funções essenciais à justiça

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    O rgo do Ministrio Pblico independente no exerccio de suasfunes, no ficando sujeito s ordens de quem quer que seja, somente devendoprestar contas de seus atos Constituio, s leis e sua conscincia.

    Nem seus superiores hierrquicos podem ditar-lhes ordens no sentido

    de agir desta ou daquela maneira dentro de um processo. Os rgos deadministrao superior do Ministrio Pblico podem editar recomendaes sobre aatuao funcional para todos os integrantes da Instituio, mas sempre semcarter normativo.

    Como ensina Quiroga Lavi, quando se fala de um rgo independentecom autonomia funcional e financeira, afirma-se que o Ministrio Pblico umrgo extrapoder, ou seja, no depende de nenhum dos poderes de Estado,no podendo nenhum de seus membros receber instrues vinculantes denenhuma autoridade pblica.

    No direito constitucional ptrio, s se concebe no Ministrio Pblico umahierarquia no sentido administrativo, pela chefia do Procurador-Geral dainstituio, nunca de ndole funcional.

    A Constituio Federal valorizou de tal modo a independncia e autonomiado Ministrio Pblico que considera crime de responsabilidade do Presidenteda Repblica a prtica de atos atentatrios ao livre exerccio da Instituio(CF, art. 85, II).

    1.2.4 Princpio do promotor natural

    O Plenrio do Supremo Tribunal Federal reconheceu a existncia dopresente princpio, no sentido de proibirem-se designaes casusticasefetuadas pela chefia da Instituio, que criariam a figura do promotor deexceo, em incompatibilidade com a Constituio Federal, que determina quesomente o promotor natural que deve atuar no processo, pois ele intervm deacordo com seu entendimento pelo zelo do interesse pblico, garantia estadestinada a proteger, principalmente, a imparcialidade da atuao do rgo doMinistrio Pblico, tanto em sua defesa quanto essencialmente em defesa dasociedade, que ver a Instituio atuando tcnica e juridicamente.

    inadmissvel, aps o advento da Constituio Federal, regulamentadapela Lei n 8.625/93, que o Procurador-geral faa designaes arbitrrias dePromotores de Justia para uma Promotoria ou para as funes de outroPromotor, que seria afastado compulsoriamente de suas atribuies eprerrogativas legais, porque isto seria ferir a garantia da inamovibilidade previstano texto constitucional. Esta inamovibilidade ampla, protegendo o cargo e afuno, pois seria um contra-senso ilgico subtrair as respectivas funes aosprprios cargos. Salvo se as designaes forem de acordo com a lei, como em

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    casos de vacncia, afastamento temporrio, ausncia, impedimento, paraassegurar a continuidade dos servios.

    1.3 Funes

    A Constituio Federal de 1988 ampliou sobremaneira as funes doMinistrio Pblico, transformado-o em um verdadeiro defensor da sociedade,tanto no campo penalcom a titularidade exclusiva da ao penal pblica, salvose no intentada no prazo legal (ao privada subsidiria da pblica, art. 5, LIX),quanto no campo cvel como fiscal dos demais Poderes Pblicos e defensorda legalidade e moralidade administrativa, inclusive com a titularidade doinqurito civil da ao civil pblica.

    Dessa forma, a Constituio Federal enumera exemplificadamente asimportantssimas funes ministeriais.

    So funes institucionais do Ministrio Pblico:

    I promover, privativamente, a ao penal pblica, na forma da lei;II zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Pblicos dos servios de

    relevncia pblica aos direitos assegurados nesta constituio, promovendo asmedidas necessrias a sua garantia;

    III promover o inqurito civile a ao civil pblica, para a proteo dopatrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos ecoletivos;

    IV promover a ao de inconstitucionalidade (art. 103, inciso VI: oProcurador-Geral da Repblica) ou representao para fins de intervenodaUnio e dos Estados, nos casos previstos nesta constituio (art. 36, incisos III eIV: inobservncia de princpio constitucional sensvel pelo Estado e recusa execuo de lei federal pelo Estado);

    V defender judicialmente os direitos e interesses das populaesindgenas;

    VI exercer o controle externo da atividade policial, na forma da leicomplementar mencionada no artigo anterior;

    VIII requisitar diligncias investigatriase a instaurao de inquritopolicial, indicados os fundamentos jurdicos de suas manifestaes processuais.

