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Sustentabilidade e revitalização de património

1- ARQUITECTURA ECOLÓGICA

1.1- CAMINHOS, PRÁTICAS E PERSPECTIVAS

A procura da qualidade do meio ambiente retoma uma antiga aspiração do homem, no

seu esforço por estabelecer um equilíbrio harmonioso com a natureza que o rodeia.

Praticada durante séculos, principalmente na arquitectura vernacular, caiu em desuso

desde a revolução industrial, especialmente durante o século XX, motivada por uma

riqueza mais difundida e de uma energia relativamente mais barata, fenómenos que

provocam um aumento generalizado da utilização da energia, expondo o homem ao

esgotamento dos recursos naturais do planeta.

Com esta situação, as mudanças climáticas surgidas durante o século XX tornam-se

mais evidentes nas últimas décadas, sendo impossível ignorar a crise ambiental global.

Senão veja-se, em 1973, a primeira crise petrolífera que levou os governos a procurar

fontes de energia seguras e a reduzir a dependência de combustível importado e em

1979, quando ocorreu a segunda crise. É sobretudo devido a razões ambientais que a

União Europeia, os governos nacionais e o cidadão comum clamam por padrões mais

elevados de desenho dos edifícios.

Face a esta situação e frente ao perigo que representam, a opinião e os poderes

públicos começam a tomar consciência da necessidade de proteger o ambiente

natural. Projectar o urbanismo e a arquitectura de forma a respeitar o ambiente é uma

das respostas aos problemas evidenciados em encontros internacionais. Cada vez

mais os profissionais ligados à construção civil praticam com êxito a vertente urbana

ecológica. A profissão de arquitecto tem vindo a tomar consciência disso, mesmo

sendo a “Declaração de Chicago” de 1993, feita pela União Internacional dos

Arquitectos, uma nítida declaração de intenções desse ponto de vista.

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1.1.1- PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS

É no princípio dos anos noventa, no encontro da terra organizado pelas Nações Unidas

no Rio de Janeiro, que surge o alerta para as consequências sobre exploração das

matérias-primas, o aumento inquietante do efeito de estufa e a degradação dramática

do equilíbrio dos ecossistemas. Dos compromissos aí assumidos surgem numerosas

medidas relacionadas com a actividade industrial, transportes, controle de energia e

gestão de resíduos, alertando-se os habitantes dos países industrializados para a

necessidade de preservação dos recursos naturais, levando-os a repensar sobre o seu

modo de vida e modo de ocupação do território.

São esses danos irreversíveis infligidos ao planeta e aos seus habitantes e a

degradação dos recursos naturais que vêem sendo assinalados por peritos, desde há

décadas, estando os mesmos relacionados com quatro fenómenos:

crescimento acelerado da população, que passa de 1.5 mil milhões de

habitantes em 1900 para 6 mil milhões no ano 2000, criando problemas de

alimentação, alojamento e qualidade de vida, sobretudo nas regiões mais

desfavorecidas onde o crescimento demográfico é desolador;

consumo exagerado das matérias-primas e dos combustíveis fósseis, ao ponto

de se comprometer, em pouco tempo, o desenvolvimento das gerações futuras.

A este ritmo, os recursos existente esgotar-se-ão num prazo de 50 a 200 anos;

degradação do ar, da água e do solo, pondo em perigo a saúde das

populações, especialmente nas zonas urbanas dos países industrializados;

proliferação dos resíduos gerados nesses países, que se acumulam ao redor

das cidades, contaminando o solo, comprometendo gravemente a qualidades

dos alimentos num cenário alarmante e sombrio.

Se a este cenário juntarmos as alterações climáticas, a emissão descontrolada de CO2

para a atmosfera e o aumento do efeito de estufa, temos todas as variáveis para tomar

como certo um conjunto de múltiplas consequências responsáveis por catástrofes

naturais, que vão produzir efeitos negativos no PIB de países mais pobres. A

degradação do meio ambiente e as alterações climáticas actuais estão directamente

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relacionadas com as actividades do homem e com o modelo económico criado pelos

países industrializados.

1.1.2- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Em 1987, na 42ª sessão das Nações Unidas, é introduzido pela primeira vez o conceito

de desenvolvimento sustentável vindo mais tarde, em 1992 na conferência da Terra no

Rio, a ser assumido o compromisso de se ir ao “encontro de um desenvolvimento que

responda às necessidades do presente sem comprometer as capacidades das

gerações futuras”. Este conceito de desenvolvimento sustentável, assenta em três

princípios:

análise da totalidade do ciclo de vida dos materiais;

desenvolvimento do uso de matérias-primas e energias renováveis;

redução da quantidade de materiais e energias utilizados na extracção dos

recursos naturais, na sua exploração e na destruição ou reciclagem dos

resíduos.

A noção de desenvolvimento sustentável reflecte não só numa tomada de consciência

mas, também, uma conciliação de critérios ecológicos, económicos e sociais, assentes

em princípios de precaução, prevenção, correcção na origem, sanção económica e

aplicação das melhores técnicas disponíveis.

Se a dimensão social e cultural da cimeira do Rio ficou marcada por um estado de

ânimo por parte da opinião pública, a cimeira de Kioto de 1996 teve uma vocação mais

operativa, devendo os países presentes seguir três linhas de actuação:

redução do consumo de energia;

substituição de energias fósseis por energias renováveis;

fixação das emissões de carbono com recurso à vegetação.

Partindo da base destas três linhas de actuação, a redacção final dos acordos de Kioto

tem uma grande repercussão no planeamento territorial, no urbanismo e na

arquitectura, sendo no sector da construção aquele onde se deverá realizar um maior

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esforço no momento de se iniciar o estudo do consumo energético e de matérias-

primas, assim como a redução de emissão de gases e a diminuição do volume de

resíduos. Neste contexto é na construção e no uso de edifícios que a noção de

“impacto importante no meio ambiente” é de especial notoriedade, sendo responsáveis

pelo consumo de aproximadamente 50% dos recursos naturais, 40% de energia e 16%

de água, além da construção e demolição dos edifícios poder produzir mais

desperdícios do que todo o conjunto de lixeiras domésticas existentes.

Da conferência de Haia em 2000, que visava estabelecer as condições de aplicação do

protocolo de Kioto, nada resulta, motivado pelas divergências entre a Europa e os

Estado Unidos.

O compromisso com o desenvolvimento sustentável na construção é, assim, uma das

respostas mais eficazes para a redução da degradação do equilíbrio ecológico,

devendo ser economicamente acessível para a grande maioria da população,

necessitando tanto da intervenção e compromisso dos utilizadores na sua fase de

concepção, como da colaboração dos profissionais do sector para uma boa

optimização da relação entre a arquitectura, a tecnologia e o seu custo.

1.1.3- TENDÊNCIAS NA ARQUITECTURA

Popularizada pelo impacto do encontro do Rio, a tomada de consciência a favor de

uma arquitectura ecológica tem atrás de si uma trajectória de décadas, durante as

quais os partidários do low.tech e do high-tech se têm visto envolvidos.

As primeiras alternativas ecológicas foram avançadas por alguns idealistas, durante os

anos setenta, centrando-se principalmente em programas residenciais e pequenos

equipamentos educativos e culturais. Como forma de contestação à arquitectura

moderna, alguns arquitectos alertam para a participação efectiva dos utilizadores na

concepção e realização de edifícios com um marcado acento comunitário. Esta filosofia

anti-autoritária guiou a realização, por exemplo, de obras como os colégios e albergues

juvenis auto-construídos, de Peter Hubner, perto de Estugarda. No entanto, o “guru” do

low-tech continua a ser Paolo Soleri, que foi discípulo de Frank Lloyd Wright, ao

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projectar e executar uma nova forma de arquitectura ecológica em Arcosanti, Arizona,

nos Estados Unidos.

Arcosanti, Arizona, Estados Unidos; Paolo Soleri

www.desertusa.com/mag99/ june/stories/arcosanti.jpg

Arcosanti, Arizona, Estados Unidos; Paolo Soleri

www.exibart.com/notizia. asp/29116.jpg

A arquitectura high-tech, por seu lado, está representada pelos edifícios industriais e

grandes equipamentos em aço e vidro dos arquitectos internacionais como Norman

Foster, Renzo Piano, Thomas Herzog, entre outros, que criaram uma associação que

visa difundir o uso de energias renováveis na construção, vindo a receber mais tarde o

apoio da Comunidade Europeia. Obras como a torre de Commerzbank, em Frankfurt, e Carlos Barata – 98.1.9 6

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a cúpula do Parlamento Alemão, em Berlim, ambos projectos de Norman Foster, são

emblemas dessa arquitectura.

Torre do Commerzbank, Frankfurt, Alemanha; esquema de ventilação; sir Norman Foster

ecological architectura-tendências bioclimáticas y arquitectura del paisaje en el año 2000

Torre do Commerzbank, Frankfurt, Alemanha; sir Norman Foster

ecological architectura-tendências bioclimáticas y arquitectura del paisaje en el año 2000

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Torre do Commerzbank, Frankfurt, Alemanha; sir Norman Foster

ecological architectura-tendências bioclimáticas y arquitectura del paisaje en el año 2000

Esta arquitectura internacional, que se fundamenta nos princípios ecológicos

recorrendo à alta tecnologia, nem sempre resulta, sobretudo no que se refere ao

comportamento térmico. No entanto, estas obras têm a virtude de se terem tornado um

vasto campo de experiências denotando-se que vários princípios utilizados nestes

projectos, como as fachadas de dupla pele, têm vindo a ser aplicados em obras mais

modestas onde se revelaram bastante eficazes.

Entre os extremos desta arquitectura contestatária existia uma via intermédia, com

seguidores no centro da Europa, cultivando uma imagem contemporânea baseada na

combinação de materiais tradicionais com produtos industriais inovadores, que a

distingue claramente da arquitectura low.tech. Trata-se de uma arquitectura luminosa e

colorida, livre na sua composição das formas e volumes. Esta via, fortemente

fundamentada por Gunter Behnisch, brinda os utilizadores da mesma com um

tratamento paisagístico da envolvente, privilegiando uma relação imediata com os

espaços verdes tratados naturalmente.

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Piscina do sanatório de Bad Elster, Alemanha; Behnisch & Partner

www.classic.archined.nl/news/0210/du-glasdak.jpg

Instituto de Investigação da Natureza, Wageningen, Holanda; Behnisch & Partner

www.behnisch.com/ projects/office/07/0804b.jpg

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Outra tendência com exemplos pontuais na Alemanha, na Holanda e nos países

escandinavos, defende o desenvolvimento de uma ecologia democrática destinada a

utilizadores sensibilizados e responsáveis. Peter Hubner realiza em Gelsenkirchen um

conjunto de 28 vivendas auto construídas de alta densidade, sob o pretexto da

Exposição Internacional de Arquitectura IBA Emscher Park, facilitando o acesso de

famílias modestas a um habitat ecológico, graças à sua colaboração activa na fase de

projecto, de construção e gestão da própria vivenda, marcada também pela aplicação

de materiais locais e de técnicas tradicionais de construção.

casas auto construídas, Gelsenkirchen, Alemanha; Peter Hubner

www.plus-bauplanung.de/ dna/index.php?id=348/ 098-gelsen3f71d6850ff01.jpg

Uma nova geração de arquitectos surge entretanto na década de noventa, praticando

uma arquitectura minimalista de inspiração moderna, que se apoia em ferramentas

informáticas e produtos e técnicas inovadoras. Sem evidenciarem de forma clara os

aspectos ecológicos e de economia energética, os seus edifícios integram estes

parâmetros como elementos construtivos do projecto, manipulando com astúcia os

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princípios e as técnicas conhecidas, associando matérias nobres e vulgares com

precisão, apoiando-se na pré-fabricação com a finalidade de reduzir custos e tempos

de execução.

Edifiicio multifamiliar, Dornbirn, Áustria; Hermann Kaufmann

www.proholz.at/zuschnitt/ 06/pro_oelzbuendt.jpg

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1.2- A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

1.2.1- INTRODUÇÃO

A construção sustentável representa um caminho a alcançar, um princípio a seguir. A

sua valorização parte de uma visão equilibrada de três aspectos ou características

fundamentais, que identificam qualquer actividade socio económica do homem e que

se pode representar pelo seguinte esquema gráfico:

o autor

É no cruzamento destes aspectos que se vai encontrar o equilíbrio ou os imperativos

para a sustentabilidade, ou seja se anteriormente (antes de 1987) o crescimento e

bem-estar se equilibrava tendo em conta os valores de eficiência social e económica, a

introdução de eficiência ecológica deverá manter esse equilíbrio com igual importância

aos outros dois.

Em particular, a construção sustentável supõe um compromisso com o nosso meio

ambiente implicando um consumo energético controlado e justificado, assim como a

utilização de energias renováveis, uma valorização especial do impacto ambiental que

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possa sugerir a aplicação de determinados materiais de construção, a utilização de

recursos recicláveis e renováveis na construção, ter em atenção aspectos no que se

refere à gestão do ciclo de vida das matérias-primas utilizadas, com a correspondente

prevenção de resíduos emissores, a conservação e reutilização de recursos e a criação

de envolventes construídas que sejam ambientalmente saudáveis.

Neste contexto, a construção sustentável deverá promover a fabricação de produtos e

sistemas para a edificação, que reduzam os efeitos ambientais adversos e que

melhorem a qualidade de vida. Ao mesmo tempo, deverá proporcionar aos utilizadores

finais uma orientação objectiva e com base científica, sobre os materiais e produtos

utilizados, os métodos de fabricação e, finalmente, adoptar bases sensatas e

sustentáveis na realização das construções.

1.2.2- EXIGÊNCIA E CONFORTO ENERGÉTICO

O objectivo último que serve de meta a qualquer equipa envolvida num projecto de

arquitectura ecológica é a protecção do meio ambiente. Os métodos utilizados para

alcançar essa meta podem no entanto variar, consoante os países e os diferentes

programas do projecto. A maior parte destes projectos segue um procedimento

empírico. No entanto, há alguns que abordam o tema de forma mais teórica, a partir de

uma tabela de objectivos e posterior quantificação de resultados.

Por isso a aplicação de pressupostos meio ambientais nos processos de construção

exige um amplo consenso entre os diferentes participantes envolvidos, actuando como

equipas multidisciplinares. Esta metodologia exige a colaboração voluntária de todos

os agentes de forma a conseguir-se uma boa gestão de projecto procurando, não só

avaliar o impacto ambiental da construção mas, também, a dimensão social envolvida.

