fundos independentes e cooperação internacional para o ... · mestre em estudos do...

68
Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (debate) São Paulo, 19 e 20 de julho de 2011

Upload: lynhi

Post on 11-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (debate)

São Paulo, 19 e 20 de julho de 2011

Page 2: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

2

Índice

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................................ 3

SIGLÁRIO ...................................................................................................................................................................... 4

PROGRAMAÇÃO ........................................................................................................................................................... 5

ABERTURA .................................................................................................................................................................... 7

OS FUNDOS INDEPENDENTES E O MARCO REGULATÓRIO ............................................................................................. 7

PLATAFORMA NOVO MARCO REGULATÓRIO PARA AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE ............................................... 18

AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO – RUMO A BUSAN ......................................................................................................................................................................... 30

Mesa 1- A Cooperação Internacional no Brasil e América Latina - conceitos, critérios, tendências globais e

regionais ........................................................................................................................................................ 30

Mesa 2 - O Brasil doador: contexto, diretriz políticas e temáticas e desafios .............................................. 44

RECOMENDAÇÕES/INQUIETAÇÕES .............................................................................................................................. 59

MATERIAIS DE CONSULTA ............................................................................................................................................ 63

Page 3: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

3

Apresentação

Este documento registra o debate promovido pela Associação Brasileira de Organizações Não governamentais (Abong) e Diálogo D31, realizado entre 19 e 20 de julho, em São Paulo, capital. Durante os dois dias de evento participaram 46 entidades, sendo 8 associadas à Abong. A intenção deste relato é complementar a confecção de futuros materiais no sentido de dar continuidade ao debate sobre Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. Local: Auditório da Ação Educativa, Rua General Jardim, 660, em São Paulo, Brasil Realização: Abong e Articulação D3 Apoio: Articulação D3 Inscrições: [email protected] Legenda Verde: inclusão/referências outros docs Azul: recomendações/ inquietações

1 D3 – Diálogo, Direitos e Democracia é uma articulação de organizações não governamentais internacionais, institutos e fundações

privadas nacionais, agências de cooperação internacional bilaterais e multilaterais com atuação nas regiões Norte e Nordeste do

Brasil. A D3 originou-se de um diálogo ocorrido entre esse conjunto de instituições durante o Seminário Sustentabilidade e

Mobilização de Recursos para as OSCs – Uma Visão Político-Estratégica para o Desenvolvimento do Nordeste, ocorrido em outubro

de 2009, no Recife (PE).

Page 4: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

4

Siglário

AL – América Latina OECD – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OF – Open Forum OS – Organizações Sociais OSCs – Organizações da Sociedade Civil SC – Sociedade Civil SGPR – Secretaria Geral da Presidência da República MR – Marco Regulatório D3 – Diálogo, Direitos e Democracia TS – Terceiro Setor CI – Cooperação Internacional DH – Direitos Humanos ISP – Investidor Social Privado FIC – Fundações e Associações Familiares, Independentes e Comunitárias FIP – Fórum Internacional de Plataformas Nacionais de ONGs FSM – Fórum Social Mundial Fundos FP – Fundo Patrimonial FI – Fundos Independentes FP – Fundos Públicos FR – Fundos de Reservas FC – Fundos de Contingência FRe – Fundos Recisório

Page 5: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

5

Programação

19 de julho Das 9h30 às 13h Os Fundos Independentes e o Marco Regulatório Debate proposto e conduzido por Fundos Independentes que discutem políticas e mecanismos de apoio a organizações sociais. - Apresentações individuais (origem e funcionamento de cada Fundo) - Apresentação Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), Abong e D3: o papel dos Fundos Das 13h às 14h30 – Almoço Plataforma Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Debate: conexões Fundos e a Plataforma e encaminhamentos de continuidade da ação MR - Apresentação Vera Masagão

20 de julho Das 9h30 às 13h As Organizações da Sociedade Civil e a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – rumo a Busan Este debate é parte de um amplo processo de consulta internacional sobre a efetividade da atuação das organizações da sociedade civil e da ajuda para o desenvolvimento praticada pela cooperação internacional. A consulta brasileira possibilitará fortalecer a incidência da sociedade civil no IV Fórum de Alto Nível sobre Efetividade da Assistência ao Desenvolvimento, que acontecerá em Busan, Coréia do Sul, em novembro de 2011.

Mesa 1 - A Cooperação Internacional no Brasil e América Latina - conceitos, critérios, tendências globais e regionais Convidados:

Page 6: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

6

Sergio Haddad - educador e economista, com doutorado em Sociologia da Educação. É coordenador de projetos estratégicos da Ação Educativa e presidente do Fundo Brasil de Diretos Humanos. Ivo Lesbaupin - doutor em Sociologia pela Université de Toulouse-Le-Mirail e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É secretário executivo do ISER Assessoria - Religião, Cidadania e Democracia e integra a diretoria executiva da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) Debate – Foco na análise avaliativa e propositiva quanto ao processo e temas críticos para o Brasil Textos referência - Tendencias globales de la Cooperación. Relatorio RoA 2010 (ESP): http://www.abong.org.br/final/download/textoFundosdois - Por otros caminos. Tendencias de la CID al 2010. Rubén Fernández (ESP): http://www.abong.org.br/final/download/textoFundostres - Mensagens chaves para o IV Foro de Alto Nível – Busan, BetterAid y Open Forum (ESP): http://www.abong.org.br/final/download/textofundosum.pdf

Das 13h às 14h30 – Almoço

14h30 às 17h Mesa 2 – O Brasil doador: contexto, diretrizes políticas e temáticas e desafios Convidada(o): Vera Maria Masagão Ribeiro - doutora em Educação pela Universidade Católica de São Paulo, integrante da coordenação executiva da ABONG – Associação Brasileira de ONGs e coordenadora de programas da Ação Educativa - Rui Mesquita - oficial de programas da Fundação W.K. Kelloggg para América Latina e Caribe e Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda Debate – Foco na análise avaliativa e propositiva em relação a política de cooperação internacional brasileira e indicação de diretrizes

Page 7: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

7

Abertura

Saudação Athayde Motta (Baobá - Fundo para a Equidade Racial) (mediador) Athayde saudou a presença dos participantes e a importância da iniciativa: “Este evento acontece dentro de uma agenda (regional e nacional) de discussões sobre Fundos independentes. A intenção é proporcionar um momento em que várias instituições, Fundos locais de desenvolvimento para agenda comum, para a partir daí construir junto com Abong e Gife, que têm papel fundamental nesse diálogo, a relação desses Fundos com a Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil”(Ler em Materiais de consulta) Explicou a dinâmica do dia e iniciou a roda de apresentação individual.

Dia 1 - Manhã

Os Fundos Independentes e o Marco Regulatório

- Apresentações individuais (origem e funcionamento de cada Fundo)

Athayde Motta: “Com sede em Recife (PE), o Fundo iniciou suas atividades em fevereiro deste ano. A concepção do nosso trabalho é arrecadar, gerir e doar com uma especificidade: temos um fundo patrimonial no valor de US$ 25 mil, oriundo da Fundação Kellogg. À medida que ela arrecada, libera (doa). Não é uma proposta nova de fundo, mas vamos acertando e errando.”

Madalena Guilhon (Fundo Social Elas): “O Fundo existe há dez anos. A sede é no Rio de Janeiro (RJ), tem uma equipe composta por sete pessoas e já doamos quase R$ 2 milhões para grupos informais; 17 até agora. Temos várias origens de recursos: Fundos mais temáticos ligados à rede internacionais de mulheres e fontes diferenciadas como governo federal, Fundação Ford e empresas.” - www.Fundosocialelas.org

Lúcia Dellagnelo (Instituto Comunitário da Grande Florianópolis): “Juridicamente somos uma associação, mas entendemos que atuamos como um fundo comunitário, uma fundação comunitária porque nossa base de atuação é no território, temos um conselho representativo, financiamos projetos e construímos nosso fundo patrimonial. Não nascemos de um FP e sim do ‘0’. Ao mesmo tempo em que investimos, guardamos 10% da arrecadação. Fomos nos construindo ao poucos com as comunidades e até fizemos intercâmbio com a Colômbia. Temos um histórico de demoramos na arrecadação porque

Page 8: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

8

não compreendiam nossa missão e acertamos em fazer um mapeamento das ONGs da região na comunidade.” - www.icomfloripa.org.br

Cecília Perlingeiro (Fundo Carioca): “É uma iniciativa da Brazil Foundation, eu nasceu a partir do interesse de brasileiros que moram nos EUA. O fundo não é totalmente independente. Ainda operamos na estrutura da BF. Nosso objetivo trabalhar com jovens, entre 14 e 24 anos, que estão concluindo o ensino médio, na obtenção de qualificação técnica e/ou profissionalizante e inserção no mercado de trabalho. Lançamos a pouco um edital para a primeira iniciativa do fundo. Queremos atuar na condição de ‘cariocas para cariocas’, mas ainda não conseguimos essa autonomia, de como mobilizar a própria comunidade.” - http://www.brazilfoundation.org/portugues/o-que-fazemos/Fundos.php

Renata Farias (advogada; atuou junto ao Idec, Abong, Cedeca Ceará): “Acompanho o assunto há anos e vi aqui para ouvir e aprender com vocês.”

Luiz Carlos Merege e Márcia Moussallem (Instituto de Administração para o Terceiro Setor - IATS): “Atuamos nas áreas de ensino, pesquisa, treinamento e assessoria às organizações do Terceiro Setor. No sentido de contribuir com a divulgação e transparência das ações organizações do Terceiro Setor, fizemos dois estudos. O primeiro estudo, Censo do Terceiro Setor do Estado do Pará – Região Metropolitana de Belém, foi realizado em fevereiro de 2005, com 2.180 organizações. O segundo, Censo do Terceiro Setor de São Bernardo do Campo, em agosto de 2009, com 830. A metodologia utilizada foi a de censo - base censitária para políticas públicas de TS - cruzando alguns indicadores, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para orientar os países membros na definição das contas macroeconômicas, divulgarem e poderem ser comparadas internacionalmente. Chama-se Manual das Instituições não Lucrativas no Sistema de Contas Nacionais. Segundo pesquisa de 1994, o Terceiro Setor atinge 3,5% do PIB em países desenvolvidos. Aqui no Brasil, em 1995, o dado era de 1,5% do PIB. Pretendemos lançar, no segundo semestre, um dicionário para o TS.” - www.iats.org.br (Pará - http://www.iats.org.br/upload/censo_para.pdf / São Bernardo do Campo (SP) - http://www.iats.org.br/upload/censo_sao_bernardo.pdf)

Pâmela Ribeiro (GIFE): “Sabemos da relevância, abrangência e diversidade do tema e queremos estimular criação de vários tipos de Fundos. Em 2011 temos a intenção de fortalecer as organizações individuais, comunitárias e independentes. Um das ações será a realização de um seminário de dois dias no final do ano. Para ajudar nas discussões também já lançamos o Censo GIFE 2009-2010 com mapeamento dos maiores investidores sociais privados do Brasil.”: http://www.gife.org.br/publicacao-censo-gife-20092010-disponivel-para-download-d23545a904f46c8b.asp

Page 9: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

9

Rodrigo Zavala (GIFE): “Acreditamos que um marco legal virá fortalecer o setor de Fundos comunitários e independentes.” - www.gife.org.br

Luciana (Instituto C&A): “Vim aqui para contribuir com a cobertura do evento” - www.institutocea.org.br

Renata Preturlan (Conectas): “A Conectas tem a missão de contribuir com a promoção para efetivação dos direitos humanos e consolidação do Estado Democrático de Direito. Atualmente, somos financiados na quase totalidade por fundações privadas internacionais e agências governamentais. Estamos iniciando um esforço de captação de recursos no Brasil; por isso, o tema do debate de hoje nos interessa bastante." - www.conectas.org

Raimundo de Oliveira (Escola Fundação Palmares/Abong): “Na linha da apresentação do Athayde, nós captamos, gerimos e executamos financiamento.”

Nilza Reis (Instituto Ágora): “Somos um instituto empresarial e também constituímos Fundo C&A para educação integral.”

Claudia Falsetti (Instituto Acor Brasil) - www.institutoarcor.org.b

Mário Aquino (FGV)

Janete Campos (Comissão Pró-Indio): “Trabalhamos também com quilombolas e vim aqui para ouvir.”

Paulo Padilha (Instituto Paulo Freire/Abong) - www.paulofreire.org

Ivo Lesbaupin (Iser/Diretoria executiva da Abong) - www.iser.org.br

Arnaldo Mota (Instituto Fonte): “Estamos muito ligados a questões do contexto, como marco regulatório e Fundos.” - http://institutofonte.org.br/

Gabriel Ligabue (Fundo Zona Leste Sustentável): “Criado em 2010 a partir da Fundação Tide Setúbal, atualmente caminha sozinho. Um dos eixos do nosso trabalho era criação de fundação comunitária na região, mas a articulação institucional era muito frágil na região.

Page 10: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

10

Pensamos, então, num fundo de desenvolvimento local em que ao mesmo tempo de investe no território, constrói uma articulação institucional da região (empresas, lideranças locais etc.) para criarmos fundo patrimonial. Hoje temos 12 projetos, sendo que em relação aos recursos 40% estão disponíveis para financiamento e 60% para o FP. Somos fundo independente e temos dois comitês: programático e financeiro.” - www.zlsustenta.org.br

Luara Lopes (Relações Internacionais, especialista em Cooperação Internacional)

Ruben Pecchio (Secretário Executivo da Aliança Interage): “Estimulamos o relacionamento inter setorial e desenvolvimento internacional. Surgimos para trabalhar com a região Nordeste do Brasil e coordenar a articulação Diálogo, Direitos e Democracia (D3). Queremos discutir com foco no MR, relacionamento entre empresas e organizações, pensar nova arquitetura de apoio às organizações.”

Silvio Santana e Silvia Pichioni (Grupo Esquel): “A questão do desenvolvimento sustentável e a regulação de financiamento é central para o Grupo que é uma rede de instituição de ONGs comprometidas com o DS na América Latina. Vários países participam e trabalhamos de forma independente Estamos trabalhando para a criação de um fundo solidário. Juridicamente somos fundação desde 1989 e temos um fundo patrimonial.” - www.esquel.org.b

Saul Cordeiro do Rosário (Educadores em Foco): “Somos uma entidade voltada aos professores no trabalho voltado à prevenção da saúde educacional. Levamos vários profissionais da saúde às escolas. Estamos em São Bernardo do Campo (Grande SP) e queremos expandir para São Paulo, interagindo com outras entidades que não somente sindicatos e empresas. Temos convênios com a Prefeitura por meio do atendimento às crianças.” - www.educadoremfoco.org.br

Maria Chiriano (Fundo Brasil de Direitos Humanos) - www.fundodireitoshumanos.org.br

Vera Masagão (Ação Educativa e Abong): “Defender um novo modelo de desenvolvimento baseado em modos de vida sustentáveis e democráticos, além dialogar com a cooperação internacional na perspectiva da construção de relações Norte/Sul, Sul/Norte e Sul/Sul, estão nos objetivos da Abong. Por isso, nossa luta por um MR é tão fundamental. E como acompanhamos o Fórum Aberto de Organizações da Sociedade Civil2 percebemos que os

2 Conhecido como Open Forum, é um espaço para as Organizações da Sociedade Civil (OSC) em todo o mundo para participarem de

um processo global e plenamente participativo para a definição e introdução de um quadro de princípios de eficácia mutúa o

desenvolvimento compartilhado. Conta com o apoio da Asociación Latinoamericana de Organizaciones de Promoción (ALOP). -

www.cso-effectiveness.org

Page 11: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

11

problemas semelhantes, como a sustentabilidade das ONGs na América Latina e na Europa também, que, além disso, está enfrentando uma crise financeira.” - www.abong.org.br

Ana Valéria Araújo (Fundo Brasil de Direitos Humanos): “O Fundo Brasil de Direitos Humanos, que nasceu em dezembro de 2005, é uma fundação de direito privado, 100% brasileira, que visa contribuir para a promoção dos direitos humanos no país, criando mecanismos sustentáveis de doação de recursos voltados para a promoção e a proteção dos direitos civis, econômicos, sociais, ambientais e culturais. Inicialmente tivemos apoio inicial da Fundação Ford para construirmos um pequeno fundo patrimonial. A fundação é um patrimônio a serviço de um objetivo: existimos para apoiar projeto da SC na área de DH (combate à violência e à discriminação, por exemplo), com mandato renovável e finito. Até agora apoiamos 130 projetos, movimentando cerca de R$ 2 milhões, e começamos a trabalhar a questão da captação local depois de dois anos de existência. Há dois anos tínhamos pouca identificação com as organizações porque a referência era outra; de doação para a SC. O fundo já tinha um característica pouca ‘usual’ na área dos DH sobretudo. Queríamos pensar Plataforma de ação conjunta com o grupo que o GIFE chama de Fundações e Associações Familiares, Independentes e Comunitárias (FICs). Não temos nenhum impedimento para receber financiamento de recursos público e privado desde que não sejam violadoras de DH.”

