futuros cenários para o brasil

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Page 1: Futuros cenários para o brasil

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FUTUROS CENÁRIOS PARA O BRASIL

Fernando Alcoforado*

Para serem construídos os cenários futuros para o Brasil, é preciso avaliar as tendências

de evolução do: 1) sistema político-institucional do país; 2) sistema de administração

pública do Estado brasileiro; 3) sistema econômico do país; 4) sistema capitalista

mundial; e, 5) sistema social do país. Para cada um desses sistemas, devem ser

considerados os cenários de referência, conservadores, que contemplam a manutenção

do “status quo” e os cenários alternativos que contemplam a mudança para melhor em

relação à situação atual.

Cenários do sistema político-institucional do Brasil

O Brasil se defronta no momento atual com uma profunda crise política que já lançou o

País no caos da ingovernabilidade total e da violência e ameaça gerar retrocesso

político-institucional para manter a ordem. A crise política que abala o Brasil resulta da

falência do modelo político aprovado na Constituinte de 1988 que está configurada no

fato do presidencialismo em vigor ter fracassado totalmente e ser gerador de crises

políticas e institucionais, o sistema político do País estar contaminado pela corrupção, a

democracia representativa no Brasil manifestar sinais claros de esgotamento não apenas

pelos escândalos de corrupção nos poderes da República, mas, sobretudo, ao

desestimular a participação popular nas decisões do governo, reduzindo a atividade

política a meros processos eleitorais que se repetem periodicamente em que o povo

elege seus representantes os quais, com poucas exceções, após as eleições passam a

defender interesses de grupos econômicos em contraposição aos interesses daqueles que

os elegeram.

O cenário de referência para o sistema político-institucional do país significaria a

manutenção do modelo atual que teria como consequência o estabelecimento do

divórcio cada vez maior entre o Estado brasileiro e a Sociedade Civil colocando em

xeque a governabilidade no Brasil. A deterioração do sistema econômico do país com a

consequente falência de empresas, crescimento do desemprego e a queda na arrecadação

do governo que inviabiliza o atendimento das demandas sociais pode levar o país a uma

convulsão social sem precedentes. O cenário alternativo é aquele que contempla a

realização de mudanças no sistema político-institucional do país que deveria ocorrer

com a celebração de novo contrato social no Brasil com convocação de uma nova

Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva para reordenar a vida nacional em novas

bases. A nova Constituinte deliberaria sobre a implantação de um novo sistema político

no Brasil que consideraria a substituição do inviável presidencialismo atual pelo

parlamentarismo, a substituição do regime bicameral pelo unicameral com o fim do

Senado, a redução do número de parlamentares e partidos, a institucionalização do

controle social dos eleitos pelo povo que deveria dispor de instrumentos para dar início

a processos de cassação de mandatos quando houver o não cumprimento de promessas

de campanha eleitoral pelos candidatos e a participação da população nas decisões do

governo através de plebiscito e/ou referendo, entre outras medidas. Após a Constituinte,

seriam realizadas eleições gerais em todo Brasil com base na nova ordem

constitucional.

Cenários do sistema de administração pública do Estado brasileiro

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A crise de gestão no Brasil resulta da falência do modelo de administração pública

existente no Brasil. A falência do modelo de administração pública no Brasil se

configura no fato de o Estado brasileiro ser ineficiente e ineficaz devido, entre outros

fatores, à falta de integração dos governos federal, estadual e municipal na promoção do

desenvolvimento nacional, regional e local. Esta é uma das principais causas do

descalabro administrativo do setor público no Brasil gerador de desperdícios, atrasos na

execução de obras e corrupção desenfreada. A falta de integração das diversas

instâncias do Estado brasileiro é, portanto, total, fazendo com que a ação do poder

público se torne caótica no seu conjunto, gerando, em consequência, deseconomias de

toda ordem.

