funcionalidade de própolis livre e microencapsulada em salame

Download Funcionalidade de própolis livre e microencapsulada em salame

If you can't read please download the document

Upload: dokhanh

Post on 10-Jan-2017

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Universidade de So Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Funcionalidade de prpolis livre e microencapsulada em salame tipo Italiano

    Sabrina Bernardi

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de Mestre em Cincias. rea de concentrao: Cincia e Tecnologia de Alimentos

    Piracicaba 2010

  • 1

    Sabrina Bernardi Engenheira de Alimentos

    Funcionalidade de prpolis livre e microencapsulada em salame tipo Italiano

    Orientadora: Profa. Dra. CARMEN JOSEFINA CONTRERAS CASTILLO

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de Mestre em Cincias. rea de concentrao: Cincia e Tecnologia de Alimentos

    Piracicaba 2010

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao

    DIVISO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - ESALQ/USP

    Bernardi, Sabrina Funcionalidade de prpolis livre e microencapsulada em salame tipo italiano / Sabrina

    Bernardi. - - Piracicaba, 2010. 126 p. : il.

    Dissertao (Mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2010. Bibliografia.

    1. Antioxidantes 2. Oxidao 3. Prpolis 4. Salame - Qualidade 5. Vida-de-prateleira Ttulo

    CDD 664.92 B523f

    Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte O autor

  • 3

    Aos meus pais, Antonio Luiz Bernardi e

    Mrcia Antonia Libardi Bernardi por todo o

    apoio, pacincia, carinho e ensinamentos

    desde o incio da minha existncia.

    DEDICO

    Ao Tony, por fazer parte da minha vida.

    OFEREO

  • 4

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    minha orientadora, Profa. Dra. Carmen Josefina Contreras Castillo, meu

    imenso agradecimento pela dedicao, disposio a qualquer hora, aprendizados,

    confiana e amizade.

    minha famlia, meu pai Antonio Luiz e minha me Mrcia pela fora, pacincia,

    dedicao e principalmente por fazer possvel a minha graduao, e agora o mestrado.

    Meu eterno agradecimento.

    Ao meu irmo Felipe pelo apoio, fora e cooperao com as explicaes

    estatsticas. Aos meus avs Dcio e Normlia, por todo o carinho e dedicao.

    Ao meu amado Tony, por sempre estar presente mesmo a grande distncia,

    sempre com amor e carinho, me incentivando e apoiando em todos os momentos.

    Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) e Escola

    Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) pela excelncia em minha formao.

    Profa. Dra. Carmen Slvia Fvaro Trindade por todo o incentivo, amizade,

    cooperao e parceria para todo o andamento do projeto.

    A toda equipe do Laboratrio de Produtos Funcionais (LAPROF), da FZEA/USP,

    principalmente ao Felipe Correa da Silva pela grande ajuda com as anlises

    microbiolgicas e ao Marcelo Thomazini, por todo auxlio prestado.

    Carolina Rodrigues da Fonseca pelo grande auxlio nas anlises

    microbiolgicas.

    Profa. Dra. Angela Dulce Cavenaghi por toda ajuda e ensinamentos prticos,

    principalmente para os primeiros passos do desenvolvimento do projeto.

    Ao Centro de Tecnologia de Carnes (CTC) do Instituto de Tecnologia de

    Alimentos (ITAL) pela colaborao, principalmente Mrcia Mayumi Harada Haguiwara

    pela ajuda com o processamento e Dra. Eunice Akemi Yamada pelas sugestes

    dissertao.

    Ao Prof. Dr. Marco Antonio Trindade pela grande colaborao no projeto com o

    seu apoio nas anlises sensoriais.

    Ao Prof. Dr. Jlio Cesar de Carvalho Balieiro pelo grande auxlio com as anlises

    estatsticas.

  • 6

    A toda equipe do Laboratrio de Qualidade de Carnes, especialmente Miriam,

    Raq, Juliana, Priscila, Anna, Troppo, Massafera, D-Cinema, Damasko, Alessandra,

    (Ju)ba, Lucy, Mrcio e Allan por todo auxlio, amizade e companheirismo. Sucesso

    para todos.

    Roberta Teresa Rizzo Benatto, por todo apoio, amizade e companheirismo.

    A todos os colaboradores diretos e indiretos do Departamento de Agroindstria,

    Alimentos e Nutrio por toda ajuda prestada no dia-a-dia, principalmente ao Jefferson

    Zambon pelo auxlio com a manuteno dos equipamentos.

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) pelo

    auxlio financeiro ao projeto e pela bolsa de estudo fundamentais a realizao de todo o

    trabalho.

    s empresas Ibrac, Chr. Hansen, Viscofan e Cryovac que gentilmente

    forneceram insumos necessrios para a realizao dos processamentos de salame.

    banca examinadora pelas correes e sugestes.

    A todos os julgadores da anlise sensorial, que auxiliaram imensamente na

    realizao e concluso desta etapa.

    E, por fim, a todos aqueles que contriburam de alguma forma para a realizao

    deste trabalho.

  • 7

    SUMRIO

    RESUMO .......................................................................................................................... 9

    ABSTRACT ..................................................................................................................... 11

    1 INTRODUO ............................................................................................................. 13

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................................................ 15

    2.1 Salame ...................................................................................................................... 15

    2.1.1 Padres de qualidade ............................................................................................ 15

    2.1.2 Caractersticas do processamento ...................................................................... 16

    2.1.3 Composio em cidos graxos ............................................................................ 18

    2.2 Prpolis ................................................................................................................ 19

    2.3 Microencapsulao .............................................................................................. 20

    2.3.1 Microencapsulao por spray drying ................................................................... 21

    2.3.2 Microencapsulao por coacervao complexa .................................................. 21

    2.3.3 Agentes encapsulantes ........................................................................................ 22

    2.4 Oxidao lipdica .................................................................................................. 22

    2.4.1 Reao de oxidao ............................................................................................ 23

    2.4.2 Quantificao da oxidao lipdica ...................................................................... 24

    2.5 Ao dos antioxidantes ........................................................................................ 25

    2.5.1 Antioxidantes sintticos e sua potencial toxicidade ............................................. 25

    2.5.2 Antioxidantes naturais .......................................................................................... 26

    2.6 Alterao da cor em salames ............................................................................... 28

    3 MATERIAL E MTODOS ............................................................................................ 31

    3.1 Material ................................................................................................................. 31

    3.1.1 Ensaio 1 ............................................................................................................... 31

    3.1.2 Ensaio 2 ............................................................................................................... 33

    3.2 Mtodos ................................................................................................................ 35

    3.2.1 Processamento dos salames ............................................................................... 35

    3.2.2 Avaliao da perda de peso ................................................................................. 38

    3.2.3 Determinao da oxidao lipdica ...................................................................... 39

    3.2.4 Determinao da acidez em cido olico ............................................................ 40

    3.2.5 Avaliao do pH ................................................................................................... 41

    3.2.6 Determinao da atividade de gua .................................................................... 42

    3.2.7 Parmetros da cor instrumental ........................................................................... 43

    3.2.8 Avaliao microbiolgica ...................................................................................... 44

  • 8

    3.2.9 Anlise sensorial ................................................................................................... 46

    3.2.10 Anlises estatsticas ............................................................................................. 47

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................... 51

    4.1 Ensaio 1 ................................................................................................................ 51

    4.1.1 Processamento ..................................................................................................... 51

    4.1.2 Determinao da oxidao lipdica ....................................................................... 52

    4.1.3 Avaliao do pH .................................................................................................... 56

    4.1.4 Acidez em cido olico ......................................................................................... 58

    4.1.5 Atividade de gua ................................................................................................. 60

    4.1.6 Parmetros de cor ................................................................................................ 61

    4.1.7 Consideraes finais sobre o ensaio 1 ................................................................. 65

    4.2 Ensaio 2 ................................................................................................................ 66

    4.2.1 Processamento ..................................................................................................... 66

    4.2.2 Caracterizao da massa ..................................................................................... 66

    4.2.3 Perda de peso ....................................................................................................... 69

    4.2.4 Determinao da oxidao lipdica ....................................................................... 72

    4.2.5 Anlises microbiolgicas ...................................................................................... 76

    4.2.5.1 Padres microbiolgicos .................................................................................... 76

    4.2.5.2 Bactrias lticas .................................................................................................. 80

    4.2.6 Acidez em cido olico ......................................................................................... 81

    4.2.6 Avaliao do pH .................................................................................................... 85

    4.2.7 Determinao da atividade de gua ..................................................................... 88

    4.2.8 Parmetros de cor ................................................................................................ 90

    4.2.9 Anlise sensorial .................................................................................................... 97

    5 CONCLUSO ............................................................................................................. 111

    REFERNCIAS ............................................................................................................. 113

  • 9

    Funcionalidade de prpolis livre e microencapsulada em salame tipo Italiano

    RESUMO

    Antioxidantes sintticos so atualmente adicionados em salames, porm, devido maior preocupao dos consumidores com a sade e a toxicidade destes compostos, os antioxidantes naturais vm sendo muito estudados. A prpolis um composto que apresenta vrias propriedades biolgicas, dentre elas a antioxidante. No entanto, devido ao seu sabor forte e dificuldade de solubilizao, pouco empregada em alimentos, sendo que tcnicas de microencapsulao tm solucionado este tipo de problema. Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi avaliar a funcionalidade da prpolis livre e microencapsulada como antioxidante natural em salame tipo Italiano, verificando tambm os efeitos desta incorporao sobre as caractersticas de qualidade deste produto. Para isso, um ensaio (ensaio 1) com prpolis microencapsulada por spray drying com dois agentes encapsulantes distintos, amido OSA (amido com anidrido octenil succnico) e goma arbica, foram aplicadas em diferentes concentraes em salames e comparadas com uma amostra padro, isenta de prpolis e antioxidante sinttico. As amostras de salame adicionadas de 0,15% de prpolis microencapsulada, tanto com amido OSA como goma arbica, mostraram-se eficientes no controle da oxidao lipdica durante o processo de secagem e maturao dos salames, diferindo consideravelmente do controle. Neste caso, o teor de acidez, cor instrumental e pH no foram afetados negativamente. Aps os ensaios da estabilidade e propriedades das microcpsulas, em conjunto com os resultados do ensaio 1, um segundo ensaio foi realizado (ensaio 2), onde os salames foram divididos nos grupos spray drying e coacervao. A funcionalidade da prpolis livre, microencapsulada por spray drying com dois agentes encapsulantes diferentes e por coacervao complexa, foi avaliada comparando-os com salames adicionados de eritorbato de sdio. Nestes ensaios foram verificadas a oxidao lipdica, a cor instrumental, o pH, a atividade de gua, a acidez, alm da realizao de anlises microbiolgicas e sensoriais nos salames com at 90 dias de armazenamento. Durante o processamento, procedeu-se a anlise de perda de peso dos salames para garantir a padronizao do processo. Pelos resultados obtidos no ensaio 2, no foi possvel diferenciar os tratamentos quanto ao efeito antioxidante da prpolis nos salames na medida em que o aumento da oxidao lipdica no decorrer do armazenamento foi baixo, resultado confirmado pela no percepo da rancidez sensorialmente. No entanto, pela anlise sensorial verificou-se que os salames com microcpsulas de prpolis com amido OSA preparada pela tcnica de spray drying foram to aceitos quanto aqueles com eritorbato de sdio, alm de no apresentar resultados negativos na avaliao da qualidade pelas anlises propostas. Considerando que estas microcpsulas de prpolis j mostraram ao antioxidante em salames no ensaio 1, em prximos estudos seria importante a avaliao da atividade antioxidante da prpolis microencapsulada nos salames sob condies crticas de conservao para acelerar a taxa de oxidao lipdica e melhorar a visualizao dos efeitos antioxidantes da prpolis.

