinne, André, Bárbara, Catarina,

Fernando, Gal, Ingrid B., Jana/João, Macau, Vanessa, Vini e os Degradantes (Arlindo, Ed, Ícaro,

Jayne, Laísla, Marília, Peixoto, PV), assim como toda a turma 4.302.1M (CEFET) e 2011 (UFRN).

A todos os amigos que são também companheiros de trabalho na BCZM: Arthur, Edson, Evellyn,

Guilherme, Josi, Kalline, Karla, Magnólia, Martha, Olga, Silvestre e Thiago, assim como todos que

já passaram pelo Setor de Compras.

A meus ex-professores e hoje amigos, Mário Tavares e Jossylúcio, e Bruna juntamente com toda a

equipe do Grupo de Pesquisa Mineral do IFRN, que será sempre minha primeira casa na pesquisa

cientifica.

Ao professor/amigo Marcos Nascimento, que meu deu a oportunidade de trabalhar com

geodiversidade, área que mais me reconheço na geologia, que propicia a geoeducação. Obrigado

também pelos goles de cerveja!

Aos professores Vanildo e Paulo César por aceitarem participar da banca de avaliação deste trabalho.

Muito me honra receber de vocês todas e quaisquer críticas e sugestões.

Agradeço a Deus, que tanto se faz presente em minha vida pela intercessão de Nossa Senhora dos

Navegantes! “Sem vós, como seria a humanidade? Como triste seria a sorte humana!”.

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“Eu fui criado no bafo da maresia,

No bafejo da alegria,

No balanço desse mar...

Sou da Ribeira, eu sou

Sou canguleiro, eu sou”

Hino do Grêmio Recreativo-Lítero-Etílico-Cultural e

Esportivo Banda Independente da Ribeira

(Ciro Pedroza)

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RESUMO

A geodiversidade do planeta é compreendida por todos os recursos abióticos que compõem a

natureza: solos, minerais, rochas, rios, lagoas, paisagens e fenômenos naturais como o intemperismo

e magmatismo. A partir disto, pesquisadores têm focado seus estudos, sob esta nova óptica das

geociências, desde a década de 1990, se aproveitando também da multidisciplinaridade permitida

pela geodiversidade e divulgando os conteúdos geológicos pela sociedade. No Brasil, o uso do termo

geodiversidade começou na década de 2000 e vem sendo intensificado ao longo dos anos recentes,

sendo também aplicado nas interpretações de usos dos recursos do meio abiótico nas cidades, como

em monumentos, arruamentos e edifícios. Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, além das belas

paisagens, compostas por praias, dunas, falésias, rios, mangues e lagoas, existem diversos registros

de usos dos recursos da geodiversidade, sobretudo, de rochas em monumentos e edifícios, históricos

e recentes, e nas primeiras ruas da cidade. Observa-se o uso de rochas sedimentares, como arenitos

calcíferos e ferruginosos, ígneas, especialmente granitos retirados da cidade vizinha Macaíba, e

metamórficas, como os mármores correlatos à Formação Jucurutu. Ao longo de toda a história da

cidade, que perpassa mais de 400 anos, a geodiversidade mostra-se sempre presente, desde os

primórdios da cartografia local, que remonta ao período de ocupação holandesa, em que o ambiente

natural fora retratado fidedignamente. Os estudos desenvolvidos neste trabalho abordam a

geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, in situ, ou aliada ao patrimônio

cultural local, ex situ, na região da cidade. São feitas descrições dos valores da geodiversidade, de

acordo com os serviços ecossistêmicos, como definidos por Murray Gray, além da classificação

dessas ocorrências, naturais ou não, de acordo com seus valores e extensão areal. Ainda são

apresentadas considerações sobre as principais ameaças que afetam a geodiversidade e que podem

culminar na remoção de suas características e ocorrências na cidade.

Palavras-chave: Geodiversidade; valores; Natal

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ABSTRACT

Geodiversity of the planet is understood by all abiotic resources that make up the nature: soils,

minerals, rocks, rivers, lakes, landscapes and natural phenomena such as weathering and magmatism.

From this, researchers have focused their studies under this new perspective of geosciences since the

1990s, also taking advantage of the multidisciplinary allowed by geodiversity and disseminating the

geological content through the society. In Brazil, the use of the geodiversity term began in the 2000s

and has been intensified over the recent years, also applied to the interpretations of the abiotic

resources’ use in cities, such as on monuments, streets and buildings. In Natal, capital of Rio Grande

do Norte, besides the beautiful landscapes composed by beaches, dunes, cliffs, rivers, wetlands and

lakes, there are many records of uses of geodiversity’ resources, especially of rocks in buildings and

monuments, historical and recent, and on the first streets of the city. It’s noted the use of sedimentary

rocks, such as calciferous and ferruginous sandstones, igneous, especially granite taken from the

nearby town Macaíba, and metamorphic, as the marbles related to the Jucurutu Formation.

Throughout the history of the city, running through more than 400 years, geodiversity is present since

the beginning of the local mapping, dating back to the Dutch occupation period, in which the natural

environment was portrayed faithfully. The studies developed in this work addresses the geodiversity

of Natal that occurs naturally, in situ, or along with the local cultural heritage, ex situ, in the city’s

region. Descriptions of the geodiversity values are made, according to ecosystem services, as defined

by Murray Gray, as well as classification of these occurrences, natural or not, according to their

values and areal extent. It’s also made some considerations on the major threats to geodiversity that

may result on the removal of their characteristics and occurrences in the city.

Keywords: Geodiversity; values; Natal

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

Figura 1.1 – Mapa de localização da cidade do Natal Fonte: elaborado pelo autor ........................................ 23

CAPÍTULO 2

Figura 2.1 – Pintura de autor desconhecido retratando a invasão holandesa à Natal, cuja vila é retratada ao

centro e o Forte dos Reis Magos à esquerda. É possível observar também elementos naturais como

dunas, rios e lagoas. Fonte: Blog Natal de Ontem ............................................................................... 28

Figura 2.2 – Mapas mostrando a ocupação territorial da cidade do Natal, ao final do século XIX (A) e na

década de 1930 (B). Fonte: Nobre, 2001 a partir de Miranda, 1999 .................................................... 30

Figura 2.3 – Fotografia de 1943 mostrando os principais meios de transporte do início do século XX: bonde e

ônibus. Foto: Jaeci Galvão ................................................................................................................... 31

Figura 2.4 – Fotografia da primeira metade do século XX mostrando a praia de Areia Preta urbanizada e o

Farol de Mãe Luísa ao fundo, sobre as dunas. Foto: Jaeci Galvão ....................................................... 32

Figura 2.5 – Fotografia da primeira metade do século XX da praia de Redinha, mostrando ao fundo o Forte dos

Reis Magos. Foto: Jaeci Galvão ........................................................................................................... 32

Figura 2.6 – Províncias Estruturais Brasileiras. Destaque em vermelho para a Província Costeira, onde está

localizada a área de estudo deste trabalho. Fonte: Modificado de Almeida et al. (1977) .................... 34

Figura 2.7 – Reconstrução pré-drift das bacias sedimentares na porção nordeste da América do Sul e suas

correlatas na África, com destaque para as Bacias Potiguar (amarelo) e Pernambuco-Paraíba (vermelho).

Fonte: Modificado de Mohriak, 2003 ................................................................................................... 35

Figura 2.8 – Mapa geológico da cidade do Natal. Fonte: Modificado de Fonseca et al., 2012 ....................... 37

Figura 2.9 – Falésia do Grupo Barreiras na região da Via Costeira, em frente ao hotel Marsol. Foto: Matheus

Lisboa ................................................................................................................................................... 38

Figura 2.10 – Imagem de satélite com destaque para um dos depósitos de mangue na cidade do Natal. Fonte:

Google Earth ........................................................................................................................................ 40

Figura 2.11 – Fotografia mostrando um típico depósito eólico litorâneo vegetado na região da praia de

Genipabu. Foto: Matheus Lisboa ......................................................................................................... 41

Figura 2.12 – Foto da região litorânea da Via Costeira, em Natal. Toda a faixa intermaré, vista na fotografia

como uma faixa plana, corresponde aos depósitos litorâneos praiais. Foto: Matheus Lisboa .............. 42

Figura 2.13 – Fotografia da região entre as praias do Forte e Artistas mostrando o alinhamento dos corpos de

arenitos praiais (setas vermelhas), de direção N-S, paralelos à linha de costa, na cidade do Natal. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 43

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Figura 2.14 – Fotografia mostrando em destaque os corpos de dunas que se destacam na paisagem da cidade

do Natal. Em transparência amarela, Parque da Cidade; nas setas vermelhas, Parque das Dunas. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 46

CAPÍTULO 3

Figura 3.1 – Comparativo teórico da evolução da biodiversidade (linha vermelha) com a da geodiversidade

(linha azul). A rápida expansão da geodiversidade em 3 Ga está relacionada com o desenvolvimento da

crosta continental. Fonte: Modificado de Gray (2013) ......................................................................... 50

Figura 3.2 – Valores e subvalores da geodiversidade sensu Murray Gray. Fonte: Elaborado pelo autor a partir

de Gray (2004) ..................................................................................................................................... 52

Figura 3.3 – Espécime de cacto que utiliza o xisto como habitat, representando a importância da geodiversidade

como um serviço de suporte. Foto: Matheus Lisboa ............................................................................ 57

Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade segundo os serviços ecossistêmicos. Fonte: Elaborado

pelo autor a partir de Gray (2013) ........................................................................................................ 63

Figura 3.5 – Esquema conceitual da classificação dos lugares de geodiversidade. Fonte: Brilha (2015) ....... 68

Figura 3.6 – Logomarca oficial da rede de Geoparques da UNESCO Fonte: unesco.org ............................... 72

Figura 3.7 – Mapa de localização das paradas sugeridas pelo roteiro geoturístico do centro histórico de São

Paulo. Fonte: Del Lama et al. (2014) ................................................................................................... 74

Figura 3.8 – Mapa de localização dos pontos que compõem o roteiro geoturístico do centro histórico de Natal.

Fonte: Carvalho (2010) ........................................................................................................................ 75

CAPÍTULO 4

Figura 4.1 – Imagem de satélite com destaque para a praia da Redinha. Fonte: Google Earth....................... 80

Figura 4.2 – Foto da praia da Redinha mostrando a larga faixa de areia quartzosa. Foto: Matheus Lisboa .... 81

Figura 4.3 – Pessoas praticando futebol de areia na praia da Redinha. Foto: Matheus Lisboa ....................... 81

Figura 4.4 – Foto de 1960 mostrando a região da praia do Meio, no Litoral Central de Natal, até então pouco

ocupada. Foto: Getty Images ................................................................................................................ 82

Figura 4.5 – Imagem de satélite com destaque para o Litoral Central (praias do Forte, Meio e Artistas) Fonte:

Google Earth ........................................................................................................................................ 82

Figura 4.6 – Mapa de Johannes Vingboons, datado de 1665, mostrando o Fort Ceulen e os arenitos praiais da

região Litoral Central. Em holandês, está escrito steen clip genaemt riciff, cuja tradução é corpo de pedra

chamado recife. Fonte: http://www.robgomes.nl/ ................................................................................ 83

Figura 4.7 – Mapas da região Litoral Central de Natal, mostrando os corpos de arenitos praiais. Fontes: A –

Branner (1904); B – Oliveira (1978) .................................................................................................... 84

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Figura 4.8 – Fotomicrografia de amostra de arenito praial da região Litoral Central mostrando grãos de

microclina (Mc), quartzo monocristalino (Qz) e cimento em mosaico (seta vermelha). ...................... 85

Figura 4.9 – Fotomicrografia de amostra de arenito praial mostrando cimento carbonático (seta vermelha) em

franja fibro-radial preenchendo porosidade primária (seta azul), além dos grãos quartzosos (Qz) do

arcabouço. ............................................................................................................................................ 85

Figura 4.10 – Imagem de satélite com destaque para a forma côncava da linha de costa na praia do Forte. Fonte:

Google Earth ........................................................................................................................................ 85

Figura 4.11 – Fotografia da praia do Forte, mostrando sua linha de costa curva e dunas frontais vegetadas. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 85

Figura 4.12 – Foto da década de 1930 mostrando a praia de Areia Preta ainda com baixa ocupação. Foto: Jaeci

Galvão .................................................................................................................................................. 86

Figura 4.13 – Foto mostrando as primeiras casas e o farol construídos sobre as dunas frontais. Foto: Jaeci

Galvão .................................................................................................................................................. 86

Figura 4.14 – Foto de 1960 da praia de Areia Preta, destaque para os corpos de arenitos do Grupo Barreiras.

Foto: Getty Images ............................................................................................................................... 87

Figura 4.15 – Imagem de satélite com destaque para a praia de Areia Preta, na qual se observa a presença de

três estruturas de enrocamento. Fonte: Google Earth .......................................................................... 87

Figura 4.16 – Imagem de satélite com destaque para a região Litoral Sul (praias da Via Costeira e Ponta Negra).

Fonte: Google Earth ............................................................................................................................. 88

Figura 4.17 – Destaque para estratificação de praia nos sedimentos da praia da Via Costeira. Foto: Matheus

Lisboa ................................................................................................................................................... 89

Figura 4.18 – Blocos de arenitos ferruginosos do Grupo Barreiras encontrados na Via Costeira. Foto: Matheus

Lisboa ................................................................................................................................................... 89

Figura 4.19 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-09. Fonte: Google Earth .................................... 92

Figura 4.20 – Foto do corpo de dunas norte. Foto: Matheus Lisboa ............................................................... 92

Figura 4.21 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-04. Fonte: Google Earth .................................... 93

Figura 4.22 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-10. Fonte: Google Earth .................................... 94

Figura 4.23 – Foto do corpo de dunas leste. Foto: Matheus Lisboa ................................................................ 94

Figura 4.24 – Farol de Mãe Luisa, construído sobre o corpo de dunas leste. Foto: Matheus Lisboa .............. 94

Figura 4.25 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-05 e ZPA-06. Fonte: Google Earth ................... 95

Figura 4.26 – Foto mostrando propaganda turística de Natal com a imagem do Morro do Careca na estação

Euston Square em Londres. Foto: Blog SOS Ponta Negra .................................................................. 95

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Figura 4.27 – Imagem de satélite com destaque para o Parque das Dunas, área da ZPA-02. Fonte: Google Earth

.............................................................................................................................................................. 97

Figura 4.28 – Foto panorâmica de corpos de dunas do Parque das Dunas vistos a partir da Via Costeira. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................... 98

Figura 4.29 – Zona de blowout no Parque das Dunas, vista na Via Costeira. Foto: Matheus Lisboa ............. 98

Figura 4.30 – Falésias do Parque das Dunas vistas na Via Costeira. Foto: Matheus Lisboa ........................... 98

Figura 4.31 – Imagem de satélite com destaque para o Parque da Cidade, área da ZPA-01. Foto: Matheus

Lisboa ................................................................................................................................................... 99

Figura 4.32 – Corpos de dunas vegetados no Parque da Cidade. Foto: Matheus Lisboa ................................ 99

Figura 4.33 – Imagem de satélite mostrando os mangues da cidade do Natal, localizados nas duas margens do

Rio Potengi. Fonte: Google Earth ...................................................................................................... 102

Figura 4.34 – Fotografia do mangue de Natal, destaque para a quantidade de matéria orgânica, identificada

pela forte tonalidade cinza e pelo cheiro de enxofre proveniente do material em decomposição. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 102

Figura 4.35 – Foliã passando lama do mangue no corpo, este é o “abadá” do Bloco dos Cão na Redinha. Foto:

Alex Régis / Tribuna do Norte ........................................................................................................... 103

Figura 4.36 – A lama, que são as argilas dos depósitos flúvio-marinhos, é um recurso da geodiversidade. Foto:

Alex Régis / Tribuna do Norte ........................................................................................................... 103

Figura 4.37 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Pitimbu na divisa dos municípios de

Natal e Parnamirim. Fonte: Google Earth .......................................................................................... 105

Figura 4.38 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Doce. Fonte: Google Earth ...... 106

Figura 4.39 – Imagem de satélite com destaque para a desembocadura do rio Potengi no Oceano Atlântico.

Fonte: Google Earth ........................................................................................................................... 106

Figura 4.40 – Foto de 2012 mostrando jovem praticante do Remo no rio Potengi. Foto: Rodrigo Sena / Tribuna

do Norte.............................................................................................................................................. 107

Figura 4.41 – Imagem de satélite de 2014 mostrando um conjunto de lagoas no bairro de Ponta Negra. Fonte:

Google Earth ...................................................................................................................................... 110

Figura 4.42 – Imagem de satélite mostrando a lagoa Manoel Felipe. Fonte: Google Earth .......................... 110

Figura 4.43 – Foto mostrando passeio de pedalinho na lagoa Manoel Felipe. Fonte: Blog o Curiozzo ........ 110

Figura 4.44 – Bloco de arenito ferruginoso correlato ao Grupo Barreiras que serve como fundação para o pilar.

Fonte: Carvalho (2010) ...................................................................................................................... 112

Figura 4.45 – Foto mostrando a imagem de Nsa Sra da Apresentação sobre o pilar, com o rio Potengi e seu

estuário ao fundo. Foto: Matheus Lisboa ........................................................................................... 112

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Figura 4.46 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante do Parque das Dunas. Fonte: Google

Earth .................................................................................................................................................. 114

Figura 4.47 – Foto da paisagem a partir do mirante do Parque das Dunas. Fonte: TripAdvisor.com ........... 114

Figura 4.48 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante do Centro Histórico. Fonte: Google Earth

............................................................................................................................................................ 114

Figura 4.49 – Foto da paisagem a partir do mirante do Centro Histórico. Foto: Matheus Lisboa ................. 114

Figura 4.50 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante Onofre Lopes. Fonte: Google Earth 115

Figura 4.51 – Foto da paisagem a partir do mirante Onofre Lopes. Foto: Matheus Lisboa .......................... 115

Figura 4.52 – Imagem 3D simulando a paisagem ao redor do mirante do Parque da Cidade. Fonte: Google

Earth .................................................................................................................................................. 115

Figura 4.53 – Foto da paisagem a partir do mirante do Parque da Cidade. Foto: Matheus Lisboa ............... 115

Figura 4.54 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade in situ está presente na cidade

do Natal agrupados pela classificação por extensão areal. ................................................................. 119

CAPÍTULO 5

Figura 5.1 – Pintura “Fort Ceulen” (1638), de Frans Post, que mostra, ao fundo, o Forte dos Reis Magos, além

dos recifes de arenito em seu entorno e do povo Potiguara, que habitava a região. Campos de dunas são

vistas ao fundo. Fonte: www.gallerix.ru ............................................................................................ 122

Figura 5.2 – Visão do Forte dos Reis Magos a partir da desembocadura do Rio Potengi, ano da foto: 1998.

Foto: Wolfgang Kaehler / Getty Images ............................................................................................ 122

Figura 5.3 – Blocos de arenitos utilizados na base do Forte dos Reis Magos. Foto: Marcos Nascimento .... 123

Figura 5.4 – Destaque para a estratificação cruzada em um bloco de arenito na base da edificação Foto: Marcos

Nascimento ......................................................................................................................................... 123

Figura 5.5 – Detalhe da porção superior de um pórtico no Forte dos Reis Magos feito com blocos de arenito.

Foto: Marcos Nascimento .................................................................................................................. 123

Figura 5.6 – Arenitos ferruginosos nas paredes internas da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. À direita,

ampliação do destaque. Foto: Matheus Lisboa................................................................................... 125

Figura 5.7 – Detalhe do calçamento “pé-de-moleque” com blocos de arenitos ferruginosos na Travessa Pax,

bairro da Cidade Alta. Foto: Matheus Lisboa .................................................................................... 125

Figura 5.8 – Igreja de Santo Antonio (Igreja do Galo), com colunas externas feitas com blocos de arenitos

calcíferos. Foto: Matheus Lisboa ....................................................................................................... 126

Figura 5.9 – Destaque para os trabalhos em cantaria na base das colunas na Igreja do Galo, mostrando

claramente uma diferença de técnicas. Foto: Matheus Lisboa ........................................................... 126

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Figura 5.10 – Fachada da Igreja Matriz com colunas e pórticos feitos de arenitos calcíferos. Foto: Matheus

Lisboa ................................................................................................................................................. 126

Figura 5.11 – Destaque para o campanário esquerdo da Igreja Matriz em que há bloco de arenito calcífero.

Foto: Matheus Lisboa ......................................................................................................................... 126

Figura 5.12 – Detalhe do granito utilizado no monumento à Independência, na praça 7 de setembro. Destaque

para o alinhamento dos cristais de anfibólio. Foto: Matheus Lisboa ................................................. 127

Figura 5.13 – Monumento aos Mártires da Revolução de 1817, localizado na Praça André de Albuquerque,

Cidade Alta. Foto: Matheus Lisboa .................................................................................................... 128

Figura 5.14 – Monumento em comemoração ao centenário da Independência do Brasil, localizado na Praça 7

de setembro, Cidade Alta. Foto: Matheus Lisboa .............................................................................. 128

Figura 5.15 – Mapa geoturístico do bairro da Cidade Alta, com destaque para os monumentos e edifícios feitos

com rochas até o começo do século XX. Fonte: Projeto “As Rochas Contam Sua História” ............ 129

Figura 5.16 – Foto de calçada portuguesa da Pinacoteca potiguar, no detalhe os diferentes tipos de rocha

utilizados para compor os mosaicos. Foto: Matheus Lisboa .............................................................. 130

Figura 5.17 – Foto aérea da praia da Redinha na década de 1950, época de construção da Igreja de Pedras,

localizada no centro da foto, em frente ao Redinha Clube. Fonte: http://blogdobarbosa.jor.br/ ........ 132

Figura 5.18 – A Praia da Redinha foi até a década de 1980 a mais importante praia de veraneio de Natal. Ainda

hoje há casas de veranistas que todos os meses de dezembro e janeiro retornam à praia. Foto: Acervo

pessoal ................................................................................................................................................ 132

Figura 5.19 – Foto de julho de 2010 mostrando a Igreja de Pedra da Redinha. Foto: Matheus Lisboa ........ 133

Figura 5.20 – Pórtico de entrada do Redinha Clube, construído com blocos de arenito ferruginoso. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 133

Figura 5.21 – Foto de detalhe das rochas utilizadas na construção da Igreja de Pedra da Redinha. São

observados grãos subangulos de quartzo. Foto: Matheus Lisboa ....................................................... 133

Figura 5.22 – Foto da Torre da Igreja de Pedra da Redinha na qual se observa a colocação de blocos maiores

na base da construção, com dimensões sendo reduzidas até o topo. Foto: Matheus Lisboa .............. 133

Figura 5.23 – Fotografia do monumento a Pedro Velho no Square Pedro Velho, atual Praça das Mães na Cidade

Alta. Fonte: Natal, 2006. .................................................................................................................... 135

Figura 5.24 – Atualmente, o monumento a Pedro Velho se localiza na Praça Cívica, posto sobre um pedestal

de mármore. Foto: Matheus Lisboa .................................................................................................... 135

Figura 5.25 – Foto da lateral do Palácio dos Esportes sendo revestido com placas de quartzito. Foto: Matheus

Lisboa ................................................................................................................................................. 135

Figura 5.26 – Detalhe de uma placa de quartzito, mostrando essencialmente quartzo e muscovita. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 135

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Figura 5.27 – Estado atual do monumento a Dom Pedro II, recentemente pintado, o que cobriu os minerais da

rocha, impossibilitando sua descrição. Foto: Matheus Lisboa ........................................................... 137

Figura 5.28 – Imagem do Google Street, datada de agosto de 2015, que mostra o busto de Dom Pedro II, na

praça homônima, sob pedestal de granito Fonte: Google Street View................................................ 137

Figura 5.29 – Monumento ao Prof. João Tibúrcio, localizado no Colégio Atheneu, composto por um busto

sobre um bloco de granito. Foto: Matheus Lisboa ............................................................................. 138

Figura 5.30 – Foto do salão de estudos da Biblioteca Central Zila Mamede, com parede construída por blocos

de granito. Foto: Matheus Lisboa ....................................................................................................... 139

Figura 5.31 – Detalhe de um bloco de granito utilizado na construção da BCZM, também empregado em outros

edifícios do campus central da UFRN. Foto: Matheus Lisboa ........................................................... 139

Figura 5.32 – Destaque para o calçamento em mosaico perfeito feito com calcários (branco) e basalto (preto)

na praça Dom Pedro IV, em Lisboa. Foto: Matheus Lisboa .............................................................. 140

Figura 5.33 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta Negra, os blocos pretos são basaltos e os brancos calcários.

Foto: Matheus Lisboa ......................................................................................................................... 141

Figura 5.34 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta Negra, os blocos brancos são calcários e os vermelhos

arenitos. Foto: Matheus Lisboa .......................................................................................................... 141

Figura 5.35 – Foto do enrocamento na praia da Redinha, sobre o qual há um passeio público. Fonte:

mochileiros.com ................................................................................................................................. 142

Figura 5.36 – Foto de um enrocamento na praia de Areia Preta. Foto: Matheus Lisboa ............................... 142

Figura 5.37 – Foto do enrocamento na praia de Ponta Negra, paralelo à linha de costa. Foto: Matheus Lisboa

............................................................................................................................................................ 142

Figura 5.38 – Escadaria de acesso à praia sobre o enrocamento na praia de Ponta Negra. Foto: Matheus Lisboa

............................................................................................................................................................ 142

Figura 5.39 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade ex situ é utilizada na cidade

do Natal agrupados pela classificação por extensão areal. ................................................................. 145

CAPÍTULO 6

Figura 6.1 – Lixo jogado no manguezal localizado próximo à praia da Redinha. Foto: Matheus Lisboa ..... 148

Figura 6.2 – Desembocadura de canal de escoamento de efluentes na Via Costeira. Foto: Matheus Lisboa 148

Figura 6.3 – Fotografia de parte do enrocamento na praia de Ponta Negra. Foto: Matheus Lisboa .............. 149

Figura 6.4 – Ocupações irregulares na margem do rio Doce, zona norte de Natal. Foto: Matheus Lisboa ... 149

Figura 6.5 – Detalhe de pichação feita no monumento aos mártires, na praça André de Albuquerque. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 151

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Figura 6.6 – Fotografia da Travessa Pax em outubro 2015, destaque para os blocos de arenito soltos. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 151

Figura 6.7 – Detalhe de coluna na Igreja de Santo Antônio com base refeita em concreto. Foto: Matheus Lisboa

............................................................................................................................................................ 152

Figura 6.8 – Porta lateral na Igreja de Nsa Sra da Apresentação com colunas refeitas em concreto. Foto:

Matheus Lisboa .................................................................................................................................. 152

Figura 6.9 – Pedestal de granito com trabalho em cantaria no monumento de Augusto Severo, em 2010. Fonte:

Carvalho (2010) ................................................................................................................................. 153

Figura 6.10 – Pedestal do monumento a Augusto Severo após a pintura pela Prefeitura, em 2015. Foto: Matheus

Lisboa ................................................................................................................................................. 153

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LISTA DE QUADROS

CAPÍTULO 3

Quadro 3.1 – Relação entre os sistemas de valoração da geodiversidade sensu Murray Gray 2004 x 2013.