Hamilton Farias (Instituto Pólis): “Não é suficiente temos uma ‘cultura’ de captação, mas de uma política de captação com plano a curto, médio e longo prazos. Estamos na ‘origem’ da Abong, fizemos 24 anos, e estamos voltados para questões urbanas na construção de cidades justas, sustentáveis e democráticas, de fortalecimento da SC, das redes de consumo, dos pontos de cultura etc., e um trabalho sólido na área de formação em vários temas. A meu ver temos um desafio colocados atualmente que é a conjuntura da construção das ONGs. Estamos vivenciando um momento muito difícil e precisamos refletir para entender este cenário para longo prazo em qualquer sistema político desempenhando um papel de fortalecimento das iniciativas da SC.”

Renata Soares (advogada, especialista em captação, Fundos de governo): “Trabalho na Secretaria do Estado de Justiça onde desenvolvemos várias ações a partir do Convênio Combate cuja origem é de recursos apreendidos do tráfico. Até hoje foram R$ 2 milhões. Atuei também no trabalhou Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (Fumcad), em São Paulo.”

Arlete Dias (Rede Marista/Associação Paranaense de Cultura)

Page 12: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

12

Apresentação Abong, GIFE e D3: o papel dos Fundos ABONG Vera Masagão Recentemente a Abong lançou dois importantes estudos: 1) ONGs no Brasil - Perfil das associadas à Abong e 2) Sustentabilidade das ONGs no Brasil: acesso a recursos privados (mais qualitativo), revelando, naquele momento, que a Abong reconhecia a legitimação do recebimento de recursos públicos pelas ONGs. A parte fundante da Abong é de organizações que nasceram da ‘clandestinidade’, no período da ditadura brasileira, e que continuaram sua atuação no processo de redemocratização, buscando rumos independentes, mas com vínculo forte com a cooperação internacional. Foi uma opção da Abong e reconhecer a ‘história’, a relação das entidades com os recursos públicos. Inicialmente, as ONGs vivenciavam um discurso anti-estatal. A Abong, por sua vez, tem trabalhado com a concepção de que o Estado é garantidor de direitos, contribuindo para a aceitação de recursos públicos. Um dos estudos revelou uma abertura aos Fundos privados o que antes era uma ‘território meio proibido’: cerca de 43% das associadas acessam recursos privados e 78 instituições algum recurso internacional. Procuramos afirmar que a Cooperação Internacional é um legado, que este o campo é essencial para quem discute as questões ambientais, de DH, que são uma espécie de temas ‘sem território’, para dialogar a dimensão do acesso aos recursos públicos e privados. Ainda de acordo com o estudo, o percentual de ONGs que acessam recursos internacionais mantém o mesmo, mas a fatia diminuiu e o que tem crescido mais é o acesso aos recursos públicos, principalmente, os federais. Outro fator importante a considerar neste contexto é a criminalização da relação das ONGs com entes públicos. Na época da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs a Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que a corrupção estava instalada nos municípios por meio da relação com muitas ONGs. Temos que nos provocar a pensar qual é nossa agenda? Ainda de acordo com a pesquisa da Abong, nenhuma declarou condição de mudança na forma de metodologia de trabalho, apresentação da marca. Acessam Fundos empresariais sem visão estratégica, atuação por meio de editais, ações de curto prazo, sem percepção mais densa de construção de cidadania; atuam com recorte temático com temáticas mais conflitivas (racial, educação nos presídios, Direitos Humanos, Criança e Adolescente). O financiamento é condição de autonomia. Sinto que vivemos uma época em que a CI era como ‘berço esplêndido’, não a questionávamos muito. Creio que devamos pressionar a discussão da transparência nessa relação sem, obviamente abandonar essa opção, mas nos posicionarmos de maneira mais pró-ativa e crítica. GIFE Pâmela Ribeiro

Para relembrarmos um pouco a origem do GIFE: A partir da década de 80, cresce no Brasil a conscientização da necessidade de encontrar formas de parcerias entre o Estado e as organizações

Page 13: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

13

da sociedade civil na busca de soluções para as desigualdades sociais do país. Várias organizações de origem empresarial criaram em 1989, em São Paulo, um grupo de discussões sobre filantropia. Surgiu, então, um fundo social privado e o GIFE nasceu dele. Porém, ao longo dos anos – desde 1995 quando foi lançando –, a rede vem sendo diversificada abrigando fundações independentes, comunitárias, familiares; embora 80% ainda sejam de origem empresarial.

Rodrigo Zavala Inicialmente a atuação do Gife não era muito clara, mas sentiam que ali inteligência social e que deveriam começar a trabalhar diretamente com a comunidade, executando/acompanhando toda a cadeia produtiva, impactando o volume que saia do GIFE para as organizações. Por exemplo, não havia ainda muito investimentos em DH. Pâmela Ribeiro Por que consideramos importante fortalecer os Fundos independentes de empresas?

Um dos elementos fundamentais para a consolidação do investidor social privado é no Brasil é a ampliação de sua abrangência temática, ou seja, sua capacidade de atender à diversidade existente na própria sociedade civil. Neste sentido, é importante acompanhar o desenvolvimento de outros perfis de investidores, chamados pelo GIFE de FIC - Fundações e Associações Familiares, Independentes e Comunitárias, que representam atualmente 14% dos associados. O GIFE deve enxergar estas organizações de Fundos independentes porque fortalecem a comunidade. Além disso, focar na relevância, legitimidade e abrangência do ISP praticado. Estes são precisamente os três eixos da Visão 2020, construção feita com representantes da Rede GIFE que identificam como tendências gerais para o desenvolvimento do ISP nos próximos dez anos:

foco e impacto norteando o planejamento;

alianças e parcerias intra e intersetoriais;

diversificação dos modelos de organização do ISP.

Por que queremos diversificar?

O último censo realizado pelo GIFE, 2009-2010, confirmou a tendência apresentada nas edições anteriores:

que a maior parte dos investidores sociais privados tem origem corporativa – fundações, e associações empresariais (62%) e empresas (24%);

que as estratégias de ação social tendem a:

- concentrar-se mais em projetos próprios que em financiamento de projetos de terceiros;

Page 14: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

14

- apresentar predominância temática em certas áreas de atuação (educação, juventude, cultura) em detrimento de outras; - ter o foco temático e indicadores econômicos e sociais como preponderantes na definição de estratégias; - considerar um horizonte mais curto para o desenvolvimento de projetos.

O Censo foi realizado em um momento em que a Rede GIFE alcançava 134 associados3, com R$ 1,9 bilhão de investimentos em 2009 e uma projeção de R$ 2,02 bilhões para 2010, aplicados em diferentes áreas sociais, culturais e ambientais. 84 dos 102 respondentes – a maior taxa de adesão até hoje – desenvolvem ações que afetam cerca de 24 milhões de beneficiários diretos. As áreas prioritárias de investimento são: - Educação = 82% - Cultura, artes, formação para o trabalho4 = 60% - Meio ambiente = 58% Áreas temáticas como assistência social e esportes vêm crescendo, e outras, como defesa de direitos, apoio à gestão do Terceiro Setor e desenvolvimento comunitário tiveram queda variada entre 2007 e 2009. Descobrimos também que o investidor social privado não alterou substancialmente o montante de recursos alocados durante o período da crise financeira (outubro de 2008), inclusive no Brasil, no ano seguinte. Para 45% dos respondentes, a crise não resultou em qualquer alteração no orçamento planejado. Para 29%, houve ligeira redução e apenas para 18% houve uma redução drástica no montante originalmente destinado ao ISP. A maior parte das associadas está no eixo Rio-SP (22). É importante ressaltar que o fato de o associado estar presente no Estado não significa que ele distribua seus recursos da mesma forma entre estes. A obtenção de um dado confiável sobre a distribuição regional dos recursos investidos depende de um processo de consolidação de dados sobre o setor e um alinhamento sobre a metodologia de registro sobre a alocação de recursos. A situação das demais localidades é: Regiões Atuação nacional (todos os estados) = 20 Todas as regiões = 35 Apenas Sudeste = 22 Nordeste, Sudeste e Sul = 13 Nordeste e Sudeste = 6 Apenas Nordeste = 5 Sudeste e Sul = 4

3 Dado de setembro de 2010.

4 Formação para o trabalho cresceu 26% de 2007 para 2009.

Page 15: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

15

Apenas Sul = 3 Outras combinações = 14 Total = 102 O Censo também mostrou que há predominância da execução direta de projetos por parte dos investidores – em detrimento da doação a outras organizações: cerca de 20% dos recursos investidos pelos associados GIFE são destinados a doações e 60% dos recursos são aplicados em projetos próprios – sendo o restante alocado em custos administrativos e outras despesas. Os associados investem, em média, 30% dos seus recursos em doação. Atualmente, as organizações da sociedade civil no Brasil enfrentam o desafio de reduzir a sua dependência de recursos provenientes da cooperação internacional, que vem abandonando ou mudando suas estratégias de atuação no País; forçando um movimento voltado para os investidores nacionais. Por isso, é importante que se considere o papel dos investidores no fortalecimento da sociedade civil, que passa necessariamente pelo aumento dos recursos destinados pelo conjunto dos investidores sociais a essas organizações. Estamos realizando uma pesquisa com 25 organizações cuja maior parte dos recursos é de doação, reforçando a necessidade de trabalho no nosso terceiro eixo de atuação que é diversificar o modelo de atuação. ALIANÇA INTERAGE Ruben Pecchio Quero começar chamando a atenção para uma situação particular no Nordeste brasileiro: há organizações do campo empresarial que se que e atuam junto às comunidades e que não estão ligadas à Rede GIFE. Em 2009, já havia um cenário anunciado de discussão sobre saída das agências internacionais da atuação junto às ONGs, puxado pelas próprias agências que viam esse futuro próximo a partir de 3Rs: Redução, Reorientação e Retirada. Houve, então, o seminário naquele mesmo ano para pensarmos estratégias interesses comum. Foi aí que nasceu a proposta de criamos a D3. Uma pergunta orientou nossa atuação desde então: Que espaço teríamos para atuar? Um momento importante de debate sobre o assunto foi a realização da pesquisa, em parceria com o Fonte para o Desenvolvimento Social, Investigações sobre a conjuntura dos investimentos das organizações internacionais no campo social brasileiro no período de 2008-2010, que também rendeu tema durante mesa Bye Bye Brazil: as ONGs diante da saída dos recursos internacionais, realizada no o 6º Congresso GIFE de Investimento Social Privado, em 8 e 9 de abril, no Rio de Janeiro (RJ), em 2010. 101 organizações internacionais forma consultadas e 41 responderam questões relativas ao montante declarado de recursos aportados ao Brasil pelas organizações internacionais. A pesquisa demonstrou o contraste do aumento de valores entre os anos de 2007-2008, 2008- 2009 com uma queda significativa dos recursos aportados/previstos ao Brasil em 2010.

Page 16: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

16

+ Dados da pesquisa Dentre os motivos apresentados para a diminuição ou retirada de investimentos do Brasil:

1º Crise econômica mundial 2008-2009 com decorrente redução de orçamento; 2º Mudança de prioridade e/ou interesse para outras regiões do Globo; 3º Alto nível de desenvolvimento econômico e social brasileiro; 4º Mudança da estratégia de atuação da organização; 5º Maior potencial de captação interna e possibilidade crescente de auto-sustentabilidade do campo social brasileiro; 6º Alcance dos objetivos com melhoria da problemática trabalhada.

Cerca de 15% das organizações prevêem a retirada completa dos investimentos do Brasil até 2015, apresentando como motivos, além destes acima, também o alto desenvolvimento sócio- econômico brasileiro somado à crescente capacidade de captação de recursos internos. Em relação às mudanças de prioridades de temáticas e de regiões brasileiras, interessante notar que se apresenta uma correspondência entre as organizações que aumentaram o investimento no período estudado e aquelas que passaram a priorizar o meio ambiente ou o direito de crianças e adolescentes. Em sentido semelhante, observa-se uma priorização das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Objetivos A presente pesquisa teve como objetivo realizar um levantamento quantitativo inicial e exploratório sobre a conjuntura atual (2008-2010) dos investimentos das organizações internacionais no campo social brasileiro. A pesquisa se orientou pelos seguintes objetivos específicos:

• Obter dados quantitativos acerca da movimentação (aumento, diminuição, manutenção, retirada, entrada) do montante de recursos aportados ao Brasil pelas organizações internacionais atuantes no cenário social brasileiro no período de 2008-2010; • Obter dados acerca das mudanças de prioridades em relação a temáticas e regiões brasileiras apoiadas pelas organizações internacionais atuantes no cenário social brasileiro no período de 2008-2010. Perfil das organizações que compõem a amostra I. Quanto ao tempo de presença no Brasil: a mais antiga iniciou o aporte de recursos em 1940 e a mais recente em 2008 II. Quanto à procedência geográfica da organização:

Page 17: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

17

País de origem Alemanha = 4; Bélgica = 1; Canadá = 1; Espanha = 3; EUA = 14; França = 4; Holanda = 2; Inglaterra = 4; Irlanda = 2; Itália = 2; Suécia = 1; Suíça = 3; Total = 41

Alguns resultados/ considerações finais • A rede de organizações que se relacionam entre si é restrita, pois houve repetição constante na indicação daquelas de maior peso constituindo-se estas como referências no campo social brasileiro;

• A problemática da heterogeneidade do campo das organizações internacionais e da inexistência de definições e categorizações claras se revelou pela dificuldade das próprias organizações em se definirem ou aceitarem ser definidas como pertencentes à amostra desta pesquisa; se governamental (provenientes de outros Estados Nações), intergovernamentais (sendo uma associação de Estados regida pelo direito internacional público), não-governamentais (com origem na sociedade civil e regidas pelo direito internacional privado), fundações ou Institutos (ambos com ou sem origem empresarial). • Em relação aos recursos, além das variadas fontes que uma mesma organização pode se valer no exterior para obter recursos (doações da sociedade civil, do governo e de empresas, dividendos, venda de produtos, etc.), a organização de origem estrangeira pode passar a captar recursos dentro do país tanto para suas próprias ações, quanto para investir em organizações locais ou, ainda, ter como proposta o apoio técnico para organizações locais captarem seus próprios recursos, mantendo-se, no entanto, com verbas estrangeiras. Ou seja, uma organização

Page 18: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

18

de origem exterior pode possuir verba mista, parte proveniente do exterior, parte do próprio Brasil.

• Considerando ser o período pesquisado um recorte (2007-2010), não se sabe, a partir dos dados obtidos, quando teria se iniciado esta tendência. Ainda, o fato deste período englobar justamente a crise econômica de 2008-2009 pode levar a crer, talvez de maneira equivocada, que a diminuição é decorrente dos efeitos da crise econômica nestas organizações, encobrindo uma tendência de diminuição e/ou retirada dos investimentos anterior à crise. No entanto, em pesquisa qualitativa realizada no mês de março de 2009 sobre os efeitos da crise econômica nas organizações internacionais consideradas de “cooperação”8, muitos entrevistados, representantes das organizações, anunciavam a diminuição de recursos devido a um processo que já estava em andamento, por decisões estratégicas e de mudança de priorização, tendo a crise econômica apenas um papel de agente acelerador. Alguns chegaram a diferenciar a “crise econômica” da “crise da cooperação internacional no Brasil”, Acesse: http://institutofonte.org.br/sites/default/files/pesquisa_D3_0.pdf

Percebemos com a pesquisa que não existe apenas “saída” de investimento, mas “entrada” também. Em 2010, desenvolvemos um planejamento estratégico a partir de três ações:

1) Marco regulatório; 2) Estímulo à influência de atores privados (ator “chave”, segundo o GIFE); 3) Conhecimento sobre atual arquitetura das organizações que colocam investimento nacional,

internacional e outras várias O que nos resta discutir é como os Fundos podem contribuir com essa nova arquitetura de apoio às organizações e qual o papel dos Fundos dentro do MR, como influenciarmos este desenho.

Dia 1 - Tarde

Plataforma Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade

Vera Masagão Ribeiro (Abong)

Contexto atual • Protagonismo das OSCs brasileiras na reconstituição democrática, em experiências inovadoras na

Page 19: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

19

área social, na articulação de movimentos de cidadania planetária. • Onda de deslegitimação e criminalização de ONGs e movimentos sociais. • Insegurança jurídica e clientelismo nas relações entre governos e OSCs.

No surgimento das Organizações da Sociedade Civil havia certa contradição que seguia os rumos da construção de um valor, mas, por outro lado, também havia uma deslegitimação e criminalização de ONGs e movimentos sociais. No cenário internacional, o Fórum Social Mundial, que acontece desde 2000, foi um marco impulsionador na mudança dessas “condições”. Já no local, o ambiente era de desregulação, falta de transparência, leniência com a corrupção de ONGs contribuindo para a desmotivação e insegurança das pessoas. Um dos desafios de hoje é termos que afinar nosso campo de disputa. Há uma forte defesa das pessoas que acreditam na visão mais estadista, mas afinal o espaço dessas ONGs? Apenas monitoramento das ações do governo? Ou ainda Executar políticas inovadoras ou de base? Por exemplo: no espectro da política brasileira, há questões de interesse de madeireiros que são os mesmos de aliados do governo.