    Palavras-chave: Salame; Prpolis; Antioxidante; Oxidao; Qualidade; Vida til

  • 10

  • 11

    Functionality of free and microencapsulated propolis in salami

    ABSTRACT Synthetic antioxidants are currently added to salami, but due to greater concern for consumer health and toxicity of these compounds, natural antioxidants have been more studied. Propolis is a compound that has several biological properties, among them antioxidant. However, due to its strong flavor and difficulty of solubilization, it is little used in food, and microencapsulation techniques have solved such problems. Therefore, the objective was to evaluate the functionality of free and microencapsulated propolis as natural antioxidant in Italian salami, also verifying the effects of this incorporation on the quality characteristics of this product. For this, a test (test 1) with propolis microencapsulated by spray drying with two different encapsulating agents, OSA starch (starch with octenyl succinic anhydride) and arabic gum were applied at different concentrations in salami and compared with a control sample, free of propolis and synthetic antioxidant. The samples of salami with added 0.15% microencapsulated propolis, both with OSA starch and arabic gum, were effective in controlling lipid oxidation during the drying process and the ripening of salami, differing greatly from the control. In this case, the acidity, pH and instrumental color were not affected negatively. After testing the stability and properties of the microcapsules, together with the results of test 1, a second test was performed (test 2), where the sausages were divided into groups spray drying and coacervation. The functionality of free propolis, microencapsulated by spray drying with two different encapsulating agents and by complex coacervation, was evaluated by comparing them with salami added by sodium erythorbate. In these trials were checked lipid oxidation, instrumental color, pH, water activity, acidity, besides conducting the microbiological and sensory analysis in salamis up to 90 days of storage. During processing, weight loss analysis of sausages was carried to ensure standardization of the process. From the results obtained in test 2, was not possible to differentiate the treatments for antioxidant effect of propolis on salami in that the increase in lipid oxidation during storage was low, a result confirmed by no sensory perception of rancidity. However, the sensory analysis it was found that the salami with microcapsules of propolis with OSA starch prepared by spray drying technique was so widely accepted as those with sodium erythorbate, and no reported negative results in the quality assessment by the proposed analysis. Whereas these microcapsules of propolis have shown antioxidant activity in salami in test 1, in future studies would be important to evaluate the antioxidant activity of propolis microencapsulated in salami under critical conditions of storage for accelerate the rate of lipid oxidation and improve the visualization of the antioxidant effects of propolis.

    Keywords: Salami; Propolis; Antioxidant; Oxidation; Quality; Shelf life

  • 12

  • 13

    1 INTRODUO

    Salame um produto elaborado com carne e gordura cominudos, misturado

    com sal, nitrato e/ou nitrito, acar e especiarias, embutido e submetido a um processo

    de fermentao e secagem. O produto final possui uma boa conservao e uma maior

    vida til, como conseqncia da inibio de bactrias patognicas e deteriorantes

    (HUGAS; MONFORT, 1997).

    Em embutidos crneos, comum a elevada concentrao de colesterol, lipdeos

    e cidos graxos que so suscetveis oxidao lipdica, reao esta responsvel pela

    alterao dos cidos graxos e formao de xidos de colesterol (BAGGIO;

    BRAGAGNOLO, 2006). Em funo dessa grande quantidade de compostos e devido

    complexidade e variabilidade da oxidao lipdica, este processo de difcil controle

    (OLIVO, 2006) e pode ser afetado pelo tipo e extenso do armazenamento e

    processamento empregado, como a moagem e a mistura (NOVELLI et al., 1998). Logo,

    a rancidez, como tambm conhecida a oxidao lipdica, a deteriorao mais

    importante que ocorre nesse tipo de produto, definindo sua vida til por formar produtos

    indesejveis do ponto de vista sensorial e por degradar vitaminas lipossolveis e cidos

    graxos essenciais (CECCHI, 1999).

    Para o controle desse tipo de deteriorao, alm dos antioxidantes sintticos

    utilizados atualmente pelas indstrias crneas, possvel a aplicao de antioxidantes

    naturais para prolongar a vida til dos embutidos crneos como o salame. O desafio

    maior est em desenvolver esses produtos com a mesma qualidade e custo compatvel

    com os convencionais, para assim atender a expectativa dos consumidores

    (BERNARDI; OETTERER; CONTRERAS-CASTILLO, 2008). Muitos compostos naturais

    de produtos apcolas de diferentes origens podem ter papel importante pela atividade

    antioxidante e antimicrobiana, contribuindo com a demanda por aditivos naturais e no-

    txicos (NAGAI et al., 2006), sendo que dentre eles, destaca-se a prpolis.

    A prpolis uma mistura complexa, formada por material resinoso e balsmico,

    coletada pelas abelhas dos ramos, flores, plen, brotos e exsudados de rvores

    (GHISABERTI, 1979; MARCUCCI, 1995) e de vrios tipos de plantas (CHEMID, 1996).

    Diversos trabalhos tm sido publicados divulgando e revisando as propriedades

  • 14

    biolgicas da prpolis como a antimicrobiana, antifngica, antiprotozoria, antioxidante

    e antiviral (MARCUCCI, 1995; BURDOCK, 1998).

    Devido ao sabor forte e dificuldade de solubilizao, a produo de prpolis em

    maior escala e aplicao em diferentes formulaes dificultada. A microencapsulao,

    tecnologia relativamente nova que tem sido empregada com xito na indstria de

    cosmticos, farmacutica e alimentcia, pode solucionar essas limitaes devido

    capacidade de atenuar sabores indesejveis, reduzir a volatilidade, higroscopicidade e

    reatividade, aumentar a solubilidade, alm de possibilitar um aumento na estabilidade

    destes em condies ambientais adversas (BRANNON-PEPPAS, 1993; FAVARO-

    TRINDADE; PINHO; ROCHA, 2008).

    Os embutidos crneos como o salame, so muitas vezes considerados produtos

    menos saudveis devido ao seu contedo de gordura e aditivos adicionados na

    formulao. Neste sentido, a adio de prpolis com a finalidade de substituio de

    antioxidantes sintticos poderia trazer benefcios sade, j que muitos deles so

    considerados potencialmente txicos. Esta substituio estaria contribuindo para o

    aumento do consumo desses produtos por uma parcela da populao preocupada com

    a sade.

    A prpolis tem grande potencial de aplicao na indstria de alimentos, porm,

    devido a algumas caractersticas particulares, sua utilizao limitada ou at mesmo

    invivel. Com isso, o estudo e o desenvolvimento de novas aplicaes da prpolis

    tornam-se extremamente positivos para os produtores de prpolis, de alimentos e

    consumidores, que estariam adquirindo um produto com um aditivo natural e benfico

    sade.

    A adio da prpolis em salame tipo Italiano tambm agregaria valor a este

    produto, que tem apresentado um consumo crescente e cujos consumidores so

    exigentes em termos de qualidade.

    Com isso, o objetivo deste trabalho foi definir a melhor concentrao e avaliar a

    funo antioxidante da prpolis nas formas livre e microencapsulada em salame tipo

    Italiano, acompanhando tambm seus efeitos sobre algumas caractersticas de

    qualidade do produto ao longo de sua vida til.

  • 15

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Salame

    A introduo dos produtos crneos fermentados no Brasil, data da colonizao

    por imigrantes alemes e italianos, principalmente na regio sul do pas. Este fenmeno

    social deu origem industrializao deste produto, sendo que atualmente um

    importante segmento da indstria crnea (LAPPE, 2004). O salame tipo Italiano um

    produto de alto valor agregado cujo consumo tende a aumentar e cujos consumidores

    so exigentes em termos de qualidade (GARCIA; GAGLEAZI; SOBRAL, 2000). o tipo

    mais consumido nas regies Sul e Sudeste brasileiro, sendo que no Brasil

    predominantemente obtido a partir de carne suna e a maturao deste produto de

    aproximadamente trinta dias, com aroma e sabor suaves aps este perodo (TERRA,

    1998).

    Segundo Regulamento Tcnico de Identidade e Qualidade do Salame tipo

    Italiano, este embutido pode ser definido como um produto crneo industrializado,

    elaborado de carne suna ou suna e bovina, toucinho, adicionado de ingredientes,

    embutido em envoltrios naturais ou artificiais, curado, defumado ou no, fermentado,

    maturado e dessecado. A presena de mofos caractersticos conseqncia natural do

    seu processo tecnolgico de fabricao. Deve conter obrigatoriamente um mnimo de

    60% de carne suna, alm de toucinho, sal, nitrito e/ou nitrato de sdio e/ou potssio

    (BRASIL, 2000).

    2.1.1 Padres de qualidade

    A percepo de qualidade de um alimento pelos consumidores resultado de

    uma complexa interao entre as caractersticas qumicas, fsicas, microbiolgicas e

    sensoriais, assim como sua interao com fatores subjetivos e culturais (DELLAGLIO;

    CASIRAGHI; POMPEI, 1996).

    Quanto ao padro de qualidade do salame tipo Italiano, a legislao brasileira

    define que este deve apresentar no mximo 0,90 de atividade de gua, conter no

  • 16

    mximo 35% de umidade, 32% de gordura e 4,0% de carboidrato e no mnimo 25% de

    protena. Os atributos sensoriais de textura, cor, sabor e odor devem ser caractersticos

    do produto (BRASIL, 2000). A legislao brasileira no especifica os limites de valores

    para pH e acidez.

    O salame faz parte de um grupo de produtos crneos muito heterogneos, com

    considerveis variaes nos nveis de ingredientes, teor de gordura, condies e

    velocidade de processo, entre outros (OLESEN; MEYER; STAHNKE, 2004).

    2.1.2 Caractersticas do processamento

    O salame um produto classificado como de umidade intermediria, podendo

    ser armazenado a temperatura ambiente. Em seu processamento aplica-se uma

    combinao de fatores que contribuem para a manuteno de sua qualidade

    microbiolgica e sensorial. Dentre esses fatores incluem-se o pH e a atividade de gua

    reduzidos, presena de microbiota competitiva (cultura starter), aditivos como o nitrito e

    nitrato de sdio e presena de cidos orgnicos, como o cido ltico (LEISTNER,

    2000).

