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Comunicação sobre projeto em andamento. PEIXES MARINHOS INVASORES E POTENCIALMENTE INVASORES DA COSTA DO BRASIL. Gondolo, G. F. 1 & Cunningham, P. T. M. 1 1. Introdução Invasões biológicas são um dos principais agentes de mudanças globais (Wonham, 2002) e espécies potencialmente invasoras têm uma pré-adaptação positiva a ambientes alterados pelo Homem (Sax & Brown, 2000). Há evidências que a resistência apresentada pelas espécies de peixes à invasões é maior quanto menor ação antrópica houver no ecossistema (Baltz & Moyle, 1993). O declínio da biodiversidade e os potenciais efeitos de mudanças do clima futuro podem incrementar a suscetibilidade dos ecossistemas a invasões (Manchester & Bullock, 2000). Ambientes estuarinos estão entre os ecossistemas mais alterados do mundo pela ação antrópica sendo que nesses locais ocorrem os maiores números de registros de invasões, principalmente em regiões temperadas (Moyle et. al. , 1999). Os motivos desses resultados são por serem as regiões onde há maior e mais longa influência do homem e maior quantidades de estudos realizados, comparando-se com as regiões estuarinas tropicais. Espécies de peixes invasoras têm causado grandes problemas ecológicos e econômicos em diversos ecossistemas de águas continentais no mundo (Rosecchi et. al. , 2001). Já no ambiente marinho, danos causados pelas espécies invasoras parecem ser bem menores, bem como o número de espécies. A introdução de espécies exóticas, no entanto, foi identificada como a maior ameaça à diversidade em ecossistemas marinhos (Bax et. al. , 2001). Considerando-se a extensa costa brasileira e o transito marítimo cada vez mais intenso bem como os possíveis impactos sobre a biodiversidade, considerou-se oportuno o desenvolvimento deste trabalho. Os objetivos principais deste estudo são: levantar informações sobre espécies de peixes invasoras e potencialmente invasoras ao longo da costa brasileira. 2. Metodologia Para o levantamento das informações de espécies de peixes invasoras e potencialmente invasoras da costa brasileira, foram feitas pesquisas bibliográficas bem como contatos por meio de comunicação pessoal, telefônica e eletrônica (e-mail), com pesquisadores que, de alguma forma, trabalham com peixes marinhos, mergulhadores, assim como contatos com a Sociedade Brasileira de Ictiologia, IBAMA e importadoras de peixes ornamentais. As pesquisas bibliográficas foram efetuadas através de bases de dados eletrônicas, como Web of Science, Publicações da IUNEP, Fishbase, FAO e outros bancos de dados com publicações (ou só os resumos) científicas como Portal da Pesquisa, Sibi e Google. Também foram pesquisados artigos científicos, não disponíveis eletronicamente, publicações regulares e não indexadas como revistas de aquarismo. Para as pesquisas bibliográficas efetuadas pelo computador foram utilizadas diversas palavras-chaves, tanto em português como inglês, no singular e no plural, combinadas de diversas formas, para que todos os artigos possivelmente relevantes para este levantamento fossem passíveis de serem encontrados. 3. Resultados e discussão Foram registradas até o momento duas espécies de peixes marinhos invasoras no litoral brasileiro, sendo elas Omobranchus punctatus , Blenniidae e Acanthurus monroviae, Acanthuridae, ambas da ordem dos Perciformes. Os registros para O. punctatus, foram publicados em resumos de congresso durante o XVI Encontro Brasileiro de Ictiologia realizado em João Pessoa/PB em Janeiro de 2005. Esta espécie é originalmente descrita para a região Indo-Pacifica e foi registrada como invasora, com populações estabelecidas, na baía da Babitonga – Santa Catarina (Gerhardinger et al. , 2005), com exemplares coletados entre julho e agosto de 2004, e na baía de Todos os Santos – Bahia (Mendonça et al. , 2005), sendo que os indivíduos foram coletados em agosto de 2002. Os autores dos trabalhos de 2005 propõem que o mediador para a invasão desta espécie seja água de lastro de navios. Avaliando-se a data destas publicações é possível 1 Instituto Oceanográfico – USP. [email protected]

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Page 1: g65 Peixes Marinhos Invasores e Potencialmente Invasores ... · Espécies de peixes invasoras têm causado grandes problemas ecológicos e ... pois no Brasil não há lista de nomes

Comunicação sobre projeto em andamento.

PEIXES MARINHOS INVASORES E POTENCIALMENTE INVASORES DA COSTA DO BRASIL.