No projecto da Escola primária de Notley Green, Essex, Reino Unido, a colaboração

multidisciplinar permitiu que este edifício se tornasse um modelo e estabelecesse um

novo conjunto de condições para novas escolas do condado, assumindo o

aproveitamento do energia solar passiva e o conforto energético como uma política de

continuação.

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www.teachernet.gov.uk/_img/Notley%2520Green%25202a.jpg

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Situação idêntica acontece no Liceu Leonardo Da Vinci, Calais, França, em que se

assume na sua concepção e execução as orientações expressas na tabela de

objectivos do procedimento ACM (Alta Qualidade Meio-ambiental), traduzidas num

edifício com fortes características bio climáticas.

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É, no entanto, com a vivenda unifamiliar e tendo como base de sustentação a sua

forma, a implantação, a disposição dos espaços interiores e a sua orientação segundo

as características do lugar: clima, ventos dominantes, qualidade do solo, topografia,

vistas, etc, que surgem os princípios de construção bioclimática, ainda antes da

primeira crise petrolífera. A fachada norte, normalmente opaca, concentrava o acesso e

zonas de serviço, enquanto a fachada sul deveria permanecer permeável.

Actualmente, os ganhos solares, estão associados a um aumento de isolamento em

paredes e coberturas, graças a superfícies envidraçadas de altas prestações

dimensionadas em função da sua orientação.

Um desenho / esquema da autoria de Jean-Yves Barrier, arquitecto francês, traduz

esses princípios bioclimáticos

Este simples facto de se valorizar a energia solar passiva faz aumentar a autonomia do

edifício e diminuir o consumo de energia sem custos significativos. Nos edifícios

multifamiliares, a redução da sua superfície exterior permite diminuir as necessidades

energéticas em aproximadamente 40%, em relação a um edifício unifamiliar. O ideal,

segundo alguns estudos, seria um edifício orientado a sul, com uma profundidade

compreendida entre os 10 e os 12 metros, mas a aplicação estrita deste princípio cria

limitações formais inegáveis. Para o aproveitamento do potencial energético do sol, no

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Outono, Inverno e Primavera seria necessário aplicarem-se determinados princípios,

como sejam dimensionar os vãos com vidros corrigidos termicamente em função da

energia solar proporcionada pela sua orientação armazenar a radiação solar em

elementos maciços cuja inércia permita acumular calor controlar a libertação

progressiva de calor e radiação solar acumuladas nos diferentes materiais aplicados e,

finalmente, limitar a transferência com o exterior, reforçando o isolamento térmico e a

estanquecidade ao ar da superfície envolvente.

Afim de se evitar o problema de aquecimento das superfícies no Verão, os cuidados

deveriam passar por controlar a insolação directa do ambiente mediante elementos

construtivos de protecção solar e vãos com vidros com um coeficiente de transmissão

térmica, suficiente para limitar as transferências energéticas, podendo-se conjugar

estas medidas com elementos de protecção têxtil. A dissipação do calor mediante uma

ventilação natural eficaz é outro aspecto a ter em conta.

A deficiente correcção térmica das fachadas, coberturas e pavimentos em contacto

com o solo, locais onde normalmente se podem encontrar pontos de descontinuidade

é, quase sempre, resultado da deficiente falta de rigor no estudo e na execução dos

sistemas construtivos aplicados. Sendo importantes, as pontes térmicas levam ao

arrefecimento local da superfície interior do paramento podendo, com isso, surgirem

fenómenos de condensação e o aparecimento de fungos. Estas pontes térmicas

localizam-se fundamentalmente nos elementos da estrutura em contacto com os

paramentos de fachada, embasamento dos paramentos, na envolvente dos vãos,

encontros de cobertura, varandas ou outros elementos, podendo ser evitadas com um

estudo pormenorizado dos pormenores construtivos. No entanto, várias são as

medidas que se podem adoptar de forma a limitar as perdas térmicas, como sejam o

aumento da compacidade da zona em estudo, a separação dos elementos da estrutura

principal dos restantes elementos de construção, o estudo e resolução do encontro de

paredes com pavimentos e cobertura e o isolamento exterior dos elementos de

construção maciços.

A implementação destes princípios e conceitos tornam-se evidentes ao analisarmos um

edifício multifamiliar em Friburgo de Brisgovia, na Alemanha, de Common & Gies,

caracterizado por um volume compacto, com escadas, varandas, corredores e palas,

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dessolidarizadas da estrutura, aproveitamento activo e passivo da energia solar, forte

correcção térmica dos paramentos exteriores verticais e horizontais e aplicação de

materiais naturais e reciclados.

Para uma redução substancial do consumo energético e, consequentemente, uma

diminuição progressiva de efeito de arrefecimento interior de uma construção, a

simples aplicação dos princípios bio climáticos é insuficiente. A circulação de ar através

de frinchas de portas e janelas, condutas de ventilação e chaminés, além de provocar

correntes de ar incómodas interfere, também, no rendimento energético. Mas, a total

estanquecidade ao ar pode, por seu lado, provocar o aparecimento de humidade e

fungos. O controlo de circulação de ar deve ser objecto de um estudo cuidado logo na

fase de projecto, em especial nas uniões de elementos de construção, vãos de portas e

janelas e ventilações ou condutas.

A optimização da envolvente exterior de um edifício passa também pelo correcto

estudo e execução dos vãos exteriores. Assim, e no que se refere aos elementos

envidraçados, o aumento das exigências térmicas levou ao aparecimento não só do

vidro duplo com caixa-de-ar mas, acrescido a isto, o facto de serem de baixa emissão e

alta transmissão. Estes vidros reúnem uma grande transparência, um bom coeficiente Carlos Barata – 98.1.9 18

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Sustentabilidade e revitalização de património

de transmissão superficial e um factor solar suficiente para limitar as transferências

térmicas, ou seja possuem uma capacidade notável de, no Inverno quando o sol está

baixo, permitirem a passagem da radiação e com isso reterem o calor no interior da

construção, enquanto no Verão, com a sua capa reflectante, limitam a quantidade de

energia que atravessa o vidro para o interior. Em certos países, para se cumprir

regulamentos de controlo de comportamento térmico, é ainda necessário preencher a

caixa-de-ar do vidro duplo com um gás, normalmente Árgon.

esquema de conforto térmico e qualidade do ar interior na habitação

A Green Vitruvius, princípios e práticas de projecto para uma arq. sustentável

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Sustentabilidade e revitalização de património

1.2.3- CONSUMO ENERGÉTICO

A redução do consumo energético é um objectivo final na construção sustentável. As

prestações dos materiais que vão integrar os variados sistemas construtivos de uma

edificação são de vital importância quando se trata de estudar a sua correcção térmica.

Cada material tem um comportamento térmico distinto de outro havendo, por isso, a

necessidade de, ao introduzi-lo na construção, ter conhecimento das suas

características. A transferência de calor e humidade entre o interior e exterior de uma

edificação é feita pelas paredes, tectos e pavimentos, dependendo este processo dos

materiais de construção destes elementos e do grau de isolamento térmico utilizado. A

finalidade dos materiais isolantes visa retardar essa transferência, ajudando a manter

equilíbrio e estabilidade no interior da edificação. A utilização de isolantes naturais, na

medida do possível, como seja o cânhamo ou a lã de ovelha, as aparas de madeira,

etc., é um factor positivo. Já a utilização de isolamentos derivados do petróleo, como

seja o poliestireno e o poliuretano, deveria ser evitada.

É notório que o aproveitamento das energias renováveis e o desenvolvimento

energético começam com o próprio desenho do edifício, a sua orientação geográfica,

os cuidados com o isolamento e inércia térmica, a qualidade dos materiais de

construção, etc. É na fase de desenho/ concepção que devemos questionar e

proporcionar a construção com uma boa distribuição de espaços, quer em termos de

funcionalidade quer em termos energéticos. O aproveitamento energético não é um

dado novo na arquitectura, como se pode constatar nas construções antigas, onde são

amplamente visíveis a aplicação de sistemas de forma a serem maximizados os meios

energéticos, uma vêz que se tratava de uma questão de sobrevivência. O uso mínimo

de energia na construção de um edifício deveria ser, logo à partida, um dos objectivos

finais, utilizando sistemas de construção baseados em técnicas tradicionais, recursos e

materiais localmente disponíveis. A aplicação de técnicas como um melhor isolamento

térmico, (em paramentos, coberturas e vãos), boa orientação solar, materiais de inércia

forte e absorventes de calor, no interior, a utilização de vegetação, no exterior, como

forma de evitar vento no Inverno e proporcionar sombra no Verão, boa

impermeabilização e calafetação de terraços e pátios vão, de certeza, produzir uma

grande redução do consumo de energia.

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Sustentabilidade e revitalização de património

O esquema seguinte pretende reforçar essas características, complementando as

informações atrás descritas

Roberto Sabatella Adam, Princípios do Ecoedificio

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Sustentabilidade e revitalização de património

1.2.4- ENERGIAS RENOVÁVEIS

O uso de energias renováveis está ligado a estratégias políticas estando as suas

opções dependentes do contexto nacional. Embora estas opções sejam de carácter

individual, de cada país, tornam-se coincidentes quando o seu objectivo é associar

técnicas consolidadas, que sejam rentáveis e competitivas face a tecnologias mais

inovadoras. A electricidade gerada em centrais, tendo como combustível o carvão, é a

fonte de energia destinada ao aquecimento que mais contribui para o efeito de estufa,

com a sua grande emissão de gases. O aquecimento a gás representa já uma melhoria

sensível, neste aspecto, principalmente quando estamos em presença de caldeiras

murais, não estanques. No entanto, é a energia solar, em todos os aspectos, a mais

respeitosa do meio ambiente.

1.2.4.1- SOLAR

Na arquitectura bioclimática, a instalação de painéis solares, para produção de água

quente sanitária, desenvolvida nos anos sessenta, tem sido aperfeiçoada e

comprovada a sua rentabilidade. Esta técnica pode produzir, aproximadamente, 60%

da água quente necessária ao longo de um ano, bem como reduzir na mesma

percentagem as emissões de CO2 para a atmosfera, sendo ao mesmo tempo um dos

métodos de uso de energia renovável economicamente mais rentável. O seu maior

problema reside na forma de como armazenar essa energia solar térmica, permitindo

que ao fazer-se o armazenamento nos períodos de Verão, possa ser utilizada no

Inverno havendo, já, empresas que estudam e apresentam soluções para este

problema.

1.2.4.2- FOTO VOLTAICA

A transformação da energia solar em energia eléctrica, pelo processo de painéis de

células fotovoltaicas tem, nos dias de hoje, numerosas aplicações. Se localizadas em

fachadas ou coberturas de edifícios, como elemento de composição do próprio edifício,

produzem electricidade suficiente para consumo interno. Embora de custo ainda

elevado recebe, em alguns países europeus, importantes estímulos económicos,

podendo ter aplicações particularmente eficientes em países em vias de

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Sustentabilidade e revitalização de património

desenvolvimento, com muitas horas de sol / dia, mas que não disponham de outra

fonte de energia.

esquema de funcionamento de um sistema de aquecimento de água – SANDLER M2

1- unidade de aquecimento de água; 2– colector solar térmico; 3- controlador de água quente; 4- sistema

de retorno de água quente; 5- sistema de aquecimento; 6- entrada de água da rede

1.2.4.3- BIOGÁS

O biogás proveniente da fermentação de resíduos domésticos, de resíduos das

actividades agrícolas e industriais, etc. pode, também, ser transformado em calor ou

em electricidade. A fermentação de matérias orgânicas, ao produzir este biogás pode

substituir, por exemplo, o consumo de gás canalizado nos aparelhos de cozinhas

domésticas.

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1.2.4.4- EÓLICA

A energia eólica, energia cinética do vento transformada em energia mecânica, vem

acrescentar mais um processo de energia renovável. Graças aos moinhos eólicos esta

transformação de energias pode ter utilização imediata ou ser armazenada. É, sem

dúvida nenhuma, uma energia instável e de carácter aleatório, estimando-se ser

necessária uma velocidade mínima de 5 metros por segundo de vento para que se

justifique a instalação de um sistema destes. No entanto, países como a França e o

Reino Unido, apostam no desenvolvimento do sector eólico como forma de responder

às exigências da União Europeia sobre electricidade verde.

1.2.5- GESTÃO DA ÁGUA

Questionar o nosso recurso mais precioso – a água – é um aspecto que qualquer

proposta de sustentabilidade terá de levar muito a sério. O ciclo da água começa com a

sua fonte. Poucos são os afortunados que podem dispor de um sistema de retenção no

seu próprio jardim pelo que se torna necessário recorrer ao abastecimento da rede

pública. O aproveitamento das águas pluviais é possível podendo ser canalizadas para

uso em caldeiras, zonas de tratamento de roupa, rega de jardins, etc., sem

praticamente tratamento nenhum devendo, no entanto, ser acautelado que para o uso

doméstico a sua utilização requer a introdução de um sistema de filtragem.

As alterações climáticas e o aumento contínuo de desperdício de água começa já a

provocar carências em muitas partes do mundo, incluindo países europeus. Muitas

zonas sofrem restrições, sobretudo durante os meses de Verão, tornando cada vez

mais evidente o quanto a água é preciosa e indispensável. O tratamento natural de

águas residuais deverá ser uma aposta para reduzir o consumo de água através de um

processo de reciclagem, tornando-se um recurso que se deve aproveitar para uso

futuro, podendo ser armazenada em depósitos estanques ou em lagos, como

ecossistemas aquáticos. Estes têm a capacidade de se auto-purificarem, sempre e

quando a área receptora não receba resíduos contaminantes que afectem o equilíbrio

do meio. O resultado final será uma redução importante de nutrientes na água, com um

grau de manutenção e de custo energético mínimo. A utilização desta água dependerá,

no entanto, do grau de purificação ou do fim a que se destina.

Carlos Barata – 98.1.9 24

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Sustentabilidade e revitalização de património

Tratando-se de um recurso cada vez mais precioso e raro, apresenta consumos

exagerados principalmente em países industrializados. Este aspecto tem vital

importância sendo no ramo da construção civil, e principalmente na construção da

moradia unifamiliar, que estes consumos podem e devem ser controlados, aplicando-

se medidas que podem ajudar a controlar o ciclo da água: a redução do seu consumo

graças a equipamentos de baixo consumo e, consequentemente, com um

comportamento mais responsável, a recuperação da água da chuva, o ajardinamento

de coberturas, a purificação natural das águas residuais, etc. A água pode, também,

constituir um elemento arquitectónico que contribui para o equilíbrio higrotérmico da

temperatura interior dos edifícios.

