gargalhadas laboratÓrio mundo contagiantes

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38 JANEIRODE 2007 PESQUISA FAPESP 131 > Pássaros urbanos cantam diferente A poluição sonora não per- turba apenas as pessoas.Tam- bém os pássaros modificam seus cantos,aparentemente em resposta ao barulho de carros e buzinas,concluíram Hans Slabbekoom e Ardie den Boer- Visser,da Universidade de Lei- den,na Holanda.Eles compa- raram os cantos de chapins- reais (Parus major) encontra- dos em dez grandes cidades eu- ropéias aos de representantes da mesma espécie que vivem em florestas próximas.E obser- varam que as melodias usadas pelas aves urbanas para atrair parceiros e defender territó- rios são mais curtas.Viram que os pássaros urbanos,tal qual as pessoas,parecem ter pressa: cantam mais rápido do que os parentes das matas.Os cantos são também mais agudos – e assim se sobrepõem aos ruídos de baixa freqüência como o do trânsito.Um estudo anterior desse grupo já havia mostrado que as aves urbanas usam me- nos notas graves em regiões da cidade em que o nível de baru- lho é maior.Essa versatilidade pode explicar o sucesso do cha- pim-real em se adaptar às ci- dades.A descoberta fortalece a hipótese de que a variedade de sons dos animais pode ser mol- dada pelo ambiente. > A química dos violinos A fama dos violinos Stradiva- rius transcende a esfera dos en- tendidos em música.Os sons dos instrumentos confeccio- nados no século XVIII pelo ita- liano Antonio Stradivari e por seu conterrâneo Guarnieri del Gesù são tidos como inigualá- veis.Especialistas tentaram du- rante séculos descobrir o segre- do nas cordas e no corpo de madeira desses violinos,vio- loncelos e violas.Agora um trio norte-americano liderado por Joseph Nagyvary,da Universi- dade Texas A&M,pode estar perto de desvendar o mistério. O grupo comparou amostras de madeira atual e de lascas de instrumentos fabricados entre 1717 e 1840,submetidas a aná- lise por ressonância magnéti- ca nuclear e espectroscopia por infravermelho.Os resultados mostram que o que dá origem aos sons que encantaram ou- vidos nos últimos 300 anos não é a madeira em si,mas o trata- mento químico para protegê- la de ataques por insetos e das agruras do tempo.Quando os detalhes dessa química forem desvendados,quem sabe não poderá surgir uma nova gera- ção de Stradivarius? > Pioneirismo reconhecido Em razão dos estudos sobre o hormônio feminino estróge- no,que ajudaram a direcionar novas pesquisas sobre as ori- gens e o desenvolvimento de câncer de mama,Evan Simp- son,diretor do Instituto de Pes- quisa Médica Príncipe Henry, ILUSTRAÇÕES LAURABEATRIZ LABORATÓRIO MUNDO > Gargalhadas contagiantes Os produtores de comédias que usam gra- vações de risadas para fazer o público rir provavelmente não sabem,mas com essa artimanha estimulam regiões do córtex pré-motor cerebral e contagiam os espec- tadores.O mecanismo foi desvendado por um grupo de neurocientistas britâ- nicos,que expôs voluntários a sons evo- cando emoções positivas – comemora- ções ou risadas – ou negativas – gritos ou barulho de vômito.Medida por ressonân- cia magnética, a atividade da área do cé- rebro que também conduz a movimen- tos faciais foi mais intensa em resposta a sons positivos.Publicados na revista Jour- nal ofNeuroscience de 13 de dezembro,os resultados indicam a participação de um mecanismo neurológico auditivo-motor nas relações sociais.

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38 ■ JANEIRODE 2007 ■ PESQUISA FAPESP 131

>Pássaros urbanos cantam diferente

A poluição sonora não per-turba apenas as pessoas.Tam-bém os pássaros modificamseus cantos,aparentemente emresposta ao barulho de carrose buzinas,concluíram HansSlabbekoom e Ardie den Boer-Visser,da Universidade de Lei-den,na Holanda.Eles compa-raram os cantos de chapins-reais (Parus major) encontra-dos em dez grandes cidades eu-ropéias aos de representantesda mesma espécie que vivemem florestas próximas.E obser-varam que as melodias usadaspelas aves urbanas para atrairparceiros e defender territó-rios são mais curtas.Viram queos pássaros urbanos,tal qual aspessoas,parecem ter pressa:cantam mais rápido do que osparentes das matas.Os cantossão também mais agudos – eassim se sobrepõem aos ruídosde baixa freqüência como o dotrânsito.Um estudo anteriordesse grupo já havia mostradoque as aves urbanas usam me-nos notas graves em regiões dacidade em que o nível de baru-lho é maior.Essa versatilidadepode explicar o sucesso do cha-pim-real em se adaptar às ci-dades.A descoberta fortalece ahipótese de que a variedade desons dos animais pode ser mol-dada pelo ambiente. •