    Importante ressaltar que o rol constitucional exemplificativo,possibilitando ao Ministrio Pblico exercer outras funes que lhe foremconferidas, desde que compatveis com sua finalidade constitucional, sendo-lhevedada a representao judicial e a consultoria jurdica de entidades pblicas.

    A prpria Lei Orgnica Nacional do Ministrio Pblico (Lei n8.625/93) emseu art. 25 estabelece outras funes ministeriais de grande relevncia, com porexemplo:

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    1. exercer a fiscalizao dos estabelecimentos prisionais e dos queabriguem idosos, menores, incapazes ou pessoas portadoras dedeficincia;

    2. ingressar em juzo, de ofcio, para responsabilizar os gestores dodinheiro pblico condenados por tribunais e conselhos de contas;

    3. interpor recursos ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunalde Justia.

    Outras funes podem ser previstas em nvel estadual, seja pelasConstituio Estaduais, seja pelas diversas leis complementares dos Estados-membros, desde que adequadas finalidade constitucional do Ministrio Pblico.

    Importante ressaltar a total impossibilidade de legislao municipalestabelecer atribuies ao membro do Ministrio Pblico em atuao noMunicpio.

    Ademais, alm de garantidor e fiscalizador da Separao dos Poderes,o legislador constituinte conferiu ao Ministrio Pblico funes de resguardo aostatusconstitucional dos indivduos, armando-os de garantias que possibilitemo exerccio daquela (separao dos poderes) e a defesa deste (statusconstitucional).

    Portanto, garantir ao indivduo a fruio total de todos os seus statusconstitucionais, por desejo do prprio legislador constituinte, que em determinadomomento histrico entendeu fortalecer a Instituio, dando-lhe independncia eautonomia, e a causa social para defender e proteger tambm funo doMinistrio Pblico, juntamente com os Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio.

    1.4 Garantias do Ministrio Pblico

    As garantias constitucionais do Ministrio Pblico foram-lhe conferidas pelolegislador constituinte objetivando o pleno e independente exerccio de suasfunes e podem ser divididas em garantias institucionais e garantias aosmembros. To importante este objetivo, que a Constituio Federal consideracrime de responsabilidade do Presidente da Repblica a prtica de atosatentatrios do livre exerccio do Ministrio Pblico (art. 85, II, da ConstituioFederal).

    As garantias e prerrogativas dos membros do Ministrio Pblico, do mesmomodo que as imunidades parlamentares e os predicamentos da magistratura, noso privilgios nem quebram o princpio da isonomia. essa a razo pelaqual se pode falar da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade devencimentos dos promotores e dos juzes como prerrogativas visando defesa doEstado democrtico de Direito e dos direitos fundamentais.

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    1.4.1 Garantias da instituio

    A. Autonomia funcional, administrativa e financeira

    O art. 127, 2, da Constituio Federal prev autonomia funcional eadministrativa ao Ministrio Pblico, enquanto o art. 3 da Lei Orgnica Nacionalampliou esta autonomia, prevendo tambm a financeira.

    A autonomia funcional significa que os membros do Ministrio Pblico, nocumprimento dos deveres funcionais, submetem-se unicamente aos limitesdeterminados pela Constituio, pelas leis e pela as prpria conscincia, noestando subordinados a nenhum outro Poder, isto , nem ao Poder Executivo,nem ao Poder legislativo, nem ao Poder Judicirio.

    O prprio art. 127, 2, da Constituio Federal prev que ao MinistrioPblico assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado odisposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criao e extino de seuscargos e servios auxiliares, provendo-os por concurso pblico de provas ou deprovas e ttulos, a poltica remuneratria e os planos de carreira; a lei disporsobre sua organizao e funcionamento (assim, podem elaborar seus regimentosinternos).

