fraude no vale-refeição

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Projeto da UnB ensina produtores e comuni- dades afastadas a gerarem energia sustentável. Equi- pamentos utilizados têm baixo custo e usam matérias- primas como serragem e casca de café Enquanto pacientes enfrentam superlota- ção na rede especializada e recebem atendimento em creche, menos da metade da verba para amparar os doentes foi utilizada em 2008 SAÚDE FOTO: TCHÉRENA GUIMARÂES Cuidado à saúde mental no DF é o segundo pior do País Bioenergia para agricultores CIÊNCIA E TECNOLOGIA SEGUNDA-FEIRA - Brasília, 8 de Junho de 2009 WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE ANO 39, EDIÇÃO Nº337 Conheça a história de Leroy Lee Baiano que descobriu o talento para artes marciais enquanto vigiava carros ajuda jovens no Recanto das Emas Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília NÚMERO DE CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL É INSUFICIENTE PARA ATENDER DEMANDA DA REGIÃO FOTO: FABIANO BOMFIM “Nós não vamos pagar nada”: para aqueles que reclamam do alto custo da cultura em Brasília, há uma série de eventos gratuitos de boa qualidade que vão da ópera ao cordel (foto) 05 CULTURA FOTO: CAMILLA MACHUY FOTO: TCHÉRENA GUIMARÃES Recorde de preços em Brasília Cidade é a capital com a farinha de trigo e o açúcar mais caros do Brasil. Liderança vem se repetindo há 15 meses POR AQUI Fraude no vale-refeição Restaurante Atrium, no Setor Comercial Sul, paga a trabalhadores por benefício que só poderia ser usado na compra de alimentos. Estabelecimento cobra taxa de até 20% nas operações 03 07 CIÊNCIA E TECNOLOGIA FOTO: FABIANO BOMFIM HRAN (foto) aplica método diferenciado para tratar câncer de pele. A Terapia Fotodinâmica, nociva apenas às células cancerosas, entusiasma pacientes 06 04 06 07

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Restaurante Atrium, no Setor Comercial Sul, paga a trabalhadores por benefício que só poderia ser usado na compra de alimentos. Estabelecimento cobra taxa de até 20% nas operações

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Page 1: Fraude no vale-refeição

Projeto da UnB ensina produtores e comuni-dades afastadas a gerarem energia sustentável. Equi-pamentos utilizados têm baixo custo e usam matérias-primas como serragem e casca de café

Enquanto pacientes enfrentam superlota-ção na rede especializada e recebem atendimento em creche, menos da metade da verba para amparar os doentes foi utilizada em 2008

SAÚDE

FOTO: TCHÉRENA GUIMARÂES

Cuidado à saúde mental no DF é o segundo pior do País

Bioenergia para agricultoresCIÊNCIA E TECNOLOGIA

SEGUNDA-FEIRA - Brasília, 8 de Junho de 2009 WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE ANO 39, EDIÇÃO Nº337

Conheça a história de Leroy Lee

Baiano que descobriu o talento para artes marciais enquanto vigiava carros ajuda jovens no Recanto das Emas

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

NÚMERO DE CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL É INSUFICIENTE PARA ATENDER DEMANDA DA REGIÃO

FOTO: FABIANO BOMFIM

“Nós não vamos pagar nada”: para aqueles que reclamam do alto custo da cultura em Brasília, há uma série de eventos gratuitos de boa qualidade que vão da ópera ao cordel (foto)

05

CULTURA

FOTO: CAMILLA MACHUY

FOTO: TCHÉRENA GUIMARÃES

Recorde de preços em BrasíliaC i d a d e

é a capital com a farinha de trigo e o açúcar mais caros do Brasil. Liderança vem se repetindo há 15 meses

POR AQUI

Fraude no vale-refeiçãoRestaurante Atrium, no Setor Comercial Sul, paga a trabalhadores por benefício que só poderia ser usado na compra de alimentos. Estabelecimento cobra taxa de até 20% nas operações 03

07

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

FOTO: FABIANO BOMFIM

HRAN (foto) aplica método diferenciado para tratar câncer de pele. A Terapia Fotodinâmica, nociva apenas às células cancerosas, entusiasma pacientes

