funÇÃo social da escola - diaadiaeducacao.pr.gov.br · 3 questionamentos nos propomos compreender...
TRANSCRIPT
1
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
Nadir Bone de Souza Honório1
Fátima Aparecida de Souza Francioli2
Resumo
Este texto pretende proporcionar reflexões sobre a Função Social da Escola e a articulação do trabalho pedagógico entre os diferentes segmentos no âmbito escolar, com o objetivo de analisar e implementar um trabalho pedagógico planejado entre profissionais da educação e comunidade escolar. No geral, o estudo buscou compreender todo o trabalho que tem sido desenvolvido na escola, qual sua finalidade e quais os resultados alcançados. Nesse sentido, esse conjunto de ações buscou maneiras de organizar um processo educativo desafiador, em que o trabalho pedagógico permita ao aluno participar das atividades propostas e sinta necessidade de permanecer no espaço escolar, aprendendo os conteúdos essenciais para sua transformação humana e social. Para tanto, recorremos ao pensamento de estudioso que analisam o espaço escolar e o complexo movimento desse universo educacional. Como o fio condutor desse estudo foi à função social da escola, podemos considerar que a escola necessita ter objetivos bem determinados, para que possa cumprir o seu papel de socializar o saber sistematizado promovendo o desenvolvimento intelectual dos alunos de maneira que os emancipe para a vida social.
Palavras-chave: Função Social da escola; Instâncias Colegiadas; Trabalho Pedagógico.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo é resultado do trabalho desenvolvido no Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, fomentado pelo Governo do Estado do Paraná
como parte da formação continuada de seus professores. O programa almeja o
aprofundamento teórico e a conjectura de mudanças na prática escolar da educação
básica pública paranaense. Devido a atual conjunção de penúria presenciada na
1 Professora pedagoga do Colégio Estadual Olavo Bilac Ensino Fundamental e Médio do município de Amaporã/PR2 Professora da Universidade Estadual do Paraná/UNESPAR – Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí/FAFIPA – Campus de Paranavaí-PR.
2
nossa educação e a partir da realidade na escola em que atuo, é preciso procurar
ações efetivas, volvidas para a melhoria do gráfico apresentado na educação e
principalmente na minha escola. Nesse sentido, resolvi participar do PDE no ano de
2010 com o objetivo de analisar e implementar na escola um trabalho pedagógico
planejado entre profissionais da educação e comunidade escolar, para subsidiar o
real desenvolvimento da função social da escola e a articulação do trabalho
pedagógico entre os diferentes segmentos no âmbito escolar . Durante este período
participei de atividades de pesquisa, atividades de aprofundamento teórico e
atividades didático-pedagógicas com suporte tecnológico (Grupos de Trabalho em
Rede-GTR). No entanto, o interesse em discutir e estudar a Função Social da Escola
e os demais segmentos envolvidos na elaboração da proposta educacional que
coletivamente indicam as ações administrativas e pedagógicas voltadas para o pleno
desenvolvimento do educando, surgiu como resultado dos meus mais de 20 anos de
trabalho como pedagoga. Diante da realidade que se apresenta na educação
brasileira é possível constatar na escola onde trabalho a ausência de um trabalho
pedagógico planejado, coletivo que assuma o vinculo entre a teoria e a prática. Esta
constatação pode ser justificada pelo fato de que as maiorias dos professores
alegam não ter claro o domínio das teorias pedagógicas para associá-la a sua
prática escolar, cujo elemento primordial é o currículo. Nessa mesma perspectiva,
também será necessário repensar o Projeto Político-Pedagógico e sua importância
como identidade da escola.
Compreende-se, nesse sentido, que esse conjunto de ações precisa buscar
maneiras de fazer deste processo educativo algo prazeroso e desafiador, onde o
aluno possa participar das atividades propostas com prazer e entusiasmo e sinta
necessidade de permanecer no espaço escolar, aprendendo os conteúdos
essenciais para sua transformação humana e social.
Procurando compreender esse processo educativo, propomos como objetivo
principal do projeto desenvolvido a reflexão sobre o que se estabelece entre a
escola e a articulação do trabalho pedagógico. Como isso tem ocorrido e quais as
metas alcançadas? O que é possível ser realizado para obter melhores resultados,
quando nos referimos aos profissionais da educação e aos alunos e a comunidade
escolar3 que compõem esse conjunto? Na tentativa de responder estes
3 A comunidade escolar é composta pela direção, professores, conselho escolar, associação de pais em mestres, grêmio estudantil.