    A adio intencional de cultura starter tem o propsito de melhorar sua

    estabilidade, aumentar a vida til por meio da inativao de microrganismos

    patognicos e diversificar os produtos pela obteno de novas caractersticas

    sensoriais (LCKE, 2000). Dentre os microrganismos atualmente utilizados como

    cultura starter destaca-se a utilizao conjunta de Staphylococcus xylosus e o

    Pediococcus pentosaceus. O S. xylosus DD-34 apresenta atividade anaerbia

    facultativa e temperatura tima de crescimento de 30C. responsvel pela formao

    de catalase, reduo de nitrato a nitrito, assim como pelos processos de liplise e

    protelise. O P. pentosaceus PCFF-1 tambm anaerbio facultativo, apresenta

    desenvolvimento timo a 35C e responsvel pela produo de cido ltico (CHR.

    HANSEN, 2008), o que contribui para aumentar a segurana dos embutidos crneos

    pela reduo do pH. O cido ltico coagula as protenas solveis da carne, reduz sua

    capacidade de reteno de gua e contribui com o processo de secagem (LCKE,

    2000), alm de colaborar com o sabor e aroma caractersticos deste produto (BACUS,

  • 17

    1986). Por sua vez, a atividade nitrato redutase das cepas de Staphylococcus tem

    papel significante na formao de xido ntrico para a formao de nitrosomioglobina

    (GTTERUP et al., 2008) e esses microrganismos tambm so responsveis pela

    formao de importantes compostos volteis nos embutidos (OLESEN; MEYER;

    STAHNKE, 2004). O S. xylosus, juntamente com S. carnosus, S. saprophyticus e

    Kocuria varians so as espcies de estafilococos coagulase negativa mais

    frequentemente utilizados como cultura starter comercial no processamento de

    embutido crneo fermentado, sendo o primeiro, uma das espcies mais proteolticas,

    com alta atividade nitrato redutase (BONOMO et al., 2009).

    A fermentao uma fase complexa do processo de elaborao dos salames,

    pois o momento em que ocorre a maioria das alteraes fsicas, bioqumicas e

    microbiolgicas (BERIAIN; PEA; BELLO, 1993). influenciada pelas caractersticas

    da matria-prima (BACUS, 1984) e do processo (RONCALS et al., 1991). Lizasco,

    Chasco e Beriain (1999) resumiram as transformaes nas seguintes etapas: alterao

    na microbiota inicial, decrscimo nos valores de pH, reduo do nitrato a nitrito para a

    formao de nitrosomioglobina, solubilizao e geleificao das protenas miofibrilares

    e sarcoplasmticas, protelise e liplise. O processo de cura, caracterizado pela

    reduo do nitrato a nitrito para formao de nitrosomioglobina, contribui com o

    desenvolvimento da textura, cor e sabor caractersticos do produto (OLESEN; MEYER;

    STAHNKE, 2004). A fermentao, associada com o uso de sais e produo de cido

    ltico, desnatura fraes de protenas sarcoplasmticas e desestabilizam as protenas

    miofibrilares, contribuindo com um importante aumento da firmeza do salame durante o

    processamento (GARCIA; GAGLEAZZI; SOBRAL, 2000).

    Aps a fermentao, inicia-se o processo de maturao e secagem, na qual o

    produto adquire consistncia firme e fatiabilidade (BUCKENHSKES, 1993). Nesta

    etapa, pode-se desenvolver na superfcie das peas de salame colnias brancas de

    bolores e leveduras que contribuem para as propriedades sensoriais desejveis ao

    produto (LCKE, 2000), sendo um aspecto que revela uma boa condio de secagem

    (GALLI, 1993).

    Com a diferenciao do processo produtivo, assim como a incorporao de

    culturas starter, pode ocorrer a formao de vrios compostos diferentes provenientes

  • 18

    do metabolismo microbiano (DELLAGLIO; CASIRAGHI; POMPEI, 1996) que podem ser

    responsveis por alteraes sensoriais. Portanto, a soma das alteraes

    microbiolgicas, bioqumicas, fsicas e sensoriais durante o processamento de salames,

    determina os parmetros de qualidade da cor, textura, vida til e sabor do produto final

    (KOTTKE et al., 1996).

    2.1.3 Composio em cidos graxos

    O processo oxidativo afeta particularmente os cidos insaturados linolico (18:2,

    n-6) e olico (18:1, n-9) dos lipdeos de embutidos crneos como o salame (CHASCO;

    BERIAIN; BELLO, 1993) na medida que so os principais cidos graxos insaturados,

    alm do cido araquidnico, encontrados em animais (DRANSFIELD, 2008). A ao

    das fosfolipases sobre os fosfolipdeos da membrana celular do msculo resulta em um

    significativo aumento do nmero de cido graxos insaturados livres no salame durante

    a maturao, principalmente os cidos linolico, olico e araquidnico (ZANARDI et al.,

    2004). Em produtos crneos com longo perodo de maturao, as fosfolipases tm

    grande atuao durante os primeiros cinco meses. No dcimo ms, a quantidade de

    cidos graxos livres gerados pela ao das fosfolipases diminui devido alta

    suscetibilidade desses compostos oxidao, havendo a formao de um grande

    nmero de substncias volteis e precursores de aromas. A temperatura de maturao,

    o teor de sal, o pH e o potencial redox do produto crneo durante o processamento

    influenciam a ao das enzimas lipolticas, podendo alterar as caractersticas sensoriais

    do produto final (CICHOSKI; TERRA, 2001).

    Na Tabela 1 observam-se as variaes encontradas nos teores de cidos graxos

    em diferentes embutidos crneos fermentados e secos. Os nveis de cidos graxos

    mono e poliinsaturados esto associados com a possvel ocorrncia de oxidao

    lipdica e rancidez (HADORN et al., 2008).

  • 19

    Tabela 1 Teor de cidos graxos (%) saturados (AGS), monoinsaturados (AGMI) e poliinsaturados (AGPI) observados em diferentes embutidos crneos fermentados e secos

    Produto % cidos graxos

    AGS AGMI AGPI

    Embutidos crneos fermentados e secos 40 45 15

    Embutidos crneos fermentados e secos 40 47 13

    Embutidos crneos fermentados e secos 47 46 7

    Salames sicilianos 37 55 8

    Salame tipo italiano 39 46 15

    Salame tipo italiano 40 47 13

    Salame Italiano padro 39 49 12

    Salame tipo Milano 36 47 17

    Fonte: Zanardi et al. (2004), Hadorn et al. (2008), Moretti et al. (2004), Baggio e Bragagnolo (2008), Herranz et al. (2008), Del Mobile et al. (2009). Referente ao total de lipdeos extrados das amostras.

    As diferenas observadas so, em geral, decorrentes do sistema de produo

    animal, alimentao, caractersticas genticas, idade, peso, entre outros. Esses fatores

    afetam a fisiologia e bioqumica de maturao dos tecidos utilizada para fabricar

    produtos a base de carne. No entanto, as principais diferenas na composio de

    cidos graxos influenciada pela composio de cidos graxos dos lipdeos presentes

    na alimentao do animal (HERRANZ et al., 2008), sendo que a composio de cidos

    graxos do produto obtido pode variar dependendo da regio em que foi produzido,

    assim como da formulao empregada.

    2.2 Prpolis

    Prpolis uma resina coletada por abelhas da espcie Apis mellifera de diversas

    partes de plantas como brotos, botes florais e exsudados resinosos (GHISALBERTI,

    1979). Tem mostrado diversas atividades biolgicas como atividade antimicrobiana,

    antiinflamatria, cicatrizante, anestsica, antitripanossomal (GHISALBERTI, 1979;

    BANKOVA; POPOV; MAREKOV, 1989; KHAYYAL; ELGHAZALY; ELKHATIB, 1993;

  • 20

    KUJUMGIEV et al., 1999; MARCUCCI et al., 2001; ALENCAR, 2002; MONTPIED et al.,

    2003; CUNHA et al., 2004), anticariognica (PARK et al., 1998; KOO et al., 1999;

    DUARTE et al., 2003), antiviral, antioxidante (BURDOCK, 1998; CHEN et al., 1996;

    ALENCAR, 2002; CHEN et al., 2003; KUMAZAWA; HAMASAKA; NAKAYAMA, 2004) e

    fitotxica (GHISALBERTI, 1979). Atribuem-se aos flavonides e cidos fenlicos,

    grande parte das atividades biolgicas constatadas para a prpolis (FUNARI; FERRO,

    2006).

    Recentemente, a prpolis brasileira foi classificada em 12 grupos, sendo que os

    grupos que apresentam melhor atividade antimicrobiana foram os grupos 3 (RS); 6

    (BA); 12 (MG) (PARK; ALENCAR; AGUIAR, 2002; ALENCAR, 2002). Os autores

    verificaram diferenas qualitativas e quantitativas na composio qumica destes grupos

    de prpolis pelas tcnicas de Cromatografia Lquida de Alta Eficincia e Cromatografia

    Gasosa com Espectrometria de Massas. As prpolis do grupo 3 mostraram a presena

    do ster do cido dimetil dialil cafico, o qual um composto altamente alergnico e

    comumente encontrado em prpolis de climas temperados. Prpolis do grupo 6

    apresentaram uma composio qumica distinta dos demais grupos, principalmente pela

    completa ausncia de flavonides. Entretanto, este foi o grupo que apresentou as

    maiores atividades contra os microrganismos Streptococcus mutans e Staphylococcus

    coagulase positiva. As prpolis do grupo 12 tambm apresentaram atividade

    antibacteriana e forte atividade antioxidante.

    2.3 Microencapsulao

    Microencapsulao a tecnologia de empacotamento em finas partculas

    polimricas aplicveis em slidos, gotculas de lquidos ou material gasoso, formando

    pequenas partculas denominadas microcpsulas, que podem liberar seu contedo sob

    velocidade e condies especficas (TODD, 1970).

    Microcpsulas podem ser descritas como embalagens extremamente pequenas,

    compostas de um polmero como material de parede e um material ativo chamado de

    ncleo. O ingrediente ativo pode ser um aditivo alimentcio, um medicamento ou outros

  • 21

    materiais. So geralmente empregadas para melhorar o desempenho do material ou

    criar novas aplicaes (ARSHADY, 1993).

    Os propsitos gerais da microencapsulao podem ser: fazer um lquido

    comportar-se como slido, separar materiais reativos, reduzir toxicidade do material

    ativo, controlar liberao do material, reduzir volatilidade ou flamabilidade de lquidos,

    atenuar o sabor de componentes amargos, aumentar a vida til, proteger contra luz,

    gua, calor (JACKSON; LEE, 1991), facilitar a manipulao do material encapsulado e

    promover a diluio homognea do material encapsulado em uma formulao

    alimentcia (SHAHIDI; HAN, 1993).

