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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS Escola de Direito FGV DIREITO RIO LLM em Direito Empresarial II THIAGO SANTOS DE ARAÚJO A FUNÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL E DO COMITÊ DE CREDORES NO INSTITUTO DE RECUPERAÇÃO JUDCIAL: ANÁLISE NORMATIVA E DOUTRINÁRIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pós-graduação lato sensu, nível especialização, LLM Direito Empresarial da FGV DIREITO RIO. Turma no. II, da cidade de Recife. No. Matrícula: 301832014 Data: setembro/2016

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

Escola de Direito FGV DIREITO RIO

LLM em Direito Empresarial II

THIAGO SANTOS DE ARAÚJO

A FUNÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL E DO COMITÊ DE CREDORES NO

INSTITUTO DE RECUPERAÇÃO JUDCIAL: ANÁLISE NORMATIVA E

DOUTRINÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Pós-graduação lato sensu, nível

especialização, LLM Direito Empresarial da

FGV DIREITO RIO.

Turma no. II, da cidade de Recife.

No. Matrícula: 301832014

Data: setembro/2016

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

Escola de Direito FGV DIREITO RIO

LLM em Direito Empresarial

O Trabalho de Conclusão de Curso

A FUNÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL E DO COMITÊ DE CREDORES NO

INSTITUTO DE RECUPERAÇÃO JUDCIAL: ANÁLISE NORMATIVA E

DOUTRINÁRIA

Elaborado por Thiago Santos de Araújo

Data: 12/09/2016

Coordenador da Pós-graduação Lato Sensu do FGV Law Program – Rafael Alves de Almeida

RESUMO

O trabalho de conclusão de curso ora elaborado, tem como foco a análise normativa e

doutrinária sobre a função dos seguintes órgãos de fiscalização do instituto da Recuperação

Judicial(Administrado Judicial e Comitê de Credores).

Para o desenvolvimento do referido estudo, será tratado inicialmente uma breve

retrospectiva histórica da evolução do direito societário, especificamente quanto as teorias

contratualistas e institucionalistas do direito societário.

Seguindo a análise do presente estudo, será exposto os princípios norteadores da

Recuperação Judicial, o seu objeto e o problema enfrentado pelo referido instituto quando o

interesse individual dos credores ultrapassam os interesses coletivos objetivo da recuperação

judicial.

Também será demonstrado a figura do síndico da massa falida e do comissário na

concordata da Lei 7.661/45 que pode-se dizer que após a Lei 11.101/2005 foram

transformados na pessoa do Administrado Judicial.

E por fim será abordado a função do Administrador Judicial e do Comitê de

Credores, demonstrando a grande importância dos referidos órgãos fiscalizadores.

O trabalho realizado tem grande valia diante da crescente utilização do instituto da

recuperação judicial pelas empresas em que se encontram afetadas diante do atual cenário

econômico em que o nosso pais está vivendo, bem como pelo interesse que vem aumentando

de pessoas física e jurídicas para se credenciarem como Administrador Judicial.

PALAVRAS-CHAVE: Recuperação judicial; Administrado Judicial; comitê de

credores

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................8

Capítulo 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA: TEORIA CONTRATUALISTA e TEORIA

INSTITUCIONALISTA..........................................................................................................10

1.1 Teoria Contratualista..........................................................................................................10

1.2 Teoria institucionalista........................................................................................................11

Capítulo 2 - PRINCÍPIOS NORTEADORES DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO

JUDICIAL ................................................................................................................................14

2.1 Princípio da preservação da empresa..................................................................................14

2.2 Princípio da proteção do trabalhador..................................................................................15

2.3 Princípio da função social da empresa................................................................................16

Capítulo 3 - OBJETIVO DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL.......................17

3.1 Problema inerente à recuperação judicial...........................................................................18

3.2 Mecanismos de fiscalização e execução do plano de recuperação.....................................19

Capítulo 4 - DO SÍNDICO DA MASSA FALIDA E DO COMISSÁRIO NA CONCORDATA

LEI 7.661/45 E DO ADMINISTRADOR JUDICIAL DA LEI 11.101/2005

...................................................................................................................................................21

Capítulo 5 – ADMINISTRADOR JUDICIAL.........................................................................24

5.1 Conceito Jurídico ...............................................................................................................24

5.2 Requisitos técnicos e normativos do Administrador Judicial.............................................25

5.3 Atribuições legais do Administrador Judicial.....................................................................27

5.4 Forma de Remuneração do Administrador Judicial ...........................................................31

5.5 Do pagamento da Remuneração do Administrador e da Antecipação das Despesas..........33

5.6 Possibilidade de destituição ou substituição do Administrador Judicial............................35

5.7 Responsabilidade civil do administrador judicial e suas excludentes................................37

Capítulo 6 - COMITÊ DE CREDORES...................................................................................40

6.1 Conceito, constituição e Atribuições do Comitê de Credores............................................40

6.2 Remuneração e despesas do comitê de credores................................................................44

7. CONCLUSÃO......................................................................................................................46

8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................................49

8

INTRODUÇÃO

Inicialmente, com o fim de buscar um melhor entendimento acerca da Função do

Administrador Judicial e do Comitê de Credores junto ao instituto da recuperação judicial,

imprescindível é trazer ao debate uma breve retrospectiva histórica da evolução do direito

societário, enquanto instituto de desenvolvimento econômico e promovedor de relações

jurídicas dos mais variados campos do direito. De fato, é inegável a importância de discutir os

contextos pelos quais foram produzidos o direito das sociedades e da recuperação judicial,

visto que a própria contemporaneidade é consequência inarredável das forças históricas

formadoras da sociedade.

Dito isto, inserem-se nessas considerações as teorias contratualistas e

institucionalistas dos direitos das sociedades, tendo estas e aqueles exercidos papéis

memoráveis para a formulação de um instituto que vise a manutenção da sociedade como

agente integrador e promovedor de desenvolvimento social.

Após a retrospectiva da evolução do instituto da recuperação de empresas, descrever-

se-á, aqui, os princípios norteadores atuais da legislação brasileira, entendido aqueles segundo

a ótica Robert Alexy, que assim propugna:

Los principios son mandatos de optimización que están caracterizados por

el hecho de que pueden ser cumplidos en diferente grado y que la medida

debida de su cumplimiento no sólo depende de las posibilidades jurídicas y

reales existentes. El ámbito de las posibilidades jurídicas es determinado

por los principios y reglas opuestos.1

Decerto, princípios tais como o da preservação da atividade empresarial, da proteção

ao trabalhador e da função social da empresa são elementos normativos integrativos e

norteadores da atividade judicante, pois são considerados para uma análise responsável do

conjunto legal.

1 ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Ernesto Garzón Valdés. Madrid: Centro de

Estudios Constitucionales, 1993, p. 86,

9

Por outro lado, a compreensão do instituto da recuperação judicial não pode e não

deve se exaurir na simples análise dos institutos legais. De fato, elementos internos ou

externos à empresa são essenciais para a definição do processo de recuperação, visto estarem

intimamente ligados ao próprio pedido de recuperação formulado pela sociedade empresarial,

sendo assim, se faz a atuação do Administrador Judicial e do Comitê de Credores que juntos

devem assumir a responsabilidade que lhe são dadas para agir de forma proativa, objetivando

atender da melhor forma o que determina a legislação da Lei de Recuperação Judicial.

10

EVOLUÇÃO HISTÓRICA: TEORIA CONTRATUALISTA E INSTITUCIONALISTA.

Teoria Contratualista

A primeira teoria a se preocupar com os fundamentos do direito societário e servir

como fonte inicial das primeiras codificações pós-revolução industrial é a teoria

contratualista. Nascida em um período no qual se fazia essencial a limitação do poder

soberano, concentrada individualmente em torno de monarcas absolutistas, a teoria

contratualista visava, como força primeira, depurar qualquer ingerência externa à vontade dos

sócios formadores da sociedade. De viés primordialmente liberal, havia a repulsa de qualquer

tentativa de regulamentação pelo poder estatal, seja pela via administrativa ou pela via

judicial.

Destaque-se, que o interesse da sociedade resumia-se unicamente aos interesses dos

atuais sócios da sociedade, na versão clássica, introduzida por Jaeger por meio do célebre a

L'interesse sociale.

Posteriormente, apenas a maximização dos lucros era o objetivo societário, o

“shareholder value”, de modo que qualquer outro elemento finalístico era repudiado.

Interligando a teoria contratualista com o processo judicial de recuperação

empresarial, pode-se dizer que a tomada de decisões pelo órgão julgador em muito ficaria

prejudicada, haja vistas as limitações impostas pelos sócios-credores. Ademais, qualquer

tentativa de adentrar ao mérito das decisões tomadas pela Assembleia Geral feriria

frontalmente a própria ideologia liberal da teoria em questão, razão pela qual não se pode

afirmar a existência de dispositivos voltados para a recuperação empresarial.

Na verdade, não se tinha, à época, preocupação com o processo recuperacional das

empresas. Não havia institutos voltados para a recuperação judicial, haja vista a

incompatibilidade ontológica entre a recuperação e a teoria contratualista.

11

Em face destas limitações impostas pela teoria liberal, Déborah Kirschbaum assim

pronuncia:

A teoria contratualista liberal justifica a necessidade de um regime jurídico

aplicável à insolvência empresarial como instrumento que deva ter por

função lidar com o que identifica como um problema de ação coletiva entre

os credores. Este problema surge na medida em que o esforço individual de

credores para alcançar a satisfação de seus créditos é visto como um fator de

desagregação do valor da empresa devedora. De fato, concorrência entre

credores para satisfação de seus créditos é um fator de desagregação

potencial do valor da empresa, algo que deve ser contido pelo direito.2

Ainda, trazendo a discussão para o campo material e a aspectos procedimentais

encontrados na essência da teoria contratualista, note-se importantes incongruências, capazes

de obstar o sucesso do futuro societário. Sob a forma material, a teoria contratualista defende

como objetivo a maximização dos lucros ou o aumento do valor das ações da companhia.