Alguns antecendentes de resistência • 2003 – Entrega de carta da Abong ao presidente Lula (marco legal, acesso a recursos públicos, cooperação internacional, produção de conhecimento) • 2004 – Seminário Marco legal das ONGs em debate no Congresso Nacional • 2006 – Fórum do Senado • 2007 – Iniciativas da Cáritas para articular audiências coletivas • 2007 – Projeto Marco Regulatório / Fundação Esquel

Em 2007, a Fundação Esquel, que tinha história de atuação nesse campo institucionalidade da SC (época das Oscips, entidades solidárias, etc.), já puxava a discussão sobre MR com apoio do D3, Fundação Avina, Instituto C&A. Foi constituído um grupo de apoio (Abong, MST, GIFE, ANA (?), Cáritas, Intituto C&A, Pastoral da Criança). A intenção era criar um “adensamento político”, consolidado, com oportunidade de incidir nas eleições de 2010. Perguntamos-nos: por que não lançar para os presidenciáveis a proposta de MR? Surge, então, o grupo que redigiu o texto.

Propostas • Política de Estado que assegurem autonomia política e econômica das OSCs: – Processos e instâncias de participação / Garantias à participação; – Estímulo ao envolvimento da cidadania em causas públicas, ambiente favorável; – Acesso democrático a recursos públicos com mecanismos que permitam operacionalização com eficiência; – Regime tributário apropriado e favorecido (incentivos fiscais para pessoas físicas e jurídicas).

Page 20: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

20

Cremos que o MR é uma opção porque não se trata somente de leis, visto que um dos entraves é a interpretação das leis, mas de uma política para regulamentação, de regras, de ambientações. Queremos normatizar e reforçar o papel do Estado, de espaços de participação. Em relação ao regime tributário, não temos uma cultura de doação; aqui é alto investimento privado e, em países como EUA, por exemplo, o sistema tributário incentiva a doação porque existem mecanismos de devolução à SC. Há incentivo ao engajamento cidadão, ou seja, a configuração de uma democracia participativa, de melhora da qualidade dos processos, de envolvimento de novos atores de interesse público. Em relação aos temas democracia participativa e reforma política na Plataforma, era uma maneira de marcar posição porque os movimentos já estavam com essa agenda mais avançada. Nossos compromissos são com:

Compromissos • Política de Estado que assegurem autonomia política e econômica das OSCs: – Causas de interesse público, participação democrática; – Intensificação e melhoria da qualidade da participação das OSCs – Aperfeiçoamento das práticas de gestão, auto-regulação, transparência e prestação de contas.

Haverá a conferência nacional que discutirá transparência, a Consocial.

Grupo facilitador • Abong • Cáritas • Confederação Brasileira de Fundações • Fundação Esquel • GIFE • Instituto Ethos • Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) • Movimento dos Sem Terra (MST) • União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafs) / Pastorais Sociais

Quase 200 entidades assinaram. O Instituto Ethos está discutindo internamente para a construção de seu fundo patrimonial e estão atentos, agora, ao MR.

Redes signatárias (além regionais e OSCs)

Page 21: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

21

• Articulação Nacional de Agroecologia • Articulação do Semi-Árido • Forum Brasileiro de Economia Solidária • Forum Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente • Forum Nacional de Tecnologia Social • Rede Cerrado • Rede Mata Atlântica • Etc.

O ex-candidato José Serra foi o primeiro a responder. Queríamos entregar o texto da Plataforma em reunião, mas não tinha “clima” por conta da tensão das discussões durante a campanha. Dilma também se comprometeu. Ambos escreveram carta de compromisso. Quando o Ministro Gilberto de Carvalho, uma de suas primeiras falas foi de priorização ao MR e que, em seis meses, pretendia resolver o problema. Houve encontros paralelos e em 31 de maio aconteceu a reunião institucional com todo o Grupo facilitador. A Comissão de trabalho não foi instituída e a promessa é que aconteça na primeira semana de agosto. Para reforçar, então, as:

Respostas do governo • Carta de adesão da então candidata Dilma (criação de GT e prazo de um ano) • Compromisso do Ministro Gilberto Carvalho na posse (prazo seis meses) • Reuniões do gabinete com membros da Plataforma • 31 de maio: Primeira reunião com GF da Plataforma (instituição de comissão mista com grupos de trabalho temáticos)

O coletivo não pode pensar a construção da cidadania como atuação pontual. Estamos certos de que precisamos resolver questões estruturais. Quais as questões que estão em jogo:

1. Acesso a recursos públicos • Abong elaborou coletivamente PL que propõe o termo de Financiamento Público Direto para ESFL. • Critérios: com 2 anos de funcionamento, defesa de direitos humanos e fomento à participação democrática. • Editais públicos, prazo para repasse, prestação e contas, regulação do MP, financiamento de pessoal e despesas administrativas.

Para ilustrar: na área dos Esportes, ainda existem incentivos fiscais de 100% para empresas que doam.

2. Incentivos fiscais

Page 22: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

22

• Privilegiar pessoas físicas, democratizar para os de menor renda (também facilitar doações de micro e pequenas empresas) • Extinguir doações de empresas 100% incentivadas. • Aumento de taxação sobre heranças e grandes fortunas, incentivando as doações.

3. Campanhas de Incentivo à Participação Cidadã • Utilização de mídias diversas • Fomento à educação cidadã

Sobre Imunidades e isenções fiscais: está em curso Certificado de Filantropia e talvez a área da Assistência social passe a ser do Ministério da Justiça.

4. Imunidades e isenções fiscais • Área de resistência dos órgãos arrecadadores • Mecanismos para coibir a “pilantropia” • Critérios para isenção da cota patronal do INSS (nova sistemática – Educação, Saúde e Assistência Social) • Tipificação das Entidades de Defesa de Direitos e Assessoramento para certificação no CNAS

No âmbito na Cooperação internacional, gostaríamos que houvesse uma regulação da diplomacia governamental exercida.

5. Cooperação internacional • Instâncias de participação nas políticas de cooperação internacional do governo. • Edital específico para fomentar a cooperação não governamental Sul-Sul, estudos e incidência na governança global.

6. Tipificação para habilitação, credenciamento e certificação • Diversidade de tipos de registro (CNAS, OCIPS, Utilidade Pública, Filantropia) nas várias instâncias de governo. O que propor a respeito? • Tipificação de organizações de defesa de direitos (DHESCA)

Page 23: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

23

Plenária Vera Masagão A presidenta Dilma Rousseff solicitou que a reunião sobre o assunto fosse feita com o Comitê Facilitador e estamos de designando a Plataforma para ser este interlocutor. Fizemos a primeira reunião com Gilberto Carvalho, Ministro chefe da Secretaria-geral da República, que nos pediu um tempo para eles discutirem internamente como funcionar e nós também. Muito provavelmente o CF terá umas 20 pessoas que não serão as executoras e do lado do governo a mesma situação. Acho que vamos criar várias pequenas comissões para tocar essa ação e temos que estar atentos para envolver quem está realmente a fim de entrar na discussão e qualificá-la. Márcia Moussallem E as universidades? Estou na PUC-SP e sei que há muitas pessoas das universidades discutindo o assunto e que podem contribuir com o assunto indicadores, por exemplo. Vejo que a universidade está isolada nas discussões. Quando falamos em produção de conhecimento também devemos considerar a universidade. Paulo Freire dizia que teoria sem a prática não “existe”, portanto, práxis é a prática e a teoria caminhando juntas. Silvio Santana Dentro do Comitê Facilitador notamos sim de ausência ainda de diversos atores e universidade evidentemente é uma delas; temos que discutir como agregar outros. Porém, estar atentos à dispersão. Tenho dúvidas, por exemplo, de como operacionalizar as dezenas de setores das universidades que estão discutindo isso. Athayde Motta Não consigo ver esse distanciamento das universidades na trajetória das ONGs. Existe uma longa história de ações conjuntas entre universidades e organizações da sociedade civil. Talvez o que precise ser feito é uma “revitalização” nessa relação. Vamos retomar a pauta: A partir da realidade dos Fundos, apresentada pela manhã, o vislumbraram em relação a contribuições com a Plataforma? Vou apresentar duas provocações: 1) O lugar dos Fundos não deve ser o das ONGs: este deve ser um exercício importante, relação de cooperação e que existem especificidades; 2) Setor filantrópico: que consigamos que os Fundos estejam mais presente. Madalena Guilhon O Fundo Elas surgiu como necessidade do movimento feminista, mas não somos do movimento feminista. Não há uma agência financiadora; somos organização que faz o trabalho de outras do movimento para receber, gerir e devolver.

Page 24: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

24

Raimundo de Oliveira Vou apresentar mais dois elementos provocativos:

1) Contexto: CPI das ONGs foi um marco para dialogarmos com organizações e o governo. Começou o processo de descriminalização das ONGs porque começamos a pautar o diálogo com os deputados que não conheciam a realidade das organizações ONGS; passamos a falar da Plataforma. Porém, uma questão me inquieta: até onde a busca dessa unidade de ONGs e de movimentos estão avançando para construir projeto comum? Temos que avançar na busca de consenso porque o governo conversa com tem força e com representação política.

2) Os Fundos não têm que assumir o lugar das ONGs. Eles têm melhor oportunidades de captação que as ONGs e, na Plataforma, os Fundos têm esse papel mais claro.

Lúcia Nader A proposta da Plataforma e o início da conversa com o governo são um avanço histórico, mas, ao tocá-la, temos que nos organizar para refletir toda a diversidade necessária. Tomar cuidado para não formarmos um “bloco” interlocutor. Devemos levar em consideração três grupos: os institutos financiadores, as redes de ONGs e os Fundos, cada um com incentivos fiscais diferenciados. A atuação dos três deve estar explícita no Marco Regulatório. Silvia Pichioni Os três primeiros itens da Plataforma ficaram sob a responsabilidade dos grupos que estão pressionando pela reforma política; só quisemos reforçar a importância. Os outros dois itens (Mecanismos que viabilizem o acesso democrático aos recursos públicos e que permitam a operacionalização desburocratizada e eficiente das ações de interesse público; Um regime tributário apropriado e favorecido às OSCs, incluindo a criação e aprimoramento de incentivos fiscais para doações de pessoas físicas e jurídicas.) é onde entra a questão dos Fundos: como estes querem trabalhar? Quem sabe criar comissão de Fundos seja uma boa proposta para avançarmos na discussão? Ana Valéria Araújo Os Fundos são novidades e não estão contemplados no Marco Regulatório. Por isso, sua participação é importante. Trata-se de uma tendência positiva. Talvez o mais difícil seja entender a complexidade de especificidades dos Fundos que também há. Em exemplo: não podemos “estar” (juridicamente) nem na Abong e nem no GIFE. E aí, não estamos. É fundamental que os Fundos existem para que outras ações existam. Athayde Motta Vivemos no momento pós-ditadura em que as organizações da sociedade civil vivem a informalidade jurídica. Status de fundação não dá conta das nossas atuações. É a informalidade do

Page 25: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

25

caos. O “jeitinho” não é mais possível. Exemplo: muitas ONGs não podem fazer doação. Se os Fundos contribuírem para a legalidade, já seria um avanço. Para os Fundos, se conseguirmos contribuir com a construção de um respaldo jurídico seria outro avanço. Márcia Moussallem Haverá um evento no final de julho promovido pela OAB para discutir nova lei da filantropia Vera Masagão Há uma série de situações que devemos discutir como a dificuldade da representatividade, por exemplo. Hoje OAB é quem representa a sociedade civil no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Outra questão é a participação do Sistema S e o mapeamento dos Fundos públicos e sua relação com as ONGs, além dos fundos com outros fundos. Concordo com a intervenção da Márcia sobre a participação da universidade, tem que existir. Mas há zonas de tensão e devemos superar. Este debate, na verdade, reflete um pouco desse desejo: estão conosco hoje PUC-SP e FGV que, em tese, são instituições concorrentes. Arlete Dias Em relação ao item Imunidades e isenções fiscais, devemos ter sistemas jurídicos próprios. Acompanhar as questões da Nova Lei da Filantropia (novo nome “das beneficentes”) 12.101, de 2009. Na Educação são 3.200 entidades certificadas e imunes (no MEC); também há no Ministério da Saúde e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Luiz Merege Acho importante que a defesa dos Fundos esteja bem fundamentada teoricamente, contextualizando sua função e para o que foram criados, ou seja, para novo modelo de desenvolvimento da sociedade civil. Acho que precisamos fundamentar com colaboração de outros protagonistas para avançarmos a parte legal. Silvio Santana Para não confundirmos o debate, devemos que ter cuidado quando falamos em Fundos porque existem uns 40 tipo de Fundos governamentais e para o governo, por exemplo, há lei específica que o restringe como gastar. Devemos ter um capítulo na Plataforma falando especificamente dos Fundos “independentes”, uma nova institucionalidade que surge. Acho que devemos defender a governança para os Fundos públicos que já existem. Precisamos também de uma legislação que valorize a criação de Fundos Patrimoniais (endowment), de Fundos de Reservas e Contingência. E em relação ao espaço de incentivos fiscais, favorecer o envolvimento das pessoas físicas, mais do que para empresas. Vera Masagão O Fundo Recisório também deveria ser pensado.

Page 26: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

26

Paulo Roberto Padilha Como faz falta para fundo público que contribua com a articulação das comunidades. A grande palavra que nos move aqui é a articulação e termos uma agenda assertiva para além dos governos. Minha preocupação é com a articulação daqui para frente para pressionar o governo já que no próximo ano será de eleição. Existem formas específicas de pressão. Exemplo: mal conseguimos trazer organizações para reunião da Abong por falta de verba. É um investimento de cada entidade aqui para criar esta agenda. Lúcia Nader Devemos analisar a diferença entre organização pública e privada. A legislação dos EUA é referência interessante: cria diferentes regras na tipificação delas. E seria importante sabermos disso. Seria importante proporcionarmos a governança comunitária, como o Fundo para Infância e Adolescência (FIA) - www.fia.rj.gov.br Vera Masagão Outras preocupações são o contingenciamento e os atrasos. Um exemplo é o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad) que quando sai já é tarde e acabamos refazendo os projetos já desenhados. Athayde Motta Existe uma experiência frustrada do “negócio de doar”, o arcabouço jurídico contraria a natureza da doação. Talvez governo devesse ter uma linha mais geral para doação para não gerarmos conflitos diante dessa atividade, embora tenha dúvida se este tipo de ação deveria ser feita pelo governo. Silvio Santana Nos EUA, a doação é de 20% da receita do governo; via receita federal. Aqui a doação tem cunho ideológico. Devemos discutir qual a melhorar governança ao acesso dos recursos públicos. Silvia Pichioni Os Fóruns Consultivos começaram em maio e não fizemos mais nenhuma reunião até agora. As informações desse processo todo estão no site, inclusive, a sistematização dos eventos. Portanto, todas as ações em direção à construção e efetivação da Plataforma, estão no site Fórum Marco Regulatório: www.forummarcoregulatorio.org.br. Para mais detalhes, adesões e outros assuntos, podem enviar mensagem para: [email protected]

Encerramento/ Encaminhamentos Vera Masagão

Page 27: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

27

Obrigada a todas e todos. Creio que foi um encontro produtivo, um ensaio bom de como pensar particularidade sem perder o todo, o geral. Athayde Motta Encaminhamentos: Neste momento de apresentação da Plataforma do MR aos Fundos, os FI devem redirecionar sua agenda ao debate. Cecília Perlingeiro O Fundo Carioca gostaria de entrar nessa comissão menor de encaminhamentos para contribuir com a identificação das dificuldades e desejos, identificação de gargalos, etc.

Recomendações/Inquietações

Ana Valéria Araújo

Queríamos pensar Plataforma de ação conjunta com o grupo que o GIFE chama de Fundações e

Associações Familiares, Independentes e Comunitárias (FICs).

Pâmela Ribeiro

É importante que se considere o papel dos investidores no fortalecimento da sociedade civil, que passa necessariamente pelo aumento dos recursos destinados pelo conjunto dos investidores sociais a essas organizações.

Ruben Pecchio

O que nos resta discutir é como os Fundos podem contribuir com essa nova arquitetura de apoio às organizações e qual o papel dos Fundos dentro do MR, como influenciarmos este desenho.

Márcia Moussallem E as universidades? (...) Vejo que a universidade está isolada nas discussões. Quando falamos em produção de conhecimento também devemos considerar a universidade.

Raimundo de Oliveira

Page 28: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

28

(...) uma questão me inquieta: até onde a busca dessa unidade de ONGs e de movimentos estão

avançando para construir projeto comum? Temos que avançar na busca de consenso porque o

governo conversa com tem força e com representação política.

Silvia Pichioni Quem sabe criar comissão de Fundos seja uma boa proposta para avançarmos na discussão?

Athayde Motta Para os Fundos, se conseguirmos contribuir com a construção de um respaldo jurídico seria outro avanço.