06

04

0607

Page 2: Fraude no vale-refeição

2 Opinião ))

EXPEDIENTEEditora-Chefe: Mayara Reis Secretária de Redação: Marina Bosio Diretora de Arte: Juliana Leão Editores: Bruno Silva (Opinião), Naiara Leão (Por Aqui), Naira Gomes (Cultura), Luciana Albuquerque (Ciência & Tecnologia), Ana Beatriz Lemos (Esporte e Saúde), Amanda Gonzaga (Comportamento), Gláucia Cristina (Fotografia)Repórteres: Ana Cláudia Felizola, Anna Carolina Vilela, Camilla Machuy, Filipe Kafino, Izabella Miranda, Juliana Leão, Juliana Nogueira, Leonardo Muniz, Lucas Doca, Marciele Santos, Pedro Duprat, Tchérena GuimarãesFotógrafos: Camila Guedes, Fabiano Bomfim, Sacha Brasil, Tchérena GuimarãesDiagramadoras: Ana Paula Paiva, Fernanda Neves, Maria Scodeler, Taíssa Dias Projeto Gráfico: Filipe Kafino, Leonardo Muniz, Lucas Doca, Naiara LeãoProfessor Responsável: Solano NascimentoJornalista: José Luiz SilvaProfessor de Fotografia: Lourenço CardosoSuporte Técnico: Pedro França e Mário FilhoMonitoras: Janine Moraes e Marina de SáTIRAGEM: 4.500 EXEMPLARES – GRÁFICA GUIAPACK

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC-Ala Norte.Contato: (61) 3307-1925 Ramal 207/241 – [email protected] - Caixa Postal: 04660 CEP: 70910-900

ConjunturaAntônio Guedes é servidor da UnB e coordenador-geral do Sintfub

[email protected]

Problemas da terceirização

De quem éo mérito?

EDITORIAL

Carta do leitor

Gostaria de parabenizar o jornal por trazer infor-mações sobre as pesquisas desenvolvidas na UnB. É interessante saber que estu-dos envolvendo nanotecno-logia estão sendo realiza-dos na Universidade, e seria bom ter alguma matéria envolvendo fonte diferente de tecnologia pesquisada em outros campi da cidade.

Infelizmente, os custos para pesquisas de nanotec-nologia são exorbitantes. Porém, é um excelente ca-minho para abrir um novo e imenso leque de possibi-lidades a todos nós, sendo necessário que os fundos dedicados a tais pesquisas sejam incrementados, a fim de trazer resultados cada vez mais variados e em in-tervalos de tempo cada vez menores.

VITOR CÂMARA BEROCAN LEITEEstudante de Administração

OMBUDSKIVINNA

O Campus é mais do que um veículo informativo, é um

processo de aprendizagem. Na edição anterior, isso ficou muito nítido, pois o jornal amadureceu e as matérias ficaram mais bem tra-balhadas. Um destaque vai para a matéria de Especial, Olhos ven-dados para o passado. Apesar de as

matérias anteriores dessa editoria terem sido interessantes, essa é a que mais se desenha como Espe-cial, tanto graficamente, quanto textualmente. Uma ressalva im-portante é que, às vezes, parece que a culpa da ditadura é jogada toda em cima dos torturadores. É preciso tomar cuidado, pois certas simplificações da realida-de podem acabar modificando o entendimento dos fatos.

Acertos à parte, a capa do jor-nal deixa a desejar. As chamadas das matérias são muito gerais e não chamam a atenção do leitor. Não se trata aqui de apelar para o sensacionalismo, mas sim apre-sentar já na capa o que as repor-tagens trazem de novo. Pensando também no público universitário como principal leitor, teria sido interessante a presença da maté-ria sobre investimento estrangei-ro no ensino superior nacional.

A edição merece elogios, pois a equipe do jornal acertou a mão, apenas uma editoria permanece

ainda confusa, a de Compor-tamento. Apesar de o nível dos textos da editoria ter melhora-do a cada edição, a matéria Bons negócios se prende à tendência econômica, às lucrativas festas universitárias, e não comporta-mental. Outra observação é o fato de o texto ser simplista ao enquadrar todas as festas no saco dos “churrascos sem carne”, sem diferenciar, por exemplo, o Ele-troxurras da Biovinil.