Como efeito, há enormes riscos de realização de práticas deletérias para a própria sociedade,

como a omissão de passivos, inflação artificial de ações, dentre outras malversações.

Do ponto de vista procedimental, tais impropriedades são, em regra, realizadas ao

arrepio de grupos minoritários, haja vista o monopólio de poder por acionistas majoritários,

detentores de maior quota parte do capital social da empresa.

Não obstante haver a defesa de mecanismos liberais, pelos quais o interesse dos

sócios confunde-se com o interesse social da empresa, não há a plenitude de participação de

todo o grupo societário, tendo em vista o apego à igualdade formal de todos os sócios.

Destarte, como efeito, ocorre a concentração do poder pelos grupos detentores de maior

capital social da empresa, o que inibe qualquer tentativa de conciliar os interesses

contrapostos.

Teoria institucionalista

Passado o período no qual houve a necessidade histórica de inibir o poder soberano

estatal, com a maximização do pacta sunt servanda entre os sócios, não mais subsistia

2 KIRSCHBAUM, Deborah. A recuperação judicial no Brasil: governança, financiamento extraconcursal e

votação do plano. 2009. Tese (Doutorado em Direito Comercial) - Faculdade de Direito, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2009. doi:10.11606/T.2.2009.tde-03062011-104905. Acesso em: 2016-09-02.

12

elementos concretos ensejadores de maior liberdade dos contratantes. Pelo contrário, a opção

por uma teoria contratualista mostrou-se, com o passar dos anos, perversa para o próprio

sucesso empresarial e da sociedade, na medida em que a própria estrutura montada não

amortecia as intempéries exógenas, tais como crises econômicas ou financeiras.

Em verdade, foi a partir da primeira guerra mundial e da crise econômica de 1929

que a teoria institucionalista foi alçada ao patamar hegemônico. A necessidade de uma

organização que não desprezasse interesses externos ao grupo dos sócios foi notada em

decorrência da, cada vez maior, crise na qual as sociedades vivenciaram.

Daí o surgimento da doutrina do Unternehmen an sich, desenvolvida por W.

Rathenau, que propugnava um interesse não reduzido aos grupos dos sócios. De tom

publicístico, buscou-se normatizar a função econômica e o interesse público de grupos

privados. Assim observa Calixto Salomão:

Toda a construção da teoria de Rathenau é dirigida a traduzir em termos

jurídicos a função econômica, de interesse público e não meramente privado,

da macroempresa. Isso se fez através da valorização do papel do órgão de

administração da sociedade por ações, visto como órgão neutro, apto à

defesa do Unternehmensinteresse. Procede-se a uma degradação relativa da

importância da Assembleia, o que influenciará sobretudo os direitos dos

sócios minoritários3.

Assim, foi a partir do aprofundamento e do desenvolvimento do institucionalismo

que o instituto da recuperação judicial ganhou corpo, ao passo que aspectos ligados aos

interesses da sociedade, em geral, foram ganhando relevo durante o séc. XX. Destarte, se o

institucionalismo publicístico ainda não tinha maturado a ideia de recuperação judicial, foi por

meio da instituição organizacional que o debate preservacionista ganhou, de vez, destaque e

atenção de juristas e legisladores. É a partir da concretização de mecanismos organizativos,

tais como a introdução de operários nas discussões da empresa, que, efetivamente, põe-se em

prática uma teoria que preconizava a existência de um interesse social não restrito ao interesse

dos sócios.

3 FILHO, Calixto Salomão. O Novo Direito Societário. Malheiros Editores. 4ª Edição. P. 33.

13

Ora, se o interesse do grupo societário, leia-se lucro, não é mais o único fator a ser

observado pelo institucionalismo organizacional, tendo em vista a consideração do interesse

social e operário, estar-se-ia criando um elemento propício para a manutenção da empresa,

visto que os interesses exógenos, não necessariamente, congruiam com o interesse dos

sócios/credores, o que se fazia gerar uma maior defesa em prol da recuperação societária.

Mas nem tudo se encaixa. Alerta Calixto Salomão que, no que se refere ao aspecto

material, tanto o institucionalismo publicístico-interesse social como interesse público- quanto

o institucionalismo organizativo- interesse social como o interesse à preservação da empresa,

não detinham robustez em suas definições.

Destarte, somente com a devida regulamentação, com a discriminação de aspectos

procedimentais, conjugadas com sua definição material, é que se pode almejar uma verdadeira

efetivação do fim pretendido.

14

PRINCÍPIOS NORTEADORES DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO

JUDICIAL

Princípio da preservação da empresa

Sabe-se que princípios são espécies do gênero norma, que irradia seus elementos de

modo a nortear a atividade judicante, ora exercendo uma função integrativa da lei, ora

apresentando-se como elemento teleológico da hermenêutica jurídica. A compreensão dos

princípios que regem determinado regramento, é elemento essencial para a correta

intervenção jurídica, de modo que a interpretação dada aos fatos, bem como a aplicação de

seus efeitos jurídicos, deve compreender a ideia pretendida pelo legislador, ao explicitar a

observância de princípios.

Luis Roberto Barroso não deixa dúvidas de como a norma deve ser aplicada:

A atividade de interpretação da Constituição deve começar pela identificação

do princípio maior que rege o tema a ser apreciado, descendo do mais

genérico ao mais específico, até chegar à formulação da regra concreta que

vai reger a espécie.4

Decerto, não há dúvida de que o princípio base observável na Lei 11.101/2005 é a da

preservação da atividade empresarial. É através da efetivação desta que tantos outros

princípios e/ou objetivos insculpidos na constituição Federal podem ser garantidos, tais como

a observância ao valor social do trabalho, a livre iniciativa e o desenvolvimento nacional. Dito

isto, pode-se dizer que a manutenção da atividade empresarial não é, apenas, assunto cujo

interesse exaure-se na classe de sócios ou credores. Pelo contrário, o funcionamento

empresarial assume interesse público quando considerados os vínculos empregatícios diretos

e indiretos gerados pela atividade, a arrecadação tributária e a própria circulação de riquezas

junto ao meio social.

4 BARROSO, Luis Roberto - Interpretação e aplicação da constituição - 7ª Ed. - São Paulo - 2009 - pág. 155 -

Saraiva

15

Daí se considera que o princípio da preservação da empresa é essencialmente

instrumento de efetivação do interesse público, de cunho institucionalista.

Por outro lado, a sobriedade com a qual deve ser efetivado o princípio, devendo a

aplicação deste apenas se justificar caso haja a demonstração concreta da viabilidade

econômico-financeira da empresa devedora, conforme o art. 47 do instituto da recuperação.

Neste ponto, Deborah Kirschbaum assim pronuncia:

Só há viabilidade na medida em que os fundamentos econômicos da empresa

tornam possível a geração futura de resultados positivos. Isso deve significar

que financeiramente a empresa vale mais em funcionamento do que

liquidada via falência. Assim, a premissa básica para justificar a decisão

judicial pela recuperação judicial em vez da falência, é que seja possível

identificar um excedente de valor resultante da continuidade da empresa5

Assim, a preservação da empresa não pode ser entendida como uma razão em si

mesma, concebida e analisada abstratamente. É preciso analisar as peculiaridades de cada

caso, de modo a obter um maior índice de sucesso na recuperação.

Princípio da proteção do trabalhador

O princípio da manutenção da atividade empresarial liga-se ao princípio da proteção

do trabalhador. Ainda, se aquele é princípio meio, instrumentalizador do interesse público,

este é considerado um fim ao qual os mecanismos do direito visam efetivar. É apenas através

do cumprimento da função social da empresa, entendendo-se esta como a maximização de

empregos e contribuição ao desenvolvimento socioeconômico, que a valorada norma-

princípio ganha eficácia.

A Lei, não por acaso, estabelece uma ordem de prioridades na finalidade que

diz perseguir, ou seja, colocando como primeiro objetivo a 'manutenção da

fonte produtora', ou seja, a manutenção da atividade empresarial em sua

plenitude tanto quanto possível, com o que haverá possibilidade de manter

também o 'emprego dos trabalhadores'. Mantida a atividade empresarial e o

trabalho dos empregados, será possível então satisfazer os 'interesses dos

credores. 6

5KIRSCHBAUM, Deborah. A recuperação judicial no Brasil: governança, financiamento extraconcursal e

votação do plano. 2009. Tese (Doutorado em Direito Comercial) - Faculdade de Direito, Universidade de São

Paulo, São Paulo, 2009. doi:10.11606/T.2.2009.tde-03062011-104905. Acesso em: 2016-09-02. 6BEZERRA FILHO, Manuel J. Lei de Recuperação de Empresas e Falência Comentada. 6ª ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, p. 123

16

Decerto, podem-se encontrar diversos dispositivos espalhados pela Lei de

Recuperação que demonstram a atenção aos trabalhadores, tais como a prioridade no

recebimento de créditos, em caso de liquidação, a possibilidade de serem representados por

sindicato constituído na assembleia de credores(art. 37, §5o,,Lei 11.101/2005), e a

desnecessidade de esperar a finalização do processo para receber valores vencidos nos 3

meses anteriores à decretação da falência.

Princípio da função social da empresa

O princípio da função social acrescenta bases teleológicas para a aplicação da norma

pelo intérprete judicial. As atuações individuais realizadas tanto por pessoas físicas quanto por

jurídicas não se exaurem apenas em seus interesses.

Em uma visão restritiva, poder-se-ia pensar que o princípio da função social está

para, tão-somente, a propriedade. Na verdade, a função social insere-se em institutos mais

abrangentes, de efeitos concretos, tais como a função social dos meios de produção e da

empresa.