    Existem diversas tcnicas que podem ser utilizadas para a microencapsulao

    de ingredientes alimentcios, sendo que a seleo do mtodo depende da aplicao

    que ser dada a microcpsula, tamanho desejado, mecanismo de liberao e

    propriedades fsico-qumicas tanto do material ativo quanto do agente encapsulante

    (JACKSON; LEE, 1991). Dentre essas tcnicas, inclui-se o mtodo por spray drying e

    coacervao complexa.

    2.3.1 Microencapsulao por spray drying

    A produo de microcpsulas por atomizao, ou seja, pelo mtodo spray drying,

    a mais utilizada na indstria alimentcia (JACKSON; LEE, 1991). Oferece as

    vantagens de ser de baixo custo, haver grande diversidade e disponibilidade de

    equipamentos e permitir a utilizao de uma grande variedade de materiais de paredes,

    porm, a dispersibilidade das cpsulas pode ser difcil devido formao de partculas

    extremamente pequenas (BRANNON-PEPPAS, 1993).

    2.3.2 Microencapsulao por coacervao complexa

    A coacervao complexa um dos mtodos mais estudados, at por ser o mais

    antigo, e resulta da neutralizao mtua de dois colides carregados com cargas

    opostas em soluo aquosa (SOUZA, 2005). Uma das maiores barreiras para utilizao

    deste mtodo como conservar e comercializar essas cpsulas. Uma soluo que tem

  • 22

    sido bastante aplicada a desidratao do coacervato, normalmente por liofilizao

    (GOUIN et al., 2004).

    2.3.3 Agentes encapsulantes

    Diversos materiais podem ser utilizados como cobertura para as microcpsulas,

    entre elas as gomas, os carboidratos, as celuloses, os lipdeos, os materiais inorgnicos

    e as protenas (JACKSON; LEE, 1991).

    As caractersticas de liberao do material ativo microencapsulado variam de

    acordo com a natureza do agente encapsulante, sendo que normalmente ocorrem

    devido a mecanismos como a variao de temperatura e de pH, solubilidade do meio,

    biodegradao, difuso, ruptura mecnica, permeabilidade seletiva, gradiente de

    concentrao existente em relao cobertura, entre outros (BRANNON-PEPPAS,

    1993).

    2.4 Oxidao lipdica

    A oxidao lipdica uma das causas mais importantes de deteriorao durante

    o armazenamento de carnes e produtos crneos (LADIKOS; LOUGOVOIS, 1990;

    MORRISSEY, et al., 1998), depois da deteriorao microbiana, principalmente por sua

    complexidade e variabilidade. Apesar dos lipdeos serem importantes componentes dos

    produtos crneos, conferindo caractersticas desejveis de suculncia, sabor, aroma,

    valor nutricional e propriedades tecnolgicas, so facilmente oxidveis (OLIVO, 2006).

    Este processo envolve a degradao de cidos graxos insaturados em produtos

    secundrios como os aldedos, cetonas, alcois, cidos e hidrocarbonetos (HERAS et

    al., 2003; OLIVO, 2006), degrada vitaminas lipossolveis e cidos graxos essenciais e

    afeta atributos sensoriais como o sabor, a cor, a textura e o valor nutritivo

    (AGUIRREZBAL et al., 2000; CHIZZOLINI; NOVELLI; ZANARDI, 1998; OSAWA;

    FELCIO; GOLALVES, 2005).

    O excesso de oxidao pode atingir um nvel de rancidez que o alimento no

    mais aceito para o consumo humano, porm, mesmo antes desta condio ser atingida,

  • 23

    a oxidao lipdica pode formar molculas txicas com possveis danos para a sade

    humana (ZANARDI et al., 2004). Alguns produtos da oxidao lipdica e alguns xidos

    de colesterol em particular, so considerados agentes aterognicos e parecem ter

    propriedades mutagnicas, carcinognicas e citotxicas (CHIZZOLINI; NOVELLI;

    ZANARDI, 1998).

    2.4.1 Reao de oxidao

    Os lipdeos podem ser oxidados por reaes hidrolticas, enzimticas,

    fotoxidativas e autoxidativas, sendo esta ltima a principal (RAMALHO; JORGE, 2006).

    O processo de autoxidao inicia-se na ligao carbono-hidrognio adjacente

    dupla ligao da cadeia, podendo ser catalisado e influenciado por um grande nmero

    de fatores ambientais (umidade, calor, luz e oxignio), pela presena de metais (cobre,

    ferro e mangans) e de enzimas (ADAMS, 1999) e pelo grau de insaturao dos cidos

    graxos do produto (DECKER et al., 1993). O mecanismo de oxidao lipdica

    geralmente descrito como uma reao em cadeia constituda por trs etapas distintas:

    iniciao, propagao e terminao (COSGROVE; CHURCH; PRYOR, 1987), onde

    ocorre formao de radicais livres que atuam como propagadores da reao, resultando

    em um processo autocataltico. Dois radicais combinam-se formando produtos estveis

    (RAMALHO; JORGE, 2006).

    A extenso do processo de oxidao lipdica pode ser afetada por inmeros

    fatores relacionados com as condies e tempo de armazenamento, a tecnologia de

    processamento (moagem, mistura, aquecimento, entre outros), os aditivos utilizados e o

    contedo de cidos graxos insaturados da frao lipdica (CHIZZOLINI; NOVELLI;

    ZANARDI, 1998; SUMMO; CAPONIO; PASQUALONE, 2006), este ltimo sendo de

    mais de 60% do total de cidos graxos em embutidos crneos fermentados e secos,

    como o salame. A fase mais significativa da oxidao lipdica ocorre durante o

    manuseio, processamento, armazenamento e cozimentos dos produtos (MORRISSEY

    et al., 1998).

    Durante o armazenamento, uma das principais alteraes que ocorrem na frao

    lipdica a hidrlise dos triglicerdeos catalisada por lipases, onde se formam cidos

  • 24

    graxos livres, que so muito importantes para as caractersticas de sabor (LIZARRAGA;

    MELGAR; BELLO, 1989). Esta reao tambm conhecida como rancidez hidroltica, a

    qual tambm pode ser responsvel pela formao de odor desagradvel. Os cidos

    graxos livres de menor peso molecular apresentam sabor e odor desagradveis (GAVA,

    1978). A liplise tambm aumenta o nmero de cidos graxos insaturados livres no

    salame, principalmente o cido linolico, olico e araquidnico (ZANARDI et al., 2004),

    tornando o produto mais suscetvel oxidao lipdica. Alguns autores sugerem que a

    liplise ocorre principalmente em funo das lpases contidas na carne (GARCIA et al.,

    1992).

    2.4.2 Quantificao da oxidao lipdica

    No h nenhum mtodo uniforme para avaliar todas as modificaes da

    oxidao em um alimento, entretanto existem metodologias para monitorar o

    desenvolvimento da oxidao lipdica nos mesmos. Entre as metodologias analticas

    disponveis para acompanhar e compreender o processo de oxidao lipdica em

    alimentos, destaca-se a quantificao das substncias reativas ao cido 2-tiobarbitrico

    (TBARS). O mtodo permite quantificar o grau de oxidao lipdica do alimento

    baseado na reao entre o malonaldedo (MA) e o cido 2-tiobarbitrico (JO; AHN,

    1998), formando um complexo cromognio (Figura 1).

    Fonte: Osawa; Felcio; Gonalves, 2005 Figura 1 Reao entre o cido 2-tiobarbitrico (TBA) e o malonaldedo formando o

    composto colorido quantificado espectrofotometricamente a 532 nm

    As substncias reativas ao cido 2-tiobarbitrico so preferencialmente formadas

    a partir da clivagem de cidos graxos com duplas ligaes. Os hidroperxidos formados

    podem originar compostos contendo grupamentos carbonlicos, sendo o malonaldedo o

  • 25

    principal alcadienal relacionado com o processo de oxidao lipdica (TARLADGIS;

    WATTS; YOUNATHAN, 1960).

    O malonaldedo um dialdedo de trs carbonos com grupos carbonil nas

    posies C-1 e C-3. Pode ser encontrado em diversos alimentos, sobretudo nos

    gordurosos (ULU, 2004). Este composto formado a partir da decomposio de

    hidroperxidos, da oxidao secundria de compostos carbonlicos e da degradao

    oxidativa de aminocidos ferro-dependentes (FERNANDEZ; PEREZ-ALVAREZ;

    FERNANDEZ-LOPEZ, 1997).

    2.5 Ao dos antioxidantes

    O emprego de antioxidantes em embutidos crneos como o salame torna-se

    importante para amenizar os efeitos indesejveis da oxidao lipdica e,

    consequentemente, auxiliar na garantia da qualidade e na segurana alimentar durante

    a vida til do produto (BERNARDI; OETTERER; CONTRERAS-CASTILLO, 2008;

    CHIZZOLINI; NOVELLI; ZANARDI, 1998).

    Os antioxidantes so classificados em primrios e secundrios, de acordo com a

    sua forma de ao protetora. Os primrios atuam como redutores, ou seja, tem a

    capacidade de doarem tomos de hidrognio, inibindo radicais livres. Por sua vez, os

    antioxidantes secundrios, apresentam capacidade quelante sobre os metais

    catalticos, impedindo estes elementos pr-oxidantes de reagirem (OLIVO, 2006).

    2.5.1 Antioxidantes sintticos e sua potencial toxicidade

    A legislao brasileira atribui a funo, os aditivos e seus limites mximos de uso

    para produtos secos, curados e/ou maturados, embutidos ou no, como o caso do

    salame. Dentre esses aditivos, inclui aqueles que apresentam ao antioxidante. Na

    Tabela 2, encontram-se o nmero INS, o nome do antioxidante e sua concentrao

    mxima permitida.

  • 26

    Tabela 2 Antioxidantes comerciais e seus limites mximos (g/100g) permitidos para uso em produtos crneos secos, curados e/ou defumados, embutidos ou no

    INS Antioxidante Concentrao mxima (g/100g)

    300 cido ascrbico (L-) q.s.

    301 Ascorbato de sdio q.s.

    302 Ascorbato de clcio q.s.

    303 Ascorbato de potssio q.s.

    310 Galato de propila (PG) 0,013,4

    315 cido isoascrbico q.s.

    316 Eritorbato de sdio, isoascorbato de sdio q.s.

    320 Butilhidroxianisol (BHA) 0,013,4

    321 Butilhidroxitolueno (BHT) 0,013,4

    Fonte: Brasil (2006). INS: nmero de identificao no Sistema Internacional de Numerao (International Numbering Systems); q.s.: quantidade suficiente para o efeito desejado; 3Ss ou combinados sobre base gordurosa; 4Somente para carne desidratada.

    Observa-se que apenas os antioxidantes PG, BHA e BHT apresentam restrio

    quanto ao limite mximo permitido para emprego em embutidos crneos como o

    salame. Estudos tm demonstrado a possibilidade de esses antioxidantes sintticos

    apresentarem algum efeito txico (PIEDADE, 2007) e atividade carcinognica

    (BOZKURT, 2006). O eritorbato de sdio faz parte da composio bsica de salame

    tipo Italiano, dentre outros produtos crneos (BAGGIO; BRAGAGNOLO, 2008) e

    atualmente no apresenta restrio quanto ao seu emprego.