Fonte: Gray (2004, 2013) .................................................................................................................. 65

Quadro 3.2 – Classificação dos lugares de geodiversidade segundo sua extensão areal Fonte: Elaborado pelo

autor a partir de modificações ao trabalho de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) ....... 70

CAPÍTULO 4

Quadro 4.1 – Lagoas interdunares da cidade do Natal e seu atual estado de conservação. Fonte: Amaral et al.

(2005) .............................................................................................................................................. 109

Quadro 4.2 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade in situ na cidade do Natal ... 117

CAPÍTULO 5

Quadro 5.1 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade ex situ na cidade do Natal .. 144

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 21

1.1 Apresentação ................................................................................................................... 21

1.2 Justificativa ..................................................................................................................... 22

1.3 Localização ..................................................................................................................... 22

1.4 Objetivos ......................................................................................................................... 24

1.5 Materias e Métodos ......................................................................................................... 24

2. A CIDADE DO NATAL: HISTÓRIA, GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ............................. 27

2.1 História Natalense ........................................................................................................... 27

2.1.1 Início da ocupação................................................................................................... 27

2.1.2 Expansão no Século XX .......................................................................................... 29

2.1.3 A cidade atual .......................................................................................................... 32

2.2 Geologia .......................................................................................................................... 33

2.2.1 Regional .................................................................................................................. 33

2.2.2 Local ....................................................................................................................... 36

2.3 Geomorfologia ................................................................................................................ 44

3. REVISÃO SOBRE GEODIVERSIDADE ........................................................................................ 48

3.1 Definição ......................................................................................................................... 48

3.2 Valores ............................................................................................................................ 51

3.2.1 Valor Intrínseco ....................................................................................................... 54

3.2.2 Serviços de Regulação ............................................................................................ 55

3.2.3 Serviços de Suporte ................................................................................................. 56

3.2.4 Serviços de Provisão ............................................................................................... 58

3.2.5 Serviços Culturais ................................................................................................... 60

3.2.6 Serviços de Conhecimento ...................................................................................... 62

3.3 Classificação ................................................................................................................... 66

3.3.1 Por Valor ................................................................................................................. 66

3.3.2 Por extensão ............................................................................................................ 68

3.4 Ameaças e proteção da geodiversidade ........................................................................... 71

3.5 Geodiversidade nas Cidades Brasileiras ......................................................................... 73

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4. GEODIVERSIDADE IN SITU .......................................................................................................... 78

4.1 Praias ............................................................................................................................... 78

4.1.1 Litoral Norte ............................................................................................................ 79

4.1.2 Litoral Central ......................................................................................................... 81

4.1.3 Areia Preta............................................................................................................... 86

4.1.4 Litoral Sul ............................................................................................................... 88

4.2 Campos de Dunas............................................................................................................ 91

4.2.1 Dunas Norte ............................................................................................................ 91

4.2.2 Dunas Oeste ............................................................................................................ 92

4.2.3 Dunas Leste ............................................................................................................. 93

4.2.4 Dunas Sul ................................................................................................................ 94

4.3 Parques Naturais ............................................................................................................. 97

4.3.1 Parque das Dunas .................................................................................................... 97

4.3.2 Parque da Cidade .................................................................................................... 99

4.4 Manguezais ................................................................................................................... 102

4.5 Rios ............................................................................................................................... 104

4.5.1 Rio Pitimbu ........................................................................................................... 104

4.5.2 Rio Doce ............................................................................................................... 105

4.5.3 Rio Potengi ............................................................................................................ 106

4.6 Lagoas Interdunares ...................................................................................................... 109

4.7 Pedra do Rosário ........................................................................................................... 112

4.8 Panoramas de Geodiversidade ...................................................................................... 113

4.8.1 Mirante Parque das Dunas .................................................................................... 114

4.8.2 Mirante Centro Histórico ...................................................................................... 114

4.8.3 Mirante Onofre Lopes ........................................................................................... 115

4.8.4 Mirante Parque da Cidade ..................................................................................... 115

4.9 Quadro Síntese .............................................................................................................. 117

4.10 Mapa de Localização .................................................................................................... 119

5. GEODIVERSIDADE EX SITU ........................................................................................................ 121

5.1 Forte dos Reis Magos .................................................................................................... 121

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5.2 Centro Histórico ............................................................................................................ 124

5.2.1 Arenitos Ferruginosos ........................................................................................... 124

5.2.2 Arenitos Calcíferos................................................................................................ 126

5.2.3 Granito .................................................................................................................. 127

5.2.4 Demais Rochas ...................................................................................................... 130

5.3 Igreja de Pedra e Clube da Redinha .............................................................................. 132

5.4 Praça Cívica .................................................................................................................. 134

5.5 Praça Dom Pedro II ....................................................................................................... 136

5.6 Colégio Atheneu ........................................................................................................... 137

5.7 Campus Central da UFRN ............................................................................................ 139

5.8 Calçadões de Natal ........................................................................................................ 140

5.9 Enrocamentos ................................................................................................................ 141

5.10 Quadro Síntese .............................................................................................................. 144

5.11 Mapa de Localização .................................................................................................... 145

6. PANORAMA GERAL SOBRE A GEOCONSERVAÇÃO EM NATAL .................................... 147

6.1 Ameaças à Geodiversidade In Situ ................................................................................ 148

6.2 Ameaças à Geodiversidade Ex Situ ............................................................................... 150

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................159

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1. INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO

A partir do desenvolvimento dos conceitos de geodiversidade, geoconservação e

geoturismo, a comunidade geocientífica passou a pensar e criar projetos de estudo,

divulgação e proteção do meio abiótico, objetivando que sua exploração possa ser, em

muitos casos, realizada de forma mais sustentável. Dessa forma também começaram a ser

desenvolvidos, sob esta ótica e com mais intensidade, trabalhos de divulgação das

geociências, da história da Terra e da importância dos elementos naturais, geológicos, para

a vida no planeta. Admite-se hoje que conhecer a moradia de todas as formas de vida biótica

é tão fundamental quanto conhecer a biodiversidade em si, é fundamental, portanto, conhecer

o meio que dá suporte à vida no planeta, que é conhecido por geodiversidade.

No Brasil, ações neste sentido ainda são restritas, mas já tem o reconhecimento

importante, por exemplo, da Sociedade Brasileira de Geologia, que instituiu, em 2012, o

prêmio “Monteiro Lobato” para premiar profissionais que se destaquem na divulgação das

geociências entre a sociedade brasileira. Contudo, em países europeus, asiáticos e norte-

americanos, tais atividades já são realizadas há mais de uma década, a exemplo do que

mostram os trabalhos de Brilha (2004, 2005), Coratza e Da Waele (2012), Palacio-Prieto

(2014), Reis et al. (2014) e Lagally et al. (2015).

As cidades, ao longo dos séculos, foram estabelecidas nos ambientes naturais que

favoreciam, inicialmente, sua proteção e manutenção agrícola. Ambientes próximos aos

litorais foram utilizados na instalação de centros urbanos mercantilistas a partir do final do

século XIV. As definições de urbanismo que surgiram após a Revolução Industrial

modificaram as necessidades, formas e construções das cidades, que se favoreceram dos

recursos naturais disponíveis para seu desenvolvimento. Em todas essas situações, a

geodiversidade esteve atrelada ao início e expansão da urbis no planeta.

Disso exposto, pode-se afirmar que os estudos sobre geologia urbana, ou ainda sobre

a geodiversidade nas cidades, são compatíveis também com as compreensões desenvolvidas

na literatura especializada e são neste trabalho aplicados.

Com uma reflexão sobre a aplicabilidade dos conceitos da geodiversidade no estudo

da geologia nos centros urbanos brasileiros, a exemplo do que foi feito na Bahia (Pinto,

2015), na Paraíba (Pereira e Amaral, 2014), Paraná (Liccardo et al., 2008; Liccardo, 2010;

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Calegari et al., 2011), Rio Grande do Sul (Borba et al., 2015), Santa Catarina (Covello, 2011)

e em São Paulo (Stern et al., 2006; Augusto e Del Lama, 2011; Del Lama et al., 2014), este

trabalho de conclusão de curso faz uma análise da geodiversidade local na cidade do Natal,

em suas expressões in situ e ex situ, tendo como exemplo para essa segunda expressão o que

foi realizado por Carvalho (2010) no Centro Histórico natalense.

1.2 JUSTIFICATIVA

O horizonte desvendado pelos estudos da geodiversidade nos centros urbanos

permite uma relação direta da sociedade com as geociências, sendo ferramenta importante

na divulgação das ciências da Terra.

Uma vez que as cidades foram instaladas em locais cuja geodiversidade favorecia o

seu erguimento, principalmente pela disponibilidade de recursos naturais, não é possível

dissociar o processo de entendimento da urbis sem o entendimento de seu ambiente, o que

engloba a geodiversidade.

Até o momento, os poucos trabalhos que versaram sobre a geodiversidade na cidade

do Natal não focaram em sua geodiversidade in situ. Contudo, a geodiversidade utilizada

nas edificações, monumentos e ruas, sobretudo do centro histórico, já foram exploradas por

projetos de pesquisa, extensão e conclusão do curso de geologia.

Disto, tem-se que a importância magna deste trabalho é a aplicação de novos

conceitos da geodiversidade, como os serviços do ecossistema abiótico, na descrição da

geologia da cidade.

1.3 LOCALIZAÇÃO

A cidade do Natal está localizada na costa leste do estado do Rio Grande do Norte,

no Nordeste brasileiro. É dividida, administrativamente, em 4 zonas (norte, sul, leste e oeste),

possuindo 36 bairros. É limitada a norte pelo município de Extremoz, a oeste pelos

municípios de São Gonçalo do Amarante e Macaíba, a sul pelo município de Parnamirim e

a leste pelo Oceano Atlântico.

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23

Os acessos principais se dão por via rodoviária, pelas BR-101, BR-304, BR-226 e

BR-406, por via aérea, através do Aeroporto Internacional Aluísio Alves, ou por via

marítima, através do Porto de Natal.

O mapa da figura 1.1 apresenta a localização da cidade, área de estudo deste trabalho,

e suas principais vias de acesso.

Figura 1.1 – Mapa de localização da cidade do Natal

Fonte: elaborado pelo autor

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24

1.4 OBJETIVOS

Este trabalho foi desenvolvido tendo por objetivo central a identificação, análise e

classificação da geodiversidade da cidade do Natal e da relação da comunidade local com

esses elementos naturais abióticos ao longo de toda a história da cidade.

Para que a finalidade acima definida seja atingida, foram definidos os seguintes

objetivos específicos:

i. Analisar mapas, fotos antigas e documentos que registrem a presença dos

recursos da geodiversidade, como e se eles foram modificados ao longo do

tempo por meio da ação antrópica;

ii. Fazer o inventário dos principais locais de ocorrência de geodiversidade in

situ e ex situ na cidade;

iii. Valorar os locais de ocorrência de geodiversidade, in situ e ex situ, de acordo

com os processos e serviços geossistêmicos;

iv. Classificar e mapear os locais de ocorrência de geodiversidade, in situ e ex

situ, de acordo com os valores definidos;

v. Identificar principais ameaças à geodiversidade, in situ e ex situ, local.

1.5 MATERIAS E MÉTODOS

O desenvolvimento do trabalho foi iniciado com atividade de revisão bibliográfica a

partir de material publicado em livros, artigos, periódicos, assim como trabalhos de

conclusão de cursos de graduação, dissertações e teses, bem como sites eletrônicos.

A seleção dos locais in situ a serem trabalhados foi feita, inicialmente, com a

identificação de feições geológicas e geomorfológicas diferenciadas, com o auxílio de

ferramentas de sensoriamento remoto. A seleção dos pontos ex situ foi feita a partir da coleta

de material bibliográfico e por relatos sobre a utilização, principalmente, de rochas em

monumentos e edificações.

Tanto a seleção dos locais in situ como ex situ foi baseada, também, na metodologia

indicada por Wimbledon et al. (1999), de um método de levantamento sistemático e

comparativo entre os lugares a serem trabalhados.

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Foram feitas descrições de cunho geológico em todos os locais escolhidos,

agregando, quando disponível, informações históricas que mostrem a evolução do uso da

geodiversidade na cidade do Natal. Essas descrições englobaram a mineralogia, petrografia,

geomorfologia, sedimentologia e estratigrafia.

Para cada local de geodiversidade identificado, foi realizado o procedimento de

valoração da geodiversidade, seguindo os valores de Gray (2013), que refere-se aos serviços

do ecossistema abiótico.

Ao final, foi elaborado o mapa dos locais de geodiversidade in situ e ex situ da cidade

do Natal, seguindo as classificações de Brilha (2015) e de Fuertes-Gutiérrez e Fernandéz-

Martinez (2010).

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2. A CIDADE DO NATAL: HISTÓRIA, GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

Natal é a maior cidade do Rio Grande do Norte, sendo também a capital potiguar.

Sua fundação data do final do século XVI e esteve atrelada à necessidade portuguesa de

domínio das terras brasileiras. A posição geográfica da cidade foi fundamental para a

expansão do poder de conquista do reino português para o interior do continente. Tal fato

tem relação com a geologia e geomorfologia dessa região, que foram suportes para o

desenvolvimento da cidade.

Neste capítulo, são resumidos 416 anos de história natalense e da organização da

urbis local, assim como é dado enfoque à caracterização geológica-geomorfológica regional

e local.

2.1 HISTÓRIA NATALENSE

2.1.1 Início da ocupação

É difícil precisar uma data de quando as terras norte-rio-grandenses foram avistadas

pela primeira vez, como afirma Lyra (1998). Até mesmo uma data para a fundação de Natal

não é um ponto de concordância na literatura. Apesar disso, Souza (2008), coloca 25 de

dezembro de 1599 como o dia inicial da história da cidade.

No início do século XVII, o atual bairro da Cidade Alta correspondia a toda a área

de Natal, sendo seus limites cravados com duas cruzes, uma a norte, aonde hoje se encontra

a Praça das Mães, e uma a sul, na Praça de Santa Cruz da Bica (Souza, 2008).

O Forte dos Reis Magos era, até então, a única edificação fora do perímetro

demarcado pelas cruzes. Foi construído na região da praia localizada na desembocadura do

rio Potengi, sobre os arrecifes, corpos de arenitos calcíferos comuns na zona costeira de todo

o Nordeste brasileiro, e ficava ilhado sob maré alta. Ainda hoje permanece de pé e está

localizado na desembocadura do Rio Potengi, em área de grande importância histórica,

cultural e ambiental para a cidade do Natal. Sua construção teve início no século XVI, mas

a conclusão da estrutura hoje remanescente só se deu em 1628. Antes disso, a construção era

de “barro e varas colhidas nos mangues e adjacências. Com o tempo, ela deteriorou-se”

(Souza, 2008).

Os primeiros 34 anos da história da cidade foram restritos a uma vida lenta, difícil e

paupérrima, dividida entre o Forte e a pequena vila (Cascudo, 1999). Isto devido ao interesse

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puramente estratégico da posição da cidade para a coroa portuguesa. Talvez por esse motivo

é que são raros os registros cartográficos dessa época.

Esse abandono da terra recém-descoberta, para Lyra (1998), ocorreu em todo o Brasil

e “desafiou a cobiça dos aventureiros e especuladores”, o que resultou na ocupação

holandesa, em 1633, da cidade do Natal, que passou a se chamar Nova Amsterdã. O Forte

dos Reis Magos também recebeu nova denominação, sendo chamado de Fort Ceulen.

Durante o período de domínio holandês, que durou até 1654, surgiram os primeiros

mapas e pinturas que retratavam a cidade do Natal e, com maior destaque, o Forte. A Figura

2.1 mostra um dos primeiros registros desse tipo, que retrata a invasão militar do reino

holandês através do canal do Rio Potengi. A cartografia holandesa foi importante, portanto,

para retratar a cidade e, sobretudo, seu ambiente, como a figura mostra, com suas dunas, rios

e lagoas.

Figura 2.1 – Pintura de autor desconhecido retratando a invasão holandesa à Natal, cuja vila é retratada ao centro

e o Forte dos Reis Magos à esquerda. É possível observar também elementos naturais como dunas, rios e lagoas.

Fonte: Blog Natal de Ontem

Até o final do século XVIII, a cidade do Natal não presenciou muitas mudanças, a

não ser por uma pequena expansão de seu território, que passou a agregar o que hoje é o

bairro da Ribeira, e pela construção de novas três igrejas, a casa de Câmara e Cadeia e

algumas poucas casas. Cascudo (1999) aponta que esse período de morosidade no

desenvolvimento da cidade foi marcado também pela interiorização dos territórios e

desenvolvimento da agropecuária. A cidade tinha, então, menos de 6.000 habitantes.

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29

Henry Koster, pesquisador português, realizou uma visita à Natal, no início do século

XIX e seu depoimento mostra o atraso do desenvolvimento da cidade:

“[...] se lugares como esse são chamados cidades, como seriam as vilas e

aldeias? [...] muitas aldeias, no Brasil mesmo, ultrapassam esta cidade. [...]

Consiste n’uma praça cercada de residências, tendo apenas o pavimento

térreo, as Igrejas que são três, o palácio, a Câmara e prisão. Três ruas

desembocam nesta quadra, mas elas não possuem senão algumas casas de

cada lado. A cidade não é calçada em parte alguma e anda-se sobre uma

areia solta, o que obrigou alguns habitantes a fazerem calçadas de tijolos

ante suas moradas” (Koster, 1942, p. 109-110).

Apesar do maior desenvolvimento urbanístico e econômico da cidade tenha se dado

apenas no século XX, ao final do século XIX, Natal já tinha hospital, cemitério, delegacia

fiscal e teatro. Começava então, a haver uma mudança radical na paisagem e na organização

da urbis. Natal agora já tinha mais de 10.000 habitantes (Cascudo, 1999).

2.1.2 Expansão no Século XX

O início de um novo século trouxe para Natal um novo debate sobre a organização

urbana. Nobre (2001) mostra que as primeiras intervenções estruturais na cidade foram

focadas na melhoria das condições higiênicas. A partir desse momento, a cidade passaria a

se preocupar com a proteção das matas próximas aos mananciais dos rios e fontes públicas,

além de melhorias nos edifícios utilizados para o abastecimento da população.

A cidade que até 1901 era formada apenas pelos bairros da Cidade Alta e Ribeira,

ganha novos arruamentos e limites (Figura 2.2), com a formalização do Bairro da Cidade

Nova, que corresponde atualmente aos bairros de Petrópolis e Tirol (Nobre, 2001).

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A B

Figura 2.2 – Mapas mostrando a ocupação territorial da cidade do Natal, ao final do século XIX (A) e na

década de 1930 (B).

Fonte: Nobre, 2001 a partir de Miranda, 1999

Neste momento da história, inicia-se uma preocupação com as condições da

paisagem urbana. Procurando respeitar as características morfológicas do terreno, de seus

solos arenosos e dos corpos de dunas, além de promover a criação de áreas verdes. Começam

também os clamores por organização da estrutura da cidade e pelos serviços públicos.

Souza (2008) aponta que durante os primeiros 40 anos do século XX, a cidade do

Natal já havia sido estruturada em termos de água encanada, esgoto e de transporte urbano,

como bonde e ônibus (fFigura 2.3).

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Figura 2.3 – Fotografia de 1943 mostrando os principais meios de transporte do início do século XX: bonde e

ônibus.

Foto: Jaeci Galvão

Com o tráfego mais intenso, começa-se o processo de calçamento das ruas e avenidas.

Até 1924, os blocos retirados de rochas encontradas na base de falésias (arenitos

ferruginosos), facilmente reconhecidos nas praias de Natal, é que serviam como

“empedramento” das ruas (Souza, 2008). Neste ano, porém, iniciou-se o calçamento com

paralelepípedos feitos em granitos (este proveniente da região de Macaíba).

A partir da II Guerra Mundial, a cidade passou um período de rápido crescimento, a

iluminação das vias passou a ser mais eficiente, os transportes mais regulares e as

correspondências entregues mais rapidamente.

Pode-se afirmar que o século XX também foi fundamental para que a população

nativa de Natal passasse a usufruir, de forma mais cotidiana, dos recursos naturais, em

termos de paisagem, que a região dispõe. Nesta época, a ocupação e usufruto das praias e

linhas de costa passaram a ser mais comuns. Com especial destaque para as praias do Meio,

Areia Preta (Figura 2.4), Forte, Redinha (Figura 2.5) e Ponta Negra, sendo as duas últimas

tipicamente usadas como locais de veraneio.

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Figura 2.4 – Fotografia da primeira metade do século

XX mostrando a praia de Areia Preta urbanizada e o

Farol de Mãe Luísa ao fundo, sobre as dunas.

Foto: Jaeci Galvão

Figura 2.5 – Fotografia da primeira metade do século

XX da praia de Redinha, mostrando ao fundo o Forte

dos Reis Magos.

Foto: Jaeci Galvão

Nas últimas três décadas do século XX, o desenvolvimento da cidade atingiu níveis

avançados, que demandavam uma organização mais dinâmica e documentada dos espaços.

Assim, surgem os planos diretores da cidade, sendo o primeiro em 1974, que traz à luz a

necessidade da proteção à paisagem, enquanto beleza natural. No final da década de 1970 é

criada a Via Costeira, com enfoque na promoção do turismo na capital potiguar, numa região

que compreende importantes corpos dunares, falésias e praias da capital potiguar.

Em 1984, o segundo plano diretor para Natal é aprovado, e neste momento surge a

divisão das áreas do município para “fins de planejamento e controle de uso do solo” (Nobre,

2001). São assim instituídas as Áreas Urbanas, Áreas de Expansão Urbana, Áreas de

Preservação Permanente, Zonas Especiais de Interesse Turístico e Zonas de Preservação

Ambiental.

A cidade no final do século se mostra mais desenvolvida e tenta se organizar, ao

passo que nos seus 300 anos anteriores de história, teve seu crescimento muito restrito. É

neste momento que a cidade toma a forma e os limites atuais.

2.1.3 A cidade atual

Com o final de um período de 100 anos de intenso desenvolvimento e modificações

no espaço urbano, nos sistemas de serviços públicos e privados, assim como na relação da

população com o ambiente natural e sua morfologia, Natal adentra o século XXI como uma

cidade em que as mudanças urbanas são rápidas e constantes. A capital do Rio Grande do

Norte possui 803.739 habitantes (IBGE, 2011) e é uma das 20 maiores cidades do país.

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A capital potiguar está inserida na chamada Região Metropolitana de Natal (RMN),

que é constituída, além de Natal, pelas cidades de Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do

Amarante, Extremoz, Ceará-Mirim, São José de Mipibú, Nísia Floresta, Monte Alegre, Vera

Cruz, Maxaranguape, Ielmo Marinho, Arês e Goianinha (Lei Complementar Nº 559/2015).

A área total da cidade é de 167, 234 km², dividida em 4 regiões administrativas (norte,

sul, leste e oeste) e 36 bairros, aonde existem 235.522 domicílios particulares permanentes

em condições normais de ocupação e 22.561 domicílios subnormais, em que as unidades

habitacionais são carentes de serviços públicos. Atualmente, a cidade do Natal possui 10

Zonas de Proteção Ambiental, 04 Zonas Especiais de Interesse Turístico, 04 Zonas Especiais

de Interesse Social e 01 Zona Especial de Interesse Histórico (Bentes e Trindade, 2008; Hora

e Medeiros, 2014).

Assim, pode-se afirmar que Natal é uma cidade grande, cidade dos grandes eventos,

cidade turística. Mas, ao mesmo tempo, com seu intenso desenvolvimento ao longo dos

últimos 100 anos, Natal é uma cidade desigual, assim como muitas cidades brasileiras.

2.2 GEOLOGIA

2.2.1 Regional

A cidade do Natal está localizada sobre uma região em que os estudos de geologia

são desenvolvidos há, pelo menos, 145 anos. Como um dos resultados da famosa expedição

de Louis Agassiz ao Brasil na segunda metade do século XIX, Hartt desenvolveu estudo

sobre a geologia e a geografia física do país, no qual apontava que a Província do Rio Grande

do Norte é:

“composta por gnaisses e outras rochas metamórficas, que formam no

interior um terreno alto, mais ou menos montanhoso [...]. Bordejando esse

terreno há uma considerável banda de rochas terciárias. Os terrenos

próximos ao mar são planos, arenosos, e frequentemente, como nas

proximidades de Natal, são cobertos por dunas de areia." (Hartt, 1870, p.

455).

Branner (1904) e Jenkins e Branner (1913) também descreveram a geologia do estado

e, principalmente, da região costeira do Rio Grande do Norte no início do século XX, aonde

se localiza a região de estudo deste trabalho.

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Já Lyra (1924), descrevia a geologia do estado em dois grandes grupos: as rochas

antigas (Arqueano a Paleozoico), que seriam as rochas do embasamento cristalino, e as

rochas modernas (Fanerozoico), que seriam as rochas sedimentares. Sendo o predomínio das

rochas cristalinas, enquanto que a faixa estreita ao longo do litoral seria dominada pelos

sedimentos, litificados ou não.

Almeida et al. (1977), no clássico trabalho sobre as províncias estruturais brasileiras,

definem a região como uma das constituintes da Província Costeira (Figura 2.6), em especial

do segmento meridional da província. É representada por rochas sedimentares de idade

Cretácea, cobertas pelo Grupo Barreiras e por depósitos sedimentares, aluvionares a

litorâneos praiais. O embasamento cristalino da região é correlato ao domínio setentrional

da Província Borborema, também descrita por Almeida et al. (1977).

Figura 2.6 – Províncias Estruturais Brasileiras. Destaque em vermelho para a Província Costeira, onde está

localizada a área de estudo deste trabalho.

Fonte: Modificado de Almeida et al. (1977)

Apesar de, nos últimos 40 anos, o desenvolvimento de trabalhos na região costeira

oriental do Rio Grande do Norte ter sido intensificado, ainda faltam conclusões sobre o

domínio das bacias marginais nesta região. Alguns autores colocam que a Bacia Potiguar se

estenderia até o limite do estado com a Paraíba, desta forma, a cidade do Natal estaria

compreendida nesta bacia.

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Entretanto, Vital et al. (2006) indicam que no setor oriental da costa potiguar está

localizado o contato entre as Bacias Potiguar e Pernambuco-Paraíba. Mas esse contato ainda

não está bem definido na literatura, o que gera, muitas vezes, dubiedades nas descrições

geológicas dessa faixa sedimentar.

Córdoba et al. (2007) e Pessoa Neto et al. (2007) concordam que o Alto de Touros,

no extremo nordeste do estado, é o limite entre a Bacia Potiguar e a Bacia Pernambuco-

Paraíba. Já Barbosa et al. (2007) coloca que a região pertence à sub-bacia de Natal e constitui

a Plataforma de Natal.

Devido a essa problemática, preferiu-se utilizar neste trabalho a descrição de

Córdoba et al. (2007), identificando essa região como correlata à Bacia Pernambuco-

Paraíba, assim como fizeram Almeida et al. (2015), em recente trabalho na cidade do Natal.

O limite sul da referida bacia é o Alto de Maragogi.