Indo além, Francisco Cardozo preceitua que“A função social, todavia, é mais ampla

que a função econômica. A funcionalização inscreve na concretude das relações sociais e de

produção uma dinâmica que busca realizar objetivos de justiça social ”7

Posto isto, a função interpretativa exercida pelo aplicador da lei, em determinadas

situações, podem e devem racionalizar o instituto da recuperação de forma sistêmica,

objetivando a maximização de efeitos desejados pelo legislador, mesmo que, para isso,

determinados preceitos sejam inaplicados.

Destarte, dispositivos constitucionais insculpidos nos arts. 5º , XXIV , e 170 , III, em

razão de suas maiores forças normativas, ganham destaque no momento de aplicação das

normas legais inseridas na lei de Recuperação.

7OLIVEIRA, Francisco Cardozo, Hermenêutica e Tutela da Posse e da Propriedade. Rio de Janeiro: Forense,

2006, p 243/244,

17

OBJETIVO DO INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

O objetivo da Lei de Recuperação Judicial está inserida no Artigo 47 da Lei

11.101/2005, senão vejamos:

“A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da

situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a

manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos

interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,

sua função social e o estímulo à atividade econômica.”

Diante da leitura da legislação acima, percebesse que seu objetivo principal é não

deixar a empresa dissolver sem que tenha uma nova chance de continuar sua atividade

econômica.

Ao analisar o objetivo acima, percebesse que existem vários interessados para que a

empresa recuperanda continue ativa e volte a ter uma boa saúde financeira-econômica.

Inicialmente o devedor tem o interesse na utilização do instituto da Recuperação

Judicial, haja vista a priori ser a melhor opção para enfrentar a crise financeira, evitando seu

fechamento, alimentando a possibilidade de preservação e até mesmo de crescimento da sua

empresa.

Para os trabalhadores, o interesse na continuidade da empresa é a garantia de seus

empregos, bem como, a criação de meios para receberem os seus salários em atraso.

Em relação aos credores, o interesse é que a empresa recuperanda consiga atravessar

a crise, possibilitando o recebimento dos seus créditos e até a continuidade da relação

comercial.

Já na figura da Fazenda Pública, o interesse na recuperação judicial tem como

objetivo o recebimento dos créditos atrasados que não foram recolhidos, bem como os futuros

impostos que serão gerados diante da atividade econômica que a empresa recuperanda irá

gerar.

18

Sendo assim, buscando atingir o objetivo da recuperação judicial, se faz necessários

os órgãos fiscalizadores do referido instituto cumprirem com sua função de forma totalmente

eficaz, contribuindo da melhor forma possível para que a empresa consiga ultrapassar todas as

fases do processo da recuperação judicial e consequentemente volte a sua atividade

econômica funcionando de forma positiva.

Problema Inerente à Recuperação Judicial

O interesse ao recebimento do crédito cria, muitas vezes, caminhos tortuosos que não

significam, necessariamente, a melhor escolha.

Em outras palavras, haverá sempre uma visão autointeressada dos grupos existentes,

os Stakeholders, de modo a impor uma maior dificuldade de realizar deliberações que

imponham algum sacrifício, à primeira análise. Assim, é notório que classes que tenham

maior prioridade no recebimento do crédito inclinem-se para deliberar em prol da falência, em

detrimento da recuperação, enquanto as classes que estejam no fim da lista de prioridades ao

recebimento do crédito optem, em razão da grande possibilidade de nada receber, por uma

tomada de decisão que favoreça o plano de recuperação.

Ocorre que, tendo em vista os requisitos criados no próprio corpo legislativo, em

análise sistemática, afigura-se improvável uma deliberação acertada no que pertine à

recuperação judicial. Corroborando tal afirmação, acrescente-se que apenas 1% dos pedidos

de recuperação judicial formulada por sociedades obtiveram êxito em sua consecução. Todas

demais entraram em processo de falência, não obstante o plano de recuperação apresentado.

Tais dados foram colhidos, desde o início de vigência da lei 11.101/2005 até Outubro/2013, e

expostos pela Corporate Consulting, com ampla divulgação na mídia especializada.

Ademais, nos EUA, país cujo instituto normativo inspirou a legislação brasileira, o

índice de sucesso no processo de recuperação judicial chega ao patamar de 30%, conforme

divulgado pela mesma pesquisa.

19

Destarte, um dos grandes problemas encontrados no instituto da recuperação judicial

é a dificuldade na composição de interesses, traduzida na problemática em adequar o objeto

da decisão tomada pelos credores à realizada concreta da empresa, sendo assim, percebe-se o

quanto a função do Administrador Judicial e o Comitê de Credores são importantes para

atingir o objetivo da Lei de Recuperação Judicial.

Mecanismos de Fiscalização e Execução do Plano de Recuperação

Para uma correta e estrita congruência entre as ações praticadas e os

comprometimentos firmados no plano de recuperação apresentado, faz-se imprescindível a

utilização de meios e instrumentos que efetivem, ao máximo, o cumprimento das obrigações.

Em torno disto, que é objeto do presente estudo, aparecem as figuras do administrador judicial

e do Comitê de Credores.

Em verdade, ambos os órgãos, funcionam como verdadeiros auxiliares do juízo na

condução do processo de recuperação, zelando pelo bom andamento dos atos, a idoneidade e

a fiscalização financeiro-contábil das operações, no entanto, ao Comitê, em que pese a criação

facultativa deste pela Assembleia Geral de Credores, especificamente, as atribuições postas

diz respeito, à defesa dos interesses das classes de credores.

Fiscalizar a atuação do administrador judicial em relação as atividades do devedor e

a execução do plano de recuperação, bem como submeter à autorização do juiz os atos

necessários à continuidade da atividade empresarial, quando afastado o devedor das

atividades de direção, são preceitos legalmente postos na competência do Comitê, nos termos

do art. 27 da Lei em estudo. Tais mecanismos, decerto, funcionam como meios efetivadores e

garantidores dos interesses creditícios, pois visam estabelecer um controle permanente na

consecução do plano de recuperação.

Já a figura do administrador judicial ganha relevo haja vista a sua indispensabilidade

ao processamento da recuperação judicial. A complexidade inerente à recuperação de

empresas, por envolver fatores ligados à economia, finanças, contabilidade e direito, exige um

trabalho apurado e técnico, não encontrado na figura única de um magistrado.

20

Posto isto, em razão da importância do tema ora em comento, necessário se faz a

análise pormenorizada acerca da figura do comitê de credores e do administrador judicial.

21

DO SÍNDICO DA MASSA FALIDA, DO COMISSÁRIO NA CONCORDATA

LEI 7.661/45 E DO ADMINISTRADOR JUDICIAL DA LEI 11.101/2005;

Em análise dos precursores da figura do administrador judicial, cabe tecer algumas

considerações acerca dos sujeitos inseridos no criticado Decreto-Lei 7.661/45, que regulou o

processo falimentar.

A principal característica do síndico e do comissário residia no fato de que estes

eram escolhidos, preferencialmente, dentre os credores da empresa devedora. Daí advém, sem

dúvida, a grande diferença de natureza subjetiva entre o Decreto-Lei revogado e a atual

legislação de recuperação judicial.

Decerto, as escolhas legislativas representam significativamente no processo de

fiscalização da falência/concordata/recuperação. É que, ao optar pelo principal credor a

realização da função de auxiliar do juízo, a lei revogada demonstra a pouca preocupação com

a efetividade e o interesse público do processo, seja de concordata ou de falência.

Não havia, a necessidade de um conhecimento profundo de economia, contabilidade

e finanças voltadas à manutenção da atividade empresarial, como ocorre na figura do

administrador judicial, na verdade, vigorava um verdadeiro dualismo pendular, pelo qual se

prestigiava uma interpretação legal em benefício apenas de um dos pólos da relação discutida

em juízo.

A função do síndico no processo de falência residia, dentre outras, dar publicidade

acerca da sentença proferida no processo falimentar (art. 63,I Decreto-Lei 7.661/45), preparar

a classificação do crédito (art. 63, X) e representar a massa falida como autora em processos

(art. 63, XVI). Infere-se, pois, que os objetos funcionais do síndico estavam intimamente

ligados ao recebimento do crédito e à apuração dos beneficiários e de quantum debeatur.

O comissário no processo de concordata não diverge, essencialmente, dos trabalhos

executados pelo síndico. Além do processo de escolha ser o mesmo, o comissário exerce

função fiscalizatória.

22

Outrossim, tem o dever de dar publicidade a atos, verificar a ocorrência de fatos

ensejadores da decretação de falência (art. 169, III), averiguar e estudar quaisquer

reclamações dos interessados e emitir parecer sobre as mesmas, dentre outras incumbências.

Diferença substancial de competência refere-se que ao comissário não é dada a legitimidade

autoral em processos, tampouco incumbe-se em administrar os bens da empresa em

concordata.

Destarte, pode-se pensar que tanto a figura do síndico quanto a figura do comissário

estão inseridas em uma ótica de fundo essencialmente contratualista, por meio da qual se

reduzia, como preocupação única, o interesse de recebimento de créditos em favor dos

credores.

Na Lei de Recuperação de Empresas – corresponde a uma nova e significante estaca

no direito empresarial, especialmente quanto à recuperação dos resultados nos conjuntos

societários existentes no Brasil.

A Lei anterior contemplava a falência e a concordata preventiva, que, de forma

pragmática, foram substituídas, respectivamente, pela falência e pela recuperação judicial.

Após a edição da Lei nº 11.101/2005, o legislador optou por um novo sistema. Em

apertadíssima síntese, previa a nomeação do Administrador Judicial, disposto no Art. 21 da

LRE, que, mutatis mutandis, exerceria as funções semelhantes do antigo síndico ou

comissário, respectivamente na falência ou na recuperação judicial (concordata preventiva).