>A química dos violinos

A fama dos violinos Stradiva-rius transcende a esfera dos en-tendidos em música.Os sonsdos instrumentos confeccio-nados no século XVIII pelo ita-liano Antonio Stradivari e porseu conterrâneo Guarnieri delGesù são tidos como inigualá-veis.Especialistas tentaram du-rante séculos descobrir o segre-do nas cordas e no corpo demadeira desses violinos,vio-loncelos e violas.Agora um trionorte-americano liderado por

Joseph Nagyvary,da Universi-dade Texas A&M,pode estarperto de desvendar o mistério.O grupo comparou amostrasde madeira atual e de lascas deinstrumentos fabricados entre1717 e 1840,submetidas a aná-lise por ressonância magnéti-ca nuclear e espectroscopia porinfravermelho.Os resultadosmostram que o que dá origemaos sons que encantaram ou-vidos nos últimos 300 anos nãoé a madeira em si,mas o trata-mento químico para protegê-la de ataques por insetos e dasagruras do tempo.Quando os

detalhes dessa química foremdesvendados,quem sabe nãopoderá surgir uma nova gera-ção de Stradivarius? •

>Pioneirismo reconhecido

Em razão dos estudos sobre ohormônio feminino estróge-no,que ajudaram a direcionarnovas pesquisas sobre as ori-gens e o desenvolvimento decâncer de mama,Evan Simp-son,diretor do Instituto de Pes-quisa Médica Príncipe Henry,

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GargalhadascontagiantesOs produtores de comédias que usam gra-vações de risadas para fazer o público rirprovavelmente não sabem,mas com essaartimanha estimulam regiões do córtexpré-motor cerebral e contagiam os espec-tadores.O mecanismo foi desvendadopor um grupo de neurocientistas britâ-nicos,que expôs voluntários a sons evo-cando emoções positivas – comemora-ções ou risadas – ou negativas – gritos oubarulho de vômito.Medida por ressonân-cia magnética, a atividade da área do cé-rebro que também conduz a movimen-tos faciais foi mais intensa em resposta asons positivos.Publicados na revista Jour-nal ofNeuroscience de 13 de dezembro,osresultados indicam a participação de ummecanismo neurológico auditivo-motornas relações sociais. •

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PESQUISA FAPESP 131 ■ JANEIRO DE 2007 ■ 39

na Austrália, foi o vencedor nacategoria ciência básica doPrêmio Brinker por DistinçãoCientífica da Fundação de Cân-cer da Mama Susan G. Komen,dos Estados Unidos. Na cate-goria pesquisa clínica o ven-cedor foi George Sledge Jr., daUniversidade de Indiana, Esta-dos Unidos, um dos primeirosa valorizar a formação de va-sos sangüíneos do câncer demama.Sledge tem sido um doslíderes na aplicação de terapiase medicamentos para preveniro desenvolvimento de vasossangüíneos nos tumores. Cadaum deles receberá US$ 20 mil.Mantida por meio de doações,a Fundação Komen investiuem 2006 US$ 780 milhões emprogramas de pesquisa, educa-ção, diagnóstico e tratamentode câncer de mama. •

>As marcas da criação animal

Os animais de criação emitemmais gás carbônico que os car-ros ou aviões, qualificando-secomo os principais transforma-dores do ambiente, de acordocom um estudo de 400 páginaselaborado pela Organização dasNações Unidas para Agricul-tura e Alimentação (FAO). Nomundo inteiro, segundo essetrabalho, a pecuária é a maiorameaça ao clima, às florestas eà biodiversidade. Bois, ovelhas,galinhas e cabras liberam 18%da emissão de gás carbônico edois terços da quantidade de

medidas de saúde pública paramonitorar e tratar a depressãopós-parto, que pode causar es-tragos sérios na saúde e no bem-estar de crianças recém-nasci-das e de suas mães. •

