GÊNESE E EVOLUÇÃO DE FEIÇÕES EROSIVAS NO BAIRRO DO JUÇARA,

RAPOSA – MA

Igor Rafael Macedo dos Santos¹

Universidade Federal do Maranhão (UFMA/GEPEPE)

igor-1985@hotmail.com

RESUMO

A erosão é um fenômeno natural que pode interferir na qualidade dos solos e da

água (porque promovem perdas de sedimentos em alguns locais e adição em outros) e

que pode ser intensificado pelas atividades humanas em função de suas atividades,

especialmente a agricultura e a urbanização. Os processos erosivos, por sua vez, quando

desencadeados pela ação da água, se dão inicialmente em entressulcos evoluindo para

formas mais intensas de acordo com a erodibilidade dos solos (relacionadas aos

atributos dos solos) e à erosividade da chuva (relacionada à sua intensidade e duração).

Assim, solos com textura arenosa e com baixa capacidade de troca catiônica, são mais

susceptíveis, especialmente se sobre eles se desenvolvem atividades humanas sem

controle das variáveis envolvidas nos processos erosivos. A Ilha do Maranhão,

especialmente no litoral noroeste, possui solos com as características acima descritas,

sendo, portanto, altamente susceptíveis à erosão, especialmente nas áreas urbanas.

Desse modo, o presente trabalho analisa os a gênese e a evolução dos processos

erosivos por voçorocamento no bairro Jussara, município da Raposa.

Para tal análise fez-se uma descrição da geologia, geomorfologia, topografia e

cobertura pedológica da área, tomando-se por base observações realizadas em campo e

produções científicas e material cartográfico já existente. Os resultados da pesquisa

permitem afirmar que atualmente, boa parte dos solos passa por problemas relacionados

à erosão de forma difusa, mas as alterações que mais chamam atenção, seja pela sua

intensidade seja pelos prejuízos decorrentes provocados à população, são os processos

localizados, ou seja, as voçorocas. No bairro Jussara, as voçorocas avançam

rapidamente, provocando perdas ambientes e sociais, já que o seu avanço tem destruído

casas, sítios e até mesmo estabelecimentos públicos.

Palavras-Chaves: gênese – evolução – feição erosiva – voçoroca – Raposa/MA

_________________ 1 Acadêmico do Curso Geografia da Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Membro do Grupo de

Estudo e Pesquisa em Edafologia e Pedologia – GEPEPE, vinculado ao Departamento de Geociências.

Email: igor-1985@hotmail.com.

INTRODUÇÃO

Os processos erosivos no estado do Maranhão intensificam-se com o

desmatamento frequente para a implantação de atividades econômicas principalmente

no período de implantação de grandes projetos, e pelo inchaço populacional que vários

municípios maranhenses passam, assim caracterizando-se pelas ocupações desordenadas

de áreas de risco.

O crescimento acelerado e desordenado do município da Raposa gerou inúmeros

problemas ambientais, dentre os quais se destacam o processo erosivo por

voçorocamento, frequentes em diversos pontos dentro do município e estão ligadas

diretamente as práticas equivocadas e inapropriadas como de impermeabilização de

áreas que ocasionam uma concentração do fluxo de águas pluviais.

Quando se trata de erosões em ambiente urbano, as mesmas podem se originar pela falta

de planejamento público, que representa não só a perda de solos, mais de todo o

equilíbrio ambiental local.

O crescente aumento da população gera uma forte pressão sobre o ambiente e

sobre as formas do relevo, acarretando sérios problemas socioambientais, originando

áreas susceptíveis a risco ambiental.

Algumas áreas no município da Raposa/MA em especial no bairro do Jussara

vem passando por um intenso processo de intemperismo e erosão, que vem propiciando

o aparecimento e a formação de ravinas e voçorocas, aumentando assim o processo de

degradação e deformação de ambiente.

Dessa maneira as diversas formas de feições erosivas no município e

especificamente na área objeto de estudo decorem de ação da água da chuva, assim

como a ação antrópica.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

No que concerne a descrição da área, segundo as informações obtidas através de

entrevistas, o bairro do Jussara foi fundado em 1970 portanto com 31 anos.

Este bairro e composto basicamente, por dois tipos de padrões de habitação: o primeiro

é identificado por casas de alvenaria próximas as ruas principais do bairro, e o segundo

por moradias de taipa que se concentram próximas a áreas de manguezais, sendo a área

que faz a interface com o mangue as mais suscetíveis as consequências de processos

erosivos e movimentos de massa.

Do ponto de vista geológico, o bairro está inserido na formação Itapecuru que se

configura por arenitos finos, avermelhados e com estratificação geralmente horizontal.