Assim, tem-se que a Bacia Pernambuco-Paraíba é uma bacia do tipo rifte, subdividida

em duas Supersequências, uma Rifte e outra Drifte. Sua formação está associada ao evento

de rifteamento do Atlântico Sul, que culminou com a abertura final do Oceano Atlântico e

separação dos continentes Africano e Sul-Americano, ainda no processo de ruptura do

supercontinente Gondwana, no final do Aptiano. A Figura 2.7 mostra uma reconstrução

anterior à ruptura final do Atlântico Sul, há aproximadamente 124 Ma, na qual há um

destaque para a posição das bacias Potiguar e Pernambuco-Paraíba.

Figura 2.7 – Reconstrução pré-drift das bacias sedimentares na porção nordeste da América do Sul e suas

correlatas na África, com destaque para as Bacias Potiguar (amarelo) e Pernambuco-Paraíba (vermelho).

Fonte: Modificado de Mohriak, 2003

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A bacia Pernambuco-Paraíba apresenta um alinhamento estrutural E-W significativo

que é responsável pelo controle tectônico das bacias mesozoicas (Mohriak, 2003). É

capeada, principalmente, nas partes mais proximais, por sedimentos de leques aluviais e

fluviais do Grupo Barreiras.

Admite-se a compartimentação da bacia em duas: bacia Pernambuco a sul e bacia

Paraíba a norte, que é o domínio da região de Natal, como mostra o trabalho de Barbosa e

Lima Filho (2005). O controle estrutural em ambas é semelhante e o marco divisor entre as

duas é a Zona de Cisalhamento Pernambuco.

2.2.2 Local

Especificamente na área de estudo deste trabalho, são aflorantes apenas sedimentos

e rochas sedimentares do Cenozoico. As descrições feitas para os pacotes sedimentares neste

trabalho se baseiam no Mapa Geológico do Rio Grande do Norte (Angelim et al., 2006) e

na Folha Natal (Fonseca et al., 2012), esta última realizada pelo Serviço Geológico do Brasil

(CPRM) em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

O mapa da Figura 2.8 mostra os limites entre Natal e suas cidades vizinhas, assim

como enfoca na geologia local. A seguir, são feitas descrições das unidades encontradas na

região deste estudo.

Grupo Barreiras

A definição do Barreiras como grupo ou formação ainda não está concluída pela

literatura. Nos primórdios de suas descrições, era tratado como série e, apesar de a tendência

dos trabalhos mais recentes utilizar a nomenclatura formação, ainda são carentes os trabalhos

conclusivos que, de forma geral e definitiva, forneçam dados suficientes, de estratigrafia,

deposição e geocronologia, para a definição sobre a denominação litoestratigráfica para o

Barreiras (Moura-Fé, 2014). Entretanto, uma vez que Fonseca et al. (2012) tratam deste

depósito siliciclástico como Grupo, essa nomenclatura foi aqui adotada.

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Figura 2.8 – Mapa geológico da cidade do Natal.

Fonte: Modificado de Fonseca et al., 2012

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O Grupo Barreiras foi identificado, primeiramente, como uma cobertura posta sobre

o embasamento Pré-Cambriano. Tem idade correlata ao Paleogeno/Neogeno. Esta datação,

contudo, é duvidosa, devido ao conteúdo afossilífero do Barreiras (Nunes et al., 2011). É um

grupo identificado ao longo do litoral e regiões costeiras do Brasil, desde o Amazonas até o

Rio de Janeiro.

No Rio Grande do Norte, o Grupo Barreiras ocorre em boa parte do litoral como

elemento constituinte das falésias litorâneas, principalmente sob a forma de tabuleiros

costeiros.

É constituído, principalmente, por conglomerados e arenitos conglomeráticos,

podendo ser encontrados também arenitos médios a finos e argilitos, depositados em

ambientes de sistemas fluviais entrelaçados ou transicionais para leques aluviais (Angelim

et al., 2006).

A distinção das rochas deste grupo é facilitada pela sua coloração avermelhada, com

cimentação ferruginosa e fraca diagênese. Alguns horizontes podem apresentar oxi-redução.

Na cidade do Natal, o Grupo Barreiras é encontrado nas falésias da Via Costeira

(Figura 2.9), nas praias de Ponta Negra e Areia Preta, principalmente, e na praia da Redinha.

Figura 2.9 – Falésia do Grupo Barreiras na região da Via Costeira, em frente ao hotel Marsol.

Foto: Matheus Lisboa

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Depósitos Aluvionares Antigos

É formado pelos terraços fluviais de vales antigos, em que são encontrados arenitos

conglomeráticos com seixos de quartzo e fragmentos de rochas. Ocorrem subordinadamente

arenitos médios e sedimentos argilo-arenosos, em que se identifica fraca diagênese e

estruturas de paleossismicidade.

A ocorrência deste tipo de depósito é bastante restrita na cidade do Natal, ocorrendo

apenas em uma pequena porção na divisa da cidade com Macaíba.

Depósitos Marinho e Continentais

Ocorre de forma restrita na área de estudo, no limite noroeste da cidade do Natal, em

contato com os depósitos aluvionares do rio Guajiru, município de São Gonçalo do

Amarante. É composto por arenitos médios a finos, dispostos sobre depósitos aluvionares

antigos. Podem ser identificadas concreções ferruginosos retrabalhadas a partir de um

paleossolo laterítico.

Depósitos Arenosos e Areno-Argilosos

Este tipo de depósito é mais comum na zona norte da cidade do Natal. É constituída

por coberturas de sedimentos arenosos a areno-argilosos inconsolidados, nos quais a

granulometria dos grãos varia de média a grossa. Podem ter coloração variando de

esbranquiçada a avermelhada. De forma local, podem ser descritos fragmentos de quartzo

ou arenitos remobilizados.

Depósitos Flúvio-Marinhos

Este tipo de depósito é reconhecido, principalmente, como os depósitos dos

manguezais (Figura 2.10), mas também compreende os depósitos de planícies de maré.

Ocorre em boa parte do litoral potiguar, mas na cidade do Natal está restrito às margens do

canal do Rio Potengi.

É constituído por areias finas, siltes e argilas com laminação fina, cuja composição é

rica em carbonato e matéria orgânica, viva e biodetrítica. A presença de bioturbações é

comum, devido à presença de crustáceos e moluscos neste tipo de ambiente.

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Figura 2.10 – Imagem de satélite com destaque para um dos depósitos de mangue na cidade do Natal.

Fonte: Google Earth

Depósitos Aluvionares de Canal

Ocorrem ao longo dos canais dos rios, sendo constituídos por areias quartzosas

médias a grossas, ocasionalmente conglomeráticas, por vezes apresentando estratificações

cruzadas e intercalações com sedimentos sílticos-argilosos.

Depósitos Eólicos Litorâneos Vegetados

Um dos depósitos típicos do Quaternário, é representado, principalmente, pelas

dunas fixas, ou paleodunas. É formado, principalmente, pela ação do vento, cuja velocidade

de transporte costuma variar ao longo do dia, das estações e dos anos, através dos processos

de tração, saltação e suspensão subaérea.

Os sedimentos deste tipo de depósito são compostos por areias quartzosas bem

selecionadas, de cor avermelhada, devido às películas de óxido de ferro que costumam

capear os grãos, a amarronzada, pela presença de matéria orgânica. Formam dunas tipo

residuais ou lençóis arenosos. São fixadas por uma cobertura vegetal (Figura 2.11).

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Figura 2.11 – Fotografia mostrando um típico depósito eólico litorâneo vegetado na região da praia de Genipabu.

Foto: Matheus Lisboa

Na cidade do Natal, há um domínio maciço deste tipo de depósito, apesar de a maior

parte ter sido suprimida pela ocupação antrópica ao longo da história da cidade, que se

estabeleceu justamente sobre as antigas dunas da região.

Depósitos Eólicos Litorâneos Não-Vegetados

As dunas móveis constituem esse depósito, são formadas por areias quartzosas finas

a médias, de coloração esbranquiçada. Formam diversos tipos de dunas, como frontais,

barcanoides e parabólicas. Possuem pouca vegetação, mas pode haver uma transição para

dunas fixas, a depender da ocorrência de obstáculos para o transporte dos sedimentos, o que

pode também favorecer o estabelecimento de espécimes vegetais que auxiliem a fixação da

duna.

O contato entre os depósitos não-vegetados com os vegetados se dá de forma abrupta,

com a mudança de textura, coloração e formas das dunas.

Depósitos Litorâneos Praiais

Compreendem as areias quartzosas de grãos finos a muito grossos, depositadas em

faixas estreitas, paralelas à linha de costa. Podem ser encontrados bioclastos e, localmente,

minerais pesados.

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É formado, nas planícies costeiras, em zonas de intermaré (Figura 2.12), pela ação

de processos de tração subaquosa. Estruturas como marcas de onda simétricas e assimétricas

são comuns, assim como bioturbações. Na cidade do Natal é um depósito muito comum e

está presente em toda a linha de costa, ao longo das faixas de praia da cidade.

Figura 2.12 – Foto da região litorânea da Via Costeira, em Natal. Toda a faixa intermaré, vista na fotografia como

uma faixa plana, corresponde aos depósitos litorâneos praiais.

Foto: Matheus Lisboa

Recifes Arenosos

Em 1904, John Casper Branner já havia mapeado os “recifes de pedra” da capital

potiguar, que são comuns ao longo de toda a zona costeira do Rio Grande do Norte, dispostos

paralelamente à linha de costa.

Os arrecifes são constituídos de rochas conhecidas como arenitos de praia (ou

beachrocks), nos quais vários cristais de quartzo, de granulometrias semelhantes ou não são

unidos através de um elemento químico que é chamado de cimento.

No caso das rochas encontradas no litoral natalense, a cimentação é feita por

carbonato de cálcio, precipitados pela ação de água marinha, com alguma participação de

água doce (Cabral Neto et al., 2014) A granulometria varia de média a grossa e há presença

de bioclastos, sobretudo de algas. Percebe-se uma orientação N-S de forma geral nos corpos

de arenitos encontrados no litoral natalense (Figura 2.13).

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Figura 2.13 – Fotografia da região entre as praias do Forte e Artistas mostrando o alinhamento dos corpos de

arenitos praiais (setas vermelhas), de direção N-S, paralelos à linha de costa, na cidade do Natal.

Foto: Matheus Lisboa

Esses corpos, que apresentam-se, por vezes, como duas faixas paralelas foram

datados por Barreto et al. (2004) como tendo, aproximadamente, 4.000 e 9.000 anos de

formação, para cada uma das faixas.

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2.3 GEOMORFOLOGIA

Dantas e Ferreira (2010) mostram que os principais padrões regionais de relevo da

região costeira onde se situa Natal são os campos de dunas, as planícies flúvio-marinhas e

os tabuleiros costeiros.

Destes, as dunas apresentam-se sobrepondo os tabuleiros costeiros, formados por

rochas sedimentares terciárias correlatas ao Grupo Barreiras. Já as planícies flúvio-marinhas

correspondem aos manguezais e encontrados em algumas das principais cidades potiguares.

Melo (2013) indica que as feições geomorfológicas que estão presentes na capital

potiguar são: corpos d’água, planície de inundação fluvial, planície flúvio-marinha, praias,

tabuleiros costeiros e dunas, fixas e móveis, sendo esta última feição dominante na paisagem

local.

Muitas dessas feições foram modificadas pela ocupação urbana no município, que

provocaram descaracterização de campos de dunas, aterramento da planície estuarina,

alterações da rede de drenagem, redesenhando bacias hidrográficas (Melo, 2013).

A seguir, são feitas descrições sucintas das principais feições geomorfológicas

encontradas na cidade do Natal.

Praias

São constituídas por faixas arenosas, com inclinações suaves para o oceano. Devido

à constante ação de ventos e da maré, as formas das praias não são estáveis. Na cidade do

Natal, ocorrem em toda a faixa litorânea, entre as praias de Ponta Negra e Redinha.

Tabuleiros Costeiros

Consistem em uma faixa sedimentar próxima ao litoral cuja superfície é irregular,

ondulada e sub-horizontal, de forma tabular, tem altura variada e tem ocorrência comum ao

longo de todo o litoral brasileiro. É dividido em duas classes: Tabuleiro Costeiro de

Superfície Erosiva e Tabuleiro Costeiro de Superfície Pediplanada (Pereira e Cestaro, 2012).

Os Tabuleiros Costeiros de Superfície Erosiva são representados pelas falésias e

paleofalésias, próximas ao litoral, enquanto que os de Superfície Pediplanada servem de

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suporte para o desenvolvimento dos campos de dunas. Em Natal, esse tipo de feição

geomorfológica é facilmente encontrada ao longo da Via Costeira.

Corpos d’Água

Os principais corpos d’água que ocorrem na região são os rios, sendo os principais o

Rio Potengi, Rio Pitimbu e Rio Doce, e as lagoas interiores, cuja formação foi favorecida

pelas depressões interdunares presentes na morfologia do relevo da cidade e estão associadas

também ao aquífero Dunas/Barreiras. As principais lagoas são: Manoel Felipe, Jacob,

Campina e Pirangi/Jundiaí.

Planícies Flúvio-Marinhas

São encontradas ao longo do estuário do Rio Potengi, na cidade do Natal, e também

recebem a denominação de manguezais. São habitats de espécies de crustáceos e moluscos,

principalmente, que encontram nas argilas do mangue proteção para seu desenvolvimento e

reprodução.

Planície de Inundação Fluvial

Região que apresenta relação direta com os canais fluviais, sendo localizada nos

limites de transbordamento dos rios, desenvolvendo-se sobre terrenos aluvionares. No

momento em que a vazão do rio supera a capacidade do canal, as planícies são inundadas.

Na cidade, esse tipo de terreno é encontrado, principalmente, ao longo do Rio Pitimbu,

Dunas

Em relação a geomorfologia da cidade do Natal, a feição de maior destaque na

paisagem e facilmente identificada na região são os corpos dunares, fixos e móveis. As dunas

recobrem boa parte do terreno em que a cidade está estabelecida, emoldurando seus limites

e sendo percebidas em todas as regiões administrativas locais, protegidas, principalmente,

por 10 Zonas de Proteção Ambiental. A Figura 2.14 comprova essas afirmações, mostrando,

no horizonte e no lado esquerdo da foto, corpos de dunas na cidade do Natal a partir do

Memorial da Cidade.

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Figura 2.14 – Fotografia mostrando em destaque os corpos de dunas que se destacam na paisagem da cidade do

Natal. Em transparência amarela, Parque da Cidade; nas setas vermelhas, Parque das Dunas.

Foto: Matheus Lisboa

Em Natal, as dunas mostram uma direção preferencial SE-NW e podem atingir até

100m de altura. As principais formas apresentadas pelos corpos dunares na cidade são:

cadeias barcanoides, dunas frontais, dunas móveis e dunas parabólicas (Melo, 2013).

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3. REVISÃO SOBRE GEODIVERSIDADE

A geodiversidade está constituída, neste trabalho, como o principal ponto de

investigação e pesquisa na área de estudo. A identificação, análise e classificação dos

recursos que constituem a geodiversidade in situ e ex situ na cidade do Natal são, como já

foi elucidado anteriormente, as metas fundamentais do desenvolvimento das atividades.

Dessa forma, precisa-se, inicialmente, conceitualizar a geodiversidade como

fundamentação teórica para as descrições feitas nos capítulos que seguem. Assim, este

capítulo foca na definição dos conceitos essenciais, valores da geodiversidade, também

definindo um modelo de classificação para a geodiversidade a partir da literatura, com

adaptações para a realidade local de estudo. Apresenta também as principais ameaças que

afetam diariamente a geodiversidade no planeta e faz-se uma adição sobre as principais

ações, projetos e trabalhos realizados no Brasil com enfoque na geodiversidade nos centros

urbanos.

3.1 DEFINIÇÃO

A geodiversidade é representada por todos os elementos abióticos que constituem o

Planeta Terra, compreendendo minerais, rochas, fósseis, solos, paisagens, entre outros. Por

se tratar de um termo recente, utilizado apenas a partir da década de 1990, a geodiversidade

é, ainda, desconhecida do grande público leigo, mas vem sendo desenvolvida em todo o

planeta, principalmente, por geólogos e geógrafos interessados na área.

Murray Gray, pesquisador britânico e autor do primeiro livro sobre o tema, publicado

apenas em 2004, definia a geodiversidade como:

“a variedade natural (diversidade) de elementos geológicos (rochas,

minerais, fósseis), geomorfológicos (formas de relevo, processos físicos) e

do solo. Isso inclui suas assembleias, relações, propriedades, interpretações

e sistemas” (Gray, 2004, p. 8).

Com o maior desenvolvimento da literatura sobre a geodiversidade e o entendimento

sobre a importância dos seus elementos na construção das paisagens, novos conceitos foram

adicionados, indicando também os processos hidrológicos e hidrogeológicos como

componentes da diversidade abiótica do planeta. Assim, Gray também modificou seu

entendimento, definindo agora geodiversidade como:

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“a variedade natural (diversidade) de elementos geológicos (rochas,

minerais, fósseis), geomorfológicos (formas de relevo, topografia,

processos físicos), do solo e hidrológicos. Isso inclui suas assembleias,

estruturas, sistemas e contribuições para as paisagens” (Gray, 2013, p. 12).

Esse entendimento parece ser generalizado pelos autores especializados e é neste

trabalho tomado como conceito fundamental.

Apesar de ser um conceito novo, os recursos da geodiversidade estão presentes em

toda a dimensão do planeta, tendo, ao longo da história, importância no desenvolvimento da

biodiversidade e até mesmo do homem.

Brilha (2005) mostra que a evolução das civilizações, sociedades e comunidades ao

redor do mundo, esteve condicionada à geodiversidade local em que cada uma se instalou,

influenciando a disponibilidade de locais de abrigo e para obras de estruturas de moradias e

de defesa, como também o modo e material de construção:

“O patrimônio construído é um excelente 'espelho' da geodiversidade local.

As construções utilizam, da melhor forma, as rochas que afloram na região.

Uma observação atenta às casas e muros tradicionais é quanto basta para

se ficar com uma ideia genérica dos tipos de rochas que afloram na zona”

(Brilha, 2005, p. 18).

Galopim de Carvalho (2007) corrobora com este pensamento, indicando que o gênio

humano foi o responsável por dar utilidade à geodiversidade, desde os primórdios da Idade

da Pedra, quando o sílex era utilizado para caça, até os dias atuais, em que muitas das mais

de 3500 espécies minerais são empregadas nos mais diversos usos pela sociedade.

Disto, tem-se a relação da vida humana com a geodiversidade, uma vez que as

condições físicas dos terrenos foram, e ainda são, fundamentais para o estabelecimento das

cidades, unidade macro das sociedades modernas.

A geodiversidade também possui um paralelo com a biodiversidade uma vez que a

biota do planeta depende de condições abióticas indispensáveis para que essa seja

estabelecida e desenvolvida. É possível afirmar, portanto, que a biodiversidade é

condicionada pelos processos abióticos vigentes (Brilha, 2005).

Uma vez que a história da Terra possui 4,5 bilhões de anos de desenvolvimento, esta

também é a idade de desenvolvimento da geodiversidade, tendo épocas de fundamental

importância, como o início da formação da crosta com o resfriamento da Terra há 4 Ga, a

formação dos crátons há 2,7 Ga, ou dos rios primórdios há 3,8 Ga. Apesar de a distribuição

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50

dos continentes como se conhece atualmente ter se estabelecido há cerca de 150 Ma (Gray,

2013), ainda no Quaternário observa-se constantes mudanças na geodiversidade.

Enquanto isso, a biodiversidade, experimentou, ao longo do tempo geológico,

diversos momentos de evolução e extinção, com registros significantes no início do

Proterozoico de organismos multicelulares, sendo sua expansão mais proeminente,

entretanto, iniciada apenas há 600 milhões de anos. A figura 3.1 mostra um comparativo da

evolução da biodiversidade com a da geodiversidade.

Figura 3.1 – Comparativo teórico da evolução da biodiversidade (linha vermelha) com a da geodiversidade (linha

azul). A rápida expansão da geodiversidade em 3 Ga está relacionada com o desenvolvimento da crosta

continental.

Fonte: Modificado de Gray (2013)

Medeiros et al. (2013) a partir de análises da terminologia da geodiversidade em si,

afirmam que “a Terra é um organismo vivo que se caracteriza pelas inúmeras alterações

sofridas ao longo de vários anos em uma escala geológica de tempo”. Estas alterações estão

ligadas aos diversos processos ocorrentes na superfície e no interior terrestre, que acabaram

refletindo no desenvolvimento até dos seres vivos e suas condições de vida, habitat e

reprodução.

Os estudos da geodiversidade são fundamentais nas pesquisas sobre a constante

dinâmica dos parâmetros de mudanças climáticas globais, funcionando como ponte entre as

alterações já ocorridas ao longo do tempo geológico e as que estão em curso atualmente.

Conclui-se, portanto, que a geodiversidade é representada por recursos importantes

para a vida no planeta, desenvolvidos ao longo de toda a história da Terra e em constante

evolução.

Page 52: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

51

3.2 VALORES

Um dos principais enfoques da aplicação dos conceitos da geodiversidade é a

conservação da natureza, em suas características abióticas, de forma a promover um

consumo sustentável dos recursos naturais.

Uma vez que as ações de proteção do meio ambiente estão vinculadas à definição de

valores que hierarquizem os lugares de maior necessidade de proteção, seja por serem

lugares de extrema beleza ou por terem importância para os ecossistemas locais ou mundiais,

os locais em que a geodiversidade está presente também tem valores que precisam ser

definidos pelas pessoas que trabalham com tal enfoque.

O processo de inventariação da geodiversidade de um lugar precisa, como indica

Brilha (2005), que os valores e interesse que o local possa despertar, por suas características

abióticas, fundamentem a sua necessidade de conservação.

Essa conservação possui importância, ao passo em que a geodiversidade contém

informações sobre o passado e presente da Terra, também possibilitando, através das análises

de inter-relações ambientais naturais ou com viés na ação antrópica, interpretações sobre o

estado futuro de um ambiente localizado.

A conservação da geodiversidade recebe uma terminologia própria, que será

discutida adiante neste capítulo – a geoconservação.

A definição de valores da geodiversidade de um lugar, ou valoração, começou a ser

pensada no começo dos anos 2000 por trabalhos como o de Gray (2004). Esse autor,

trabalhava com a definição de 6 valores e 32 subvalores, baseando-se em trabalhos anteriores

que determinavam valores para a natureza, mas que omitiam o papel importante do meio

físico. A figura 3.2 mostra um esquema elaborado para os valores apresentados por Gray

(2004).

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Figura 3.2 – Valores e subvalores da geodiversidade sensu Murray Gray.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Gray (2004)

A proposta de valores para a geodiversidade apresentada por Gray (2004) é muito

utilizada em todo o mundo, com exemplos no Brasil nos trabalhos de Pereira (2010) e

Mochiutti et al. (2011, 2012). Contudo, uma nova abordagem baseada nos serviços do

ecossistema tem sido empregada na conservação da natureza ao longo da última década.

Fisher et al. (2009) definem serviços do ecossistema como os “aspectos do

ecossistema utilizados (ativamente ou passivamente) para produzir o bem-estar humano”.

Os mesmos autores mostram que a classificação mais utilizada para os serviços do

ecossistema é a criada pela Millenium Ecosystem Assessment (MA), que divide os serviços

em serviços de provisão, regulação, culturais e de suporte.

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A Millenium Ecosystem Assessment (Avaliação Ecossistêmica do Milênio, em

português) foi uma ação interinstitucional, que reuniu mais de 1300 cientistas de todo o

mundo para analisar, entre os anos de 2001 e 2005, as “consequências das mudanças no

ecossistema para o bem-estar humano e estabeleceu bases científicas para as ações

necessárias de conservação e uso sustentável dos ecossistemas” (Hassan et al., 2005).

Entretanto, essa mesma ação define ecossistema como: “um complexo dinâmico de

comunidades de plantas, animais e microrganismos e a interação com o ambiente não vivo”

(Hassan et al., 2005). Ou seja, houve pouca preocupação com o meio abiótico, que também

constitui um importante componente dos ecossistemas, é aquele que fornece, por exemplo,

habitat para todos os seres vivos do planeta. Da mesma forma, a geodiversidade, apesar de

que à época já constituía um termo em amplo desenvolvimento na ciência, não fora citada

em nenhum dos cinco volumes produzidos, como também não consta dos glossários das

publicações (Gray, 2013).

Assim, ao mesmo tempo em que utiliza o planeta Terra em forma de casa como

logomarca oficial, a Avaliação Ecossistêmica do Milênio deixou de avaliar o habitat, a casa

de todos, que é a geodiversidade do planeta.

Atualmente, de forma atenta às constantes mudanças no entendimento da Terra, suas

espécies e interações, a comunidade científica compreende melhor a importância do

ambiente abiótico para o estabelecimento, manutenção e desenvolvimento da vida. Ellis

(2014) indica, então, que ecossistema inclui:

“organismos vivos, matéria orgânica morta produzida por eles, assim como

o ambiente abiótico no qual os organismos vivem e trocam elementos

(solos, água, atmosfera), e as interações entre esses componentes”.

Hjort et al. (2015) mostram que a importância da geodiversidade para os serviços

ecossistêmicos se dá não somente porque o meio abiótico é o habitat dos seres bióticos, mas

também porque é responsável pela disponibilização de água doce, pela manutenção da

qualidade da água e ar, pela formação dos solos e pela reciclagem de nutrientes para a

produção de comida. Além disso, muitos bens considerados não renováveis, mas de

fundamental importância para a vida humana e de muitos seres vivos, também são produtos

da geodiversidade, como minerais, agregados e combustíveis fósseis.

As discussões sobre a aplicabilidade dos serviços ecossistêmicos nos estudos da

geodiversidade se estabeleceram então, durante a última década, estando alguns pontos

Page 55: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

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pendentes de esclarecimento e conclusão na literatura especializada. Alguns autores, porém,

já sinalizaram com adequações para englobar o meio abiótico na caracterização dos serviços,

tornando-os mais abrangentes na avaliação dos ecossistemas locais e globais.

Gray (2013), seguindo esse pensamento, atualizou sua definição de valores para a

geodiversidade com enfoque nos serviços do ecossistema abiótico, a partir dos serviços do

ecossistema definidos pela MA, mesmo tecendo críticas ao modelo apresentado e indicando

que uma terminologia mais aprofundada, como “serviços naturais”, “serviços ambientais”

ou “serviços do sistema Terra” seriam mais adequados para que todos os componentes da

natureza, bióticos e abióticos, estivessem integrados nas avaliações a serem feitas.

Disto, tem-se que a classificação atual do autor define 1 valor maior, chamado de

intrínseco, 5 serviços, de provisão, regulação, culturais e de suporte, a partir da classificação

da MA, sendo adicionado um serviço, o de conhecimento. 25 bens e processos derivados da

geodiversidade são relacionados por ele a esses serviços.

Nos itens que seguem, faz-se um detalhamento de cada valor e serviço definido por

Gray (2013), com exemplificação dos bens e processos relacionados a cada serviço. Ao final,

é apresentado um esquema simplificado, criado para este trabalho, com a nova abordagem

do autor na valoração da geodiversidade.

Uma vez que esse novo sistema de valores e serviços condiz com à abordagem para

as avaliações dos ecossistemas, será ele o utilizado nos capítulos que seguem para a

valoração dos locais de geodiversidade inventariados na cidade do Natal.