>A gramática dos sexos

Meninos e meninas processame usam regras gramaticais demodo diferente. Segundo umestudo da Universidade deGeorgetown, Estados Unidos,erros na conjugação de verbos,por exemplo,ocorrem por cau-sa de estruturas distintas noscérebros masculino e femini-no. Michael Ullman e JoshuaHartshorne partiram de algoque eles já sabiam: meninasusam um sistema que memo-riza palavras e associações en-tre elas, enquanto meninos se

baseiam em um sistema regi-do pelas regras da língua. Elesobservaram como um grupode 10 meninos e 15 meninas,entre 2 e 5 anos de idade, con-jugava verbos ao falar. Previamque os meninos fariam maiserros conjugando verbos irre-gulares como se fossem regu-lares, seguindo as regras da gra-mática inglesa. Mas esses errosforam muito mais comuns en-tre as meninas – e seriam cau-sados por associações entre asformas conjugadas de verbosregulares e irregulares que ri-mam. Como o passado de fold,por exemplo, é folded, as me-ninas associavam ao verbo holda forma holded – o correto se-ria held. Algumas áreas do cé-rebro não são responsáveis sópela linguagem, o que sugereque homens e mulheres abor-dam uma série de tarefas deforma diferenciada. •

amônia, um dos causadores dachuva ácida. O estudo da FAOtambém associa a criação deanimais a um consumo inten-so de água (cada litro de leite exi-ge 990 de água) e à degradaçãode metade das terras cultivadasnos Estados Unidos. SamuelJutzi, diretor da divisão de saú-de e produção animal da FAO,alerta para a urgência de con-ter os impactos ambientais, quetendem a crescer,acompanhan-do a produção de carne e leite,que deve dobrar em 50 anos.Osamantes do churrasco não de-vem se zangar: não se deixou delado o valor da pecuária, queocupa um terço das terras cul-tiváveis do planeta, gera 40%do PIB e emprega 1,3 bilhão depessoas. Ao lado da China e daÍndia, o Brasil é um dos desta-ques desse estudo, por ser umdos maiores produtores mun-diais, com 207 milhões de boise vacas, 186 milhões de galinhase 34 milhões de suínos. •

>A depressão das mães

Mães de primeira viagem cor-rem maiores riscos de ser aco-metidas por depressão pós-parto nos primeiros três mesesapós o nascimento de sua crian-ça,de acordo com o estudo epi-demiológico de ampla escalapublicado na edição de 6 de de-zembro da revista científicaJournal of the American Medi-cal Association (Jama). O tra-balho analisou dados médicosde todos os dinamarqueses quese tornaram pais e mães entre1973 e 2005 e mostra que dis-túrbios psiquiátricos poupamos homens mas rondam tam-bém as mulheres que acabamde ter o segundo filho. Combase no alerta dinamarquês, oeditorial dessa edição da revis-ta chama a atenção para a im-portância de se implementar Madonna de Da Vinci: perigos ocultos

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40 ■ JANEIRODE 2007 ■ PESQUISA FAPESP 131

>Mais barulho, mais acidentes

O risco de sofrer acidente detrabalho é quase duas vezesmaior entre trabalhadores ex-postos a ruídos intensos e con-tínuos,concluíram AdrianoDias,da Universidade Estadualde Campinas (Unicamp),Ri-cardo Cordeiro,da Universida-de Estadual Paulista (Unesp),e Cláudia Gonçalves,da Uni-versidade Metodista de Piraci-caba (Unimep).Eles se basea-ram em entrevistas feitas com600 pessoas que sofreram aci-dentes de trabalho e foramatendidas em um hospital dePiracicaba,interior paulista.Depois compararam os resul-tados com os obtidos por meiode entrevistas com outras 822pessoas que não haviam sofri-do acidentes relacionados aotrabalho.Segundo esse estudo,publicado no Cadernos de Saú-de Pública, o ruído excessivo

dificulta a comunicação e aconcentração,levando a con-tusões (47%),entorses (15%),cortes e contusões (10%) e fra-turas (9%),principalmente nasmãos e nos pés. •

>Uma chave para entrar na laranja

Agora se conhecem melhor aestrutura e o funcionamentode uma proteína possivelmen-te importante para a bactéria