1.2.5.1- PLUVIAIS

A recuperação das águas pluviais poderia reduzir o consumo de água potável. Uma

série de investigações científicas confirmam a qualidade das águas pluviais que, após

tratamento, se assemelha à água destilada. Em sistemas com recuperação da água da

chuva nas coberturas, filtragem e armazenamento, respeitando-se os tempos de

purificação e posterior distribuição em rede de canalização, permitem a sua reutilização

em situações de limpeza, rega de espaços ajardinados, instalações sanitárias e em

máquinas de lavagem e tratamento de roupa. O uso deste tipo de tratamento das

águas pluviais começa, já, a generalizar-se em alguns países europeus, principalmente

em equipamentos escolares, desportivos e culturais.

O ajardinamento de coberturas com pouca pendente passou a ser generalizado em

diversos países, como factor de compensação para o aumento gradual das áreas

impermeabilizadas nas superfícies urbanas. O princípio é simples: restituir, nas

coberturas dos edifícios, a superfície verde eliminada ao nível do solo. O ajardinamento

aumenta o isolamento acústico e térmico, prolongando a vida dos materiais ao limitar

as amplitudes térmicas nas suas superfícies, e em zonas de forte precipitação, as

coberturas ajardinadas conseguem reter entre 70% e 90% da água da chuva,

retardando a sua evacuação.

Carlos Barata – 98.1.9 25

Page 26: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Esquema de funcionamento de uma instalação de recuperação da água da chuva, com uma cisterna

enterrada com bomba submersível

1.2.5.2- RESIDUAIS

O tratamento de águas residuais mediante a sua retenção em pequenos lagos de

pouca profundidade, em que os resíduos orgânicos são degradados mediante a acção

de plantas aquáticas, é uma experiência em estudo na Europa, como forma alternativa

aos actuais sistemas de tratamento convencionais. Após este tratamento as águas

purificadas podem ser reutilizadas em limpezas e em sistemas de rega de jardins.

Carlos Barata – 98.1.9 26

Page 27: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Roberto Sabatella Adam, Princípios do Ecoedificio

1.2.6- TÉCNICAS, MATERIAIS E ACABAMENTOS

Ao longo da história o Homem, na sua acumulação de conhecimentos, usou os

materiais mais à mão para realizar as suas construções, materiais naturais da sua

envolvente em suficiente quantidade para poder permitir a construção in situ, utilizando

ferramentas e tecnologia tradicionalmente herdadas, com uma tipologia de edificação

perfeitamente ajustável ao lugar. Hoje em dia verifica-se a tendência de recuperar o

passado, utilizando a sabedoria e os conhecimentos antigos. Quando se trata de

recuperar culturas e tradições antigas fixamo-nos nos indicadores locais, que

identificam o modo de construir de uma determinada zona, consubstanciando-o com o

nosso presente.

Carlos Barata – 98.1.9 27

Page 28: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Projectar uma edificação no território respeitando a envolvente próxima é o objectivo

máximo de integração, levando-a a formar uma parte da ecologia desse lugar. Em todo

o caso o propósito é modificar e alterar o habitat o menos possível, utilizando as

técnicas construtivas e materiais mais adequados ao local de intervenção, sabendo-se

que o acto de construir gera, inevitavelmente, um impacto sobre o meio que nos rodeia.

A bioconstrução procura minimizá-lo na medida do possível. A partir do momento em

que se altera a topografia do local de intervenção estamos a perturbar o equilíbrio

ecológico desse mesmo local, devendo ser esta a razão para que o planeamento

sustentável adopte medidas de forma a corrigir as perturbações infligidas pela nossa

intervenção ou presença.

O uso de materiais naturais é, assim, uma das opções ou uma das características a

destacar na bioconstrução, sobretudo quando se trata da utilização de materiais

próprios do local, cuja utilização não tenha um impacto ambiental que possa prejudicar

a biodiversidade do lugar e que requeira pouca energia na sua extracção, produção e

utilização posterior. Assim, a primeira opção deverá passar pela utilização de materiais

renováveis que se encontram entre os mais adequados à construção, sendo a outra

alternativa a utilização de materiais provenientes de recursos reciclados, materiais

recuperados de outras construções, sempre e quando não sejam prejudiciais.

Existem várias publicações sobre as vantagens e desvantagens ambientais do uso de

materiais correntes, cuja selecção terá como base vários critérios, em que o impacte

ambiental é apenas um deles. Segue-se, por isso, um breve resumo sobre alguns tipos

genéricos de materiais e acabamentos vulgarmente utilizados:

1.2.6.1- A MADEIRA

Conjuntamente com a terra, a madeira é o material de construção mais universal. É um

material renovável e sustentável sempre e quando se siga uma boa política de gestão

das próprias florestas. A madeira é leve, com pouca condutibilidade, excelente

isolamento térmico e acústico, agradável ao tacto e, se bem tratada, tem uma duração

quase ilimitada, com um grau de manutenção mínimo e com um consumo de energia

necessária para a sua fabricação, quase nulo. A árvore utiliza a energia solar, sendo o

Carlos Barata – 98.1.9 28

Page 29: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

consumo de energia no processo de transformação da madeira muito inferior quando

se compara com outros materiais como o aço o alumínio ou o cimento. Uma vez

finalizado o seu ciclo de vida, a madeira é reciclável ou transformada em energia

calorífica sem contaminar o meio ambiente. Se tivermos em conta todos os custos de

reciclagem, eliminação de resíduos e o preço dos produtos industriais, poucos

materiais poderão competir com a madeira.

1.2.6.2- A PEDRA

A pedra faz também parte do grupo de materiais nobres da construção, encontrando-se

localmente disponível. Numa perspectiva ambiental é um dos recursos de construção

mais aceitável e mais duradouro. É um material que apresenta uma boa inércia

térmica, o que evita importantes oscilações de temperatura no interior da construção,

proporcionando uma boa protecção contra o calor exterior, de Verão, ao mesmo tempo

que requer um mínimo de energia para manter condições de conforto no Inverno.

Numa construção bioclimática serve de massa térmica para armazenar calor, além de

ser um excelente isolante sonoro e um material que mantém as suas características ao

longo do tempo, requerendo pouca manutenção. A construção mais lenta que a

construção convencional, uma mão-de-obra mais especializada (e por isso mais cara)

e o risco de deterioração em locais muito húmidos podem ser factores negativos ou

desvantajosos, quando a sua aplicação for a opção tomada como certa.

1.2.6.3- O CIMENTO

O cimento é hoje um dos materiais mais utilizados na construção. No seu processo de

produção a fase de extracção, além de proceder de recursos não renováveis, provoca

elevado impacto ambiental negativo, com um consumo elevado de energia e posterior

emissão de gases e pó para a atmosfera. As suas inegáveis vantagens, ocultam no

entanto os seus efeitos negativos, havendo outras opções em estudo como, por

exemplo, a utilização de cimentos puzolânicos. A utilização de cal hidráulica natural

nos rebocos traz também vantagens, devido às suas características, pois permite uma

melhor impermeabilização e protecção à humidade, melhor transferência do vapor de

água entres espaços não havendo, por isso, retenção de humidade, além de ser um

produto natural.

Carlos Barata – 98.1.9 29

Page 30: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

1.2.6.4- A CERÂMICA

A cerâmica, sendo um material tradicional com vantagens meio ambientais

evidenciadas na sua durabilidade e no seu baixo custo de manutenção é, no entanto,

proveniente de recursos não renováveis, tendo no seu processo de formação um

consumo energético considerável ao requerer temperaturas de cozeduras

elevadíssimas. O uso de alvenarias que permitissem a transpiração e a evaporação do

vapor de água, com capacidade de compensar e equilibrar a humidade ambiental,

evitando a criação de espaços húmidos e frios assim como as condensações na

superfície de paramentos, seria recomendável. Por algum motivo a construção nos

países mediterrânicos, ao longo da história, nos mostra a utilização de paramentos em

blocos maciços de adobe.

1.2.6.5- AS TINTAS

A contaminação atmosférica que provoca a fabricação e utilização de pinturas

sintéticas e solventes poderá equivaler-se, segundo alguns estudos, aos níveis

produzidos pelos automóveis. A utilização de pinturas acrílicas de base aquosa, em

princípio, reduz a percentagem de solventes mas a sua utilização é também discutível,

já que se compõe de outros agentes sintéticos, requerendo processos de modificação

de grande complexidade, na sua fabricação. Sendo a pintura um dos revestimentos

mais utilizados e mais em contacto directo com os utilizadores dos espaços

construídos, deveria haver mais preocupação por parte dos agentes responsáveis e

intervenientes em todo o processo de construção, no que se refere à opção de escolha

do material de pintura a aplicar. Assim, dever-se-ia dar primazia ao uso de tintas

naturais, de base mineral, tintas de silicatos e tintas sem compostos orgânicos voláteis.

Os mesmos cuidados se deverão ter no que se refere à protecção e tratamento de

madeiras, seja a sua função estrutural, de protecção e revestimento ou, simplesmente,

decorativa.

1.3- QUE FUTURO?

Carlos Barata – 98.1.9 30

Page 31: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Embora exista alguma dissociação entre qualidade do meio ambiente e qualidade

arquitectónica, é já notória a preocupação de se construir edifícios que ofereçam o

máximo conforto aos seus utilizadores com preservação dos recursos e dos

ecossistemas. Toda esta nova perspectiva, envolvendo uma metodologia com respeito

pelo meio ambiente, exige a intervenção de todos os agentes que nela intervêm ou

fazem parte, deste os técnicos projectistas, passando pelos promotores ou agentes

económicos, até aos utilizadores. Como todo o processo novo e experimental, leva

algum tempo a inversão de hábitos e métodos mas, com o objectivo consensual da sua

rápida rentabilização e com a necessidade ambiciosa de redução das emissões de

CO2 fixados pela União Europeia, é indispensável abordar este tema de gestão meio

ambienta no planeamento urbano, tanto à escala do edifício, como da cidade ou do

território, dando sempre prioridade à dimensão humana.

Claro que, com esta necessidade de proteger o nosso ambiente natural, o reforço e a

aplicação de regulamentos e medidas, acompanhados de multas e cauções com

alguma expressão começa a dar os seus frutos em algumas situações. Se a

aplicabilidade dos princípios ecológicos tem já os seus seguidores (projectistas,

promotores, construtores), resta mostrar à opinião pública e ao conjunto dos

profissionais da construção civil a necessidade urgente de se aplicar sistematicamente

um critério ecológico. A qualidade ambiental nos edifícios é já uma realidade quotidiana

em países como a Alemanha, Áustria, Suiça, países Escandinavos e Holanda, tendo já

sido ultrapassada a fase ou período de experiências passando-se à concretização no

dia a dia de uma arquitectura baseada no respeito pelo Homem e seu meio ambiente

natural. Contribuir para uma melhor qualidade de vida a partir do respeito pelos nossos

recursos naturais é um desafio que deveria ser incentivado a todos e com a

colaboração de todos.

A atitude final de respeito pelo meio ambiente, a qualidade formal e construtiva e a

diversidade de respostas da chamada arquitectura ecológica prova que esta, não só

desejável, como também é possível como um pressuposto razoável sem que, com

isso, se ponha em causa uma arquitectura contemporânea.

Carlos Barata – 98.1.9 31

Page 32: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Mais do que “policiamento”, há que promover campanhas de divulgação que tornem o

cidadão, utentes e consumidores, mais informados e esclarecidos e, por consequência

mais exigentes.

Carlos Barata – 98.1.9 32

Page 33: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2-PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO

2.1- CONCEITOS

“Desde os anos sessenta do século XX, os monumentos históricos constituem apenas

parte de uma herança que não pára de aumentar por via da anexação de novos tipos

de bens e através do alargamento do quadro cronológico e das áreas geográficas no

interior dos quais se inscrevem estes bens.

Aquando da criação em França da primeira Comissão dos Monumentos Históricos, em

1837, as três grandes categorias de monumentos históricos eram constituídas pelos

vestígios da Antiguidade, pelos edifícios religiosos da Idade Média e por alguns

castelos. No final da Segunda Guerra Mundial, o número de bens inventariados tinha

sido multiplicado por dez, mas a sua natureza não tinha mudado quase nada. Eles

derivavam essencialmente da arqueologia e da história erudita da arquitectura. Desde

então, todas as formas de arte de edificar, eruditas e populares, urbanas e rurais e

todas as categorias de edifícios, públicos e privados, sumptuários e utilitários, foram

anexadas sob novas denominações: arquitectura menor, expressão oriunda de Itália

usada para designar as construções privadas não monumentais, muitas vezes erguidas

sem o concurso de arquitectos; arquitectura vernacular, expressão oriunda de

Inglaterra usada para distinguir os edifícios característicos dos diversos territórios;

arquitectura industrial das fábricas, das estações, dos altos-fornos, reconhecida em

primeiro lugar pelos Ingleses. Enfim, o domínio patrimonial deixou de estar limitado aos

edifícios individuais; ele compreende, daqui em diante, os conjuntos edificados e o

tecido urbano: quarteirões e bairros urbanos, aldeias, cidades inteiras e mesmo

conjuntos de cidades, como o demonstram «a lista» do Património Mundial

estabelecida pela Unesco.

Até aos anos sessenta, o quadro cronológico no qual se inscreviam os monumentos

históricos era, tal como hoje em dia, quase ilimitado a montante, onde coincide com o

da investigação arqueológica. A jusante, não ultrapassava as barreiras da segunda

metade do século XIX. Hoje em dia, os Belgas deploram a perda da Maison du Peuple

(1896), obra-prima de Horta, demolida em 1968 e os Franceses a perda dos Halles de

Carlos Barata – 98.1.9 33

Page 34: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Baltard destruídos em 1970, apesar de protestos vigorosos oriundos de toda a França

e do mundo inteiro. Por muito prestigiosas que fossem, essas vozes eram as de uma

pequena minoria confrontada com a indiferença geral. Para a administração, e para a

maioria do público, os pavilhões suspensos encomendados por Napoleão III e

Haussmann tinham apenas uma função trivial, que não lhes concedia acesso à classe

dos monumentos. Ainda por cima, pertenciam a uma época reputada pelo seu mau

gosto. Hoje em dia, uma parte da Paris haussmanniana está classificada e, em

princípio intocável daqui em diante. O mesmo se passa com a arquitectura modern

style, celebrizada em França, na viragem do século, por Guimard, por Lavirotte e pela

escola de Nancy, cuja brevidade de carreira rapidamente fez associar a uma moda e a

depreciá-la.