    Ora, a autonomia administrativa e funcional do Ministrio Pblico traduz-se,no plano financeiro, pela prerrogativa desse rgo pblico de elaborar suaproposta oramentria, dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizesoramentrias (CF, art. 127, 3).

    O Ministrio Pblico, tal como o Judicirio, no conta com recursosfinanceiros prprios. Mas, na elaborao da proposta oramentria global,ambos esses rgos tm iniciativa exclusiva de delimitar os recursos necessriosa atender s prprias despesas.

    Conforme ensina Hely Lopes Meirelles,

    a autonomia financeira a capacidade de elaborao da propostaoramentria e de gesto e aplicao dos recursos destinados a prover asatividades e servios do rgo titular da dotao. Essa autonomiapressupe a existncia de dotaes que possam ser livrementeadministradas, aplicadas e remanejadas pela unidade oramentria a queforam destinadas. Tal autonomia inerente aos rgos funcionalmenteindependentes, como soo Ministrio Pblico e o Tribunal de Contas,os quais no poderiam realizar plenamente as suas funes seficassem na dependncia de outro rgo controlador de suasdotaes oramentrias.

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    Ressalte-se que a autonomia do Ministrio Pblico complementada pelasnormas constitucionais que concedem ao Procurador-Geral da Repblica e aosProcuradores-Gerais de Justia iniciativa de lei sobre a organizao,respectivamente, dos Ministrios Pblicos da Unio e dos Estados.

    B. Modo de nomeao e destituio do Procurador-Geral

    Para garantir que o Ministrio Pblico, em defesa da sociedade, exercesseseu mister constitucional, diversas garantias de independncia e autonomia foramprevistas, bem como diversos sistemas de controles. Uma das garantias dadaspela Constituio Federal ao Ministrio Pblico, visando a sociedade e a defesaintransigente do regime democrtico, foi o modo de nomeao e destituio doChefe da Instituio, seja do Ministrio Pblico da Unio (Procurador-Geral daRepblica), seja dos Ministrios Pblicos dos Estados (Procurador-Geral daJustia), bem como a existncia de mandato por tempo certo, impossibilitando suademisso ad nutum (por livre vontade da administrao), garantindo-lhe aimparcialidade necessria.

    B.1 Nomeao do Procurador-Geral da Repblica (art. 128, 1, CF)

    O Ministrio Pblico da Unio tem por chefe o Procurador-Geral daRepblica, nomeado pelo Presidente da Repblica entre integrantes dacarreira, maiores de 35 anos, aps a aprovao de seu nome pela maioriaabsoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de 2 anos, permitidaa reconduo(no h limite de recondues).

    B.2 Destituio do Procurador-Geral da Repblica (art. 128, 2, CF)

    A destituio do Procurador-Geral da Repblica, por iniciativa doPresidente da Repblica, dever ser precedida de autorizao da maioriaabsoluta do Senado Federal. Essa norma um indito mecanismo desalvaguarda da independncia externa do Ministrio Pblico, em face dos Poderesdo Estado, mediante a segurana no cargo do seu chefe.

    B.3 Nomeao do Procurador-Geral de Justia (art. 128, 3, da CF)

    A Constituio Federal prev que o Ministrio Pblico dos Estados e o doDistrito Federal e Territrios formaro lista trplice entre integrantes da carreira,na forma da lei respectiva (que prev votao interna entre os membros doMinistrio Pblico e envio da lista trplice ao chefe do Poder Executivo), paraescolha de seu Procurador-Geral, que ser nomeado pelo Chefe do PoderExecutivo, para mandato de 2 anos, permitida uma reconduo.

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    Essa garantia de independncia do Ministrio Pblico tem fulcroabsolutamente constitucional, tendo, inclusive, o Supremo Tribunal Federalentendido inconstitucionais previses de constituio estadual quecondicionassem a nomeao do Procurador-Geral da Justia prvia aprovaoda respectiva Assemblia Legislativa, por consagrar critrio discrepante do

    estabelecido no art. 128, 3, da Carta Federal e do princpio da independncia eharmonia dos Poderes.