O cenário de referência para o sistema de administração pública do país significaria a

manutenção do modelo atual de gestão ineficiente e ineficaz. O cenário alternativo é

aquele que contempla a realização de mudanças no sistema de administração pública do

país que implicaria em realizar a reforma do Estado e da Administração Pública a fim

de que o Estado brasileiro realize com eficiência e eficácia suas atribuições

constitucionais e reduza os seus custos de operação para minimizar a carga tributária

sobre os contribuintes. Só assim será possível corrigir as distorções atuais para eliminar

os desperdícios e diminuir os gastos públicos para reduzir a carga tributária em

benefício de empresas e trabalhadores. A capacidade futura do Estado brasileiro de

investir na expansão da economia e executar programas na área social depende, em

grande medida, da reestruturação administrativa que seja nele processada. Grande parte

da ineficiência e ineficácia do Estado no Brasil resulta da falta de integração dos

governos federal, estadual e municipal na promoção do desenvolvimento nacional.

Associe-se a este fato, a existência de estruturas organizacionais inadequadas em cada

um dos níveis federal, estadual e municipal que inviabilizam o esforço integrativo

nessas instâncias de governo. A reforma do Estado e da administração pública do Brasil

seria uma das tarefas da nova Assembleia Nacional Constituinte.

Cenários do sistema econômico do país

A gigantesca crise econômica em que se defronta o Brasil no momento resulta da

falência do modelo econômico neoliberal e antinacional. Este modelo faliu no Brasil

depois de provocar uma verdadeira devastação na economia brasileira de 1990 a 2014

configurada no crescimento econômico pífio, no descontrole da inflação, nos gargalos

existentes na infraestrutura econômica e social, na desindustrialização da economia

brasileira, na explosão da dívida pública e na desnacionalização da economia brasileira.

Na tentativa de superar a crise econômica, o governo Michel Temer decidiu adotar uma

política econômica que está se traduzindo no aprofundamento da recessão da economia,

no aumento da dívida pública, no desequilíbrio das contas externas, na quebradeira

generalizada de empresas e também no desemprego em massa.

O cenário de referência para o sistema econômico do país significaria a manutenção do

modelo neoliberal que levaria o Brasil à bancarrota econômica, a uma crise política de

grandes proporções e à convulsão social. O cenário alternativo é aquele que considera a

realização de mudanças no sistema econômico contemplando o abandono do modelo

econômico neoliberal e a adoção do modelo nacional desenvolvimentista em que o

Estado brasileiro teria papel ativo elaborando planos econômicos que contribuam para a

retomada do desenvolvimento do Brasil com a adoção de medidas imediatas que levem,

de um lado, ao aumento da arrecadação pública com a: 1) taxação das grandes fortunas

com patrimônio superior a 1 bilhão de reais que poderia render aproximadamente 100

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bilhões de reais por ano; e, 2) aumento do imposto sobre os bancos e, de outro, a

diminuição dos gastos do governo com a: 1) redução drástica do número de ministérios

e órgãos públicos e dos dispêndios em todos os níveis do governo; e, 2) redução

drástica da taxa de juros básica da economia (Selic) para diminuir o tamanho da dívida

pública e os encargos com o pagamento dos juros e a amortização da dívida pública.

Para incentivar o investimento privado, o governo brasileiro precisa: 1) promover

programa de utilização da capacidade ociosa/ expansão da atividade produtiva nos

setores primário, secundário e terciário; 2) promover programa de investimento em

infraestrutura econômica e social (R$ 2 trilhões) para reduzir, sobretudo o custo da

logística de energia e transporte; 3) promover amplo programa de exportações,

sobretudo do agronegócio e do setor mineral; 4) reduzir drasticamente as taxas de juros

bancárias para incentivar o consumo das famílias e o investimento pelas empresas; 5)

reduzir a carga tributária com a queda dos encargos com o pagamento de juros e

amortização da dívida pública e a racionalização da estrutura administrativa do governo;

6) reduzir o custo de energia e transporte com a melhoria da infraestrutura econômica;

e, 7) implantar o câmbio fixo em substituição ao câmbio flutuante para incentivar as

exportações. Adicionalmente, o governo brasileiro deveria adotar medidas para reduzir

a vulnerabilidade externa do Brasil com o controle de capitais que deve ser realizado

com a tributação sobre a entrada de capital estrangeiro exigindo que determinada

porcentagem do investimento estrangeiro fique retida em reserva por determinado

número de dias junto ao Banco Central para limitar a volatilidade dos fluxos de capitais.