(FEITOSA, 1996)

A ilha do Maranhão ocupa parte setentrional do Golfão Maranhense,

parte integrante da bacia costeira de São Luis, formada por

riftteamento durante o Cretáceo. Limita-se a norte pela plataforma

continental, a sul pelos Altos Estruturais Arco Ferrer-Urbano Santos,

dispostos aproximadamente E-W, a leste pelo host de Rosário e a

oeste pelo Arco do Tocantins (PEREIRA, 2006. p.65)

Sobre esta formação geológica assenta-se o latossolo Vermelho-

Amarelo(FEITOSA, 1996), apresentando uma coloração amarelada devido a presença

de alumínio, assim sendo os latossolos de modo geral apresentam reduzida

suscetibilidade a erosão, pois sua boa permeabilidade e drenagem e a baixa relação

textural B/A garantem, na maioria dos casos, uma boa resistência à erosão. (BOTELHO

& GUERRA, 2006)

Segundo (FERREIRA et al, 2008) o município da Raposa está inserido em uma

unidade morfoestrutural denominada Planície Fluvio-Marinha, caracterizada por

superfícies litorâneas que se encontram revestida de vegetação pioneira formada por

restinga e manguezais. A áreas com topografia modesta apresentam superfícies

tabulares e colinas onde se encontra vegetação de capoeira.

Por planície Fluvio-marinha compreende-se a região da baixada

Maranhense sujeita a inundações durante o período chuvoso pelo

transbordamento das águas dos rios Itapecuru, Mearim, Pindaré. Esta

região possui uma drenagem labiríntica com grande números de lagos

interligados entre si e com os principais rios e permanecem com

razoável quantidade de água durante o ano inteiro, exceto quando

ocorre estações secas muito prolongadas. Integra o perímetro do

Golfão e possui forma de uma arco delimitando a leste pela foz do rio

Itapecuru e a oeste pela foz do rio Turiacu.(FEITOSA, 1996, p.163)

No que tange as características climáticas a área objeto de estudo possui um

clima tropical de relativa estabilidade sazonal, apresentando períodos chuvosos e de

estiagem que ocorrem regulamente no primeiro semestre do ano tem-se o período

chuvoso, sendo que nos meses de março, abril e maio as chuvas são mais intensas. Já o

período de estiagem compreendem os meses de agosto a dezembro. (FERREIRA, 2008)

O clima da área é tropical úmido do tipo AW ou megatermal. A

temperatura media anual ultrapassa os 26 C°, atingindo níveis

elevados nos meses de outubro a dezembro, e inferiores nos meses de

abril e maio. A precipitação ultrapassa 2000 mm anuais.

(FEITOSA,1989, p.154)

Segundo (FARIAS FILHO, M. S. et al 2010), a formação vegetal original da ilha

apresenta floresta, cerrado, babaçuais, campos, manguezais, dunas e restinga. Na

referida área de estudo caracteriza pela presença de buriti e juçarais, assim como a

presença de gramíneas de forma predominante.

Dessa forma, o objetivo deste artigo é analisar a origem e evolução da dinâmica

erosiva em duas voçorocas no bairro do Jussara, assim como avaliar o risco ambiental

aos moradores, bem como o crescimento dessas feições erosivas e sua morfometria.

METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

Para a realização deste artigo adotou-se os seguintes procedimentos

metodológicos:

• Levantamento cartográfico e bibliográfico;

• Atividade de campo, com o monitoramento das cabeceiras das

voçorocas, utilizando trena e GPS;

• Levantamento fotográfico dos principais aspectos dos processos

erosivos;

• Uso de imagem de satélite (Google Earth) para fazer o

georreferenciamento; e

• Entrevistas informais com os habitantes da área de estudo.

LOCALIZAÇÃO

Tendo como referência o centro da ilha do Maranhão, a área de estudo localiza-

se a nordeste, a uma distancia de aproximadamente 30 km da capital.

Estando limitada ao norte com a ilha de Curupu, ao sul e a oeste com o bairro da

Vila bom Viver (Raposa-MA) e ao leste com a MA 203, que liga o local a cede do

município da Raposa,(mapa 1) estando compreendido entre a latitude 2º20’22’’ S e a

longitude 44º05’21’’ O. (FERREIRA et al, 2008)

RESULTADOS PRELIMINARES E DISCUSSÕES

Quanto ao conceito de voçoroca muitos autores diferenciam-se ao conceituar,

entretanto, no que tange a elaboração desse trabalho, o conceito de voçoroca entende-se:

As voçorocas podem ser originadas pelo aprofundamento e

alargamento de ravinas ou erosões causadas por escoamento

superficial, o qual da origem a dutos (pipes). São relativamente

permanentes nas encostas. Tem paredes lateriticas íngremes, em geral

fundo chato, ocorrendo fluxo de água no interior durante os períodos

chuvosos ao aprofundarem seus canais, as voçorocas atingem o lençol

freático. Constituem um processo de erosão acelerada e de

instabilidade nas paisagens. (NUNES et al, 2007)

A morfometria da voçoroca (A) (foto 01) possui 19 m de comprimento, largura

de 14 m e profundidade de 7,70 m na cabeceira. A voçoroca (B) apresenta 25 m de

comprimento, 29 m de largura e 11,24 m de profundidade em sua cabeceira.

Foto 01: Morfometria da voçoroca (A). Observa-se a presença de vegetação pioneira na

depressão.

