frei luís de sous1- resumo obra

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Frei Luís de Sousa - resumo da obra A obra de Almeida Garrett decorre no século XVI, retrata a vida de Manuel de Sousa Coutinho e de sua esposa D. Madalena de Vilhena, que após sete anos do desaparecimento do primeiro marido que havia ido para a guerra, resolve-se casar novamente, dando o desaparecido como morto. Desse seu segundo casamento com Manuel Coutinho, nasceu Maria, uma jovem que sofre de tuberculose. Telmo Pais, um aio, é um fiel amigo e empregado de D. João de Portugal, primeiro marido de D. Madalena; que após o desaparecimento do mesmo continua a morar com a «suposta» viúva e sua família, servindo-os fielmente. D. Madalena vive atormentada com o possível regresso do primeiro marido cujo corpo nunca fora encontrado. Após uma briga de D. Manuel com alguns governantes espanhóis, ele incendeia a sua própria casa e parte para a residência onde sua esposa morara com o seu primeiro marido. A inquietação de D. Madalena agrava-se pelo facto de haver um grande retrato de D. João na parede, próximo ao de D. Sebastião (o qual o povo de Portugal aguardava a volta de uma guerra para governá-los). A certa altura, aparece um peregrino para dar notícias a respeito de D. João, vinte e um anos depois do seu desaparecimento. Na realidade esse peregrino é o próprio D. João de Portugal. Todos ficam abalados com esse regresso, então D. Madalena e D. Manuel resolveram« entregar-se» a Deus, considerando um pecado gravíssimo o facto de se terem casado sem a real certeza da morte de D. João. Maria, após descobrir toda a verdade, entra na igreja e tenta impedir o acontecimento, como tinha uma saúde frágil não resiste e morre, dando fim ao drama.

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Page 1: Frei Luís de Sous1- resumo obra

Frei Luís de Sousa - resumo da obra

A obra de Almeida Garrett decorre no século XVI, retrata a

vida de Manuel de Sousa Coutinho e de sua esposa D.

Madalena de Vilhena, que após sete anos do desaparecimento do

primeiro marido que havia ido para a guerra, resolve-se casar

novamente, dando o desaparecido como morto. Desse seu segundo

casamento com Manuel Coutinho, nasceu Maria, uma jovem que

sofre de tuberculose. Telmo Pais, um aio, é um fiel amigo e

empregado de D. João de Portugal, primeiro marido de D.

Madalena; que após o desaparecimento do mesmo continua a morar

com a «suposta» viúva e sua família, servindo-os fielmente. D.

Madalena vive atormentada com o possível regresso do

primeiro marido cujo corpo nunca fora encontrado. Após uma

briga de D. Manuel com alguns governantes espanhóis, ele incendeia

a sua própria casa e parte para a residência onde sua esposa morara

com o seu primeiro marido. A inquietação de D. Madalena agrava-se

pelo facto de haver um grande retrato de D. João na parede, próximo

ao de D. Sebastião (o qual o povo de Portugal aguardava a volta de

uma guerra para governá-los). A certa altura, aparece um

peregrino para dar notícias a respeito de D. João, vinte e um anos

depois do seu desaparecimento. Na realidade esse peregrino é o

próprio D. João de Portugal. Todos ficam abalados com esse

regresso, então D. Madalena e D. Manuel resolveram« entregar-

se» a Deus, considerando um pecado gravíssimo o facto de se terem

casado sem a real certeza da morte de D. João. Maria, após descobrir

toda a verdade, entra na igreja e tenta impedir o acontecimento,

como tinha uma saúde frágil não resiste e morre, dando fim ao

drama.

Page 2: Frei Luís de Sous1- resumo obra

Ato IEm Frei Luís de Sousa, há uma progressão dramática de eventos, que propaga um sofrimento cada vez mais intenso, até atingir o clímax; e cujo desfecho é a materialização concreta dos receios mais íntimos de Madalena: o regresso de D. João de Portugal, cujas consequências são a anulação do seu segundo casamento e a ilegitimidade de sua filha Maria, o que inevitavelmente conduz ao extermínio da família.

Cena IPalácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XII. É, pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens ainda gozam a liberdade de se movimentarem guiadas pela sua vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas domina-se uma paisagem vasta. – É o fim da tarde.

- Reflexão de Madalena a propósito de uns versos do episódio de Inês de Castro d «Os Lusíadas», que lhe despertam os seus próprios medos e «terrores» devido à semelhança que vislumbra entre o amor «ledo e cego» de D. Inês por D. Pedro e o seu próprio amor por Manuel Sousa Coutinho.