Silvio Santana Devemos ter um capítulo na Plataforma falando especificamente dos Fundos “independentes”, uma nova institucionalidade que surge. Acho que devemos defender a governança para os Fundos públicos que já existem. Precisamos também de uma legislação que valorize a criação de Fundos Patrimoniais (endowment), de Fundos de Reservas e Contingência. E em relação ao espaço de incentivos fiscais, favorecer o envolvimento das pessoas físicas, mais do que para empresas. Vera Masagão O Fundo Recisório também deveria ser pensado. Outras preocupações são o contingenciamento e os atrasos. Um exemplo é o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad) que quando sai já é tarde e acabamos refazendo os projetos já desenhados.

Athayde Motta Existe uma experiência frustrada do “negócio de doar”, o arcabouço jurídico contraria a natureza da doação. Talvez governo devesse ter uma linha mais geral para doação para não gerarmos conflitos diante dessa atividade, embora tenha dúvida se este tipo de ação deveria ser feita pelo governo.

Silvio Santana Nos EUA, a doação é de 20% da receita do governo; via receita federal. Aqui a doação tem cunho ideológico. Devemos discutir qual a melhorar governança ao acesso dos recursos públicos.

Ivo Lesbaupin

Page 29: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

29

Na Alemanha, por exemplo, as doações vêm da classe média, por que no Brasil isso não acontece?

Vera Masagão

Esse “sofrimento” das ONGs é um microcosmos e estamos sendo desafiados a discutir CI como

política pública. Não podemos cair no desânimo. Trata-se de uma disputa política e fica bem

evidente quando contrapomos o discurso de país de renda média ao sabermos que o Brasil doa

exatamente para países de renda média também; isso vem acontecendo entre nações. (...) O

impacto da pesquisa da UE na forma de compreender a atuação da ONGs, que o Ivo nos

apresentou, pode contribuir para essa reflexão porque não somos monolíticos. Há disputas que

não são favoráveis e temos que discutir como nos posicionar.

Athayde Motta

(...) que papel deveria ter o governo no momento em que seu discurso é de que “país não precisa”?

Page 30: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

30

Dia 2 – Manhã

As Organizações da Sociedade Civil e a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – rumo a Busan

Mesa 1- A Cooperação Internacional no Brasil e América Latina - conceitos,

critérios, tendências globais e regionais

Convidados:

Sergio Haddad - educador e economista, com doutorado em Sociologia da Educação. É

coordenador de projetos estratégicos da Ação Educativa e presidente do Fundo Brasil de Diretos

Humanos.

Ivo Lesbaupin - doutor em Sociologia pela Université de Toulouse-Le-Mirail e professor da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É secretário executivo do ISER Assessoria - Religião,

Cidadania e Democracia e integra a diretoria executiva da Associação Brasileira de Organizações

Não Governamentais (Abong).

Debate – Foco na análise avaliativa e propositiva quanto ao processo e temas críticos para o Brasil.

Abertura

Vera Masagão

A Abong está presente em alguns espaços que vêm nos legitimando a propor debates como este.

Participamos do Fórum Internacional de Plataformas Nacionais de ONGs (FIP)5, BetterAid6 e Open

5 O Fórum Internacional de Plataformas Nacionais de ONGs (FIP) foi criado em outubro de 2008, em Paris, pelo conjunto de 82

plataformas de ONGs e sete coalizões regionais de ONGs. Estatuto: http://www.abong.org.br/final/download/estatuto_final_20ABRIL2011.pdf / Carta de princípios: http://www.abong.org.br/final/download/carta_principios_fip.pdf 6 BetterAid é uma plataforma aberta em que as organizações podem participar nas oportunidades de diálogo e influência política

relacionados com diversos temas para aprofundar a eficácia à ajuda ao desenvolvimento; prepara relatórios políticos e

posicionamento para processos participativos e promove sua concepção por meio da incidência nacional e internacional;

compreende mais de 700 organizações. Tem liderado muitas das atividades da sociedade civil, incluindo consultas PR país, estudos e

supervisão, frente ao Quarto Fórum de Alto Nível sobre a Eficácia da Ajuda (FAN-4). - http://www.betteraid.org/es/sobre-

betteraid/sobre-betteraid.html. O Better Aid é o instrumento organizativo para organizar a coordenação neste campo, o outro braço

pós-Accra para discutir a ajuda oficial ao desenvolvimento. É uma ferramenta participar e incidir na discussão sobre ajuda oficial ao

desenvolvimento. Assim como o Open Forum é o instrumento para discutir a efetividade das organizações sociais, uma ferramenta

para nós mesmas nos convocarmos a discutir. Relatório Michelle Prazeres (Consulta Nacional Brasil, São Paulo, 21 e 22 de março de

2011).

Page 31: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

31

Forum (Fórum Aberto para a efetividade do desenvolvimento das Organizações da Sociedade

Civil)7. A Abong participa também do Processo de Articulação e Diálogo (PAD)8 , que existe há mais

de 10 anos, que, no momento, está discutindo a “crise” da CI. O Brasil tem participação bem

peculiar se comparado a alguns países: governo extremamente ativo na proposta de cooperação

Sul-Sul e, neste momento, ocupamos a posição de sermos doares e receptores ao mesmo tempo. A

SC conseguiu imprimir um padrão de diálogo, de cooperação mais dialógica, o Fórum Social

Mundial (FSM) é um pouco retrato dessa relação mais horizontal.

Sérgio Haddad

Estou fazendo uma pesquisa cujo um dos objetivos é contribuir com outras formas de reflexão

sobre a questão da cooperação internacional. Por isso, resgatando a história das ONGs do Brasil e

da Europa a partir de entrevistas os primeiros oficiais de projetos e as primeiras organizações

brasileiras (décadas de 60/70), tendo o tema da Educação Popular como questão de fundo, e do

exterior (Holanda, Bélgica, França, Alemanha) com foco na CI. Estas já compõem uma lista de 14 até

o momento. Entre seus produtos pensados estão: um artigo, um livro comentado sobre as

entrevistas e um romance histórico.

Parti da hipótese de que conhecendo os fatores que levaram àquele modelo de cooperação,

podemos perceber e analisar melhor a sua sustentabilidade no longo prazo.

As relações internacionais sempre ocorreram entre países na história da humanidade, ou de

ocupação, ou de colaboração ou de exploração, de governos ou de sociedade, muitas vezes em

aliança. Talvez o que pode haver de novo, de meados do século passado para cá, particularmente

depois da segunda guerra mundial (ONU ou Bretton Woods), é o crescimento de organizações

multilaterais/agências reguladores como interveniente nos modelos de relacionamento, criando

valores e formas de se fazer isso. Agentes multilaterais também sofrem pressões, é um campo de

disputas políticas, portanto, não são relações neutras; muitas vezes são de cooperação e outras de

exploração, de ocupação.

O que me propus a estudar foi um momento da história, um tipo de relação entre os dois

continentes num período que vai de final dos anos 1970 até 1980. Uma determinada forma de

7 Em Accra, dizíamos que nos comprometíamos a gerar uma dinâmica global de discussão sobre as próprias organizações sociais. E

isso se desata como processo e para deflagrar este processo, criamos o instrumento organizativo que se chamou o Open Forum. Relatório Michelle Prazeres (Consulta Nacional Brasil, São Paulo, 21 e 22 de março de 2011). É um espaço exclusivo para as

Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de todo o mundo colaborarem em um processo participativo global para definir e apresentar

o quadro de princípios comuns para a eficácia do desenvolvimento. - http://www.cso-effectiveness.org/

8 Composto por organizações não governamentais, entidades ecumênicas e movimentos sociais, parceiros ou não das agências

ecumênicas, que optam por participar deste por afinidade e interesse nos temas com os quais o PAD conduz o diálogo e articulação

entre Sul/Norte, Norte/ Norte e Sul/Sul. O Setorial de ONGs é coordenado pelo INESC, O Setorial dos Movimentos Sociais é

coordenado pelo MAB e Setorial de Entidades Ecumênicas é coordenado por Koinonia. - www.pad.org.br/

Page 32: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

32

relação internacional, em um determinado tempo histórico de uma determinada região para outra.

Importante salientar, pois estas relações não são eternas, podem terminar ou se modificar.

Estamos falando de um modelo de cooperação internacional de sociedade civil, que nasceu em 70,

cresceu em 80 e já começou a dar mostras do seu esgotamento em 90. Portanto, um período muito

curto.

Quando ouvimos falar que cooperação está “saindo” do Brasil, trata-se de uma situação muito

específica. Um exemplo é relembrarmos que tanto EUA quanto Itália teve relações intensas de

cooperação com o Brasil.

Então, temos dois contextos políticos analisados na pesquisa:

1) Europeu e mundial, dos anos 60 e 70: a Europa, depois de sair arrasada da 2a Guerra

Mundial, reconstrói-se, cresce economicamente e se abre para o mundo. O keysianismo9 e o

bem estar social avançada, aberta e esperançosa. A conformação das Nações Unidas e as

declarações dos direitos e deveres internacionais. Os Direitos Humanos colocando

fortemente valores universais com impacto nas relações sociais e econômicas, em que a

palavra subdesenvolvimento tem ascendência e análises mostram que ele se relaciona com

o tema desenvolvimento do Norte mostrando sua responsabilidade (imperialismo) em

relação a este “conceito”. Também é o momento da Guerra Fria entre dois modelos de

organização da economia e sociedade, além da Guerra do Vietnã. Os movimentos de 68 e o

espírito libertário pulsando, aqui no Brasil também, os hippies trazendo a dimensão do tema

liberdade nas relações econômicas, sociais e de comportamento. Este pano de fundo faz

“brotar” a CI e por aqui, na AL, o contexto era de ditadura militar. Entramos, então, ao

segundo contexto.

1. Latino americano: Brasil (época do AI5), Chile, Uruguai, Argentina que recebiam a

“colaboração” dos norte-americanos: as ditaduras militares, a luta armada, morte, tortura,

desparecimento e exílio. Foi uma contexto de violação aos DH muito clara, bem diferente do

contexto europeu levando parte dos militantes a se refugiarem lá. Enfrentamento da luta

armada (certos partidos) e rapidamente e violentamente reprimidas pelas forças armadas.

Toda uma geração que se integrou a este processo e deixou o país. Mas um momento

também de encontro ecumênico extremo: A Igreja católica, o Consilho Vaticano II e Celam

Medelin, a opção preferencial pelos pobres e a teologia da libertação. As Comunidades

Eclesiais de Base (Cebs) surgem como um dos poucos espaços de resistência; uma

construção alternativa de democratização a partir de igreja progressista e da base, dos

9 Intervenção do Estado na economia. A teoria atribuiu ao Estado o direito e o dever de conceder benefícios sociais que garantam à

população um padrão mínimo de vida como a criação do salário mínimo, do seguro-desemprego, da redução da jornada de trabalho

(que então superava 12 horas diárias) e a assistência médica gratuita. O Keynesianismo ficou conhecido também como "Estado de

bem-estar social", ou "Estado Escandinavo". Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_keynesiana

Page 33: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

33

pobres (de baixo para cima). O ressurgir dos movimentos sociais e populares, os processos

de democratização. O período seguinte, o das eleições diretas, mostrou os limites da

ditadura.

Como estes dois contextos se relacionam? Como a América Latina passa a ser visível no contexto

europeu e de seu interesse?

1) Denúncia de violação dos direitos humanos na mídia

2) Presença de pessoas exiladas, refugiados e grupos de solidariedade que criam na Europa

uma cultura de denúncia ao processo que vinha ocorrendo na AL (grupos de solidariedade).

Além da construção de laços familiares (militantes solteiros constituindo famílias por lá,

preservando e disseminando a língua e cultura latina) e da circulação de pessoas e

informações entre AL e Europa.

3) Presença das Igrejas Católicas e Evangélicas (renovação não só no Brasil, mas na Europa,

sobretudo Holanda, com o catecismo holandês). Padres europeus que estavam aqui e se

relacionavam com seus países de origem proporcionando uma relação direta da

religiosidade com trabalho de base, além de acompanhamento das pastorais e comunidades

evangélicas; visitas de D. Helder Câmara à Europa. Cria-se assim uma condição de

solidariedade.

4) Do pastor ao mercador: o mercador era o comerciante europeu – alguns países que tinham

mercado pequeno -, e com abertura das colônias aumentou o interesse dos países do Norte

pelos países do Sul. O mercado sempre estabeleceu uma relação de disputa com a CI. Nas

palavras de Anneke Jansen: os interesses econômicos de uma economia capitalista que

crescia, além da Guerra Fria com disputa e ocupação de espaço.

Desta conjuntura, derivam inúmeras formas de cooperação: o que dá unidade a esses processos é a

defesa de direitos, processos de informação política com temas específicos e organização popular

(formação de e para a base). Portanto, ajuda ao desenvolvimento, cooperação ao desenvolvimento,

que neste momento se uniam baixo algumas perspectivas comuns: defesa de direitos, apoio a

organização popular nos mais diferentes aspectos (baixo para cima), processos educativos e de

formação política (educação popular). No futuro passam a ser mais temáticos (formação sindical,

crianças em situação de rua, gênero etc.).

Havia alguns modelos de CI:

Modelo alemão/europeu: estatal

Modelos centralizados: Igreja Católica (coleta para financiamento de projeto)

Modelo de comunidade para comunidade

Page 34: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

34

Modelo atividade laica: Norte para Sul - Holanda e Alemanha organizam sua política de

cooperação por meio das agências (laica, protestante e católica). Era possível apoiar ações

de cunho evidentemente opositor ou de resistência, sem afetar as relações diplomáticas e

ao mesmo tempo respaldadas pela imagem das igrejas.

Há disputas entre elas: centralização, dando a linha política desse processo.

Razões de apoio às ONGs: fato de ter base cristã foi importante para país de tradição religiosa, é

continente de cultura próxima da européia (em relação à Ásia ou áfrica). Mas há o outro lado,

aquele da evangelização.

Das 14 pessoas entrevistadas de várias organizações (CCFD, ICCO, NOVIB, PPM, MISEREOR, EED,

Broederlijk Delen e Entraide et Fraternité) ( não estou considerando nem Henryanne, nem Jós, nem

Chico) todas moraram na América Latina, algumas delas no Brasil, antes de trabalharem para a

Cooperação, sendo que este fato, ter morado e consequentemente conhecer a realidade do

continente, foi um fator fundamental para ou conseguirem seus trabalhos na CI entre meados da

década de 70 e começo dos anos 80.

Das 14 entrevistadas(os) (de várias organizações (CCFD, ICCO, NOVIB, PPM, MISEREOR, EED,

Broederlijk Delen e Entraide et Fraternité - não estou considerando nem Henryanne, nem Jós, nem

Chico):

1) todas(os) moraram na AL, e algumas delas no Brasil, antes de trabalharem para a

Cooperação, sendo que este fato, ter morado e conseqüentemente conhecer a realidade do

continente, foi um fator fundamental para ou conseguirem seus trabalhos na CI entre

meados da década de 70 e começo dos anos 80.

2) na maioria das agências estas pessoas com experiência e conhecimento sobre América

Latina e/ou Brasil foram, se não, os primeiros oficiais de projeto no continente, formando o

que podemos chamar de “primeira geração das agências” e assim sendo, podem ser

considerados as(os) autoras(os) de um modelo específico, SUL e Norte, e característico de

realizar processos de cooperação internacional, ainda que tal modelo e processos dele

decorrentes tenham existido por um período relativamente curto de tempo. É importante

observar que algumas agências, em especial aquelas diretamente vinculadas às igrejas, seja

católica ou protestante, já realizavam ações no Brasil e /ou América Latina, ações estas

dirigidas as igrejas e missões aqui existentes. Contudo, a estruturação de um campo mais

delimitado para a cooperação e a presença dessas pessoas provocou mudanças importantes

nas concepções das agências ligadas às igrejas.

3) Há que se considerar que sendo um campo político que começava a se instituir, os contatos

pessoais tinham uma importância muito grande e foi a partir de uma rede informal de

contatos que os representantes das agências iam conhecendo novas organizações.

Page 35: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

35

4) As contrapartes passaram a dar expectativa de horizontalidade e dimensão política, mais

dialógica (agências foram revendo suas posições. Exemplo: mudança do termo “ajuda” para

“cooperação”). É interessante observar que algumas(uns) entrevistadas(os) destacam que o

trabalho com as organizações brasileiras naquele período trouxeram para as agências o

conceito de direitos humanos atrelados às dimensões do desenvolvimento. A educação

popular também foi um elemento destacado. Duas mãos.

Ainda que não esteja dito com todas as letras, algumas entrevistas deixam a impressão que o

processo de crescimento de sua atuação no Brasil foi pouco estruturado, no sentido de que

atuavam conforme as oportunidades e circunstâncias, especialmente no caso das agências

holandesas. A autonomia dos oficiais de projetos foi fundamental nos primeiros anos. Tem-se a

impressão de que havia à época um montante de recursos disponíveis e não se encontrava, ou

conhecia organizações que pudessem recebê-los.