3
questionamentos nos propomos compreender a função social da escola por meio do
projeto de intervenção que desenvolvemos como formação continuada para atender
os profissionais da educação e a comunidade escolar do Colégio Estadual Olavo
Bilac Ensino Fundamental e Médio do município de Amaporã/PR.
A aplicabilidade da proposta de intervenção pedagógica na escola procurou
refletir sobre o envolvimento de todos no processo educativo e suas atuações na
escola tendo em vista a percepção de mudanças de comportamento por meio do
processo de ensino e aprendizagem. Tendo em vista que nosso objetivo era
compreender a função social da escola e a organização do currículo tornou-se
imprescindível abordar o papel que a educação escolar também desempenha na
formação dos indivíduos.
2. A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
Para falar de educação na atualidade é preciso retroceder no tempo e
buscar o entendimento da criação da escola. Por que usamos o termo criação?
Porque a escola é uma invenção da humanidade e se ela foi inventada pelos
homens é porque havia uma razão, um objetivo. Sabemos que desde que os
homens começaram a se organizar em grupos e passaram a produzir para sua
subsistência, surgiu o trabalho, uma ação intencional que provocou a transformação
da natureza criando, assim, um mundo humano, o mundo da cultura. No entanto, o
processo de produção se amplia em escalas cada vez mais amplas e complexas,
ampliando também as formas de trabalho material e trabalho não material,
classificado por Saviani (2005) como a produção das ideias, de conceitos, de
valores, hábitos, atitudes, ou seja, trata-se da produção do saber sobre a cultura.
É neste campo do trabalho não material inserido numa sociedade dividida
em classes que surge a escola, historicizada por Manacorda (2007, p. 119) como
uma estrutura especifica de formação de uma determinada classe social. Diz
Manacorda que apenas a classe possuidora dos bens de produção tinha direito a
este sistema de ensino e que somente há pouco tempo, mais precisamente a partir
da Revolução Industrial em meados do século XVIII, o ensino começa a tornar-se
acessível à classe trabalhadora. O Estado assume a responsabilidade da educação
das massas implantando as mesmas estruturas educacionais das classes
4
privilegiadas, pela necessidade de expandir as aquisições da ciência para promover
o processo produtivo. Para Saviani (2005a) não há duvida de que a expansão da
escola objetivava preparar as massas trabalhadoras para a produção industrial
acentuando a divisão da escola dualista: uma escola para os filhos da burguesia e
outra escola para os filhos dos trabalhadores, enquanto a primeira era precisamente
livresca a segunda acentuadamente prática e profissional.
Evidentemente, com o advento da sociedade moderna, capitalista e
burguesa, Saviani (2005b) diz que a educação escolar passou a ocupar lugar de
destaque e o conhecimento tornou-se sistematizado e generalizou-se, constituindo
um conjunto de conhecimentos básico que envolve domínio do código escrito e dos
cálculos. Com efeito, enquanto a concepção liberal de educação acentuou a
formação da pessoa moral, isto é, o cidadão do Estado burguês, a versão moderna
– a escolanovistas – acentuou a formação do individuo egoísta independente,
membro ajustado da sociedade burguesa. “[...] É esta a educação básica, geral e
comum que a burguesia foi capaz de propiciar à humanidade em seu conjunto”
(SAVIANI, 2005a, p. 232). Essa preocupação também é destaque nas análises de
Rossler (2004, p. 83) quando se refere às pesquisas educacionais da atualidade
“Atualmente no interior da educação e das pesquisas educacionais, é preocupante o
forte desprestígio da teoria e da própria reflexão teórica em prol do pragmatismo
imediatista e irracionalista”.