Cenários do sistema capitalista mundial

A chegada de Donald Trump à Casa Branca pode provocar mudanças significativas em

relação ao futuro dos Estados Unidos e do mundo. Diante do discurso de posse e das

promessas de campanha de Trump, pode-se descortinar os cenários econômicos

mundiais seguintes: 1) avanço do protecionismo nos Estados Unidos e, como

contrapartida, no mundo; 2) fim da globalização do sistema produtivo e do livre

comércio; e, 3) deterioração das relações econômicas entre os Estados Unidos e a

China.

O cenário 1 de avanço do protecionismo nos Estados Unidos a ser adotado pelo governo

Trump com o objetivo de defender as empresas e os empregos norte-americanos fará

com que o mesmo ocorra, também, no mundo como contrapartida. Isto significa dizer

que o cenário 2 de fim da globalização do sistema produtivo se materializará com o fim

da liberdade de comércio que impedirá as empresas americanas se instalarem a seu

critério em países onde auferem maiores lucros. O cenário 3 de deterioração das

relações econômicas com a China reside no fato de ela ser acusada por Trump de

“roubar” empresas e empregos dos Estados Unidos.

O protecionismo a ser adotado pelo governo Trump para proteger as empresas

americanas pode ser problemática para a penetração das exportações do Brasil para os

Estados Unidos. O fim da globalização do sistema produtivo e da liberdade de comércio

que se vislumbra com o governo Trump pode ser, também, um obstáculo para o Brasil

atrair investimento direto estrangeiro dos Estados Unidos. A deterioração das relações

dos Estados Unidos com a China pode afetar o crescimento deste país trazendo graves

consequências para a economia mundial.

Page 4: Futuros cenários para o brasil

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O cenário de referência do sistema capitalista mundial é aquele que significa a

manutenção do “status quo” enquanto o cenário alternativo é o que resultará das

medidas adotadas pelo governo Trump. Muito provavelmente, o Brasil seria afetado

negativamente com o cenário alternativo para o sistema capitalista mundial. O discurso

de posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos é a expressão do fracasso

da globalização neoliberal no mundo. Os fatos da realidade demonstram que são poucos

os que ganham com a globalização neoliberal, entre os quais, estão o sistema financeiro

globalizado que aufere lucros astronômicos graças à ausência de regulamentação

econômica e financeira global, as empresas multinacionais e poucos países periféricos

como China, Índia, Coreia do Sul e outros países asiáticos que conseguem atrair

investimentos estrangeiros graças à mão de obra barata e legislação nacional favorável.

Em contrapartida, perdem com a globalização neoliberal os países capitalistas centrais

(Estados Unidos, União Europeia e Japão) e outros países periféricos, como o Brasil,

que enfrentam problemas de desindustrialização, aumento do desemprego, estagnação

econômica e endividamento público crescente. Diante dessas circunstâncias, o Brasil

deveria adotar modelo nacional desenvolvimentista com inserção limitada na economia

mundial privilegiando o mercado interno.

Cenários do sistema social do Brasil

Os cenários do sistema social do Brasil são dependentes dos cenários de referência ou

alternativo dos sistemas político-institucional, de administração pública e econômico do

país e do sistema capitalista mundial. Da combinação desses cenários podem resultar

cenários do sistema social que contribuam para a paz social, para o retrocesso social ou

para a revolução social. Esses cenários resultantes dependerão da capacidade dos

movimentos sociais de alcançarem os resultados pretendidos.

Conclusões

O Brasil vive momentos decisivos em sua história. É preciso mudar o falido sistema

político-institucional, o ineficiente e ineficaz sistema de administração pública e o falido

sistema econômico neoliberal para promover a caminhada do Brasil rumo ao progresso

econômico e social. O futuro do Brasil está nas mãos do povo brasileiro.

*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em

Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor

universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento

regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São

Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,

1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do

desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de

Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento

(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos

Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the

Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller

Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe

Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e

combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011),

Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012),

Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV,

Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo

(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail:

[email protected].