Xylella fastidiosa, causadora doamarelinho,penetrar nas la-ranjeiras.Usando uma técnicachamada cristalografia de raiosX,pesquisadores da Universi-dade de São Paulo (USP) e doLaboratório Nacional de LuzSíncrotron (LNLS) consegui-ram definir em detalhes a es-trutura tridimensional da Ohr,proteína que confere à Xylel-la resistência a hidroperóxi-dos orgânicos,compostos ca-pazes de originar radicais li-vres e outras substâncias tóxi-

cas.Composta de duas partesiguais que se unem firmemen-te e originam uma moléculaem forma de bola de futebolamericano,a Ohr não tem si-milares em plantas e animais,segundo Luis Eduardo SoaresNetto, da USP,que integrou aequipe que descreveu a formatridimensional da Ohr no Jour-nal ofMolecular Biology . Essaé a primeira proteína da Xylel-la cuja estrutura está deposi-tada no Protein Data Bank,abase de dados mundial que ar-mazena informações sobre aforma espacial de quase 40 milproteínas. •

>Pai vira onça no Cerrado

Uma onça percorria seu terri-tório com os dois filhotes de 9meses no Parque Nacional dasEmas (Goiás),em 2001,até queum macho adulto seguiu a fa-mília por dias e matou os jo-vens,sob os olhos de biólogosdo Fundo para a Conservaçãoda Onça-Pintada.Depois ou-tro macho adulto foi captu-rado,sugerindo que o animalmatou os filhotes para elimi-nar a prole do rival,ter acessoà fêmea e produzir descenden-tes próprios,como acontececom leões.Para examinar a hi-pótese,biólogos de várias ins-tituições usaram amostras deDNApara determinar a pater-nidade dos jovens mortos.Eisa resposta,recém-publicada naGenetics and Molecular Biology:os filhotes foram mortos pelopróprio pai.A descoberta tor-na improvável a hipótese ini-cial e atribui esse comporta-mento anômalo a estresse eco-lógico.No parque vivem cercade dez onças.Essa densidadeintensifica a competição poralimento e por fêmeas. •

LABORATÓRIO BRASIL>

Contra-ataque: Ohr, acima, neutraliza defesas da planta

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Definiu-se uma clara ligação en-

tre o alcoolismo e os distúrbios

psiquiátricos, em especial as fo-

bias sociais. Um em cada três al-

coolistas (o termo agora recomen-

dado, em vez de alcoólatras) apre-

sentou transtorno depressivo gra-

ve, a mesma proporção de por-

tadores de fobias específicas, de

acordo com um trabalho coordena-

do por Mauro Barbosa Terra, da Fun-

dação Faculdade de Ciências Médi-

cas de Porto Alegre, e publicado na

Comprehensive Psychiatry. Em uma

amostra de 300 alcoolistas interna-

dos em três hospitais de Porto Ale-

gre, um em cada quatro tinha fobia

social, quase o mesmo tanto sofria

de transtorno de ansiedade induzi-

do pelo álcool e um em cada cin-

co de transtorno de ansiedade

generalizada — e só um em cada

quatro estava sob tratamento.

Outros estudos já haviam mostra-

do que os alcoolistas apresentam

uma prevalência de fobia social

duas vezes mais alta do que na po-

pulação em geral. O trabalho de Ter-

ra, além de levantar indicações que

podem ajudar a explicar a abstinên-

cia, a recaída e a adesão ao trata-

mento, dá uma idéia clara da dimen-

são do casamento entre os dois pro-

blemas. Os entrevistados contaram

que melhoram dos sintomas fóbicos

quando bebem e pioram durante a

abstinência; portanto, o álcool pode

servir como automedicação. •

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Um copo de medos

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PESQUISA FAPESP 131 ■ JANEIRO DE 2007 ■ 41

>Enchente espalhametais pesados

Metais pesados despejados nabacia do Rio das Velhas, noQuadrilátero Ferrífero de Mi-nas Gerais, podem contami-nar plantas e peixes a até 400quilômetros a partir do pon-to em que são lançados. Subs-tâncias como alumínio, arsê-nio, cromo e mercúrio são le-vadas pelas enchentes regula-res dos rios para a região pla-na das fazendas, concluírampesquisadores da Universida-de Federal de Minas Gerais(UFMG) e do Centro de De-senvolvimento de TecnologiaNuclear (CDTN). “Partimosda mortandade de peixes e dogado, trazida até nós pela Es-cola de Veterinária da UFMG”,explica Maria Adelaide Veado,uma das autoras do trabalho.Ela pretende ampliar as análi-ses:“Queremos dimensionar oimpacto dessa contaminaçãona saúde da população”. •