Não existe mais um modelo de CI porque contexto mudou, a Europa vive desesperança, a AL

mudou, o Brasil ocupa perspectiva no plano internacional, as agências estão mais burocráticas com

perfil de funcionários mais técnicos e exigindo apresentação de indicadores, há políticas mais

profundas. Resumindo, podemos traçar alguns fatores que mostram a mudança dos rumos:

- Democratização e nos anos atuais desenvolvimento na América Latina:

- Desesperanças e problemas sociais na Europa.

- Conservadorismo das católicas e refluxo do movimento ecumênico.

- Mudança no perfil e dinâmicas das agências no que se refere a uma maior burocratização.

- Mudanças ocorridas na política de Cooperação Holandesa foram mais profundas, ainda que não

necessariamente mais abruptas, dado que um fator freqüentemente mencionado pelas(os)

entrevistadas(os), que atuavam nas agências holandesas, foi o Estudo de Impacto realizado no

começo dos anos 1990, com o apoio e estímulo das direções das próprias agências, mas que não

resultou no que elas esperavam, uma valorização positiva de suas ações.

- Disputas dos recursos pelo mercado – ajudam ao desenvolvimento

- Mudança no perfil das(os) trabalhadores/as das agências a partir de meados da década de 1990,

que passam a ser mais “profissionais" e menos vinculados às questões políticas, foi resultado e

resultante de uma mudança na perspectiva das agências que se pautam por uma busca de

resultados e sua mensuração.

Vivemos outros tempos, quem não olhar o futuro desta forma, ficará fora da história. Não podemos

pensar o presente com as referências do passado. Não podemos tomar a parte pelo todo. Devemos

criar uma reflexão global e a relação renovada entre os países.

Page 36: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

36

Ivo Lesbaupin

As organizações da sociedade civil brasileira – movimentos sociais, sindicatos e organizações

religiosas – têm uma rica história de apoio da cooperação. Muitas delas puderam contar com o

apoio de agências internacionais de cooperação não governamentais de países do Norte em seu

ativismo de resistência à ditadura militar durante a década de 1970 e, ao longo das últimas três

décadas, na recriação da institucionalidade democrática do país, ou seja, na afirmação dos direitos

humanos.

Nessa trajetória, ONGs brasileiras e a de outros países estabeleceram parcerias estratégicas e laços

de solidariedade que vieram conformando o que hoje se pode reconhecer como redes e

movimentos de cidadania planetária. Concordo com o que Vera comentou: processo do Fórum

Social Mundial atesta o alcance que tais redes e movimentos puderam conquistar. De 1970 em

diante, o apoio institucional dado por estas agências foi fundamental para a continuidade do

trabalho destas organizações da sociedade civil (OSCs). Porém, a situação atual não é a mesma.

Hoje quase todas as organizações voltadas para o fortalecimento da democracia e a defesa dos

direitos enfrentam grandes dificuldades para se manter. Pesquisa da Abong10 revela que, entre

2004 e 2008, 92% das suas associadas sofreram um corte de mais de 30% do seu orçamento, e 42%

tiveram mais de 50% de redução. Essa situação prossegue, decorrendo em parte da retirada nesta

década da CI, que exercia até então um papel preponderante no financiamento dessas

organizações. Segundo Damien Hazard, também da diretoria executiva da Abong desta gestão,

“diante da imagem de país emergente capaz de financiar suas políticas sociais, as agências

internacionais de desenvolvimento deslocaram-se para outras áreas do mundo mais pobres e

julgadas prioritárias.”

A síntese de um documento11 recente produzido por várias plataformas, envolvendo 12 países, diz

que muitas organizações do Brasil e AL vêem ameaçada sua existência pela retirada do capital

estrangeiro. Rubén Fernández, que coordenou o conjunto destas consultas nacionais, diz que, em

todos os países latino-americanos onde se fez a consulta sobre a efetividade das OSCs ao

desenvolvimento, há uma percepção – uma sensação e uma constatação – de ameaça à

sobrevivência das OSCs/ONGs. Ameaça de algum tipo: seja por criminalização (da mídia, da

sociedade), seja por limitações legais (leis restritivas), seja por dificuldade de sustentabilidade

financeira. Aqui, neste quesito, entra a constatação de saída da cooperação internacional – ao

10

Dados retirados de artigo “ONGs e Sustentabilidade” de Damien Hazard, publicado no jornal A Tarde, em 2010. Para acessar:

www.abong.org.br/clipping

11 Documento de síntese das 12 consultas nacionais realizadas na America Latina do Open Forum, para acessar: www.cso-

effectiveness.org

Page 37: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

37

menos de parte das agências de cooperação, se não de todas. Para Rubén: “Há explicações de

diferentes ordens para a ‘saída’, mas o argumento basicamente é de que a maioria dos países está

localizados na faixa de ‘ renda média’."

Jorge Balbis, da Asociación Latinoamericana de Organizaciones de Promoción (ALOP), confirma que,

à exceção do Haiti, todos os demais países da AL (33) são considerados “países de renda média” –

eles são, aliás, a grande maioria dos países do mundo caracterizados como tais. Observa que 72%

dos pobres do mundo ficam nos “países de renda média”. Mas acrescenta que não se trata de

fomentar uma “pobretologia”, isto é, a tendência a chamar a atenção para o fato de que ainda

temos muitos pobres ou que temos pobres que são mais pobres do que os de outros países (da

África, por exemplo), com o objetivo de convencer a CI a continuar aqui (na AL, no Brasil).

Uma responsável por uma agência de cooperação alemã tece as seguintes observações:

“Muitos governos dos países do Norte estão sofrendo pressão: os contribuintes perguntam onde

estão os resultados da cooperação? A própria base de nossa agência faz questionamentos sobre a

ajuda, perguntam-nos: por que cooperar com o Brasil? Porque o Brasil, além de ser considerado um

país de renda média, é considerado vitorioso na redução da pobreza absoluta, conseguiu sair da

crise internacional mais rápido que muitos outros países, está conseguindo gerar emprego

novamente. Em suma, é um país com riqueza suficiente para não necessitar de ajuda externa. Há

países que têm muita pobreza, estes governos consideram que é para lá que se deve ir, é para lá

que devem ir os recursos da cooperação internacional. Isto quer dizer sobretudo África. Os

governos querem discutir eficiência e efetividade da ajuda. Temos de responder ao nosso governo

por que estamos agindo assim, quais os resultados de nossos projetos.”

O que mudaria se as ONGs não existissem no Brasil? Na Alemanha, por exemplo, as doações vêm

da classe média, por que no Brasil isso não acontece?

A CI vem mudando porque ela sempre foi parte de um complexo maior de políticas, de disputa do

papel dos países no mundo, das estratégias de seus governos, da geopolítica. Ela reflete uma

dinâmica que não se gera no âmbito das próprias agências, um espaço que nos últimos anos se

tornou muito mais fechado, articulado pelas organizações multilaterais e governos. Um exemplo

recente foi a da direita na Holanda que cortou até 47% dos recursos que davam às agências.

O questionamento sobre a eficácia da ajuda – “quais os resultados do investimento dos últimos

vinte anos?” - vem sendo colocado há vários anos, há mais de uma década. Mas a tendência a

reduzir os recursos, a tendência a deixar o Brasil, a deixar a América Latina, é mais recente.

Observe-se que esta posição cresceu à medida que os países do Norte passaram a ter governos de

direita. Isto é verdade para os EUA, a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Dinamarca, a Itália, a

Suécia, o Canadá, a Holanda. Mudou radicalmente trabalho de Educação Popular, por exemplo.

Como medir sua “eficácia” em 12 meses?

Page 38: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

38

Em muitas agências – não todas -, os recursos para a cooperação vêm parcialmente (30%, 40%,

50%, às vezes mais) dos governos. É uma contribuição exigida pela lei: o Estado, nestes países, deve

contribuir com uma porcentagem de seus recursos para OSCs, para entidades não-governamentais.

Esta exigência legal, no entanto, permite que os governos interfiram, estabelecendo

condicionalidades. Uma delas é a eficácia da ajuda: “onde estão os resultados da ajuda? mostrem-

nos”. Daí a exigência de resultados e de curto prazo. Isto é conseqüência da adesão a teorias de

administração, de gestão, que põem em xeque a eficácia do trabalho realizado até agora pelas

ONGs. Assim como os governos, desde os anos 80/ 90, foram questionadas em nome da eficiência

da gestão – “as empresas privadas são mais eficientes que o setor público, elas são avaliadas pelos

resultados” –, o trabalho desenvolvido pelas OSCs apoiadas pela cooperação internacional passou a

ser questionado pelos mesmos critérios.

Porém, o setor responsável pela sociedade civil da União Européia, iniciou há um ano e meio um

processo de consulta no âmbito internacional chamado Diálogo estruturado sobre a participação

da sociedade civil e as autoridades locais na cooperação ao desenvolvimento da Comissão

Européia12, para saber o que pensavam as OSCs e as autoridades locais sobre a ajuda da instituição.

De acordo com sua diretoria, esta consulta internacional permitiu confirmar, a eles, a importância

da sociedade civil para a democracia. Daí, diz ele, a partir de agora, há a recomendação de apoiar as

plataformas nacionais de ONGs. Isto não quer dizer que vai ocorrer, já que as delegações da UE em

cada país são autônomas, mas revela um posicionamento diferente do que vimos falando até aqui.

Para finalizar, pontuarei uma fala de Rubén Fernandes da necessidade do MR:

Nosso problema central é o de como resolver, de maneira sustentáve,l os problemas gerados pela

falta de um marco legal para todas as pessoas, a carencia ou a má qualidade de vida dessas

pessoas. Claramente, pelo menos na AL, a CI é apenas uma das fontes, mas também não é o mais

importante ou o mais disponível no momento. Sendo este continente campeão da desigualdade no

mundo, o que significa para as ONGSs buscarem recursos dentro e náo fora. A tarefa estratégica é a

distribuição e justiça, e não "mais ajuda" e isto para por uma institucionalidade pública capaz de

assumir estas responsabilidades, tanto globalmente quanto em cada país. No entanto, neste campo

de trabalho, a CI sim pode ser uma alavanca importante, mas para isso devem asumir que entre os

problemas globais que devem ser resolvidos está a desigualdade e não apenas o alívio da pobreza

crítica.

Debate

Bloco de perguntas

12

http://www.abong.org.br/informes.php?id=987&it=990

Page 39: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

39

Luara Lopes (estudante de Relações Internacionais, trabalha com CI 7 anos; tema mestrado): Minha

pergunta é em relação ao papel duplo atribuído hoje do Brasil, de recebedor e doador. Vocês

concordam que essa crise pode ser oportunidade de atrair os fundos? Penso nisso porque creio que

o Brasil tem uma experiência original na CI que é a cooperação Sul-Sul.

Helena Monteiro (Wings; trabalhou na área de CI Canadá – Brasil): A mudança é mundial e o Brasil

vive essa posição de duplicidade, além de afinidades culturais com Europa, África e CI na área da

saúde, por exemplo, no continente africano. Como fazer para receber recursos sem ouvir a

pergunta para o que? Como “ser” neste momento de mudança? Tirar lições, avançar em novo

papel ...

Vera Masagão: Esse “sofrimento” das ONGs é um microcosmo e estamos sendo desafiados a

discutir CI como política pública. Não podemos cair no desânimo. Trata-se de uma disputa política e

fica bem evidente quando contrapomos o discurso de país de renda média ao sabermos que o

Brasil doa exatamente para países de renda média também; isso vem acontecendo entre nações.

Vocês lembram daquele filme nacional Quanto vale ou é por quilo? , em que faz uma grande crítica

às ONGs e suas captações de recursos junto ao governo e empresas privadas? Então, temos que

agir para mudar esse discurso. O impacto da pesquisa da UE na forma de compreender a atuação

da ONGs, que o Ivo nos apresentou, pode contribuir para essa reflexão porque não somos

monolíticos. Há disputas que não são favoráveis e temos que discutir como nos posicionar.

Helda Oliveira Abumanssur (Abong): Minha pergunta está focada na questão da desigualdade:

Falamos e trabalhamos em defesa de direito, da formação política etc., mas pouco em relação ao

aspecto da comunicação dessa realidade. Muitos parceiros pedem ajuda à Abong para comunicar a

realidade dos países. Por que agências agregam valor aos países? Como “convencer” as agências

que a comunicação pode contribuir?

E uma específica para Ivo: A pesquisa da UE foi aplica onde e para quem?

Hugo Fanton (Abong): Sobre a centralidade da dimensão política, a relação entre organizações e

agências para enfrentamento institucionalidade posta: o que mudou do trabalho político dessas

organizações e opção política das agências, pensando movimentos instituintes e instituídos

Athayde Motta (Fundo Baobá): Avaliam que este período é politicamente instituído, foi o único,

quase anômalo? E em relação ao papel do Estado: a CI acontece à revelia do Estado, num clima de

informalidade institucional e, agora, o Estado brasileiro quer segurar (impor) um pouco mais, como

ficamos? Em relação à saída de recursos do Brasil: que papel deveria ter o governo no momento

em que seu discurso é de que “país não precisa”?

Silvio Cacciabava (Instituto Pólis): Houve descolamento de algumas temáticas, uma espécie de

reconfiguração dos termos da CI. A estatização das agências com as quais trabalhávamos antes

reduz sua capacidade de autonomia, atrela sua agência à agenda dos Estados. O mundo mudou

Page 40: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

40

muito e eu hoje não arrisco a dizer nós ONGs porque existem ONGs e ONGs. Nosso grupo passou a

ser uma fração; há dificuldade de fazer esta separação, mas é necessária. Estamos deixando

escapar a reflexão, se não nos abrirmos, ficaremos para trás. Os movimentos se globalizaram, nosso

discurso não pode mais ser ancorado no contexto nacional. No entanto, situações interessantes

estão surgindo como um dos resultados de uma enquete que Le Monde fez em relação a uma

contribuição semestral ao jornal: 55% disseram que sim concordariam em doar, a SOS Mata

Atlântica é outro exemplo dessas novas políticas de sustentabilidade financeira. A SC continua

potencialmente mobilizável; mas nosso discurso em relação aos Direitos Humanos deve ser

modificado, revigorado.

Helena Monteiro: Ouvi no exterior que o Brasil não precisa mais de recursos ou que os temas de

atuação do país não são prioridade, mas alguns deles sim como, por exemplo, meio ambiente.

Gostaria de entender o contexto de como surge esse Brasil que não precisa?

Silvia Pichioni (Fundação Esquel): Em relação à questão da agenda, qual é o ponto de tensão agora, o que está “pegando”? Há um incomodo porque a SC constrói seus objetos e cada organização tem sua agenda, sua especificidade. Não podemos nos amarrar, temos que ter nossa agenda e o país deve reconhecer que fazemos parte da mesma SC. Temos que ter e criar condições para que repasse de recurso seja feita de forma aberta.

Respostas

Sérgio Haddad

As perguntas mostram a complexidade da questão. Antes os temas eram restritos e temos que

ampliar natureza e temáticas com quem vimos trabalhando. Discordo que a agenda seja a mesma

porque, por exemplo, os DH ganharam uma complexidade e amplitude enorme, com mobilização

popular e formação política. Os temas “proibidos” – aquecimento global, Amazônia, crise

civilizatória – são formas que se tornaram mais complexas. Temos uma SC com pouca experiência

em acompanhamento dos processos de CI e o que o próprio país faz. Não acho que o Brasil é

somente bem feitor nesse campo. Às vezes é malfeitor, segue a lógica desenvolvimentista e como

exemplos legislações sobre segurança ou sustentabilidade ambiental. A ação do Brasil no Haiti é

bastante questionável. A SC não acompanha muito estas ações.

Estamos vivenciando novos tempos mesmo, tempos em que uma agência governamental pergunta:

como faço para defender vocês? Frente ao que as ONGs enfrentaram, nossa atuação tornou-se

muito mais complexa, inclusive, essa pergunta também pode ser compreendida como se para dizer

a nós mesmos como somos importantes. Também sinto essa dificuldade em relação à comunicação

e concordo com Silvio: ainda vivemos num universo ainda pouco visível do ponto de vista da

qualidade das nossas ações. Fico admirado com o poder de sedução ou capacidade de arrecadação

Page 41: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

41

de recursos das seitas, dos programas religiosos de TVs ... Não sabemos fazer essa captação;

aprendemos com certo modelo e, agora, estamos reaprendemos outro.

Em relação ao papel do Estado: a CI vai permanecer porque a tradicional relação entre SC e Estado

hoje é maior, mais solidificada, mais que na Holanda. Houve um momento em que o país criou suas

próprias organizações de CI – a Novib é um exemplo –, para canalizar os recursos, muitos recursos

público. Só foram mencionar e relacionar trabalho de base começo década de 90 e desmereceu o

papel das organizações – produto contra elas. Houve praticamente um desmanche com a queda do

Ministério da CO na Holanda. O papel do Estado é importante, mas meu sonho é construir uma

força a partir do poder do indivíduo. Percebi a força gerada quando as pessoas participam

investindo dinheiro, aquilo que te dá legitimidade é a nossa missão. Defender direito está na

legislação, mas o ideal é quando juntamos as duas situações e o MR deve ajudar a criar setores

comprometidos.