O próprio século XX forçou as portas do domínio patrimonial. Hoje estariam, sem

sombra de dúvida, classificados e protegidos o Hotel Imperial de Tóquio, obra-prima de

Frank. L. Wright (1915), que tinha resistido aos terramotos, demolido em 1968; as

oficinas Esders, de Perret (1919), demolidas em 1960; os grandes armazéns Schocken

(1924), de Mendelsonn, em Estugarda, demolidos em 1955; o dispensário, de Louis

Kann, em Filadélfia (1954), demolido em 1973. Em França, uma Comissão,

recentemente encarregada do «património do século XX», procurou elaborar os

critérios e uma tipologia que não deixasse escapar qualquer testemunho

historicamente significativo. Os próprios arquitectos não são os menos preocupados

com a designação das suas obras na classificação. Le Corbusier tinha começado ainda

em vida a proteger as suas realizações, das quais actualmente onze estão

classificadas e catorze inscritas no inventário suplementar. A VilIa Savoye sofreu várias

campanhas de restauro, mais caras do que as de muitos monumentos medievais.

Enfim, a noção de monumento histórico e as práticas de conservação que lhe estão

associadas expandiram-se para fora da Europa, onde tinham nascido e que tinha

permanecido durante muito tempo o seu território exclusivo. É certo que foi nos anos

de 1870, no âmbito da abertura Meiji, a entrada discreta do monumento histórico no

Japão. Para este país, que mantivera as suas tradições até ao presente, que não

conhecia outra história além da dinástica, que não concebia arte antiga ou moderna

que não fosse viva, que conservava sempre novos os seus monumentos através da

sua reconstrução ritual, a assimilação do tempo ocidental passava pelo

Carlos Barata – 98.1.9 34

Page 35: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

reconhecimento de uma história universal, pela adopção do museu e pela preservação

dos monumentos enquanto testemunhos do passado.

Na mesma época, os Estados Unidos eram os primeiros a proteger o seu património

natural, mas não se interessavam quase nada pela conservação de um património

edificado, cuja protecção é recente e que começou por envolver apenas as habitações

individuais das grandes personalidades nacionais.

Quanto à China, que se tinha mantido alheia a estes valores, a partir de 1970 abriu

sistematicamente e explorou o filão dos seus monumentos históricos.

A primeira Conferência internacional para a conservação dos monumentos históricos,

realizada em Atenas em 1931, reuniu apenas europeus. Na segunda, realizada em

Veneza em 1964, participaram três países não europeus: a Tunísia, o México e o Peru.

Quinze anos mais tarde, oitenta países pertencendo aos cinco continentes tinham

assinado a Convenção do Património Mundial.” (Choay, Françoise – A Alegoria do Património,

ed. 70 – p3-5)

2.2- TEORIAS

Desde o Império Romano até meados do século XVIII, restaurar uma obra de

arquitectura significava, geralmente, actuar de forma inovadora sobre a mesma

segundo a valorização que cada época atribuía ao monumento. Era a necessidade de

memória histórica que outorgava os componentes necessários para intervir.

Nas civilizações grega, romana e cristã até aos finais da Idade Média restaura-se

constantemente arquitectura, se bem que este conceito significava restaurar a

sacralidade do lugar, e não a construção em si onde, aliás, se realizavam intervenções

radicais que na maioria dos casos pressupunha o seu desaparecimento ou

substituição.

Será o Renascimento a primeira etapa da história do mundo ocidental que tem

consciência de um certo passado, o clássico quase exclusivamente, e que vai adoptar

algumas medidas para tentar recuperar ou conservar sinais daquele tempo. Durante

Carlos Barata – 98.1.9 35

Page 36: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

todo o Renascimento vai-se potenciando este sentimento como o estudo e a análise

dos monumentos clássicos através de escritos, desenhos, relevos, etc.

Surge também aquilo que se poderá considerar a primeira consciência arqueológica de

investigação para estudar os monumentos realizados pelos gregos e romanos. Não

existia, no entanto, uma verdadeira consciência arqueológica e de preservação tendo

em vista legar aqueles objectos para o futuro pela importância que tinham como

testemunhos culturais.

Eram objectos idolatrados pelos seus significados antigos, como mitos do passado, e

não como documentos para o futuro. Recorde-se que os edifícios romanos, durante as

épocas do Renascimento e do Barroco, não eram considerados testemunhos a

conservar arqueologicamente mas, tão só, como fontes de inspiração projectual para

reelaborar o classicismo.

Será durante o século XVIII quando se começa realmente a colocar cientificamente, o

tema do restauro. A mudança fundamental prende-se com o surgir de uma nova

consciência da história, numa perspectiva crítica e científica que distinguia plenamente

o passado do presente, de modo que aquele já não era um processo aberto para ser

continuado, como se fazia no Renascimento, e muito menos para o superar, mas tinha

uma valorização explícita que lhe advinha de constituir um período concluído e

encerrado. Era possível criar-se uma nova modernidade inspirada nesse passado, mas

aquele pertencia a uma cultura concluída e desaparecida.

No que respeita à arquitectura e às belas artes, alcançou-se a capacidade de

classificá-los dentro de estilos e de distinguir diferentes épocas e períodos dentro

desses mesmos estilos, surgindo cronologias científicas que, dentro de um espírito

positivista, tudo pretendiam classificar. Esta nova atitude provocou a necessidade de

articular exigências de respeito em relação às obras e estilos antigos,

fundamentalmente o grego, romano, egípcio, muçulmano e oriental. E o que é mais

importante para o nosso objectivo atribuiu-se-lhes valores conceptuais de antiguidade e

de estética, pelo que a admiração que suscitavam obrigou a que intelectuais, políticos

e diversos sectores culturais se sentissem na obrigação de sancionar ideias de respeito

activo em relação aos mesmos. Surge, assim, o conceito de tutela monumental. Faltará

Carlos Barata – 98.1.9 36

Page 37: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

desenvolver, e não tardará muito a produzir-se, o como tutelar esses monumentos,

quer dizer, a teoria da intervenção, a teoria do Restauro. Foi na Segunda metade do

século XVIII que o conceito de restauro foi entendido como: "o conjunto de operações

destinadas não a actualizar o monumento, nem tão pouco a enriquecê-lo, mas a

conservá-lo como testemunho do passado".

2.2.1- TEORIAS DO RESTAURO

2.2.1.1- O RESTAURO ARCHEOLÓGICO

O restauro archeologico foi formulado pela primeira vez em Itália (Luciani, Marconi,

etc.) durante o primeiro terço do século XIX, e obedecia ao seguinte princípio:

"Nenhuma inovação deve introduzir-se nem nas formas nem nas proporções, nem nos

ornamentos do edifício resultante, se não é para excluir aqueles elementos que num

tempo posterior à sua construção foram introduzidos por capricho da época seguinte".

Assim, entende-se por restauro archeologico a operação realizada para completar e

consolidar os edifícios, uma vez estudados cientificamente, escavados e desenhados

correctamente, para obter a recomposição do monumento mediante o emprego de

partes originais e de reproduções com diferenças subtis.

Este método é de uma assombrosa modernidade pois defende o concurso da

arqueologia, da escavação científica e sistemática, o estudo regional e ideal dos

elementos comparados e chega à conclusão de utilizar a anastilosis (aproveitamento

de peças do próprio monumento) quando tal é possível. Procura a consolidação do

monumento, na maioria dos casos, e a sua recomposição quando é possível, mas com

a advertência de que neste caso se deverá diferenciar subtilmente as partes novas das

originais que se copiarão em materiais distintos e com elementos ornamentais mais

estilizados com o objectivo de garantir visualmente a compreensão das partes

autênticas. Este tipo de intervenção foi posta em prática nos monumentos de Roma,

nomeadamente nos fóruns, no arco de Tito e de Constantino e no Coliseu Flaviano.

Carlos Barata – 98.1.9 37

Page 38: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Arco de Tito – gravura de 1761

www.casali.com/autori/Montagu3/Arco%20di%20Tito.JPG

Arco de Tito – 1998

www.romaspqr.it/ ROMA/Foto/Arco-Tito1.jpg

Carlos Barata – 98.1.9 38

Page 39: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Arco de Constantino Magno – gravura de 1761

www.casali.com/autori/Montagu3/Arco%20di%20Costantino.JPG

Arco de Tito – 1992

cv.uoc.es/~991_04_005_ 01_web/fitxer/arcconstanti.gif

Carlos Barata – 98.1.9 39

Page 40: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.2.1.2- O "RESTAURO STYLISTIQUE": VIOLLET-LE-DUC E O RACIONALISMO

ROMÂNTICO FRANCÊS

Todos os estudiosos de teoria e história do restauro assinalam a data de 1794 como

sendo a origem da jurisprudência da conservação de monumentos. Neste ano, II da

República Francesa, a Convenção Nacional promulgou um decreto em que se

declarava o seguinte princípio:

"Os cidadãos não são mais que os depositários de um bem que a comunidade tem

direito a pedir-lhes contas. Os bárbaros e os escravos detestam a ciência e destroem

as obras de arte, os homens livres amam-nas e conservam-nas".

Este documento considerado como a primeira Carta oficial de um estado moderno

surgiu para travar o vandalismo ocorrido no período após a Revolução Francesa que

fez desaparecer ou degradar uma infinidade de obras de arte e de monumentos em

toda a França. A partir de agora os responsáveis da conservação já não poderão

actuar livremente, dado o interesse público da sua acção pelo que, qualquer

intervenção deverá ser sancionada pelo Estado. Os atentados pós revolucionários que

atentaram gravemente contra o património arquitectónico francês, levaram o Estado a

assumir a sua defesa e valorização iniciando importantes campanhas de restauro.

Em França adoptar-se-á o restauro stilistico, primeiro intuitivamente (Louis Vitet,

Quatrémere de Quincy, Próspero Merimée) e, mais tarde, codificado por ViolIet-le-Duc.

O procedimento passa pela utilização metodológica da arqueologia e da história da arte

como sistema de indução para conhecer o monumento nas partes que lhe faltam, como

das partes que devem reconstruir-se. Estão conscientes do inacabado da generalidade

das obras antigas e defendem que se deve chegar ao aperfeiçoamento das mesmas

através do método comparado dos estilos.

Defende-se o restauro como uma operação de integração estilística por intermédio da

qual o arquitecto deverá tender a alcançar o monumento na unidade (de estilo) que

coincida com o seu estado primitivo. Nesta linha de actuação afirmavam: "quando o

traçado do antigo edifício tenha desaparecido, a decisão mais rigorosa é de que se

devem copiar motivos análogos de um edifício da mesma época ou da mesma

província". (Próspero Merimée).

Carlos Barata – 98.1.9 40

Page 41: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Para os franceses da primeira metade do século XIX conseguia-se a autenticidade ao

intervir em monumentos quando se deduzia dos seus restos ou dos seus traços gerais

o estilo original do edifício a partir dos quais e por analogia com os similares da história

de arte, da arqueologia e da ciência positivista se podia reproduzir e concluir chegando

à obra perfeita. A autenticidade residia na técnica e na linguagem de modo que se se

imitava perfeitamente, não se atentava contra o monumento.

Todos estes princípios provam que eram totalmente legítimo, em prol de conseguir o

estilo unitário, o libertar e demolir das alterações e acrescentos renascentistas,

barrocos e neoclássicos nos monumentos antigos e medievais com o fim exclusivo de

reconstruir estas partes no estilo original, sem distinção de antigo e novo, pois ambas

as partes mereciam a chancela de autenticidade.

Já no primeiro terço do século (XIX) estava preparado o advento das teorias de ViolIet-

le-Duc quem, na realidade, não é o autor original das mesmas, ainda que lhe pertença

a capacidade de recolhê-las, codificá-las e articulá-las como uma teoria concreta.

Para ViolIet-le-Duc a acção de restaurar obrigava a seguir o estilo através de uma

interpretação filológica e científica, através do conhecimento arqueológico da história

da arte. A sua procura pela idealização e perfeição levaram-no a afirmar: "restaurar um

edifício significa recolocá-lo num estado de integridade que pode nunca ter existido".

No vasto rol de obras realizadas encontram-se as intervenções na Catedral de Notre-

Dame de Paris , em 1844, na Sala do Sínodo em Seine, em 1851, Saint-sermin de

Toulouse, em 1846, no Castelo de Pierrefonds, em 1866 e na Cidade de Carcassone

entre 1852 e 1879.

Carlos Barata – 98.1.9 41

Page 42: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

notre-dame - paris

www.bigfoto.com/europe/paris/notre-dame.jpg

saint chapelle - paris

www.harris-interiors.co.uk/images/La%20Sainte-Chapelle.jpg

Carlos Barata – 98.1.9 42

Page 43: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.2.1.3- LUCA BELTRAMI E O "RESTAURO STORICO"

Durante as últimas décadas do século XIX os arquitectos e teóricos italianos vão reagir

contra os excessos produzidos pela escola violietiana na Europa e na Itália e contra o

fatalismo passivo da escola inglesa (Ruskim e Morris) propondo na essência a

conservação, mas procurando uma dialéctica entre antigo e novo quando é inevitável a

intervenção. Como consequência deste debate surgiram duas novas tendências

denominadas restauro “storíco” e restauro “moderno” lideradas respectivamente por

Luca Beltrami e Camilo Boito. Luca Beltrami aplicou as suas teorias,

fundamentalmente, no castelo dos Sforza em Milão. O seu projecto (1893) visou o

restauro da fortaleza com a intenção de integrá-la na sua imagem original, a partir dos

traçados e desenhos de Filarete e documentos antigos, como a da analogia comparada

através do exemplo da cidade de Vigevano. Como consequência da sua intervenção

construiu-se a grande torre central, com os seus volumes escalonados, sobre uns

simples vestígios do embasamento que era o único realmente documental do edifício.