    Apesar destes antioxidantes serem empregados em embutidos crneos como o

    salame, questes relacionadas com sua segurana em conjunto com a preferncia dos

    consumidores, tem contribudo com o aumento do interesse em novas pesquisas com

    antioxidantes naturais.

    2.5.2 Antioxidantes naturais

    O mercado de aditivos naturais encontra-se em expanso estimulado pela

    preferncia dos consumidores (RVILLION; BRANDELLI; AYUB, 2000). Nos ltimos

  • 27

    anos, os consumidores tm aumentado a demanda por alimentos seguros e esto

    especialmente preocupados com os efeitos na sade de vrios aditivos artificiais.

    Porm, os aditivos so muito importantes na manuteno da qualidade dos alimentos,

    principalmente por inibirem o crescimento de diversos microrganismos, tanto

    deteriorantes quanto patognicos. Assim, o estudo de novos aditivos naturais e no

    txicos so necessrios no intuito de substituir os aditivos artificiais (BERNARDI;

    OETTERER; CONTRERAS-CASTILLO, 2008; VICENTINI; CASTRO; CEREDA, 1999).

    Antioxidantes naturais podem apresentar modos de ao que ainda no foram

    totalmente esclarecidos, mas a sua principal funo j foi identificada. Geralmente eles

    atuam como aceptores de radicais livres (GHIRETTI et al., 1997). Alm disso, a

    atividade antioxidante dos fenlicos atribuda a sua capacidade de quelar metais,

    inibir a lipoxigenase e sequestrar radicais livres (DECKER, 1997).

    Diversos trabalhos indicam a eficincia de antioxidantes naturais em embutidos

    crneos, como no caso de extrato de marcela (Achyrocline satureioides)

    (CAMPAGNOL, 2007), alecrim (CORONADO et al., 2002; WASZKOWIAK; DOLATA,

    2007; ESTVEZ; CAVA, 2006; NASSU et al., 2003), pprica, alho (AGUIRREZBAL et

    al., 2000), ch verde (BOZKURT, 2006), extrato de prpolis aquoso e alcolico (HAN;

    PARK, 1996a, 1996b), entre outros, sendo que neste ltimo no se verificou as

    consequncias nos parmetros de qualidade dos embutidos, principalmente o sensorial,

    o que de grande relevncia j que a prpolis apresenta sabor acentuado.

    Bozkurt (2006) verificou que o extrato de ch verde e leo de Thymbra spicata

    foram mais efetivos na preveno de oxidao em embutido fermentado turco que o

    BHT. Alm disso, o uso desses antioxidantes no interferiu no pH e ndices de cor,

    diminuiu a formao de aminas biognicas durante o processo de maturao e

    secagem, alm de serem anticarcinognicos, antimutagnicos, antivirais e

    antibacterianos.

    Extrato alcolico 0,4%, extrato aquoso 0,6% e resduo de extrato seco 0,8% de

    prpolis tambm foram eficientes no controle da oxidao lipdica de linguia suna

    armazenada por 4 semanas a 5C, com resultados de TBARS mdios de 0,35 mg

    MDA/kg, inferior a 0,50 mg MDA/kg obtido para amostras controle e com antioxidante

    sinttico (HAN; PARK, 2002). Porm, os autores no realizaram outras anlises para

  • 28

    verificar alteraes nos demais atributos de qualidade do produto, principalmente no

    que diz respeito aos atributos sensoriais, j que a prpolis empregada na forma de

    extrato no mascara o seu sabor acentuado.

    Na seleo de antioxidantes so desejveis as seguintes propriedades: eficcia

    em baixas concentraes; ausncia de efeitos sobre a cor, o odor e o sabor dos

    produtos; facilidade de aplicao; estabilidade nas condies de processamento e

    armazenamento e seus produtos de oxidao no podem ser txicos (RAMALHO;

    JORGE, 2006).

    Em conjunto com a preferncia do consumidor por produtos funcionais, o

    emprego de antioxidantes naturais em alimentos tem se tornado importante na indstria

    de alimentos.

    2.6 Alterao da cor em salames

    A cor provavelmente o atributo de qualidade que mais contribui para o

    consumidor decidir pela aquisio de um determinado produto. A cor da carne depende

    de diversas condies internas e externas e principalmente da quantidade de

    mioglobina presente, principal protena responsvel pela cor da carne, a qual varia de

    teor para cada espcie e msculo (MANCINI; HUNT, 2005). A molcula de mioglobina

    consiste de um anel porfirnico unido a uma protena globulina. No centro do anel existe

    um tomo de ferro, sendo que o seu estado qumico influi diretamente na tonalidade de

    cor percebida pela viso humana. O ferro pode se apresentar na forma oxidada ou

    reduzida (OLIVO, 2006).

    Medies instrumentais dos parmetros L* (luminosidade) e a* (verde a

    vermelho) so simples e podem facilmente ser empregadas para a verificao da cor de

    carnes e produtos crneos. Por outro lado, as cores representadas por b* (azul a

    amarelo) no so tpicas ou intuitivamente relacionadas com a carne. Com isso, torna-

    se difcil correlacionar com resultados sensoriais, j que para os provadores, mesmo

    treinados, difcil um completo entendimento do descritor b* (MANCINI; HUNT, 2005).

    Durante o processo de cura dos salames pela ao de sais como o nitrito e

    nitrato de sdio, o xido ntrico formado reage com a mioglobina resultando no

  • 29

    composto nitrosomioglobina, um pigmento vermelho caracterstico de produtos curados

    crus (GONALVES, 2008).

    Muitos autores acreditam que existe interdependncia entre a oxidao lipdica e

    a oxidao da cor. A oxidao do pigmento pode catalisar a oxidao lipdica, a qual

    tambm pode ser induzida por outros componentes que possuem ferro e pelo ferro

    livre. Por outro lado, os radicais livres produzidos durante a oxidao lipdica podem

    oxidar o tomo de ferro ou desnaturar a molcula de mioglobina, alterando

    negativamente a cor dos produtos (MONAHAN et al., 1993). A severidade da

    degradao da cor e de lipdeos provavelmente dependente das condies do

    ambiente de armazenamento, especialmente da quantidade de oxignio residual nas

    embalagens. Correlao significativa foi observada entre os parmetros de oxidao

    lipdica e da cor em embutidos embalados a vcuo (ZANARDI et al., 2002).

  • 30

  • 31

    3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 Material

    As matrias-primas crneas (paleta suna, acm bovino e toucinho) foram

    adquiridas no comrcio local da cidade de Piracicaba - SP. Os ingredientes no-

    crneos (nitrito e nitrato de sdio, dextrose, tripolifosfato de sdio, glutamato

    monossdico, pimenta branca moda, coentro e alho em p), alm do eritorbato de

    sdio aplicado em um dos tratamentos, foram fornecidos pela empresa Ibrac (Rio

    Claro - SP) e a cultura starter pela empresa Chr. Hansen (Valinhos - SP). Outros

    insumos como as tripas de colgeno para embutimento dos salames e a embalagem

    plstica para acondicionamento dos produtos prontos foram doados pelas empresas

    Viscofan (SO PAULO - SP) e Cryovac (SO PAULO - SP), respectivamente.

    A prpolis nas formas livre e microencapsulada foram elaboradas e fornecidas

    pelo Laboratrio de Produtos Funcionais (LAPROF) da Faculdade de Zootecnia e

    Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de So Paulo (USP), campus de

    Pirassununga/SP. Estas amostras de prpolis foram preparadas a partir de prpolis

    verde (tipo 12) coletadas na cidade de Mogi Guau - SP. A atividade antioxidante do

    material, tanto na forma livre quanto microencapsulada por spray drying e coacervao

    completa, foi confirmada pelo laboratrio em trabalho anterior a este, porm, ainda no

    publicado.

    3.1.1 Ensaio 1

    Para a elaborao dos salames do ensaio 1 preparou-se um lote de 31,15 kg de

    produto, conforme formulao da Tabela 3. A porcentagem dos ingredientes no-

    crneos foi calculada com base na matria-prima crnea utilizada, considerada como

    100%. A batelada produzida foi divida em 7 tratamentos, de acordo com o tipo e

    quantidade de microcpsula de prpolis a ser testada (Tabela 4).

  • 32

    Tabela 3 Formulao padro dos salames do ensaio 1 Matrias-primas e Ingredientes %

    Matria-prima crnea

    Paleta suna 60

    Acm bovino 20

    Toucinho 20

    Ingredientes no-crneos

    Nitrato de sdio 0,015

    Nitrito de sdio 0,010

    Sal refinado 2,500

    Dextrose 0,750

    Tripolifosfato de sdio 0,300

    Glutamato monossdico 0,100

    Pimenta branca moda 0,200

    Coentro 0,100

    Alho em p 0,100

    Cultura starter (Bactoferm F-1)* 0,0125

    gua mineral 0,750

    *Composta por Staphylococcus xylosus DD-34 e Pediococcus pentosaceus PCFF-1 (Contagem total de clulas: >3,5 x 1010 UFC/g).

    Tabela 4 Tratamentos controle e com microcpsulas de prpolis com variao na concentrao e agente encapsulante empregados nos salames do ensaio 1

    Tratamento %

    Controle1 0

    Microcpsula de prpolis com amido OSA MAS 0,10

    Microcpsula de prpolis com amido OSA MAS 0,15

    Microcpsula de prpolis com amido OSA MAS 0,20

    Microcpsula de prpolis com goma arbica MGS 0,15

    Microcpsula de prpolis com goma arbica MGS 0,25

    Microcpsula de prpolis com goma arbica MGS 0,40 1Ausente de prpolis e antioxidante sinttico comercial; 2Contm 9,55% de slidos de prpolis.

  • 33

    O ensaio 1 compreendeu apenas um processamento preliminar onde se utilizou

    as microcpsulas de prpolis elaboradas pela tcnica de spray drying devido a maior

    facilidade de preparao e menor custo para sua elaborao, alm de se tratar apenas

    de um processamento para avaliar a melhor concentrao a ser empregada nos

    ensaios posteriores. As microcpsulas foram preparadas na proporo de 1:6 com

    relao ao material encapsulante, ou seja, 1 parte de prpolis para 6 partes de soluo

    30% do material encapsulante (amido OSA ou goma arbica).

    3.1.2 Ensaio 2

    Para o processamento dos salames do ensaio 2 e suas respectivas anlises, o

    qual refere-se aos resultados obtidos de trs processamentos realizados com a mesma

    formulao, parmetros de processo e anlises, preparou-se um lote de 54 kg de

    produto, conforme formulao da Tabela 5. Os ingredientes no-crneos foram

    calculados com base na matria-prima crnea utilizada, a qual foi considerada como

    100%. A formulao foi alterada com relao ao ensaio 1, pois se optou por adicionar

    novos ingredientes. A batelada produzida foi divida em 5 tratamentos de acordo com o

    tipo de microcpsula de prpolis, os quais foram divididos em dois grupos quanto a

    forma de microencapsulao da prpolis (Tabela 6).