Gondolo, G. F.1 & Cunningham, P. T. M.1

1. Introdução

Invasões biológicas são um dos principais agentes de mudanças globais (Wonham, 2002) e espécies potencialmente invasoras têm uma pré-adaptação positiva a ambientes alterados pelo Homem (Sax & Brown, 2000). Há evidências que a resistência apresentada pelas espécies de peixes à invasões é maior quanto menor ação antrópica houver no ecossistema (Baltz & Moyle, 1993). O declínio da biodiversidade e os potenciais efeitos de mudanças do clima futuro podem incrementar a suscetibilidade dos ecossistemas a invasões (Manchester & Bullock, 2000).

Ambientes estuarinos estão entre os ecossistemas mais alterados do mundo pela ação antrópica sendo que nesses locais ocorrem os maiores números de registros de invasões, principalmente em regiões temperadas (Moyle et. al., 1999). Os motivos desses resultados são por serem as regiões onde há maior e mais longa influência do homem e maior quantidades de estudos realizados, comparando-se com as regiões estuarinas tropicais.

Espécies de peixes invasoras têm causado grandes problemas ecológicos e econômicos em diversos ecossistemas de águas continentais no mundo (Rosecchi et. al., 2001). Já no ambiente marinho, danos causados pelas espécies invasoras parecem ser bem menores, bem como o número de espécies. A introdução de espécies exóticas, no entanto, foi identificada como a maior ameaça à diversidade em ecossistemas marinhos (Bax et. al., 2001). Considerando-se a extensa costa brasileira e o transito marítimo cada vez mais intenso bem como os possíveis impactos sobre a biodiversidade, considerou-se oportuno o desenvolvimento deste trabalho. Os objetivos principais deste estudo são: levantar informações sobre espécies de peixes invasoras e potencialmente invasoras ao longo da costa brasileira.

2. Metodologia

Para o levantamento das informações de espécies de peixes invasoras e potencialmente invasoras da costa brasileira, foram feitas pesquisas bibliográficas bem como contatos por meio de comunicação pessoal, telefônica e eletrônica (e-mail), com pesquisadores que, de alguma forma, trabalham com peixes marinhos, mergulhadores, assim como contatos com a Sociedade Brasileira de Ictiologia, IBAMA e importadoras de peixes ornamentais.

As pesquisas bibliográficas foram efetuadas através de bases de dados eletrônicas, como Web of Science, Publicações da IUNEP, Fishbase, FAO e outros bancos de dados com publicações (ou só os resumos) científicas como Portal da Pesquisa, Sibi e Google. Também foram pesquisados artigos científicos, não disponíveis eletronicamente, publicações regulares e não indexadas como revistas de aquarismo. Para as pesquisas bibliográficas efetuadas pelo computador foram utilizadas diversas palavras-chaves, tanto em português como inglês, no singular e no plural, combinadas de diversas formas, para que todos os artigos possivelmente relevantes para este levantamento fossem passíveis de serem encontrados.

3. Resultados e discussão

Foram registradas até o momento duas espécies de peixes marinhos invasoras no litoral brasileiro, sendo elas Omobranchus punctatus, Blenniidae e Acanthurus monroviae, Acanthuridae, ambas da ordem dos Perciformes.

Os registros para O. punctatus, foram publicados em resumos de congresso durante o XVI Encontro Brasileiro de Ictiologia realizado em João Pessoa/PB em Janeiro de 2005. Esta espécie é originalmente descrita para a região Indo-Pacifica e foi registrada como invasora, com populações estabelecidas, na baía da Babitonga – Santa Catarina (Gerhardinger et al., 2005), com exemplares coletados entre julho e agosto de 2004, e na baía de Todos os Santos – Bahia (Mendonça et al., 2005), sendo que os indivíduos foram coletados em agosto de 2002. Os autores dos trabalhos de 2005 propõem que o mediador para a invasão desta espécie seja água de lastro de navios. Avaliando-se a data destas publicações é possível

1 Instituto Oceanográfico – USP. [email protected]

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verificar o quão novo é o tema de espécies introduzidas no ambiente marinho brasileiro, pois um dos artigos se refere a esta invasão como o primeiro registro de uma espécie exótica de peixe marinho em águas brasileiras. Para está espécie existem registros de invasões em Israel, Venezuela e Trinidad Tobago (Williams, 2005).

