fundo rotativo solidário, cultivando a vida da família camponesa: hoje vivo no paraíso

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FUNDO ROTATIVO SOLIDÁRIO CULTIVA A VIDA DA FAMÍLIA CAMPONESA: “HOJE ESTOU NO PARAÍSO” Geraldo Raimundo Pereira, de 57 anos, e Ersia de Sousa Pereira (Dona Mariquinha), de 58 anos, agricultores da comunidade Caiçarinha, Sítio Canoinha, localizado no Assentamento Belo Monte, a 22 km do município de Pedra Lavrada, região do Seridó Paraibano, tiveram uma vida marcada por desafios e dificuldades. Desde que se casaram, em 1979, sempre precisaram trabalhar muito para sustentar os 5 filhos, hoje todos casados, frutos desta união que já dura 34 anos. Contam que se sentiam escravos dos fazendeiros aquela época, e tudo era muito difícil “não existia propriedade para pobre, era tempo de escravidão, eu trabalhava de meeiro, tudo o que produzia tinha que dividir com o dono da propriedade onde morava, já que também não tinha casa”, disse o agricultor. Na propriedade dos outros sempre fizeram de tudo “arrancavam toco, plantavam palma, milho, feijão e cuidavam das criações” para ter direito a semana de trabalho, que lhe rendia 5 cruzeiros, o equivalente a mais ou menos R$ 50,00 hoje, sendo assim, com cada dia trabalhado para o fazendeiro, ele recebia R$ 10,00, numa jornada de 10h de trabalho por dia. Devido às condições difíceis do casal, Geraldo foi obrigado a migrar para São Paulo deixando dona Mariquinha e duas filhas nascidas, lá passou apenas 30 dias “não achei que era lugar de futuro”, disse o agricultor ao se referir a cidade grande. Quando voltou para o Seridó, novamente, tornou-se morador de fazenda, trabalhando mais dois anos para o proprietário da terra onde hoje e o assentamento Belo Monte. Ele conta que quando saiu desta última propriedade as coisas começaram a mudar “encontrei uma mulher fazendeira, daqui mesmo, que me convidou para trabalhar de meeiro para ela plantando milho e feijão, era uma ótima pessoa, tinha um tratamento diferente com os pobres, comparando com os outros que eu já tinha trabalhado, comecei a juntar um dinheirinho com a venda do feijão e do milho e foi então que comprei um trator velho”, nesta época, lembra ele, que já tinha conseguido também comprar um casa na cidade, “foi nesse tempo que pude comprar uma casa em Sossego”, ele usava o trator para fazer a debulha do milho e corte de terra da vizinhança cobrando por as horas trabalhadas, isso lhe proporcionou uma melhora financeira. , N° 1439

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Page 1: Fundo Rotativo Solidário, cultivando a vida da Família Camponesa: Hoje vivo no paraíso

FUNDO ROTATIVO SOLIDÁRIO CULTIVA A VIDA DA FAMÍLIA CAMPONESA: “HOJE ESTOU NO PARAÍSO”

Geraldo Raimundo Pereira, de 57 anos, e Ersia de Sousa Pereira (Dona Mariquinha), de 58 anos, agricultores da comunidade Caiçarinha, Sítio Canoinha, localizado no Assentamento Belo Monte, a 22 km do município de Pedra Lavrada, região do Seridó Paraibano, tiveram uma vida marcada por desafios e dificuldades. Desde que se casaram, em 1979, sempre precisaram trabalhar muito para sustentar os 5 filhos, hoje todos casados, frutos desta união que já dura 34 anos.

Contam que se sentiam escravos dos fazendeiros aquela época, e tudo era muito difícil

“não existia propriedade para pobre, era tempo de escravidão, eu trabalhava de meeiro, tudo o que produzia tinha que dividir com o dono da propriedade onde morava, já que também não tinha casa”, disse o agricultor.

Na propriedade dos outros sempre fizeram de tudo “arrancavam toco, plantavam palma, milho, feijão e cuidavam das criações” para ter direito a semana de trabalho, que lhe rendia 5 cruzeiros, o equivalente a mais ou menos R$ 50,00 hoje, sendo assim, com cada dia trabalhado para o fazendeiro, ele recebia R$ 10,00, numa jornada de 10h de trabalho por dia.

