garotos, garotas e outros materiais explosivos primeiro capítulo
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GAROTOS, GAROTAS E OUTROS MATERIAIS EXPLOSIVOS primeiro capítuloTRANSCRIPT
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PRÓLOGO
O neGÓciO é O seGuinte: meu nOme é chaRLie — e, sim, sOu uma
garota. Meu nome completo é Charlotte Anne Healey. Estou prestes a começar o primeiro ano do segundo grau, moro num bairro bastante normal, tenho um irmão mais velho tolerável e meus pais geralmente são sensatos. Tenho mais ou menos 1,65m, olhos castanhos, cabelo louro meio castanho que dá para o gasto, mas definitivamente não sou daquelas garotas de comercial de xampu. E não acordo às 5 da manhã para secar o cabelo com o secador. Não sou anoréxica nem bulímica e geralmente acho que meu corpo não é totalmente desastroso. E, francamente, manter essa perspectiva enquan-to estou cercada de meninas magrelas reclamando de como são gordas é uma verdadeira façanha.
Por outro lado, posso ser lenta para admitir o óbvio. Dolorosamente lenta. Isso, combinado à minha outra prin-cipal fraqueza pessoal, que é ocasionalmente não ter pulso firme com meus amigos, significa que tive que tomar jeito e fazer duas coisas: primeiro, finalmente admiti para mim
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mesma que minhas melhores amigas eram, na verdade,
minhas falsas-amigas. (Você sabe, garotas em quem eu não
confiava cem por cento, mas que, por alguma razão, eram
minhas amigas mais próximas.) Segundo, quando acabei
o Ensino Fundamental no ano passado, fugi na primeira
oportunidade. No meu caso, a fuga tomou forma quando
tive a oportunidade de me transferir para outra escola para
cursar o segundo grau, para que pudesse, com um pouco de
sorte, fazer novos amigos que fossem legais, interessantes, e
não diabólicos ou vingativos.
Como era minha escola do Ensino Fundamental? A Es-
cola Ben Franklin era uma daquelas escolas reformadas que
pareciam shoppings. Tudo era pintado em um tom de bege
tranquilizante, as claraboias estrategicamente localizadas
nos davam a ilusão de acesso ao mundo do lado de fora e
era muito grande para que uma garota de 12 anos andasse
sozinha por seus corredores. Quando entrei lá no sétimo ano,
comecei realmente a duvidar da sanidade dos adultos. Sério,
quem poderia pensar que é uma boa ideia colocar 1.500
alunos do sétimo, oitavo e nono ano juntos? Acho que eles
nunca leram O senhor das moscas — embora o livro esteja
na lista de leitura obrigatória do nono ano há três décadas.
De qualquer forma, há três meses saí pelas portas da Ben
Franklin como uma mulher livre. Uma nova página, um novo
começo. Como posso descrever meu sentimento ao deixar a
Ben Franklin? Sabe quando você faz algo que não quer que
seus pais saibam, mas acha que tem uma grande chance de
que eles descubram, e, se eles descobrirem, sua vida como
você a conhece estará acabada? A princípio, você não con-
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segue respirar, fica totalmente preocupado e tem certeza de
que vai ser desmascarado a qualquer momento. Mas os dias
passam e você percebe que conseguiu se safar. Bem, talvez
isso não tenha acontecido com você, mas foi assim que me
senti quando saí daquela escola pela última vez. Eu ficava
apenas pensando:
— Consegui. Estou livre.
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