3.2.1 Valor Intrínseco

Também conhecido como valor de existência, representa uma caracterização ética e

filosófica da geodiversidade: “algumas coisas são de valor simplesmente pelo que elas são,

mais do que pela finalidade que elas podem ter para o ser humano” (Gray, 2013).

É, em suma, o valor que toda a geodiversidade possui, uma vez que sua simples

existência possibilita a relação da sociedade com a natureza, independente de qual relação é

estabelecida entre esses atores.

Considerado um resultado da corrente ecocêntrica, que valoriza relações não-

extrativas nas relações antrópicas com o meio ambiente, o valor intrínseco é utilizado na

literatura para caracterizar a diversidade de minerais, rochas, solos, rios, etc.

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Alguns autores consideram este valor como superficial e que não auxilia na

hierarquização dos locais de geodiversidade. Outros afirmam que, uma vez que ética e crença

variam entre as diversas sociedades, o valor intrínseco não existiria a depender da qual

corrente a comunidade local seguisse, uma vez que a natureza é endeusada por algumas

culturas e subjugada por outras.

Entretanto, Gray (2013) coloca o valor intrínseco como um componente dos valores

geocientíficos da diversidade abiótica do planeta, uma vez que está disponível para o homem

avaliar e valorar. Assim, a geodiversidade tem um valor agregado a ela simplesmente porque

existe!

3.2.2 Serviços de Regulação

Os serviços de regulação da geodiversidade compreendem os processos que têm por

finalidade o controle natural das condições ambientais, seja do ar, da água e dos solos.

Controla a disponibilização destes recursos, sua quantidade e qualidade.

Compreende processos naturais englobados em 4 grupos, descritos abaixo.

Processos atmosféricos e oceânicos

São todos os processos que influenciam as condições da atmosfera e dos oceanos,

disponibilizando recursos para o surgimento e desenvolvimento, por exemplo, da vida no

planeta. Estão englobados os movimentos de circulação da água nos oceanos, assim como o

ciclo hidrológico e a química atmosférica, representada, por exemplo, pela camada de ozônio

e pelos elementos dispersos na atmosfera, como CO2, H2O e O2.

Processos terrestres

O ciclo do carbono é tido como um processo terrestre de regulação, no qual

combustíveis fosseis, rochas carbonáticas, atividade vulcânica e o intemperismo são

elementos importantes de lixiviação, liberação e precipitação de íons de carbono.

Também neste processo está contido o ciclo das rochas, que é responsável por uma

constante renovação das características litológicas da crosta terrestre, ao longo do tempo

geológico.

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56

A modelagem da paisagem pelos processos geomorfológicos também consta dos

serviços de regulação.

Controle de inundação e alagamentos

Quando um intenso fluxo de água pluvial atinge a superfície da Terra, solos e

sedimentos da subsuperfície são responsáveis por deslocar, superficialmente ou através dos

poros no subsolo, a água para os canais dos rios, reduzindo o risco à inundação.

A inundação em áreas costeiras também é atenuada pela proteção de componentes

geológico-geomorfológicos como ilhas barreiras, salinas e cascalhos em praias.

Qualidade da água

Solos, sedimentos e rochas são responsáveis por processos de controle de qualidade

da água, uma vez que as estruturas formadas por esses componentes da natureza abiótica

constituem filtros que diminuem, por exemplo, a susceptibilidade do lençol freático à

poluição, regulando também a qualidade das águas superficiais.

3.2.3 Serviços de Suporte

Os serviços de suporte são aqueles em que a geodiversidade dispõe de recursos para

o desenvolvimento de atividades do ser humano ou da própria natureza, e que dependam

diretamente dos solos e rochas para serem realizadas. Compreende a disponibilização de

recursos para algumas atividades do homem e da biota do planeta.

Processos do solo

O desenvolvimento do solo a partir do intemperismo das rochas e do

desenvolvimento dos diferentes perfis pedológicos definem características diferenciadas ao

meio, que permite que ele seja usado, por exemplo, pelo ser humano para agricultura e

vinicultura. O solo também é fundamental para o estabelecimento de florestas, que, por

consequência de seu estabelecimento, previnem a erosão do solo em áreas de alta

pluviosidade.

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Disponibilização de habitat

Diversas espécies de animais e vegetais utilizam aspectos abióticos de um local,

como as rochas, para estabelecer seu habitat (Figura 3.3). Há registros, ainda nos dias atuais,

de comunidades humanas que vivem dentro de cavernas da Ásia. Disto, tem-se a importância

da geodiversidade como suporte para o desenvolvimento da biodiversidade.

Figura 3.3 – Espécime de cacto que utiliza o xisto como habitat, representando a importância da geodiversidade

como um serviço de suporte.

Foto: Matheus Lisboa

Plataforma

A geodiversidade também é uma fundamental plataforma para a construção de

estruturas, sobretudo pelo ser humano. A depender das características do local em que deseja

erguer um prédio, por exemplo, serão necessárias fundações mais desenvolvidas, para as

quais também serão requeridos blocos de rochas.

Sepultamento e armazenamento

Os recursos da geodiversidade são utilizados, há muitos séculos, como meios de

sepultamento humano. A exemplo disto são as covas feitas, ainda hoje no interior brasileiro,

diretamente no solo. Contudo, também podem ser usados para o armazenamento de lixo

comum (aterros sanitários cavados na terra) e de lixo radioativo. A disponibilização de

combustíveis fósseis só é possível devido a existência de rochas porosas conhecidas como

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reservatórios, outro exemplo da importância da geodiversidade como um serviço de suporte

ao armazenamento.

3.2.4 Serviços de Provisão

Este tipo de serviço da geodiversidade é responsável por disponibilizar bens

materiais para as sociedades humanas, é o de mais fácil compreensão porque, na maioria dos

casos, possui um valor monetário associado ao bem, que passa a ser tratado como produto.

Compreende 7 bens que são descritos abaixo.

Alimentação e bebida

Como já foi visto anteriormente, as rochas e solos são fundamentais para o controle

da qualidade da água, isto se reflete na disponibilidade de água doce, própria para consumo

humano, que são localizados em aquíferos subterrâneos, rios, lagos e geleiras.

Ao passo em que a maior parte da comida utilizada pelo ser humano é de natureza

biótica, há elementos na alimentação que são de natureza abiótica e, assim, podem ser

classificados como serviços de provisão da geodiversidade. É o caso do sal marinho,

produzido em larga em escala no Rio Grande do Norte, e do sal mineral extraído nas minas

de sal de Sergipe e da Europa.

Nutrientes e minerais para crescimento saudável

Alguns recursos minerais são utilizados na composição de medicamentos, como a

mistura de caulim com morfina para o tratamento de diarreia e indigestão. Elementos

químicos como nitrogênio, fósforo, magnésio e enxofre também são utilizados no tratamento

de saúde de homens, animais e plantas. A fonte destes elementos reside nos minerais

encontrados na crosta terrestre, que são extraídos e beneficiados para terem tal uso.

Combustíveis minerais

A maior parte da energia elétrica ou motora que move o cotidiano da sociedade

humana provém da geodiversidade, como carvão mineral, turfa, petróleo e urânio. Ambos

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têm um forte valor monetário associado, regidos como commodities nas bolsas de valores de

todo o mundo.

Materiais de construção

Há uma grande variedade de materiais geológicos usados na construção civil como

materiais de construção. Devido às diversas características, sobretudo de solos e rochas, os

materiais de construção são classificados, segundo Gray (2013) em:

Pedra de construção: blocos usados na construção de paredes, pisos, telhados ou

na ornamentação e revestimento;

Agregados: sedimentos ou brita usados, principalmente, na fabricação de

concreto;

Calcário: usado na fabricação de cimento;

Argila: usado na fabricação de tijolos e telhas;

Gipsita: usado na fabricação de gesso;

Areia: usado na fabricação de vidro;

Produtos vulcânicos;

Betume: usado na fabricação de asfalto.

Minerais industriais e metálicos

A variedade de minerais utilizados na indústria é considerável, todos decorrentes de

processos de mineralizações diversos, extraídos em depósitos de minerais metálicos, tais

como Terras Raras, cobre, ouro, platinóides, entre outros.

Gemas (ou produtos ornamentais)

Provavelmente, um dos recursos da geodiversidade de maior expressão monetária, as

gemas podem variar, em uma mesma família de minerais, por suas características de cores,

brilho, pureza e dureza. Seu uso é diverso, mas é mais evidente na confecção de joias e

ornamentos.

Page 61: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

60

Fósseis

Os fósseis nas classificações de Gray (2004, 2013) são caracterizados como uma

inconsistência em sua aplicação no Brasil. Isto porque o autor trata dos fósseis por seu valor

monetário e uma vez que a legislação brasileira proíbe a venda de fósseis, que é comum na

Europa, torna-se a definição deste tipo de recurso da geodiversidade como um serviço de

provisão incoerente.

Em termos da classificação dos serviços ecossistêmicos da natureza abiótica, os

fósseis seriam melhor enquadrados como um serviço de conhecimento. Contudo, como este

trabalho não almeja uma revisão dos valores sensu Murray Gray, os fósseis são colocados

como segue a definição do autor.

3.2.5 Serviços Culturais

Este tipo de serviço está relacionado com a relação da sociedade a algum aspecto

abiótico do ambiente por seu significado social ou comunitário. A seguir estão descritas as

5 atividades relacionadas a este serviço da geodiversidade.

Qualidade ambiental

Este aspecto dos serviços culturais se refere a um apelo estético das paisagens,

principalmente. Representa o quanto a diversidade natural dos elementos abióticos constitui

um local em que há benefícios psicológicos ou fisiológicos para o ser humano, melhorando

a vida das pessoas de forma não material.

Geoturismo e atividades de lazer

Geoturismo é caracterizado por Dowling e Newsome (2011) como a ação de turismo

em que as paisagens, fósseis, rochas e minerais são usados para a divulgação dos processos

que criaram estes aspectos naturais e que possui ampla relação com o ecoturismo. Logo, está

diretamente relacionado com as características abióticas de um lugar, que será explorado de

forma sustentável pela economia turística.

Page 62: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

61

Da mesma forma, atividades como rapel e escalada precisam de um paredão rochoso

para serem desenvolvidos, mostrando como a geodiversidade possui um valor cultural

através do lazer.

Significado cultural, espiritual e histórico

Este tipo de serviço cultural está associado, principalmente, a identificação de uma

comunidade com o meio abiótico através de lendas, do seu folclore, cultura, religião, ou

ainda quando este meio foi importante para sociedades passadas, cujos registros

arqueológicos são encontrados sob a forma, por exemplo, de arte rupestre ou artefatos.

Gray (2013) subdivide esse tema com relação à importância para: folclore,

arqueologia e história, relação espiritual e o senso de lugar. Este último está relacionado com

a percepção único da comunidade com o local que ela habita.

Inspiração artística

Este tipo de serviço cultural da geodiversidade ocorre no momento que os elementos

físicos do meio ambiente, sua paisagem, materiais e processos são usados como inspiração

para quadros, músicas, poesias ou ainda são pano de fundo de histórias em prosa.

O uso de materiais, como minerais, para a confecção de quadros, por exemplos,

também consta desta classificação de serviço cultural, a exemplo dos quadros produzidos

com quartzo, berilo e outras espécimes minerais.

Desenvolvimento social

Este tipo de serviço cultural é caracterizado quando ocorre o desenvolvimento de

atividades geológicas locais, como sociedades geológicas que realizam atividades de campo

em suas regiões de atuação, assim como a atividade voluntária de proteção ao meio ambiente

abiótico.

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3.2.6 Serviços de Conhecimento

Provavelmente o tipo de serviço mais importante, sobretudo para as geociências, os

serviços de conhecimento estão relacionados com propostas de utilização da natureza

abiótica como sala de aula e laboratório, sendo sua exploração puramente científica e

educacional. Seguem abaixo a descrição das 5 expressões deste tipo de serviço.

História da Terra

Compreende todos os registros utilizados (fósseis, afloramentos, sedimentos,

amostras) pela ciência para descrever a história da Terra, sua idade e transformações ao

longo do tempo geológico.

História da pesquisa

Refere-se, principalmente, aos locais no mundo que foram importantes para o

desenvolvimento da geologia e dos principais conceitos das geociências.

Monitoramento ambiental

Os registros das mudanças climáticas podem ser encontrados em lagos, pântanos e

núcleos de geleiras que guardam os registros das mudanças nas condições ambientais por

efeito da poluição. São, portanto, recursos que a geodiversidade dispõe para o ser humano

monitorar as mudanças em tais condições, a fim de mitigar o impacto das ações antrópicas,

promovendo a proteção e conservação da natureza.

Geoforense

O estudo de solos, sedimentos e topografia na ciência forense tem se tornado mais

comum atualmente. Logo, a geodiversidade apresenta-se através de um serviço de

conhecimento para o processo de entender uma cena de crime.

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Educação e emprego

Este é provavelmente o valor mais facilmente identificado como serviço de

conhecimento, uma vez que está associado ao desenvolvimento de ações de educação e

treinamento de geólogos ou outros profissionais e estudantes, das mais diversas áreas do

conhecimento geocientífico, através de trabalhos de campo ou laboratório para o estudo da

geodiversidade do planeta.

A partir de todos os serviços ecossistêmicos descritos acima, assim como os bens,

processos e recursos a eles associados, foi criado um esquema representativo para a nova

concepção dos valores da geodiversidade, elucidada por Gray (2013). Este esquema está

reproduzido na figura 3.4.

Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade segundo os serviços ecossistêmicos.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Gray (2013)

Page 65: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

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A partir das definições de Gray (2013), foi feita uma comparação com o sistema de

valores da geodiversidade definido pelo autor em 2004, observando suas equivalências e

não-equivalências.

O quadro 3.1 mostra a relação entre os dois sistemas em relação aos valores e

subvalores da geodiversidade (Gray, 2004) e os serviços, bens e processos (Gray, 2013).

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Quadro 3.1 – Relação entre os sistemas de valoração da geodiversidade sensu Murray Gray 2004 x 2013.

Fonte: Gray (2004, 2013)

Gray (2004) Gray (2013)

Valor Intrínseco Valor Intrínseco

VALORES SUBVALORES BENS E PROCESSOS SERVIÇOS

Valor Funcional

Controle de Inundação

Serviço de Regulação

Controle da Poluição

Química da Água Qualidade da Água

Funções do Geossistema Processos Terrestres

Funções do Ecossistema

Processos Atmosféricos e

Oceânicos

Plataforma Plataforma

Serviço de Suporte

Habitat

Sepultamento Sepultamento e

Armazenamento Armazenamento e

Reciclagem

Funções do Solo Processos do Solo

Saúde Saúde

Serviço de Provisão Valor Econômico

Minerais Metálicos

Minerais para Construção Materiais de Construção

Minerais Industriais Minerais Industriais

Energia Combustível

Fósseis Fósseis

Solos

Gemas Gemas

Alimentação e Bebida

Valor Estético

Atividades Voluntárias Desenvolvimento Social

Serviço Cultural

Apreciação Remota

Atividades de Lazer Geoturismo e Lazer

Geoturismo

Inspiração Artística Inspiração Artística

Paisagens Locais Qualidade Ambiental

Valor Cultural

Folclórico Significado Cultural,

Espiritual e Histórico Arqueológico-Histórico

Espiritual

Senso de Lugar

Valor Científico e

Educativo

Descoberta Científica

Serviço de Conhecimento

História da Terra História da Terra

Educação e Treinamento Educação e Emprego

História da Pesquisa História da Pesquisa

Monitoramento Ambiental Monitoramento Ambiental

Geoforense

Células pretas indicam que não há correspondência de um valor com um bem/ processo

e vice-versa

Page 67: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

66

3.3 CLASSIFICAÇÃO

A literatura traz diversas formas de classificação dos locais em que a geodiversidade

está presente, sejam eles in situ ou ex situ. Lugar de geodiversidade, geossítio e geotopo são

alguns dos termos utilizados por autores nacionais e internacionais.

Com a finalidade de mapear a geodiversidade da cidade do Natal, também

classificando-a, de forma a criar classes georreferenciadas em que os atributos do banco de

dados agregado às geometrias permitam a classificação das diferentes ocorrências da

geodiversidade na área de estudo, utilizou-se, neste trabalho, dois tipos de classificações

principais: por valor e por extensão.

Estes dois tipos de classificação utilizadas são descritas nos próximos itens e serão

empregadas no processo de descrição da geodiversidade de Natal nos capítulos seguintes.

3.3.1 Por Valor

A classificação por valor utilizada neste trabalho é baseada em Brilha (2015), que

indica a classificação dos lugares de geodiversidade como forma de facilitar a escolha

daqueles que devem ser protegidos.

Apesar do próprio autor reconhecer que existem diversos trabalhos que versam sobre

os valores da geodiversidade, o modelo aqui utilizado será, como exposto anteriormente, o

de Gray (2013).

Para Brilha (2015), a diversidade natural inclui os elementos bióticos

(biodiversidade) e os elementos abióticos (geodiversidade). A partir desses dois grandes

grupos, que compõem os ecossistemas do mundo, é feita pelo autor a classificação dos locais

em que ocorrem os elementos abióticos.

Ele considera que aqueles valores que possuem teor científico devem ser favorecidos

no momento de classificação da geodiversidade. No caso da classificação pelos serviços

abióticos do ecossistema, tais valores correspondem aos serviços de conhecimento.

Seguindo essa premissa inicial, o autor separa os lugares de ocorrência de

geodiversidade entre os que possuem valores científicos agregados e os que possuem outros

valores associados.

Page 68: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

67

Em cada um desses dois grandes grupos há uma subdivisão entre os locais de

ocorrência in situ (aqueles em que a geodiversidade encontra-se em seu local natural) e ex

situ (quando o recurso da geodiversidade se encontra em um local diferente do seu natural

de ocorrência).

Disto, tem-se que os locais com valor científico agregado e que estão in situ são

chamados geossítios, enquanto que aqueles encontrados ex situ são chamados elementos do

patrimônio geológico. Esses dois subgrupos compõem o patrimônio geológico.

Os locais com outros valores associados são chamados de lugares de

geodiversidade, no caso de ocorrência in situ, ou de elementos de geodiversidade, no caso

ex situ.

Para Brilha (2015), na classificação deste segundo grupo devem ser considerados

apenas os valores educativo e turístico. Entretanto, tal restrição acabaria, no entender deste

trabalho, por desconsiderar muitos lugares essenciais para os ecossistemas de uma região

restrita, que não possuem nenhuma expressão científica excepcional, educacional ou

turística, mas que possam funcionar como, por exemplo, suporte para o desenvolvimento de

habitat de espécies animais ou vegetais.

Todos os locais de ocorrência da geodiversidade, para o autor, necessitam de

avaliação e classificação para o desenvolvimento de ações de proteção, englobadas pela

geoconservação, termo que será introduzido ainda neste capítulo.

A figura 3.5 mostra um esquema conceitual para a classificação dos lugares de

ocorrência da geodiversidade pelos valores agregados.

Page 69: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

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Figura 3.5 – Esquema conceitual da classificação dos lugares de geodiversidade.

Fonte: Brilha (2015)

3.3.2 Por extensão

A segunda classificação dos locais de geodiversidade utilizado neste trabalho avalia

a extensão areal do lugar. Esse método foi desenvolvido no trabalho de Fuertes-Gutiérrez e

Fernandéz-Martinez (2010).

A partir da análise de 125 lugares na região de Leon, na Espanha, os autores

observaram que podiam ser determinadas semelhanças nas topologias das ocorrências in situ

da geodiversidade na área. Essas semelhanças possibilitaram a criação de cinco categorias.

Associada a essa definição, os autores determinaram graus de avaliação da

degradação dos locais. Assim, foram avaliados os graus de fragilidade e vulnerabilidade.

O grau de fragilidade mede o risco de degradação que o local possui sob as condições

naturais atuantes. Um lugar é frágil quando um processo de dano ou de total destruição

Page 70: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

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ocorre. A vulnerabilidade mede o risco de destruição das características de um local devido

à ação antrópica.

A partir de todas as considerações, os autores classificam os locais como:

Pontos: locais isolados com pequena extensão, de até 1ha;

Seções: sequências cronológicas (estratigraficamente);

Áreas: locais com apenas um tipo de interesse em grande extensão, superior a

1ha;

Pontos de visão: um observatório em uma grande área, a partir de onde a área

pode ser vista;

Áreas complexas: locais com grande extensão, em que há uma homogeneidade

fisiográficas, mas que possui uma diversidade de pontos, seções e pontos de

visão.

Pensando em adaptações à área de estudo deste trabalho, foi elaborada uma nova

classificação com modificações ao trabalho de Fuertes-Gutiérrez e Fernandéz-Martinez

(2010).

Essas modificações foram necessárias para adequar a classificação dos autores à

realidade urbana, uma vez que o trabalho deles foi realizado em área superior a 15.000 km².

Disto, simplificou-se a classificação para quatro classes: ponto, faixa, área e

panorama. As definições das classes, assim como a fragilidade e vulnerabilidade de cada

uma estão contidas no quadro 3.2.

Page 71: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

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Quadro 3.2 – Classificação dos lugares de geodiversidade segundo sua extensão areal

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de modificações ao trabalho de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010)

Tipologia Simbologia Definição Fragilidade Vulnerabilidade

Ponto

locais em que os recursos da

geodiversidade estão presentes

em uma poligonal com menos de

3000m²

Baixa a Alta Alta

Faixa

locais em que as estruturas e

recursos da geodiversidade se

desenvolvem ao longo de linhas

paralelas

Média Média

Áreas

locais em que os recursos da

geodiversidade estão presentes

em uma poligonal com mais de

3000m²

Baixa Baixa

Panorama

locais que servem de observatório

para uma área em que a

geodiversidade possui destaque

na paisagem

Baixa Alta (a vista

panorâmica)

A definição da menor localidade de geodiversidade, ponto, foi feita a partir da

medição da extensão areal do Forte dos Reis Magos, que, neste trabalho, representa o maior

monumento em que houve utilização de recursos de geodiversidade de forma ex situ. Assim

sendo, o limiar de 3000m² entre pontos e áreas foi determinado por ser a medida

imediatamente superior à extensão do Forte.

A classe de área complexa foi retirada da classificação porque, no entender deste

trabalho, esta classe englobaria, em sua definição original, toda a área de estudo: a cidade do

Natal. Isto porque segue o que determinaram Fuertes-Gutiérrez e Fernandéz-Martinez

(2010).

As avaliações a serem feitas nos próximos capítulos dos locais de geodiversidade

utilizaram as duas classificações já descritas. Ambas serão empregadas para os locais de

ocorrência in situ e ex situ.

Ao final, será avaliada a aplicabilidade dos dois modelos de classificação para a

avaliação da geodiversidade nos centros urbanos.

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3.4 AMEAÇAS E PROTEÇÃO DA GEODIVERSIDADE

Os sistemas de valoração e classificação dos lugares de geodiversidade têm por

objetivo auxiliar projetos de manejo das áreas, de forma a promover sua conservação ou

exploração sustentável.

Uma vez que os locais que possuem algum valor associado, como os que foram

descritos anteriormente neste capítulo, sofrem alguma ameaça, seja ela natural, catastrófica

ou antrópica, passa a existir a necessidade conservação de seus recursos e elementos (Gray,

2013):

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 + 𝐴𝑚𝑒𝑎ç𝑎 = 𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎çã𝑜

Gray (2013) coloca que as principais ameaças para a geodiversidade do planeta estão

associadas à mineração, expansão urbana, projetos de engenharia na rede hidrográfica,

aterros sanitários, agropecuária, atividades militares, retirada de espécimes minerais,

atividades turísticas sem mitigação dos impactos, entre outras formas de gestão dos espaços.

Dessas ações, a geodiversidade pode ser impactada das seguintes formas:

Perda total de um elemento da geodiversidade;

Perda parcial ou dano físico;

Perda de visibilidade ou intervisibilidade;

Perda de acesso;

Interrupção dos processos naturais;

Poluição;

Impacto visual

Uma vez que tais impactos podem acarretar perdas imensuráveis para as geociências,

assim como para toda a sociedade, desenvolveu-se, concomitantemente com o termo

geodiversidade, a geoconservação, que almeja a conservação da diversidade abiótica do

planeta.

Entretanto, como muitos dos recursos abióticos do planeta são fundamentais para a

vida humana, pretende-se, com a valoração e classificação dos lugares, proteger aqueles

locais com geodiversidade excepcional, ou o patrimônio geológico da Terra.

As medidas de proteção da geodiversidade podem advir da “criação de leis e

programas específicos para o patrimônio geológico e/ou por meio da sensibilização do

Page 73: GEODIVERSIDADE DA CIDADE DO NATAL(RN): VALORES ... · geodiversidade da cidade do Natal que ocorre de forma natural, ... Figura 3.4 – Classificação dos valores da geodiversidade

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público sobre a importância deste patrimônio, utilizando-o para o turismo” (Nascimento et

al., 2008).

Programas de proteção à geodiversidade são registrados no mundo, sobretudo no

hemisfério norte. O programa de Geoparques da UNESCO (Figura 3.6) é uma das principais

ações de proteção da geodiversidade in situ, atualmente contando com 120 geoparques em

33 países.

Figura 3.6 – Logomarca oficial da rede de Geoparques da UNESCO

Fonte: unesco.org

O programa de Geoparques da UNESCO começou a ser criado em 2000 na Europa

(com 4 geoparques) e três anos depois já possuía 25 geoparques membros, sendo 8 na China.

Os Geoparques têm como foco atividades relacionadas à educação, ciência, cultura,

desenvolvimento social e proteção das mulheres. São realizadas nos geoparques ações de

exploração sustentável da geodiversidade, através de geoturismo, artesanato e gastronomia,

além de projetos de geociências para a sociedade, que procuram envolver a comunidade local

no desenvolvimento e manutenção do parque, de forma que as ações de proteção tragam

benefícios para todos.

O Brasil conta com um geoparque da UNESCO desde 2006, na região do Araripe-

CE. Entretanto, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) possui um programa de gestão

chamado Geoparques do Brasil, que consta de 37 propostas.

Projetos como Caminhos Geológicos (Rio de Janeiro), Sítios Geológicos (Paraná),

Caminhos Geológicos da Bahia (Bahia) e Monumentos Geológicos (Rio Grande do Norte)

foram ações implementadas desde 2003 que procuraram promover também a geodiversidade

através da educação para toda a sociedade.

Carvalhido et al. (2016) mostram que as estratégias ideais de geoconservação devem

ser implementadas pelo poder público, em suas diferentes esferas, de forma a colaborar com

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as atividades de gestão dos recursos naturais com ações que também possam incentivar a

economia, através do viés turístico, por exemplo.

Ou seja, todas as atividades que visam a geoconservação devem envolver a sociedade

através da educação, cultura, turismo e economia. Essas ações de divulgação e proteção da

geodiversidade podem ser desenvolvidas para a regiões que possuem elementos in situ ou

ex situ, mas devem sempre focar na proteção do patrimônio geológico, na tradução do

conhecimento geológico para a sociedade leiga e no envolvimento desta sociedade na

geoconservação.