Soma-se a tudo isso o fato de que o papel da escola na atualidade desviou-
se para o assistencialismo, atendendo em primeiro lugar as questões de
comportamento, como indisciplina, desinteresse, vícios, deixando esvaziar o
trabalho educativo daquilo que é sua verdadeira função. As pesquisas realizadas por
Duarte (2005a) apontam que essa situação agravou-se a partir da década de 1990
com a ênfase nas políticas neoliberais que deliberaram a favor das pedagogias do
“aprender a aprender”, assim classificadas: pedagogia construtivista, pedagogia do
professor reflexivo, pedagogia das competências, pedagogia dos projetos,
pedagogia do multiculturalismo. Para Duarte (2005) estas pedagogias que se
tornaram hegemônicas na ação pedagógica do professor são idealistas e a -
históricas quando discutem a sociedade e a educação. Nessa mesma direção
Manacorda (2007) diz que as pedagogias novas, permaneceram limitadas a um
desenvolvimento espontâneo e parcial, colocando o homem frente a si mesmo e não
5
frente ao mundo concreto e das relações sociais, baseando a educação autônoma
da individualidade singular.
Além desses evidentes encaminhamentos dado a escola da atualidade,
Saviani (2005b) ainda acrescenta que outro grave problema da escola é a
organização do currículo escolar, que ao ser organizado tem privilegiado as
atividades das datas comemorativas, consideradas por Saviani como atividades
secundárias e não essenciais. Combater estas pedagogias, não é tarefa fácil, mas
também não é impossível, mas para isso é necessário lutar pela defesa da
educação, em especial pela escola pública, posicionando-se teoricamente frente a
uma pedagogia crítica que tenha clareza que a função social da escola deve ser o
da socialização do saber sistematizado. Como afirma Saviani (2005b, p. 14) o saber
sistematizado não é “[...] qualquer tipo de saber. Portanto, a escola diz respeito ao
conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber
sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não à cultura
popular”.
Em resumo, para Saviani (2005b) a escola tem a ver com o conhecimento
da ciência e ela existe para propiciar o conhecimento cientifico e a aquisição dos
instrumentos que possibilitarão, aos alunos, a acesso ao saber elaborado. E que
saber é este? Manacorda busca as palavras de Marx para responder esta questão:
Na escola devem-se ensinar matérias como às ciências naturais e a gramática, que não variam quando ensinadas por um crente ou por um livre pensador; todo o resto os jovens devem assimilar da própria vida, do contato direto com a experiência dos adultos (MANACORDA, 2007, p. 106).
Também para Saviani (2005b) cabe à escola ensinar os alunos a ler,
escrever, contar, conhecer as ciências naturais e sociais. No entanto, todo ensino
compreende um professor e seus alunos, o professor que ensina e os alunos que
aprendem. A função do professor é transmitir os conteúdos historicamente
desenvolvidos pela humanidade, cabe a ele o ato do trabalho educativo. E o que o
trabalho educativo nesta perspectiva teórica? Saviani (2005b, p. 13) considera que
“O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada
individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo
conjunto dos homens”. A partir desse entendimento Saviani, também afirma que não
6
é qualquer conteúdo que deve ser ensinado, mas os conteúdos clássicos, eruditos,
ou seja, aquele que se firmou como essencial e que resistiu ao tempo. Nessa
perspectiva, o trabalho do professor ao organizar sistematicamente o ensino dos
conteúdos e promover nos alunos a apropriação do saber objetivo, contribuirá para
que a escola se articule com os interesses da classe trabalhadora.
À luz dessas considerações, Saviani (2005a) esclarece que a educação deve
ser entendida como mediação no seio da prática social, tornando-se o ponto de
partida e de chegada da prática educativa. Daí decorre o método pedagógico
proposto pela Pedagogia Histórico-crítica (2005b), ou seja, o conteúdo ao ser
ensinado parte da prática inicial em que professor e aluno se encontram inseridos,
ocupando posições distintas e caminham para a solução dos problemas propostos
pela prática social (problematização), mediados pelos instrumentos práticos e
teóricos que orientarão a compreensão e solução do problema, é o momento da
instrumentalização, viabilizando atingir a incorporação desses elementos para a
própria vida do aluno (catarse), promovendo, assim, a transformação da prática
social final.
Imbuídos por esta prática pedagógica, a função social da escola demanda de
um trabalho docente, mediado pelo domínio do conteúdo escolar clássico e pela
apropriação dos alunos, que continuamente irão se libertar dos hábitos mecânicos,
imediatistas e utilitários. Saviani esclarece (2005b) que o ato de libertar não significa
deixar de lado, abandonar, mas o de apropriar, dominar, internalizar para objetivar
na sua prática social. Isto significa que educar é muito mais do que transmitir conhe-
cimentos, significa humanizar e contribuir para a transformação social.