Os críticos também amam

Ana Rita Cunha, estudante do 7° semestre de Jornalismo

* Ombudskvinna, feminino de ombuds-man. Na imprensa, é a pessoa que anali-sa o jornal do ponto de vista do leitor

A partir de 1990, o avanço do projeto neoliberal levou o país à abertura econômica indiscriminada e ao aumento da

competição entre as empresas. O desmonte da regulação do trabalho e das políticas públicas, dentro de uma lógica priva-tista e de Estado mínimo, intensificou a perda de direitos e a precariedade das condições de trabalho.

A terceirização, além de estar acumulada no setor privado, está também incorporada na maioria das instituições públicas por meio de empresas prestadoras de serviço. Estas empre-sas surgem com uma roupagem idônea e conseguem grandes contratos, principalmente com órgãos públicos. Em seguida, causam transtornos para as instituições e para os trabalhado-res pelo não-cumprimento das cláusulas contratuais, levando a Justiça do Trabalho ao abarrotamento de ações trabalhistas para garantia dos direitos individuais e coletivos.

DCE adiou eleições em 82À semelhança das eleições adiadas para este ano, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) postergou o pleito em 1982 por causa de uma greve que mobilizou toda a Universidade e se encerrou após nego-ciação entre o reitor José Carlos Azevedo e os presidentes do DCE, Zeke Beze, e da ADUnB, Volnei Garrafa. Na edição 45 do Campus, o repórter Antônio Claret relatou que as eleições deveriam ter sido realizadas em novembro, mas a paralisação surpreendeu as cinco cha-pas concorrentes.

EDIÇÃO 45 – JORNAL CAMPUS

HÁ QUASE 40 ANOS

Leia o Campus Online www.fac.unb.br/campusonline!

ILUSTRAÇÃO:

T ramita na Câmara Le-gislativa o projeto de lei que institui o passe-livre

estudantil no Distrito Federal. Proposto pelo GDF no fim de maio, o projeto estabelece tarifa zero no transporte de estudan-tes do ensino básico ao superior, de instituições públicas e priva-das. Para custear o transporte dos cerca de 1,3 milhão de alu-nos, o investimento mensal do governo, de acordo com o vice-governador Paulo Octavio, seria de R$ 3,2 milhões.

A importância de tal inicia-tiva vem há tempos sendo de-fendida pelos estudantes. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada em abril, mostrou que a dificuldade de acesso à escola foi uma das prin-cipais causas de evasão escolar em 2008 entre jovens brasileiros de 15 a 17 anos, aparecendo em quase 11% dos casos.

Para pagar o valor atual do passe estudantil, que é de um terço da passagem do usuá-rio comum, um estudante que mora em Planaltina, por exem-plo, gasta mensalmente cerca de R$ 44, ou 14,6% da bolsa de permanência oferecida a es-tudantes carentes da UnB. Isso desconsiderando as aulas de fins de semana e as passagens até a Rodoviária do Plano Pi-loto, se for sair da UnB depois das 18h30 ou morar em locais em que seja preciso usar mais de uma linha de ônibus.

Curioso mesmo é que, há cerca de três anos, o mesmo go-verno que hoje propõe a insti-tuição do passe-livre estudantil vetou e julgou inconstitucional lei idêntica proposta e aprovada pela Câmara Legislativa. Res-ta esperar que não prevaleça a briga entre governo e oposição e, enfim, os estudantes tenham garantido seu acesso à educação.

Participe também do Campus, escreva a sua cartaEnvie críticas e sugestões para [email protected]!

ILUSTRAÇÃO: ANÍGER DE OLIVEIRA

ILUSTRAÇÃO: JULIANA FONTES

É comum depararmos com escândalos envolvendo empre-sas prestadoras de serviços, que muitas vezes são chamadas a responder pelas dívidas trabalhistas que elas deixam para trás, não tendo o mínimo compromisso com o bem público. Os trabalhadores terceirizados não têm a proteção necessária diante dos abusos praticados contra seus direitos, como sa-lários diferenciados para atividades iguais dentro da mesma instituição, contrariando a igualdade de direitos prevista na constituição.

É necessário impor maior controle na administração pú-blica, porque a contratação do trabalhador terceirizado custa mais aos cofres públicos do que a de um servidor efetivo. A admissão desse modelo abre as portas para o famigerado ne-potismo e para o apadrinhamento político, driblando as exi-gências do concurso público.