Castelo dos Sforza, Milão, Itália - vista do pátio interior

www.civila.com/comun/galeria/italia/milan/castelosforza/castelosforza-interior-04.jpg

Carlos Barata – 98.1.9 43

Page 44: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Castelo dos Sforza, Milão, Itália - vista da torre central

http://ret0057t.eresmas.net/Fotos/Landscape/Big/I-Milan05.jpg

Os princípios sobre os quais se funda o novo método parecem sérios e rigorosos no

plano teórico: o entendimento de que o monumento é um documento cujas diferentes

fases construtivas devem ser reconhecidas como factos documentados e, por esta

causa, respeitadas e conservadas; as operações de restauro, sejam integradoras ou de

restauro, devem basear-se em provas objectivas do próprio monumento, numa procura

de verdade baseada em factos comprovados e num conhecimento documental, nas

fontes fornecidas pelos arquivos relativos ao edifício, nas gravuras, pinturas e

historiografia, assim como na análise profunda da obra. Na prática esta teoria foi

desastrosa pois não houve suficiente capacidade crítica para interpretar as fontes.

Apesar de tudo significou um salto qualitativo de um método genérico, como acontecia

no estilístico, onde se procurava a reconstrução de um modelo medieval ideal e

utópico, para um método específico que começa a considerar cada restauro como

individual e único, com as suas particularidades, a partir do estudo de um caso e só

depois de conhecer a totalidade da sua história, documentos, fontes gráficas, etc.

Carlos Barata – 98.1.9 44

Page 45: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

O caso mais paradigmático desta concepção é a da reconstrução do campanário da

praça de S. Marcos em Veneza, que se desmoronou em 14 de Julho de 1902, ficando

reduzida a escombros. Após acesa polémica venceu a ideia de executar uma cópia

literal. Esta mesma atitude se seguiu com a reconstrução do Pavilhão da Alemanha

(1929) de Mies Van Der Rohe, ou do Pavilhão do Espírito Novo (1925) de Le

Corbusier.

Pavilhão da Alemanha (1929) de Mies Van Der Rohe

http://myhome.naver.com/kimhyoungwoo/images/modern/Mies%20van%20der%20Rohe-Barcelona

%20Pavilion1.gif

maqueta do Pavilhão do Espírito Novo (1925) de Le Corbusier.

www.uni-weimar.de/aktuelles/bogen/2002-01/images/lecorbusier.jpg

Carlos Barata – 98.1.9 45

Page 46: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.2.1.4- CAMILLO BOITO E O "RESTAURO MODERNO"

Camillo Boito entende a recuperação dos monumentos desde a necessidade de reuso,

da utilização, e desde a crítica da arquitectura contemporânea sendo consciente das

renovações que em toda a Europa se produzem entre as duas últimas décadas do

século XIX e a primeira do século XX. No que respeita aos monumentos ele

compreende a realidade italiana que denota uma enorme quantidade e da necessidade

de terem uso como forma de conservação.

Boito inspira-se na escola de restauro “archeologico” para conseguir um critério

suficientemente hábil onde defende a memória histórica do monumento e,

simultaneamente, recupera a imagem antiga do mesmo sem o cinismo do violietianos.

Quando se observa o seu método e critérios específicos é necessário referir que

Camillo Boito nunca defende em primeiro lugar a prática do restauro: "quando seja

demonstrada a necessidade de restaurar um edifício, deve ser antes consolidado que

reparado, antes reparado que restaurado, evitando renovações e acrescentos." E

refere: "É necessário fazer o impossível, é necessário fazer milagres para conservar o

monumento e o seu antigo aspecto artístico e pitoresco". Por isso, chegado à evidência

da sua ruína e, no caso de absoluta necessidade de o restaurar ou completar, quando

a consolidação e a reparação sejam inúteis, "se não se podem evitar, (os acrescentos

que se realizem) mostrem não ser obra antiga, mas sim de hoje".

Assim, e para os edifícios incompletos ou em situação de ruína, Boito defendeu a

aplicação de oito princípios:

1. Diferença de estilo entre antigo e novo;

2. Diferença de materiais de fábrica;

3. Supressão de silhuetas e de ornatos;

4. Exposição das partes materiais que tenham sido eliminadas num lugar contíguo ao

monumento restaurado;

5. Inscrição da data de actuação ou de um sinal convencional na parte nova;

6. Epígrafe descritivo incisivo no monumento;

Carlos Barata – 98.1.9 46

Page 47: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

7. Descrição e fotografias das diversas fases dos trabalhos depositadas no próprio

monumento ou num lugar público próximo, ou publicação de tudo;

8. Notoriedade.

Podemos encontrar a aplicação destes oito princípios na Basílica de santo António de

Pádua, Itália, uma obra com um aspecto misto de Lombasdino, Toscano e Bizantino,

com 8 cúpulas orientais e dois campanários, de onde sobressai o portal em bronze,

este ultimo obra de Camillo Boito.

Basílica de S. António de Pádua -

www.bernardello.it/ padova/img/santo01.jpg

As suas ideias vão ter um grande eco pela Europa fora e muito especialmente pelo seu

discípulo Gustavo Giovannoni.

2.2.1.5- GUSTAVO GIOVANNONI E O RESTAURO “SCIENTIFICO": A CARTA DE

ATENAS (1931)

Deve-se a Giovannoni e seus estudos a "história e teoria arquitectónica passou a dar

importância às estruturas, aos muros, aos espaços aos volumes e às técnicas

construtivas. Será igualmente responsável pela formação de gerações de arquitectos

italianos educados expressamente na conservação de monumentos através de uma

profunda preparação histórica e científica. É considerado o mais importante redactor de

quantos intervieram na Conferência de Atenas de 1931 para a formação da chamada Carlos Barata – 98.1.9 47

Page 48: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Carta de Atenas, primeiro documento internacional publicado para considerar como

universal a arte dos povos e para a consciência dos governos em relação à sua

protecção e salvação.

Como princípio básico Giovannoni defende "fecundar do sentido da arte o sentido

histórico". Desta simples frase emanará a sua teoria conservacionista e científica.

Pressupõe a defesa dos valores artísticos e históricos, o que o levará a ampliar o

conceito de monumento não apenas ao próprio objecto, às suas qualidades artísticas

mais as vicissitudes históricas, mas também ao contexto em que se encontra, à trama

edificada e urbana que dá carácter e lhe reforça os seus signos de identidade. Por tudo

isto um dos seus princípios é "a lei da mínima intervenção e do mínimo acrescento",

recorrendo exclusivamente à manutenção e à consolidação dos edifícios. Mas também

propõe: "considerar dentro do estilo do monumento a condição ambiental mais que as

intrinsecamente artísticas; respeitar toda a manifestação sobreposta que tenha carácter

de arte e identificar honestamente os acrescentos não evitáveis".

Giovannoni reflectiu sobre as teorias de Boito e aperfeiçoou-as. Onde se nota

realmente a sua modernidade é na sua capacidade de definir critérios actuais nos

problemas da defesa dos centros históricos, pela introdução do conceito de respeito

ambiental e pela valorização das arquitecturas menores.

2.2.1.6- CESARE BRANDI E ROBERTO PANE: O "RESTAURO CRÍTICO"

As teorias precedentes (restauri moderno e scientífico), aplicados na Europa ao longo

dos anos vinte e trinta, constituíam métodos de trabalho seguros e que ofereciam

garantias nos resultados mas, eram métodos que pelos seus procedimentos da própria

salvaguarda, análises, levantamentos e intervenções estudadas até ao mais ínfimo

pormenor eram lentos e complexos e, por estas razões, tornaram-se completamente

inoperativos com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Perante a lógica exigida por

actuações de extraordinária urgência para enfrentar os gravíssimos desastres bélicos,

recuperar a actividade em territórios já pacificados e dar trabalho a milhares de

trabalhadores, começou a imperar nos círculos responsáveis pela salvaguarda do

património um debate que teve soluções tão drásticas como o defender métodos de

urgência baseados na reconstrução dos monumentos perdidos. Centenas de centros

Carlos Barata – 98.1.9 48

Page 49: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

históricos e de monumentos gravemente danificados, em situação de eminente

desaparição, conheceram uma actividade febril e urgente de reconstruções

rigorosamente miméticas que os resgataram ao seu estado original: Turim, Milão,

Nápoles. Varsóvia. Colónia, Bruxelas, Bruges, etc. sofreram estas actuações em

numerosos monumentos

É na sequência destas actuações que surge a teoria do restauro “crítico”. Critica-se

igualmente a Carta de Atenas e postulados de Giovannoni. A sua maior crítica reside

no excessivo valor dado aos argumentos históricos defendendo que sobre eles

deveriam prevalecer os artísticos, o que dará origem à estética espiritualista dos

monumentos.

A Carta de Veneza (1964) é o reflexo das suas teorias:

1. Utilização dos mais variados meios de análise: arqueológicos, sondagens

estratigráficas, técnicas estáticas, informáticas, magnéticas, fotogrametria, etc.

2. Recuperação, protecção e revitalização do monumento no seu ambiente incluindo

em tal conceito os centros históricos, sítios arqueológicos, lugares naturais, etc.

3. Intervenções que propiciem sempre a reversibilidade de modo que, em qualquer

momento, o objecto sobre o que se actuou se possa despojarem da actuação e

voltar ao momento anterior à sua realização.

4. Respeito por todas as adições sempre que não atentem intrinsecamente como

documento histórico das diferentes fases pelas que passou o monumento.

5. Intervir sempre a partir de critérios como autenticidade e honestidade, deixando

visível as intervenções realizadas para que, em qualquer momento, se possa

verificar a autenticidade do monumento primogénito.

6. Valorização da estrutura dos monumentos no seu sentido mais amplo de modo a

realçar as suas características plano-volumétricas, murarias de sustentação,

tipológicas, compositivas, etc.

7. Aceitação de novas tecnologias e materiais a aplicar em monumentos sempre e

quando não contrariem os pontos anteriormente referidos.

Carlos Barata – 98.1.9 49

Page 50: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.2.2- ACTUALIDADE

Desde a Carta de Amsterdão também chamada de Carta Europeia de Restauro (1975),

a todos os conceitos anteriormente referidos sobrepõem-se os de restauro integral e

intervenção mínima, que pretendem erradicar todos os critérios de intervenção, mais

ou menos conjunturais, em favor da estrita conservação.

Efectivamente, desde a Segunda Guerra Mundial prevaleceu a doutrina da reutilização

do passado histórico, dando origem ao discurso funcional para garantir o uso dos

edifícios do passado. Tratava-se de acrescentar novos usos para velhos edifícios. Esta

política aplicada a monumentos implicou graves distorções nos mesmos. Recordemos

como nos anos sessenta Aldo Rossi recomendava no seu livro Arquitectura da Cidade

a realização de propostas de transformação de estações de caminho de ferro em

museus, hospitais em centros educativos, mercados em equipamentos urbanos, etc.,

mas foram propostas que não deram resultados positivos como se pode apreciar na

Gare D'0rsay de Paris ou no Mercado dei Borne em Barcelona, lugares que

efectivamente não se destruíram, mas que na sua adaptação não se conserva

nenhuma das características que lhes estiveram na origem. Com intervenções como

esta desaparecem tipologias, estruturas, símbolos, circulações, iluminação, e tantas

características já irrecuperáveis depois das obras efectuadas.

Nos nossos dias, o restauro integral defende, precisamente, a preservação do conjunto

de características estéticas e arquitectónicas dos monumentos evitando aquelas

intervenções fortes e radicais. O restauro integral recomenda usar os edifícios

históricos exclusivamente quando exista correspondência entre a função original e a

procura no presente. A sobriedade, a prudência e a honestidade para com o passado e

com o presente constituem a norma mais eficaz para evitar cair na fragilidade

conjuntural dos monumentos e seu uso.

Carlos Barata – 98.1.9 50

Page 51: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Gare D'0rsay de Paris – postal de 1852

http://www.marcel-proust-gesellschaft.de/cpa/75/paris05.jpg

Museu D’Orsay - Paris

http://europeforvisitors.com/europe/images/paris_quai_dorsay_museum_n.jpg

Carlos Barata – 98.1.9 51

Page 52: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.3- DEGRADAÇÃO DE PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO

As causas da degradação do património construído e a preservação desse património,

justificada por razões meramente socio-culturais e/ou também por motivos económicos,

as medidas administrativas que se podem tomar, tendo em vista a salvaguarda dos

valores patrimoniais, são problemas actuais que se devem ter em atenção

A antiguidade dos edifícios, a qualidade dos materiais de construção, a poluição

atmosférica, as guerras, os incêndios, os desastres físicos, etc., são causas óbvias da

degradação do património construído. Há, todavia, outros factores, socio-culturais e

socio-económicos.

A utilização dos edifícios para fins diferentes daqueles para os quais foram projectados

e construídos contribui, normalmente, para a sua degradação. A revolução liberal do

século XIX, introduzindo uma nova ordem social e trazendo, com ela, a extinção das

ordens religiosas e dos morgadios, representou um violento ataque ao património

construído. Dos conventos, uns ficaram ao abandono, muitos foram convertidos em

hospitais, quartéis, repartições públicas, fábricas. Os novos ocupantes transformaram

os edifícios, sem atenção aos valores históricos e arquitectónicos e apenas pela

necessidade de reorganizarem o espaço interno. Por outro lado, o regime de morgadio,

mantendo indivisa a propriedade imobiliária, garantia ao filho varão primogénito os

meios materiais de conservação do seu solar ou residência.

A extinção do regime foi diminuindo os meios financeiros do proprietário e conduziu

muitas vezes à degradação e abandono das velhas casas senhoriais. Também por

motivos ideológicos se demoliu ou descurou a muralha, o convento, o pelourinho,

símbolos de um passado e de uma ordem social que se rejeitava.

A industrialização do século XIX, embora modesta no nosso país, trouxe consigo o

desenvolvimento da circulação e o sobrepovoamento de certas áreas residenciais

urbanas. A circulação de produtos e de pessoas, muito antes do aparecimento do

automóvel, obrigou a demolições para alargamento das vias e à destruição de arcos,

portas ou cortinas de muralhas. A industrialização, criando um proletariado fabril, levou

ao adensamento populacional de determinadas áreas urbanas, provocando o

Carlos Barata – 98.1.9 52

Page 53: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

sobrepovoamento de uma área residencial e como consequência a degradação dos

imóveis e do ambiente.