Desse modo, é por meio do currículo, da organização pedagógica, bem como
dos próprios conteúdos, que a escola gradativamente repassa as ideias, os conheci-
mentos, os valores e as formas de conduta que a sociedade exige.
A escola como ambiente exclusivo de educação, necessita admitir seu papel
afiançando o desenvolvimento de ideias, de posturas e de informações que ofere-
çam ao aluno, “sua incorporação eficaz no mundo civil, no âmbito da liberdade de
consumo, da liberdade de escolha e participação política, da liberdade e responsabi-
lidade na esfera da vida familiar e pública” (GOMES, 2000, p. 15).
Muitos autores discutem a função social da escola abordando a biografia dos
alunos, pais, professores, pedagogos e toda a comunidade escolar, ao mesmo
tempo em que desveste o processo pedagógico da ideologia que o conduz. Apoiar-
7
se nas ideias de estudiosos que pesquisam e debatem a função da escola, foi
essencial para o esclarecimento do tema aqui proposto. Gómez (1998), ao examinar
o que ocorre em sala de aula, enfatiza que o professor deve distinguir as múltiplas
influências que acontecem, pois o desafio da escola é formar o cidadão para atuar
eficientemente no cenário social; Freire (2000) indica que a educação está presente
em toda a sociedade e a serviço desta; Saviani (2005), na saliência da sua teoria
histórico-crítica, sintoniza como questão central o saber; Vasconcellos (1994, p. 12)
na perspectiva do método dialético, propõe “que nossa atenção deve estar em torno
da sala de aula”. Estudando todos estes autores verifica-se que a função da escola é
intricada, complexa, extensa, diversificada, sendo necessária dedicação especial por
parte do professor com o compromisso de provocar mudanças na formação
intelectual do aluno.
Os conteúdos curriculares necessitam instituir a semelhança entre teoria e
prática, através de circunstâncias conexas da realidade do aluno, admitindo que os
conhecimentos adquiridos aprimorem seu desempenho na vida social. A
metodologia empregada deve possibilitar ao aluno fazer conexões entre o que
aprende em sala de aula e sua prática social. Enquanto função social, o trabalho
educativo do professor amplia aptidões para a vida, conduzindo o aluno a interagir
com o ambiente em que convive. A partir da concepção aqui apresentada, a escola
é um suporte recíproco onde todos são favorecidos, desempenhando a legítima
democracia. Para que apreendemos realmente a função social da escola e a
articulação do trabalho pedagógico entre os diferentes segmentos no âmbito escolar,
faz-se imprescindível trabalharmos na escola a cidadania, que tem seus obstáculos,
para ser desenvolvida pelo feito de termos vivenciado por tanto tempo um exemplo
de educação onde só era consentido copiar e reproduzir o que se era deliberado.
Além disso, existia o espaço físico onde qualquer ensaio de sugerir algo novo
colidia-se com diversos fatores opostos a ação.
Os novos padrões da sociedade atual requerem do profissional da educação
uma nova maneira ante as diversidades sociais e o tipo de vida imposto pela
contemporaneidade, ou seja, exige dos indivíduos uma uniforme reestruturação de
suas competências pessoais e, especialmente, profissionais. No contexto da
globalização, da competitividade, da individualidade, entre outros, nos faz pensar
sobre a precisão de produzirmos organismos que efetivamente colaborem para a
edificação de uma sociedade mais humana e emancipadora. Para isso, cabe à
8
escola tornar, dentro de suas perspectivas, a humanidade menos desumana. Enfim,
que outra maneira nós possuímos de fazer a escola desempenhar sua função social
a não ser através de um procedimento conjugado de conscientização de todos os
comprometidos com o sistema educacional? Para atender essas perspectivas, é
função da escola aproximar a comunidade do convívio escolar numa experiência de
reestruturar a família, de proporcionar oportunidades de acesso ao saber, à
tecnologia, ao conhecimento, de oportunizar a compreensão de questões complexas
da prática social.
Entretanto para que a escola possa desempenhar a função que lhe compete
“não é suficiente à existência do saber sistematizado. É necessário convertê-lo em
saber escolar, isto é, dosá-lo e sequenciá-lo para efeito do processo de transmissão-
assimilação no espaço e tempo escolares.” (SAVIANI, 1985, p. 28).
