gastronomia jan 2010

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44 Capa SUPERMERCADO MODERNO JANEIRO 2010 Por Fernando Salles | [email protected] Gastronomia sem fronteiras Seu cliente entende e gosta cada vez mais de culinária. Por isso, três renomados chefs explicam por que a mistura de ingredientes de diferentes regiões está em alta. Q uem liga a TV pela manhã pode começar o dia com a apresenta- dora Ana Maria Braga ensinando uma nova recei- ta no programa Mais Você. Aliás, uma das atrações do horário é o quadro Super Chef, uma espécie de Big Brother com o objetivo de formar um novo chef de cozi- nha. Se o canal escolhido for a Record, é o chef Edu Guedes quem mostra o passo a passo de um novo prato a cada dia. Bas- ta mudar para a TV fechada e se deparar com o sotaque britânico do agitado “pop star da cozinha” Jamie Oliver. Esses são exemplos de como o brasilei- ro está mais exposto a informações sobre gastronomia. Sua loja já deve estar recebendo influência do tema no consumo de alimentos e bebidas. “As pessoas querem comer melhor, e isso significa comprar melhor”, resume Carlos Ribeiro, ti- tular das panelas do restaurante paulistano Na Cozinha. No mesmo espaço onde funciona o restaurante, o chef paraibano comanda cursos de gastronomia em que ensina ao público o que observar na hora da compra, além das melhores formas de armazenagem e preparo dos pratos. E, a partir do contato com clientes e alunos, percebe quais ingredientes e técnicas andam mais valorizadas no Brasil. São tendências que aparecem primeiro nos restaurantes e cursos de gastronomia e, depois, nos supermercados.

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Page 1: Gastronomia Jan 2010

44 Capa S U P E R M E R C A D O M O D E R N O • JANEIRO 2010

Por Fernando Salles | [email protected]

Gastronomia sem fronteiras

Seu cliente entende e gosta cada vez mais de culinária.

Por isso, três renomados chefs explicam por que a mistura

de ingredientes de diferentes regiões está em alta.

Quem liga a TV pela manhã pode começar o dia com a apresenta-dora Ana Maria Braga ensinando uma nova recei-

ta no programa Mais Você. Aliás, uma das atrações do horário é o quadro Super Chef, uma espécie de Big Brother com o objetivo de formar um novo chef de cozi-nha. Se o canal escolhido for a Record, é o chef Edu Guedes quem mostra o passo a passo de um novo prato a cada dia. Bas-ta mudar para a TV fechada e se deparar com o sotaque britânico do agitado “pop star da cozinha” Jamie Oliver.

Esses são exemplos de como o brasilei-ro está mais exposto a informações sobre gastronomia. Sua loja já deve estar recebendo influência do tema no consumo de alimentos e bebidas. “As pessoas querem comer melhor, e isso significa comprar melhor”, resume Carlos Ribeiro, ti-tular das panelas do restaurante paulistano Na Cozinha.

No mesmo espaço onde funciona o restaurante, o chef paraibano comanda cursos de gastronomia em que ensina ao público o que observar na hora da compra, além das melhores formas de armazenagem e preparo dos pratos. E, a partir do contato com clientes e alunos, percebe quais ingredientes e técnicas andam mais valorizadas no Brasil. São tendências que aparecem primeiro nos restaurantes e cursos de gastronomia e, depois, nos supermercados.

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ARROZ NADA BÁSICOPrato faz o gosto do brasileiro

Carlos Ribeiro está convencido de que o aumento na procura por di-ferentes tipos de arroz é irreversí-vel. O chef lembra que há 20 anos pouco se sabia no Brasil sobre as variedades especí� cas para riso-to. “Hoje há empresas nacionais produzindo arbóreo. Brasileiro é apaixonado por arroz e está atento a outras variedades”. Outro ingre-diente que promete ser cada vez mais procurado é a massa para

“As pessoas querem comer

melhor, e isso signifi ca

comprar melhor”

CARLOS RIBEIRO

Gastronomia sem fronteiras

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cuscuz marroquino, pra-to apreciado em várias partes do mundo.