Seguindo no mesmo viés, o Projeto de Lei Complementar (PLP) 92, que tramita no Congresso Nacional, cria a Funda-ção Estatal de Direito Privado, mudando a natureza jurídica da gestão dos hospitais de ensino (instituições ligadas a uni-versidades e escolas técnicas). Isso reforça a lógica da política de Estado mínimo, indo de encontro à efetiva presença do Estado para o fortalecimento das instituições e para o desen-volvimento social.

Na reportagem Cerveja, paquera, funk e bons negócios, da edição 336, foi informado que o CA de Elétrica teria sido mobiliado com o lucro da Eletrofest. O correto é que tal festa não tem ligação com o CA. O evento responsável pela arrecadação é o Eletroxurras.

ERRAMOS

Page 3: Fraude no vale-refeição

3Por Aqui((

Na fachada do Restau-rante Atrium, no Se-tor Comercial Sul, há

apenas um letreiro talhado na madeira e um quadro com o cardápio do dia. O curioso é a movimentação intensa de clientes que não vão lá para almoçar. Sem falar com qual-quer garçom ou atendente, eles apenas descem as esca-das para o subsolo. Ali podem vender o crédito de seu cartão alimentação, benefício conce-dido por lei a grande parte dos trabalhadores e que só pode ser usado em supermercados e restaurantes.

A transação é rápida. O atendente que fica atrás de uma cancela de ferro per-gunta a senha do cartão e o valor que o “cliente” quer sa-car. O estabelecimento cobra de 13% a 20% do dinhei-ro retirado, dependendo da bandeira e do tipo do cartão (refeição ou alimentação). Quando questionado sobre a legalidade da venda, o aten-dente, que não quis se identi-ficar, respondeu: “Olha, certo mesmo, não é, mas pode ter certeza que isso não vai te trazer problema algum”.

O dinheiro sai na hora e com comprovante fiscal como qualquer outra compra feita com cartão alimentação ou refeição. No comprovante constam nomes e endereços de supermercados e lanchone-tes situados longe dali, como o Supermercado Veneza, no Cruzeiro, e a lanchonete Minutu’s Pizza, na Asa Nor-te. Nos saques de maior valor, que variam entre R$ 300 e R$ 800, os comprovantes indi-cam a mesma empresa: Patrí-cia M. Oliveira, com sede na QR 4, Conjunto C, Loja 2, na Candangolândia. O Campus foi ao endereço indicado e não encontrou qualquer su-permercado ou lanchonete com esse nome. Lá funciona um pequeno armarinho cha-mado Juliana Utilidades, que não aceita cartões alimenta-ção. No lugar não há letreiro ou qualquer identificação.

O gerente do restaurante Atrium, que se identificou apenas como Juliano, admi-tiu conhecer o negócio no subsolo da loja. Ele afirmou ainda que as transações não têm qualquer irregularidade e confirmou a existência dos estabelecimentos apresenta-dos nos cupons fiscais. Mas desconversou ao ser informa-do que a reportagem compa-receu ao local onde suposta-mente funciona o mercado Patrícia M. Oliveira. “Vocês devem ter errado o endere-ço porque o estabelecimento funciona corretamente. De

qualquer forma, eu não sou obrigado a fornecer qualquer informação”, disse, encerran-do a conversa.

Adeílson Ferreira, gerente da pizzaria Minutu’s, também declara estar ciente da liga-ção da loja com a compra do vale-refeição. “Emprestamos e levamos nossas máquinas de crédito para quem quisermos.

O comércio do crédito (ali-mentação/refeição) não nos traz problema algum e tem baixa margem de lucro, uma vez que as empresas de car-tões descontam 9% de cada transação”, explica Ferreira.

Ao contrário da pizzaria, a diretoria do supermercado Veneza, do Cruzeiro, nega qualquer envolvimento com o

LEONARDO MUNIz

restaurante Atrium. Segundo o supervisor-geral, José Ma-ria, o Veneza nunca recebeu dinheiro do comércio de be-nefício alimentação nem ce-deu suas máquinas de crédito para qualquer transação fora de suas unidades.

Norma em brancoO benefício alimentação

surgiu há 35 anos com o Pro-grama de Alimentação do Trabalhador (PAT), definido na Lei 6.321, de 1976. Ele pode ser acumulado de um mês para o outro. As empre-sas não pagam tributos sobre o valor do vale e ainda podem descontar parte dele no Im-posto de Renda devido.