Além da escolha pelo novo sistema de Administração, o legislador ampliou o alcance

da lei quanto aos órgãos de administração, criando a figura do Comitê de Credores,

estabelecido no Art. 26 da LRE, e da Assembleia Geral de Credores, esta disposta no Art. 35

da LRE, porém, o presente estudo só será tratado do Comitê de Credores.

Como será exposto, o Administrador Judicial é figura imprescindível para aplicação

das normas contidas na LRE, cuja nomeação deverá ocorrerá obrigatoriamente na

23

sentença/decisão que decretar a falência, égide do Art. 99, IX, ou no despacho que deferir o

processamento da recuperação judicial, Art. 52, I da LRE.

Importante frisar, o presente estudo visa, tão somente, analisar a conjuntura do

Administrador Judicial e do Comitê de Credores no instituto da Recuperação Judicial.

24

ADMINISTRADOR JUDICIAL - Conceito Jurídico

O conceito jurídico do Administrador Judicial está disposto no Art. 21, caput e

parágrafo único, da LRE. A análise desse conceito traz, de forma clara e objetiva, a limitação

legal da atividade do Administrador Judicial e seus direitos e deveres na aplicação das normas

da Recuperação Judicial.

Nas palavras de Sebastião José Roque, citando Miranda Valverde8, assim conceitua:

O administrador (...), é órgão ou agente auxiliar da Justiça, criado a bem do

interesse público e para a consecução da finalidade do processo da falência.

Age por direito próprio em seu nome, no cumprimento dos deveres que a lei

lhe impõe.

Já o renomado FÁBIO ULHOA COELHO9 conceitua que:

O administrador judicial como o agente auxiliar do juiz que, em nome

próprio (portanto, com responsabilidade), deve cumprir com as funções

cometidas pela lei. Além de auxiliar o juiz na administração da falência, o

administrador judicial é também o representante da comunhão de interesses

dos credores na falência.

Cabe destacar que, a Lei vigente deu ao Juiz um poder maior para nomeação do

administrador, relativamente ao que havia disposto na lei anterior para a nomeação do

Síndico, então cercada de diversas exigências que a prática da atividade demonstrou ser

inexequíveis.

Do administrador depende, na maioria, o bom ou mau resultado da falência ou da

recuperação. Um administrador diligente poderá trazer para a Recuperação bens e recursos.

Deste modo, factível admitir que, o processo de recuperação judicial é bastante complexo, por

envolver inúmeras questões que só o técnico, com conhecimento especializado da matéria,

poderá resolver a contento, prestando real auxílio ao bom andamento do feito.

8 ROQUE, Sebastião José. Direito de Recuperação de Empresas. São Paulo: Ícone, 2005, p. 198 9 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de Recuperação de empresas. São Paulo:

Saraiva, 2005, p. 58

25

Antes de adentrar em questões acessórias e sucessivas, insta dispor que o parágrafo

único do Art. 21 da LRE prevê a possibilidade de nomeação de pessoa jurídica como

Administradora Judicial.

Requisitos Técnicos e Normativos do Administrador Judicial

Os requisitos mínimos exigidos para a constituição do Administrador Judicial são

aqueles previstos no Artigo 21 da LRE.10

O Administrador Judicial deve ser, como condição mínima necessária, diz a Lei,

profissional idôneo. A conceituação da idoneidade, ainda que a norma vindicada não seja

transparente, deve ser moral e financeira. Pois, trata-se de função de confiança, em que se

administram valores e bens e que, dentro do arcabouço operacional, gera múltiplos interesses.

Assim, para o exercício da função de Administrador Judicial, não é condição

obrigatória apenas ser das áreas técnico-científicas dispostas na legislação, mas ser

considerado profissional com habilidades técnicas mínimas e com experiência para que possa

desempenhar as atribuições previstas em lei, no intuito de garantir a capacidade de

gerenciamento e recuperação da sociedade empresarial.

Embora previsto na legislação, a Doutrina Pátria Especializada é divergente e

opinativa quanto ao binômio capacidade/possibilidade do exercício da função prevista no Art.

21 da LRE, especialmente quanto ao Advogado. Vejamos:

Para FÁBIO ULHOA COELHO11:

(...) o advogado não é necessariamente o profissional mais indicado para a

função, visto que muitas das atribuições do administrador judicial dependem,

para seu bom desempenho, mais de conhecimentos de administração de

empresas do que jurídicos.

10 Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista,

administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.

Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o

art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação

judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz 11 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falências e de Recuperação de empresas. São Paulo:

Saraiva, 2005, p. 60

26

Ainda que não seja corrente majoritária, o Doutrinador supramencionado ressalta

visão não comum aos feitos processuais de Recuperação Judicial.

O administrador deve ser escolhido dentre os profissionais de áreas afins da

recuperação judicial ou falência. Mesmo se tratando de advogados, economistas,

administradores, contadores e outros profissionais especializados, não serão necessariamente

capacitados para o pleno exercício do trabalho, salvo aqueles que possuam especialidade na

área falimentar, sendo o entendimento da Doutrina Majoritária.

Respeitando os mesmos ditames do Profissional (Pessoa Física) para o exercício da

função de Administrador Judicial, a Legislação prevê as mesmas condições para Pessoas

Jurídicas, desde que estas sejam atendidos os requisitos dispostos na legislação, especialmente

quanto à indicação do Profissional Responsável pela condução do processo falimentar.

Havia disposição semelhante ao descrito no parágrafo único do Art. 21 da Lei

vigente e no parágrafo quinto do Art. 60 da lei anterior. Como o administrador assume uma

série de obrigações e responsabilidades, torna-se indispensável a identificação pessoal daquele

que deve responder ante o juiz por seu cumprimento.

Deste modo, a LRE estabelece a obrigatoriedade de a Pessoa Jurídica nomeada

identificar a pessoa física responsável pela condução do trabalho, que não poderá ser

substituída a menos que haja expressa autorização judicial.

Embora seja omissa, da interpretação da norma verifica-se a ausência de parâmetros

para indicação do Administrador Judicial, seja Pessoa Física ou Jurídica, especialmente no

que tange o grau de complexidade e volume do endividamento da empresa em recuperação.

O grau de complexidade da Empresa Recuperanda demandaria conhecimento pleno

das regras falimentares, assim como, dos procedimentos processuais aplicáveis à espécie.

Inclusive, a Legislação quedou-se inerte quanto a possibilidade do Administrador Judicial ser

um consórcio de profissionais e/ou empresas, que reúnam em suas competências os

conhecimentos jurídicos, contábeis, administrativos e econômicos.

27

Atribuições Legais do Administrador Judicial

A administração da Recuperação Judicial e da Falência é exercida pelo

administrador, “sob a fiscalização do Juiz e do comitê”. Nessa modalidade de fiscalização, o

Juiz não age diretamente, porém, examina aqueles praticados pelo administrador e demais

interessados, analisando a procedência ou não.

A partir desse introito, para o presente estudo só importa o inciso I, e II da o art. 22

da LRE, haja vista que tratam da Recuperação Judicial12.

Destaca-se que, muitas foram às teorias desenvolvidas no sentido de caracterizar a

natureza jurídica da administração judicial.

Para alguns Doutrinadores, o administrador era o representante dos credores,

emergindo-se da posse e administração dos bens, atuando ativa e/ou passivamente em todos

os negócios e interesses relativos à Empresa Recuperanda.

12 Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que

esta Lei lhe impõe:

I – na recuperação judicial e na falência:

a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51, o

inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de

recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito;

b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;

c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas

habilitações e impugnações de créditos;

d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;

e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei;

f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;

g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender

necessária sua ouvida para a tomada de decisões;

h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário,

auxiliá-lo no exercício de suas funções;

i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;

II – na recuperação judicial:

a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial;

b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação;

c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor;

d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput

do art. 63 desta Lei;

28

Para outros, diante da pluralidade de atribuições que podem ser simultaneamente

desempenhadas pelo Administrador Judicial, afirmando-se ser o representante do devedor e

dos credores.

Porém, é uníssono que, o Administrador Judicial é o órgão do procedimento

concursal ou do juízo. E sob o prisma processual, o conceito de órgão é contraposto ao de

parte; pois, partes são sujeitos ou pessoais interessadas no feito, enquanto órgãos constituem

os instrumentos mediante os quais o processo se opera e se desenvolve.

Os atos de Administração são dirigidos pelo Juiz, que conta com diversos

colaborares, o principal deles o Administrador, que assume função específica, pois lhe cabe a

administração efetiva propriamente dita, a partir do momento em que é decretada a falência

ou recuperação judicial.

O trabalho do Administrador Judicial é diferente dos demais, pois, em princípio, o

devedor e seus administradores são mantidos na condução da atividade empresarial e o

administrador funciona como verdadeiro fiscal da Sociedade Empresarial Devedora, que

continua na execução de suas atividades.

Embora o Art. 22 da LRE trate sobre atribuições para a recuperação judicial e

falência, o presente trabalho, como já intitulado, se detém à análise específica do instituto da

Recuperação Judicial, e, por conseguinte, analisará de forma analítica o disposto no referido

artigo.

O administrador deve assumir de imediato e de forma completa a administração da

empresa e fiscalizar sua recuperação. Além de fiscalizar o imediato cumprimento das

formalidades dos editais mencionados nos Artigos 51 e 99 da LRE, deve o administrador

informar por comunicação oficial aos credores, o local ao qual ficará à disposição, desde que

já conhecido nos autos.

O administrador judicial, deve manter sempre as informações atualizadas acerca da

recuperação, especialmente àquelas de interesse dos credores, devendo prestá-las com

29

presteza. Em contraponto, poderá também, dirigir-se a qualquer um dos credores identificado

nos autos e aos devedores ou seus administradores, que também estarão obrigados a fornecê-

las.