>Sinais visíveis doconsumo de drogas

Usuários de cocaína podem fi-car com cicatrizes nas mãos emrazão das injeções constantes.Fumantes de crack apresentamlesões nas palmas das mãos edos dedos devido às queima-duras deixadas pelo cachimboem que consomem a droga.Consumidores de heroína po-dem ficar com manchas escu-ras na língua.Um estudo coor-denado por Bernardo Gontijo,da Faculdade de Medicina daUniversidade Federal de Mi-nas Gerais (UFMG), descreveos efeitos colaterais na pele doconsumo de drogas e recomen-da que os médicos dermatolo-gistas se familiarizem com es-sas alterações. •

Chegue mais perto

Fabio Colombini não se importa em caminhar

durante dias no meio da mata para fotografar

uma planta ou um animal de que apenas ouvira

falar. Tanto ele quanto o agrônomo Evaristo Eduar-

do de Miranda raramente pensam duas vezes

antes de observar de perto os olhos de formi-

gas ou de corujas e de sentir a textura das fo-

lhas e da pele das cobras. Colombini fez as fo-

tos e Miranda o texto do deslumbrante livro Na-

tureza brasileira em detalhe (Ed. Metalivros).

Com a calma dos viajantes que contagia os lei-

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tores, essa obra abre o olhar para os detalhes

que normalmente nos escapam: a lagarta de

mariposa que parece um pedaço de pau, o lou-

va-deus que se confunde com os espinhos do

cacto, a mariposa de asas amarelas que repousa

entre folhas igualmente amarelas ou a espe-

rança acima, quase a se fundir com a folhagem.

Para os essencialmente urbanos esse livro é

uma forma de usufruir o prazer de andar pelas

matas sem o desconforto das camisas empapa-

das de suor, que às vezes atraem formigas. •

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62 ■ JANEIRO DE 2007 ■ PESQUISA FAPESP 131

>Filmes molecularesfeitos com litografia

Um novo processo de padro-nização química combinan-do um auto-arranjo molecu-lar com a litografia convencio-nal (antiga técnica de grava-ção) para criar superfícies mul-tifuncionais em sensores eoutros dispositivos que exijamprecisão molecular foi desen-volvido por um grupo de pes-quisadores da Universidade doEstado da Pensilvânia, nos Es-tados Unidos. O processo per-mite a criação de superfíciescom diversas funcionalidadesquímicas e promete incorpo-rar a litografia usada atualmen-te para a produção de semicon-dutores. A nova técnica, que

poderá ter aplicações na quí-mica aplicada e na bioquími-ca, foi descrita na edição de 22de dezembro de 2006 da revis-ta Advanced Materials.A técni-ca usa monocamadas auto-organizadas – filmes químicoscompostos por uma densa mo-

lécula – para construir uma ca-mada sobre uma superfície.Umrevestimento fotolitográfico –impressão de um circuito ele-trônico por meio de luz – fun-ciona como uma barreira e im-pede interações das moléculasentre as monocamadas. •

>Futuro promissordas nanocerâmicas

Nos últimos 20 anos pesquisa-dores de todo o mundo têmtrabalhado para desenvolvercerâmicas avançadas para usoindustrial em sensores, reves-timentos, materiais eletrôni-cos e filtros. Ganharam recen-temente a companhia das na-nocerâmicas, estruturas ma-nipuladas e funcionalizadasquase no nível atômico para asmesmas áreas. Esses materiaisjá são reconhecidos como umsegmento industrial importan-te e bilionário. É o que mostraum recente estudo da empre-sa norte-americana BCC Re-search. Esse mercado totalizouUS$ 2,2 bilhões em 2006, ape-

Funcionalidades químicas diferentes, em vermelho e azul

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Nas ruas, carros a hidrogênio

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A nova geração do FCX, o carro da

Honda movido a hidrogênio, deverá

estar no mercado em 2009 confor-

me foi anunciado no Salão do Auto-

móvel de Los Angeles, Estados Uni-

dos, em novembro passado. O mode-

lo é uma evolução do atual FCX dis-

ponível, em forma de aluguel e sob

acompanhamento técnico do fabri-

cante, no Japão e em alguns estados

norte-americanos para órgãos go-

vernamentais e famílias (veja em Pes-

quisa FAPESP no 126). No estado da

Califórnia, por exemplo, já existem vá-

rios postos de abastecimento de hi-

drogênio. O novo modelo é uma evo-

lução no design e na célula a combus-

tível, equipamento semelhante a uma

bateria que transforma o gás hidro-

gênio e o oxigênio do ar em energia

elétrica. O compartimento das célu-

las é 20% menor e 30% mais leve

que o atual. A tração do carro é feita

por um motor de 80 quilowatts (kW)