    No ensaio 2, portanto, empregaram-se os diferentes tipos de microcpsulas,

    tanto quanto a forma de microencapsulao quanto ao material encapsulante (Figura

    2). Para efeitos de comparao dos tratamentos, os salames foram divididos em dois

    conjuntos, aqueles com microcpsulas de prpolis produzidas por meio da tcnica de

    spray drying (MAS e MGS) e outro pela tcnica de coacervao complexa com

    liofilizao (MCC), sendo que nos dois conjuntos os salames com eritorbato de sdio

    (ES) e com prpolis livre (PL) esto inseridos.

    Para a determinao da quantidade a ser empregada de cada microcpsula,

    teve-se como referncia os resultados obtidos no ensaio 1. A quantidade adicionada de

    prpolis em cada tratamento, tanto a livre como a microencapsulada, foi calculada com

    base na concentrao de slidos de prpolis presente em cada microcpsula, sendo

  • 34

    iguais para todos os tratamentos com prpolis. O eritorbato de sdio foi escolhido como

    antioxidante sinttico devido ao seu atual emprego na produo de salames.

    Tabela 5 Formulao padro do salame tipo Italiano do ensaio 2 Ingredientes %

    Matria-prima crnea

    Paleta suna 60

    Acm bovino 20

    Toucinho 20

    Ingredientes no-crneos

    Nitrato de sdio 0,0400

    Nitrito de sdio 0,0100

    Sal refinado 2,5000

    Dextrose 0,7500

    Tripolifosfato de sdio 0,3000

    Glutamato monossdico 0,1000

    Pimenta branca moda 0,2500

    Coentro 0,1000

    Alho em p 0,2000

    Noz moscada 0,0500

    Aroma de fumaa 0,0300

    Cultura starter (Bactoferm F-1)* 0,0125

    gua mineral 0,7500

    *Composta por Staphylococcus xylosus DD-34 e Pediococcus pentosaceus PCFF-1 (Contagem total de clulas: >3,5 x 1010 UFC/g).

  • 35

    Tabela 6 Tratamentos e concentraes (%) utilizados nos salames tipo Italiano do ensaio 2

    Grupos Tratamentos % Sigla

    Spray drying Eritorbato de sdio1 0,050 ES

    Spray drying Prpolis livre2 0,014 PL

    Spray drying Microcpsula de prpolis com amido OSA3 0,150 MAS

    Spray drying Microcpsula de prpolis com goma arbica3 0,150 MGS

    Coacervao Eritorbato de sdio1 0,050 ES

    Coacervao Prpolis livre2 0,014 PL

    Coacervao Microcpsula de prpolis com pectina e protena de soja4 0,229 MCC 1Antioxidante sinttico usado comercialmente na produo de salames; 2Extrato de prpolis desidratado em spray dryer e dissolvido em 0,1% de propileno glicol; 3Preparada pela tcnica de spray drying, contendo 9,55% de slidos de prpolis; 4Preparada pela tcnica de coacervao complexa, seguida de liofilizao, contendo 6,27% de slidos de prpolis.

    PL: prpolis livre desidratada em spray dryer; MAS: microcpsula de prpolis com amido OSA (spray drying); MGS: microcpsula de prpolis com goma arbica (spray drying); MCC: microcpsula de prpolis com pectina e protena de soja (coacervao complexa e liofilizao). Figura 2 Ilustrao das formas de prpolis utilizadas na diferenciao dos tratamentos

    dos salames do ensaio 2

    3.2 Mtodos

    3.2.1 Processamento dos salames

    As carnes bovina e suna, a uma temperatura de -4 a 0C, foram modas

    utilizando-se discos n5 (5 mm) e n10 (10 mm) respectivamente, em moedor da marca

    Hobart (modelo HB22-2). O toucinho, ainda congelado a uma temperatura de -18C, foi

    modo em disco n8 (8 mm).

  • 36

    A cultura starter foi hidratada 30 minutos antes de sua incorporao na massa,

    adicionando-se a gua (temperatura ambiente) e a dextrose da formulao.

    Na misturadeira da marca Beccaro (modelo MB-25), adicionaram-se

    primeiramente as carnes suna e bovina, seguido do toucinho. Aps homogeneizao

    das matrias-primas crneas, adicionaram-se os ingredientes no-crneos, sendo que

    a cultura starter pr-hidratada e o antioxidante (sinttico ou prpolis, conforme o

    tratamento) foram, respectivamente, os ltimos a serem adicionados. Aps

    homogeneizao completa, coletou-se uma amostra de cada tratamento para

    realizao das anlises da massa conforme descritas nos itens 3.2.3 ao 3.2.8, sendo

    que a amostra da anlise microbiolgica (item 3.2.8) foi coletada aps o embutimento.

    O embutimento da massa foi realizado em uma embutideira manual em tripas de

    colgeno reconstitudo (5,5 cm de dimetro e 25 cm de comprimento) hidratadas em

    soluo salina a 15% (150 g de sal refinado para 1 L de gua) por 15 minutos antes de

    sua utilizao. A diferenciao dos tratamentos foi feita por linhas coloridas utilizadas

    para fechar as extremidades do salame aps o embutimento.

    Posteriormente ao embutimento, as peas de salame foram dispostas

    aleatoriamente em carrinho de ao inoxidvel e levadas cmara com temperatura e

    umidade controladas (Figura 3A). Antes de iniciar o processo de fermentao foi feito a

    asperso de uma mistura da cultura starter, dextrose e gua nas superfcies do salame

    visando prevenir a multiplicao de microrganismos indesejveis, conforme indicado por

    Cavenaghi1 (informao verbal).

    Durante a fermentao, empregou-se temperatura entre 23 e 25C e umidade

    relativa entre 88 e 90%. Aps o processo fermentativo (Figura 3B), determinado quando

    as peas de salame atingissem valores de pH entre 5,0 e 5,2, a temperatura foi

    reduzida at uma faixa entre 15 e 17C e a umidade foi reduzida entre 1 e 2% ao dia,

    at atingir 75%, permanecendo com este parmetro at o final do processo de secagem

    (Figura 3C). A umidade relativa do ambiente interno foi mantida com o auxlio de um

    umidificador acoplado cmara, com exceo do processo fermentativo, onde a

    umidade do produto foi suficiente para manter a umidade relativa do ambiente. Todo o

    1 CAVENAGHI, A.D. Universidade da Grande Dourados.

  • 37

    processo de fermentao e secagem das peas de salame conduzidos na cmara foi

    realizado ao abrigo da luz.

    Figura 3 Ilustrao das peas de salame antes da fermentao (A), aps a

    fermentao (B) e ao final do processo de secagem (C), onde se observa a presena de colnias brancas de fungos na superfcie das peas

    O controle dos parmetros de umidade relativa e temperatura foram conduzidos

    atravs de painel eletrnico do prprio equipamento sendo que os valores indicados

    neste painel foram acompanhados constantemente pelas medidas obtidas por um

    termmetro de bulbo seco e bulbo mido presente no interior da cmara.

    Com a finalizao do processo de secagem, o qual foi determinado aps 30 dias

    para o ensaio 1 e 32 dias e atividade de gua inferior a 0,90 para o ensaio 2, retiraram-

    se manualmente as tripas e os salames foram acondicionados individualmente em

    embalagem plstica a vcuo (Figura 4) e armazenados ao abrigo da luz e

    temperatura ambiente mdia de 25C para a realizao das anlises de vida til. A

    embalagem plstica utilizada para o acondicionamento dos salames se comps de uma

    estrutura multicamadas de etileno-acetato de vinila (EVA), com permeabilidade mxima

    ao oxignio de 30 cm/mdia e permeabilidade mxima ao vapor de gua de 10 g

    gua/mdia (CRYOVAC, 2007).

  • 38

    Figura 4 Amostras de salame tipo Italiano obtidos ao final do processamento do

    ensaio 2, embalados a vcuo e identificados individualmente

    3.2.2 Avaliao da perda de peso

    Com a finalidade de acompanhar a perda de peso das peas de salame durante

    o processo de secagem do ensaio 2, 3 peas aleatrias de cada tratamento obtidas de

    3 locais diferentes do interior da cmara de secagem (frontal, lateral direita e lateral

    esquerda) foram identificadas individualmente com o auxlio de anilhas numeradas e

    pesadas diariamente at o final do processamento em balana semi-analtica (marca

    Marte modelo AL500C).

    Para o clculo da porcentagem de perda de peso diria, empregaram-se os

    clculos mostrados nas seguintes equaes:

    Onde:

    %Px = porcentagem do peso total restante nas peas no dia x, sendo que %P1

    corresponde ao primeiro dia de secagem, onde as peas apresentavam o peso

    completo, ou seja, 100%;

    mPx = mdia do peso de 3 peas do mesmo tratamento no dia x;

    %Px-1 = porcentagem do peso total restante nas peas no dia (x-1), ou seja,

    porcentagem obtida no dia anterior;

  • 39

    mPx-1 = mdia do peso de 3 peas do mesmo tratamento obtida no dia x-1, ou seja,

    mdia dos pesos obtida no dia anterior;

    %PPx = porcentagem de peso perdida por cada tratamento no dia x com relao ao

    incio do processamento.

    3.2.3 Determinao da oxidao lipdica

    Com a finalidade de mensurar a oxidao lipdica nos diferentes tratamentos de

    salame, empregou-se o mtodo de quantificao das substncias reativas ao cido 2-

    tiobarbitrico (TBARS), segundo metodologia proposta por BRUNA et al. (2001) e HOZ

    et al. (2004), com algumas adaptaes.

    Os aldedos foram extrados preparando-se um extrato cido-aquoso,

    homogeneizado por 3 minutos em Ultra-Turrax, composto por 5 g de amostra triturada,

    15 mL de cido perclrico (HClO4) a 0,38 M e 0,5 mL de soluo etanlica do

    antioxidante butil hidroxi tolueno - BHT (C15H24O) a 0,19 M para evitar a oxidao

    durante a anlise. O homogenato foi centrifugado a 3000 g ( 4850 rpm) por 5 minutos

    e filtrado em Whatman n 54. Uma alquota de 5 mL do extrato filtrado foi adicionado de

    5 mL de soluo de cido 2-tiobarbitrico TBA (C4H4N2O2S) a 0,02 M e aquecido em

    banho-maria por 30 minutos a 100C. Aps resfriamento, a mistura foi centrifugada

    novamente a 3000 g ( 4850 rpm) por 15 minutos. Durante o aquecimento ocorreu a

    formao do complexo colorido, cuja absorbncia foi mensurada em espectrofotmetro

    Shimadzu (modelo UV-Vis mini 1240), no comprimento de onda de 532 nm.