Cena II

Diálogo entre Madalena e Telmo, a partir do qual são dados a conhecer os antecedentes da ação:

- Telmo foi o «aio fiel» de D. João de Portugal.

- D. João de Portugal, então casado com Madalena, desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir;

- Madalena, viúva e órfã, com apenas dezassete anos, encontrou em Telmo o «carinho e proteção» que necessitava, dai a cumplicidade existente entre ambos;

- Durante sete anos, Madalena empreendeu todos os esforços e diligências ao seu alcance, para encontrar D. João de Portugal;

- Depois desta vã busca incessante, e apesar da desaprovação de Telmo fundada na crença de que o amo ainda estria vivo, Madalena casou-se com Manuel de Sousa Coutinho por quem fatalmente se apaixonara, na primeira vez que o vira.

-há 14 anos que Madalena se encontra casada com o segundo marido de quem teve uma filha, Maria de Noronha, no momento, com 13 anos;

Ainda nesta cena, Madalena pede ao seu «bom Telmo» que não alimente as fantasias de sua filha no que concerne à sua crença no mito de D. Sebastião, não só porque o estado de saúde de Maria é preocupante e frágil; mas também, e sobretudo, pelas implicações nefastas e desastrosas de tal quimera - a ser verdade - teria na sua vida.

Cena III

Maria entra em cena e evoca a crença sebastianista, a sua e a do povo, segundo a qual D. Sebastião voltaria numa manhã de nevoeiro cerrado, para salvar o reino do domínio filipino espanhol, restituindo a independência e orgulho da nação. Madalena exprime a sua inquietação e desagrado perante este assunto, pois a probabilidade de regresso de D. Sebastião estava intrinsecamente ligada ao aparecimento do seu primeiro marido.

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Cena IV

Diálogo entre Maria e Madalena do qual se apreende:

O amor existente entre mãe e filha; A forte intuição de Maria que a leva a aperceber-se que a inquietação dos pais em relação a si própria não advém apenas do seu estado de saúde; O carácter profético do sonho de Maria que a «faz ver cousas»; A curiosidade de Maria relativamente ao retrato do pai vestido de cavaleiro de Malta.

Cena V

Jorge chega com notícias de Lisboa, anunciado que os governadores espanhóis, devido à peste na capital, decidiram alojar-se em Almada, mais propriamente no palácio de Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho. Entretanto Maria ouve o pai chegar, apesar de este se encontrar a alguma distância do palácio; a audição apurada é já um sintoma da sua doença, a tuberculose.

Cena VI

Miranda, criado da casa, comunica a chegada de Manuel de Sousa Coutinho.

Cena VII

É noite fechada. Manuel de Sousa Coutinho entra em cena alvoraçado, dando ordens aos criados que o acompanham e transmitindo à família a sua intenção de se mudarem para o palácio que fora de D. João, decisão esta que deixa Madalena transtornada.

Cena VIII

Manuel procura convencer a esposa de que a única saída que têm, no momento, é irem viver para o palácio de D. João. Madalena aterrorizada com esta ideia, tenta dissuadir o marido, pois acredita que tal situação poderá separar irremediavelmente a família. No entanto, Manuel não se deixa impressionar com estas «vãs quimeras de crianças» e mantém a sua decisão.

Cena IX

Telmo dá conhecimento a Manuel de Sousa Coutinho da chegada antecipada dos governadores.

Cena X

Manuel de Sousa Coutinho pede a Jorge, seu irmão, para partir juntamente com família e levar todos os haveres que puderem transportar, que ele irá depois ter com eles.

Cena XI

Monólogo de Manuel de Sousa Coutinho em que este evoca a morte de seu pai que caíra « sobre a sua própria espada» e considera «tirana» a afronta dos governadores, pelo que decide atear fogo ao próprio palácio, para assim impedir que os intrusos ali se instalarem .

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Cena XII

Consumação do incêndio. Madalena, Maria, Jorge, Telmo e demais criados acodem. O retrato de Manuel de Sousa Coutinho é consumido pelas chamas perante a aflição impotente de Madalena que em vão o procura salvar.

Ato II

No segundo ato a ação passa-se durante o dia, no palácio que pertencera a D. João de Portugal, onde predomina o «gosto melancólico e pesado», o que remete, desde logo, para a fatalidade e para a desgraça.