na frente e dois outros, de 25 kW em

cada roda traseira. A eficiência ener-

gética, ou o aproveitamento do com-

bustível, é de 60%, quase três vezes

mais que um motor semelhante a ga-

solina e 10% maior que o último mo-

delo do FCX. Outra montadora, a

BMW, apresentou também em Los An-

geles o Hydrogen 7, série luxuosa de

um sedã, que também será alugado

para futuros voluntários. Ao contrá-

rio do FCX e de outros protótipos de

montadoras, o série 7 especial não

emprega células a combustível. Ele

utiliza o próprio motor 6.0 a combus-

tão dos veículos convencionais de sé-

rie, que, nesse caso, possui 12 cilin-

dros e 260 cavalos de potência. O hi-

drogênio na forma líquida é resfria-

do a -250ºC em cilindros especiais e

é suficiente para rodar 210 quilôme-

tros (km). O mesmo motor funciona

também com gasolina. Nesse caso a

autonomia é de 482 km. •

Novo FCX: chassi com cilindros de hidrogênio, em vermelho, o coração da célula no centro e o motor elétrico na frente

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PESQUISA FAPESP 131 ■ JANEIRO DE 2007 ■ 63

nas nos Estados Unidos, e asprojeções indicam um valor deUS$ 3,4 bilhões em 2011. Ocrescimento anual total deveráser de 8,9% em relação ao fatu-ramento do setor.As nanocerâ-micas vão crescer mais, 23,4%,enquanto as cerâmicas avança-das, 6,9%, em dólares. •

>Álcool a partir de gramíneas

Os Estados Unidos estão cadavez mais interessados na pro-dução de etanol para abastecerveículos no lugar da gasolina.Dois estudos divulgados no fi-nal de 2006 mostram a buscapor melhores formas de pro-duzir álcool combustível sema cana-de-açúcar, que lá não écultivada por fatores climáti-cos.A primeira solução vem deuma nova cepa de levedura ca-paz de produzir etanol mais rá-pido e com mais eficiência apartir de fermentação de mi-lho e de outras plantas comoum tipo de capim comum naAmérica do Norte. O grupocoordenado por Hal Alper,do Instituto de Tecnologia deMassachusetts (MIT), modifi-cou uma das proteínas respon-sáveis pela transcrição dos ge-nes da levedura Saccharomycescerevisiae provocando altera-ções genéticas no microorga-nismo. O estudo apresentadona revista Science (8 de dezem-

>Análise rápida deleite materno

Uma nova técnica, que permi-te uma rápida e detalhada aná-lise dos oligossacarídeos, o ter-ceiro maior componente só-lido presente no leite mater-no, depois da lactose e dos li-pídeos, foi desenvolvida poruma equipe de pesquisadoresda Universidade da Califórnia-Davis em parceria com a em-presa Agilent. Mais de 200 oli-gossacarídeos (OGs), um gru-po de moléculas bioativas doleite, foram identificados nasúltimas décadas, mas até ago-ra não havia nenhum instru-mento capaz de medir sua pre-sença numa amostra. O dife-rencial do novo método é acombinação de duas ferramen-tas analíticas, um chip de gli-canas (polissacarídeos),desen-volvido para separações de al-

ta resolução de misturas com-plexas do material analisado, eum espectrômetro de massausado para caracterizar cadavariação de oligossacarídeopela determinação precisa desua massa em nível molecu-lar. A combinação resultou naidentificação da presença deOGs em amostras de cincomulheres num único teste. Oestudo foi publicado na versãoon-line do Journal of Agricul-tural and Food Chemistry. •

>Semicondutores dentro da fibra

A união de duas classes de tec-nologia pode resultar em tele-comunicações mais rápidas ede maior qualidade, inclusive ainternet. É que pesquisadoresda Universidade do Estado daPensilvânia, dos Estados Uni-dos, e da Universidade de Sou-thampton, da Inglaterra, reu-niram materiais semiconduto-res, incluindo transistores,den-tro de uma fibra óptica.A idéiafoi combinar as funções ópti-cas e eletrônicas dentro da mes-ma fina estrutura de uma fibra.Dessa forma, os sinais fotôni-cos que levam as informaçõesnão precisariam sair das fibras,passando por dispositivos quetransformam o sinal luminosoem elétrons, tornando,além detudo, esses sistemas de trans-missão mais baratos. •Levedura melhorada para a produção do etanol