    B.4 Destituio do Procurador-Geral de Justia (art. 128, 4, CF)

    Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territriospodero ser destitudos por deliberao da maioria absoluta do PoderLegislativo (Assemblia Legislativa), na forma da lei complementar respectiva.

    1.4.2 Garantias dos membros

    Dividem-se em garantias de liberdade e de imparcialidade ou vedaes.

    A. Garantias de liberdade

    Vitaliciedade: O membro do Ministrio Pblico somente poder perder seucargo por deciso judicial transitada em julgado (nos casos de abandono do cargo,prtica de crime incompatvel com o cargo e exerccio da advocacia). Avitaliciedade somente adquirida aps o chamado estgio probatrio, ou seja,aps dois anos de efetivo exerccio da carreira, mediante aprovao no concursode provas e ttulos.

    Inamovibilidade: Uma vez titular do respectivo cargo, o membro doMinistrio Pblico somente poder ser removido ou promovido por iniciativaprpria, nunca ex officio de qualquer outra autoridade, salvo em uma nicaexceo constitucional por motivo de interesse pblico, mediante deciso dorgo colegiado competente do Ministrio Pblico, por voto de dois teros de seusmembros, assegurada ampla defesa.

    Irredutibilidade de subsdio: O subsdio dos membros do MinistrioPblico no poder ser reduzido, para pression-lo a exercer suas atribuies.

    1.5 Vedaes constitucionais

    vedado ao membro do Ministrio Pblico:

    a. receber, a qualquer ttulo e sob qualquer pretexto, honorrios,percentagens ou custas processuais;

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    b. exercer a advocacia;c. participar de sociedade comercial, na forma da lei;d. exercer, ainda que em indisponibilidade, qualquer outra funo pblica,

    salvo uma de magistrio;e. exercer atividade poltico-partidria, salvo excees previstas na lei.

    1.6 Exerccio da poltica partidria, salvo as excees previstas em lei

    A Constituio Federal prev como vedao expressa ao membro doMinistrio Pblico o exerccio da atividade poltico-partidria, salvo excees

    previstas na lei.

    Tal vedao, porm, no constitui criao, por parte do legisladorconstituinte, de causa absoluta de inelegibilidade, mas espcie de inelegibilidaderelativa.

    Dessa forma, o membro do Ministrio Pblico possui, constitucionalmente eem tese, elegibilidade absoluta para disputa de qualquer cargo, desde quepreenchidos os demais requisitos previstos na prpria Constituio Federal, ou oscriados em lei complementar (CF, art. 14, 9), entre eles, a filiao partidria.

    O art. 128, 5, III, e, da CF, autoriza os Membros do Ministrio Pblico(o que vedado aos membros da Magistratura, pelo art. 95, pargrafo nico,inciso III) a filiarem-se a partido poltico, desde que no haja violao da leicomplementar (LC n64, de 18-5-1990) que regulamenta hipteses deinelegibilidade. Dessa forma, desde que os membros do Ministrio Pblicopreencham todas as condies de elegibilidade previstas na constituio e nareferida Lei Complementar n 64/90, podero exercer seus direitos polticos, maisprecisamente, a capacidade eleitoral passiva, candidatando-se a cargos eletivos,pois as restries prevalecero somente enquanto fixadas expressamente noTexto Constitucional ou em lei complementar, sem qualquer recurso a mtodosampliativos de interpretao que possam conduzir a alguma hiptese restritivasem expressa configurao legal (complementar) ou constitucional.

    Em concluso, a citada Lei complementar possibilita ao membro doMinistrio Pblico candidatar-se, desde que preenchido um requisito, qual seja, adesincompatibilizao(que para a maioria dos cargos so 6 meses).

    1.7 Da impossibilidade de supresso ou alterao das funes, garantias eprerrogativas constitucionais do Ministrio Pblico

    Assim, se verdade que no regime democrtico da Repblica Federativado Brasil os Poderes do Estado so o Executivo, o Legislativo e o Judicirio (art.2, CF), todos autnomos entre si; no menos verdade que o mnimoirredutvel de uma autntica Constituio deve conter regras de separao

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    de poderes: um mecanismo de cooperao e controle desses poderes checksand balances; um mecanismo para evitar bloqueios respectivos entre osdiferentes detentores de funes do poder.