Como auxiliar do Juiz, tem o Administrador o dever geral de fiscalização das

atividades do devedor, do cumprimento do plano de recuperação e de todo e qualquer ato que

interesse ao bom andamento da recuperação.

Quanto mais complexa a recuperação, poderá o Administrador Judicial precisar de

apoio técnico especializado. Neste ínterim, poderá contratá-los, desde que, autorizado pelo

Juiz, que deverá levar em conta as condições do contrato.

O administrador exerce o poder fiscalizador e nesses termos, dispõe §1º do Art. 61 da

LRE que, se houver descumprimento de qualquer obrigação assumida pelo devedor nos autos

da recuperação judicial durante o biênio que se processa após o despacho de concessão da

recuperação, haverá a convolação em falência, inteligência da alínea “b” do Inciso II e

reiterado no Art. 73, IV da LRE.

Em contrapartida, cumprindo todas as obrigações assumidas no plano de recuperação

durante o biênio, o Juiz lançará sentença nos autos decretando o encerramento da recuperação.

E neste mesmo ato, determinará que o Administrador Judicial apresente relatório detalhados

sobre a execução do plano de recuperação, conforme previsão no Art. 63 da LRE, bem como

entendimento jurisprudencial (TJ-DF - AGI: 20150020243682)13

Cabe destacar um entendimento em especial. O STJ aplica, de forma seletiva, desde

que demonstrado o preenchimento dos requisitos formais, a prorrogação do prazo bienal para

13 AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI DE FALENCIAS. MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO

FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. ADMINISTRADOR JUDICIAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS. 1. O

Administrador Judicial, gerente dos recursos da massa falida, tem obrigatoriamente que prestar contas ao

final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo, tanto pelo dever legal, quanto

pelo jurídico de que todos aqueles que administram bens de terceiros têm o dever de prestar de contas. 2.

Recurso conhecido e provido. (TJ-DF - AGI: 20150020243682, Relator: LEILA ARLANCH, Data de

Julgamento: 27/01/2016, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 12/02/2016 . Pág.: 160)

30

recuperação objetivando a preservação da Empresa Recuperanda, desde que autorizado pela

assembleia de credores, conforme entendimento do (REsp: 1302735 SP)14.

Na LRE, o Art. 104, V, determina que, ao ser decretada a falência, o devedor deve

entregar, todos os livros, papéis e documentos ao administrador judicial, sob pena de

caracterização de crime de desobediência. Já o parágrafo único do Art. 12, que se aplica a

ambos os institutos, prevê a intimação do administrador para que apresente em juízo as

informações existentes sobre a situação financeira e fiscal da Empresa recuperanda.

Dentre as atribuições legais do Administrador Judicial, deve-se atenção especial ao

que dispõe o Art. 23 da mesma lei, vejamos:

Art. 23. O administrador judicial que não apresentar, no prazo estabelecido,

suas contas ou qualquer dos relatórios previstos nesta Lei será intimado

pessoalmente a fazê-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de

desobediência.

Parágrafo único. Decorrido o prazo do caput deste artigo, o juiz destituirá o

administrador judicial e nomeará substituto para elaborar relatórios ou

organizar as contas, explicitando as responsabilidades de seu antecessor.

14 RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. MODIFICAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO

APÓS O BIÊNIO DE SUPERVISÃO JUDICIAL. POSSIBILIDADE, DESDE QUE NÃO TENHA

OCORRIDO O ENCERRAMENTO DAQUELA. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA.

ALTERAÇÃO SUBMETIDA À ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. SOBERANIA DO ÓRGÃO.

DEVEDOR DISSIDENTE QUE DEVE SE SUBMETER AOS NOVOS DITAMES DO PLANO. PRINCÍPIOS

DA RELEVÂNCIA DOS INTERESSES DOS CREDORES E DA PAR CONDITIO CREDITORUM. 1. O

legislador brasileiro, ao elaborar o diploma recuperacional, traçou alguns princípios, de caráter axiológico-

programático, com o intuito de manter a solidez das diversas normas que compõem a referida legislação. Dentre

todos, destacam-se os princípios da relevância dos interesses dos credores; par conditio creditorum; e da

preservação da empresa, os quais são encontrados no artigo 47 da Lei 11.101/2005. 2. Essa base principiológica

serve de alicerce para a constituição da Assembleia Geral de Credores, a qual possui a atribuição de aprovar ou

rejeitar o plano de recuperação judicial, nos moldes apresentados pelo Administrador Judicial da empresa

recuperanda. 3. Outrossim, por meio da "Teoria dos Jogos", percebe-se uma interação estratégica entre o devedor

e os credores, capaz de pressupor um consenso mínimo de ambos a respeito dos termos delineados no plano de

recuperação judicial. Essas negociações demonstram o abandono de um olhar individualizado de cada crédito e

um apego maior à interação coletiva e organizada. 4. Discute-se, na espécie, sobre a modificação do plano

originalmente proposto, após o biênio de supervisão judicial - constante do artigo 61 da Lei de Falencias -, sem

que houvesse o encerramento da recuperação judicial da empresa recuperanda. Ainda que transcorrido o prazo

de até 2 anos de supervisão judicial, não houve, como ato subsequente, o encerramento da recuperação, e, por

isso, os efeitos da recuperação judicial ainda perduram, mantendo assim a vinculação de todos os credores à

deliberação da Assembleia. 5. Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1302735 SP 2011/0215811-0, Relator:

Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 17/03/2016, T4 - QUARTA TURMA, Data de

Publicação: DJe 05/04/2016)

31

O Artigo acima impõe regras específicas ao Administrador Judicial, especialmente

no que concerne às atribuições legais da função processual.

Sendo assim, ao poder que a Lei atribuiu ao administrador, corresponde uma severa

responsabilização, prevendo o artigo a caracterização do crime de desobediência, com

possibilidade de destituição. Caso o Administrador deixe de apresentar em tempo suas

prestações de contas e os relatórios previstos na LRE, deverá ser pessoalmente intimado a

suprir a falta.

Forma de Remuneração do Administrador Judicial

O administrador muitas vezes desenvolve árduo trabalho, podendo sofrer sanções

judiciais, culminando até com a responsabilização penal e civil. Em contraponto, no múnus da

Administração da Recuperação Judicial, desempenha trabalho constante e, por isso, deve ser

remunerado. E nesta possibilidade, o Art. 2415, prevê as condições de remuneração que não

poderá exceder 5% do valor devidos aos credores, bem como a garantia da reserva de 40% do

montante que será pago após o encerramento e julgada as contas apresentadas pelo

Administrador.

Na Legislação anterior, os Juízes em geral, a partir da prática na fixação da

remuneração dos auxiliares, não observavam rigorosamente as porcentagens e a forma de

estipulação fixadas em lei. Ao contrário, examinavam o trabalho desenvolvido pelo

15Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a

capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado

para o desempenho de atividades semelhantes.

§ 1o Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicial não excederá 5% (cinco por cento) do valor

devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência.

§ 2o Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao administrador judicial para pagamento após

atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei.

§ 3o O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, salvo se

renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das

obrigações fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração.

§ 4o Também não terá direito a remuneração o administrador que tiver suas contas desaprovadas.

§ 5o A remuneração do administrador judicial fica reduzida ao limite de 2% (dois por cento), no caso de

microempresas e empresas de pequeno porte.

32

administrador e, fundamentalmente, fixavam o valor que entendiam correto, o que era objeto

de impugnação por parte dos interessados na Recuperação Judicial.

Atento as disparidades existentes nos processos falimentares, o Legislador, estipula e

conduz padrões específicos de remuneração, conforme o Artigo supramencionado, em

especial o §2º.

O parágrafo segundo estabeleceu novo critério, determinando a reserva de 40%

devido ao administrador, para pagamento após a realização do ativo e o julgado de suas

contas. A parcela de 60% deverá ser paga na ordem legal estabelecida no inciso I do Art. 84

da mesma lei.

Destaca-se que, a regra supramencionada é genérica e, portanto não aplicável à

Recuperação Judicial. Já que, na recuperação judicial não ocorre a fase dos arts. 154 e 155,

exclusivos ao procedimento falimentar ipsi litteris.

Ocorre com extrema frequência, principalmente em processos de grande monta, com

arrecadações acentuadas, inventário de bens complexo e número expressivo de credores

habilitados, que o trabalho do Administrador Judicial absorva grande parte do seu tempo,

exigindo, muitas vezes, dedicação exclusiva, com prejuízo de suas outras atividades. Nesses

casos, é possível o administrador pedir ao Juiz que fixe valor diferenciado ao seu favor

mensalmente, a ser paga enquanto o trabalho vai sendo efetuado.

A jurisprudência, cada vez mais acentuada, vem estabelecendo a remuneração do

administrador judicial na recuperação, passando a limitar, de forma incisiva, aplicando o

Princípio da Proporcionalidade e da Razoabilidade, a contraprestação remuneratória,

conforme entendimento jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo no Julgamento do

AI (TJ-SP - AI: 20339597420138260000 SP)16.

16 REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL - Montante fixado em 3,5% do valor devido aos

credores submetidos à recuperação judicial - Não observância dos parâmetros do art. 24 da LRE, já que

incoerente com o que é praticado no mercado para o desempenho de atividades semelhantes - Valor que chegaria

a cerca de R$ 1.657.614,30 - Necessidade de adequação aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade

Provimento, em parte, do recurso para reduzir a remuneração para 1,5% do passivo da recuperanda, o que

equivale a R$ 710.406,15, montante sobre o qual recairá juros e correção monetária a partir do julgamento,

sendo que 40% deste pagamento dependerá da observância dos artigos 154 e 155 da Lei n.º 11.101/2005. (TJ-SP

33

No caso de administrador retirante ou afastado, o parágrafo terceiro estabelece forma

de pagamento proporcional para o administrador que não acompanha o feito até o final, a

menos que tenha deixado o processo por renúncia sem relevante razão de direito ou tenha sido

destituído em consequência de descumprimento culposo ou doloso de suas obrigações.