Cena I

Maria entra em cena, puxando Telmo pela mão. Durante a conversa entre ambos são focados os aspetos seguintes:

• Maria invoca o início do romance de Bernardim Ribeiro, Menina e Moça, o que aponta para o seu próprio afastamento da família;

• Comenta o facto de sua mãe viver de tal modo aterrorizada naquele palácio, que havia oito dias que se encontrava doente;

• Telmo exalta as qualidades de coragem e patriotismo de Manuel de Sousa Coutinho;

• Maria refere o refúgio do pai, numa «quinta tão triste d`além do Alfeite», motivado pelo receio de represálias por parte dos governadores;

• Curiosa, interpela Telmo relativamente ao retrato que tanto assustara a mãe quando, ao entrar no palácio, «põe de repente os olhos nele e dá um grito»;

• Como Telmo tenta desviar a atenção de Maria sobre esse assunto, conversam sobre D. Sebastião e Camões, cujos retratos também se encontram naquela sala.

Cena II

Manuel de Sousa Coutinho, ao entrar em casa, desvenda à filha a identidade da figura masculina retratada no quadro e que Maria afirma desconhecer, embora suspeite de quem se trata.

Cena III

Manuel de Sousa Coutinho e Maria falam sobre o ambiente religiosos que os rodeia e sobre D. João de Portugal.

Cena IV

Jorge chega com a notícia do perdão dos governadores por influência do arcebispo e convida Manuel de Sousa Coutinho a ir com ele, e mais quatro religiosos, a Lisboa acompanhar o arcebispo, como forma de retribuir o favor concedido. Manuel concorda, até porque tem de ir à capital, ao Convento do Sacramento, falar com a abadessa. Maria entusiasmada, manifesta vontade de acompanhar o pai.

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Cena V

Madalena, na presença do marido, procura mostrar-se forte e recuperada, mas ao tomar conhecimento da sua ida a Lisboa, nessa sexta-feira, fica aterrorizada. Acaba, no entanto, por aceder e por autorizar a filha a ir também.

Cena VI

Madalena faz pressão para Telmo acompanhar Maria nessa viagem.

Cena VII

Madalena, extremamente preocupada, despede-se de Maria e de Manuel de Sousa Coutinho.

Cena VIII

Manuel de Sousa Coutinho fica admirado com a reação exagerada de Madalena, considerando os seus medos infundados e invoca o caso de Joana de Vimioso que, segundo afirma, não fizera aqueles « prantos, quando disse o último adeus ao marido ...».Madalena, inicialmente irónica, horroriza-se com essa lembrança.

Cena IX

Monólogo de Jorge que se mostra apreensivo face ao que o rodeia, pois «a todos parece que o coração lhes adivinha desgraça...».

Cena X

Madalena revela a Jorge o motivo dos seus «temores»: aquele dia era fatal para ela, uma vez que fazia anos que casara com D. João de Portugal, que se perdera D. Sebastião e que vira Manuel de Sousa Coutinho pela primeira vez, por quem logo se apaixonara, embora já fosse casada com D. João.

Cena XI

Miranda comunica a Madalena a chegada de um romeiro que deseja vê-la e falar-lhe. Ela cede a receber o romeiro.

Cena XII

Jorge aconselha Madalena a acautelar-se na presença do peregrino.

Cena XIII

Madalena e Jorge recebem o Romeiro.

Cena XIV

Em conversa com o Romeiro ficam a saber que este esteve cativo durante vinte anos, em Jerusalém; que é um homem só; que há três dias que viaja com o intuito de ali chegar; naquele preciso dia, para dar um recado a D. Madalena; que foi libertado há um ano...

Jorge impaciente, pressiona o Romeiro a falar sobre o motivo que o trouxe à presença de D. Madalena. Este, então, numa atitude fria e insensível, dá a conhecer que D. João de Portugal ainda se encontra vivo. Madalena retira-se dali, «espavorida e a gritar».

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Cena XV

Jorge reconhece D. João de Portugal na figura do Romeiro.

Ato III

A ação ocorre durante a madrugada do dia seguinte ao dos acontecimentos descritos no ato anterior, na parte baixa do palácio de D. João de Portugal, na capela da Senhora da Piedade, espaço repleto de adereços que reenviam para a ideia de uma profunda introspeção religiosa, de sacrifício e de morte, indiciando a tomada de hábito.