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bro) também é assinado porpesquisadores da Universida-de de Tecnologia de Berlim, naAlemanha. Na mesma publi-cação, outro estudo apontavantagens na produção de eta-nol a partir de gramíneas exis-tentes nos campos do mesmocontinente. A biomassa resul-tante de várias espécies de plan-tas nativas pode, segundo ospesquisadores David Tilman,Jason Hill e Clarence Lehman,da Universidade de Minneso-ta, produzir mais etanol que amesma área de milho, o vege-tal usado para produzir essecombustível nos Estados Uni-dos. O estudo durou dez anose mostrou também que podehaver uma significativa redu-ção dos níveis de dióxido decarbono liberados na atmos-fera pelos veículos, diminuin-do a poluição e o efeito estufasobre o planeta. •

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TECNOLOGIA

ção, sistema de recuperação,entre outros. Já os experimen-tos que voarão na Soyuz pode-rão ser observados durante al-guns dias e terão o suporte daEstação Espacial Internacional(ISS),em órbita da Terra a umaaltitude entre 350 e 400 quilô-metros. O prazo para envio depropostas termina no dia 20 demarço de 2007. •

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(USP) de Piracicaba, que ava-liou o estado de conservaçãode rodovias brasileiras e seu im-pacto econômico e ambientalpor meio de análise de 48 via-gens de caminhões, no interiorde São Paulo e da capital emrotas para Cuiabá (MT), Goiâ-nia (GO) e Feira de Santana(BA). Daniela Bacchi Bartho-lomeu, que realizou o estudode doutorado, explica que se asrodovias em pior estado de con-servação fossem recuperadashaveria uma redução de 4,8%no consumo de combustível e4,5% na emissão de CO2, alémde uma economia para o mo-torista de quase R$ 34,00 a ca-da 100 quilômetros rodados(Agência USP de Notícias). •

>Magnetismo parao cultivo de rosas

Rosas e ímãs, uma combina-ção que deu certo. Um estudo

>Experimentos com gravidade zero

A Agência Espacial Brasileiraestá programando a realizaçãode uma segunda fase de expe-rimentos em ambiente de mi-crogravidade, também chama-do de gravidade zero. O pro-jeto, incluído no Programa Mi-crogravidade, selecionará es-tudos que irão a bordo dofoguete suborbital brasileiroVSB-30, em agosto de 2008, enuma nave Soyuz, em setem-bro de 2009. Embora a opçãodo foguete VSB-30 saia bemmais em conta para a realiza-ção de experimentos sem a in-fluência da gravidade, eles du-ram apenas alguns segundos.O ambiente de microgravida-de nesse caso é proporcionadopor uma plataforma, que for-nece os serviços básicos aos ex-perimentos nela embarcados,como suporte mecânico, ener-gia, comunicação, estabiliza-

>Estrada ruim geramais poluição

A má conservação das estradascontribui para a emissão dedióxido de carbono (CO2) epara o aumento do consumode combustível, aponta pesqui-sa realizada pela Escola de Agri-cultura Luiz de Queiroz (Esalq),da Universidade de São Paulo

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Imagem da ISS simulandosobrevôo emBrasília: novosensaios previstos

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Rodovia em péssimo estado aumenta gasto de combustível

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PESQUISA FAPESP 131 ■ JANEIRO DE 2007 ■ 65

A instalação de dois painéis

solares fotovoltaicos a uma

cadeira de rodas motorizada

aumentou em 40% o tempo

em que ela tem autonomia

para rodar e reduziu o tem-

po de carregamento das ba-

terias. O projeto, desenvolvi-

do na Faculdade de Engenha-

ria da Universidade Estadual

Paulista (Unesp) de Guaratin-

guetá, prevê ainda que, para

maior aproveitamento do sol,

os módulos podem ser incli-

nados em três posições: ho-

rizontal, inclinada para cima

ou para baixo. Em dias nubla-

dos, a estrutura, instalada na

parte de cima da cadeira, po-

derá ser removida. “Quando

o usuário não conseguir car-

regar as baterias pelo sis-

tema fotovoltaico, ele po-

derá carregar do modo

convencional”, diz o alu-

no Rafael Pimenta Mesqui-

ta, que desenvolveu o pro-

jeto durante dois anos,

orientado pelo profes-

sor Teófilo Miguel de

paulista. Ao final de 12 meses,o ciclo completo de floração darosa, foi registrado aumento deprodutividade de 23% na áreade cultivo irrigada com a águatratada com um conjunto deímãs fixos.A variedade de rosaescolhida,uma cultivar do Gru-po Flora Reijers, produtor deAndradas, em Minas Gerais, émuito sensível às mudanças cli-máticas, de qualidade da águae de concentração de nutrien-tes.Os pesquisadores ainda nãotêm explicação científica paraos resultados obtidos.Costa es-pera obter essa resposta com asua tese de doutorado. •