Cabe acrescentar que, o parágrafo primeiro do referido artigo estabelece como limite

máximo de pagamento ao administrador, o valor correspondente a até 5% do valor devido aos

credores na Recuperação Judicial. No caso de se tratar de empresas de pequeno porte ou

microempresa, o percentual é reduzido para 2%, em conformidade com a alteração da

legislação – LC 147.07/2014.

Conforme outros arrestos legislativos, a norma tente a favorecer a pequena empresa,

não permitindo que o valor da remuneração ultrapasse os 2%, em exceção ao disposto no §1º,

que estabelece o limite de cinco por cento do valor devido aos credores submetidos à

recuperação ou do valor da venda dos bens no caso de falência.

Do pagamento da Remuneração do Administrador e da Antecipação das

Despesas

Tema de intenso debate, a remuneração como adiantamento pelo(s) credor(es) vem

sendo usualmente aplicada, como meio idôneo de preservar a figura societária em recuperação

e prover, de forma facilitada, o objetivo da recuperação judicial.

A redação do Art. 25 da LRE é clara e objetiva, in verbis:

Art. 25. Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas

à remuneração do administrador judicial e das pessoas eventualmente

contratadas para auxiliá-lo.

Entretanto, a mitigação da norma introduz novo sistema de remuneração do

Administrador Judicial e das despesas eventualmente contratadas para exercício do múnus.

- AI: 20339597420138260000 SP 2033959-74.2013.8.26.0000, Relator: Enio Zuliani, Data de Julgamento:

06/02/2014, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação: 10/02/2014)

34

Vejamos a jurisprudência:

DECRETO DE FALÊNCIA. DECISÃO QUE DETERMINOU A

PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO PELO REQUERENTE PARA A

REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL. CABIMENTO.

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL. A AGRAVANTE PODE OPTAR

POR ASSUMIR O ENCARGO. RECURSO NÃO PROVIDO. Decreto de

falência da agravada. Determinação para que a agravante, que pediu a

quebra, recolha determinada quantia para caucionar a remuneração do

Administrador Judicial. Possibilidade. A jurisprudência do Tribunal tem

entendimento de que o requerente do pedido de quebra pode ser

responsabilizado pelo pagamento da remuneração do Administrador Judicial,

com posterior direito de regresso contra a massa. Alternativamente o

requerente pode assumir o encargo e cobrar sua remuneração como encargo

da massa. Decisão mantida. Recurso não provido.(TJ-SP - Processo: AI

0835356520158260000 SP 2083535-65.2015.8.26.0000. Relator(a): Carlos

Alberto Garbi. Julgamento: 31/08/2015. Órgão Julgador: 2ª Câmara

Reservada de Direito Empresarial. Publicação: 02/09/2015).

Incontestavelmente, os entendimentos jurisprudenciais do E. Tribunais de Justiça e

das instâncias superiores vão na tendência de preservar a figura da Empresa/Sociedade

Empresária, especialmente quando o pedido é realizado por terceiro interessado.

Importante destacar que, no caso de o administrador for substituído, sua remuneração

será proporcional “ao trabalho realizado”, conforme estabelece o §3º do Art. 24 da Lei

11.101/200517. Embora, a norma resolva proceder com uma exceção, vedando o pagamento

proporcional para os casos em que o administrador tiver renunciado imotivadamente.

O mesmo dispositivo induz que, não fará jus à remuneração o administrador judicial

que houver sido destituído por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas

nesta Lei.

17 Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a

capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado

para o desempenho de atividades semelhantes.

§ 3o O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado,

salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou

descumprimento das obrigações fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração.

35

Possibilidade de Destituição ou Substituição

A Legislação prevê a possibilidade de destituição do Administrador Judicial do

processo de Recuperação Judicial.

Para que se configure o ilícito necessário para a destituição ou substituição do cargo,

o Administrador deve incorrer no(s) seguinte(s) atos:

a) Deixar de Fiscalizar as Atividades da Sociedade Recuperanda;

b) Praticar ato omissivo no cumprimento do plano;

c) Deixar de apresentar os Demonstrativos Mensais;

d) Não apresentar relatórios de Prestação de Contas;

Ainda que não deixe de cumprir uma das obrigações descritas no parágrafo anterior,

à luz do caput do Artigo 23 da LRE, o Juiz poder instar o Administrador Judicial a se

manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, mediante intimação pessoal, sob pena de desobediência.

Como salienta MANUEL JUSTINO BEZERRA FILHO18:

A prestação de contas é um dever moral e uma imposição legal a que está

submetido todo aquele que administra coisa alheia. O administrador judicial,

na condição de administrador de bens de terceiros, como qualquer outro, tem

obrigação de prestar contas pelas movimentações realizadas ao longo do

processo.

Ora, a mera ilação omissiva gera consequências criminais? Quanto à tipificação

criminal, seria essa a sanção adequada?

Analisando o fundamento jurídico da função de Administrador Judicial, ao deixar de

praticar um ato específico ou restar omisso, não estaria ele praticando um descumprimento de

ordem judicial e sim, um dever funcional.

18 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falências: Lei 11.101/2005: Comentada

artigo por artigo. 11. Ed. rev., atual. e ampli. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016

36

Deve-se salientar que, desobediência é uma tipificação criminal, prevista no Código

Penal Brasileiro (Art. 330), de modo que, para sua configuração é necessário que o

preenchimento dos requisitos formais da materialidade do crime, o que nem de longe passa no

caso do Administrador Judicial.

Segundo MAGALHÃES NORONHA19:

“Para configurar crime, é preciso que a ordem recebida não se referida a

funções do sujeito ativo, pois em tal hipótese o delito será o do Art. 319 do

Código Penal (prevaricação).”.

E finaliza:

“Para que este ocorra, cabe acrescentar, impõe-se que o agente tenha

pretendido “satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. Assim, a omissão do

administrador judicial, do ponto de vista penal seria mais bem qualificada,

evidentemente, se presentes todos os elementos do tipo, como prevaricação,

e não desobediência.”.

Como consequência da ação irregular, o Administrador Judicial poderá ser destituído

ou substituído.

A lei anterior (Art. 65 e 66) estabelecia uma diferenciação entre o ato de substituir e

o de destituir o “síndico”, de tal forma que a substituição se dava por simples decisão

interlocutória nos autos e a destituição, embora também por decisão interlocutória, deveria ser

precedida da coleta de manifestação do próprio “síndico” e do Ministério Público.

Na legislação atual, se o Administrador deixou de apresentar a prestação de contas

no prazo legal, foi pessoalmente intimado para fazê-lo sob pena de crime de desobediência e

persiste na abstenção do cumprimento sem justificativa válida, não há motivo para outras

formalidades, devendo ser destituído de imediato, por decisão fundamentada.

Importante frisar que, se o Administrador Judicial não apresentar as contas, mas de

forma fundamentada, apresentar as razões justas do impedimento, não deverá o Juiz destituí-

lo, devendo conceder-lhes novo prazo para a apresentação.

19 NORONHA, Magalhães. Direito Penal. 38 ed. São Paulo: Saraiva. 2013. V. 2

37

Poderá o Administrador Judicial requerer afastamento das funções, caso que também

gerará a substituição. Pois, a mesma encontra-se guarida no impedimento de ordem pessoal

justificada do Administrador Judicial, descrevendo de forma detalhada o(s) impedimento(s)

capazes de requerer seu afastamento do múnus processual.

De toda sorte, o substituto do faltoso se encarregará de executar as tarefas não

cumpridas e se, do exame do caso que deverá para isso realizar, verificar que seu antecessor

deve ser responsabilizado, exporá ao Juiz, os pontos a serem apurados.

Por fim, o caput do referido artigo é exemplificativo e a LRE prevê, ainda, outras

causas de destituição do administrador judicial, como, por exemplo, desídia, culpa, dolo e

descumprimento das obrigações legais, égide do Art. 24, §3º e, especialmente, Art. 31.

Responsabilidade Civil do Administrador Judicial e Suas Excludentes

Abalizado pelas linhas normativas do Código Civil Brasileiro, o preceito básico da

Responsabilidade Civil parte do entendimento de que, todo aquele que violar o direito ou bem

jurídico tutelado, através de ato ilícito, doloso ou culposo, tem o dever de repará-lo.

A pedra fundamental da interpretação acima é de que, todas as pessoas naturais têm

um dever jurídico originário, o de não causar danos ao direito de outrem e/ou violar o bem

jurídico tutelado, cabendo-lhes a obrigação de reparação do dano causado.

Como bem delineado por CAVALIERI FILHO20, a prática de qualquer ilícito há um

bem tutelado é considerado um ato jurídico, do qual é uma espécie de fato jurídico.

Deste modo, tutelado o direito, o fato jurídico será todo e qualquer ato/acontecimento

que o Direito Pátrio considere relevante e o proteja. A Responsabilidade Civil, conforme

ordenamento vigente, nasce do fato jurídico, especialmente o Ato Ilícito.

20 Cavalieri Filho, Sergio, Programa de Responsabilidade Civil, Ed. Atlas, 2008, p.2

38

Numa conceituação simplória e objetiva, os atos ilícitos são todos que estão em

desacordo com o ordenamento jurídico, e logo produzem efeitos, que de acordo com as

normas legais causam um dano ou um prejuízo a alguém, com isso criam uma obrigação de

reparar o dano que foi causado, conforme visto no art. 186 e 927 do Código Civil.

Ainda que se dissertasse acerca da Responsabilidade Civil, adentraríamos no mérito

do debate: da Ação, Omissão, Imputabilidade; Nexo de Causalidade e Excludentes; e outros

institutos.