O funcionário de uma em-

presa de segurança da infor-mação, que prefere não ser identificado, tem 24 anos e recebe mensalmente R$ 350 em seu cartão alimentação. O crédito que deveria ser usado em compras no supermercado ou em restaurantes é trocado por dinheiro vivo no Atrium. “Moro com meus pais e almo-ço em casa”, relata o funcio-nário, que chegou a acumular R$ 1 mil no saldo do cartão. “Depois que descobri que po-dia sacar o dinheiro, percebi que era mais fácil juntar grana assim, mesmo pagando 15% para o restaurante.”

A Associação das Empre-sas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert) informa que o setor movimentou em 2008 cerca de R$ 19 bilhões. Na época em que eram utilizados vales de papel, entre 1996 e 1998, a venda de crédito chegava a 6% de todo o mercado de tí-quetes. Apesar do advento do sistema eletrônico, que pro-metia maior segurança e co-modidade, a venda de benefí-cios não cessou. Ainda não há um balanço capaz de calcular os prejuízos.

A delegada Martha Geny Vargas, da 1ª Delegacia de Polícia Civil, na Asa Sul, in-forma que não pode coibir o comércio do vale-alimentação porque essa prática não é con-siderada crime. Ela alerta, no entanto, que os restaurantes e lanchonetes envolvidos no esquema podem responder por crime fiscal, caso confir-mada qualquer irregularidade na apresentação de compro-vantes de pagamento ou na declaração do dinheiro movi-mentado pelo negócio.

O Grupo VR, uma das maiores empresas de cartões-benefício do Brasil, informou por meio de sua assessoria que busca identificar os es-tabelecimentos infratores na conferência de valores exces-sivos em uma única transação. De acordo com a empresa, quando são apuradas irregu-laridades, os restaurantes, su-permercados e açougues são advertidos e até descreden-ciados.

“A questão é incômoda para o setor”, afirma o presidente da Assert, Arthur Almeida. “A esmagadora maioria dos traba-lhadores beneficiados (cerca de 11,5 milhões) utiliza adequa-damente o crédito recebido de suas empresas.” O presidente explica que não há uma puni-ção prevista na lei do PAT, mas as empresas infratoras podem perder sua inscrição no progra-ma. “Além disso, o beneficiado deve estar ciente de que está se submetendo ao pagamento de taxas extorsivas, bem maiores que a inflação”, completa.

Restaurante localizado no Setor Comercial Sul adquire crédito de cartões alimentação e refeição de trabalhadores e emite comprovantes de transações falsas

Compras fictícias de alimentos

PIZZARIA DA 211 NORTE EMPRESTA MÁQUINA DE CARTÕES PARA A VENDA IRREGULAR DE VALE-ALIMENTAÇÃO E REFEIÇÃO E RECEBE COMISSÃO NAS OPERAÇÕES

BOLETOS EMITIDOS PELO RESTAURANTE ATRIUM APONTAM OUTROS ENDEREÇOS. OS SAQUES DO VALE-ALIMENTAÇÃO CHEGAM A R$ 800

NA CANDANGOLÂNDIA, ONDE SUPOSTAMENTE DEVERIA FUNCIONAR A EMPRESA PATRÍCIA M., INDICADA NAS NOTAS, HÁ UM ARMARINHO SEM IDENTIFICAÇÃO

FOTO : CAMILA GUEDES

FOTO : SACHA BRASIL

Page 4: Fraude no vale-refeição

Brasília é campeã em produtos

Embora Brasília seja a quarta cidade mais cara do país, nem todos

sentem isso com a mesma intensidade. A média salarial no Distrito Federal é de R$ 1.827 e, no entanto, cerca de 20% das famílias têm renda próxima a um salário míni-mo, sendo que 51,7% des-se rendimento é destinado à alimentação. De acordo com o Departamento Intersindi-cal de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), uma cidade é considerada cara a partir do preço da sua cesta básica.