    Para quantificar o complexo colorido formado, fez-se necessria a elaborao de

    uma curva padro, onde se utilizou o composto padro 1,1,3,3 tetraetoxipropano - TEP

    ([C2H5O2]2CHCH2CH[OC2H5]2) cuja hidrlise cida gera o malonaldedo na proporo

    de 1:1 mol. A concentrao de TEP (em mol/L) de cada ponto da curva foi calculada

    de acordo com a massa inicial de TEP da soluo inicial. Os resultados obtidos com

    diferentes concentraes de TEP (0,05 a 2,9 mol/L) foram plotados em grfico de

    disperso, com regresso linear, obtendo-se a equao de uma reta (com R > 0,99). A

    equao obtida foi utilizada na obteno dos valores das substncias reativas ao cido

  • 40

    2-tiobarbitrico (TBARS) sendo que os resultados obtidos foram expressos em mg de

    malonaldedo por kg de amostra (mg MDA/kg).

    Para a obteno desses resultados, tambm se fez necessrio a quantificao

    do teor de umidade das amostras (% gua), o qual foi determinado por mtodo

    gravimtrico com dessecao em estufa a 105C, at peso constante

    (PREGNOLATTO; PREGNOLATTO, 1985).

    Esta anlise de quantificao da oxidao lipdica das amostras de salame foi

    realizada no ensaio 1, em duplicata, no 5, 9, 19, 26 e 30 dia do processo de

    secagem dos salames na cmara. J para o ensaio 2, o valor de TBARS foi

    determinado em triplicata no tempo 0 como caracterizao da massa e nos salames

    com 1, 30, 60 e 90 dias de armazenamento. A amostragem para cada tratamento foi

    composta de 3 salames escolhidos aleatoriamente, triturados e homogeneizados,

    exceto no tempo 0, no qual uma amostra de aproximadamente 150 g foi coletada aps

    homogeneizao completa na misturadeira.

    3.2.4 Determinao da acidez em cido olico

    A anlise de determinao de acidez em cido olico (g cido olico/100g

    gordura) foi conduzida segundo metodologia proposta pelo Ministrio da Agricultura e

    do Abastecimento (BRASIL, 1999) para produtos crneos e seus derivados, a qual

    fundamenta-se na neutralizao dos ons de hidrognio livre at o ponto de

    equivalncia, utilizando-se hidrxido de sdio na presena do indicador fenolftalena. A

    quantificao de acidez em cido olico nos salames foi realizada para acompanhar o

    processo de formao de cidos graxos livres susceptveis oxidao lipdica.

    Nesta anlise, 100 g de amostra triturada foi homogeneizada com 250 mL de

    clorofrmio (CHCl3 p.a.) por 2 a 3 minutos em triturador industrial (marca METVISA) e o

    extrato obtido foi imediatamente filtrado atravs de papel filtro qualitativo pregueado

    contendo cerca de 6 g de sulfato de sdio anidro (Na2SO4 p.a.). Um volume de 25 mL

    deste extrato foi adicionado de 25 mL de soluo 95% (v/v) de lcool etlico (C2H5OH)

    neutralizado (pH 7,0) e de 5 gotas de soluo alcolica de fenolftalena (C20H14O4) a 1%

    e titulado com soluo padronizada de hidrxido de sdio (NaOH) 0,1 N. Para a

  • 41

    determinao do peso da alquota tomada, 25 mL do extrato foi transferido em placa de

    petri previamente tarada, e ento o solvente foi evaporado em banho-maria a 60C por

    15 minutos e posteriormente foi seco em estufa a 105C por um perodo de 30 minutos,

    sendo que aps resfriamento em dessecador, obteve-se o peso da alquota tomada.

    Para os clculos de acidez utilizou-se a seguinte equao:

    Onde:

    V = volume (mL) de soluo de hidrxido de sdio gastos na titulao da amostra;

    V = volume (mL) de soluo de hidrxido de sdio gastos na titulao do branco;

    0,28245 = fator de converso do cido olico;

    N = normalidade padro da soluo de hidrxido de sdio;

    p = massa (g) da amostra da alquota tomada (25 mL) aps secagem em estufa.

    A determinao do teor de acidez em cido olico foi realizada na massa (tempo

    0) e no salame pronto (tempo 30), em duplicata, no caso do ensaio 1, e nos tempos 0,

    1, 30, 60 e 90 dias, em triplicata, no ensaio 2, sendo que o tempo 0 foi considerado

    apenas para caracterizao da massa. Para isso, utilizou-se uma amostragem de 3

    salames de cada tratamento, escolhidos aleatoriamente, triturados e homogeneizados,

    exceto a massa (tempo 0), no qual uma amostra de aproximadamente 150 g foi

    coletada aps homogeneizao completa na misturadeira.

    3.2.5 Avaliao do pH

    As medies de pH foram realizadas utilizando-se um eletrodo de penetrao de

    corpo de vidro (Figura 5). O aparelho utilizado foi um potencimetro de puno da

    marca Oakton (pH 300 - srie 35618), com compensao de temperatura, calibrado

    com soluo tampo de pH 4,0 e 7,0.

  • 42

    Figura 5 Ilustrao das medies de pH nas amostras de salame

    No ensaio 1, as medidas de pH foram realizadas nos dias 1, 2, 5, 9, 19, 26 e 30

    do processamento dos salames, com 2 medies em 2 peas diferentes para cada

    tratamento, escolhidas aleatoriamente, totalizando 9 medies para cada ponto de

    anlise. J no ensaio 2, as medies foram realizadas na massa para efeito de

    caracterizao e no fim da fermentao (tempo 0) e nos salames prontos com 1, 30, 60

    e 90 dias de armazenamento, com 3 medies em 3 peas diferentes escolhidas

    aleatoriamente, totalizando 9 medies para cada ponto de anlise, exceto a massa,

    cujo pH foi mensurado em 9 pontos distintos logo aps homogeneizao em

    misturadeira.

    3.2.6 Determinao da atividade de gua

    A atividade de gua foi determinada por medida direta utilizando-se o analisador

    Aqualab CX 2T (marca Decagon Devices Inc.) operando-se a temperatura de 25,0C

    0,3. Para isso, fatias de aproximadamente 3 mm de espessura, sem as bordas e da

    parte central das peas de salames, foram dispostas em cpsulas prprias para a

    anlise (Figura 6), com exceo da massa que foi distribuda no fundo da cpsula com

    o auxlio de uma esptula.

  • 43

    Figura 6 Cpsula com amostra de salame utilizada para a determinao direta da

    atividade de gua

    Para o ensaio 1, a atividade de gua foi determinada em duplicata, apenas para

    determinar o fim do processo de secagem. J para o ensaio 2, procedeu-se a anlise

    no tempo 0 como caracterizao da massa e do salame com 1, 30, 60 e 90 dias de

    armazenamento, com uma medio para cada salame, sendo 3 salames de cada

    tratamento escolhidos aleatoriamente, totalizando assim 3 medies por tratamento.

    3.2.7 Parmetros da cor instrumental

    Com a finalidade de verificar as alteraes de cor no salame em funo da

    aplicao dos tratamentos escolhidos, realizou-se medidas fsicas dos parmetros L*

    (luminosidade), a* (intensidade de vermelho/verde) e b* (intensidade de amarelo/azul)

    do sistema CIELab, com fonte iluminante D65 e calibrado com porcelana padro (Y =

    93,7, x = 0,3160 e y = 0,3323) (INTERNATIONAL COMMISSION ON ILLUMINATION,

    1978). Para esta medida fsica da cor, utilizou-se o colormetro porttil Minolta Chroma

    Meter (modelo CR-400).

    Para o ensaio 1, as medidas foram realizadas nos dias 1, 2, 9, 19, 26 e 30, em 2

    peas por tratamento e com 2 medidas por pea. J para o ensaio 2, as medidas foram

    realizadas nos tempos 0, 1, 30, 60 e 90 dias, em 3 peas de cada tratamento

    escolhidas aleatoriamente, com 3 medidas por pea, totalizando 9 medidas por

    tratamento. As medies no tempo 0 foram consideradas apenas como caracterizao

    da massa. As medidas foram realizadas diretamente sobre as amostras, tomando-se o

  • 44

    cuidado de no mensurar sobre uma partcula de gordura aparente, conforme ilustrado

    na Figura 7.

    Figura 7 Ilustrao do procedimento de anlise de medida fsica da cor (L*, a* e b*)

    das amostras de salame

    3.2.8 Avaliao microbiolgica

    Com o intuito de avaliar a higiene e segurana do processamento, assim como

    os efeitos do processamento sobre as caractersticas microbiolgicas do produto final,

    realizaram-se as contagens totais de Staphylococcus coagulase positiva, Salmonella

    spp. e coliformes termotolerantes a 45C na massa (tempo 0) e no salame (tempo 1).

    Alm disso, realizou-se tambm a contagem de bactrias lticas, nos mesmos

    perodos, com o objetivo de se determinar a sua resistncia ao processamento e aos

    tratamentos com prpolis empregados.

    As anlises microbiolgicas foram conduzidas no Laboratrio de Produtos

    Funcionais do Departamento de Engenharia de Alimentos (ZEA) da Faculdade de

    Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de So Paulo (USP) em

    amostras de salame de todos os processamentos, com exceo dos microrganismos

    patognicos, os quais foram quantificados apenas nos processamentos 1 e 3, o qual

    engloba os salames utilizados na anlise sensorial.

    Os procedimentos foram realizados em capela com fluxo laminar previamente

    exposto luz UV por 40 minutos e os materiais utilizados foram previamente

    esterilizados em autoclave.

    Uma amostra de 25 g foi coletada assepticamente, em embalagem plstica de

    polietileno estril, da massa (tempo 0) logo aps homogeneizao e embutimento e de

  • 45

    3 peas de salame escolhidos aleatoriamente. A amostra foi adicionada de 225 mL de

    soluo de gua peptonada tamponada (caldo de pr-enriquecimento) e

    homogeneizada em homogeneizador de amostras da marca Marconi (modelo MA

    440/CF) por 2 minutos, constituindo assim a diluio 10-1. A partir desta diluio,

    obtiveram-se as diluies de 10-2 a 10-6 em tubos de ensaio estreis com gua

    peptonada 0,1%.

    Para a anlise presuntiva de Salmonella spp. utilizou-se o kit VIP da Biocontrol,

    seguindo-se a metodologia para alimentos processados, conforme indicado pelo

    fabricante. Para isto, realizou-se o pr-enriquecimento onde a amostra na diluio 10-1

    foi incubada a temperatura entre 35 a 37C, de 6 a 8 horas. Posteriormente procedeu-

    se o enriquecimento seletivo, seguido da etapa de ps-enriquecimento, inativao e

    teste de positividade no kit VIP em duplicata. Os resultados foram expressos como

    ausncia ou presena em 25 g.

    A contagem de coliformes termotolerantes foi realizada em duplicata nas

    diluies 10-1 a 10-3 utilizando-se placas PetrifilmTM da marca 3M, incubando-se a 45C

    por 24 horas, sendo que os resultados foram expressos em UFC/g.