Fonte: Arquivo de campo

Nas cabeceiras vale ressaltar a presença de depósitos tecnogênicos (aterros) (foto

02) que foram utilizados para “conter” o crescimento da incisão, mas não se obteve o

resultado esperado, pois o escoamento superficial acaba removendo esse material

posteriormente. Na voçoroca (A) observa-se a construção de uma tubulação (foto 03 e

04) para canalização do escoamento superficial a fim de minimizar os impactos da

mesma na área.

Foto 02: deposito tecnogênico na cabeceira da voçoroca.

Fonte: Arquivo de campo

Fotos 03 e 04: obra para contenção do fluxo superficial de águas pluviais.

Fonte: arquivo de campo.

Nas áreas próximas as incisões estão presentes casas que em suma encontram-se

perto das bordas, podendo observar que na voçoroca (A) (foto 05) existe duas

habitações: a primeira localizada no lado esquerdo com distancia 11,54 m e a segunda à

cabeceira, a uma distancia de 17,14 m

.

Foto 05: casas em áreas de risco

Fonte: Arquivo de campo.

Na voçoroca (B) apresenta assim com a anterior a problemática de casas em seu

entorno, sendo três casas em áreas de risco, uma a 12,76 m de distancia da banda

esquerda, outra a 8,47 m da borda direita e outra habitação a 16,33 m da cabeceira da

feição erosiva.

O processo de voçorocamento intensificou-se a partir da tentativa de fixação de

habitações onde as mesmas são caracterizadas como desordenadas, contribuindo dessa

forma para a devastação da área. No entanto é imperativo ressaltar que tais ocupações

foram parcialmente bloqueadas por fatores naturais como o alto desnível do terreno com

sua interface com o manguezal, impossibilitado a implantação de moradias.

Com isso o terreno passou a permanecer exposto a todo tipo de intempérie,

sujeito a processos erosivos de grande magnitudes, originando assim as voçorocas.

Os moradores construíram “barreiras” (foto 06) para contenção de fluxo

superficial da água da chuva. Estas “barreiras” redimensionam o fluxo d’água servindo

de paliativo e amenizando o surgimento de novas feições erosivas no local.

Foto 06: Barreira de contenção construída por moradores.

Fonte: Arquivo de campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de analises e observações nas áreas visitadas constatou-se manifestação

de intensa degradação, com a constante evolução das voçorocas a tendência é aumentar

os fatores de risco que poderão afetar a comunidade local. Contudo os moradores

tentam adotar medidas mitigadores no intuito de amenizar e conter as ameaças de risco

para suas habitações.

Vale ressaltar que a vegetação e de fundamental importância para o controle de

erodibilidade local, sendo que a mesma contribui para conter a degradação dos solos.

(Araujo, 2007)

A evolução das duas voçorocas (A e B) ocorre de modo progressivo, sendo o

crescimento das mesmas está relacionada a interação de fatores de ordem natural como

a pluviosidade, grau de cobertura vegetal e outras, e antrópica, que ao retirar do solo a

cobertura vegetal desequilibra da dinâmica local.

O risco socioambiental fica evidente, devido o fato de várias moradias

distribuídas ao entrono das duas incisões erosivas, sendo que ambas as voçorocas

encontram-se em áreas perigosas a fixação humana.

Diante de tudo que fora exposto acima, ressalta-se a evolução das voçorocas

contribuem significativamente para o aumento da suscetibilidade a desastres, seja de

cunho econômico e/ou de vidas.

REFERÊNCIA

ARAUJO, Gustavo Henrique de Sousa et al. Gestão ambiental de áreas degradadas.

2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

BOTELHO, R.G.M. & GUERRA, A. J. T. Erosão dos Solos. In: CUNHA, Sandra

Batista da; GUERRA, Antonio José Texeira. Geomorfologia do Brasil. (org) .4º ed. Rio

de Janeiro: ed Bertrand Brasil, 2006.

FARIAS FILHO, M. S. et al, Atividade mineradora de laterita e perda da qualidade

ambiental da APA do Maracanã, São Luis-MA. In: CARVALHO NETA, Area de

Proteção Ambiental do Maracanã: subsídios ao manejo e à Educação Ambiental (org.)

São Luis: FAPEMA, ed Café & Lápis, 2010.

FEITOSA, A.C. Evolução Morfogênetica do Litoral Norte da Ilha do Maranhão.

Rio Claro. UNESP. 1989.

FEITOSA, Antônio Cordeiro. Dinamica dos Processos geomorfológicos da área

costeira a nordeste da ilha do Maranhão. Rio Claro: IGCE-Cp-UNESP, 1996.

FERREIRA, Stanley Silvestre Morais et al. Perfil socioeconômico dos pescadore do

porto do Braga. In: VIII Encontro Humanístico. UFMA. São Luis, MA. 2008.

NUNES, J. O. R. et al, ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DO PROCESSO DE

VOÇOROCAMENTO NO PERÍMETRO URBANO NA RANCHARIA-SP

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PEREIRA, Edileia Dutra. Avaliação da vulnerabilidade natural à contaminação do

solo e do aquífero do Reservatório Batata-São Luis (MA). Tese (Doutorado em

Geociências). Universidade Estadual Paulista – UNESP. Presidente Prudente.2006.