O registro mais antigo, em documentos escritos, sobre ocorrência de peixes exóticos em águas marinhas brasileira parece ser de Moura (2000) a respeito de A. monroviae. O documento de Moura (2000) é também citado no Catalogo de Espécies de Peixes Marinhos do Brasil (Moura & Menezes, 2003). Luiz-Júnior et al. (2004) fizeram o registro de A. monroviae para o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos/SP cuja ocorrência original é da costa Oeste Africana. A hipótese levantada pelos autores é que, os indivíduos vistos e fotografados em junho de 2002, cruzaram de alguma forma o Oceano Atlântico.

Há outros dois registros de possíveis espécies exóticas invasoras, mas fundamentados apenas em comunicação pessoal e ainda aguardam uma maior verificação, pois ainda não há publicações das mesmas. Butis koilomatodon, Eleotridae, estaria ocorrendo de Santa Catarina até o Pará, porém até a data, não foi possível um registro mais concreto sobre a possível invasão. A outra espécie Pterois volitans, Scorpaenidae, também aguarda confirmação de seu status, pois foi feita uma comunicação pessoal, relatando que um instrutor de mergulho teria visto um indivíduo de P. volitans, em águas brasileiras. Ambas espécies possuem históricos de invasões na Nigéria (Froese & Pauly, 2005) e na Costa Atlântica dos Estados Unidos da América (Whitfield et al., 2002) respectivamente.

Moyle et.al. (1999), em seu trabalho, relatam que os estuários são um dos principais locais invadidos por espécies exóticas, não especificando o táxon, e exaltam que este fato ocorre principalmente nas regiões temperadas, e que esse episódio pode ser devido a maior ação humana naqueles ambientes. Outro motivo alegado pelos autores é devido à maior quantidade de estudos realizados nas regiões temperadas, quando comparadas com os de outros ambientes tropicais.

Foram solicitadas ao IBAMA listas de espécies de peixes marinhos possivelmente invasores, e lista de espécies de peixes marinhos importados para diversos fins, como aquariofilia e empregadas na piscicultura, e até a data a solicitação não foi atendida. Outros contatos foram feitos com os principais estabelecimentos responsáveis pela importação de peixes ornamentais da cidade de São Paulo, que por sua vez fazem o papel de distribuidores, não só para o próprio estado de São Paulo, mas, também para outras cidades do país. Houve resposta por parte de alguns estabelecimentos ligados à importação o que tornou possível gerar uma lista com pelo menos 204 espécies de peixes importadas. É preciso, no entanto, salientar que não são informações totalmente confiáveis, já que foram verificados erros de diversas formas. Dentre as principais imprecisões constatadas nas listas estão: nomes científicos diferentes correspondendo a um único nome vulgar (ex. três espécies distintas, mas com mesmo nome vulgar), um nome cientifico correspondendo a vários nomes vulgares; grafia errada do nome das espécies como uma simples troca de letras; entre outros. Uma das listas fornecidas por uma das importadoras era composta exclusivamente pelos nomes populares dos peixes marinhos importados e assim esta se tornou inútil, pois não há como resgatar, com confiança, quais os nomes corretos das espécies, pois no Brasil não há lista de nomes populares oficiais de peixes e estes nomes populares muitas vezes são usados apenas no mercado de aquariofilia regional. Outras importadoras não enviaram as listas contendo o nome dos peixes que comercializam. Pode-se supor que a ausência de retorno das informações possa se dever talvez a um temor da importadora de ser punida por estar cometendo alguma forma de irregularidade ou que o uso das informações fornecidas acarretará em algum tipo de prejuízo para a empresa.

O estudo de espécies marinhas introduzidas é muito recente, principalmente no que se refere ao grupo dos peixes marinhos. O que pode-se constatar até a data é que, mesmo em âmbito mundial, onde há incentivos políticos e financeiros para áreas de pesquisas sobre temas como o impacto das espécies exóticas invasoras, há poucos trabalhos publicados e literatura cientifica referente a esse tema. A situação neste tema mundialmente quanto no Brasil é similar, havendo uma pequena ocorrência no tocante à quantidade de espécies exóticas de peixes marinhos que efetivamente invadiram outros locais.

4. Referencias bibliográficas

1. BALTZ, D. M. & MOYLE, P. B. 1993. Invasion Resistance to Introduced Species by a Native Assemblage of California Stream Fishes. Ecological Applications, 3(2):246-255.

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2. BAX, N.; CARLTON, J. T.; MATHEWS-AMOS, A.; HAEDRICH, R. L.; HOWARTH, F. G.; PURCELL, J. E. & GARY, A. 2001. The Control of Biological Invasions in the World´s Oceans. Conservation Bioogy, 15(5):1234-1246.