Devido às condições difíceis do casal, Geraldo foi obrigado a migrar para São Paulo deixando dona Mariquinha e duas filhas nascidas, lá passou apenas 30 dias “não achei que era lugar de futuro”, disse o agricultor ao se referir a cidade grande. Quando voltou para o Seridó, novamente, tornou-se morador de fazenda, trabalhando mais dois anos para o proprietário da terra onde hoje e o assentamento Belo Monte.

Ele conta que quando saiu desta última propriedade as coisas começaram a mudar “encontrei uma mulher fazendeira, daqui mesmo, que me convidou para trabalhar de meeiro para ela plantando milho e feijão, era uma ótima pessoa, tinha um tratamento diferente com os pobres, comparando com os outros que eu já tinha trabalhado, comecei a juntar um dinheirinho com a venda do feijão e do milho e foi então que comprei um trator velho”, nesta época, lembra ele, que já tinha conseguido também comprar um casa na cidade, “foi nesse tempo que pude comprar uma casa em Sossego”, ele usava o trator para fazer a debulha do milho e corte de terra da vizinhança cobrando por as horas trabalhadas, isso lhe proporcionou uma melhora financeira.

, N° 1439

Page 2: Fundo Rotativo Solidário, cultivando a vida da Família Camponesa: Hoje vivo no paraíso

Quando aconteceu a ocupação da terra, que hoje é o assentamento, em 1996, Geraldo foi até as lideranças pedir para ter direito a um dos lotes, depois de muitas respostas negativas, enfim

conseguiu um pedaço de terra “tudo era mata, tive que começar do zero”.Hoje, 17 anos depois, o agricultor relembra emocionado, todas as coisas que teve que enfrentar (falta de dinheiro, doenças, falta de comida, etc.), antes de ter sua própria terra e compara que agora vive muito melhor “hoje estou no paraíso”. Atualmente, no seu lote de 26 hectares, ele cultiva 10 hectares, com milho, feijão melancia, quiabo, palma, Gliricidia, Lucena, dentre outras culturas. Numa área em um raio de 100 metros da casa, local onde fica o poço tubular, também plantou capim, hortaliças, Cana de Açúcar, Atriplex ou Erva de Sal (planta que tira o sal d'água), graviola, mangueira, cajueiro, bananeira, mamão e Batata Doce.

Mais próximo de sua casa, o espaço está dedicado a outras fruteiras, coqueiro, acerola, pinha, limão e tangerina, além das ervas medicinais mastruz (trata vários tipos de doenças) e hortelã amarga ( trata dor de barriga). Também está aqui um pequeno campo experimental de palma forrageira consorciada a outras espécies “eu procuro manejar as plantas forrageiras, o que aprendi através dos intercâmbios, para alimentar os animais, cortar e estocar em silos, para enfrentar os períodos de seca”. Também é importante destacar que todo o sítio é dividido e cercado com cerca viva, experiência também adquirida através das oficinas e encontros de intercâmbios. Os16 hectares restantes estão na área de reserva, onde o gado pode pastar livremente. Na propriedade, Geraldo cria 11 cabeças de vacas, 15 ovelhas, 2 porcos para reprodução e também 10 galinhas. “Foi na associação onde tudo começou com o Fundo Rotativo Solidário (FRS) de animais, no início recebi seis ovelhas, logo que o rebanho aumentou, repassei o mesmo número para outra família, em sete anos meu rebanho reproduziu 152 cabeças, eu sempre vendo e guardo a semente, depois do Coletivo, tudo ficou melhor”, disse ele.

Em sua terra existe cinco depósitos de água, 3 barreiros, 1 poço tubular (Cataventos), que gera 1300 litros/ hora e uma cisterna, o poço e os barreiros (quando têm água) são usados de forma comunitária “quando chove a água é pra todo mundo”.Para conservar as Sementes o camponês as guarda no Banco de Sementes Comunitário, em garrafas pets (em pouca quantidade) e as que são estocadas em silos (grandes quantidades), são conservadas apenas com casca de laranja e pimenta do reino.

Quanto à criação de animais, quando ele precisa de dinheiro, separa os mais novos e vende o restante, já que sua renda vem toda do seu sítio, “só o gado é que fica difícil vender nesta época, se você vender um garrote, o comprador pede um mês para pagar R$ 500, já se você vende uma ovelha que tá custando em média R$ 300, você recebe na mesma hora”. A saúde dos animais é uma questão de muita importância, ele diz que cuida com sal mineral, batata de pulga e feijão bravo para matar verminoses e outras doenças. Medidas simples, mas que garantem a manutenção de um rebanho sadio.

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