    Dessa forma, o legislador constituinte criou, dentro do respeito teoria

    dos freios e contrapesos (cheks and balances), um rgo autnomo eindependente deslocado da estrutura de qualquer dos Poderes do Estado,um verdadeiro fiscal da perpetuidade da federao, da Separao de Poderes, dalegalidade e moralidade pblica, do regime democrtico e dos direitos e garantiasindividuais: o Ministrio Pblico.

    Para a garantia desta fiscalizao e do prprio regime democrtico, aconstituio conferiu importantes funes e garantias institucionais ao MinistrioPblico, impedindo a ingerncia dos demais poderes do Estado em seufuncionamento, pois como escrevia Madison, todo o poder tende a ser invasor e,por isso, deve ser posto em condies de no exceder os limites que lhe sotraados, razo pela qual, depois da diviso de poderes, o mais importante garanti-los contra suas recprocas invases.

    Todas estas garantias e funes dos membros do Ministrio Pblico, assimcomo as imunidades e prerrogativas parlamentares do chefe do Executivo e dosrgos do Poder Judicirio so garantias institucionais fixadas pelo legisladorconstituinte para a defesa da sociedade e dos direitos constitucionaisfundamentais, e, conseqentemente, a proteo das garantias institucionaisaproxima-se, todavia, da proteo dos direitos fundamentais quando se exige, emface das intervenes limitativas do legislador, a salvaguarda do mnimoessencial (ncleo essencial) das instituies.

    Poderiam tais garantias, prerrogativas e funes serem alteradas, retirandoda Instituio Ministrio Pblico os instrumentos constitucionais concedidos pelolegislador constituinte originrio, para o exerccio autnomo e independente deseu mister? Acreditamos que no.

    Entre as diversas limitaes, qualquer proposta de emenda constitucionalno pode expressa ou implicitamente pretender alterar as matrias tratadas no4, do art. 60, da Constituio Federal, seja para aboli-las integralmente, sejapara desfigura-las do molde estabelecido pelo legislador constituinte originrio.

    Primeiramente, deve ser considerado que a Constituio Federal, no art.60, 4, a, erigiu como clusula ptrea a forma federativa, cujo contexto engloba,constitucionalmente, o regime democrtico, tanto em relao s regrasconstitucionais para sua consecuo, quanto s regras constitucionais para suafiscalizao.

    Como um dos fiscais do regime democrtico, o legislador constituinteoriginrio escolheu o Ministrio Pblico, ao afirmar que instituio permanente,essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem

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    jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuaisindisponveis.

    Para garantir que o Ministrio Pblico, em defesa da sociedade, exercesseseu mister constitucional, entre eles a defesa da federao, do regime

    democrtico, diversas garantias de independncia e autonomiaforam previstas,bem como diversos sistemas de controles.

    Tambm em respeito ao mecanismo de cooperao e controle aos rgosque exercem as funes de Estado, o legislador Constituinte fixou severo controleexterno Instituio, tanto por parte do Poder Legislativo (controle oramentrio,atravs do Tribunal de Contas; destituio do Procurador-Geral), quanto peloPoder Executivo (escolha e nomeao do Procurador-Geral da Repblica dentreos integrantes da carreira e nomeao do Procurador-Geral de Justia, atravs delista trplice composta de integrantes da carreira e por ela eleitos) e do PoderJudicirio, a quem so dirigidas as pretenses e iniciativas dos membros doMinistrio Pblico.

    Alterar este sistema de controle, suprimindo funes controladoras oumesmo garantias do Ministrio Pblico, seria alterar o mecanismo de cooperaoe controle desses poderes (Executivo/Legislativo/Judicirio) e da prpriaInstituio do Ministrio Pblico, em relao ao regime democrtico,desrespeitando a doutrina dos Freios e Contrapesos (Cheks and balances),modificando um mecanismo para evitar bloqueios respectivos entre os diferentesdetentores de funes do poder, uma vez que retornaramos hipertrofia do PoderExecutivo. Lembremo-nos que a Separao de Poderes tambm clusulaptrea.