Porém, o estudo em apreço visa, embora de forma sucinta, dispor do conceito da

Responsabilidade Civil e elevá-lo para o debate dentro do arcabouço jurídico da LRE.

O Artigo 32 da LRE assim foi redigido:

Art. 32. O administrador judicial e os membros do Comitê responderão pelos

prejuízos causados à massa falida, ao devedor ou aos credores por dolo ou

culpa, devendo o dissidente em deliberação do Comitê consignar sua

discordância em ata para eximir-se da responsabilidade.

Muito embora a lei tenha diminuído os poderes do Administrador Judicial, se

comparado à figura do Síndico da Lei Anterior, ainda assim ele continua dispondo de grande

liberdade de ação.

Entretanto, ainda que com liberdade de ação, a norma inova e se põe de forma

contundente sobre os atos dolosos e culposos do Administrador Judicia. Cuida-se, na verdade,

de prevenir o ato ilícito e, caso realizado, atingindo o bem tutelado, deve ser reparado.

Nesse sentido é a lição de Caio Mário da Silva Pereira21:

"É também princípio capital, em termos de liquidação de obrigações, que

não pode ela transformar-se em motivo de enriquecimento. Apura-se o

quantitativo do ressarcimento inspirado no critério de evitar o dano (de

damno vilando), não porém para proporcionar à vítima um lucro (de lucro

capiendó). Ontologicamente subordina-se ao fundamento de restabelecer o

equilíbrio rompido, e destina-se a evitar o prejuízo. Há de cobrir a totalidade

do prejuízo, porém limita-se a ele. A razão está em que, no próprio étimo da

21 SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Responsabilidade Civil. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 316

39

"indenização", vem a idéia de colocar alguma coisa no lugar daquilo de que

a vítima foi despojada, em razão do "dano". Se se ressarce o dano, não se lhe

pode aditar mais do que pelo dano foi desfalcado o ofendido."

Tanto o administrador judicial, quanto os membros do comitê de credores serão

responsáveis pelos prejuízos causados por seus atos, dolosos ou culposos, à massa falida, ao

devedor e aos credores.

Embora não aplicado para o Administrador Judicial, haja vista a figura imponente à

frente da Recuperação Judicial, o instituto da excludente de responsabilidade se aplica àquele

membro do comitê de credores que tiver feito consignar, na ata de reunião do órgão, sua

dissidência quando à deliberação causadora do prejuízo.

A excludente descrita assemelha-se à estabelecida no Art. 158, §1º da Lei das

Sociedades Anônimas. Inclusive, a legislação acrescenta que a divergência do componente do

comitê de credores pode ainda ser manifestada, quando não for possível consigná-la em ata,

dando-se ciência imediata e por escrito aos órgãos responsáveis.

40

COMITÊ DE CREDORES – Conceito e Constituição

O Comitê de Credores é conceituado como o órgão responsável pelo

acompanhamento e fiscalização do juízo universal, e sua regulamentação está disposta nos

artigos 26 a 34 da Lei 11.101/05.

O Comitê de Credores não é órgão obrigatório, haja vista que são os credores que

têm o interesse na criação deste referido órgão diante da complexidade ou não da empresa

recuperanda, sendo assim, para que o referido órgão atinja o seu objetivo, é necessário que os

credores percebam a real necessidade da sua criação.

Conforme descrito acima, vejamos os ensinamentos do Professor Fábio Ulhoa:

“Não sendo empresa de vulto (seja pelo indicador da dimensão do ativo, seja

pelo passivo) e não havendo nenhuma especificidade que justifique a

formação da instância de consulta, o Comitê representará apenas burocracia

e perda de tempo, sem proveito algum para o processo falimentar ou de

recuperação”22

Após uma análise concreta da necessidade da criação do Comitê de credores,

podemos verificar a sua importância, haja vista que a sua função de fiscalizar e

acompanhar/administrar de forma concisa os procedimentos adotados no tramite da

recuperação judicial, tem como objetivo final fazer com que os credores recebam seus

créditos e a empresa volte a sua atividade econômica, indo de acordo com o princípio da

preservação da empresa

A constituição do Comitê de Credores é criada pelos credores de qualquer das

04(quatro) classes de credores: a) trabalhistas, b) direitos reais de garantia ou privilégios

gerais, c) quirografário e com privilégios gerais e d) representantes de microempresas e

empresas de pequeno porta, sendo que que cada classe de credores poderá indiciar apenas

1(um) representante com 02 suplentes.

22 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas . 6. ed. São

Paulo: Saraiva, 2005. p. VIII.

41

Importante salientar que qualquer uma das quatro classes de credores poderá requerer

a constituição do referido comitê e na hipótese da ausência de indicação de seu representante

por qualquer outra classe de credores, nada obsta a criação e o funcionamento do mencionado

orgão, conforme determina o § 1º, do Art. 26 da Lei 11.101/05.

Atribuições do Comitê de Credores

As atribuições do Comitê de Credores existirem tanto no instituto da Recuperação

Judicial, como no da Falência, e dentre elas o Comitê de Credores tem uma atribuição

específica na Recuperação Judicial e atribuições comuns aos dois institutos acima

mencionados.

Quanto a atribuição comum aos institutos da Recuperação Judicial e a Falência, o

Comitê de Credores tem as atribuições dispostas no artigo 27 da Lei 26 da Lei 11.101/0523:

A fiscalização das atividades e exames das contas do administrador judicial pelo

Comitê de Credores, deverá ser realizada em todo o tramite da recuperação judicial, podendo

inclusive ser acompanhando de pessoas especialista em áreas de atuação nas etapas em que o

Admistrador judicial está atuando, como por exemplo na avaliação de bens, ter uma pessoa

que tenha conhecimento se o bem da empresa recuperanda está sendo avaliado com o valor

real do mercado, bem como, na análise das contas do Administrador Judicial, poderá o

Comitê fazer valer a presenta de um cantador para averiguar a credibilidade das contas,

solicitando livros e documentos.

A atribuição relacionada ao bom andamento do processo e cumprimento da lei, o

Comitê de Credores tem como dever as mesmas obrigações de todos que participam do

processo de Recuperação Judicial, devendo contribuir para que todo o procedimento da

Recuperação Judicial seja realizado dentro da legalidade, de forma célere e menos onerosa.

23 I – na recuperação judicial e na falência:

a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;

b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;

c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos credores;

d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados;

e) requerer ao juiz a convocação da assembléia-geral de credores;

f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei;

42

Em caso de violação ou prejuízo aos direitos e interesses dos credores, o Comitê de

Credores tem a obrigação de comunicar ao Juiz competente ao processo de Recuperação

Judicial, seja através de Advogado, ou até mesmo a requerimento próprio, no entanto a

comunicação de qualquer ato que venha a prejudicar os direitos e interesses dos credores deve

ser informado.

Tem também como atribuição o Comitê de Credores, apurar e emitir parecer sobre

quaisquer reclamações dos interessados. A referida reclamação deve ser apresentada ao

Comitê de Credores para que o mesmo aprecie ou apresente o seu parecer sobre a reclamação

apresentada.

Importante salientar que o interessado pode ser qualquer credor, não necessariamente

que seja os credores habilitados nos autos do processo de Recuperação Judicial. Nesse sentido

é a lição de Gladson Mamede(MAMEDE, Gladson Falência e Recuperação de Empresas 6ª

ed. São Paulo: Editora Tlas S.A, 214, p. 94):

“Mas do que isso, a lei fala em reclamações dos interessados e não dos

interessados credores; interessados tem alcance muito mais amplo, deixando

claro, creio, que o comitê está obrigado a acatar reclamações de todos

aqueles que tenham interesse jurídico no juízo universal, mesmo que não

sejam credores habilitados no juízo, a exemplo da Fazenda Pública( que não

está sujeita ao concurso de credores, segundo o artigo 187 do Código

Tributário Nacional) ou , na recuperação Judicial, credores por obrigações

posteriores à concessão do benefício, entre outros.”

Cabe ainda ao Comitê de Credores, requer ao juiz a convocação da assembleia geral

de credores, seja pelas hipóteses legais ou quando existir algo relevante que deverá ser

demonstrado através de argumentações bem fundamentadas para que o Juiz defira ou não.

Por último, a atribuição de caráter processual ao Comitê de Credores é a

manifestação nas hipóteses legais, ou seja, o Comitê deve se manifestar em todas as hipóteses

definidas pela lei 11.105/05, quais sejam, as constantes nos artigos 8º; 12º; 19º; 22,II, n;, 22,

§3º; 71, IV; 87,§ 1º; 99, VI; 111; 113; 114; 117; 118; 119,IV; 142; 144 e 145,§3.

43

Quanto a especificidade das atribuições do Comitê de Credores ao instituto da

Recuperação judicial, todos constam no artigo 27, II, da Lei 26 da Lei 11.101/0524:

Nas atribuições do Comitê de Credores especificas na Recuperação Judicial, pode se

dizer que o Administrador Judicial e o Comitê de Credores têm competências concorrentes

conforme o item a) do inciso II do Art. 27 da Lei 11.101/05, no entanto, percebesse que

quanto o Administrador Judicial tem o pode de fiscalizar as atividades da empresa

recuperanda, o Comitê de Credores tem o poder apenas de fiscalizar a administração das

atividades do devedor.

Diante da atribuição do Comitê de Credores, que tem o poder da administração das

atividades do devedor, o mesmo terá que apresentar no prazo de 30(trinta) dias, o relatório

referente apenas a essa administração em que lhe compete fiscalizar, podendo inclusive fazer

constar nos relatórios a existência de problemas encontrados no plano, ou atos necessários que

não foram praticados pelo Administrador Judicial, entre outros atos e omissões que poderiam

ter sido evitados para que alcance de forma célere a recuperação judicial.