3. INSTÂNCIAS COLEGIADAS
Outra questão que desejamos discutir nesse artigo refere-se às Instâncias
Colegiadas, porque entendemos que ela compõe o conjunto da escola enquanto es-
paço de participação dos segmentos escolares representados pelos pais, alunos,
professores e funcionários. E, por se tratar de um processo, a educação escolar,
além do trabalho educativo realizado pelo professor, também demanda da participa-
ção dos demais segmentos envolvidos na escola. Para Martins e Bastos (2004) edu-
car não é uma tarefa exclusiva da escola, e como consta na atual LDB 9394/96 edu-
car também é compromisso da família e da sociedade. Para as autoras “Dialogar e
ajudar o outro a viver a vida com domínio do conhecimento científico e senso de jus-
tiça permite o desenvolvimento pessoal e coletivo”.
Tendo em vista o compromisso coletivo com a qualidade da escola pública,
nosso objetivo ao discutir os caminhos, analisar as experiências vividas, os desafios,
os avanços e criar novas possibilidades de melhorar o espaço escolar com as ins-
tâncias colegiadas, compreendeu que é pela ocupação desses ambientes, produto
da aquisição da própria comunidade, que a gestão democrática recebe força e pode
modificar a realidade escolar. As instâncias colegiadas, enquanto espaço de repre-
sentação dos segmentos da escola: discentes, professores, pais e comunidade, de-
9
penderão do convívio e da afinidade que se constituem entre os segmentos e a dire-
ção escolar.
Segundo Veiga (1998, p.113):
Podemos considerar que a escola é uma instituição na medida em que a concebemos como a organização das relações sociais entre os indivíduos dos diferentes segmentos, ou então como o conjunto de normas e orientações que regem essa organização. (...) Por isso tor-na-se relevante às discussões sobre a estrutura organizacional da escola, geralmente composta por conselho Escolar e pelos conse-lhos de Classe que condicionam tanto sua configuração interna, como o estilo de interações que estabelece com a comunidade.
Diversas instâncias de ação colegiada, institucionalizadas ou não, como a As-
sociação de Pais, Mestres e Funcionários e o Grêmio Estudantil, podem ser extraor-
dinárias ferramentas para o aperfeiçoamento do processo educativo e para a prática
da democracia interna das escolas. Admitindo a protuberância dos colegiados para a
concretização do processo democrático, Abranches, enfatiza que:
Os órgãos colegiados têm possibilitado a implementação de novas formas de gestão por meio de um modelo de administração coletiva, em que todos participam dos processos decisórios e do acompanha-mento, execução e avaliação das ações nas unidades escolares, en-volvendo as questões (ABRANCHES, 2003, p. 14).
De acordo com Abranches (2003), pode-se considerar que a direção escolar
pode contar com a contribuição das pessoas que fazem parte de cada colegiado
atentando que seus participantes têm espaços deliberados para tomar decisões,
conforme atestam os documentos que legalizam esse processo democrático. Para
compreendermos melhor o papel de cada órgão e sua importância para a gestão es-
colar, abordaremos, de maneira sucinta, o conceito e as principais atribuições de
cada colegiado administrativo, financeiro e pedagógico.
3.1 Conselhos de Classe
O Conselho de Classe é um órgão da instância colegiada de natureza consul-
tiva e deliberativa em assuntos didático–pedagógicos e seus principais objetivos
são: avaliar a apropriação pelos alunos dos conteúdos curriculares estabelecidos no
10
Projeto Político Pedagógico da Escola; refletir sobre a relação professor/aluno e ana-
lisar a prática pedagógica, buscando possíveis alternativas que garantam a efetiva-
ção do processo ensino aprendizagem. O Conselho de Classe deve ter pré-requisi-
tos para praticar um julgamento do desempenho de alunos e professores, analisar
as técnicas pedagógicas e programar metas coletivas ou individuais para solucionar
ou amenizar obstáculos decorrentes do procedimento ensino-aprendizagem. Ao se
requerer o corpo docente para um conselho de classe, tem-se a objetivo de rever
conjunturas e recomendar a reavaliação da prática pedagógica, almejando o cresci-
mento do aluno nos conteúdos que o mesmo não abrangeu, e não meramente a bu-
rocratização escolar, tendo em vista que o conselho de classe muitas vezes fica re-
legado a esta percepção, devido à fragmentação da compreensão da metodologia
de ensino e aprendizagem. Cruz (2005, p. 17), expande o entendimento sobre Con-
selho de Classe quando assegura:
Entendemos o Conselho como etapa dinamizadora do trabalho edu-cativo. A dimensão do processo de avaliação supõe que os conse-lhos estejam relacionados uns com os outros e provoquem ações concretas que possam interferir na prática educativa. Essa inter-rela-ção não se reduz a conhecer a nota que o aluno tirou no bimestre an-terior, nem ao relato do que ele fez de errado. É necessário que um Conselho esteja estruturalmente relacionado com o anterior para que fique configurada a dimensão de processo orgânico de educação. (CRUZ, 2005, p. 17)
Conforme afirmação de Cruz, os Conselhos de Classe não devem deixar de
atingir seu objetivo primordial de discutir e aperfeiçoar o processo e a prática pe-
dagógica dos professores. Nesse sentido, o Conselho de Classe é uma das práti-
cas realizadas no ambiente escolar que podem auxiliar no trabalho e no processo
de democratização da escola.