Energia solar na cadeira

Botão maior após tratamento com ímã

>USP terá centro para software livre

O Instituto de Matemática eEstatística (IME) da Universi-dade de São Paulo (USP) abri-gará a partir de 2008 um cen-tro dedicado exclusivamente apesquisa e desenvolvimento desoftware com código aberto. OCentro de Competência emSoftware Livre (CCSL) terá la-boratórios de pesquisa e um la-boratório de extensão, queprestará assessoria a empresas,pessoas físicas, órgãos públicose ONGs para uso, implanta-ção e desenvolvimento de pro-gramas. O CCSL reunirá pes-quisadores, alunos de pós-gra-duação e entusiastas do códigoaberto para troca de experiên-cias.O Departamento de Ciên-cia da Computação do IMEjá desenvolve programas paraaplicações como gerenciamen-to de bibliotecas e informatiza-ção de programas de saúde.Com o novo projeto, o CCSLcontribuirá com a indústria na-cional de informática e ajudaráa difundir as tecnologias livresentre os usuários. O prédio es-tá orçado em cerca de R$ 1,2milhão e será construído na Ci-dade Universitária em São Pau-lo com verbas da Financiado-ra de Estudos e Projetos (Finep)e da própria USP. •

>Prêmios decategoria

Depois da escolha de partici-pantes nas cinco regiões brasi-leiras, o Prêmio Finep 2006 nasua etapa nacional realizadaem dezembro, em Brasília, pre-miou os vencedores do ano emseis categorias.Promovido pelaFinanciadora de Estudos e Pro-jetos (Finep), do Ministério deCiência e Tecnologia (MCT),oprêmio teve os seguintes ganha-dores: Vinibrasil Vinho,de Per-

nambuco,na categoria Proces-so,por produzir vinhos de qua-lidade na região do São Fran-cisco,na cidade de Petrolina.Oproduto ganhador foi da em-presa Pele Nova,do Mato Gros-so do Sul (veja Pesquisa FA-PESP no 88), um curativo bio-compatível.Na categoria Peque-na Empresa ganhou a empre-sa cearense Nuteral, produtorade suplementos alimentares(veja Pesquisa FAPESP nº 79) ea Grande Empresa, a Mectron,de São José dos Campos, emSão Paulo,por seus projetos nas

áreas espacial e de defesa. Avencedora nas categorias Insti-tuição de Ciência e Tecnologiae Inovação Social foi a Empre-sa Brasileira de Pesquisas Agro-pecuárias (Embrapa). Na pri-meira foi a unidade EmbrapaAlgodão, de Campina Grande,na Paraíba,pelo trabalho no se-mi-árido e a segunda a Embra-pa Milho e Sorgo, de Sete La-goas,Minas Gerais,pelo proje-to Barraginhas que instala pe-quenas barragens com água dachuva nos municípios paraamenizar os efeitos da seca. •

Módulos mudamde posição parareceber a luz solar

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realizado durante dois anoscom água tratada magneti-camente para irrigar as floresapresentou como resultadomelhor qualidade da plantaapós o corte e aumento de pro-dutividade. “Com a aplicaçãoda técnica, a roseira passou acrescer mais rapidamente, terhastes mais longas,botões e fo-lhas maiores, qualidades bas-tante apreciadas no produto”,diz Rogério Costa, que fez apesquisa como parte de suadissertação de mestrado orien-tada pelo professor Luiz Alber-to Jermolovicius, do Labora-tório de Microondas do Ins-tituto Mauá de Tecnologia, deSão Caetano do Sul, no ABC

Souza, coordenador do Cen-

tro de Energias Renováveis da

universidade, que tem como

objetivo desenvolver projetos

usando energias alternativas.

“O custo da montagem da ca-

deira projetada, com mão-de-

obra inclusa, fica em torno de

R$ 2.258,00, enquanto uma

cadeira de rodas movida a ba-

teria encontrada no mercado

custa cerca de R$ 5.750,00”,

comenta Souza. •

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