A fiscalização da execução do plano de recuperação judicial elencada no item “b” do

inciso II do Art. 27 da Lei 11.101/2005, tem como fim, o acompanhamento concreto da

execução do plano, devendo o Comitê de Credores está presente em todos todas as fezes do

plano, seja ela qual for, pois as irregularidades praticas na execução do plano deve ser

registradas pelo Comitê afim de informar no relatório no prazo de 30(trinta) dias.

Quanto última atribuição ao comitê de Credores, a qual deve submeter ao juiz

medidas de efeito patrimonial, se afastado o devedor da administração, verifica-se que a

intenção é que quando o afastamento ocorrer antes da aprovação do plano de recuperação

judicial, o Comitê de Credores tem que requerer ao juiz, várias providências necessárias para

garantir o êxito da recuperação judicial, quais sejam: alienação de bens do ativo permanente,

24 a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de sua

situação;

b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial;

c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóteses previstas nesta Lei, a

alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de

endividamento necessários à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação

do plano de recuperação judicial.

44

constituição de ônus reais outras garantias, e atos de endividamento necessários à constituição

da atividade da empresa recuperanda.

Vale destacar, que em caso de inexistência do Comitê de Credores, as atribuições do

referido órgão, serão exercidas pelo Administrador Judicial e caso exista a incompatibilidade

das funções com Administrador Judicial, as atribuições serão exercidas pelo juiz, conforme

dispõe o artigo 28 da Lei 11.101/0525.

Remuneração e Despesas do Comitê de Credores

Apesar das várias atribuições que são exercidas pelo Comitê de Credores, não existe

obrigatoriedade de pagamento de remuneração pela empresa recuperanda, haja vista que o

referido órgão foi criado para representar os interesses dos credores, devendo essa classe

remunerar ao Comitê de Credores.

Vejamos o que ensina Paulo Toledo:

O comitê atua, perante esses órgãos estatais, representando os interesses dos

credores. Bem por isso, é por estes que deve ser remunerado, e não pelo

devedor(a quem não representa), nem pela massa falida(que é representada

pelo administrador judicial)26.

A inexistência de remuneração para o Comitê de Credores é o fator complicador para

a existência do referido órgão, uma vez que suas atribuições exigem tempo destinados para o

acompanhamento do processo de recuperação judicial e caso os Credores não entrem em um

consenso para dividirem o valor da remuneração para o órgão do Comitê de Credores, a

probabilidade da formação do Comitê de Credores para representar os interesses dos credores,

serão mínimas.

25 Art. 28. Não havendo Comitê de Credores, caberá ao administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, ao

juiz exercer suas atribuições. 26 DE TOLEDO, Paulo F. C. Salles; ABRÃO, Carlos Henrique. Comentários à lei de recuperação de

empresas e falência. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 131.

45

Por outro lado, ao contrário da inexistência de obrigatoriedade da empresa

recuperanda em arcar com a remuneração para o Comitê de Credores, os custos com as

despesas originárias diante das realizações dos atos praticados pelo Comitê de Credores

abarcados pela Lei de Recuperação Judicial que foi a, deverão ser ressarcidas, porém, o

ressarcimento dependerá da disponibilidade de caixa, bem como de sua comprovação.

46

CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto, pode-se constatar a evolução história do direito societário

em relação as atividades econômicas das empresas, em que desde o primeiro processo

revolucionário industrial que ocorreu em meados do século XVIII, até contemporaneidade,

período no qual ainda vigente intenso debate acerca da racionalização do processo

recuperacional prevalecia o interesse dos sócios da sociedade. A prova disso pode ser

observada através da teoria contratualista, que tinha como objetivo afastar qualquer

intervenção externa que não fosse relacionado aos interesses dos sócios formadores da

sociedade, bem como, a maximização dos lucros.

A formatação acima começou a ser reformulada durante o século XX, quando

iniciou-se o aprofundamento e desenvolvimento do institucionalismo, onde o instituto da

recuperação judicial começou a ganhar corpo. Vale salientar que apesar do institucionalismo

publicístico naquela época ainda não tinha maturado a ideia de recuperação judicial, foi por

meio da instituição organizacional que o debate preservacionista ganhou, de vez, destaque e

atenção de juristas e legisladores. Foi a partir da concretização de mecanismos organizativos,

tais como a introdução de operários nas discussões da empresa, que, efetivamente, põe-se em

prática uma teoria que preconizava a existência de um interesse social não restrito ao interesse

dos sócios, originando assim a teria institucionalista.

A partir da teoria institucuinalista, onde iniciou-se o interesse sobre a organização e

preservação das empresas, características essas bastante importantes que originaram os

princípios que regem a Recuperação Judicial, quais sejam: princípio da preservação e função

social da empresa.

Observa-se que além dos referido princípios, verificasse que a legislação da

Recuperação Judicial Lei 11.101/2005, em seu Artigo 47, deixa bastante visível que o

interesse junto a preservação da atividade econômica da empresa não é mais unitário, pois o

interesse passou a ser de todos que de uma forma ou de outra estão relacionados a ela, tais

como: sócios devedores, trabalhadores credores e até os órgãos arrecadadores de impostos.

47

Verificou-se no presente estudo, que apesar do interesse para a preservação da

empresa ser de todos os envolvidos, quando parte desses interessados que tem um privilégio

no recebimento dos seus créditos age de forma impensada acaba criando empecilhos para a

continuidade da empresa que é objeto principal da Lei de recuperação Judicial.

Um dos grandes problemas encontrados no instituto da recuperação judicial é a

dificuldade na composição de interesses, haja vista a dificuldade em adequar o objeto da

decisão tomada pelos credores à realizada concreta da empresa, desta forma, demonstra-se a

necessidade de órgãos que atuem em harmonia para dirimir a referida composição de

interesses e dentre eles percebesse a grande importância do Administrador Judicial e o Comitê

de Credores.

O Administrador Judicial que é nomeado pelo Juiz, pode ser pessoa física ou jurídica,

porém, quando nomeado a pessoa Jurídica, esta deve identificar a pessoa física responsável

pela condução do trabalho, que não poderá ser substituída a menos que haja expressa

autorização judicial.

O Administrador Judicial deve ser profissional idôneo, haja vista trata-se de função

de confiança, em que se administram valores e bens e que, dentro do arcabouço operacional,

gera múltiplos interesses. Além da idoneidade, o exercício da função de Administrador

Judicial, deve ser das áreas técnico-científicas dispostas na legislação de Recuperação

Judicial, bem como profissional com habilidades técnicas mínimas e com experiência,

elementos mínimos para que possa desenvolver e desempenhar as atribuições previstas em lei,

no intuito garantir a capacidade de gerenciamento e recuperação da sociedade empresarial e

sendo um órgão obrigatório nomeado pelo Juiz, tem direito a receber uma remuneração pelo

seu trabalho.

Concluiu-se também no presente estudo, que o Administrador Judicial atua pelo

interesse público, ou seja, sua atuação não é limitada ao interesse do devedor ou dos próprios

credores, já o Comitê de Credores que não é um órgão obrigatório, têm como objetivo

representar os interesses dos credores, no entanto este segundo órgão deve colaborar para que

se atinja o objetivo da Recuperação Judicial.

48

Também ficou constatado que o Administrador Judicial tem o poder de fiscalizar as

atividades da empresa recuperanda, por outro lado, o Comitê de Credores tem o poder apenas

de fiscalizar a administração das atividades do devedor.

A figura do Comitê de Credores se demonstra bastante importante, haja vista que se

acompanhamento dos atos praticados pelo Administrador se torna essencial, uma vez que na

eventual existência de atos ou omissão praticados pelo Administrador judicial referido órgão

tem o dever de informar ao juiz, seja através de requerimento ou do relatório, objetivando

proteger os interesses dos credores e consequentemente da própria recuperação judicial.

Quanto a responsabilidade do Comitê de Credores e do próprio Administrador

Judicial, ambos respondem pelos prejuízos causados por seus atos, dolosos ou culposos, à

massa falida, ao devedor e aos credores, no entanto, quanto a excludente de responsabilidade,

esta só se aplica ao comitê de credores que tiver feito consignar, na ata de reunião do órgão,

sua dissidência quando à deliberação causadora do prejuízo.

Realizadas todas essas considerações, cumpriu o presente trabalho demonstrar o

quanto são importantes as figuras do Administrador Judicial e do Comitê de Credores,

demonstrando que a atuação dos referidos órgãos, que apesar de terem funções e direitos

parecidos e ao mesmo tempo diferentes, devem juntos exercerem suas funções com o objetivo

principal de atingir o objetivo perseguindo pelo o Instituto da Recuperação Judicial, ou seja,

viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir

a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,

promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade

econômica.

49

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www.tjdf.jus.br ((TJ-DF - AGI: 20150020243682, Relator: LEILA ARLANCH, Data de Julgamento:

27/01/2016, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 12/02/2016 . Pág.: 160)

www.stj.jus.br (STJ - REsp: 1302735 SP 2011/0215811-0, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,

Data de Julgamento: 17/03/2016, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 05/04/2016)

www.tjsp.jus.br (TJ-SP - AI: 20339597420138260000 SP 2033959-74.2013.8.26.0000, Relator: Enio Zuliani,

Data de Julgamento: 06/02/2014, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação: 10/02/2014)

www.tjsp.jus.br (TJ-SP - Processo: AI 0835356520158260000 SP 2083535-65.2015.8.26.0000.

Relator(a): Carlos Alberto Garbi. Julgamento: 31/08/2015. Órgão Julgador: 2ª Câmara Reservada de

Direito Empresarial. Publicação: 02/09/2015).

Pesquisa de site:

http://corporateconsulting.com.br/noticia/clipping/so-1-das-empresas-sai-da-recuperacao-

judicial-no-brasil