O fenómeno do gosto artístico é outro factor importante de degradação do património

construído. A arquitectura medieval era bárbara para os homens da Renascença;

Herculano considerava o convento de Mafra, uma sensaboria de mármore. Novos

gostos artísticos conduziram, nuns lados ao abandono, noutros à remodelação ou

mesmo à destruição. Os próprios critérios de restauro trouxeram destruições

lamentáveis. Ainda não há muitos anos se considerava que a recuperação de um

edifício de interesse histórico exigia a sua restituição à primitiva forma, com demolição

do que em diferentes épocas tivesse sido acrescentado. São exemplo disso os

restauros das Sés de Coimbra e Lisboa e do mosteiro de Alcobaça. Ainda neste

capítulo, a sobrevalorização do «monumento» levou por vezes à demolição dos

conjuntos envolventes, para que aquele ficasse mais evidente e digno.

Daqui surgem alguns dos diversos tipos de intervenção com que nos podemos

deparar, renovação ou reabilitação urbana e, ainda, salvaguarda de todo um

património.

2.3.1- RENOVAÇÃO URBANA

Por renovação urbana entende-se a demolição de prédios ou de conjuntos de imóveis

e a reedificação radicalmente diferente.

A renovação urbana, quando a operação envolve conjuntos de prédios, é normalmente

promovida pelas autarquias, as quais realizam a expropriação e a demolição mas

entregam a construção à iniciativa privada, sujeitando-a por vezes a condições

definidas em planos de reordenamento urbano. Como razões justificativas da

renovação apontam-se geralmente a inabitabilidade dos prédios antigos e a

necessidade de reordenamento viário para maior facilidade da circulação automóvel.

Os custos sociais de tais operações nem sempre são devidamente ponderados. A

inabitabilidade ou desconforto dos prédios antigos pode ser real, mas não poderão os

imóveis ser reabilitados.

Carlos Barata – 98.1.9 53

Page 54: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Serve de exemplo a destruição de todo o património edificado no “Bota Abaixo”, em

Coimbra, para posterior intervenção imobiliária e o processo, em execução, de

renovação da Frente Ribeirinha correspondente à área de domínio público ferroviário,

integrada no Programa “Estações com Vida” (REFER / INVESFER, arq. Juan

Busquete)

vista aérea de Coimbra – Baixinha e Bota Abaixo

“Estações com Vida”

vista aérea de Coimbra – Baixinha e Bota Abaixo

“Estações com Vida”

Carlos Barata – 98.1.9 54

Page 55: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

vista aérea de Coimbra – Frente Mondego – proposta de intervenção

“Estações com Vida”

2.3.2- REABILITAÇÃO URBANA

Por reabilitação entende-se a beneficiação dos imóveis e dos espaços de circulação

com algumas demolições pontuais, se necessárias, mas sem qualquer grande

destruição. Os custos financeiros da reabilitação são geralmente apontados como

superiores aos da renovação. Reabilitar, diz-se, fica mais caro que fazer de novo. Nem

sempre isso é verdade. E ainda que o seja, há que ponderar os custos sociais, para

além dos financeiros. A renovação urbana conduz normalmente ao aumento dos

índices de ocupação, com os inconvenientes, que daí advêm, de adensamento do

tráfego e de dificuldades de aparcamento, à monofuncionalização das áreas, pela

preferência eventualmente dada ao comércio e aos serviços, cujas rendas são mais

elevadas que o aluguer de habitação, à segregação das camadas mais desfavorecidas

da população, pelo aumento dos arrendamentos nas áreas renovadas. A população

residente é normalmente deslocada para bairros sociais. Nestes encontra, sem dúvida,

habitação mais confortável do que a que deixou, mas encontrará maior conforto do que

aquele que teria se a habitação antiga tivesse sido reabilitada? E, em termos de

Carlos Barata – 98.1.9 55

Page 56: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

ambiente, encontrará melhores relações de vizinhança, maiores facilidades de

abastecimento e de recreio? Terá maior economia de transportes? Por outro lado, a

destruição dos centros urbanos históricos não terá efeitos no afluxo turístico que

representa, hoje em toda a parte, tão importante fonte de receita local?

Aos conceitos de renovação e reabilitação, teria de se acrescentar os de restauro e

reconversão: restaurar é restituir a forma primitiva a um edifício que no decurso do

tempo foi sendo transformado e adulterado; reconverter e atribuir, a um edifício antigo,

outro uso, como por exemplo fazer de um castelo ou convento, uma pousada, ou de

uma igreja sem culto, um museu ou uma sala de espectáculos.

A intervenção no Convento de Refoios do Lima, do Arquitecto Fernando Távora é um

exemplo de uma reabilitação que, impossibilitado o retorno à sua função original por

razões óbvias, se intervém com um programa para a Escola Superior Agrária de Ponte

de Lima, ou seja a transformação do Convento numa Instituição do Saber.

Convento de Refoios do Lima

www.pontedelima.com/freguesias/Refoios/convento.jpg

Carlos Barata – 98.1.9 56

Page 57: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.3.3- SALVAGUARDA DE CENTROS HISTÓRICOS

Nos termos da Recomendação relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos,

aprovada pela UNESCO em Nairobi, em 1976, e ratificada pelo Governo português,

entende-se por conjunto histórico um agrupamento de construções e de espaços ao

qual se reconheça valor arquitectónico, estético, histórico ou socio-cultural. E, nos

termos da mesma Recomendação, envolvência do conjunto histórico é o quadro

natural ou construído cuja percepção afecta a do próprio conjunto histórico ou que se

lhe liga por laços sociais, económicos ou culturais.

A classificação de núcleos urbanos como conjuntos históricos é da competência do

Instituto Português do Património Arquitectónico mas, nada impede que as Câmaras

Municipais definam, sem intervenção daquele Instituto, conjuntos aos quais decidam

aplicar regulamentos especiais de gestão urbanística, tendo em vista a sua

salvaguarda.

A salvaguarda implica, em primeiro lugar, a identificação e delimitação do conjunto

histórico a salvaguardar; depois, o estudo de medidas, não apenas de protecção,

conservação e restauro, mas também de reabilitação e revitalização do conjunto.

A intervenção das associações locais de defesa do património é essencial na definição

dos conjuntos e das suas envolvências, bem como na inventariação dos valores

históricos e estéticos e na elaboração de programas de revitalização. Essas

associações de defesa do património devem bater-se para que se criem comissões

destinadas a aconselhar as Câmaras Municipais sempre que estejam em jogo valores

históricos ou estéticos, em colaborarão com os técnicos camarários na gestão dos

centros históricos, gestão cujos problemas são a reabilitação da habitação degradada,

o controle das mudanças de uso dos imóveis, tendo em vista evitar que a instalação do

comércio e de serviços administrativos suprima a ocupação habitacional para além de

um certo limite que transformaria significativamente a estrutura do conjunto histórico, o

controlo da renovação, que em muitos casos é necessária, mas que não pode tornar-

se agressiva do valor estético do conjunto ou criar problemas graves de circulação,

aparcamento ou poluição.

Carlos Barata – 98.1.9 57

Page 58: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

A gestão dos núcleos históricos implica, antes de mais, uma análise da situação

existente, em termos historico-arquitectónicos e socio-económicos. Exige, depois, a

elaboração de planos de intervenção que deverão ser feitos rua por rua ou conjunto por

conjunto, determinando-se, para cada imóvel, se deve ser reabilitado ou se, pelo seu

estado de degradação ou falta de qualidade arquitectónica, pode ser demolido. No

primeiro caso, far-se-á um programa que considere a sua aptidão habitacional ou para

instalação de serviços e defina as normas essenciais a cumprir numa alteração da

fachada e do interior. Quando se reconhecer a necessidade ou conveniência da

demolição, proceder-se-á a uma definição volumétrica, tipológica ou funcional do

edifício que poderá ser erguido em sua substituição.

Para uma correcta gestão dos núcleos históricos terão de considerar-se ainda a paleta

de cores utilizáveis, os tipos possíveis de revestimentos exteriores dos edifícios, a

natureza dos pavimentos a utilizar nas ruas, o tipo de mobiliário urbano a introduzir

(designadamente para iluminação pública), os tipos de sinalética de orientação (placas

com os nomes das ruas ou largos, etc.), os tipos de painéis publicitários, bem como

fomentar-se o apoio das Câmaras Municipais aos particulares na elaboração de

projectos e, quando possível, apoio financeiro.

2.4- INTERVENÇÃO NO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO

O património arquitectónico, seja ele de que tipo for, estará sempre sujeito a

intervenções periódicas a fim de se salvaguardar a sua preservação física. Portadores

de uma mensagem histórica, cada objecto é único e produto de uma época, de um

estilo, de uma visão social ou, muitas vezes, de uma simples necessidade prática.

Constituídos por materiais e técnicas diferentes, é em si um espelho das tradições, das

possibilidades e do desenvolvimento técnico/social, servindo como simples infra-

estrutura ou onde uns habitaram e outros trabalharam, muitos chegaram aos nossos

dias alterados (alguns falsificados), desprezados e a maioria com um futuro muito

incerto.

Preservar uma casa, edifício ou monumento é um processo contínuo, uma luta contra

as leis naturais, essas mesmas que, a longo prazo, transformam a pedra em areia e a

Carlos Barata – 98.1.9 58

Page 59: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

madeira em pó. A manutenção periódica e cuidadosa dos nossos edifícios não é regra

mas sim excepção. Os objectos que chegaram aos nossos dias, com um alto grau de

autenticidade, são aqueles que sofreram uma manutenção periódica, normalmente

restringida ao absolutamente necessário, executada com materiais e técnicas

tradicionais de origem (ou compatíveis), e ainda aqueles cuja finalidade e uso nunca

foram alterados nem interrompidos.

Continuidade é, pois, um dos termos chave na preservação do património edificado.

Primeiro que tudo porque actua como travão ao longo dos anos sobre a degradação

física do elemento e, em segundo lugar, porque gera a preservação dos

conhecimentos sobre métodos e materiais, um círculo fechado onde os efeitos

positivos são consideráveis e tendem a actuar como "vacina" efectiva contra as

aberrações, destruições ou falsificações. As razões de uma intervenção podem ser,

entre outras, uma simples manutenção periódica, uma modernização interna, uma

reabilitação total, uma mudança de uso, alterações de plano, acréscimos, etc. Quanto

maior a intervenção, maior é o perigo de se cometerem erros que, inevitavelmente, vão

conduzir à perda de valores. Os restauros de "fachada" são um excelente exemplo

onde quase tudo se perde nas partes interiores. As modernizações, alterações e

acréscimos implicam, muitas vezes, a introdução de materiais e de infra-estruturas

novas que conduzem a perdas e falsificações no imóvel. Inclusivamente, uma simples

manutenção levada a cargo sem o devido conhecimento e sensibilidade, poderá

acabar de uma maneira desastrosa.

A intervenção, seja ela qual for, vai sempre alterar o objecto, na maioria das vezes,

irreversivelmente. Manutenção, recuperação, reabilitação, etc. devem sempre partir do

princípio que o novo deverá ser adaptado ao velho, e não o contrário. O objecto que vai

sofrer uma intervenção deve ser respeitado como testemunho e portador de uma

história da qual os seus valores materiais, técnicos, arquitectónicos, artísticos ou

outros, nunca devem ser separados ou ignorados. É, pois, necessário, e previamente a

qualquer intervenção, identificar-se o que se quer fazer, e porquê. As questões devem

sempre ter a sua devida resposta antes e nunca depois.

Uma fase de planeamento cuidadoso é imprescindível, previamente a qualquer

intervenção prática, devendo esta mesma ser executada por profissionais competentes

Carlos Barata – 98.1.9 59

Page 60: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

sobre a matéria, sendo impossível um planeamento medíocre ou mau terminar com

bons resultados. A escolha dos profissionais que levarão a cargo a fase de

planeamento é, pois, absolutamente crucial para o resultado final.

Técnicas de construção ou execução e materiais usados na construção, materiais

aplicados e os seus respectivos acabamentos podem ser tradicionais e/ou

representativas de uma época, assim como podem ser pioneiras ou únicas, o que as

torna especiais num contexto histórico.

Valores arquitectónicos e artísticos são normalmente exponentes de uma época, de um

estilo e de uma utilização definida. Estes valores são, ao mesmo tempo, dependentes e

inseparáveis das técnicas e dos materiais usados. Importante é, também, considerar

que os valores arquitectónicos e artísticos, devem ser considerados e avaliados com os

mesmos critérios em partes interiores e exteriores do edifício. Deve sempre ser o

mesmo avaliado como parte integrante de um conjunto (edifícios adjacentes, bairro,

etc.) ou representativo de uma tradição e identificação local, regional ou nacional.

Deve-se, também ter em conta, se são obras únicas ou com finalidades especiais,

raras ou portadoras de mensagens históricas, económicas ou sociais.

São os valores, como técnicas de construção, arquitectónicos e artísticos, e outros de

carácter mais subjectivo que nos permitem passar a uma fase de planeamento das

intervenções práticas de uma maneira consciente e cuidadosa. De muita importância é

não esquecer que estes valores existem, não somente em construções antigas, mas

também nas recentes e modernas. A salvaguarda e a preservação cuidadosa dos

edifícios "modernos", no presente, permitirá que os mesmos cheguem ao futuro com

um alto grau de autenticidade.

2.4.1- CRITÉRIOS A CONSIDERAR

2.4.1.1- PRESERVAR O MAIS POSSÍVEL

Um edifício é constituído por um conjunto de materiais e de estruturas diversas, cuja

interacção, posição e função formam um objecto com características próprias e

"inseparáveis". O grau de autenticidade é sempre mais elevado nos objectos que

Carlos Barata – 98.1.9 60

Page 61: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

chegaram aos nossos dias com poucas substituições e/ou alterações. Por cada

elemento ou material substituído/alterado perde-se um pouco da história do objecto,

mesmo tendo em conta que, paralelamente, estamos a preservar as suas estruturas,

materiais, formas, estilo, funções, etc.

2.4.1.2- REDUÇÃO DAS INTERVENÇÕES AO MÍNIMO

Este e um dos grandes problemas da reabilitação. Muitos são os valores materiais

(económicos) que, inconscientemente, são deitados para o lixo, e substituídos por

outros de qualidade inferior ou incompatíveis com os de origem. Basta, muitas vezes,

reparar-se ou substituir apenas as partes degradadas, ou que já não cumpram a sua

função de uma maneira satisfatória (um telhado não necessita ser substituído por

algumas telhas estarem partidas). Restringir as intervenções ao mínimo tem também

partes positivas, sob um ponto de vista económico/ecológico.