Ivo Lesbaupin

Há uma afirmação recorrente que o mundo e mudou radicalmente. O Chico de Oliveira tem uma

análise interessando de que nós sofremos nos últimos 30 anos uma derrota muito grave no campo

da idéias, onde individualismo é fundamental hoje. Há alguns anos, se um indivíduo fazia alguma

doação era fascista. Hoje é diferente, admitidos altas taxas desemprego, por exemplo.

Existe disputa ideológica bastante explícita depois da crise de 2008 como:

Mitos – de que não há alternativa, a única política econômica é esta, que o Estado não tem mais

recursos. E os trilhões usados para salvar bancos em 2008?

Resistência: ela ainda acontece lembrando a Primavera Árabe (em menos de “um mês” derrubaram

ditaduras na Tunísia, no Egito) e suas conseqüências como as manifestações na Espanha. A Europa

hoje é uma panela de pressão. Para lembrar uma informação recente foi o pacote do governo da

Grécia aprovado pelo parlamento. Que democracia é esta? Existe sentimento de indignação, na

Itália também ... minha sensação é de resistência crescente.

Em relação às agências: há uma parte delas que permanece no Brasil e está batalhando para influir

na transformação social de fato e não apenas na defesa de direitos.

Muitas lutas tornaram-se globais. Estamos juntos em temáticas, fazendo alianças. Já enviamos

muitas informações de Belo Monte para uma agência austríaca depois de descobrimos que estão

produzindo as turbinas que serão usadas aqui. Fizeram até manifestação lá contra a instalação da

hidrelétrica. Saiu na imprensa, foi publicado vídeo no youtube, e até um filme sobre outra usina

hidrelétrica foi gancho para esta ação. Há uma forma de aliança que mudou.

A Consulta da UE chama-se Diálogo estruturado sobre a participação da sociedade civil e as

autoridades locais na cooperação ao desenvolvimento da Comissão Européia e foi realizada com

Page 42: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

42

cem organizações da SC e autoridades municipais. Apresentaram os resultados em Assunção

(Paraguai), entre 15 a 17 de setembro de 2010.

Sérgio Haddad

Um dado importante sobre a minha pesquisa. Quando perguntei sobre o futuro da Europa, todos

responderam de maneira pessimista; emprego, imigração etc.

Silvio Santana

Creio que as perspectivas de futuro que já estão começando. Temos que pensar se há uma crise

geral de sistema e se estamos caminhando dentro dela. Qual análise assumir como verdadeira?

1. Excedentes da SC tende a cair;

2. Se os excedentes caem, reduzimos a capacidade de compartilhar e gera uma insegurança geral

(alimentar, climática etc.). O quadro geral dos próximos anos é muito ruim mesmo, o que nos

sobra? Dentro deste mesmo quadro, o que deveria tender seria a SC começar a reagir aumentando

o grau de solidariedade. Não deveríamos discutir a CI recebida, mas as alianças necessárias para

cooperar. Tenho certa restrição ao discurso de que o que fazemos é invisível. O problema é que não

sabemos dizer o resultado que temos; que nossas ações são processuais mesmo e nem por isso

deixa de ser um avanço.

Outras intervenções

Patrícia Mendonça

Chamou atenção discussão pessimismo da Europa, acho que é também reflexo do discurso da

sociedade ditas avançadas e que passam por “empobrecimento”. Fui a um evento do governo

chinês onde foi dito que são questionados em relação ao respeito dos DH na China e responderam:

“querem que incluamos os DH de vocês?”

Vera Masagão

Construímos conexões internacionais a partir da concepção social, construímos pontes. E agora

vamos jogar fora? Temos força e devemos canalizar para algo produtivo, mais pró-ativo. Há

organizações internacionais vindo para o Brasil e somos atores atualmente. Não é possível separar

joio do trigo porque quando pensamos em SC devemos centrar força no Marco Regulatório. Temos

que nos preocupar com envelhecimento do movimento anterior, no compartilhamento do legado.

Atualmente o conte é das novas tecnologias. Nós como ONG do Sul, devemos dialogar com a SC dos

demais continentes. É lá e cá! Trabalharmos mais na parceria, solicitar ao nosso governo que apóie

estes intercâmbios internacionais, retomando a idéia da triangulação: SC, agências de CI e

governos.

Page 43: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

43

Silvio Cacciabava

Devemos diferenciar nossos discursos do da CI, que é só “pobreza”. A Primavera Árabe teve uma

boa referência, uma primeira geração que foi a América Latina. Esta lutou (e luta) por uma

construção de alternativas políticas. Devemos assumir a “cara” política desse debate, desses

processos, ganhando uma aproximação desses indignados. Na Bolívia, há coalizão entre indígenas

e governo (Gramsci + movimentos); a SC da Grécia nos diz: “nossos votos não cabem nas vossas

urnas”. Quando a crise avança para o sistema político, onde o novo locus se constitui? São as redes

de cidadania e já estamos também nela. Devemos resgatar os processos da AL.

Luara Lopes

Concordo com o Sérgio que há equívocos na CI brasileira. Um exemplo foi a “ajuda” que o governo

se dispôs a fazer de e-govermnent. Chegaram lá e se depararam com uma realidade muito dura:

não tinham luz. Queríamos discutir um tema fora da realidade deles. É muito oportuna a

participação da Abong em Busan porque a cidade foi entreposto da guerra. Devemos apresentar as

restrições à OCDE, a Abong poderia entrar em contato com IPEA, com Agência Brasileira de

Cooperação.

Vera Masagão

A SC está bem envolvida com a participação de Busan, mas nosso governo não sabe disso. Só em

relação a Accra13 (Gana).

Filomena Siqueira

Em relação às novas contrapartidas em relação aos resultados pedidos pelas agências? Qual a

gravidade disso?

Ivo Lesbaupin

As contrapartidas sempre existiram. O que mudou foi, e por influencia de teorias de Administração

e “clima ideológico”, a exigência de resultados mais imediatos (em curto prazo). Então, ao

desenvolvermos um projeto, devemos colocamos resultados e indicadores, sendo que boa parte de

nossa atuação não é mensurável dessa forma ou no tempo pedido. Passamos a ser mais cobrados

em relação a isso.

Sérgio Haddad

Minha experiência no Fundo Brasil de Direitos Humanos diz que o país é muito complexo e diverso

e a complexidade é desafiadora. Com exceção ao processo árabe, temos que ser otimistas do ponto

13

Agenda para a Ação de Accra 2008: www.cso-effectiveness.org/?lang=es

Page 44: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

44

de vista das ações da América Latina e da indignação da Europa que é nascente e crescente. O

mundo está seguindo para novo caminho de desenvolvimento.

Dia 2 - Tarde

Mesa 2 - O Brasil doador: contexto, diretriz políticas e temáticas e desafios

Convidados:

Mesa 2 – O Brasil doador: contexto, diretrizes políticas e temáticas e desafios

Convidados/as:

Vera Maria Masagão Ribeiro - doutora em Educação pela Universidade Católica de São Paulo, integrante da

coordenação executiva da ABONG – Associação Brasileira de ONGs e coordenadora de programas da Ação

Educativa

Rui Mesquita - oficial de programas da Fundação W.K. Kellogg para América Latina e Caribe e Mestre em

Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda

Debate: foco na análise avaliativa e propositiva em relação a política de cooperação internacional brasileira

e indicação de diretrizes.

Rui Mesquita

A Fundação Kelloggg é uma institutição norte-americana independente, tem 81 anos de existência.

Destes, atuou por quase 60 anos no Brasil e, agora, está saindo do país até 2013. Bom, mas não fim

falar especificamente desta saída e sim do Brasil doador, nova situação em que nos encontramos.

Mas que tipo doador é este?

As referências de estudos que busquei foram:

Le Monde Diplomatique Brasil: Brasil, um país doador (Abr/2011)14

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)/ Agência Brasileira de Cooperação (ABC): Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento Internacional: 2005-2009 (Dez/2010)15

ABC: Diretrizes para o Desenvolvimento da Cooperação Técnica Internacional Multilateral e Bilateral (Fev/2005)16

14

http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=910 15

Fonte: www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/Book_Cooperao_Brasileira.pdf 16

http://www.abc.gov.br/download/Diretrizes-CTI.pdf

Page 45: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

45

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD): www.oecd.org

Em 2001, o mapa mostra que tínhamos um “chão” para andar, um caminho a percorrer e visão

estratégica. Brasil estava no limbo porque estava deixando de ser receptor internacional, mas ainda

não se configurava como um doador pleno (doméstico ou internacional). A imagem revela quem

são os países receptores e doadores em 2001, mas este cenário não mudou muito. Os que estão em

verde claro são os mais importantes nesta conversa de hoje: Brasil, Chile, Venezuela, México etc.

que não eram receptores e nem doadores (ou sem dados de fato).

Doadores e Recipientes

Brasil no Limbo: Deixando de ser receptor internacional mas ainda não se configura como um doador pleno (doméstico ou internacional).

www.8goals4future.at/english/index.php?url=goal8

Segundo dados IPEA, com apoio da ABC, de 2005 a 2009, portanto, durante cinco anos, o Brasil recebeu US$ 1,48 bi e doou 1,88 bi, restando um saldo de US$ 400 milhões doados. Neste caso o IPEA não considerou os dados de perdão da dívida externa que a OCDE normalmente calcula. O Brasil não faz parte da OCDE; o México é o único da América “Latina”. Estou fazendo uma improvisação metodológica aqui usando duas fontes diferentes. Precisamos, então, saber para onde estão indo os US$ 1,88 bi. A distribuição é a seguinte:

Organismos internacionais: US$ 1,04 bilhão (55%) - Há programas da ONU que são inteiramente desenvolvidos com o dinheiro do Brasil, tanto no exterior quanto no país mesmo. Por isso, estamos aqui para discutir o quão doador de fato nós somos.

Perdão dívida: US$ 448 milhões (24%)

Page 46: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

46

Assistência técnica: US$ 252 milhões (13%) – Um exemplo é o continente africano que

recebe profissionais da saúde (combate a AIDS) e da agricultura (sementes). Dão-se mais na

cooperação Sul-Sul.

Bolsas de estudos: US$ 143 milhões (8%) – Estrangeiros que vêm para cá por meio da União

de Nações Sul-Americanas (Unasul)17, Universidade da Integração Internacional da

Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)18 etc.

Um dos dados importantes da lâmina abaixo é a tendência de crescimento da doação brasileira em três campos:

Assistência TécnicaUSD $252 milhões em 5 anos (13% do total)

Tendência de alta:

2009: 73 vezes maior que em 2002

Principais áreas:

Agricultura: 22% dos projetos

Saúde: 16% dos projetos

Educação: 12% dos projetos

As duas grandes responsáveis por este crescimento são a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Fazendo uma média anual nesses nos cinco anos (2005 a 2009) entre Organismos internacionais

(USD $208 milhões), Perdão dívida (USD $90 milhões), Assistência técnica (USD $50 milhões) e

Bolsas de estudos (USD $29 milhões), a conta dará USD $377 milhões. Ou seja, estamos doando

menos de 400 milhões por ano.

Vamos analisar agora o Brasil Doador x a OECD. Esta pressiona os países a cumprirem a meta doação 0,7% do seu PIB, sendo que somente Holanda, Noruega, Suécia conseguem. Se o Brasil entrasse, deveríamos doar US$ 14 bilhões por ano; estamos hoje em US$ 0,19. Vejam:

17

http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/unasul 18

http://www.unilab.edu.br/

Page 47: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

47

Brasil Doador (x) OECD (0,7% do PIB)

Doador Valor Anual Ano Referência

Brasil (total) USD $377 milhões Média 2005-2009

Brasil (Assistência Téc.) USD $50 milhões Média 2005-2009

PIB do Brasil USD $1.984 trilhão *OECD, 2008

Meta: 0,7% do PIB USD 13,9 bilhões *OECD, 2008

Percentual atual: 0,019% do PIB Média 2005-2009

Para alcançar a meta: x 37 vezes Média 2005-2009

Brasil (Assistência Téc.) USD $1,8 bilhão X 37 vezes

*Fonte:

http://stats.oecd.org/index.aspx?queryid=23113

Para dar um panorama comparativo Brasil Doador x Fundações EUA, selecionei somente as cem maiores fundações norte-americanas; são 15 mil no país. O Brasil está doando, basicamente, nas áreas de Assistência Técnica e Ajuda humanitária. Fazendo uma comparação com as empresas brasileiras para vermos o quanto é pífio o investimento da Assistência técnica do Brasil frente a investimento uma empresa brasileira no país.

Page 48: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

48

Brasil Doador (x) Fundações BR

Doador Valor Anual Ano Referência

*Rede GIFE USD $1,2 bilhão Censo GIFE 2009

Brasil (total) USD $377 milhões Média 2005-2009

Brasil (Assistência Téc.) USD $50 milhões Média 2005-2009

**Petrobrás Ambiental USD $49 milhões 2011

***Petrobrás Social USD $35 milhões 2010

*R$ 1,9 bilhão em 2009 - Fonte:

www.gife.org.br/arquivos/publicacoes/22/Censo%20GIFE%20(baixa).pdf

**R$ 78,2 milhões em um ano (2011) - Fonte:

www.petrobras.com.br/ppa2010/apresentacao

***R$ 110 milhões em dois anos (2010-2011) - Fonte:www.petrobras.com.br/minisite/desenvolvimentoecidadania/apresentacao

O que discutimos dentro da D3 é qual a nova arquitetura hoje, quais as tendências para futuro? Precisamos realizar uma pesquisa atual com estas tendências para hoje e tendências em que deveriam entrar filantropia estatal, fundos públicos, loterias, Sistema S. Temos que nos perguntar também: como essa arquitetura tem ajudado o Brasil nesse campo dos direitos? Qual o papel da sociedade civil nisso tudo? Não só em relação à saída do dinheiro daqui, mas os que permanecem em prol das questões do direito. Quão proativa as organizações podem ser neste cenário? A maioria das nossas fundações é corporativa e dependente. E ainda nos faltam parâmetros, diretrizes para a regulação do setor, diferentemente dos EUA onde há leis que regulam a criação e manutenção delas.

Page 49: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

49

O Modelo das FundaçõesProporção Comparativa Brasil-EUA (termos relativos)

Em relação à localização dos investimentos das fundações norte-americanas: US$ 33 bilhões (todas as fundações e não somente 100 maiores) de fora dos EUA. Somente 40% foram para ONGs estrangeiras, sendo que deste montante 45% são de países desenvolvidos e 55% vêm para países do Sul.

Localização do Investimento

das Fundações Norte-AmericanasAno 2006

Page 50: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

50

Vamos ver agora os números dos doadores brasileiros no universo das associadas do GIFE, dados de 2007:

Análise dos Doadores Brasileiros

Associados GIFE*:

R$ 1 bilhão (2007)

R$ 1,15 bilhão (2008) => +15%

R$ 1,9 bilhão (2009) => + 65%

R$ 2,02 bilhões (estimativa 2010) => +6%

*Grupo de Institutos Fundações e Empresas para o investimento social privado.

E em relação às áreas de atuação destas associadas, constatamos que a Defesa de direitos está em 10º lugar e a única que cresceu foi meio ambiente. Observem:

Fonte: Censo GIFE 2007 - 2008

1º Educação 83

2º Formação para o trabalho ** 59

3º Cultura e artes 55

4º Geração de trabalho e renda 53

5º Apoio à gestão do 3º setor 53

6º Desenvolvimento Comunitário 48

7º Meio Ambiente 46

8º Assistência Social 40

9º Saúde 38

10º Defesa dos Direitos 35

11º Esportes 28

12º Comunicações 23

Associados GIFE(Áreas de Atuação)

Page 51: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

51

Minhas provocações ao debate são:

Qual modelo queremos para a Cooperação Internacional do Brasil?

Qual a “qualidade” deste Brasil Doador hoje e qual a que queremos? Dentro da arquitetura doméstica existem escolhas/propostas/experiências, mas não respondem à plenitude em relação ao campo de Direitos Humanos. Devemos pensar em criar novas estruturas, novos doadores. Vera Masagão O Rui fez uma análise sofisticada. Farei uma abordagem de análise política rumo à construção de uma agenda no contexto da Assistência Oficial ao Desenvolvimento e os “Novos doadores”. Existe atualmente, o que chamei nesta lâmina de As instâncias de governança global, um movimento internacional de novos doadores e não só o Brasil. São eles:

• Comitê de Assistência ao Desenvolvimento (CAD) reúne 24 países da OCDE. • Grupo de Trabalho sobre Eficácia da Ajuda. • Fórum sobre Cooperação para o Desenvolvimento das Nações Unidas.