3. FROESE, R. & PAULY, D. 2005. Butis koilomatodon. Editors. 2005.FishBase. World Wide Web electronic publication. www.fishbase.org, version (06/2005).

4. GERHARDINGER, L. C.; FREITAS, M.O. & ANDRADE, A. B. 2005. Ocorrência de Omobranchus punctatus (Osteichthyes: Blennidae) em águas brasileiras: provável invasão mediada por navios. XVI Encontro Brasileiro de Ictiologia – João Pessoa/PB, 24 a 28 de Janeiro de 2005. Resumos, pg. 114.

5. LUIZ-JÚNIOR, O. J.; FLOETER, S. R.; GASPARINI, J. L.; FERREIRA, C. E. L. & WIRTZ, P. 2004. The occurrence of Acanthurus monroviae (Perciformes: Acanthuridae) in the south-western Atlantic, with comments on other eastern Atlantic reef fishes occurring in Brazil. Journal of Fish Biology 65, 1173-1179.

6. MANCHESTER, S. J. & BULLOCK, J. M. 2000. The Impacts of Non-Native Species on UK Biodiversity and the Effectiveness of Control. The Journal of Applied Ecology, 37(5):845-864.

7. MENDONÇA, H. S.; NUNAN, G. W.; SANTOS, S. R.; BANDEIRA, W. D. & SANTOS, A. C. 2005. Ocorrência de Omobranchus punctatus (Valenciennes, 1836) (Teleostei, Blenniidae) na Baia de Todos os Santos, Bahia: primeiro registro da invasão de uma espécie exótica de peixe marinho em águas brasileiras. XVI Encontro Brasileiro de Ictiologia – João Pessoa/PB, 24 a 28 de Janeiro de 2005. Resumos, pg. 69.

8. MOURA, R. L. & MENEZES N. A. 2003. Família Acanthuridae. In: MENEZES, N. A.; BUCKUP, P. A.; FIGUEIREDO, J. L. & MOURA, R. L. EDITORES. 2003. Catálogo das Espécies de Peixes Marinhos do Brasil. Museo da Universidade de São Paulo. 160p.

9. MOURA, R. L. 2000. Non-indigenous reef fishes in southwesern Atlantic. IN: International Coral reef Symposium, 9:288.

10. MOYLE, P. B.; SANDLUND, O. T.; SHEI, P. J. & VIKEN, A. 1999. Invasive species and biodiversity management. Based on papers presented at the Norway United Nations UN Conference on Alien Species, 2nd Thondheim Conference on Biodversity, Thondheim, Norway, 1-5 July-1996. p.177-191.

11. ROSECCHI, E.; THOMAS, F. & CRIVELLI, A.. J. 2001. Can life-history traits predict the fate of introduced species? A case of study on two cyprinid fish in southern France. Freswat-Biol, 46(6):845-853.

12. SAPOTA, M. R. 2004. The round goby (Neogobius melanostomus) in the Gulf of Gdansk – a species introduction into the Baltic Sea. Hydrobiologia, 514:219-224.

13. SAX, D. F. & BROWN, J. H. 2000. The Paradox of invasion. Global Ecology and Biogeography, 9(5):363-371.

14. TOWNSEND, C. R. 1996. Invasion biology and ecological impacts of brown trout Salmo trutta in New Zealand. Biol-Conserv, 78(1-2):13-22.

15. WHITFIELD, P. E.; GARDENER, T.; VIVES, S. P.; GILLIGAN, M. R.; COURTENAY JR, W. R.; RAY, G. C & HARE, J. A. 2002. Biological invasion of the Indo-Pacific lionfish Pterois volitans along the Atlantic Coast of North America. Mar Ecol Prog Ser, 235:289-297.

16. WILLIAMS, J. T. 2005. Omobranchus punctatus. In FROESE, R. & PAULY, D. Editors. 2005.FishBase. World Wide Web electronic publication. www.fishbase.org, version (06/2005).

17. WOLFF, W. J. 2000. Causes of Extirpations in the Wadden Sea, an Estuarine area in The Netherlands. Conservation Biology, 14(3):876-885.

18. WONHAM, M. J. 2002. Ecology and management of marine biological invasions: distribution and environmental constraints in Mitylus galloprovinciailis. Diss-Abst-Int-Pt-B-Sci-and-Eng. 62(12):5498.