    As garantias constitucionais dos membros do Ministrio Pblico, portanto,so garantias da prpria sociedade, de que a Instituio, incumbida pelaConstituio de ser a guardi da legalidade formal e material das liberdadespblicas, do regime democrtico e da Separao de Poderes, contra osabusos do poder Estatal, no sofra presses odiosas no exerccio de seu mister.

    Sendo as liberdades pblicas objeto da proteo jurdica em matria dedireitos constitucionais, em cuja defesa deve agir o Ministrio Pblico; aindependncia funcional da Instituio transforma-se em garantiafundamental implcita da Constituio Federal, art. 5 da Constituio Federal.

    Retirar do Ministrio Pblico tais funes, ou mesmo retirar-lhes asgarantias para o bom exerccio destas funes corresponde a diminuir aefetividade das liberdades pblicas, ou em outras palavras, aboli-las parcialmente,de formaimplcita, o que taxativamente vedado pelo texto constitucional.

    Dessa modo, por ser o Ministrio Pblico instituio permanente eessencial funo jurisdicional do Estado, incumbido, entre outrasimportantssimas funes, da defesa de clusulas ptreas como a separao de

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    Poderes, os direitos e garantias individuais e a prpria existncia da Federao edo voto direto, secreto, universal e peridico, ao defender o regime democrtico,nenhuma norma do Poder Constituinte derivado poder alterar sua estrutura orgnica, suas garantias de independncia e imparcialidade e suas funesde controle, todas fixadas em defesa da prpria sociedade e da perpetuidade da

    democracia.

    1.8 Ministrio Pblico junto aos Tribunais de Contas

    O art. 73, 2, I, da Constituio Federal prev a existncia de umMinistrio Pblico junto ao Tribunal de Contas da Unio, sendo que em seuart. 130, a Carta Maior determina que aos membros desse Ministrio Pblicodevem ser aplicados os direitos, vedaes e forma de investidura previstas aosdemais membros do Ministrio Pblico.

    Muito discutiu-se sobre a configurao jurdico-institucional desse MinistrioPblico junto ao Tribunal de Contas da Unio, basicamente se estaria dentro daestrutura orgnica do Ministrio Pblico da Unio e, conseqentemente, sob achefia do Procurador-Geral da Repblica ou se estaria estruturalmente ligado aoprprio Tribunal de Contas da Unio, sem, portanto, qualquer vnculo com oMinistrio Pblico da Unio. A Lei n8.443/92, que dispe sobre a organizao doTribunal de Contas da Unio, adotando essa segunda posio, criou em seucaptulo VI (arts 80 a 84), o Ministrio Pblico junto ao Tribunal de Contas,prevendo a aplicao dos princpios institucionais da unidade, da indivisibilidade eda independncia funcional.

    Em defesa da primeira posio, os artigos do Captulo VI da Lei n8.443/92tiveram sua inconstitucionalidade argida pelo Procurador-Geral da Repblica, sobo fundamento da impossibilidade de existncia de um novo Ministrio Pblico, queno se inclusse como ramo do Ministrio Pblico da Unio, exclusivamente paraatuar junto ao Tribunal de Contas da Unio.

    O Supremo Tribunal Federal, decidindo essa relevante questo, entendeuque o Ministrio Pblico junto ao Tribunal de Contas da Unio Instituioque no integra o Ministrio Pblico da Unio, cujos ramos estotaxativamente inscritos no rol do art. 128, inciso I, da Constituio Federal,declarando a constitucionalidade da referida lei, por entender possvel avinculao administrativa desse Ministrio Pblico ao prprio Tribunal de Contasda Unio.

    Com relao aos Estados-membros, no exerccio de seu poderconstituinte derivado decorrente caracterizador da existncia, autonomia emanuteno de uma Federao dever estabelecer em sua ConstituioEstadual a configurao jurdico-institucional do Parquetque atuar peranteo Tribunal de Contas do Estado e do Municpio, quando existir.

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    Conclumos, portanto, pela possibilidade do Estado-membro disciplinar emsua Constituio estadual qual o Ministrio Pblico que atuar perante o Tribunalde Contas do Estado.