3.5 GEODIVERSIDADE NAS CIDADES BRASILEIRAS

Nas cidades, aonde a atividade humana é mais pulsante, a presença da geodiversidade

se torna evidente, apesar de muitas vezes não ser mais encontrada em sua forma natural, in

situ. Ela pode estar presente nos calçamentos, nas fundações dos prédios, em suas fachadas,

como ornamentos dos homens e mulheres que passam freneticamente pelas ruas das milhares

de cidades em todo o mundo.

Como já foi mostrado neste capítulo, a geodiversidade influenciou, ao longo dos

anos, a própria criação dos centros urbanos, ditando seus locais de instalação a partir da

disponibilização de recursos para as construções ou das paisagens que servem de proteção

natural e moldura para a vida cotidiana no planeta.

A partir destas afirmativas, alguns trabalhos no Brasil têm se dedicado, nos últimos

10 anos, à identificação do uso da geodiversidade nos centros urbanos ao longo da história,

principalmente, para o estabelecimento e execução de roteiros geoturísticos, através dos

quais a geodiversidade é mostrada como um elemento da história local.

Um dos primeiros trabalhos neste sentido é o de Stern et al. (2006), que trabalharam

no centro histórico da cidade de São Paulo e propuseram um roteiro com 11 paradas, nas

quais as rochas graníticas são os principais recursos da geodiversidade encontrados nas

fachadas e bases dos edifícios escolhidos. Aliado ao conhecimento da história da cidade, o

visitante poderia, pela proposta do trabalho, obter conhecimentos geológicos sobre as rochas

utilizadas e o motivo de sua utilização (características como facilidade de corte e

disponibilidade próxima, por exemplo).

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Ainda na capital paulista, Augusto e Del Lama (2011) realizaram trabalho de

descrição de rochas utilizadas em 8 monumentos, propondo um segundo roteiro geoturístico

na cidade, através dos mármores e granitos das estátuas, bustos e fontes históricos.

Com o desenvolvimento mais profundo dos trabalhos no centro de São Paulo, Del

Lama et al. (2014), atualizou a proposta anterior de roteiro com um novo enfoque: o

geoturismo urbano. O roteiro mais recente contém 19 paradas (figura 3.7), em que há

presença de uso de granitos, filito, arenito, conglomerado, calcário e mármore.

Figura 3.7 – Mapa de localização das paradas sugeridas pelo roteiro geoturístico do centro histórico de São Paulo.

Fonte: Del Lama et al. (2014)

Liccardo (2010) focou sua pesquisa na cidade de Curitiba na utilização das rochas

locais ou próximas à capital paranaense em trabalhos de cantarias encontrados na cidade, em

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monumentos, calçamentos e edifícios históricos. Lá, as principais rochas utilizadas são

gnaisses, granitos, diabásios, mármores e metagranitoides.

Em João Pessoa, a descrição de monumentos dos séculos XVI ao XVIII, feita por

Pereira e Amaral (2014), contou com detalhes arquitetônicos e históricos que são

complementados pelas informações geológicas do uso do calcário da Formação Gramame

nos lugares pesquisados.

Pinto (2015) ampliou a abordagem dos estudos da geodiversidade nos centros

urbanos. Em trabalho realizado na cidade de Salvador, fez descrição detalhada da

geodiversidade em suas expressões in situ e ex situ, definindo o patrimônio geológico local,

a partir de Brilha (2015).

Já em relação à cidade do Natal, área de estudo deste trabalho, Carvalho (2010)

realizou o mapeamento descritivo da utilização de rochas nas construções e monumentos

históricos do centro histórico natalense. Através de um roteiro por 27 pontos diferentes nos

bairros da Cidade Alta e Ribeira (Figura 3.8), dentro da poligonal do tombamento realizado

pelo IPHAN, o trabalho mostrou a utilização das rochas encontradas no litoral da cidade,

arenitos calcíferos e ferruginosos, e nas proximidades da cidade vizinha Macaíba, granito,

em diversas construções, monumentos e ruas construídos entre os séculos XVII e XIX.

Figura 3.8 – Mapa de localização dos pontos que compõem o roteiro geoturístico do centro histórico de Natal.

Fonte: Carvalho (2010)

Com uma visão da arquitetura vernacular, o trabalho de Carvalho (2010) foi de

extrema importância para o aprofundamento dos estudos da geodiversidade da cidade do

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Natal, através de projetos de pesquisa e extensão que se seguiram nos últimos anos, e

também se tornou uma referência fundamental para os trabalhos com geoturismo urbano nos

centros históricos brasileiros.

Com os exemplos citados acima, percebe-se que a utilização dos conceitos da

geodiversidade nos centros urbanos é possível e constitui ferramenta importante na

divulgação das geociências e conhecimento geológico entre a sociedade em seus próprios

lares, que são as cidades.

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4. GEODIVERSIDADE IN SITU

A geodiversidade é representada por todos os componentes da natureza abiótica,

como minerais, rochas, solos, rios, paisagens e as relações e processos naturais envolvidos

por esses recursos. A geodiversidade, portanto, está presente em todos os ambientes do

planeta, ocorrendo nas mais diversas formas e extensões.

Este capítulo faz uma análise dos recursos que compõem a geodiversidade no âmbito

da cidade do Natal e que nela ocorrem de forma natural, ou seja, de forma in situ, como

definido por Brilha (2015). Após comentários acerca do registro histórico, são feitas

descrições geológico-geomorfológicas pertinentes a cada lugar identificado. Em seguida,

são valorados os locais de acordo com as definições de Gray (2013), com base nos serviços

ecossistêmicos da geodiversidade, como apresentado no capítulo anterior.

No processo de valoração qualitativo, que é aqui utilizado, índices não são aplicados,

o que pode provocar sub ou supervalorização de um quesito, como um valor com teor

científico. Isso pode ser modificado, a posteriori, em trabalhos que façam a quantificação

dos valores por meio de diversos modelos consolidados na literatura.

Após a identificação dos valores de forma qualitativa, cada sítio é classificado de

acordo com os parâmetros apresentados por Brilha (2015), a partir dos valores identificados,

e por Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010), de acordo com a extensão areal de

cada sítio.

Por último, é apresentada um quadro síntese contendo os locais de geodiversidade in

situ, juntamente com os valores identificados e as classificações empregadas neste trabalho,

e um mapa de localização das ocorrências analisadas.

4.1 PRAIAS

Natal possui um vasto litoral, com mais de 17 km de extensão, compreendendo 7

praias, de norte a sul: Redinha, Forte, Meio, Artistas, Areia Preta, Via Costeira e Ponta

Negra. A Via Costeira ainda é subdividida em algumas pequenas faixas de praia, que serão

aqui entendidas como um único compartimento, juntamente com a praia de Ponta Negra.

Devido a semelhanças em elementos essencialmente morfológicos e geológicos, as

praias de Natal foram agrupadas em 4 unidades de geodiversidade que serão aqui descritas:

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Litoral Norte, que compreende a praia da Redinha, única ao norte da desembocadura do Rio

Potengi; Litoral Central, representado pelas praias do Forte, Meio e Artistas; Areia Preta; e

Litoral Sul, que vai da Via Costeira até Ponta Negra.

A praia de Areia Preta é neste trabalho tratada de forma separada porque nesta região

do litoral natalense houve uma intensa modificação da morfologia da zona de praia devido

às intervenções antrópicas. Além disso, as características geológicas dessa região a

diferenciam das demais, como será visto adiante.

Apesar de dispor de diversas praias, o cidadão natalense só começou a usufruir delas

a partir do século XX. Souza (2008) aponta que, inicialmente, apenas a elite da cidade

costumava a frequentar as praias, distantes do centro da cidade para os padrões da época.

Assim, começavam a ser frequentadas as praias de Areia Preta no começo do século, seguida

das praias do Meio e da Redinha na década de 1920. O uso da praia de Ponta Negra, hoje a

mais famosa, teve início apenas na década de 1940.

As praias são fundamentais para o ecossistema, pois além de representarem a linha

de costa, aonde a relação entre continente e oceano é mais intensa, são locais necessários

para a vida de algumas espécies de invertebrados, assim como são os principais lugares de

lazer do ser humano, sobretudo em países como o Brasil, que possuem extensa área litorânea.

4.1.1 Litoral Norte

Localizada ao norte da desembocadura do Rio Potengi, a praia da Redinha é a única

da zona norte de Natal, apesar de sua fronteira com a praia de Santa Rita, no município de

Extremoz, não ser facilmente percebida por seus frequentadores ou população em geral. O

nome Redinha, segundo Cascudo (2011), é uma referência à Vila da Redinha no Conselho

de Pombal, Portugal.

A praia da Redinha, que neste trabalho corresponde à região Litoral Norte, é

compreendida pela Zona Especial de Interesse Turístico 4, regulamentada pelo Plano Diretor

de Natal (Lei Complementar nº 082/2007).

Durante os séculos XVI e XVII a região da Redinha era ocupada por uma aldeia

indígena da Tribo Potiguara liderada por Filipe Camarão, herói na expulsão dos holandeses

da então terra portuguesa (Costa Jr, 2005). Até a década de 1940 a Redinha era considerada

como um povoado do município de São Gonçalo do Amarante, sendo incorporado a Natal

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em 1943. Uma maior ocupação antrópica foi observada, entretanto, apenas a partir da década

de 1980.

A Figura 4.1 mostra a praia da Redinha em imagem de satélite, na qual pode-se

observar forte linearidade da linha de costa, perturbada pelo muro guia que provocou, como

indica Cunha (2004), mudanças na velocidade das correntes marítimas e de transporte nas

adjacências da obra, assim como gerou difração nas ondas. Essas alterações provocaram

sedimentação no início do enrocamento em terra, o que gerou uma pequena curva na linha

de costa, possibilitando uma morfologia semelhante a enseada.

Figura 4.1 – Imagem de satélite com destaque para a praia da Redinha.

Fonte: Google Earth

A zona de praia da Redinha é formada, geologicamente, por depósitos eólicos

litorâneos vegetados e não-vegetados, depósitos litorâneos praiais e recifes arenosos que são

encontrados submersos, na região de shoreface, distantes da face da praia. É caracterizada

como uma praia arenosa (figura 4.2).

Atualmente, a praia é bastante frequentada aos finais de semana e feriados, quando

centenas de pessoas utilizam a faixa de areia para jogar futebol (figura 4.3), vôlei, além de

tomar banho de mar.

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Figura 4.2 – Foto da praia da Redinha mostrando a

larga faixa de areia quartzosa.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 4.3 – Pessoas praticando futebol de areia na

praia da Redinha.

Foto: Matheus Lisboa

4.1.2 Litoral Central

O Litoral Central é limitado a norte pela desembocadura do Rio Potengi e a sul pela

Ponta do Morcego, onde ocorrem rochas correlatas ao Grupo Barreiras (arenitos

ferruginosos) e que são registros remanescentes de falésias na região. Compreende as praias

do Forte, do Meio e dos Artistas.

Até a década de 1920, a região não era utilizada para o lazer do natalense. Com o

aumento do fluxo de pessoas, a área, sobretudo da Praia do Meio, passou a contar com

avenidas e chegou a ter o primeiro hotel de luxo da cidade, o Hotel Reis Magos, inaugurado

no feriado de 07 de setembro de 1965 (Souza, 2008).

A figura 4.4, datada de 1960, mostra a região do Litoral Central no começo de uma

expansão urbana mais acentuada. Observa-se, devido ao fraco adensamento urbano, a

presença de uma zona de backshore livre.

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Figura 4.4 – Foto de 1960 mostrando a região da praia do Meio, no Litoral Central de Natal, até então pouco

ocupada.

Foto: Getty Images

Geomorfologicamente, essa região é bem caracterizada por praias arenosas, com

alguns resquícios de dunas vegetadas, sendo possível ainda identificar dunas frontais na

região da praia do Forte. A principal diferença dessa região do litoral natalense para as

demais, entretanto, é a presença de corpos de arenitos praiais paralelos à linha de costa

(Figura 4.5).

Figura 4.5 – Imagem de satélite com destaque para o Litoral Central (praias do Forte, Meio e Artistas)

Fonte: Google Earth

No começo da história da cidade, já se percebia a importância da presença dos

arrecifes de arenito como um componente da paisagem. Mapas que retratam a época da

ocupação holandesa, quando Natal passou a se chamar Nova Amsterdã e o Forte dos Reis

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Magos (Fort Ceulen), mostram e identificam os proeminentes arrecifes na região Litoral

Central (figura 4.6).

Figura 4.6 – Mapa de Johannes Vingboons, datado de 1665, mostrando o Fort Ceulen e os arenitos praiais da

região Litoral Central. Em holandês, está escrito steen clip genaemt riciff, cuja tradução é corpo de pedra

chamado recife.

Fonte: http://www.robgomes.nl/

Contudo, apenas no começo do século XX começaram os estudos de caráter mais

científico. Branner (1904) foi o primeiro a mapear a região, mostrando a existência de duas

linhas paralelas de recifes de arenitos, chamados de “recife interno e externo”. Essa

classificação foi reafirmada, setenta e quatro anos depois, por Oliveira (1978). A Figura 4.7

mostra estes dois mapas produzidos.

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A B

Figura 4.7 – Mapas da região Litoral Central de Natal, mostrando os corpos de arenitos praiais.

Fontes: A – Branner (1904); B – Oliveira (1978)

As duas linhas de arrecifes possuem gênese semelhante, sendo sua origem

relacionada com a percolação de águas saturadas em carbonato de cálcio a partir do

continente que, ao entrar em contato com as águas marinhas, precipita o CaCO3 na forma de

cimento dando origem às rochas (arenitos e conglomerados).

Recente pesquisa arqueológica no Forte dos Reis Magos orquestrada pelo IPHAN

permitiu a coleta de algumas amostras de arrecifes que foram analisadas em microscópio

ótico. Essas amostras correspondem aos corpos de arenitos praiais na região Litoral Central,

de onde foram retirados, inicialmente, os blocos para a construção do Forte e de alguns

edifícios históricos no Centro Histórico de Natal (Nascimento e Silva, 2015; Nascimento et

al., 2016).

A partir da análise, pode-se afirmar que as rochas são compostas, essencialmente,

por quartzo monocristalino, plagioclásio e microclina (Figura 4.8). São encontrados em

menores proporções: bioclastos, apatita, turmalina, epidoto, muscovita, titanita e biotita.

Pode-se observar uma cimentação carbonática tipo mosaico e em franjo fibro-radial,

enquanto o tipo de porosidade predominante é intergranular primária (Figura 4.9).

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Figura 4.8 – Fotomicrografia de amostra de arenito

praial da região Litoral Central mostrando grãos de

microclina (Mc), quartzo monocristalino (Qz) e

cimento em mosaico (seta vermelha).

Figura 4.9 – Fotomicrografia de amostra de

arenito praial mostrando cimento carbonático

(seta vermelha) em franja fibro-radial

preenchendo porosidade primária (seta azul),

além dos grãos quartzosos (Qz) do arcabouço.

Os corpos de arenitos na região Litoral Central também são responsáveis pela

morfologia da linha de costa, uma vez que pequenas aberturas nos recifes geram difração

nas ondas, que, ao atingir a praia, a modelam em um formato côncavo (figuras 4.10 e 4.11).

Figura 4.10 – Imagem de satélite com destaque para a

forma côncava da linha de costa na praia do Forte.

Fonte: Google Earth

Figura 4.11 – Fotografia da praia do Forte,

mostrando sua linha de costa curva e dunas frontais

vegetadas.

Foto: Matheus Lisboa

A região Litoral Central passou, recentemente, por obras de urbanização de sua orla,

ampliando as calçadas e equipamentos públicos, o que permitiu um significativo aumento

do fluxo de frequentadores, sobretudo nos finais de semana.

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4.1.3 Areia Preta

A praia de Areia Preta está compreendida entre duas ocorrências significativas do

Grupo Barreiras, a norte a Ponta do Morcego e a sul a Ponta de Mãe Luíza. Entre as praias

urbanas da cidade, esta é a que possui menor extensão, mas foi a primeira a ser utilizada pela

população para lazer, no início do século XX. Ao longo dos anos, toda a região de backshore

foi ocupada ao longo dos anos por uma densa rede urbana. As figuras abaixo mostram a

praia no começo de sua ocupação, ainda com as dunas frontais livres.

Figura 4.12 – Foto da década de 1930 mostrando a

praia de Areia Preta ainda com baixa ocupação.

Foto: Jaeci Galvão

Figura 4.13 – Foto mostrando as primeiras casas e o

farol construídos sobre as dunas frontais.

Foto: Jaeci Galvão

O nome da praia já mostra forte relação com a geodiversidade, visto que “areia preta”

advém, segundo Souza (2008), das rochas negras que ali existem, referindo-se, portanto, aos

resquícios de antigas falésias do Grupo Barreiras, cujas rochas são arenitos cimentados por

óxido de ferro. A forte presença desse tipo de rocha, percebida desde o início, serviu de

inspiração para o topônimo da praia. A Figura 4.14 mostra a praia na década de 1960, com

pouca ocupação antrópica, zona de praia mais larga e diversos corpos de arenitos

ferruginosos.

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Figura 4.14 – Foto de 1960 da praia de Areia Preta, destaque para os corpos de arenitos do Grupo Barreiras.

Foto: Getty Images

A zona de praia é restrita e, em horários de preamar, chega a ser totalmente tomada

pela água marinha. Para mitigar o processo de avanço marinho, foram realizadas obras de

enrocamento e de engorda da praia no final da década de 1990 (Figura 4.15). Estas obras

modificaram as feições originais da praia e, como aponta Nunes (2011), impedem o

transporte natural de sedimentos, acarretando também falta de sedimentos nas praias do

Litoral Central.

Figura 4.15 – Imagem de satélite com destaque para a praia de Areia Preta, na qual se observa a presença de três

estruturas de enrocamento.

Fonte: Google Earth

Hoje, esta praia é pouco utilizada para banhos de mar e outras atividades de lazer, ao

contrário do começo do século XX. Entretanto, é comum ver sufistas aproveitando a maré

alta nesta região do litoral natalense.

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4.1.4 Litoral Sul

O Litoral Sul corresponde às zonas de praia de Ponta Negra e Via Costeira, apresenta

uma morfologia tipo enseada, cujos promontórios são, a norte, a Ponta de Mãe Luíza, e a sul

o Morro do Careca, que é, por sua vez, compreendido pelo campo de dunas sul (Figura 4.16).

Figura 4.16 – Imagem de satélite com destaque para a região Litoral Sul (praias da Via Costeira e Ponta Negra).

Fonte: Google Earth

A região de Ponta Negra, hoje bairro turístico da cidade, era até meados da década

de 1940 apenas uma vila de pescadores (Souza, 2008). Assim como Areia Preta, o topônimo

“ponta negra” se refere a rochas do Grupo Barreiras, encontradas, neste caso, na extremidade

sul da praia. Quando Ponta Negra começou a ser mais frequentada, durante a II Guerra

Mundial, Natal era base aérea dos aliados.

A área hoje ocupada pela Via Costeira, rodovia estadual que liga os bairros de Areia

Preta e Ponta Negra por meio da orla marítima, era até a década de 1970 pouco habitada e

utilizada pela população natalense. Com a implantação da via de 9km, vários hotéis de luxo

foram instalados na área e a população em geral passou a desfrutar, ainda que timidamente,

da zona de praia nesta região.

As duas zonas de praia constituem, neste trabalho, o Litoral Sul, e são caracterizadas

por praias arenosas, com resquícios de dunas frontais e dunas vegetadas. Geologicamente,

aqui são encontrados depósitos litorâneos praiais, compostos por areias quartzosas de grãos

finos a muito grossos, com presença de bioclastos e minerais pesados.

Na região praial da Via Costeira é possível observar estratificações de baixo ângulo,

típicas de linhas de costa, e blocos de arenitos ferruginosos correlatos ao Grupo Barreiras,

como mostram as imagens abaixo.

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Figura 4.17 – Destaque para estratificação de praia

nos sedimentos da praia da Via Costeira.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 4.18 – Blocos de arenitos ferruginosos do

Grupo Barreiras encontrados na Via Costeira.

Foto: Matheus Lisboa

Hoje, esta região do litoral natalense é muito frequentada ao longo de todo o ano,

concentrando também a maior parte dos equipamentos turísticos da cidade. São praticados

esportes aquáticos como surfe e stand up paddle, além de haver, principalmente nos

calçadões da praia, intensa programação cultural, esportiva e de lazer.

Esta região do litoral de Natal também é amplamente estudada, sobretudo no que

concerne à dinâmica costeira.

Em relação aos valores da geodiversidade definidos por Gray (2013), nas praias de

Natal são identificados, além de um valor intrínseco, devido à simples existência dos

recursos abióticos serviços de:

regulação, devido a presença de processos terrestres, que são responsáveis pela

modelagem das feições da praia, por correntes marítimas, por exemplo, e pela

presença dos recifes de arenitos que servem, especialmente na região classificada

como Litoral Central, para o controle de inundação, protegendo a linha de costa e

mitigando a invasão das águas marinhas;

suporte, identificado na praia do Forte, na região Litoral Central, aonde os arrecifes

serviram de plataforma sólida para a construção do Forte dos Reis Magos. Também

é possível identificar nas demais praias, pois os recursos abióticos, como rochas e

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solos, são utilizados como habitat de espécimes de bivalves, crustáceos, entre outros

invertebrados;

cultura, que é verificado nas praias de Natal pela estética de suas paisagens, o que

caracteriza uma qualidade ambiental da geodiversidade. Atividades de lazer como o

futebol nas areias das praias também caracterizam esse tipo de serviço ecossistêmico,

assim como o uso das paisagens das praias como inspiração artística para a criação

de quadros, poesias, músicas e qualquer outra expressão artística. Ações voluntárias

de proteção ao meio ambiente caracterizam um desenvolvimento social por meio da

geodiversidade, o que ocorre, por exemplo, na praia da Redinha através do projeto

“Amigo da Praia”;

conhecimento, justificado por trabalhos como os de Barreto et al. (2004) e Cunha

(2004), além de atividades que desenvolvem trabalhos de pesquisa, ensino e extensão

nas praias de Natal, visando o fomento da educação e emprego no que se refere ao

uso dos recursos abióticos disponíveis nas praias, e o monitoramento ambiental das

praias como faz o “Programa Água Azul” por meio de estudos de balneabilidade nas

praias urbanas de Natal e de outros municípios do estado. No caso do Litoral Central,

datações 14C feitas por Oliveira et al. (1990) e Barreto et al. (2004) em conchas nos

arenitos praiais da região colaboraram com o mapeamento do Holoceno no Rio

Grande do Norte, o que caracteriza um processo de escrita da história da Terra.

Apesar de blocos de arenitos terem sido retirados das praias, principalmente dos

arrecifes inorgânicos do Litoral Central, para servirem de material para construção de muitos

edifícios no começo da história de Natal, atualmente, devido ao abandono deste uso, não é

possível identificar um serviço de provisão nas praias da cidade.

De acordo com a classificação de Brilha (2015), apenas as regiões Litoral Central e

Sul podem ser tidas como geossítios, visto que pesquisas científicas, no âmbito das

geociências, são mais desenvolvidas nestas áreas. As demais áreas de praia na cidade do

Natal são entendidas como lugares de geodiversidade.

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Uma vez que o desenvolvimento das praias, seus processos e elementos se dá através

de zonas lineares, estas são classificadas como faixas, de acordo com o que define Fuertes-

Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).

4.2 CAMPOS DE DUNAS

As dunas são, juntamente com as praias, as principais feições geomorfológicas na

paisagem de Natal. São classificadas, geologicamente, por Fonseca et al. (2012), na Folha

Natal, escala 1:100.000 (Serviço Geológico do Brasil – CPRM), como Depósitos Eólicos

Vegetados e Não-Vegetados. Há um predomínio de ocorrências de dunas tipo parabólica,

em planta.

Além de serem encontrados no Parque das Dunas e no Parque da Cidade, que são

tratados neste trabalho de forma separada, corpos dunares de extensões consideráveis estão

presentes também nas quatro zonas administrativas da cidade e os principais corpos

remanescentes são protegidos por Zonas de Proteção Ambiental.

A principal variação nos corpos se dá nas cores dos sedimentos, variando de

avermelhado, no caso do corpo de dunas oeste, para esbranquiçado nos demais locais. Isso

se dá devido à presença ou não de óxido de ferro capeando os grãos de quartzo e de matéria

orgânica. Em todas as regiões, as areias das dunas são quartzosas bem selecionadas.

4.2.1 Dunas Norte

É parte do grande cordão dunar de Genipabu, entretanto, pertencente ao limite

municipal da cidade do Natal. As dunas aqui são compreendidas pela ZPA-09 (Figura 4.19),

que protege os ecossistemas de lagoas e dunas ao longo do Rio Doce.

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Figura 4.19 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-09.

Fonte: Google Earth

As dunas dessa região (figura 4.20) são responsáveis por prover recarga aos aquíferos

e por propiciar perfis pedológicos que favorecem o desenvolvimento da agricultura na

região. Também são importantes para a proteção dos mananciais e seus cursos naturais.

Figura 4.20 – Foto do corpo de dunas norte.

Foto: Matheus Lisboa

4.2.2 Dunas Oeste

Este campo de dunas, compreendido pela Zona de Proteção Ambiental 04 (Figura

4.21), situada nos bairros de Felipe Camarão e Guarapes. Nesta região, as dunas apresentam

coloração mais avermelhada, o que é explicado pela presença de óxidos de ferro capeando

os sedimentos, em especial os grãos de quartzo. Mostra forte contraste de relevo junto às

suas áreas adjacentes de tabuleiro costeiro e do estuário do rio Potengi.

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Figura 4.21 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-04.

Fonte: Google Earth

Este campo é um dos resquícios do Campo de Dunas Pirangi-Potengi, que ocupava,

em 1966, uma área aproximada de 50km², sendo reduzido a um quinto disto até 1999, como

mostram Amaral et al. (2005). As dunas aqui protegidas são fundamentais na minimização

do escoamento de águas pluviais, facilitando sua infiltração.

4.2.3 Dunas Leste

Remanescentes dos corpos de dunas frontais localizados entre a praia de Areia Preta

e Via Costeira. Com a intensa ocupação antrópica desenvolvida a partir do século XX na

região, a maior parte das dunas foi impermeabilizada e teve sua dinâmica natural cessada.

Entretanto, foi estabelecida a ZPA-10 (Figura 4.22), menor da Zonas de Proteção

Ambiental da cidade e que é uma área remanescente do Parque das Dunas (ZPA-02), para

proteção das encostas dunares remanescentes na área, que possuem, ambientalmente,

importância cênica, paisagística e cultural.

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Figura 4.22 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-10.

Fonte: Google Earth

Sobre este corpo de dunas foi construído o Farol de Mãe Luíza, inaugurado em 1951.

As figuras 4.23 e 4.24 mostram a face frontal da duna compreendida pela ZPA-10 e Farol,

único da cidade e que hoje é reconhecido também como um marco cultural e turístico de

Natal.

Figura 4.23 – Foto do corpo de dunas leste.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 4.24 – Farol de Mãe Luisa, construído sobre o

corpo de dunas leste.

Foto: Matheus Lisboa

4.2.4 Dunas Sul

Compreende as dunas fixas protegidas pelas Zonas de Proteção Ambiental 05 e 06

(Figura 4.25), englobando também o Morro do Careca, um dos principais cartões postais da

cidade. São dunas de importância cultural, turística e ambiental, visto que também

colaboram com a recarga do aquífero.