    Para a contagem de Staphylococcus coagulase positiva, utilizaram-se as

    diluies de 10-1 a 10-6 para amostras da massa e de 10-1 a 10-4 para amostras de

    salame. Alquotas de 0,1 mL de cada diluio selecionada foram inoculadas em

    duplicata sobre a superfcie de placas estreis com o gar Baird-Parker (BP) e

    espalhadas por toda a sua superfcie com o auxlio de ala de Drigalski at sua

    completa absoro pelo meio. Aps incubao das placas na posio invertida a 35C

    por 48 horas, coletaram-se 5 colnias tpicas e 5 atpicas para enriquecimento em caldo

    BHI (Infuso crebro-corao de boi) por 24 horas a 35C e posterior teste de

    coagulao em plasma de coelho (BRASIL, 2003; LANCETTE; TANINI, 2001). Os

    resultados foram expressos em UFC/g.

    A contagem das bactrias lticas foi realizada a partir das diluies 10-3 a 10-6,

    em duplicata, em placas estreis com gar MRS (DeMan, Rogosa, Sharpe Agar),

    fazendo-se a incubao poor plate para formar um ambiente de microanaerobiose, ou

    seja, uma camada fina de MRS, uma de amostra e outra camada de MRS. As colnias

  • 46

    foram enumeradas aps 72 horas de incubao temperatura de 37C e os resultados

    foram expressos em UFC/g.

    3.2.9 Anlise sensorial

    Com o objetivo de verificar o efeito dos tratamentos com prpolis nas

    caractersticas sensoriais do salame tipo Italiano produzido, o mesmo foi avaliado

    sensorialmente empregando-se o Teste de Aceitao com escala hednica de 9 pontos

    (1 = detestei a 9 = adorei). Utilizando esta escala, os provadores foram indicados a

    avaliar os atributos sensoriais de aparncia, aroma, sabor e qualidade global, conforme

    ficha aplicada (Figura 8). A anlise sensorial foi aplicada nos salames de apenas um

    processamento do ensaio 2 na medida que os provadores so considerados repeties.

    Figura 8 Ficha de avaliao sensorial de salame tipo Italiano entregue aos provadores

    durante as sees de anlise sensorial

    Esta anlise foi conduzida com provadores no treinados, consumidores de

    salame, de forma a se obter 50 avaliaes por tratamento ao longo do armazenamento

    do produto (1, 30, 60 e 90 dias). As amostras foram servidas de forma aleatria,

    identificadas por 3 dgitos numricos e em prato branco descartvel.

  • 47

    Para cada provador foi servida 1 fatia de aproximadamente 2 mm de espessura

    de cada amostra (Figura 9), uma de cada vez, juntamente com um copo de gua e um

    biscoito gua e sal para serem ingeridos entre uma amostra e outra.

    Figura 9 Ilustrao da forma de apresentao da amostra de salame tipo Italiano

    identificada por 3 dgitos numricos, servida durante a anlise sensorial

    Esta anlise foi conduzida no Laboratrio de Anlise Sensorial do Departamento

    de Agroindstria, Alimentos e Nutrio (LAN) da Escola Superior de Agricultura Luiz de

    Queiroz ESALQ da Universidade de So Paulo USP onde os provadores, em sua

    maioria, foram representados por alunos, professores e demais colaboradores do

    campus, os quais estavam cientes do experimento conduzido pela concordncia com o

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    3.2.10 Anlises estatsticas

    No ensaio 1 adotou-se o Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC) em

    esquema fatorial 4x5 para cada tratamento estudado (MAS microcpsula de prpolis

    com amido OSA ou MGS microcpsula de prpolis com goma arbica) em diferentes

    concentraes, de acordo com o Modelo a:

    Yijk = + Ni + Tj + NTij + eijk (Modelo a)

  • 48

    Onde:

    Yijk = valor observado para a varivel em estudo (oxidao lipdica, valores

    instrumentais da cor L*, a* e b*, pH e teor de cido ltico), na repetio k, do dia de

    processo j e no nvel de incluso do tratamento MAS (ou MGS) i;

    = constante inerente a todas as observaes (mdia);

    Ni = efeito da i-sima concentrao do tratamento MAS ou MGS, sendo i = 1 (0,00%), 2

    (0,10%), 3 (0,15%) e 4 (0,20%) para MAS ou i = 1 (0,00%), 2 (0,15%), 3 (0,25%) e 4

    (0,40%) para MGS;

    Tj = efeito do j-simo tempo de processo, sendo j = 1 (5 dias), 2 (9 dias), 3 (19 dias), 4

    (26 dias) e 5 (30 dias);

    NTij = efeito da interao da concentrao i com o tempo de processo j;

    eijk = erro experimental associado a repetio k do dia de processo j e no nvel de

    incluso i, suposto NID (0, e2).

    Para a avaliao da perda de peso durante o processo de secagem dos salames

    dos ensaios considerou-se o Modelo b:

    Yijkl = + Gi + Tj + Pk + GTij + GPik + TPjk + eijkl (Modelo b)

    Onde:

    Yijkl = valor observado para a varivel perda de peso, na repetio l, do processamento

    de material k, no tempo de secagem j e no grupo comparativo i;

    = constante inerente a todas as observaes (mdia);

    Gi = efeito do i-simo grupo comparativo sendo i = 1 (ES), 2 (PL), 3 (MAS) e 4 (MGS)

    ou 1 (ES), 2 (PL) e 3 (MCC);

    Tj = efeito do j-simo tempo de secagem, sendo j = 1 (1 dia), 2 (2 dias), 3 (3 dias), ..., e

    32 (32 dias);

    Pk = efeito do k-simo processamento do material experimental, sendo k = 1 (1o

    processamento), 2 (2o processamento) e 3 (3o processamento);

    GTij = efeito da interao dupla do grupo comparativo i com o tempo de secagem j;

  • 49

    GPik = efeito da interao dupla do grupo comparativo i com o processamento de

    material k;

    TPjk = efeito da interao dupla do tempo de secagem j com o processamento de

    material k;

    eijkl = erro experimental associado a repetio l, do processamento de material k, tempo

    de secagem j e no grupo comparativo i, suposto NID (0, e2).

    Para a caracterizao da massa, realizaram-se anlises para as variveis de

    oxidao lipdica em TBARS, pH, atividade de gua, teor de acidez em cido olico e

    resultados de cor instrumental L*, a* e b* considerando um modelo de Delineamento

    Inteiramente Casualizado (DIC), utilizando o Modelo c:

    Yij = + Gi + eij (Modelo c)

    Onde:

    Yij = valor observado para a varivel em estudo (oxidao lipdica em TBARS, pH,

    atividade de gua, teor de acidez em cido olico e valores de cor instrumental), na

    repetio j do grupo comparativo i;

    = constante inerente a todas as observaes (mdia);

    Gi = efeito do i-simo grupo comparativo, sendo i = 1 (ES), 2 (PL), 3 (MAS) e 4 (MGS)

    ou 1 (ES), 2 (PL) e 3 (MCC);

    eij = erro experimental associado a repetio j do grupo comparativo i, suposto NID (0,

    e2).

    As variveis de oxidao lipdica TBARS, pH, cor instrumental L*, a* e b*,

    atividade de gua e acidez em cido olico referentes ao perodo de estocagem,

    tambm foram analisadas segundo um DIC em esquema fatorial 4x4 ou 3x4,

    considerando o Modelo d:

    Yijk = + Gi + Tj + GTij + eijk (Modelo d)

  • 50

    Onde:

    Yijk = valor observado para a varivel em estudo (oxidao lipdica - TBARS, cor

    instrumental L*, a*, b*, pH, acidez em cido olico e atividade de gua) na repetio

    k, do tempo de estocagem j e no grupo comparativo i;

    = constante inerente a todas as observaes (mdia);

    Gi = efeito do i-simo grupo comparativo, sendo i = 1 (ES), 2 (PL), 3(MAS) e 4 (MGS)

    ou 1 (ES), 2 (PL) e 3 (MCC);

    Tj = efeito do j-simo tempo de estocagem, sendo j = 1 (1 dia), 2 (30 dias), 3 (60 dias) e

    4 (90 dias);

    NTij = efeito da interao do grupo comparativo i com o tempo de estocagem j;

    eijk = erro experimental associado a repetio k, do tempo de estocagem j e no grupo

    comparativo i, suposto NID (0, e2).

    Para as anlises sensoriais foi utilizado um modelo misto de acordo com os

    efeitos fixos utilizados no Modelo d, assim como a incluso do efeito aleatrio dos

    provadores, de acordo com as recomendaes de O'MAHONY (1986).

    Para todos os modelos estatsticos avaliados, com exceo do Modelo c, em

    caso de efeito principal dos grupos comparativos significativo, utilizou-se como

    procedimento de comparaes mltiplas o Teste t de Student. Em caso de interaes

    significativas, procederam-se os desdobramentos utilizando-se o Teste F e, quando

    necessrio, foram realizadas ainda anlises de regresso para os estudos de

    estabilidade. Todas as anlises estatsticas foram realizadas com auxilio do programa

    Statistical Analysis System, verso 9.1.3 (SAS, 1995), utilizando-se o procedimento

    PROC MIXED.

  • 51

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Ensaio 1

    O ensaio 1 foi realizado com a finalidade de verificar qual a concentrao mais

    adequada de prpolis microencapsulada a ser empregada no salame, verificando

    principalmente se esta quantidade adicionada no apresentou baixo efeito antioxidante

    ou efeito pr-oxidante. Durante este ensaio foram avaliados a acidez, pH e parmetros

    de cor instrumental do produto ao longo do processamento.

    A escolha das concentraes das microcpsulas de prpolis a serem

    adicionadas no salame no ensaio 1 foi realizada a partir de resultados da atividade

    antioxidante do material, fornecido pelo LAPROF, responsvel pela preparao das

    microcpsulas (Tabela 7).

    Tabela 7 Atividade antioxidante (%) de diferentes concentraes (%) de microcpsulas de prpolis com (MAS) e com goma arbica (MGS) produzidas pela tcnica de spray drying

    Tratamento Concentrao (%) Atividade antioxidante (%)

    MAS 0,06 34,60 2,57

    MAS 0,15 61,54 4,01

    MAS 0,30 87,59 1,14

    MGS 0,05 23,82 1,23

    MGS 0,20 72,20 4,63

    MGS 0,50 88,95 3,26

    4.1.1 Processamento

    Para o processamento do ensaio 1, a carne bovina foi moda em disco mais fino,

    pois suas fibras apresentam maior espessura e resistncia em comparao s da carne

    suna (MACEDO et al., 2008). Durante este ensaio, a cmara apresentou um problema

    no sistema de refrigerao e os salames no foram fermentados e maturados em

    temperatura adequada e consequentemente, no atingiram a atividade de gua

  • 52

    desejada. Com isso, os salames do ensaio 1 no foram classificados como tipo Italiano,

    apenas como salames.

    De acordo com as caractersticas de umidade e temperatura utilizadas no

    processamento, a etapa de fermentao foi finalizada aps 24 horas do incio do

    processo, quando as peas de salame atingiram o pH desejado. A fermentao,