    2. Advocacia pblica

    A Advocacia Pblica a instituio que, diretamente ou atravs de rgovinculado, representa a Unio, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nostermos da lei complementar que dispuser sobre sua organizao prevendo oingresso nas classes iniciais das carreiras da instituio mediante concursopblico e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento

    jurdico do Poder Executivo.

    A Constituio Federal de 1988, j no era sem tempo, rompeu a tradio

    existente da representao judicial da Unio ser exercida pelo Ministrio Pblico,transformando-o em defensor da sociedade e criando uma instituio diretamenteligada ao Poder Executivo para exercer esse importante mister.

    A Advocacia-Geral da Unio tem por chefe o Advogado-Geral daUnio, de livre nomeao pelo Presidente da Repblica, entre cidadosmaiores de 35 anos, de notvel saber jurdico e reputao ilibada, prevendo anecessria relao de confiana entre representado (Presidente, como Chefe doExecutivo Federal) e representante, que justifica a livre escolha.

    Os procuradores do Estados e do Distrito Federal exercero a

    representao judicial e a consultoria jurdica das respectivas unidades federadase sero organizados em carreira, na qual o ingresso depender de concursopblico de provas e ttulos, com a participao da Ordem dos Advogados do Brasilem todas suas fases. Aos procuradores ser assegurada estabilidade aps 3 anosde efetivo exerccio, mediante avaliao de desempenho perante os rgosprprios, aps relatrio circunstanciado das corregedorias. Aplica-se AdvocaciaPblica as normas remuneratrias previstas no art. 39, 4.

    3. Advocacia

    A Constituio de 1988 erigiu a princpio constitucional a indispensabilidadee a imunidade do advogado, prescrevendo em seu art. 133: O advogado indispensvel administrao da Justia, sendo inviolvel por seus atos emanifestaes no exerccio da profisso, nos limites da lei. Tal previsocoaduna-se com a necessria interveno e participao da nobre classe dosadvogados na vida de um Estado democrtico de direito.

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    3.1 Indispensabilidade do advogado

    O princpio constitucional da indispensabilidade da interveno doadvogado, previsto no art. 133 da Carta Maior, no absoluto. Assim, apesar de

    constituir-se fator importantssimo a presena do advogado no processo, paragarantia dos direitos e liberdades pblicas previstos na Constituio Federal e emtodo o ordenamento jurdico, continua existindo a possibilidade excepcional da leioutorgar o ius postulandia qualquer pessoa, como j ocorre no habeas corpus:pois sua interposio h que ser feita luz do princpio do direito de defesaassegurada constitucionalmente (art. 5, LX) que inclui, sem sombra de dvida, odireito auto-defesa; e na reviso criminal.

    O advogado deve comprovar sua efetiva habilitao profissional,demonstrando a regularidade de sua inscrio na Ordem dos Advogados doBrasil, sob pena de inexistncia dos atos processuais praticados.

    3.2 Imunidade do advogado

    A inviolabilidade do advogado, por seus atos e manifestaes no exerccioda profisso, no absoluta, sujeitando-se aos limites legais.

    Saliente-se, portanto, que haver excesso impunvelse a ofensa irrogadafor vinculada atividade funcional e pertinente pretensa que esteja o advogadodefendendo em juzo. A imunidade inexistir quando a ofensa for gratuitadesvinculada do exerccio profissional e no guardar pertinncia com a discussoda causa.

    Ressalte-se, ainda, que a imunidade profissional do advogado no alcanaabusos cometidos em entrevistas aos meios de comunicao.

    4. Defensoria Pblica

    A Constituio Federal prev, ainda, a criao da Defensoria Pblica, comoinstituio essencial funo jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe aorientao jurdica e a defesa em todos os graus e gratuitamente dosnecessitados.

    O Congresso Nacional, atravs de Lei Complementar, organizar aDefensoria Pblica da Unio e do Distrito Federal e dos Territrios eprescrever normas gerais para sua organizao nos Estados, em cargos decarreira, providos, na classe inicial, mediante concurso pblico de provas e ttulos,

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