O monitoramento da Assistência Oficial ao Desenvolvimento segundo critérios comuns: financiamento oficial a países em desenvolvimento com até 25% de fundo perdido, incluindo transferências, cooperação técnica e bolsas de estudo. Há também os Fóruns de Alto Nível, como:

• Declaração de Paris ( 2005)

• Resultados mensuráveis (Exemplo levantamentos do Rui) • Mútua acccountability

• Agenda de Ação de Accra (2008)

• Uso dos sistemas nacionais • Reduzir fragmentação • Ajuda previsível • Engajamento das OSCs • Cooperação Sul – Sul (protagonismo brasileiro)

• 4º Fórum de Alto Nível Busan / Coréia

A Agenda Accra foi um momento em que, pela primeira vez, um documento apresentou/reconheceu que a sociedade civil é ator (parágrafo 20) e, agora, na preparação para o

Page 52: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

52

4º Fórum de Alto Nível Busan percebo que estamos “perdendo” espaços para empresas e fundações. Em relação às articulações da sociedade civil, listamos três espaços:

• Better Aid • Open Forum (paralelo à Better Aid) discutiu fudamentalmente a instituticionalidade das

ONGs, sua eficácia e padrões de eficiência. Queremos ser medidos. Proporcionou maior evidência das que ONGs contribuem com a construção de Estados democráticos, mas não o substituem.

• Reality of Aid Observando esta tabela, percebemos que a Assistência Oficial ao Desenvolvimento dos membros do CAD/OCDE está estagnada.

O montante da AOD dos membros do CAD/OCDE está estagnada

Desde 1960, a AOD decresce em termos de percentual do PIB dos países CAD/OCDE:

Page 53: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

53

Relembrando as agendas da sociedade civil e agências multilaterais:

• FIP / BetterAid G20 • Taxação de transações financeiras • Combate aos paraísos fiscais • Maior transparência e envolvimento da sociedade civil na cooperação praticada pelos

“Novos doadores” E expectativa de encontrar “Novos doadores”. Quem são ou poderiam ser? Membros OCDE:

• República Checa • Hungria • Islandia • Coréia • México • Polônia • Slovakia • Turquia

Não membros:

• Brasil, China, India, Russia, • Israel, Kuwait, Arábia Saudita

Page 54: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

54

• Africa do Sul, Tailândia, Venezuela • Lituania, Romenia, Lieschtenstein • Slovenia

Em 1995, os países fora do CAD (1,7%) doavam 1 bi e em 2008 passou para 14,5 bi (12% da AOD). Na concepção da CI tradicional “rola solto” a ajuda “casada” e coerência com políticas de comércio e investimento dos doadores. Portanto, quando falamos em características da assistência praticada pelos “novos doadores”, queremos pontuar:

• Relação de parceria e não de caridade. • Atua em setores produtivos (diferente do viés assistência-saúde-educação da AOD

tradicional). • Principalmente via relações bi-laterais. • Assistência técnica (não doação). • Negociações ocorrem em níveis mais altos de governo. • Não envolvimento das OSCs de ambos os lados. • Condicionalidades raras. • Ajuda “casada” freqüente. • Ajuda a países vizinhos. • Agilidade e boa administração dos fluxos. • Falta de transparência. • Coerência com políticas de comércio e investimento dos doares.

Sobre a cooperação brasileira para o desenvolvimento internacional, de 2005-2009, segundo dados do IPEA/ABC de 2010:

Recuperei uma fala importante e motivadora do Lula que disse: “primeiro passo na construção de uma política de cooperação internacional integrada à política externa brasileira, que possa contar com ampla base de apoio do Estado e da sociedade civil.”

Page 55: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

55

Esse discurso de que os países ricos não doam para os de renda média não condiz com a realidade. O Brasil, por exemplo, já doou tanto para de baixa renda quanto de alta. Todos podem doar para todos. Vejam os números da Cooperação Técnica Científica e Tecnológica entre países:

• Capacitação (70%). • Países: Argentina (8%), Guiné Bissau (6%), Timor Leste, Cuba e Moçambique, com (4%). • Países de Língua Portuguesa (27%) e Mercosul (15%). • Países de renda média baixa (42%), renda média alta (24%), renda baixa (21%), renda alta

(4%). • Agricultura e saúde são as áreas mais executadas • Cooperação Triangular.

E em relação à ajuda humanitária, é possível uma aposta política Sul-Sul. Os dados são:

• América Latina e Caribe (77%). • Ásia (16%). • África com (7%). • CPLP (8%). • Os países que mais receberam foram Cuba, Haiti, Território Palestino e Honduras (64%).

A situação atual do cenário da cooperação não governamental é:

• Laços com agências de cooperação internacionais (principalmente européias). • Cooperação triangular. • Falta de marco legal. • Apoio governamental (versão oficial) com envolvimento de ONGs no diálogo internacional –

OIT, ONU, OMC, CPLP, Mercosul; participação em delegações oficiais; participação do, então, presidente Lula no Fórum Social Mundial.

Como contribuições da agenda, então, o que a SC pode apresentar: A política pública de cooperação internacional brasileira que queremos:

• Que seja integrada à política externa. • Que tenha compromissos explícitos com a promoção dos direitos humanos e a preservação

dos bens comuns da humanidade, com os princípios da equidade, da justiça e da solidariedade.

• Que tenha coerência na atuação bi e multilaterial. Pontos de advocacy para a sociedade civil:

• Compromisso com ampliação do recurso e mecanismos inovadores; • Transparência quanto a montantes, áreas, atores envolvidos, resultados e impactos sociais e

ambientais;

Page 56: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

56

• Ampliação da representatividade, transparência e efetividade das instâncias de governança global;

• Apropriação democrática; fortalecimento dos arranjos econômicos locais (não a condicionalidades e ajuda casada);

• Orientação de empresas públicas e o setor privado em relação a Agenda de Trabalho Decente, soberania, respeito à diversidade cultural e natural e equidade de gênero;

• Apoio à participação das OSCs, criação de ambientes propícios para a auto-organização e ação autônoma de movimentos de cidadania.

Debate Raimundo de Oliveira (mediador) Então, depois das apresentações do Rui e da Vera, começo chamando vocês para uma reflexão: Qual o lugar do Brasil nessa reengenharia da doação? Em 2001 o Brasil não tinha lugar. Logo depois começamos a aparecer. A partir 2005 ara 2009, damos um salto para Brasil Doador; num período em que o Lula mais viajou muito e com o discurso de que Brasil estava resolvendo problemas como a fome, a miséria, a pobreza. Alguns elementos para pensarmos: que modelo temos e qual queremos? Qual a qualidade da CI enquanto Brasil doador? Que nova arquitetura queremos e qual o papel dos fundos? Luara Lopes (fez parte da ABC e foi assistente Projeto IPEA/ABC) O Brasil tem ambição de entrar na OCDE e eu não concordo com essa posição. Talvez o governo deva se alinhar à SC para participar de Busan para formar alternativa à declaração de Paris e à OCDE. Helda Abumanssur Em relação aos dados de 2005 a 2009, há um aumento significativo do todo, aumento geral? Para reflexão: não falta comparação de proporção em relação ao PIB dos países doadores? Estamos mudando? Silvia Pichioni Minha questão vai para Vera: você falou em coerência com a política externa? Mas qual o referencial de política externa? Para mim muitas negociações do Ministério das Relações Exteriores algumas vezes tendem a “quebrar” trabalhos que estamos fazendo. Um exemplo foi quando o Brasil negociou entrada no Conselho de Segurança e acabaram cedendo espaço dentro de processos de combate à desertificação. Athayde Motta É muito importante começarmos um esforço de reunirmos dados e informações também sobre a atuação do Brasil. Creio que tenhamos três pontos são chaves nesse momento da discussão:

1) Ajuda humanitária: o Brasil não tem capacidade, experiência, mas faz. Uma ação equivocada é a “Força de paz”.

Page 57: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

57

2) Detalhes das condicionalidades: a CI é afirmação do Brasil lá fora e uma condição importante, mas muitas vezes são abusivas. Devemos esmiuçar essas condicionalidades porque, de fato, não sabemos quais são.

3) Papel da diplomacia na política de cooperação: não existe profissional de cooperação, mas quem seria, qual o perfil? Aqui, são os diplomatas; o que não são boas referências, mas temos que discutir alternativas. É um ponto nefrálgico, mas temos que tocar neste assunto com o Ministério sem fechar as portas.

Rubens Harry Born Em relação aos números que o Rui apresentou: é só dinheiro federal ou de outras esferas? Para Vera: marco legal também criou embaraços, mas como inovar? Sobre a Cooperação triangular: tenho dúvidas também. Por exemplo: caímos em tanta burocracia que inviabilizou nosso projeto no Vietnã. Penso que o governo não tinha interesse. Outro exemplo é em relação às questões climáticas: ajudamos outros países, mas não fazemos internamente. Mário Aquino Dentro de estratégia da SC, de criar espaço de deliberação para que ela mesma influa dependendo da qualidade das informações que temos, e refletir o papel Itamaraty na promoção do diálogo que monopoliza a CI, devemos pensar a ampliação porque ao Itamaraty está reservado o papel da burocracia. A SC tem que falar por ela e não o Itamaraty. Hugo Fanton Existem pesquisas que relacionem os distintos marcos regulatórios com formas de cooperação entre os países? Respostas Vera Masagão É perigoso falarmos que a CI tem que ser coordenada pela política externa. Ela é parte da política externa, embora seja complicada a falta de coerência entre o que fazemos dentro e fora do país. Temos que denunciar a incoerência, ou seja, quando queremos ajudar e economicamente destruímos. Participamos de um novo governo e nós (SC) não deveríamos querer entrar na OECD. Acho que devemos defender a ONU como espaço de governança global, onde os direitos humanos e bens comuns estão em várias instâncias e temos que ajudar no enlace delas; combinar com o governo que não devamos ter um discurso de auto-suficiência. Rui Mesquita Acabei misturando as metodologias na apresentação porque são os números disponíveis. O governo não se posiciona, há muitas mudanças no cenário político brasileiro em relação a isso. Não deveríamos querer ser membro em Busan. Por conta das discussões em 1990, dos países não alinhados (contexto guerra fria e hoje de multipolaridade onde AS pode ser um desses pólos), devemos escolher em qual agenda que incidir. O que é mesmo desenvolvimento para o Brasil? Quem está estudando isso? Escolas? A área das Relações Internacionais é ampla demais para dar

Page 58: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

58

conta deste tema. Teremos dificuldades enquanto não tivermos uma massa crítica, coleta de dados. Em 2001 éramos “sem dado” e hoje, pelo menos, temos 1 estudo do IPEA. Reposta para a Helda: sim, mas não trata desta forma, faltam dados. Em relação ao PIB, os países da OECd estão abaixo da meta 0.7% meta estabelecida pelo órgão. Para o Brasil entrar, precisaria doas 37 vezes do que hoje. Resposta para Silvia: desde 1988 caminha-se para criação de conselhos etc. e menos para política externa. Deveríamos caminhar para um pacto federativo. Resposta da Hugo: já vi em algum lugar; a OCDE faz esses estudos como, por exemplo, a Cesta de fundos, mas somente no âmbito dos associados. Outras intervenções Walter Topfstedt O processo de CI pode ficar mais claro do que temos que “dar”, como, por exemplo, conseguimos com a cultura da diferença. Helena Monteiro Em relação ao Ministério das Relações Exteriores: fazendo paralelo no âmbito do trabalho das fundações (na fundação que atuo), há desafios paralelos. Arrisco a dizer que, minha experiência como ABC e outras, existe um abismo entre trabalho das ONGs que atuam fora e no ABC; onde a mentalidade é dos anos 1970 em relação a entraves/sinergias. Um dos trabalhos poderia ser “aproximação” interna e ABC ser parceiro facilitador. Luara Lopes É uma oportunidade deste debate por ser momento de mudança na ABC onde estão abrindo espaços para novos profissionais, estão renovando sua gestão. Athayde Motta Devemos saber/levantar se os governos podem cooperar com outro governo e em que condições. Helena Monteiro O debate destes dois dias deve contribuir com o “como” as ONGs da SC podem receber e doar porque precisamos fazer isso, descobrir maneiras de repasse de recursos para outros países. Rui Mesquita Para relembrar: a situação é caótica mesmo, como os resíduos de investimento, mas tem por quê: desde a ditadura (modelo de importações desenvolvimentista) fechamos as portas às remessas de lucros, situação um pouco “quebrada” pelo Fernando Collor que proporcionou um pouco de abertura, mas que foi excessiva ao neoliberalismo trazendo uma enxurrada de portarias que nem sempre contribuem positivamente. A solução é termos um código aprovado pelo congresso e acabem as portarias de vez, mas não temos capital intelectual para propor ao governo.

Page 59: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

59

Raimundo de Oliveira Nos dias 19 e 20 de setembro, a Abong promoverá um evento cuja pauta é o novo modelo de desenvolvimento e os 20 anos de Abong. Com o “reaparecimento” da Rio+20, a agenda da institucionalidade voltou a ser pauta. Walter Topfstedt Será muito importante a Abong internalizar a Rio+20 em suas práticas e nos colocamos a disposição para contribuir neste debate.

Recomendações/Inquietações

Silvio Cacciabava

Estamos deixando escapar a reflexão, se não nos abrirmos, ficaremos para trás. Os movimentos se

globalizaram, nosso discurso não pode mais ser ancorado no contexto nacional. No entanto,

situações interessantes estão surgindo como um dos resultados de uma enquete que Le Monde fez

em relação a uma contribuição semestral ao jornal: 55% disseram que sim concordariam em doar, a

SOS Mata Atlântica é outro exemplo dessas novas políticas de sustentabilidade financeira. A SC

continua potencialmente mobilizável; mas nosso discurso em relação aos Direitos Humanos deve

ser modificado, revigorado.

Sérgio Haddad

Discordo que a agenda seja a mesma porque, por exemplo, os DH ganharam uma complexidade e

amplitude enorme, com mobilização popular e formação política. Os temas “proibidos” –

aquecimento global, Amazônia, crise civilizatória – são formas que se tornaram mais complexas.

Temos uma SC com pouca experiência em acompanhamento dos processos de CI e o que o próprio

país faz. (...) Estamos vivenciando novos tempos mesmo, tempos em que uma agência

governamental pergunta: como faço para defender vocês? Frente ao que as ONGs enfrentaram,

nossa atuação tornou-se muito mais complexa, inclusive, essa pergunta também pode ser

compreendida como se para dizer a nós mesmos como somos importantes. (...) Não sabemos fazer

essa captação; aprendemos com certo modelo e, agora, estamos reaprendemos outro. (...) O papel

do Estado é importante, mas meu sonho é construir uma força a partir do poder do indivíduo.

Percebi a força gerada quando as pessoas participam investindo dinheiro, aquilo que te dá

legitimidade é a nossa missão. Defender direito está na legislação, mas o ideal é quando juntamos

as duas situações e o MR deve ajudar a criar setores comprometidos.

Ivo Lesbaupin

Page 60: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

60

Mitos – de que não há alternativa, a única política econômica é esta, que o Estado não tem mais

recursos. E os trilhões usados para salvar bancos em 2008?

Silvio Santana Não deveríamos discutir a CI recebida, mas as alianças necessárias para cooperar. Tenho certa

restrição ao discurso de que o que fazemos é invisível. O problema é que não sabemos dizer o

resultado que temos; que nossas ações são processuais mesmo e nem por isso deixa de ser um

avanço.

Vera Masagão

Temos que nos preocupar com envelhecimento do movimento anterior, no compartilhamento do

legado. Atualmente o conte é das novas tecnologias. Nós como ONG do Sul, devemos dialogar com

a SC dos demais continentes. É lá e cá! Trabalharmos mais na parceria, solicitar ao nosso governo

que apóie estes intercâmbios internacionais, retomando a idéia da triangulação: SC, agências de CI

e governos.

Silvio Cacciabava

Devemos diferenciar nossos discursos do da CI, que é só “pobreza”. A Primavera Árabe teve uma

boa referência, uma primeira geração que foi a América Latina. Esta lutou (e luta) por uma

construção de alternativas políticas. Devemos assumir a “cara” política desse debate, desses

processos, ganhando uma aproximação desses indignados. (...) Quando a crise avança para o

sistema político, onde o novo locus se constitui? São as redes de cidadania e já estamos também

nela. Devemos resgatar os processos da AL.

Rui Mesquita

O que discutimos dentro da D3 é qual a nova arquitetura hoje, quais as tendências para futuro? Precisamos realizar uma pesquisa atual com estas tendências para hoje e tendências em que deveriam entrar filantropia estatal, fundos públicos, loterias, Sistema S. Temos que nos perguntar também: como essa arquitetura tem ajudado o Brasil nesse campo dos direitos? Qual o papel da sociedade civil nisso tudo? Não só em relação à saída do dinheiro daqui, mas os que permanecem em prol das questões do direito. Quão proativa as organizações podem ser neste cenário? (...) Qual modelo queremos para a Cooperação Internacional do Brasil? Qual a “qualidade” deste Brasil Doador hoje e qual a que queremos? Vera Masagão

A Agenda Accra foi um momento em que, pela primeira vez, um documento apresentou/reconheceu que a sociedade civil é ator (parágrafo 20) e, agora, na preparação para o 4º Fórum de Alto Nível Busan percebo que estamos “perdendo” espaços para empresas e fundações. (...) E em relação à ajuda humanitária, é possível uma aposta política Sul-Sul.