3.2 Conselhos de Escolar
É um órgão colegiado, representativo da Comunidade Escolar, de natureza
deliberativa, consultiva, avaliativa e fiscalizadora. Ele dá pareceres referentes ao
trabalho de organização e realização do trabalho pedagógico e administrativo da
instituição escolar, em conformidade com as políticas e diretrizes educacionais da
Secretaria de Estado da Educação-SEED, observando a Leis de Diretrizes e Bases-
11
LDB, a o Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA, o Projeto Político-Pedagógico
e o Regimento Escola/Colégio, para o cumprimento da função social e específica da
escola (Estatuto do Conselho Escolar, 2005).
O Conselho Escolar é acionado sempre que for necessário tomar decisões
importantes. Além do diretor que é o presidente, fazem parte os representantes da
equipe pedagógica, técnico administrativo, corpo docente e discente, auxiliar
operacional, Associação de Pais, Mestres e Funcionários, pais, e movimentos
sociais organizados. Mas é essencial que se constitua uma afinidade de respeito
pelas ideias de alguns e de outros, havendo cumplicidade nas tomadas de resolução
e, especialmente, que todos possuam objetivos partilhados. A participação do
conselho precisa se dar de maneira independente, voluntária e consciente.
De acordo como Werle (2003, p.60):
[...] não existe um Conselho no vazio, ele é o que a comunidade escolar estabelecer, construir e operacionalizar. Cada conselho tem a face das relações que nele se estabelecem. Se forem relações de responsabilidade, de respeito, de construção, então, é assim que vão se constituir as funções deliberativas, consultivas e fiscalizadoras. Ao ‘contrário’, se forem relações distanciadas, burocráticas, permeadas de argumentos, tais como: ‘já terminou meu horário’, ‘este é meu terceiro turno de trabalho’, ‘vamos terminar logo com isto’, ‘não tenho nada a ver com isto’, com que legitimidade o conselho vai deliberar ou fiscalizar?
Para que as deliberações do Conselho Escolar não fiquem retidas pelo
diretor, que também é o presidente nato é imprescindível que haja a conscientização
dos segmentos envolvidos. Enfim, os Conselhos têm acatado aos projetos
democráticos e tem propiciado a existência cidadã e representado os interesses
coletivos para que aconteça o cumprimento da função social e específica da escola.
3.3 Grêmio Estudantil
O Grêmio é o órgão máximo de representação dos estudantes da escola.
Atuando nele, o aluno defende seus direitos e interesses no seio da cidade
aprendendo sobre ética e cidadania na prática. A Secretaria de Estado da Educação
do Paraná entende que toda representação estudantil deve ser estimulada, pois ela
aponta um caminho para a democratização da Escola. Por isso, o Grêmio nas
12
Escolas públicas deve ser estimulado pelos gestores da escola, tendo em vista que
ele é um apoio à direção numa gestão colegiada. O Grêmio Estudantil e os demais
colegiados deveriam fazer a distinção no coração das escolas, mas para isso
necessitariam ter autonomia e espaços concretos de participação. Se isso não
ocorre, é preciso avaliar as causas, sobretudo quando essa instância é tão
incentivada pelo Estado como acontece com os grêmios. Mas só tem significado
esse incentivo, se tiver uma política de acompanhamento de suas ações e de
formação contínua que melhore sua participação para explorar o espírito
democrático e expandir a ética e a cidadania na prática.