Cena I

Manuel de Sousa Coutinho conversa com o seu irmão Jorge, a quem exprime o atroz sofrimento que o atormenta, sobretudo em relação à filha, não só pelo agravamento do seu estado precário de saúde, mas principalmente pela sua vida futura, dada a sua condição de filha ilegítima. Jorge procura consolá-lo à luz da religião cristã, tentando fazê-lo crer que a «confiança em Deus pode muito», uma vez que «Deus sabe melhor o que nos convém a todos».

Manuel de Sousa Coutinho decide tomar o hábito e dizer «adeus a tudo o que era mundo», resolução que o seu irmão aprova, acrescentando que o arcebispo já tratara de tudo: ele ingressaria em Benfica e Madalena, no Sacramento.

A partir deste diálogo, sabe-se também que apenas Manuel de Sousa Coutinho, Jorge e o arcebispo têm conhecimento da verdadeira identidade do Romeiro que, entretanto, pedira a Jorge para falar com Telmo.

Cena II

Telmo entra em cena e informa os presentes que Maria despertou. Antes de se retirarem para ver Maria, Jorge dá algumas indicações a Telmo.

Cena III

Telmo segue as instruções de Jorge e aguarda a chegada do irmão converso.

Cena IV

Monólogo de Telmo no qual é bem visível os seu conflito interior entre o amor e fidelidade a D. João de Portugal e o amor a Maria que «...venceu...apagou o outro...».

Cena V

O Romeiro é trazido à presença de Telmo. Este, ao ouvir a voz daquele, reconhece a sua verdadeira identidade.

Ao longo da conversa entre ambos, D. João de Portugal toma consciência de que não só não tem mais lugar no coração de Madalena (que, segundo informou Telmo, usou todos os recursos possíveis para o encontrar); como também perdeu irremediavelmente a sua vida passada, acabando por se compadecer da desgraça daquela família. Como tal, para remediar o sofrimento causado pelo seu regresso, pede a Telmo para mentir, dizendo que «o peregrino era um impostor».

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Cena VI

Do lado de fora da porta, ouve-se Madalena desesperada a chamar pelo marido, gerando-se aqui uma grande confusão, pois o Romeiro, por momentos, te a ilusão de que ela o procura a ele.

Cena VII

Madalena ainda tenta evitar separara-se do marido, procurando convencê-lo de que estavam a ser precipitados ao acreditarem tão prontamente nas «palavras de um romeiro, um vagabundo...», mas Manuel de Sousa Coutinho mantém-se firme na sua decisão.

Cena VIII

Madalena continua esperançosa de evitar a separação iminente, dirigindo-se a Jorge, mas tanto este como o marido são inflexíveis.

Cena IX

Madalena, despedaçada pelo abandono a que se sente voltada, refugia a sua dor na religião cristã e, resignada, dirige-se para o local da cerimónia de tomada de hábito.

Cena X

Início da cerimónia da tomada de hábitos.

Cena XI

Maria surge em cena e, revoltada contra a (in)justiça divina que cruelmente a priva da família, incita os pais a mentir para a salvar.

Cena XII

Saindo detrás do altar-mor, o Romeiro ainda insiste com Telmo para os «salvar»; no entanto, é tarde demais: Maria reconhece a sua voz e morre «de vergonha».

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ESTRUTURA DA OBRA

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CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO

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Marcas da Tragédia Clássica em Frei Luís de Sousa

Ação trágica Frei Luís de Sousa

Peripéteia (peripécia, alteração) O aparecimento de D. João muda subitamente a situação transformando em ilegítimos o casamento de Madalena e Manuel e a filha deles.

Anagnorisis (conhecimento) O reconhecimento do Romeiro como D. João de Portugal, que tem lugar em diferentes momentos pelas diferentes personagens.

Hybris (desafio)Madalena desafia o destino ao amar Manuel de Sousa quando ainda estava casada com D. João de Portugal. Manuel desafia os deuses quando desobedece aos governadores e incendeia o seu palácio.

Pathos (sofrimento)

O sofrimento atinge todas as personagens pelas suas incertezas (Madalena), pelo sentimento de culpa (Madalena e Manuel Sousa), pela divisão interior (Telmo), pela doença e pela vergonha de sua ilegitimidade (Maria), pelo esquecimento a que foi votado (D. João).

Clímax A tensão emocional aumenta progressivamente dentro de cada uma das cenas; na globalidade, atinge-se o ponto máximo no final do Ato II.

Katastrophé (catástrofe) Maria morre; Manuel e Madalena separam-se e morrem para o mundo ao

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professarem.