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Figura 4.25 – Imagem de satélite com delimitação da ZPA-05 e ZPA-06.

Fonte: Google Earth

Ao longo dos anos, o Morro do Careca, localizado na ZPA-06, no limite sul da Praia

de Ponta Negra, se estabeleceu como um dos principais ícones natalenses, sendo utilizado

como marca de representação de Natal, como mostra a propaganda turística da Figura 4.26.

Figura 4.26 – Foto mostrando propaganda turística de Natal com a imagem do Morro do Careca na estação

Euston Square em Londres.

Foto: Blog SOS Ponta Negra

Em relação aos valores da Geodiversidade, como definidos por Gray (2013), os

quatro campos de dunas da cidade do Natal possuem, além de um valor intrínseco, devido

à sua própria existência, os seguintes serviços:

regulação, observado nos campos de dunas norte, sul e oeste devido à sua

importância para a infiltração de água no lençol freático local, recarregando os aquíferos e

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fazendo parte do ciclo hidrológico, o que caracteriza um processo atmosférico, ao mesmo

tempo que controla a qualidade da água, funcionando como um filtro para o armazenamento

de água no subsolo;

suporte, visto que as dunas são potenciais fornecedores de sedimentos eólicos que

podem vir a compor os perfis pedológicos em suas vizinhanças, caracterizando a sua

importância para os processos do solo. Especificamente o campo de dunas leste também

serve como plataforma, uma vez que o Farol de Mãe Luísa foi sobre ele construído. Na

maioria dos campos de dunas, há a presença de algumas espécies vegetais que, por utilizarem

o substrato dunar para sua fixação e desenvolvimento, fazem dele seu habitat;

provisão, devido à importância das dunas na disponibilização de água doce no lençol

freático que pode ser bebida, no caso de não haver poluição no aquífero;

cultural, percebida de forma mais concreta no campo de dunas sul, em especial,

devido à existência do Morro do Careca, que imprime na paisagem uma beleza única, que

define uma certa qualidade ambiental do espaço, servido também como inspiração artística,

sobretudo para pinturas, artesanato em geral e fotografias. Entretanto, também pode-se

observar esses mesmos processos na Via Costeira, onde a beleza de sua paisagem é de grande

destaque, atraindo para o local a realização de diversos ensaios fotográficos profissionais e

amadores. Atividades voluntárias de proteção ao Morro do Careca, tanto em relação à sua

imponência na paisagem local como na proteção de sua agrega um desenvolvimento social;

conhecimento, exemplificado por projetos que almejam a difusão das geociências

pela educação, como o Projeto Monumentos Geológicos do Estado do Rio Grande do Norte,

no qual o Morro do Careca é um dos pontos sinalizados com informações geocientíficas

traduzidas para o público leigo, visando sua conservação.

Os campos de dunas norte, leste e oeste são classificados, no entendimento expresso

por Brilha (2015), como lugares de geodiversidade, devido a inexistência de um forte valor

científico no local. Já o campo de dunas sul é classificado com geossítio devido à sua

importância científica.

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Devido às extensões dos campos de dunas, todos são classificados como áreas,

segundo o que é definido por Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).

4.3 PARQUES NATURAIS

A cidade do Natal possui dois parques naturais regulamentados pelas legislações

estadual e municipal: Parque das Dunas e Parque da Cidade. Ambos possuem vasta

diversidade de fauna e flora, pela qual possuem grande destaque. Entretanto, a

geodiversidade, nas duas unidades de conservação, é de fundamental importância.

4.3.1 Parque das Dunas

Criado em 1977 por decreto estadual, está compreendido pela Zona de Proteção

Ambiental 02 (figura 4.27). Além de abrigar uma diversa fauna e flora, que lhe garantiram

o reconhecimento pela UNESCO de ser parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

Brasileira, as dunas do parque são fundamentais para a recarga dos aquíferos de Natal,

devido à sua ampla superfície preservada de infiltração. Desde 2008, o Parque das Dunas

faz parte da lista dos sítios geológicos brasileiros gerenciada pela SIGEP (Comissão

Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos), mas ainda não está oficialmente

cadastrada.

Figura 4.27 – Imagem de satélite com destaque para o Parque das Dunas, área da ZPA-02.

Fonte: Google Earth

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É formado por um extenso campo de dunas, de direção NW-SE, que deram nome ao

parque (figura 4.28). Este campo, composto por areias quartzosas de boa seleção, é composto

pelos depósitos eólicos litorâneos vegetados e não-vegetados. Nesta região, as dunas podem

atingir a altura de até 120m (Jesus, 2002).

Figura 4.28 – Foto panorâmica de corpos de dunas do Parque das Dunas vistos a partir da Via Costeira.

Foto: Matheus Lisboa

Os dois tipos de depósitos eólicos na região do Parque das Dunas definem também

duas gerações, uma mais antiga, fixada pela vegetação, de material quartzoso de coloração

amarelada a avermelhada, e uma mais nova, formada por dunas móveis, em que a presença

de corredores de vento, conhecidos como blowouts (figura 4.29), são comuns. Sob os corpos

dunares são encontrados corpos de arenitos ferruginosos, sob a forma de falésias inativas,

correlatos ao Grupo Barreiras (figura 4.30).

Figura 4.29 – Zona de blowout no Parque das Dunas,

vista na Via Costeira.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 4.30 – Falésias do Parque das Dunas vistas

na Via Costeira.

Foto: Matheus Lisboa

Como unidade de conservação, o Parque das Dunas também é responsável por

promover a educação ambiental. Para isso foi criado o Bosque dos Namorados, área de uso

público do parque, ocupando uma área de, aproximadamente, 7 ha na qual há diversos

equipamentos que podem ser utilizados pela população. Também é a partir do Bosque que

as três principais trilhas que cortam o Parque das Dunas têm início.

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4.3.2 Parque da Cidade

O Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte (figura 4.31) foi criado com o objetivo de

funcionar como um espaço de promoção e proteção do meio ambiente e da cultura local.

Compreende o campo de dunas dos bairros de Candelária, Cidade Nova e Pitimbu, dentro

dos limites da ZPA-01, regulamentada em 1995.

Figura 4.31 – Imagem de satélite com destaque para o Parque da Cidade, área da ZPA-01.

Foto: Matheus Lisboa

Esta é a principal área de recarga do aquífero da cidade do Natal, sendo fundamental

para o fornecimento de água potável na cidade. As dunas desta região possuem direção

principal NW-SE, seguindo a orientação principal dos ventos na cidade.

As dunas dessa região são entendidas por Fonseca et al. (2012) como depósitos

eólicos litorâneos vegetados (figura 4.32). São, essencialmente, formada por areias

quartzosas bem selecionadas de coloração esbranquiçada a amarelada.

Figura 4.32 – Corpos de dunas vegetados no Parque da Cidade.

Foto: Matheus Lisboa

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Em 2006 foi iniciada a construção do Memorial de Natal e de outras pequenas

edificações que vieram a compor a área de uso público do Parque. As obras, projetadas por

Oscar Niemeyer, tiveram sua primeira etapa concluída em 2008, mas a totalidade do parque

só ficou disponível à população em 2014.

No parque existem trilhas perpassando pelas dunas para serem percorridas, além da

execução de projetos de educação ambiental e de história e cultura potiguar.

Em relação aos valores definidos por Gray (2013), nos dois parques naturais da

cidade do Natal são identificados, além do valor intrínseco, os seguintes serviços

ecossistêmicos da geodiversidade:

regulação, identificado devido à participação dos corpos dunares do Parque das

Dunas e do Parque da Cidade no controle da qualidade da água percolada dos

sedimentos até o lençol freático;

suporte, devido à participação dos corpos dunares nos processos do solo, fornecendo

sedimentos para a formação de solos arenosos. A presença de vegetação nos parques,

sobre as dunas, também é identificada neste serviço da geodiversidade, por servirem

de habitat para as espécies vegetais e animais. No caso do Parque da Cidade, toda a

estrutura da sede, incluindo o Memorial de Natal utilizou como plataforma para sua

construção os corpos de dunas na região;

provisão, explicado pela participação das dunas na filtragem da água infiltrada no

lençol freático, possibilitando sua potabilidade e permitindo que ela seja utilizada

como bebida;

cultural, devido à presença de trilhas que cortam os campos de dunas nos dois

parques e que funcionam como atividades de lazer. Este serviço também é

identificado por meio dos programas de conscientização ambiental, que promovem

desenvolvimento social através de atividades lúdicas e de voluntariado;

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conhecimento, observado em ambos os parque, aonde diversas pesquisas com

enfoque geológico-geomorfológico já foram desenvolvidas, a exemplo de Jesus

(2002), Fracasso (2005) e Freiras e Saraiva Jr (2013), que trabalharam no Parque das

Dunas, e Silva Jr. (2015) que mostra as feições geomorfológicas do Parque da Cidade

como importante destaque. São consolidadas no parque atividades que visam a

educação ambiental, da qual o recurso da geodiversidade é parte integrante, o que

também justifica este serviço ecossistêmico.

A partir dos valores definidos e pelas definições de Brilha (2015), pode-se classificar

o Parque das Dunas e o Parque da Cidade como geossítios, devido à sua importância para a

geociência.

Devido às extensões dos dois parques de Natal, ambos são classificados como área,

de acordo com que definem Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).

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4.4 MANGUEZAIS

Os mangues na cidade do Natal são encontrados no estuário do Rio Potengi, em suas

duas margens (figura 4.33). Constituem a Zona de Proteção Ambiental 8, conforme o Plano

Diretor vigente (Lei Complementar Nº 082/2007).

Figura 4.33 – Imagem de satélite mostrando os mangues da cidade do Natal, localizados nas duas margens do Rio

Potengi.

Fonte: Google Earth

São entendidos, geologicamente, como depósitos flúvio-marinhos, constituídos por

areias finas, siltes e argilas, cuja laminação é fina. Sua composição é rica em carbonato e

matéria orgânica (figura 4.34). Os mangues são fontes de alimentação, refúgio e reprodução

de várias espécies de crustáceos e peixes.

Figura 4.34 – Fotografia do mangue de Natal, destaque para a quantidade de matéria orgânica, identificada pela

forte tonalidade cinza e pelo cheiro de enxofre proveniente do material em decomposição.

Foto: Matheus Lisboa

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Ao longo dos anos, muitas áreas de mangue em Natal foram devastadas para dar lugar

a criatórios de camarão e antigas salinas. Com isso, a área total hoje protegida pela ZPA-08

é, aproximadamente, 50% da original.

Entretanto, algumas iniciativas fazem uso do mangue de forma cultural e mais

sustentável, como o Bloco “Os Cão”, que desde 1964 promove um desfile na terça-feira de

carnaval em que todos usam a lama do mangue no corpo como fantasia, como mostram as

figuras 4.35 e 4.36. A lama, um recurso abiótico da natureza, passa a ter, portanto, uma

expressão cultural em tempos carnavalescos.

Figura 4.35 – Foliã passando lama do mangue no

corpo, este é o “abadá” do Bloco dos Cão na

Redinha.

Foto: Alex Régis / Tribuna do Norte

Figura 4.36 – A lama, que são as argilas dos depósitos

flúvio-marinhos, é um recurso da geodiversidade.

Foto: Alex Régis / Tribuna do Norte

Quando é feita a valoração da geodiversidade nos manguezais de Natal a partir das

definições de Gray (2013), pode-se afirmar que, além do valor intrínseco, é possível

identificar serviços de:

suporte, visto que o mangue é habitat para várias espécies de animais e serviu de

plataforma para a construção das fazendas de camarão e salinas;

cultura, identificado porque, a exemplo do “Bloco dos Cão”, o mangue passou a ter

um significado cultural para algumas pessoas, em especial em períodos

carnavalescos.

Apesar de o mangue ser um ambiente ideal para o desenvolvimento de pesquisas e

de atividades de ensino, não foram encontrados registros importantes desta função nos

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manguezais natalenses que tenham enfoque mais aprofundado nas geociências. Logo, não

foram identificados serviços de conhecimento.

A partir da classificação de Brilha (2015), tem-se que os mangues de Natal são

lugares de geodiversidade, e são classificados como área, devido à sua extensão, pelas

definições de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).

4.5 RIOS

Três rios principais banham a cidade do Natal e são responsáveis por abastecer a

maior parte da população local, fornecendo águas superficiais ao sistema de abastecimento,

como complemento das águas subterrâneas. São os três: Doce, Pitimbu e Potengi. Ambos

são classificados como perenes, o que é justificado por uma descarga boa e constante ao

longo do ano. São componentes do Aquífero Barreiras, principal da região costeira do Rio

Grande do Norte.

Bezerra et al. (2001) mostram que há um evidente controle estrutural sobre os cursos

destes três rios, cujas origens são relacionadas a conjuntos de falhamentos que formaram

vales estruturais.

4.5.1 Rio Pitimbu

Este rio nasce na cidade de Macaíba e desemboca na lagoa do Jiqui, sendo

fundamental para o abastecimento da região. Apenas uma pequena parte de seu curso está

dentro do limite municipal de Natal, definindo em alguns locais a divisa da capital com a

cidade de Parnamirim (figura 4.37). Parte de sua bacia hidrográfica é protegida pela ZPA-

03.

Terrenos aluvionares são comuns ao longo do rio, em que há presença de areias

quartzosas médias a grossas, podendo ocorrer seixos e porções de granulometria mais fina

nas proximidades da desembocadura (Fonseca et al., 2012).

Atualmente, o rio Pitimbu, que percorre cerca de 32km desde sua nascente até sua

foz, sofre alto grau de degradação, sofrendo com contaminação e assoreamento, além de ter

seu curso modificado.

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Figura 4.37 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Pitimbu na divisa dos municípios de

Natal e Parnamirim.

Fonte: Google Earth

A bacia do rio Pitimbu é a única em Natal que é gerida por um comitê colegiado,

com poderes deliberativos, normativos e consultivos, com a função de proteção aos

mananciais da bacia. O estado ainda possui mais dois comitês: do rio Ceará-Mirim e do rio

Apodi-Mossoró.

4.5.2 Rio Doce

O rio Doce nasce na lagoa de Extremoz, no município homônimo, e percorre 14 km

através da zona norte de Natal, através de um curso desviado ao longo dos anos, até a sua

desembocadura no rio Potengi. Seu curso, assim como as dunas e lagoas ao longo de seu

canal são protegidos pela Zona de Proteção Ambiental 09.

Trata-se de um rio bastante meandrante (figura 4.38), cujas margens apresentam

ocupações irregulares em alguns pontos, mas que possui alta interesse turístico, econômico

e ambiental.

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106

Figura 4.38 – Imagem de satélite com destaque para parte do curso do rio Doce.

Fonte: Google Earth

Nos últimos anos, as discussões sobre a importância do rio Doce vêm sendo

ampliadas em vista do grau de degradação em alguns pontos e pela busca da iniciativa

privada por áreas em torno do rio e de suas lagoas devido ao às paisagens paradisíacas

existentes.

4.5.3 Rio Potengi

Principal rio da cidade e um dos maiores do estado do Rio Grande do Norte, nasce

na cidade de Cerro Corá e percorre 123km até a sua foz no Oceano Atlântico, já na capital

potiguar (figura 4.39). Possui, ao longo de suas margens, várias áreas de manguezais.

Figura 4.39 – Imagem de satélite com destaque para a desembocadura do rio Potengi no Oceano Atlântico.

Fonte: Google Earth

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107

O rio Potengi possui uma relação intrínseca com a história da cidade do Natal, está

presente desde o início no cotidiano de muitos dos moradores e visitantes, através das pontes

construídas sobre eles, a cidade está ligada. É ele que divide a zona norte, maior região

administrativa da cidade, das demais. É também espaço de desenvolvimento econômico e

lazer.

Hoje em declínio, o remo foi, desde 1897, um dos principais esportes praticados em

Natal, e era justamente no canal do rio Potengi que os atletas em seus barcos praticavam seus

treinos e competições eram realizadas (figura 4.40). Ainda hoje há sedes em funcionamento

de clubes de regatas na rua Chile, bairro da Ribeira.

Figura 4.40 – Foto de 2012 mostrando jovem praticante do Remo no rio Potengi.

Foto: Rodrigo Sena / Tribuna do Norte

Ainda hoje o rio Potengi tem sua fundamental importância para a cidade, nele está

localizado o estaleiro da Marinha do Brasil e o terminal portuário de Natal, que viabiliza

operações de importação e exportação de diversos produtos, além de ser porta de entrada de

turistas que chegam à cidade em cruzeiros.

Dos valores da geodiversidade definidos por Gray (2013), além do valor intrínseco,

são identificados nos principais rios de Natal os serviços ecossistêmicos de:

regulação, é explicado devido à participação dos rios no ciclo hidrológico, o que

caracteriza processos atmosféricos e oceânicos, corrobora com esse serviço o fluxo

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de água dos rios, sobretudo do rio Doce e Potengi, em direção ao oceano,

influenciando o movimento de águas oceânicas na região;

suporte, devido a presença de espécies de peixes e crustáceos que usam os rios como

habitat;

provisão, uma vez que estes rios são fundamentais para o abastecimento de água

potável na cidade do Natal, através de suas relações com o aquífero Barreiras,

disponibilizando-a para ser bebida;

cultura, este serviço é identificado pela paisagem dos rios, que propiciam uma

qualidade ambiental ao meio, assim como através das atividades de lazer que são

realizadas nos cursos dos rios, com destaque à prática do remo no rio Potengi.

Atividades voluntárias de proteção aos mananciais, como recolhimento de lixo nos

rios caracterizam este serviço da geodiversidade através do desenvolvimento social;

conhecimento, principalmente embasado na quantidade de trabalhos científicos que

versam sobre os mananciais dos rios Doce, Pitimbu e Potengi, e que colaboram a

formação, via educação, de profissionais que possam a vir trabalhar na área. Todos

os rios são fundamentais em diversos estudos da dinâmica hidrogeológica local.

Pela classificação de Brilha (2015), os rios de Natal podem ser identificados como

geossítios, devido à sua importância científica, atestada pela diversidade de trabalhos,

sobretudo no domínio das geociências, em ambos cursos d’água.

Devido às extensões dos rios, eles passam a ser classificados como áreas, de acordo

com o que definem Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).

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4.6 LAGOAS INTERDUNARES

Medeiros (2001) define lagoas como “depressões com forma variada, contendo ou

não água, de origem natural ou artificial”. Em Natal, são conhecidos 10 conjuntos de lagoas

naturais, sendo 5 na região a norte do rio Potengi e 5 a sul, muitas das quais foram

impermeabilizadas pela ação antrópica ao longo dos anos.

Medeiros (2001) e Amaral et al. (2005) mostram que dos conjuntos naturais, apenas

1 permaneceu intacto e 3 foram totalmente destruídos (quadro 4.1). Todas faziam parte do

sistema de drenagem natural da cidade que, com sua supressão parcial ou total, passou a

demandar obras de engenharia para escoamento de águas pluviais em Natal.

Quadro 4.1 – Lagoas interdunares da cidade do Natal e seu atual estado de conservação.

Fonte: Amaral et al. (2005)

Lagoas Posição

Geográfica Preservada

Parcialmente

Destruída

Totalmente

Destruída

Centro Administrativo (3 lagoas) S X

Sapo N X

Azul N X

Lagoinha (7 lagoas) S X

Pajussara N X

Guamoré N X

Campina S X

Jacob N X

Seca S X

Manuel Felipe S X

Hoje dois conjuntos de lagoas estão compreendidos nas Zonas de Proteção

Ambiental 05 e 09, que protegem a associação de dunas e lagoas no bairro de Ponta Negra

(figura 4.41) e ao longo do vale do rio Doce, respectivamente.

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Figura 4.41 – Imagem de satélite de 2014 mostrando um conjunto de lagoas no bairro de Ponta Negra.

Fonte: Google Earth

Entretanto, a lagoa mais conhecida da cidade é a Manoel Felipe (figura 4.42),

localizada no bairro do Tirol, aonde foi fundado, em 1962, a Cidade da Criança, uma área

verde ao redor da lagoa, com diversas instalações e equipamentos para uso do público, como

pedalinhos que podem ser usados para passeios na lagoa (figura 4.43).

Figura 4.42 – Imagem de satélite mostrando a lagoa

Manoel Felipe.

Fonte: Google Earth

Figura 4.43 – Foto mostrando passeio de pedalinho

na lagoa Manoel Felipe.

Fonte: Blog o Curiozzo

De acordo com os valores definidos por Gray (2013), as lagoas de Natal, além de

possuir um valor intrínseco por sua simples existência, expressa os seguintes serviços

ecossistêmicos da geodiversidade:

regulação, visto que as lagoas são fundamentais para o controle de alagamentos que

possam ser provocados por um intenso fluxo de água pluvial, isto porque funcionam

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como local final do escoamento natural ou artificial das águas, que serão ali

infiltradas pelo solo;

provisão, uma vez que as águas escoadas e armazenadas nas lagoas, no caso de não

estarem poluídas, podem ser utilizadas como bebida;

cultural, identificada na lagoa Manoel Felipe, onde algumas atividades de lazer

ocorrem na lagoa, como o passeio de pedalinhos.

De acordo com a definição de Brilha (2015) a partir dos valores da geodiversidade

identificados em cada local, as lagoas de Natal, por não terem um alto valor científico nesta

avaliação qualitativa, são classificadas como lugares de geodiversidade.

Já a classificação por extensão da ocorrência, definida por Fuertes-Gutiérrez e

Fernández-Martínez (2010), define que as lagoas natalense que se encontram preservadas,

parcial ou totalmente, podem ser classificadas como áreas.

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4.7 PEDRA DO ROSÁRIO

A Pedra do Rosário é um local de devoção católica desde 21 de novembro de 1753,

quando ali foi encontrada a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira da cidade,

em um caixote de madeira que tinha a inscrição: “Aonde esta imagem chegar, nenhuma

desgraça acontecerá”.

A chamada Pedra do Rosário trata-se de um bloco de arenito ferruginoso correlato

ao Grupo Barreiras, recoberto por bioclastos. Este bloco está relacionado com uma antiga

linha de falésias que contorna o Centro Histórico e prossegue até a faixa Litoral Central.

Sobre o bloco de arenito, foi construído um pilar sobre o qual foi posta uma réplica

da padroeira (figura 4.44). Ainda sobre a rocha foi erguido um mirante, a partir do qual é

possível observar a paisagem emoldurada pelo rio Potengi e pelos manguezais (figura 4.45).

Figura 4.44 – Bloco de arenito ferruginoso correlato ao

Grupo Barreiras que serve como fundação para o pilar.

Fonte: Carvalho (2010)

Figura 4.45 – Foto mostrando a imagem de Nsa Sra

da Apresentação sobre o pilar, com o rio Potengi e

seu estuário ao fundo.

Foto: Matheus Lisboa

De acordo com os valores de Gray (2013), pode-se identificar no bloco de arenito

que compõe a Pedra do Rosário, além do valor intrínseco, os serviços de:

suporte, uma vez que o bloco de arenito ferruginoso é habitat para alguns espécimes

de ostras e mariscos e porque ele também serviu de plataforma para o pilar de

sustentação da imagem de Nossa Senhora da Apresentação e do mirante;

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cultural, devido ao significado cultural e histórico agregado a este local, por ter ali

sido encontrada a imagem da padroeira da cidade em 21 de novembro de 1753.

Também é possível identificar este serviço devido à qualidade ambiental da

paisagem observada a partir do mirante da Pedra do Rosário.

De acordo com a classificação de Brilha (2015), a Pedra do Rosário, por não possuir

valores da geodiversidade com teor científico, é classificada como lugar de geodiversidade.

A classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) define duas

classificações para este local: como ponto, devido à extensão de sua ocorrência ser restrita,

e como panorama, uma vez que a partir do mirante sobre a Pedra do Rosário é possível

observar o rio Potengi e o seu estuário na margem oposta.

4.8 PANORAMAS DE GEODIVERSIDADE

Seguindo a classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010),

utilizada neste trabalho, é possível identificar lugares na cidade do Natal em que a

geodiversidade possui amplo destaque nas paisagens locais.

Estes observatórios, ou panoramas de geodiversidade, são identificados aqui como

mirantes e são quatro os principais na cidade, a partir dos quais podem ser observados,

separadamente ou em conjunto harmonioso, os diferentes recursos que compõem a

geodiversidade in situ de Natal, descrita, valorada e classificada neste capítulo.

A seguir, estes mirantes são localizados e as expressões da geodiversidade que são

possíveis de, a partir deles, serem observadas são identificadas segundo a nomenclatura

utilizada neste trabalho.

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4.8.1 Mirante Parque das Dunas

Localizado ao final das trilhas realizadas por meio da vegetação que recobre os

sedimentos eólicos no Parque das Dunas, este mirante permite observar a faixa de praia sul,

além dos corpos de dunas do próprio parque.

Figura 4.46 – Imagem 3D simulando a paisagem ao

redor do mirante do Parque das Dunas.

Fonte: Google Earth

Figura 4.47 – Foto da paisagem a partir do mirante do

Parque das Dunas.

Fonte: TripAdvisor.com

O acesso ao mirante é restrito aos que realizam trabalhos e atividades no parque ou

que concluem as trilhas, seguindo os horários disponibilizados pela equipe responsável em

sua sede.

4.8.2 Mirante Centro Histórico

Localizado em frente à Igreja do Rosário dos Pretos, no Centro Histórico de Natal,

permite a visualização do Rio Potengi e do manguezal em seu estuário.

Figura 4.48 – Imagem 3D simulando a paisagem ao

redor do mirante do Centro Histórico.

Fonte: Google Earth

Figura 4.49 – Foto da paisagem a partir do mirante

do Centro Histórico.

Foto: Matheus Lisboa

Este mirante pode ser acessado gratuitamente e diariamente, sem nenhuma restrição

de horário. Entretanto, questões de segurança devem ser observadas antes de realizar a visita.

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115

4.8.3 Mirante Onofre Lopes

Localizado em frente ao Hospital Universitário Onofre Lopes, este mirante permite

a visualização de toda a faixa Litoral Central e de parte da faixa Norte, além da

desembocadura do Rio Potengi. Também é possível observar o campo de Dunas Norte e

também das dunas de Genipabu, do município de Extremoz.

Figura 4.50 – Imagem 3D simulando a paisagem ao

redor do mirante Onofre Lopes.

Fonte: Google Earth

Figura 4.51 – Foto da paisagem a partir do mirante

Onofre Lopes.

Foto: Matheus Lisboa

Este mirante pode ser acessado gratuitamente e diariamente, sem nenhuma restrição

de horário. Entretanto, questões de segurança devem ser observadas antes de realizar a visita.

4.8.4 Mirante Parque da Cidade

O mirante em questão é localizado no topo da torre do Memorial de Natal, no Parque

da Cidade, aonde é possível visualizar todo o corpo de dunas do parque, além de parte do

corpo de dunas oeste e do Parque das Dunas.

Figura 4.52 – Imagem 3D simulando a paisagem ao

redor do mirante do Parque da Cidade.

Fonte: Google Earth

Figura 4.53 – Foto da paisagem a partir do mirante

do Parque da Cidade.

Foto: Matheus Lisboa

O acesso ao mirante é condicionado ao horário de funcionamento do Parque da

Cidade e do Memorial de Natal.