3.4 Associações de Pais, Mestres e Funcionários.
A Associação De Pais, Mestres E Funcionários- APMF é um órgão de
representação e não tem caráter político-partidário, religioso, racial, nem fins
lucrativos. Os participantes não são remunerados, eles são constituídos por prazo
determinado e devem obedecer ao objetivo de promover a integração escola-
comunidade. Existe uma regulamentação para cada instância colegiada em
consonância com a legislação. Hoje em dia, o recinto de participação da APMF é
muito extenso. Além de “gerenciar” o financeiro da escola, tem como
responsabilidades: acompanhar a evolução da Proposta Pedagógica, sugerindo as
modificações que julgar necessárias ao Conselho Escolar estimular a criação e o
desenvolvimento de atividades para pais, alunos professores, funcionários e toda a
comunidade escolar.
4. GTR- GRUPO DE TRABALHO EM REDE
O GTR - Grupo de Trabalho em Rede foi desenvolvido no formato virtual com
professores de diversos Municípios do Estado do Paraná que embora afastados, se
aproximaram pelos mesmos propósitos de pesquisar a efetiva Função Social da
Escola e a articulação do trabalho pedagógico entre os diferentes segmentos no
âmbito escolar. Os participantes deste grupo apresentaram grandes contribuições
para essa pesquisa, bem como para a implementação dos encontros com os
professores e pedagogos da escola por meio das atividades virtuais. O trabalho com
13
o GTR aconteceu paralelamente à implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica na escola. A partir das observações realizadas pelos professores do
GTR sobre o Projeto de Trabalho e a Unidade Didática elaborada pelo professor
PDE/2011, a aplicabilidade da proposta de intervenção pedagógica na escola
procurou refletir sobre o envolvimento de todos no processo educativo e suas
atuações na escola, tendo em vista a percepção de mudanças de comportamento
por meio do processo de ensino e aprendizagem.
Os professores virtualmente faziam as atividades, colaborando para o
trabalho em questão. Esse momento foi muito produtivo porque incluímos
professores que compartilhavam dos grupos de estudos na escola e também
participavam das atividades virtuais do GTR. Isto fortaleceu ainda mais o trabalho de
implementação na escola pela abundância na troca de conhecimento divulgada
entre os participantes.
Entre os resultados positivos do GTR, o fundamental foi à troca entre os
professores de diferentes realidades a respeito do objeto proposto, mas com
problemas em comum, sendo as mesmas aspirações e vislumbrando a mesma
direção para ultrapassar o problema e as recomendações de ações. Dessa maneira,
a proposta obteve coerência, numa edificação coletiva entre os professores da rede
pública do Estado do Paraná.
Nesse aspecto, a contribuição do GTR foi extremamente expressiva para a
viabilidade da proposta juntos aos participantes e principalmente para a escola
observada com o projeto porque, assim pudemos compartilhar os mesmos
problemas e estabelecer sugestão significativa para a intervenção e possibilidades
de modificação deste cenário.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face do aqui relatado, imaginamos que ainda há um vasto trajeto a
explorar na busca da efetiva Função Social da Escola e a articulação do trabalho
pedagógico entre os diferentes segmentos no âmbito escolar. No entanto, é preciso
também avaliar que o caminho está sendo percorrido e as conquistas, mesmo que
“acanhadas”, começam a dar frutos. Quando mencionamos no transcorrer do texto,
o quanto é urgente o compromisso coletivo com a qualidade do ensino público por
14
ser um procedimento recente, pelo menos do termo de aspecto legal, há muitas
discussões, sobretudo a respeito do que vem a ser a real Função Social da Escola,
bem como do conceito de Instâncias Colegiadas. Porém não temos dúvidas, de que
o diálogo está categoricamente estabelecido no interior das escolas e de que essa
postura dialógica é essencial no processo pedagógico e democrático, o que fará
com que se pesquisem cada vez mais percursos para aprimorar as relações
estabelecidas dentro e fora da escola.
O permanente convívio das instâncias colegiadas com a comunidade escolar,
tendo como cenário o compromisso coletivo com a qualidade da escola pública,
possibilita rediscutir a real Função Social da Escola, analisar as experiências vividas,
as lutas, os progressos e criar novas possibilidades. Esse labor terá mais êxito
quando pessoas politizadas assumirem realmente o destino da escola. Para isso,
devemos pugnar as causas que dificultam sua participação, desempenhando um
trabalho de politização e conscientização que envolva a sociedade no processo de
reflexão e ação.