2.4.1.3- MATERIAIS E TÉCNICAS DE ORIGEM

Recorrer a materiais e técnicas de origem é normalmente um obstáculo na

conservação. Os materiais podem já não existir no mercado e encontrar quem domine

a sua aplicação prática pode, ainda, ser mais difícil. É, normalmente, nestas condições

que surgem os materiais e as técnicas modernas, muitas delas totalmente

incompatíveis (e desastrosas), quando implementadas num edifício antigo. Muitas

obras de arquitectura milenares, chegaram aos nossos dias em excelente estado de

conservação. Nunca nos devemos esquecer que as mesmas foram edificadas com cal,

areia, pedra, tijolo, telha, madeira e ferro. Muitos edifícios antigos perdem os seus

valores inerentes, devido ao uso desnecessário dos materiais e das técnicas

modernas.

2.4.1.4- ADAPTAÇÃO DO NOVO AO VELHO

A modernização dos edifícios antigos é algo que sempre ocorreu durante a história. A

adaptação a novos tempos, outros ideais, novas necessidades e exigências, vai

alterando os edifícios, sobretudo na sua parte interior. Estas intervenções tendem,

Carlos Barata – 98.1.9 61

Page 62: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

infelizmente, a conduzir à obliteração da maioria dos valores materiais e técnicos de

origem. A introdução de elementos novos deverá sempre ser ponderada e a sua

execução prática nunca deve significar a destruição desnecessária dos valores

existentes. Este tipo de intervenções requer, pois, muita sensibilidade e cuidados de

quem as planeia.

2.4.1.5- POSSÍVEL REVERSIBILIDADE FUTURA

A introdução de novos elementos ou a substituição dos antigos deverá, sempre que

possível, considerar uma futura reversibilidade. E essa mesma é sempre dependente

de uma adaptação cuidadosa. Uma nova parede divisória pode ser construída de

maneira a ser removida no futuro, sem causar grandes danos no original. Se bem que

em certas situações este tipo de critérios possa ser um desafio à criatividade e obrigam

quase sempre, de uma maneira ou outra, a compromissos vários.

2.4.2- DIAGNÓSTICO

O que é considerado anomalias por uns, pode representar vestígios do tempo para

outros. A tendência de encontrar muitos "defeitos" toma-se facilmente num obstáculo,

no que respeita a reduzir as intervenções ao mínimo.

2.4.2.1- EM ELEMENTOS EXTERIORES

As Paredes exteriores são normalmente constituídas por materiais diversos e com

características específicas. A pedra, o tijolo, a madeira, o vidro e o ferro (e outros

metais), são os materiais predominantes assim como os respectivos revestimentos, tais

como o azulejo, o reboco e a tinta. Não esquecendo que, dentro de cada categoria de

materiais, a qualidade, proveniência e características, podem diferir como o dia e a

noite. O granito e o calcário, o pinho e o carvalho, a tinta de cal e a de óleo são só

alguns exemplos. Trata-se, pois, de executar uma identificação correcta dos materiais

existentes, o que nos permitirá mais facilmente distinguir as anomalias dos vestígios do

tempo e aplicar as soluções correctas.

Carlos Barata – 98.1.9 62

Page 63: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

A pedra e o tijolo são, em conjunto com uma argamassa, os elementos constituintes de

uma alvenaria e exercem, pois, uma função estrutural importante. As anomalias

existentes devem ser identificadas por profissionais com a devida competência.

Qualquer intervenção deverá ser executada com materiais similares. Uma nota

importante é a constituição da argamassa e dos seus elementos. Se a argamassa

original é de cal, pois deverá a intervenção ser executada com uma similar, tanto na

constituição como na proporção e granulometria. O uso, por exemplo, do cimento

Portland nestas situações é totalmente incorrecto, desnecessário e muitas vezes

desastroso. Normalmente, as alvenarias são rebocadas e, infelizmente, os rebocos

antigos tendem a ser substituídos na sua totalidade. Esta situação é de se evitar e

deve-se tentar substituir somente as partes realmente degradadas. Naturalmente que a

constituição da argamassa de reboco deverá seguir os mesmos critérios acima

mencionados e ter-se, ainda, atenção às suas eventuais texturas e acabamentos. Os

rebocos "antigos" são sempre executados com várias camadas finas, sobrepostas e

com os devidos cuidados de humidificação durante todo o trabalho. Uma eventual

pintura antiga exterior não deve ser repintada se não existir necessidade de tal. O que

seja pintado de novo, deverá ser executado com o mesmo tipo de tinta (ligante e

pigmentos).

A pedra natural surge bastante, em edifícios antigos, como moldura de janelas e

portas, em ornamentos, pórticos, varandas, etc. A pedra e o seu estado de

preservação deve sempre ser avaliada por profissionais com experiência já que as

soluções requerem, normalmente, métodos especiais. No caso em que partes estejam

totalmente degradadas, a pedra deverá ser substituída parcialmente. Aqui, há pois que

definir qualidade e origem, e nem sempre é fácil encontrar a mesma ou similar. Um

pequeno alerta sobre os acabamentos que possam existir e que, normalmente, foram

executados manualmente: estes devem sempre ser respeitados e repetidos nas partes

substituídas. Métodos de limpeza à base de abrasivos podem ser nocivos pois, muitos

deles, causam danos, deixando a pedra "branquinha" mas esburacada, o que vai

acelerar uma nova deposição de partículas de sujidade no objecto. Muitos trabalhos de

pedra são "limpos" brutalmente, sem existir qualquer necessidade prévia que justifique

essa ou outras intervenções. Finalmente nunca esquecer, de refechar as juntas

existentes com uma argamassa adequada.

Carlos Barata – 98.1.9 63

Page 64: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

O ferro em partes exteriores encontra-se normalmente em varandas e marquises. Por

vezes é necessário recorrer à sua substituição mas, normalmente, trata-se apenas de

problemas superficiais de oxidação. A pintura do ferro deverá ser executada (depois

dos óxidos serem removidos) com tintas de óleo, sendo a primeira camada de tinta

protectora (com conteúdo de chumbo).

A madeira no exterior encontra-se nas janelas, caixilhos, portas e em alguns casos nos

suportes de telhado sobressaído. A substituição total de janelas e portas é uma “praga”

que se tem vindo a alastrar nas últimas décadas. Não somente se deitam para o lixo

excelentes valores materiais, sendo os mesmos, ao mesmo tempo, substituídos por

aberrações metálicas ou plásticas, absolutamente incompatíveis e isentas de estética.

Uma boa janela ou porta pode sempre ser remendada por um carpinteiro que saiba do

seu ofício, substituindo partes podres ou degradadas. A madeira a usar deverá ser da

mesma origem, bem seca, com alto teor de resinas naturais e proveniente de arvore de

crescimento lento. Essas madeiras são difíceis de encontrar em serrações modernas,

onde a qualidade do material, normalmente, é absolutamente deplorável, o que as leva,

provavelmente, a apodrecer em poucos anos. As melhores madeiras para remendos,

encontram-se (ironicamente) em demolições de edifícios antigos. A pintura das

madeiras deverá sempre ser executada com tintas de óleo e nunca com tintas

plásticas. A madeira de qualidade, com a devida e apropriada manutenção periódica,

pode "sobreviver" centenas de anos. No caso em que alguns elementos necessitem ser

substituídos na sua totalidade, deverão os mesmos ser executados com as mesmas

dimensões, estilo, e materiais.

Os vidros antigos têm características diferentes dos modernos devido a outros

processos de fabricação e, também, dado o facto de o vidro não ser um material

estável a longo prazo. Nunca substituir vidros antigos desnecessariamente. Nova

massa de vidraceiro deverá sempre substituir a seca e fissurada, como prevenção

contra as introduções de água.

Os revestimentos como o azulejo necessitam sempre de uma vistoria extensiva pois,

muitos dos elementos podem estar em vias de destacamento. Esses devem ser

previamente retirados, limpos e colocados no seu lugar de origem com argamassa

apropriada. No caso de faltarem azulejos devem-se fabricar novos, iguais aos originais

Carlos Barata – 98.1.9 64

Page 65: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Como este processo normalmente é caro, pode-se fabricar um número superior para

eventuais necessidades futuras.

As tintas para alvenarias ou rebocos deverão sempre ser similares à original

(normalmente tintas de cal) e nunca substituídas por tintas plásticas ou outras.

Algumas destas tintas são propícias a retenções de humidade, o que vai acelerar a

degradação do substrato. As tintas plásticas não podem ser repintadas com outras

tintas de ligante diferente. Isto implica que todas as camadas desse tipo de tinta têm

que ser removidas, anteriormente à aplicação de outras. Num sistema poroso como o

reboco isto significa, na prática, a remoção total da camada superficial do substrato. A

"repetibilidade" é, pois, sempre de considerar e, nesse aspecto, as tintas de cal são

absolutamente o que se encontra de melhor. A pintura de cal é sempre aplicada em

camadas múltiplas e finas.

2.4.2.2- EM COBERTURAS

O telhado é o factor mais importante na defesa do edifício contra o meio ambiente. As

telhas originais são um elemento importantíssimo sob o ponto de vista estético. Um

telhado substituído com telhas de outro formato, fabrico ou cor, altera as características

do objecto de uma maneira definitiva. Os trabalhos de manutenção devem sempre ser

executados com o maior dos cuidados e, de preferência, só substituir as telhas partidas

ou altamente degradadas. Madeiras de suporte devem ser substituídas e protegidas

quando necessário. A substituição de telhas em edifícios recentes tende a tornar-se

problemática, pois muitas dessas já não se fabricam. Quando se substitui (por

necessidade) um telhado inteiro deve-se, pois, adquirir sempre um número de telhas

superior ao necessário, para prevenir estes problemas futuros. A escolha de uma telha

tradicional poderá, por estes motivos, ser vantajosa. No caso em que existam caleiras

e tubos de queda devem estes ser substituídos por similares (na forma e material)

sempre que necessário.

2.4.2.3- EM ELEMENTOS INTERIORES

As escadarias são sempre o "cartão de visita" de um edifício. Muitas vezes com

trabalhos artísticos, estuques, painéis de azulejos, pinturas decorativas, ascensores da

Carlos Barata – 98.1.9 65

Page 66: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

época, madeiras raras, mármores e pedras decorativas, portas e vidragens de

qualidade, etc. Os cuidados aqui devem ser sempre especiais e a execução dos

trabalhos requer, muitas vezes, a competência de conservadores. A inclusão de

materiais novos (desnecessária) e a destruição dos antigos, nestes ambientes, é uma

ofensa a todos aqueles que, com conhecimento e devoção, nos deixaram tão belos

testemunhos.

Os fogos devem seguir os mesmos critérios anteriormente mencionados,

principalmente no que respeita a elementos tais como portas, pavimentos, azulejos,

estuques, armários e pedras de cozinha, varandas, etc. É, normalmente, aqui que tudo

desaparece ou se transforma de uma maneira irreversível ao longo dos anos e que,

muitas vezes, põe em causa a própria segurança estrutural dos edifícios.

A substituição das instalações técnicas é uma necessidade que implica intervenções

maiores em diferentes estruturas. Normalmente, é necessário abrir roços que,

obviamente, vão ter que ser tapados. Em escadarias é de recomendar uma moderação

e cuidado na intervenção, pois materiais eventualmente inutilizados, podem vir a ser

impossíveis de encontrar no mercado. Repor como estava antes é prioridade do bom

conservador, quando não existem outras alternativas de intervenção.

O sucesso final depende, primeiro que tudo, do planeamento inicial. A capacidade dos

profissionais envolvidos neste processo é crucial e decisiva. No campo da execução

surgem sempre problemas não previstos. Ou não se encontram os materiais, ou quem

os saiba aplicar. Saber executar um reboco de cimento, não implica saber implementar

um outro com argamassas de cal. Pintar com tintas plásticas ou com outras baseadas

em óleo de linhaça, é uma diferença significativa. A recuperação de um edifício antigo

requer muita paciência, moderação, vontade e trabalho, porque as soluções podem ser

simples e obvias mas, ao mesmo tempo, difíceis ou mesmo impossíveis de

implementar.

Carlos Barata – 98.1.9 66

Page 67: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.5- INTERVENÇÃO CUIDADOSA – CONSERVAÇÃO E AUTENTICIDADE

A discussão de toda esta problemática conduz-nos inevitavelmente para a abordagem

das estratégias de projecto e das suas legitimidades. Num tempo de dificuldades

teóricas, de rotura com os anteriores valores, de gradual construção de novos

paradigmas, que ainda não são muito claros nem suficientemente consensuais, é

perfeitamente natural que se discuta, de forma alargada, a «autoridade» das escolhas

de projecto.

Neste contexto, a redução do problema das escolhas e das justificações projectuais a

um pretenso antagonismo entre a afirmação pessoal contra um colectivo é um caminho

verdadeiramente constrangedor que conduz, inevitavelmente, à alienação da

arquitectura. Esta tendência tem, no entanto, firmes defensores.

Nas actuações sobre a cidade histórica importa separar, muito claramente, o conteúdo

das decisões demonstráveis, de conteúdo lógico para todos e como tal resultantes de

um processo determinístico, das que resultam de processos eminentemente criativos

ou pessoais. Como não há interpretações que não sejam também sugestivas, no

património importa reduzir os riscos da eventual arbitrariedade na tomada de decisões.

Importa também destacar a importância do conhecimento que se pode obter através de

um cuidadoso processo de análise (histórica, física, socio-antropológica).

A descoberta e a demonstração dos valores patrimoniais, desde que documentados

com absoluto e incontestável rigor histórico e científico torna-se, ela própria, um dos

mais importantes factores da conservação. Ao divulgarem-se publicamente os valores

patrimoniais torna-se muito mais difícil a sua delapidação, o vandalismo público ou

privado poderá assim ser auto-limitado ou mesmo penalizado politicamente! Na

exposição pública de factos incontestáveis, perante a importância e o valor dos

recursos detectados e expostos, o comitente tem obrigatoriamente que dar-se conta da

sua importância e responsabilizar-se pelas opções colocadas, circunscrevendo as

possibilidades dessa escolha.