Page 61: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

61

A política pública de CI brasileira que queremos:

• Que seja integrada à política externa. • Que tenha compromissos explícitos com a promoção dos direitos humanos e a preservação

dos bens comuns da humanidade, com os princípios da equidade, da justiça e da solidariedade.

• Que tenha coerência na atuação bi e multilaterial. Pontos de advocacy para a sociedade civil:

• Compromisso com ampliação do recurso e mecanismos inovadores; • Transparência quanto a montantes, áreas, atores envolvidos, resultados e impactos sociais e

ambientais; • Ampliação da representatividade, transparência e efetividade das instâncias de governança

global; • Apropriação democrática; fortalecimento dos arranjos econômicos locais (não a

condicionalidades e ajuda casada); • Orientação de empresas públicas e o setor privado em relação a Agenda de Trabalho

Decente, soberania, respeito à diversidade cultural e natural e equidade de gênero; • Apoio à participação das OSCs, criação de ambientes propícios para a auto-organização e

ação autônoma de movimentos de cidadania. Raimundo de Oliveira Qual o lugar do Brasil nessa reengenharia da doação? (...) que modelo temos e qual queremos? Qual a qualidade da CI enquanto Brasil doador? Que nova arquitetura queremos e qual o papel dos fundos? Athayde Motta (...) Papel da diplomacia na política de cooperação: não existe profissional de cooperação, mas quem seria, qual o perfil? Aqui, são os diplomatas; o que não são boas referências, mas temos que discutir alternativas. É um ponto nefrálgico, mas temos que tocar neste assunto com o Ministério sem fechar as portas. Rui Mesquita Não deveríamos querer ser membro em Busan. Por conta das discussões em 1990, dos países não alinhados (contexto guerra fria e hoje de multipolaridade onde AS pode ser um desses pólos), devemos escolher em qual agenda que incidir. O que é mesmo desenvolvimento para o Brasil? Vera Masagão Participamos de um novo governo e nós (SC) não deveríamos querer entrar na OECD. Acho que devemos defender a ONU como espaço de governança global, onde os direitos humanos e bens

Page 62: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

62

comuns estão em várias instâncias e temos que ajudar no enlace delas; combinar com o governo que não devamos ter um discurso de auto-suficiência. Helena Monteiro (...) Um dos trabalhos poderia ser “aproximação” interna e ABC ser parceiro facilitador. Athayde Motta Devemos saber/levantar se os governos podem cooperar com outro governo e em que condições. Rui Mesquita A solução é termos um código aprovado pelo Congresso e acabem as portarias de vez, mas não temos capital intelectual para propor ao governo.

Page 63: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

63

Materiais de consulta

Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil http://abong.org.br/lutas_e_acoes.php?id=49&it=3226

Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil

Abong, publicado em 01.09.2010 Caríssimos/as Candidatos/as à Presidência da República, As articulações, redes, movimentos e organizações que subscrevem esse documento, apresentam aos/às candidatos/as à Presidência da República, uma Plataforma para Construção de um Novo Marco Regulatório que consolide uma relação harmônica e construtiva das Organizações da Sociedade Civil (OSC’s) com o Estado, os governos e com a própria sociedade. As reivindicações estão embasadas na necessidade de uma política de Estado com instrumentos e mecanismos que assegurem a autonomia política e financeira das OSCs para o fomento à participação cidadã, no sentido de contribuir para a radicalização da democracia e a revitalização de processos contemplando instrumentos deliberativos e de controle social. Ademais, tal política deve favorecer a independência, autonomia e sustentabilidade institucional das OSCs e deve, necessariamente, abarcar: - Processos e instâncias efetivos de participação cidadã nas formulações, implementação, controle social e avaliação de políticas públicas; - Instrumentos que possam dar garantias à participação cidadã nas diferentes instâncias; - O estímulo ao envolvimento da cidadania com as causas públicas, criando um ambiente favorável para a autonomia e fortalecimento das OSCs; - Mecanismos que viabilizem o acesso democrático aos recursos públicos e que permitam a operacionalização desburocratizada e eficiente das ações de interesse público; - Um regime tributário apropriado e favorecido às OSCs, incluindo a criação e aprimoramento de incentivos fiscais para doações de pessoas físicas e jurídicas. Para sua consecução, propõe-se a constituição de um Grupo de Trabalho composto por representações das OSCs e dos diversos segmentos estatais, que possam abranger a diversidade de temas e interesses na esfera pública, sob liderança da Secretaria da Presidência da República, com forte envolvimento da Casa Civil, com o objetivo de elaborar, no prazo máximo de um ano, uma proposta de legislação que atenda de forma ampla e orgânica, os tópicos aqui colocados. Contexto e fundamentação Foram identificadas, em 2005, num estudo do IBGE (Fasfil), 338 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, aqui chamadas de Organizações da Sociedade Civil (OSCs). O estudo mostra que, sob qualquer critério analítico adotado, existe uma extrema diversidade e pluralidade neste segmento. Do ponto de vista político, é inegável a contribuição destas OSCs à reconstrução democrática brasileira. Muitas delas tiveram papel proeminente no processo de redemocratização que culminou na Constituição de 1988. Foram protagonistas de iniciativas pioneiras em diversas áreas sociais, animaram articulações e redes cidadãs com base nas

Page 64: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

64

quais se construíram propostas que, pouco a pouco, se consolidaram como políticas públicas e em propostas de ação implementadas efetivamente no País. Sob outra ótica, dados das Contas Nacionais indicam que o conjunto deste segmento institucional contribuiu (em 2005) com um valor de 1,2% do PIB (estimativa via dados IPEA/IBGE). Esta contribuição, comparada com a dos 39 segmentos da Indústria de Transformação é somente inferior à da indústria petrolífera, da construção civil sendo quatro vezes maior que o segmento de automóveis e 12 vezes maior que o segmento de eletrodomésticos. Do ponto de vista socioeconômico, as OSCs empregam 1,7 milhões de trabalhadores. Segundo dados PIA-Empresas/IBGE-2005, estas OSCs empregam mais trabalhadores que o setor de fabricação de veículos automotores, do que o setor de metalurgia básica, do que a totalidade da indústria extrativa (inclusive petróleo) e da indústria têxtil. Destaca-se ainda, segundo pesquisas, que cerca de 20% da população brasileira destina recursos financeiros próprios e/ou se dedicam, voluntariamente, a algum tipo de atividade nas OSCs. No âmbito das políticas públicas, muitos dos programas do atual governo nas áreas de saúde, meio ambiente, desenvolvimento rural, educação, direitos humanos, dentre outros, são resultado direto de experiências das OSCs ao longo de mais de três décadas. Exemplos emblemáticos são o trabalho da Pastoral da Criança, o Programa de Construção de Cisternas no semi-árido, além de tantas organizações que incidem sobre questões de Direitos Humanos, Gênero, Etnia e Gerações, na luta pela Educação de qualidade ou defesa do meio ambiente, dentre outras tantos temas. O dinamismo e a capacidade de mobilização desse segmento contribuíram, definitivamente, na reconstrução do estado democrático do País e, ultimamente, associados a uma maior sensibilidade do Estado brasileiro, vem colaborando para que, nos últimos anos, se aumentasse, significativamente, a participação democrática das OSCs nos vários espaços públicos, bem como, sua incidência na política, na gestão e na operacionalização, com transparência, da agenda pública. Adicionalmente, nos últimos anos, foram estabelecidos laços de solidariedade e parcerias com entidades internacionais que muito contribuíram para o avanço da construção de uma cidadania planetária (a exemplo do Fórum Social Mundial). Hoje, o dinamismo e o protagonismo das OSCs brasileiras é amplamente reconhecido, inclusive internacionalmente, como uma das sociedades civis mais ativas no ambiente mundial. Na atualidade, esse dinamismo e essa incidência política se vêem prejudicados e ameaçados por uma série de fatos e situações, que não correspondem às expectativas da própria sociedade e da comunidade internacional quanto aos avanços sociais e políticos conquistados no processo democrático brasileiro. Um primeiro elemento é que muitas das posições assumidas pelas OSCs e Movimentos Sociais, ao serem divergentes das opiniões dos grupos tradicionalmente dominantes no país, deflagram reações conservadoras e antidemocráticas que bloqueiam a participação cidadã e a capacidade de incidência das OSCs. A mais comum dessa reação é a tentativa de desqualificação e até mesmo a criminalização das OSCs. Por outro lado, os poucos casos de uso indevido de entidades para desenvolvimento de atividades ilícitas, por parte de representantes e membros dos poderes públicos constituídos, associados a um processo de desinformação inflacionado pela mídia, fazem parecer para a sociedade que o ilícito e a corrupção são intrínsecos ao desenvolvimento da atividade cidadã. Esse tipo de situação gera também um descrédito de todos os agentes na esfera pública – estatal ou da sociedade civil organizada. A resultante final de todo esse processo é uma perda de credibilidade das OSCs em sua relação com a sociedade em geral, que acaba minando valores republicanos, de solidariedade e de fraternidade, dilapidando a capacidade de atuação das OSCs. O Estado brasileiro é historicamente clientelista e centralizador na sua relação com a sociedade civil. Além disto, as várias instâncias públicas desenvolvem diferentes tipos de controle que não se comunicam. O processo de descrédito e criminalização de hoje acaba por agravar esta situação, induzindo operadores e gestores públicos e privados a requerer

Page 65: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

65

uma infinidade de condicionalidades para o estabelecimento de qualquer tipo de cooperação e parceria, assumindo, como princípio, que todas OSCs são “desqualificadas e/ou suspeitas”. Esse quadro representa uma ameaça real para a construção e a consolidação de um Estado democrático, ao desconsiderar todos os elementos de qualificação, das contribuições e dos resultados obtidos a partir da luta dessas OSCs ao longo das últimas décadas. O acúmulo dessas ameaças e condicionalidades, bem como suas contradições geram uma insegurança jurídica no relacionamento das OSCs com o Estado e com as próprias instituições privadas, que terminam por adotar os procedimentos de instituições públicas na relação privada. Tendo em vista essa contextualização, as instituições que subscrevem esse documento reafirmam seus compromissos com: - As causas de interesse público, a consolidação da democracia e a ampliação da participação democrática por meio da participação cidadã. - Aprimoramento, melhoria e intensificação da qualidade da participação das OSCs nos processos de mobilização da cidadania para causas de interesse público. - Adoção de práticas que permitam a melhor gestão dos recursos manejados pelas OSCs, aperfeiçoando nossas práticas de auto-regulação, transparência e prestação de contas. Reconhece-se o papel do Estado e dos órgãos estatais para a consolidação do ambiente democrático e de cidadania com inter-relações produtivas entre governos e OSCs. O fortalecimento das OSCs não diminui a responsabilidade e a autoridade das agências do Estado na consecução de políticas públicas que garantam os direitos sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais da cidadania. Ao contrário, reconhece-se que um Estado democrático é forte e dinâmico na medida em que as organizações da sociedade também o são. Fundamenta-se também na premissa de que um ambiente regulatório estável e sadio favorece a emergência e potencialização de energias sociais que hoje se encontram bloqueadas pelo contexto hostil que se vivencia. Na certeza de que essa é uma tarefa urgente e necessária para que as OSCs e o governo brasileiro se coloquem à altura das esperanças da nação quanto ao desenvolvimento político e social do país e quanto ao papel que o país tem a desempenhar no cenário internacional. Assinam esta Plataforma: Fóruns, Articulações, Redes e Grupos Articulação Mineira de Agroecologia - AMA Fórum Nacional de Tecnologia Social Articulação Nacional de Agroecologia - ANA Grupo de Institutos, Fundações e Empresas - GIFE Articulação no Semi-Árido Brasileiro - ASA Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – ABONG Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST Fórum Brasileiro de Economia Solidária Movimento LBT Negritude FBOMS – GT de Formação Política e Educação Ambiental Popular Rede Cerrado Fórum Carajás Rede de ONGs da Mata Atlântica - RMA Fórum Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente - FNDCA Rota da Paz Instituições Ação Comunitária do Brasil / RJ

Page 66: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

66

Federação de Órgãos para Assistência Sócia e Educacional - FASE Ação Educativa Fundação AVINA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa - ASPTA Fundação Cultural e Educacional Ciências Médicas - FUNCEM Associação Barraca da Amizade Fundação do Câncer Associação Cultura Arte Fundação Grupo Esquel do Brasil – FGEB Associação Cultural Dynamite Fundação SOS Mata Atlântica Associação de Estudos, Pesquisa, Orientação e Assistência Rural - ASSESOAR Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares - CAJOP Associação de Moradores da Vila Teresina Gambá - Grupo Ambientalista da Bahia Associação de Moradores e Amigos do Farol Geledés – Instituto da Mulher Negra Associação do Verde e Proteção do Meio Ambiente - AVEPEMA Grupo de Trabalho Missionário Evangélico - GTME Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão - ASSEMA Hospital do Câncer de Uberlândia – Grupo Luta pela Vida Associação Maranhense para a Conservação da Instituto Águas do Prata Natureza – AMAVIDA Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes – APACC Instituto Bem Estar Brasil – IBEBrasil Associação para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável - ADEIS Instituto da Memória do Povo Cearense – IMOPEC Associação Pensamento Crítico Instituto de Cidadania Empresarial – ICE-MA Associação Terceira Via Instituto de Mulheres Negras do Amapá - IMENA Auçuba Comunicação e Educação Instituto EQUIT CARE - Brasil Instituto Ideias Cáritas Brasileira Instituto Ipanema Catavento Comunicação e Educação Instituto Pro3 Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Instituto Soma Brasil Centro de Assessoria Multiprofissional Instituto Universidade Popular - UNIPOP Centro de Criação de Imagem Popular Iser Assessoria Centro de Defesa da Criança e do Adolescente – CEDECA – Ceará Kinder Not Hilfe – KNH Brasil Centro de Direitos Humanos de Palmas - CDHP Loucas de Pedra Lilás Centro de Educação e Assessoramento Popular –CEAP Movimento de Organização Comunitária Centro de Educação e Cultura Popular - CECUP Nova Pesquisa e Assessoria em Educação

Page 67: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

67

Centro de Educação e Recuperação Nutricional - CREN Obra Kolping do Brasil Centro de Pesquisa e Assessoria – Esplar Pastoral da Criança Centro de Referência Integral de Adolescente Pense Brasil Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata – CTA-ZM Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas –REDE-MG Centro Sabiá - Centro de Desenvolvimento Agroecológico Rede Mulher & Democracia Cipó – Comunicação Interativa Reintegrar Comissão Pró-Índio de São Paulo Serviço de Educação Popular Comunicação e Cultura Sociedade Comunitária, Ecológica, Cultural, Escola de Samba Fala Negão / Fala Mulher Cooperativa Agroextrativista Grande Sertão Sociedade do Sol Coordenadoria Ecumênica de Serviço - CESE Sociedade Mundial de Proteção Animal De Peito Aberto The Resource Alliance Diaconia Vida Brasil Escola de Formação Quilombo dos Palmares - EQUIP Viver Sempre Feliz

Abong ONGs no Brasil - Perfil das associadas à Abong http://abong.org.br/informes.php?id=2289&it=2291 e http://abong.org.br/publicacoes.php?p=2 Sustentabilidade das ONGs no Brasil: acesso a recursos privados: http://abong.org.br/publicacoes.php

GIFE Censo Gife 2009-2010 http://www.gife.org.br/arquivos/publicacoes/22/Censo%20GIFE%20%28baixa%29.pdf

Aliança Interage Mobilizar - A Experiência do Programa de Formação em Mobilização de Recursos da Aliança Interage

Page 68: Fundos Independentes e Cooperação Internacional para o ... · Mestre em Estudos do Desenvolvimento pelo ISS de Haia, na Holanda ... deste ano. A concepção do nosso trabalho é

68

http://www.institutocea.org.br/midiateca/104/publicacao/mobilizar-a-experiencia-do-programa-de-formacao-em-mobilizacao-de-recursos-da-alianca-interage-realizacao-alianca-interage.aspx

D3 Bye Bye Brasil ou Olá Brasil? http://www.congressogife.org.br/congresso2010/apresenta%C3%A7%C3%B5es%20gife/Neylar%20Lins.pdf

D3 + Instituto Fonte Investigações sobre a conjuntura dos investimentos das organizações internacionais no campo social brasileiro no período de 2008-2010 http://institutofonte.org.br/sites/default/files/pesquisa_D3_0.pdf

Documentos Lei da Filantropia – 12.101/09 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/Lei/L12101.htm

Notícias 01.06.2011 - Novo marco regulatório para organizações da sociedade civil é tema de encontro em Brasília http://www.secretariageral.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/06/01-06-2011-novo-marco-regulatorio-para-organizacoes-da-sociedade-civil-e-tema-de-encontro-em-brasilia 02.12.2009 - O que muda com a Lei nº 12.101/2009 http://www.mds.gov.br/cnas/noticias/projeto-de-lei-sobre-certificados-de-entidades-beneficentes-de-assistencia-social-segue-para-sancao-do-presidente-lula