Essa pesquisa não esvazia todas as possibilidades de entendimento do
objeto escolhido. A ideia de estudar a função social da escola sob a perspectiva da
prática pedagógica foi impulsionada a princípio pela necessidade de realização de
um trabalho de pesquisa dentro do PDE, entretanto, muito mais pela precisão de
entender e modificar o dia-a-dia escolar vivenciado. No entanto, o enfrentamento
dos problemas no espaço escolar, na maioria das vezes, não tem respostas e, por
isso, tem levado educadores e alunos ao desestímulo, ao desânimo, resultando no
final de um ano letivo, sentimento de impotência e de fracasso.
Essas reflexões nos permite considerar que os campos de participação
constituintes pelo Conselho de Classe, Conselho Escolar, APMF e o Grêmio
Estudantil são ramificações interessantíssimas para a gestão escolar democrática.
Como democracia é semelhante de diálogo, inclusão e participação, os colegiados
devem ser cada vez mais aquilatados e priorizados no interior das escolas. Por isto,
fez-se indispensável entender o que verdadeiramente ocorre na sala de aula, os
pontos de vista de alunos, professores e pais. Afinal, como tem se concretizado o
processo ensino-aprendizagem.
A tarefa é crucial, mas só por intermédio da participação cônscia, do
entendimento da representatividade e do pacto responsável de toda a comunidade
com o bem comum é que reconquistaremos a efetiva Função Social da Escola e a
15
articulação do trabalho pedagógico entre os diferentes segmentos no âmbito escolar,
tendo em vista o compromisso coletivo com a qualidade da escola pública.
Referências
ABRANCHES, M.. Colegiado Escolar: Espaço de participação da comunidade. São Paulo: Cortez, 2003.
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Indagações Sobre Currículo: Currículo, Conhecimento e Cultura. Brasília, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf>. Acesso em: 18 abr 2011.
BRASIL, Ministério da Educação. Lei nº. 9.394/96 – Diretrizes e bases da educação. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>. Acesso em 18 abr 2011.
CASTRO, A. A. D. Orientações Didáticas na Lei de Diretrizes e Bases. In: Educação básica: políticas, legislação e gestão: leituras. Vários autores. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
CRUZ, C. H. C. Conselho de classe: espaço de diagnóstico da prática educativa escolar. Coleção Fazer e Transformar. São Paulo: Loyola, 2005.
DUARTE, N. Por que é necessário uma análise crítica marxista do construtivismo. In: LOMBARDI, C; SAVIANI, D. (orgs.). Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, 2005. p. 203-221.
FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP. 2000.
GÓMEZ, A. I. P. As funções sociais da escola: da reprodução à reconstrução crítica do conhecimento e da experiência. In: SACRISTÁN, J. G.; GÓMEZ, A. I. P. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 13-26.
MANACORDA, M. A. Marx e a pedagogia moderna. 2. ed. Campinas, SP: Alínea, 1998.
MARTINS, S. M; BASTOS, C. C. Função social da escola: premissa para superação. Disponível em < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/851-4.pdf (2004)>. Acesso em 10 de maio de 20011.
16
ROSSLER, J. H. A educação como aliada da luta revolucionária pela superação da sociedade alienada. In: DUARTE, N. (org.). Crítica ao fetichismo da individuali-dade. Campinas, SP: Autores Associados, 2004, pp. 75-98.
SAVIANI, D. Sentido da Pedagogia e papel do Pedagogo. In revista ANDE São Paulo, n. 9, p. 27-28, 1985.
______. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 9. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005b.
______. Educação socialista, pedagogia histórico-crítica e os desafios da sociedade de classe. In: LOMBARDI, C; SAVIANI, D. (orgs.). Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, 2005a, p. 223-274.
WERLE, F. O. C. Conselhos Escolares: implicações na gestão da Escola Básica. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. VASCONCELLOS, C. S. Construção do conhecimento em sala de aula. 2ª ed.. São Paulo: Libertad, 1994. [Cadernos Pedagógicos do Libertad; 2]
VEIGA, Z. P. A. As instâncias colegiadas da escola. In: VEIGA, Ilma P. e RESENDE, Lúcia M.G. de (orgs). Escola: Espaço do projeto político – pedagógico. Campinas: Papirus, 1998.