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116

Como a existência de panoramas de geodiversidade só é prevista na classificação de

Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010), eles não serão neste trabalho valorados pela

classificação de Brilha (2015).

Entretanto, as definições dos valores da geodiversidade por Gray (2013), preveem a

valoração das paisagens e explicitam para elas, além do valor intrínseco, no caso dos

mirantes de Natal, apenas o serviço cultural, expressado pela qualidade ambiental, ou seja,

pelo apelo estético das paisagens, que podem propiciar benefícios psicológicos ou

fisiológicos para o ser humano.

Além disso, as paisagens que podem ser apreciadas em cada mirante possuem

recursos da geodiversidade, que, por sua vez, foram anteriormente valorados e classificados

neste capítulo.

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117

4.9 QUADRO SÍNTESE

As análises realizadas neste capítulo permitiram a construção de um quadro síntese

dos valores e classificações identificados para cada local de geodiversidade observado, que

é apresentada no quadro 4.2.

Quadro 4.2 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade in situ na cidade do Natal

Local Valores e Serviços1 Classificação por

Valor2,*

Classificação por

Extensão3

Litoral Norte Valor Intrínseco

Serviço de Regulação

Serviço de Suporte

Serviço Cultural

Serviço de Conhecimento

Lugar de

Geodiversidade

Faixas

Litoral Central Geossítio

Areia Preta Lugar de

Geodiversidade

Litoral Sul Geossítio

Dunas Norte Valor Intrínseco

Serviço de Regulação

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Lugares de

Geodiversidade Áreas Dunas Oeste

Dunas Leste

Dunas Sul

Valor Intrínseco

Serviço de Regulação

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Serviço de Conhecimento

Geossítio Área

Parque das Dunas

Valor Intrínseco

Serviço de Regulação

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Serviço de Conhecimento

Geossítios Áreas

Parque da Cidade

Manguezais

Valor Intrínseco

Serviço de Suporte

Serviço Cultural

Lugar de

Geodiversidade Área

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Rio Pitimbu Valor Intrínseco

Serviço de Regulação

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Serviço de Conhecimento

Geossítios Áreas Rio Doce

Rio Potengi

Lagoas Interdunares

Valor Intrínseco

Serviço de Regulação

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Lugar de

Geodiversidade Áreas

Pedra do Rosário

Valor Intrínseco

Serviço de Suporte

Serviço Cultural

Lugar de

Geodiversidade Ponto e Panorama

Mirantes Valor Intrínseco

Serviço Cultural – Panoramas

1 – Gray (2013); 2 – Brilha (2015); 3 – Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010)

* Uma vez que as atividades desenvolvidas neste trabalho enfocam apenas a valoração qualitativa dos locais

de geodiversidade, é possível que um valor científico tenha sido super ou subvalorizado. Apenas uma valoração

quantitativa poderá identificar possíveis equívocos.

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4.10 MAPA DE LOCALIZAÇÃO

Figura 4.54 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade in situ está presente na cidade do Natal agrupados pela classificação por extensão areal.

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5. GEODIVERSIDADE EX SITU

A geodiversidade pode ser utilizada, por meio de seus diversos recursos (como

minerais, rochas e solos), em processos que são natos às cidades, a exemplo de construções

e arruamentos. Disto, tem-se que é possível analisar a geodiversidade de forma ex situ, ou

até mesmo com uma implicância cultural ao seu uso nas áreas compreendidas pela urbis.

Neste capítulo são investigados os principais locais em que algum recurso da

geodiversidade foi empregado em monumentos, edificações, ruas ou em qualquer outra

forma urbana na cidade do Natal. As classificações utilizadas para a geodiversidade in situ

também são aplicadas às descrições das ocorrências ex situ da geodiversidade na cidade.

Ao final do capítulo são apresentados um quadro síntese, constando dos valores para

os recursos da geodiversidade identificados, assim com as classificações de acordo com seus

valores e extensões, além de um mapa de localização dos locais.

5.1 FORTE DOS REIS MAGOS

Tida como a primeira edificação da cidade, o Forte dos Reis Magos está localizado

na desembocadura do Rio Potengi, sobre os corpos de arenitos praiais que são encontrados

na região, e que serviram de fundação sólida para a edificação. O início da construção se deu

no final do século XVI, mas a conclusão da estrutura hoje remanescente data de 1628 (Souza,

2008).

A região onde se encontra o Forte é compreendida pela Zona de Proteção Ambiental

ZPA – 07, tendo ainda inúmeras feições geológico-ambientais distintas tais como: arrecifes

(ou recifes de arenito, beachrocks), zona de praia (praia do Forte), cordões dunares, estuário,

vegetação de mangue entre outras (Natal, 2010).

Desde o início da colonização da cidade até os dias atuais, o Forte dos Reis Magos

sempre esteve presente na história de Natal. Inicialmente, como um ponto importante de

defesa da então terra portuguesa, hoje como um importante ícone e monumento potiguar.

Frans Post, em 1638, registrou a então relação do Forte com a paisagem natalense

(Figura 5.1), na qual se constituía como uma estrutura imponente. Nesta época, o

monumento recebeu o nome de Fort Ceulen, devido à ocupação holandesa no nordeste

brasileiro entre 1633 e 1654.

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Figura 5.1 – Pintura “Fort Ceulen” (1638), de Frans Post, que mostra, ao fundo, o Forte dos Reis Magos, além dos

recifes de arenito em seu entorno e do povo Potiguara, que habitava a região. Campos de dunas são vistas ao

fundo.

Fonte: www.gallerix.ru

Ao longo de quatro séculos de existência, o Forte dos Reis Magos viu a cidade crescer

e mudar, foi abandonado e reformado também por diversas vezes. A geodiversidade local da

cidade emoldura seu entorno, com os recifes de arenito, as dunas e as praias natalense (Figura

5.2).

Figura 5.2 – Visão do Forte dos Reis Magos a partir da desembocadura do Rio Potengi, ano da foto: 1998.

Foto: Wolfgang Kaehler / Getty Images

O Forte foi construído com as rochas encontradas em seu entorno, que são arenitos

de cimentação carbonática e arenitos cimentados por óxido de ferro, correlatos ao Grupo

Barreiras. A granulometria varia de fina a média e são compostos de grãos angulosos a

subarredondados de quartzo, além de possuírem resquícios de bioclastos.

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É possível verificar a existência de blocos de arenitos nas fundações e nos pórticos

do Forte, como mostram as figuras 5.3 a 5.5 que seguem. Disto, tem-se a utilização da

geodiversidade de forma ex situ na construção da edificação.

Figura 5.3 – Blocos de arenitos utilizados na base do Forte dos

Reis Magos.

Foto: Marcos Nascimento

Figura 5.4 – Destaque para a estratificação

cruzada em um bloco de arenito na base da

edificação

Foto: Marcos Nascimento

Figura 5.5 – Detalhe da porção superior de

um pórtico no Forte dos Reis Magos feito com

blocos de arenito.

Foto: Marcos Nascimento

Em relação aos valores ecossistêmicos da geodiversidade definidos por Gray (2013),

observa-se além do valor intrínseco, os serviços de provisão, evidenciado pelo uso dos

arenitos como material de construção por toda edificação em pórticos; e cultural, pois o

Forte possui um significado histórico importante, que embasou, por exemplo, os estudos

arqueológicos empreitados pelo IPHAN. Logo, para a classificação de Brilha (2015), as

rochas utilizadas neste monumento de Natal são identificadas como elementos de

geodiversidade.

Como a área total do Forte dos Reis Magos é de, aproximadamente, 2800m², é

classificado, de acordo com sua extensão (Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez, 2010)

como ponto.

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124

5.2 CENTRO HISTÓRICO

O Centro Histórico de Natal compreende uma área de 28 hectares entre os bairros da

Cidade Alta, Ribeira e Rocas que foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (IPHAN) em julho de 2014. Esta região, que até o começo do século XX

correspondia à área total da cidade do Natal, possui um amplo registro de uso de rochas na

pavimentação de ruas, construção e ornamentação de edifícios e monumentos.

Arenitos ferruginosos e arenitos calcíferos foram utilizados no Centro Histórico

desde o início da colonização da cidade, o uso de granitos começou no início do século XX

e, mais recentemente, ortognaisses, mármores, migmatitos, tonalitos e diabásios foram

empregados (Nascimento e Carvalho, 2013; Silva et al., 2015). O trabalho de Carvalho

(2010), pioneiro na área de geodiversidade em Natal, descreve detalhadamente 27

ocorrências de uso de rochas na região e a partir de 2015 o projeto “As Rochas Contam sua

História”, sob coordenação do professor Marcos Nascimento, tem focado estudos e

divulgação das rochas utilizadas desde a fundação da cidade até a década de 1920, os

primeiros resultados deste projeto foram apresentados por Silva et al. (2015).

Devido à complexidade e diversidade do uso de diferentes litologias no Centro

Histórico, aqui serão separados os locais de acordo com as rochas utilizadas, iniciando com

as aplicações mais antigas, da época da colônia portuguesa até as intervenções urbanísticas

mais recentes, já no final do século XX.

5.2.1 Arenitos Ferruginosos

Arenitos ferruginosos são compostas essencialmente de quartzo e minerais opacos,

cuja cimentação é feita pela precipitação de óxidos de ferro, o que dá à rocha uma tonalidade

avermelhada ou amarronzada. É facilmente encontrado nas praias de Natal e em base de

falésias. É uma litologia correlata ao Grupo Barreiras.

Este tipo de rocha foi o primeiro material utilizado nas construções na cidade, visto

que pode ser encontrado nos alicerces de construções como da Igreja de Nossa Senhora da

Apresentação (Figura 5.6), na qual também é possível encontrar os arenitos ferruginosos em

suas paredes internas.

Também são encontrados blocos de arenitos ferruginosos compondo edificações

como a casa do Padre João Maria, sede da Capitania das Artes, na Casa da Ribeira, na sede

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125

da Escola de Dança do Theatro Alberto Maranhão e em alguns casarios coloniais no bairro

da Ribeira.

Figura 5.6 – Arenitos ferruginosos nas paredes internas da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. À

direita, ampliação do destaque.

Foto: Matheus Lisboa

No Centro Histórico de Natal esse tipo de rocha foi utilizado também nos primeiros

calçamentos, ainda no final do século XIX, cujo estilo de é conhecido como “pé-de-

moleque” (Nascimento et al., 2012). Este é o principal registro de uso de arenitos

ferruginosos na cidade, uma vez que por se apresentarem, naturalmente, como blocos

irregulares e de difícil manuseio em trabalhos de cantaria, ficou restrito a elementos

estruturais dos edifícios e arruamentos.

Ainda são encontrados resquícios deste tipo de calçamento nas ruas Voluntários da

Pátria, Quintino Bocaiúva, Coronel Lins Caldas e na Travessa Pax (Figura 5.7), aonde existe

o mais bem conservado exemplar do calçamento “pé-de-moleque” com arenitos ferruginosos

na cidade, ainda que esteja susceptível a constante degradação.

Figura 5.7 – Detalhe do calçamento “pé-de-moleque” com blocos de arenitos ferruginosos na Travessa Pax, bairro

da Cidade Alta.

Foto: Matheus Lisboa

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126

5.2.2 Arenitos Calcíferos

Constituídos essencialmente por quartzo, assim como os arenitos ferruginosos,

diferem destes por precipitação de carbonato de cálcio na forma de cristais de calcita. São

encontrados, em Natal, principalmente nos recifes de arenito das praias do Forte, Meio e

Artistas.

No Centro Histórico de Natal, os arenitos calcíferos foram o principal material de

construção e, devido à sua facilidade de corte, tiveram diversas aplicações em soleiras,

pórticos, fachadas de prédios, além de ter um bloco constituindo o pelourinho da cidade.

Pode ser encontrado, por exemplo, em trabalhos de cantaria na Igreja de Nossa

Senhora da Apresentação (Igreja Matriz) e Igreja de Santo Antônio (Igreja do Galo), na qual

há registro de dois tipos de cantaria, sendo um mais desenvolvido e mais recente que o outro.

As figuras 5.8 a 5.11 mostram alguns dos registros de uso de arenitos calcíferos no Centro

Histórico de Natal.

Figura 5.8 – Igreja de Santo Antonio (Igreja do Galo),

com colunas externas feitas com blocos de arenitos

calcíferos.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.9 – Destaque para os trabalhos em cantaria

na base das colunas na Igreja do Galo, mostrando

claramente uma diferença de técnicas.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.10 – Fachada da Igreja Matriz com colunas e

pórticos feitos de arenitos calcíferos.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.11 – Destaque para o campanário esquerdo

da Igreja Matriz em que há bloco de arenito calcífero.

Foto: Matheus Lisboa

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127

5.2.3 Granito

Já no século XX, uma terceira litologia começou a ser utilizada no Centro Histórico

de Natal: o granito. Seu uso inicial foi como base de monumentos e, em seguida, passou a

compor os modernos calçamentos da cidade, em substituição aos defasados calçamentos

“pé-de-moleque” com arenitos ferruginosos, nos quais o trânsito de pedestres e automóveis

era deficiente devido às irregularidades dos blocos de rocha.

As rochas utilizadas são, de forma geral, equigranulares, com granulometria média,

sendo compostos, essencialmente, por quartzo, feldspato potássio, plagioclásio, biotita e

anfibólio (Figura 5.12). Ocasionalmente, ocorrem epídoto e titanita. Os blocos utilizados no

Centro Histórico têm como origem pedreiras na cidade de Macaíba, aonde se encontra o

corpo do Granito Macaíba, uma suíte cálcio-alcalina equigranular de alto potássio

(Nascimento et al., 2015).

Figura 5.12 – Detalhe do granito utilizado no monumento à Independência, na praça 7 de setembro. Destaque

para o alinhamento dos cristais de anfibólio.

Foto: Matheus Lisboa

Cinco monumentos nos bairros históricos de Natal são constituídos por trabalhos em

cantaria em blocos do Granito Macaíba. O primeiro a ser implantado foi o monumento em

homenagem ao Padre João Maria, em 1909, seguido pelos monumentos a Augusto Severo e

Tavares de Lira, em 1913 e 1914, respectivamente. Ainda foram homenageados os mártires

da revolução de 1817 (Figura 5.13) e o centenário da independência do Brasil (Figura 5.14),

cujos monumentos foram inaugurados em 1917 e 1922.

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Figura 5.13 – Monumento aos Mártires da Revolução

de 1817, localizado na Praça André de Albuquerque,

Cidade Alta.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.14 – Monumento em comemoração ao

centenário da Independência do Brasil, localizado na

Praça 7 de setembro, Cidade Alta.

Foto: Matheus Lisboa

O monumento a Augusto Severo, herói da aviação nacional, e que está localizado em

praça homônima no bairro da Ribeira teve sua base pintada pela Prefeitura Municipal do

Natal no final de 2015. Isto impossibilita descrições petrográficas e se constitui numa forma

de agressão ao patrimônio cultural da cidade e ao recurso da geodiversidade utilizado na

obra, uma vez que as características mineralógicas da rocha foram cobertas. Este assunto

será mais detalhado no capítulo seguinte, que trata das ameaças à geodiversidade, seja ela in

situ ou ex situ.

O mapa da figura 5.15 foi elaborado em conjunto pela equipe do projeto “As Rochas

Contam Sua História” e localiza os monumentos e edifícios que possuem alguma das três

litologias que foram mais utilizadas até o começo do século XX em Natal: arenitos

ferruginosos, arenitos calcíferos e granito Macaíba. Este mapa está restrito ao bairro da

Cidade Alta, o mapa do bairro da Ribeira estará finalizado até o final de 2016.

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Figura 5.15 – Mapa geoturístico do bairro da Cidade Alta, com destaque para os monumentos e edifícios feitos com rochas até o começo do século XX.

Fonte: Projeto “As Rochas Contam Sua História”

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130

5.2.4 Demais Rochas

A partir da segunda metade do século XX novas intervenções no Centro Histórico,

sobretudo nas edificações inseriram litologias não utilizadas anteriormente, a exemplo do

mosaico na calçada da Pinacoteca Potiguar, feito com ortognaisses, basaltos, calcários e

mármores (Figura 5.16), como mostra o trabalho de Carvalho (2010).

Os ortognaisses, de textura lepidonematoblástica, são compostos por biotita, quartzo,

feldspato, epidoto, hornblenda e titanita, além de alguns minerais acessórios. Mármores são

compostos essencialmente por calcita, sendo possível identificar, em microscópio ótico,

cristais de tremolita.

Figura 5.16 – Foto de calçada portuguesa da Pinacoteca potiguar, no detalhe os diferentes tipos de rocha

utilizados para compor os mosaicos.

Foto: Matheus Lisboa

Placas de albita granito, extraídas no Ceará, foram utilizados no revestimento da

fachada da sede da Assembleia Legislativa do estado. Outros tipos de granito, diabásio e

sienito foram usados em obras de restauração do Theatro Alberto Maranhão, da sede da

CBTU e da Igreja de Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira.

Mármore correlacionado à Formação Jucurutu foi, por sua vez, utilizado como

revestimento na sede da Prefeitura Municipal, Palácio Felipe Camarão, assim como placas

de migmatito foram colocados no piso da edificação. Placas de mármore também revestem

as paredes da sede local Ministério da Fazenda.

Quartzito foi utilizado na Praça das Mães como revestimento de um muro. A rocha,

correlacionada à Formação Equador, possui textura granoblástica e é composta,

essencialmente, por quartzo, muscovita e biotita.

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Em relação aos valores ecossistêmicos da geodiversidade (Gray, 2013) identificados

na região do Centro Histórico de Natal, observa-se, além do valor intrínseco, devido

simplesmente à existência das rochas nas construções, os serviços de suporte, provisão e

cultural.

O viés de suporte está no uso de alguns blocos de rocha, sobretudo de arenito

ferruginoso como estabelecimento de uma fundação para construções como a Igreja de

Nossa Senhora da Apresentação, em que se observa a plataforma da edificação composta

por arenitos.

O serviço de provisão é o mais claro e presente no Centro Histórico, visto que em

todos os casos descritos aqui, as rochas, sejam arenitos ferruginosos ou calcíticos, granitos

ou sienitos, mármores ou migmatitos, foram utilizadas como materiais de construção dos

monumentos, igrejas e edifícios em geral, seja como elemento estrutural ou na composição

de pórticos e fachadas.

Por último, o serviço cultural da geodiversidade é reconhecido pelo significado

histórico das construções em que as rochas foram utilizadas, que remontam ao início da

colonização da cidade e são retrato da época.

Como nenhum dos valores identificados possui um teor científico, as rochas

utilizadas de forma ex situ no Centro Histórico de Natal são classificadas, de acordo com

Brilha (2015), como elementos de geodiversidade.

A classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) para a região a

identifica como uma área, visto que em sua extensão ampla há uma concentração de, ao

menos, 27 locais em que algum recurso da geodiversidade foi empregado.

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5.3 IGREJA DE PEDRA E CLUBE DA REDINHA

Quem cruza a ponte Newton Navarro vê à sua direita a praia da Redinha, única praia

na região norte da cidade do Natal. Ali, já estava estabelecida desde o início do século, uma

importante comunidade de pescadores que, em 1924, construíram uma capelinha dedicada à

Nossa Senhora dos Navegantes, sua protetora.

Com o aumento da presença de “veranistas” a partir da primeira metade do século

XX, a praia se tornou um dos principais locais de veraneio da população natalense. Esse

novo público da praia, na década de 1950, financiou a construção de uma nova igreja

dedicada à protetora dos navegantes e trabalhadores do mar, vista ao centro da Figura 5.17.

Até a década de 1980 a praia experimentou um constante movimento de veranistas (Figura

5.18) nos meses de dezembro e janeiro, sendo encerrado com a festa de Nossa Senhora dos

Navegantes, comemorada sempre no último domingo de janeiro de forma a marcar o período

de veraneio.

Figura 5.17 – Foto aérea da praia da Redinha na

década de 1950, época de construção da Igreja de

Pedras, localizada no centro da foto, em frente ao

Redinha Clube.

Fonte: http://blogdobarbosa.jor.br/

Figura 5.18 – A Praia da Redinha foi até a década de 1980

a mais importante praia de veraneio de Natal. Ainda hoje

há casas de veranistas que todos os meses de dezembro e

janeiro retornam à praia.

Foto: Acervo pessoal

A chamada “Igreja de Pedra” (Figura 5.19) foi erguida com as rochas encontradas na

região, tipicamente arenitos ferruginosos, semelhante com o que havia sido feito numa

reforma do clube local, o Redinha Clube (Figura 5.20), em 1940. As rochas utilizadas,

macroscopicamente, possuem cor escura (variando de preta a diferentes tons de marrom),

matriz fina e se apresenta fortemente cimentada por óxido de ferro. De forma geral, são

litologias correlatas ao Grupo Barreiras (Araújo et al., 2013).

Na rocha estão inseridos grãos subangulosos de quartzo que variam de 1 a 2 cm de

diâmetro (Figura 5.21). Nas diferentes construções foram priorizadas a colocação de blocos

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de dimensões maiores, com até 30 cm de comprimento, na base e frações menores no topo,

como visto na torre da Igreja (Figura 5.22).

Figura 5.19 – Foto de julho de 2010 mostrando a Igreja

de Pedra da Redinha.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.20 – Pórtico de entrada do Redinha Clube,

construído com blocos de arenito ferruginoso.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.21 – Foto de detalhe das rochas utilizadas na

construção da Igreja de Pedra da Redinha. São

observados grãos subangulos de quartzo.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.22 – Foto da Torre da Igreja de Pedra da

Redinha na qual se observa a colocação de blocos

maiores na base da construção, com dimensões sendo

reduzidas até o topo.

Foto: Matheus Lisboa

Os blocos de arenitos podem ter sido retirados de corpos encontrados nas

proximidades das falésias distribuídas ao longo do litoral, especialmente os encontrados nas

praias de Areia Preta, Artistas e na Ponta do Morcego ou ainda podem ter sido retirados de

corpos com dimensões reduzidas próximas ao campo de dunas da Praia de Jenipabu, no

município de Extremoz (Araújo et al., 2013).

Em relação aos valores de Gray (2013) para a geodiversidade, além do valor

intrínseco, devido à existência única da utilização da geodiversidade na construção desses

dois marcos da praia, serviços ecossistêmicos podem ser identificados, como: suporte, as

rochas, sobretudo grandes blocos de arenitos ferruginosos, foram utilizados como

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base/fundação, ou seja, foram plataformas para as construções; provisão, pois as rochas

também foram materiais para construção em ornamentação e para erguer as paredes da

estrutura principal e da torre; e cultural, uma vez que além de servirem de inspiração

artística para artistas locais que retratam as construções em suas telas e fotografias, há uma

identificação religiosa da comunidade local, sobretudo, com a Igreja de Pedras, aonde a

devoção à Nossa Senhora dos Navegantes ocorre durante todo o ano e chega em seu ápice

no último domingo do mês de janeiro, quando a festa da padroeira reúne centenas de pessoas.

Tais valores, uma vez que não possuem um teor científico, classificam as rochas

utilizadas nas construções da Igreja de Pedra e do Clube da Redinha como elementos de

geodiversidade, de acordo com a classificação de Brilha (2015), e devido às dimensões

reduzidas das duas construções erguidas com material pétreo, ambos são classificados como

pontos, pela classificação baseada em Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).

5.4 PRAÇA CÍVICA

De nome oficial Praça Pedro Velho, a Praça Cívica é uma homenagem ao líder do

movimento republicano no Rio Grande do Norte, Pedro Velho de Alburquerque Maranhão.

Até a década de 1920, conta Souza (2008), o espaço era utilizado para partidas de futebol

dos times locais. Com uma reforma empreendida pelo prefeito Gentil Ferreira, a praça

passou a contar com lagos, carrossel aberto para as crianças, além de corriqueiros eventos

culturais.

Entretanto, o busto que homenageia Pedro Velho era localizado em outra praça,

conhecida como Square Pedro Velho, na Cidade Alta, onde hoje se encontra a Praça das

Mães. Lá, o busto estava colocado sobre um pedestal de granito (Figura 5.23), material que

era utilizado na época para trabalhos em cantaria dos monumentos da cidade. Na década de

1950, o monumento, que é composto pelo busto e uma escultura de uma mulher entregando

um ramalhete de flores, foi movido para a Praça Cívica (Pinto, 1971). Atualmente, o

monumento está colocado sobre um pedestal de mármore (Figura 5.24) correlato à Formação

Jucurutu. Contudo, não foi possível precisar quando a troca das litologias do pedestal foi

feita.

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135

Figura 5.23 – Fotografia do monumento a Pedro Velho no

Square Pedro Velho, atual Praça das Mães na Cidade

Alta.

Fonte: Natal, 2006.

Figura 5.24 – Atualmente, o monumento a Pedro

Velho se localiza na Praça Cívica, posto sobre um

pedestal de mármore.

Foto: Matheus Lisboa

No ano de 2016, durante a obra de reforma do Palácio dos Esporte, ginásio

poliesportivo também localizado na Praça Cívica e que foi inaugurado pelo prefeito Djalma

Maranhão em 1963, utilizou, como revestimento das paredes externas, placas de quartzito

(Figura 5.25), tipicamente encontrado nas proximidades das cidades de Parelhas e Equador,

região do Seridó potiguar, e que são rochas metamórficas compostos essencialmente por

quartzo e muscovita, correlatas à Formação Equador (Figura 5.26).

Figura 5.25 – Foto da lateral do Palácio dos Esportes

sendo revestido com placas de quartzito.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.26 – Detalhe de uma placa de quartzito,

mostrando essencialmente quartzo e muscovita.

Foto: Matheus Lisboa

No caso desta reforma, Nobre e Andrade (2016) mostram que a inserção do

revestimento com as placas de quartzito são elementos que colaboram para um aspecto

contemporâneo num monumento modernista da cidade. Logo, o recurso da geodiversidade

utilizado na edificação apresenta um desacordo com o estilo arquitetônico, o que diferencia

dos demais locais em que a geodiversidade ex situ é utilizada.

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136

Este é o único caso registrado por este trabalho em que algum recurso da

geodiversidade é empregado em reforma num monumento ou edifício histórico da cidade de

forma incoerente com os materiais disponíveis na época da construção original,

representando, então, uma problemática na questão de gestão e conservação do patrimônio

cultural da cidade.

Em relação dos valores ecossistêmicos da geodiversidade (Gray, 2013), o

monumento a Pedro Velho e o Palácio dos Esportes apresentam um valor intrínseco devido

à utilização de rochas em sua constituição, além de as diferentes litologias terem sido

utilizadas como materiais de construção para as obras, o que caracteriza um serviço de

provisão da geodiversidade.

Disto, tem-se que as rochas utilizadas são classificadas como elementos de

geodiversidade, na classificação de Brilha (2015), e como pontos, na classificação de

Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010), por serem ocorrências locais e restritas.

5.5 PRAÇA DOM PEDRO II

Localizada no bairro do Alecrim, a Praça Dom Pedro II foi inaugurada em 19 de abril

de 1941, entretanto, como aponta Souza (2008), a praça originalmente ficava na Cidade Alta,

tendo sido estabelecida por resolução do prefeito Omar O’Grady em 23 de junho de 1925.

Como homenagem ao último imperador do Brasil, na praça foi alocado um busto de Dom

Pedro II.

