fundações internacionais e ou trust enquanto instrumento de planejamento sucessório

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1 ® BuscaLegis.ccj.ufsc.Br Fundações internacionais e/ou trust enquanto instrumento de planejamento sucessório Gabriela Di Pillo De Paula * O Planejamento sucessório no exterior somente deverá ser utilizado após a análise das intenções dos clientes, de modo a evitar problemas relativos à tributação e a sucessão no exterior, tais como a abertura de inventário em países estrangeiros e a incidência de altos impostos internacionais. Conforme bem dispôs a orientação 463 da CVM, antes da efetivação do planejamento, é indispensável checar a origem dos recursos, o chamado know your client. Indispensável, também, se torna a observância dos aspectos do direito brasileiro na realização do planejamento sucessórios, tais como regras de direito de família, como regime de bens do casamento, existência de pacto antenupcial, existência de contrato de união estável e regras de direito sucessório, como respeito à legítima e limites de perpetuidade.

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Page 1: Fundações internacionais e ou trust enquanto instrumento de  planejamento sucessório

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® BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

Fundações internacionais e/ou trust enquanto instrumento de

planejamento sucessório

Gabriela Di Pillo De Paula *

O Planejamento sucessório no exterior somente deverá ser utilizado após a análise das

intenções dos clientes, de modo a evitar problemas relativos à tributação e a sucessão no

exterior, tais como a abertura de inventário em países estrangeiros e a incidência de altos

impostos internacionais.

Conforme bem dispôs a orientação 463 da CVM, antes da efetivação do planejamento, é

indispensável checar a origem dos recursos, o chamado know your client.

Indispensável, também, se torna a observância dos aspectos do direito brasileiro na

realização do planejamento sucessórios, tais como regras de direito de família, como

regime de bens do casamento, existência de pacto antenupcial, existência de contrato de

união estável e regras de direito sucessório, como respeito à legítima e limites de

perpetuidade.

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De modo a evitar problemas sucessórios no exterior gerados com a constituição de

empresas, contas correntes e propriedade de imóveis, dois instrumentos mostram-se

satisfatórios: a fundação e o trust.

As Fundações, diferente da Fundação existente no Direito Brasileiro que deve ter,

obrigatoriamente, finalidade social, podem ter propósitos específicos, tal como propósito

familiar, tratada pela Lei Civil e tendo personalidade jurídica, além de poder ser perpétua.

Estas instituições podem deter ativos em seu nome, os ativos, que podem ser cotas de uma

ltda, ou ações de uma S/A no Brasil, são transferidos para a fundação pelo fundador e

devem ser por ela administrados em benefício de certas, ou certa, pessoas, chamados

beneficiários, que poderão ser pessoas físicas ou jurídicas.

Geralmente, o primeiro beneficiário de uma fundação é o fundador, muito embora sua

existência não possa se dar para benefício de seus acionistas.

A vantagem de utilizar-se a Fundação é sua flexibilidade no que concerne à sucessão,

podendo conter cláusulas sucessórias amplas, sendo possível, inclusive determinar que

parte do patrimônio caberá a cada beneficiário, ou em que idade ou em que situação cada

beneficiário receberá a parte que lhe cabe do patrimônio.

Outra vantagem é a administração pelo Conselho de Administração que é responsável pelas

decisões da Fundação, e que pode funcionar como centro de decisões da família, órgão

inexistente no trust. Alguns países exigem um membro local no Conselho.

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A figura do protector também está presente na Fundação e agirá como um protetor da

estrutura e dos beneficiários, garantindo que os bens cheguem intactos nas mão destes,

tendo o poder de eleger ou destituir membros do Conselho de Administração.

A documentação legal de uma Fundação será composta pelos Articles of Incorporation e

pelo By-Laws.

O By-Laws é o estatuto da Fundação, ou seja, documento que reproduz os desejos do

fundador. É um documento privado a que ninguém tem acesso, ficando em poder da

empresa que constituiu a fundação.

Os Articles of Incorporation são um documento mais genérico, que será levado a registro

na Câmara de Comércio.

O Trust, diferente das Fundações, não tem personalidade jurídica, sendo uma relação criada

inter vivos ou causa mortis, tratado pela Common Law, com duração aproximada de 100

anos.

O Trust é formado pelo Settlor ou Grantor, pessoa física ou jurídica que institui o trust,

transferindo ativos; pelo trustee, pessoa física ou jurídica que administra os ativos a serem

transferidos para os beneficiários; pelos beneficiários que, como nas Fundações, recebem as

distribuições do trust; e, pelo protector, figura similar ao das Fundações, que fiscaliza as

atividades do trustee.

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O trustee receberá a propriedade fiduciária dos bens(dual ownership) que administrará em

benefício dos beneficiários finais, devendo realizar tais funções de acordo com os termos

do trust e das normas impostas pela lei.

O instituidor do Trust tem vários instrumentos para assegurar o controle do trust, tais como

reservas de poderes para determinar investimentos e/ou distribuições, poderes para

adicionar ou remover trustees, poderes para incluir ou remover beneficiários e poder de

revogação, lembrando-se que o trust pode ser também irrevogável.

O Trust é regulado pelo Trust Deed que é documento obrigatório de se fazer e de se seguir;

e a Letter of Wishes que irá indicar os beneficiários, a possibilidade de retirá-los ou

adicioná-los e que deve ser seguido pelo trustee e poderá ser alterado a qualquer momento

pelo settlor, não se constituindo, porém, em obrigação legal.

Os Trusts possuem tipos, podem ser Discretionary ou Fixed, sendo que o discretionary

permite a determinação de que proporção vai para cada beneficiário; revogável ou

irrevogável; e os trusts com finalidade específica, que evitam a tributação de renda, o

Protective Trust e o Grantor Trust, usado em planejamentos tributários, já que a

distribuição aos beneficiários é isenta de imposto.

O Trust não é reconhecido no Brasil, sendo visto como doação, incidindo imposto referente

a este ato.

* Advogada - SP

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Disponível em:

http://www.casajuridica.com.br/?f=conteudo/ver_destaques&cod_destaque=557

Acesso em: 13 de outubro de 2008.