CULINÁRIA FUSIONDe todas as nações

Uma pergunta aparen-temente simples se tor-

nou difícil de ser respon-dida. Qual país é a bola da

vez na gastronomia mundial? A razão da di� culdade atende pelo nome de culinária fusion, ou seja, a incorporação de ingredientes e técnicas de diferentes partes do globo no mesmo prato. Para Ri-beiro, isso é natural com a consolidação da economia glo-balizada e a facilidade na troca de informações entre pessoas de todo o mundo. “Hoje é possível encon-trar peixes do Rio Nilo à venda na Casa Santa Luzia”, exempli� ca.

Carlos Ribeiro percebe grande interesse pela culinária da Ásia e do Oriente Médio. Sopa tailande-sa e uma infinidade de especiarias encantam quem se mostra aberto a uma culinária exótica e perfuma-da. “É natural do brasileiro o gosto pela mistura de sabores”, afirma.

E também se torna natural va-lorizar os ingredientes de todo o Brasil. Para Ribeiro, será cada vez mais comum encontrar à venda, em todas as partes, frutas como taperebá e mangaba; peixes ama-zônicos, como filhote e tambaqui, e doces, como os pernambucanos bolo de rolo e bolo Souza Leão.

A mistura de ingredientes da

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“As bases culinárias

europeias são parecidas. Daí

ser comum um toque oriental para criar algo

diferente”ALLAN VILA ESPEJO

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“Não me lembro de nenhum

supermercado com serviço de

sommeliers na rotisserie”

SÉRGIO ARNO

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GASTRONOMIA

culinária fusion também é vista como tendência pelo chef Allan Vila Espejo, dono de 13 restau-rantes. Para ele, essa fusão tende a incorporar principalmente os ingredientes orientais. “As bases culinárias europeias são pareci-das. Por isso é comum recorrer a um toque oriental para criar algo novo”. Um exemplo é uma mistu-ra de shoyu com laranja levada ao fogo, que resulta em um bom mo-lho para carnes (redução).”

Autor de oito livros sobre gas-tronomia, Espejo lembra que os consumidores gourmet estão prin-cipalmente nas classes mais altas. O chef garante que esse público exige marcas conhecidas. “Ele pode ter acesso a um espumante três vezes melhor, mas na hora de reunir os amigos vai servir Chandon, que todos conhecem”, assegura.

ROTISSERIE AINDA PECAElas servem culinária prática

Dono dos restaurantes La Pasta Gialla, o chef Sérgio Arno costuma ser questionado pelos clientes sobre marcas, temperos e técnicas utilizadas nos pratos que mais agradam. Ele considera natural que esses consumi-dores procurem os mesmos itens nos s up e r m e rc a d o s , mas acredita que o público só é bem atendido em itens

industrializados. “Nas rotisserias, os pratos ainda deixam a desejar”.

Para o chef, a maioria das ro-tisserias não oferece refeições do mesmo nível de restaurantes ou de rotisserias de bairro. “Elas es-tão mais preocupadas em oferecer culinária prática, para resolver ne-cessidades imediatas de consumo. Além disso, garantem quantidade e variedade, mas pecam em sabor e apresentação dos pratos”, afirma.

Um caminho apontado por Arno seria oferecer a chefs ou restauranteurs a oportunidade de criar lojas dentro da loja colocan-do o know-how deles à disposição do público. Outra sugestão é a disponibilização de profissionais especializados em vinhos também nas áreas de food service. “Algu-mas lojas contam com somme-liers na área de vinhos, mas não me lembro de nenhum supermer-cado com esse serviço na rotisse-rie”, constata. Em uma época em que o varejo se esforça para se diferenciar da concorrência, pode ser uma dica preciosa.

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O público A/B pode comprar diferentes espumantes, mas

na hora de reunir os amigos, prefere uma

marca conhecida

M A I S I N F O R M AÇÕ E S

Allan Vila Espejo: www.mestrecucatv.com.brCarlos Ribeiro: www.blognacozinha.zip.netSérgio Arno: www.sergioarno.com.br