O busto hoje se encontra sobre um pedestal de granito, entretanto, não foi possível

determinar se este acompanha o busto desde a primeira praça ou se fora colocado apenas

com a mudança para o Alecrim.

Descrições mais detalhadas da mineralogia da rocha não foram possíveis porque no

final de 2015, semelhante com ações no Centro Histórico já relatadas, a Prefeitura Municipal

do Natal pintou a rocha com uma tinta que cobre todo o pedestal (Figura 5.27). Entretanto,

imagens obtidas a partir da ferramenta Google Street mostram que a litologia aparenta ser a

mesma dos monumentos da Cidade Alta e Ribeira: o Granito Macaíba (Figura 5.28).

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137

Figura 5.27 – Estado atual do monumento a Dom

Pedro II, recentemente pintado, o que cobriu os

minerais da rocha, impossibilitando sua descrição.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.28 – Imagem do Google Street, datada de

agosto de 2015, que mostra o busto de Dom Pedro II,

na praça homônima, sob pedestal de granito

Fonte: Google Street View

De forma semelhante aos monumentos com base de rocha na cidade, só é possível

identificar, além do valor intrínseco, o serviço de provisão no monumento a Dom Pedro II.

Isto porque, pela classificação dos valores ecossistêmicos da geodiversidade de Gray (2013),

a rocha, no caso um granito, foi utilizada como material de construção para erguer a base

do busto.

Assim, pela classificação de Brilha (2015), a rocha utilizada pode ser classificada

como elemento de geodiversidade e, devido a sua extensão em área ser pontual, a

classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) determina um ponto para o

monumento.

5.6 COLÉGIO ATHENEU

Fundado em 1834 no bairro da Cidade Alta, o Colégio Atheneu Norte-Rio-Grandense

foi a primeira escola da cidade do Natal. Seu prédio atual, localizado na avenida Campos

Sales, bairro de Petrópolis, teve a sua construção iniciada em 1946, sendo concluída em 1954

(Souza, 2008).

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Marco da história natalense, a sede do Colégio Atheneu abriga atualmente o busto

do professor João Tibúrcio, que desenvolveu importantes ações no ensino e na política local

no final do século XIX.

O busto está posto sobre um pedestal de granito com coloração acinzentada (figura

5.29) e cuja mineralogia compreende, essencialmente, cristais de quartzo, feldspato e

anfibólio. A rocha possui uma textura equigranular e é semelhante ao Granito Macaíba,

amplamente utilizado nos monumentos da cidade na primeira metade do século XX.

Figura 5.29 – Monumento ao Prof. João Tibúrcio, localizado no Colégio Atheneu, composto por um busto sobre

um bloco de granito.

Foto: Matheus Lisboa

Não foi possível precisar a data de aposição do monumento no colégio Atheneu, visto

que Pinto (1971) indica que tal monumento já havia sido transferido três vezes entre praças

de Natal até a década de 70.

Além do valor intrínseco, é possível identificar um serviço ecossistêmico de

provisão da geodiversidade, uma vez que o granito serviu como material de construção para

a base do busto, segundo a classificação de Gray (2013).

Desta valoração, tem-se que a rocha utilizada pode ser classificada como um

elemento de geodiversidade, segundo Brilha (2015). E, devido à sua extensão areal ser

restrita, o monumento é classificado como ponto, pela classificação de Fuertes-Gutiérrez e

Fernández-Martínez (2010).

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5.7 CAMPUS CENTRAL DA UFRN

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte foi criada como Universidade do

Rio Grande do Norte em 1958. Ocupava, inicialmente, diversos prédios no centro da cidade,

principalmente nos bairros da Ribeira e Tirol.

Com o aumento de sua estrutura física, administrativa e estudantil, foi iniciada a

construção, na década de 1970, de um novo complexo que pudesse comportar a maior parte

da comunidade universitária, que com a mudança do local do campus garantiu nova

movimentação ao bairro de Lagoa Nova (Souza, 2008).

As construções mais antigas, como os setores de aula, a Biblioteca Central Zila

Mamede (Figura 5.30), o Almoxarifado Central e os prédios da Editora Universitária e da

Divisão de Material e Patrimônio fazem uso de blocos de rochas para erguer e revestir

algumas paredes.

A rocha possui granulometria média, equigranular, sendo possível descrever,

macroscopicamente, minerais como quartzo, anfibólio e feldspatos (Figura 5.31).

Figura 5.30 – Foto do salão de estudos da Biblioteca

Central Zila Mamede, com parede construída por

blocos de granito.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.31 – Detalhe de um bloco de granito utilizado

na construção da BCZM, também empregado em

outros edifícios do campus central da UFRN.

Foto: Matheus Lisboa

Em relação aos valores de Gray (2013), pode-se observar, além do valor intrínseco,

apenas a presença de um serviço ecossistêmico de provisão, já que as rochas foram um dos

materiais de construção empregadas nos prédios do campus. Isto classifica estas rochas

utilizadas como elementos de geodiversidade, segundo a classificação de Brilha (2015).

Uma vez que o Campus Central da UFRN possui uma área total superior a 120

hectares com alguns prédios que utilizam as rochas em suas construções espalhados, a

classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010) definem então uma área.

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5.8 CALÇADÕES DE NATAL

Durante as décadas de 1990 e 2000 ocorreram processos de urbanização na cidade

do Natal que priorizaram calçamentos estilo “pedra portuguesa”. Este tipo clássico de

calçamento, que foi propagado a partir do século XIX em Portugal (Figura 5.32) e trazido

ao Brasil no começo do século XX, lança mão de pequenos blocos de calcários (calcíticos

ou dolomíticos) e basaltos para criar mosaicos perfeitos.

Figura 5.32 – Destaque para o calçamento em mosaico perfeito feito com calcários (branco) e basalto (preto) na

praça Dom Pedro IV, em Lisboa.

Foto: Matheus Lisboa

Em Natal, entretanto, as calçadas portuguesas que foram feitas utilizam uma

variedade maior de rochas, incluindo, além dos calcários e basaltos, arenitos, argilitos,

ardósias, mármores e ortognaisses.

Em obras recentes, ditas para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, algumas dos

calçamentos portugueses das calçadas de Natal, principalmente na orla, foram substituídas

por blocos intertravados de concreto. No entanto, é possível ainda encontrar esse tipo de

calçada na região da Praia de Ponta Negra (Figura 5.33 e Figura 5.34), na Avenida Roberto

Freire e no Centro Histórico, como foi citado anteriormente.

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Figura 5.33 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta

Negra, os blocos pretos são basaltos e os brancos

calcários.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.34 – Foto de detalhe de calçadão em Ponta

Negra, os blocos brancos são calcários e os vermelhos

arenitos.

Foto: Matheus Lisboa

Em relação aos valores ecossistêmicos da geodiversidade (Gray, 2013) são

identificados, nas calçadas portuguesas de Natal, o valor intrínseco e o serviço de provisão,

que fica caro uma vez que diferentes tipos de rochas foram utilizados como o material de

construção fundamental para os mosaicos das calçadas.

Na classificação de Brilha (2015), as rochas utilizadas, uma vez que não possuem

valor científico associado, são caracterizadas como elementos de geodiversidade. Como os

mosaicos são desenvolvidos ao longo de linhas e muitos são elaborados paralelamente uns

aos outros, as calçadas passam a ser classificadas, de acordo com Fuertes-Gutiérrez e

Fernández-Martínez (2010), como faixas.

5.9 ENROCAMENTOS

A definição de enrocamentos mostra que eles são obras feitas com blocos maciços

de rochas com a finalidade principal de contenção de erosão e proteção de áreas à erosão.

Em Natal, pelo menos três áreas da orla tiveram obras deste tipo realizadas nos últimos 20

anos.

Na década de 1990 foi construído o enrocamento na Praia da Redinha, numa técnica

construtiva também conhecida como muro-guia de corrente, que também dispõe de um

passeio público (Figura 5.35). Esta obra foi construída para diminuir a constante erosão na

praia. Contemporaneamente, foram construídos enrocamentos na praia de Areia Preta

(Figura 5.36), também para diminuir a erosão na linha de costa.

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Figura 5.35 – Foto do enrocamento na praia da Redinha,

sobre o qual há um passeio público.

Fonte: mochileiros.com

Figura 5.36 – Foto de um enrocamento na

praia de Areia Preta.

Foto: Matheus Lisboa

Mais recentemente, no ano de 2013, foi iniciado o projeto de enrocamento da Praia

de Ponta Negra (Figura 5.37 e Figura 5.38), aos moldes do que fora feito em Olinda e Recife,

no estado de Pernambuco. O projeto recebeu diversas críticas, especialmente devido ao

efeito sobre a dinâmica costeira na praia.

Figura 5.37 – Foto do enrocamento na praia de Ponta

Negra, paralelo à linha de costa.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 5.38 – Escadaria de acesso à praia sobre o

enrocamento na praia de Ponta Negra.

Foto: Matheus Lisboa

Estas três obras foram realizadas com blocos de granitos, possivelmente retirados em

pedreiras na região da cidade de Macaíba, cuja mineralogia apresenta, macroscopicamente,

feldspatos, quartzo, biotita e anfibólio. Alguns dos blocos são cortados por veios de quartzo.

Para a classificação de Gray (2013), as obras de enrocamento apresentam um valor

intrínseco, devido ao uso de rochas, assim como serviços ecossistêmicos de provisão, pois

as rochas são os materiais de construção utilizados, e de suporte, no caso específico da

Redinha, uma vez que as rochas funcionam também como plataforma para o passeio público.

Na classificação de acordo com os valores da geodiversidade (Brilha, 2015), as

rochas utilizadas nas obras de enrocamento em Natal são tidas como elementos de

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geodiversidade. Já o desenvolvimento das obras em linhas paralelas entre si e

perpendiculares à linha de costa, no caso das praias da Redinha e Areia Preta, e

paralelamente à linha de costa, no caso da praia de Ponta Negra, classificam os enrocamentos

como faixas, na classificação de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010).

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5.10 QUADRO SÍNTESE

A partir das análises apresentadas anteriormente neste capítulo, foi construída um

quadro síntese dos valores identificados, assim como as duas classificações empregadas

neste trabalho.

Quadro 5.1 – Quadro síntese dos valores e classificações da geodiversidade ex situ na cidade do Natal

Monumento/Construção Valores e Serviços1 Classificação por

Valor2

Classificação por

Extensão3

Forte dos Reis Magos

Valor Intrínseco

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Elementos de

Geodiversidade

Ponto

Centro Histórico

Valor Intrínseco

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Área

Igreja de Pedra da Redinha

Valor Intrínseco

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Ponto

Clube da Redinha

Valor Intrínseco

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Serviço Cultural

Ponto

Praça Cívica Valor Intrínseco

Serviço de Provisão Ponto

Praça Dom Pedro II Valor Intrínseco

Serviço de Provisão Ponto

Colégio Atheneu Valor Intrínseco

Serviço de Provisão Ponto

Campus Central da UFRN Valor Intrínseco

Serviço de Provisão Área

Calçadões de Natal Valor Intrínseco

Serviço de Provisão Faixas

Enrocamentos

Valor Intrínseco

Serviço de Suporte

Serviço de Provisão

Faixas

1 – Gray (2013); 2 – Brilha (2015); 3 – Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez (2010)

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5.11 MAPA DE LOCALIZAÇÃO

Figura 5.39 – Mapa de localização dos principais locais em que a geodiversidade ex situ é utilizada na cidade do Natal agrupados pela classificação por extensão areal.

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147

6. PANORAMA GERAL SOBRE A GEOCONSERVAÇÃO EM NATAL

Há consenso em todo o mundo sobre a importância de se proteger os, assim

chamados, patrimônios mundiais, sejam eles naturais ou culturais. O entendimento sobre a

proteção da geodiversidade do planeta segue os mesmos princípios, sendo parte deste

patrimônio natural, mas que também está intimamente associado ao patrimônio cultural das

sociedades.

Disto, surgiu a ideia de geoconservação. Apesar de ter sido desenvolvida com maior

impulso a partir de 2006 com a realização de uma conferência sobre o tema em Dudley

(Inglaterra), como indicam Burek e Prosser (2008), registros esporádicos de legislações

voltadas à conservação do meio abiótico são identificados desde a segunda metade do século

XX no Reino Unido.

Em relação à geodiversidade da cidade do Natal valorada neste trabalho, pode-se

observar que as duas vertentes presentes, in situ e ex situ, sofrem com ações que ameaçam o

patrimônio natural e cultural local.

A necessidade de conservação da geodiversidade de um lugar está no fato de que

muitos dos recursos existentes são esgotáveis e, ao mesmo tempo, únicos. É preciso,

portanto, haver uso sustentável da geodiversidade mundial, conservando sempre aqueles

locais que possuem um alto valor, seja ele científico, cultural ou simplesmente turístico

devido à seu aspecto visual. A avaliação destes locais passa por uma valoração qualitativa e

quantitativa, além de uma forte participação dos gestores e população em geral.

Ações de proteção ao meio abiótico in situ estão consagradas por meio do Programa

Global Geoparques da UNESCO, mas também devem ser desenvolvidas em localidades

menores como Natal, em que, apesar de muitos dos recursos da geodiversidade estarem

contidos em Zonas de Proteção Ambiental, ainda observa-se agressões que desmontam e

descaracterizam os ambientes naturais ou monumentos e edificações que fizeram uso de

rochas em suas construções.

A proteção das expressões ex situ da geodiversidade está muito ligada à gestão do

patrimônio cultural, que procura proteger os valores deste patrimônio, agregando e

expandindo benefícios sociais, econômicos e ambientais (UNESCO, 2016).

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Neste capítulo serão apresentadas as principais ameaças à geodiversidade na cidade

do Natal, seja ela in situ ou ex situ, como forma de identificar os principais problemas à

geoconservação local.

Soluções para as problemáticas aqui observadas demandam legislações específicas,

assim como programas de educação que envolvam a temática da geodiversidade e o usufruto

sustentável, por meio da população em seu cotidiano, das paisagens, praias, monumentos e

toda e qualquer expressão que a geodiversidade possa ter.

6.1 AMEAÇAS À GEODIVERSIDADE IN SITU

Em relação à geodiversidade in situ, a maior problemática se dá pela poluição dos

ambientes abióticos. Casos explícitos em Natal são a quantidade de lixo jogada nos mangues

(figura 6.1), que acaba contaminando o substrato dos depósitos flúvio-marinhos,

prejudicando também a biodiversidade típica deste local. Na região da Via Costeira, canais

jogam efluentes na praia em direção ao mar (figura 6.2), provocando, além da poluição do

mar e da linha de costa, erosão regressiva nas dunas frontais.

Figura 6.1 – Lixo jogado no manguezal localizado

próximo à praia da Redinha.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 6.2 – Desembocadura de canal de escoamento

de efluentes na Via Costeira.

Foto: Matheus Lisboa

Como foi registrado ao longo deste trabalho, obras de enrocamento, sobretudo, nas

praias de Areia Preta e Ponta Negra (figura 6.3) modificaram a dinâmica natural nestas duas

áreas da costa natalense, alterando o fluxo de sedimentos e correntes. Há regiões hoje, no

litoral de Natal, em que há um balanço negativo no fluxo de sedimentos, provocado pelas

obras de enrocamento.

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Logo, este tipo de obra pode ser caracterizada também como uma ameaça à

geodiversidade.

Figura 6.3 – Fotografia de parte do enrocamento na praia de Ponta Negra.

Foto: Matheus Lisboa

Outra ameaça à geodiversidade que tem sido evidente na cidade do Natal é a

ocupação de margens de rios e lagoas, de faixas de praia e de dunas de forma irregular. Ao

longo dos anos, observou-se forte especulação imobiliária em torno dessas áreas, tidas como

privilegiadas, o que demandou diversos protestos por pesquisadores de diversas áreas, além

de processos na justiça. Entretanto, muitas comunidades de baixa renda acabaram por se

estabelecer nestas áreas, como mostra a figura 6.4.

Figura 6.4 – Ocupações irregulares na margem do rio Doce, zona norte de Natal.

Foto: Matheus Lisboa

Entretanto, a maior ameaça à geodiversidade in situ na cidade do Natal corresponde

à especulação imobiliária. Ainda que diversas ações públicas de parte, por exemplo, do

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Ministério Público tentem evitar grandes empreendimentos que possam representar

agressões consideráveis, sobretudo, às paisagens de Natal, observa-se que existem hoje

condomínios residenciais construídos sobre as dunas de algumas Zonas de Proteção

Ambiental e esta é apenas uma das formas que a indústria privada de venda de espaços

residenciais ou comerciais, que também ocorre pela ocupação das margens de rios, praias e

lagoas na cidade com o objetivo de uso desses locais como molduras para as construções

modernas de espigões ou condomínios residenciais.

O fato é que a beleza paisagística da cidade, que é constituída essencialmente de

elementos de natureza abiótica, que é a geodiversidade local, é atrativo primário para os

empreendimentos na cidade e representa também um atrativo econômico para as obras.

Trabalhos como os de Nobre (2001) e Bentes e Trindade (2008) versam sobre os aspectos

da especulação imobiliária que afetam o ambiente natural da cidade.

Disto posto, é preciso que haja um desenvolvimento e divulgação maiores do

entendimento da geodiversidade local da cidade do Natal de forma que essas ameaças sejam,

ao menos, mitigadas, embasando ações de proteção eficazes e que atitudes punitivas possam

ser implementadas na forma da legislação vigente, visando também a recuperação dos

ambientes afetados.

6.2 AMEAÇAS À GEODIVERSIDADE EX SITU

Quando se trata da geodiversidade ex situ, observa-se que ela pode ser encontrada

nos logradouros, monumentos e edificações que utilizem algum recurso da geodiversidade

em sua ornamentação ou construção. Assim, a ameaça a esses patrimônios culturais, que em

Natal datam desde o século XVII até reformas mais recentes, se caracterizam como ameaças

também à geodiversidade.

Disto, temos que pichações nos monumentos, como é identificado no monumento

aos mártires (figura 6.5), no Centro Histórico, e no monumento a Pedro Velho, na Praça

Cívica, são uma das principais ameaças ao patrimônio. Em relação à geodiversidade, a tinta

que é utilizada para realizar o ato infracional acaba cobrindo as rochas e seus minerais,

dificultado sua descrição e descaracterizando-a.

O tráfego de carros na Travessa Pax, maior registro de calçamento “pé-de-moleque”

feito com arenitos ferruginosos do Grupo Barreiras em Natal, acaba por retirar blocos da rua

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(figura 6.6). Da travessa, que é tombada pela Fundação José Augusto desde 2007 (Decreto

Normativo 19.930/2007), é retirado, portanto, um recurso da geodiversidade de alto valor

histórico de seu local de uso original. Lixo nas ruas também são ameaças que afetam o

patrimônio cultural e os recursos abióticos utilizados.

Figura 6.5 – Detalhe de pichação feita no monumento

aos mártires, na praça André de Albuquerque.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 6.6 – Fotografia da Travessa Pax em outubro

2015, destaque para os blocos de arenito soltos.

Foto: Matheus Lisboa

Estes casos citados são, em geral, cometidos por algum individuo da comunidade,

que se aproveita da ineficácia do setor público no que se refere à fiscalização e manutenção

destes locais.

Entretanto, os próprios agentes públicos e privados que deveriam realizar a proteção

destes locais, por descuido, desinteresse ou desconhecimento da importância do recurso da

geodiversidade utilizado nos monumentos, acaba por desconsiderá-los em oportunidades de

reformas, como é o caso das Igrejas de Santo Antônio e de Nossa Senhora da Apresentação,

no bairro da Cidade Alta (figuras 6.7 e 6.8).

Durante obras de reparo nas duas construções, foi desconsiderado o fato do uso

histórico de blocos de arenito calcífero nas porteiras e fachadas, que remonta ao século

XVIII, e houve a colocação de concreto como forma de substituição da rocha

Sabe-se que há diversos corpos de recifes de arenito ao longo do litoral natalense, de

onde poderiam ter sido retirados pequenos blocos para serem trabalhados em cantaria de

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forma a fazer a reposição correta do material utilizado. Esta substituição que ocorreu

caracteriza-se também como uma ameaça à geodiversidade, porque é perdido o registro de

seu uso em uma área de importância histórica para a cidade.

Figura 6.7 – Detalhe de coluna na Igreja de Santo

Antônio com base refeita em concreto.

Foto: Matheus Lisboa

Figura 6.8 – Porta lateral na Igreja de Nsa Sra da

Apresentação com colunas refeitas em concreto.

Foto: Matheus Lisboa

Ameaça maior ainda é o descuido por parte dos gestores principais do município, que

compõem a Prefeitura Municipal, em momento de intencional “limpeza” dos monumentos

a Augusto Severo, no bairro da Ribeira, e a Dom Pedro II, em praça homônima no bairro do

Alecrim.

A solução para pichações e sujeira nestes dois locais foi, em outubro de 2015, ter

sido feita a pintura completa dos monumentos com uma tinta que não apenas cobriu os dois

pedestais, mas cobriu as rochas utilizadas e seus minerais, registros não apenas da história

do homem e da cidade, mas também de milhões de anos do Planeta Terra.

A figuras 6.9 e 6.10 mostram um comparativo do pedestal de granito no monumento

a Augusto Severo, antes e depois de ter sido pintado. Após a pintura, o monumento perdeu,

de certa forma, sua beleza e se assemelhou muito a algo construído com concreto.

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Figura 6.9 – Pedestal de granito com trabalho em

cantaria no monumento de Augusto Severo, em 2010.

Fonte: Carvalho (2010)

Figura 6.10 – Pedestal do monumento a Augusto

Severo após a pintura pela Prefeitura, em 2015.

Foto: Matheus Lisboa

Como se observa, todos os casos em que houve agressão ao patrimônio cultural local

que lança mão de algum recurso da geodiversidade em sua composição arquitetônica, parece

haver certo desconhecimento da importância daquele recurso.

Soluções seriam, possivelmente, o incentivo à educação ambiental com enfoque na

geodiversidade, além de promoção das geociências junto à sociedade.

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155

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Natal é uma das cidades mais antigas do Brasil, sendo seu marco inaugural a

construção do Forte dos Reis Magos em 1599. Ao longo de mais de quatro séculos de

história, a cidade experimentou, inicialmente, um lento desenvolvimento, sendo este

impulsionado a partir do século XX.

Surgiram novos equipamentos urbanos, novas ruas, novos edifícios e novos bairros.

O que mudou também foi a relação da cidade com o ambiente em que ela foi construída,

sobretudo o meio abiótico, a geodiversidade, local.

No começo de sua história, e isto é mostrado pelos primeiros mapas feitos pelos

holandeses no século XVII, a cidade possuía uma vasta área de dunas vegetadas sem

intervenção antrópica. Os arenitos calcíferos, dos arrecifes, e ferruginosos, do Grupo

Barreiras, encontrados nas praias eram elementos de grande importância na representação

cartográfica da área e nas construções da época, o que caracteriza uma arquitetura

vernacular, em que os recursos locais são utilizados nas edificações.

Isto passa a ser modificado a partir dos anos de 1900, quando começa a ser feito uso

de pedras graníticas, extraídas na cidade vizinha de Macaíba, no pavimento de ruas e como

pedestais de monumentos inaugurados nas principais praças de Natal. Até o final do século

XX e começo do século XXI, observa-se que há um abandono do uso dos recursos abióticos

locais nas construções da cidade.

Hoje, a exemplo do que é visto em reformas em locais históricos da cidade, como o

Palácio dos Esportes, as rochas que são utilizadas para revestimento e em elementos

decorativos ou construtivos são extraídas no interior do Rio Grande do Norte ou,

principalmente, de outros estados.

Além dessa modificação da relação da cidade com a geodiversidade ex situ, também

foi modificada a forma de ocupação urbana sobre os recursos abióticos in situ. As praias

passaram a ocupar lugar de destaque no cotidiano da cidade a partir da década de 1920 e

hoje são algumas das áreas de ocupação mais valorizadas de Natal.

Os corpos dunares, de grande destaque nas paisagens locais, são entendidos hoje

como fundamentais para o aquífero Barreiras, que abastece a cidade, e, por isso, são, em sua

maioria, protegidos por legislação ambiental específica. Entretanto, muitas das dunas da

cidade foram arrasadas, ocupadas e impermeabilizadas ao longo dos séculos. Em muitos

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156

casos, tiveram sua dinâmica natural cessada. Ainda hoje observa-se que este tipo de agressão

ao meio ambiente continua, sobretudo devido as ocupações irregulares e especulação

imobiliária.

Todas essas expressões da geodiversidade, in situ e ex situ, assim como seus recursos,

solos, minerais, rochas, paisagens, etc., podem ser valorados de acordo com os valores

ecossistêmicos, definidos inicialmente pela Millenium Ecosystem Assessment e adequados

por Gray (2013) para o meio abiótico.

Este trabalho focou em descrições sucintas dos recursos da geodiversidade,

embasando o processo de identificação, análise e classificação da geodiversidade de Natal,

relacionando, sempre que possível, com a comunidade local.

Dos 26 valores, bens e processos definidos pelos 5 serviços ecossistêmicos da

geodiversidade, apenas 7 não foram possíveis de serem identificados na cidade do Natal,

sendo a maioria relativa ao serviço de provisão, que tem um valor monetário por vezes

associado. Isso se deve a inexistência de exploração mineral regular e legal dentro dos limites

municipais da cidade, ocorrendo, entretanto, na Região Metropolitana onde há extração de

água mineral, areias, argilas e granito, este último ocorrendo apenas no município de

Macaíba.

Em relação às classificações dos locais em que ocorrem recursos abióticos in situ,

percebeu-se que a cidade do Natal possui 8 geossítios (Parque das Dunas, Parque da Cidade,

Campo de Dunas Sul, Rio Doce, Rio Pitimbu, Rio Potengi, Litoral Central e Litoral Sul) e 8

lugares de geodiversidade, seguindo as definições de Brilha (2015), contemplando também

todas as definições dos lugares de acordo com sua extensão, definidos por Fuertes-Gutiérrez

e Fernández-Martínez (2010), ou seja, Natal possui pontos, faixas, áreas e panoramas de

geodiversidade in situ.

A geodiversidade ex situ da capital potiguar, por outro lado, é composta por 10

elementos de geodiversidade, a partir de Brilha (2015), distribuídos entre pontos, faixas e

áreas de geodiversidade, segundo a definição de Fuertes-Gutiérrez e Fernández-Martínez

(2010).

Assim, observa-se que a geodiversidade de Natal é diversa e possível de ser

encontrada em todas as regiões da cidade. Entretanto, ela não está livre de ameaças e foi

muito modificada ao longo dos anos. As mais alarmantes ameaças e modificações são

advindas do desinteresse e desinformação da população, visitantes e gestores da cidade, que

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acabam por marginalizar o meio abiótico local, sem entender que as paisagens que tanto são

apreciadas, as praias tão frequentadas, as trilhas dos parques realizadas, entre outros locais

que podem, simplesmente, servir de caminho no dia-a-dia, são produtos da geodiversidade.

Devido à sua extensão e variedade, a geodiversidade de Natal pode ser usada para

meios científicos, culturais, esportivos e turísticos, de forma a promover, em conjunto, a

divulgação das belezas naturais e culturais da cidade e das geociências, auxiliando o

processo de geoconservação.

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