Carlos Barata – 98.1.9 67

Page 68: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

ORGANISMOS, CARTAS, CONVENÇÕES E RECOMENDAÇÕES INTERNACIONAIS

UNESCO (1945)

ICOMOS (1965)

CONSELHO DA EUROPA

CARTA DE ATENAS DE RESTAURO. (1931)

CONVENÇÃO DE HAIA (UNESCO 1954)

CARTA DE VENEZA (1964)

CONVENÇÃO DO PATRIMÓNIO MUNDIAL CULTURAL E NATURAL (UNESCO -

1972)

CARTA EUROPEIA DO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO (Conselho da Europa -

1975)

CARTA DAS CIDADES HISTÓRICAS (ICOMOS - 1987)

UNESCO (1945)

A Organização das Nações Unidas (ONU) criou logo após o seu nascimento uma

instituição especializada, a UNESCO: Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura.

A UNESCO, com sede em Paris, tem por missão "contribuir para a manutenção da paz

e da segurança ao estreitar pela educação, pela ciência e pela cultura, a colaboração

entre as Nações, a fim de assegurar o respeito universal pela justiça, pela lei, pêlos

direitos do Homem e pelas liberdades fundamentais.

Convenções e Recomendações da UNESCO de maior importância, no âmbito da

salvaguarda do património arquitectónico:

- "Convenção sobre a protecção dos bens culturais em caso de conflito armado" (1954)

- "Convenção para a protecção do património mundial cultural e natural" (1972)

- "Recomendação relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos e a sua função na

vida contemporânea" (1976)

ICOMOS (1965)

Surgida em 1965, com sede em Paris, é uma organização não governamental cujo

móbil é a conservação de monumentos, conjuntos e sítios históricos.

Carlos Barata – 98.1.9 68

Page 69: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

O ICOMOS tem desempenhado um papel importante, de consultadoria, junto da

UNESCO, nomeadamente no âmbito da construção da "Lista do Património Mundial" e

na preparação de diversas recomendações.

Portugal possui um Comité Nacional, tal como aproximadamente outros cem países.

Do contributo teórico desta organização merece destaque:

"Carta do Turismo Cultural" (1976)

"Carta sobre Jardins Históricos" (ou de Florença - 1981)

"Carta das cidades históricas" (1987)

CONSELHO DA EUROPA (1949)

O Conselho da Europa, com sede em Estrasburgo, foi constituído em 1949 por dez

países europeus com o objectivo de propor a adopção de acções conjuntas em matéria

de âmbito social, económico, cultural, científico, jurídico e administrativo.

Actualmente o seu número ultrapassa os quarenta países, incluindo Portugal.

O Conselho da Europa está na origem, sobretudo a partir dos anos setenta, de novos

princípios e filosofias de abordagem do património, defendendo uma visão alargada

que não se limita aos grandes monumentos históricos (catedrais, palácios, castelos)

mas engloba todas as componentes do ambiente humanizado e edificado (centros

históricos, conjuntos rurais, património de interesse técnico e industrial dos séculos XIX

e XX.

Como documentos fundamentais, definidores da actual visão europeia sobre a

salvaguarda do património arquitectónico e arqueológico devemos destacar:

• "Convenção para a Protecção do Património Arqueológico" (1969 e 1992)

• "Carta Europeia do Património Arquitectónico" (1975)

• "Carta Europeia do Património Arquitectónico" (1975)

• "Convenção para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa" (1985)

CARTA DE ATENAS (DE RESTAURO DE MONUMENTOS) – 1931

Designa-se vulgarmente por Carta de Atenas o texto das conclusões da conferência

realizada em Outubro de 1931, promovida pelo Serviço Internacional de Museus,

organismo dependente da Sociedade das Nações. Os principais temas debatidos

foram:

• Apresentação das diferentes legislações em matéria de protecção e conservação de

monumentos artísticos e históricos:

Carlos Barata – 98.1.9 69

Page 70: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

• Restauro de monumentos, seus princípios gerais e estudo comparativo de doutrinas;

• Degradações provocadas pela passagem do tempo e por efeito dos agentes

atmosféricos;

• A envolvente dos monumentos:

• A utilização dos monumentos – usos perigosos para a sua segurança ou

incompatíveis com o seu carácter artístico e histórico.

As principais conclusões foram:

• Os restauros, quando inevitáveis, deverão respeitar a obra histórica e artística do

passado, sem excluir estilos de qualquer época;

• A utilização dos monumentos deve respeitar o seu carácter histórico ou artístico;

• O interesse da colectividade sobrepõe-se ao interesse privado. Deve Ter-se em conta

o sacrifício acrescido exigido aos proprietários, na óptica de preservar o interesse

geral;

• Devem respeitar-se o carácter e a fisionomia das cidades, sobretudo nas vizinhanças

dos monumentos;

• É aceite o emprego judicioso de materiais e técnicas modernas para a consolidação

de edifícios antigos;

• Nas condições da vida moderna os monumentos estão cada vez mais ameaçados

pêlos agentes atmosféricos pelo que é necessária a colaboração dos especialistas:

físicos, químicos e biólogos;

• O emprego de materiais modernos na conservação de uma ruína deve ser sempre

passível de reconhecimento (no sentido de evitar mimetismos);

• A conservação dos monumentos exige uma cooperação intelectual universal e deverá

constituir objectivo educacional para a juventude.

CARTA DE VENEZA (1964)

As principais conclusões foram:

• Reconhecimento da responsabilidade de salvaguarda dos edifícios históricos para as

gerações futuras;

• Alargamento do concerto de monumento histórico ao local onde o edifício se encontra

implantado;

• Reconhecimento da importância não só das grandes criações arquitectónicas, mas

também de todas as outras que tenham adquirido um significado cultural relevante;

• Necessidade de manutenções periódicas;

Carlos Barata – 98.1.9 70

Page 71: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

• Reconhecimento da importância para a conservação dos edifícios históricos de lhes

serem atribuídos fins sociais úteis;

• Interdição salvo condições excepcionais, da remoção ou substituição do todo ou de

parte do edifício para outro local:

• Reconhecimento do carácter altamente especializado das intervenções de

conservação e do respeito pela autenticidade do edifício e dos seus materiais:

• Ênfase na utilização de técnicas tradicionais, sempre que possível, nas acções de

conservação;

• Reconhecimento da importância das contribuições de várias épocas existentes nos

edifícios;

• Reconhecimento da anastyiosis como único método válido de reconstrução de ruínas

arqueológicas:

• Necessidade de existência de documentação e regias sistemáticos em todos os

trabalhos de conservação.

CARTA EUROPEIA DO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO / CARTA DE

AMSTERDÃO (Conselho da Europa -1975)

Alguns conceitos chave:

• O património arquitectónico europeu é formado não apenas pêlos monumentos mais

importantes, mas também pêlos conjuntos constituídos pelas nossas cidades antigas e

pelas nossas aldeias tradicionais no seu ambiente natural ou construído.

• O património é a memória do passado.

• O património arquitectónico é um capital espiritual, cultural, económico, e social de

valor insubstituível.

• A estrutura dos conjuntos históricos favorece o equilíbrio harmonioso das sociedades.

- O património está em perigo, sendo de referir como principais causas: ignorância,

degradação, necessidades de circulação, tecnologia mal aplicada, restauros abusivos,

pressão económica e especulação imobiliária.

- A conservação integrada é o resultado da acção conjugada das técnicas de restauro

e da procura de funções apropriadas. Necessita de apoio jurídico, administrativo e

financeiro.

Carlos Barata – 98.1.9 71

Page 72: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

CONVENÇÃO DO PATRIMÓNIO MUNDIAL CULTURAL E NATURAL (UNESCO -

1972)

Esta convenção foi aprovada pela UNESCO em 1972, e pretende estabelecer um

sistema eficaz de protecção colectiva (à escala do planeta) do património cultural e

natural de valor universal excepcional, e é hoje a convenção que goza de maior

projecção junto da opinião pública internacional.

Os primeiros doze bens, de sete países, foram inscritos na Lista do Património Mundial

em Setembro de 1978.

Presentemente, mais do que os benefícios directos (financeiros e técnicos) os

governos de todo o mundo desenvolvem esforços para incluir monumentos e sítios na

Lista do Património Mundial por razões de prestígio e projecção internacional. Para fins

da presente Convenção serão considerados como património cultural:

- Os monumentos: obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais,

elementos de estruturas de carácter arqueológico inscrições, grutas e grupos de

elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da

ciência;

- Os conjuntos: grupos de construções isolados ou reunidos que, em virtude da sua

arquitectura, unidade ou integração na paisagem, têm valor universal excepcional do

ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

- Os sítios: obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as

zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com valor universal excepcional

do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.

Carlos Barata – 98.1.9 72

Page 73: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Bibliografias:

A GREEN VITRUVIUS – Princípios e práticas de projecto para uma arquitectura

sustentável. Publicação da Comissão das Comunidades Europeias

Edwards, Brian com colaboração de Paul Hyett - Guia básica de la sostenibilidad – ed.

Gustavo Gil

Adam, Roberto Sabatella – Princípios do Ecoedificio, Interação entre ecologia,

consciência e edifício – ed. Aquariana

Quê? – Construción ecológica, critérios, ayudas, materiales, energias, agua –ed. Ceder

Aitana

Asensio, Paço – ECOlógica archiTECTUR, tendências bioclimaticas y arquitectura del

paisaje em el año 2000 – ed. Aurora Cuito

Choay, Françoise – A Alegoria do Património, ed. 70

ATIC Magazine, n.º 24, Novembro 1999

Alarcão, Jorge - Introdução ao estudo da história e património local – reimpressão do

Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra – Coimbra 1988

Apontamentos das aulas de historia da arquitectura, do curso de arquitectura da

ARCA/EUAC – Artº. Paulo Duarte.

WWW.Lisboa-renovada.net/

www,bioconstruccion.biz

Carlos Barata – 98.1.9 73

Page 74: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Seminários e conferências:

Arquitectura sustentável – Obras de Norman Foster, Laurent Marcfisher, The

sustainable city, França 2003 de Nicolas vidal e Jean Vercoutére.

Organização: FCTUC e MNCT – Centro de Física Computacional

Green Building - II Conferência sobre Sustentabilidade e Arquitectura

Organização: Revista Construtiva e Exponor

Oradores: Arq. Albert Cuchí, Arq. Albert Sagrera, Arq. Gerardo Wadel, Arq. Fabián López, Arquitectos Sabaté y Asociados e Pich Aguilera Arquitectos

O que é a sustentabilidade na construção, como se expressa e como se avalia o seu impacto

ambiental, quais são as alternativas sustentáveis que o mercado da construção nos oferece, como

fazer um edifício energeticamente eficiente, quais são as obras de referência ambiental neste

momento…

Seminário “Luz e Cor” - Iluminação dos espaços públicos e o papel da cor na

revitalização do edificado histórico.

Organização: Câmara Municipal de Coimbra, no âmbito da conferência

internacional denominada ”A imagem dos centros históricos – bases para a sua

salvaguarda” a realizar em Setembro de 2005

Orador: lighting designer Peter Gasper

Carlos Barata – 98.1.9 74

Page 75: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

Índice

1 ARQUITECTURA / CONSTRUÇÃO ECOLÓGICA

1.1 CAMINHOS, PRÁTICAS E PERSPECTIVAS 2

1.1.1 PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS 3

1.1.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 4

1.1.3 TENDÊNCIAS NA ARQUITECTURA 5

1.2 A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL 12

1.2.1 INTRODUÇÃO 12

1.2.2 EXIGÊNCIA E CONFORTO ENERGÉTICO 13

1.2.3 CONSUMO ENERGÉTICO 20

1.2.4 ENERGIAS RENOVÁVEIS 22

1.2.4.1 SOLAR 22

1.2.4.2 FOTO VOLTAICA 22

1.2.4.3 BIO GÁS 23

1.2.4.4 EÓLICA 24

1.2.5 GESTÃO DA ÁGUA 24

1.2.5.1 PLUVIAIS 25

1.2.5.2 RESIDUAIS 26

1.2.6 TÉCNICAS, MATERIAIS E ACABAMENTOS 27

1.2.6.1 A MADEIRA 28

1.2.6.2 A PEDRA 29

1.2.6.3 O CIMENTO 29

1.2.6.4 A CERÂMICA 30

1.2.6.5 AS TINTAS 30

1.3 QUE FUTURO? 30

2 PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO

2.1 CONCEITOS 32

2.2 TEORIAS 34

2.2.1 TEORIA DO RESTAURO 36

2.2.1.1 O RESTAURO ARCHEOLÓGICO 36

2.2.1.2 O RESTAURO STYLISQUE: VIOLLET-LE-DUC E O RACIONALISMO FRANCÊS 39

2.2.1.3 LUCA BELTRAMI E O RESTAURO STORICO 42

2.2.1.4 CAMILLO BOITO E O RESTAURO MODERNO 45

2.2.1.5 GUSTAVO GIOVANNONI E O RESTAURO SCIENTIFICO: A CARTA DE ATENAS 46

2.2.1.6 CESAR BRANDI E ROBERTO PANE: O RESTAURO CRÍTICO 47

2.2.2 ACTUALIDADE 49

2.3 DEGRADAÇÃO DE PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO 51

2.3.1 RENOVAÇÃO URBANA 52

2.3.2 REABILITAÇÃO URBANA 54

Carlos Barata – 98.1.9 75

Page 76: fundamentação teórica

Sustentabilidade e revitalização de património

2.3.3 SALVAGUARDA DE CENTROS HISTÓRICOS 56

2.4 INTERVENÇÃO NO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO 57

2.4.1 CRITÉRIOS A CONSIDERAR 59

2.4.1.1 PRESERVAR O MAIS POSSIVEL 59

2.4.1.2 REDUÇÃO DAS INTERVENÇÕES AO MÍNIMO 60

2.4.1.3 MATERIAIS E TÉCNICAS DE ORIGEM 60

2.4.1.4 ADAPTAÇÃO DO NOVO AO VELHO 60

2.4.1.5 POSSÍVEL REVERSIBILIDADE FUTURA 61

2.4.2 DIAGNÓSTICO 61

2.4.2.1 EM ELEMENTOS EXTERIORES 61

2.4.2.2 EM COBERTURAS 64

2.4.2.3 EM ELEMENTOS EXTERIORES 64

2.5 INTERVENÇÃO CUIDADOSA 66

ORGANISMOS, CENTROS, CONVENÇÕES E RECOMENDAÇÕES INTERNACIONAIS 67

BIBLIOGRAFIA 72

SEMINÁRIOS E CONFERÊNCIAS 73

ÍNDICE 74

Carlos Barata – 98.1.9 76