São 13 os itens que com-põem a cesta: carne, leite, feijão, arroz, farinha de trigo, batata, tomate, pão, café, ba-nana, açúcar, óleo e manteiga. É comum que o preço desses produtos oscile mensalmente, sendo mais caro ora em um estado, ora em outro. Apesar de Porto Alegre ser a primei-ra colocada no ranking das capitais mais caras, Brasília tem sido a campeã no preço da farinha e do açúcar. Des-de janeiro de 2008, a cidade ficou 12 meses em primeiro lugar no preço do açúcar e 10 meses no da farinha. A lide-rança se repetiu em março e abril de 2009, os últimos me-ses analisados pelo Dieese.

Ednei Ferreira, que há três semanas trabalha como ajudante de serralheiro na UnB e recebe R$ 585 por

4 Por Aqui ))

Desde o ano passado, cidade bate recorde de preços da farinha de trigo e do açúcar entre capitais

mês, teve de reduzir para menos da metade a quanti-dade de açúcar que compra-va mensalmente. Do salário que recebe, ele gasta R$ 285 com alimentação, custo mais alto que o preço da cesta em Brasília, equivalente a R$ 221,18.

Ferreira não está exage-rando nas compras. O que acontece é que o preço da cesta básica é calculado ape-nas para um indivíduo, mas a família de Ferreira também é composta por sua mulher e

JULIANA LEÃOTCHÉRENA GUIMARÃES

usinas de moagem do trigo estão próximas aos portos de escoamento.

Para o Supervisor Técnico do Dieese, Clóvis Scheres, Brasília tem um grande pro-blema na logística de distri-buição de produtos. Como a cidade tem grandes dimen-sões, é necessário haver pla-nejamento e muito investi-mento em transporte, além de um maior número de locais para armazenamento. Outro problema é o mercado con-sumidor, que tem alta renda e aceita preços elevados. “O comerciante coloca um preço

sua filha de quatro anos. As-sim, o mínimo necessário que ele deveria gastar com ali-mentação seriam R$ 552,95. Muitas vezes ele se vê obriga-do a abdicar de alguns itens e outras vezes diminuir brus-camente o consumo. “Nós estamos reduzindo na comi-da. Antes a gente fazia três cafés por dia, agora só um, no horário que eu saio para o trabalho”, comenta Ferreira. Outra alternativa encontrada pela família dele foi diminuir no consumo de suco.

O Dieese calcula, ainda, o salário mínimo ideal para um cidadão. Em Brasília, esse sa-lário seria de R$ 1.972. Isso decorre de um Decreto-lei de 1938, que instituiu o sa-lário mínimo tendo como referência principalmente o valor da cesta básica. Outros fatores também são levados em consideração, como mo-radia e transporte.

MotivosBrasília é campeã nos pre-

ços do açúcar e da farinha de trigo por uma série de fatores. Conforme Mariano Marques, analista de merca-do da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) do DF, o Centro-Oeste pro-duz todos os itens da cesta básica, com exceção do açú-car e da farinha de trigo. De acordo com Jorge Nogueira, professor da UnB e doutor em economia agrícola, o alto preço do açúcar em Brasília (R$ 1,76 o quilo, na tabela do Dieese) se justifica pelo fato de a maior parte da produção de cana-de-açúcar do Cen-tro-Oeste ser transformada em álcool. O maior produ-tor de cana do Brasil é São Paulo, e é desse estado que

a capital compra o açúcar. A distância do centro produtor faz com que o preço do ali-mento aumente.

Em outras unidades da federação importadoras de açúcar, como Goiás, o im-pacto no custo da cesta bási-ca não é tão grande por causa da produção local de outros itens. Brasília, ao contrário, não possui a agricultura con-solidada. A capital do país produz basicamente horti-granjeiros, dos quais o princi-pal é o pimentão. “O solo no DF é tão caro que só culturas extremamente rentáveis são capazes de sobreviver aqui. A produção de Brasília não compensa nada, a não ser que se coloque pimentão na cesta básica”, avalia Nogueira.

O quilo da farinha de trigo em Brasília chegou em abril a R$ 2,25, apesar da redução de 1,75 % no valor do produ-to em comparação a março. O preço em Porto Alegre, se-gunda colocada no custo da farinha, alcançou, no mesmo mês, R$ 1,48. De acordo com um dirigente do Sindicato das Indústrias de Alimen-tação de Brasília (Siab), que preferiu não ser identificado, a alta do preço do produto se deve ao monopólio da mul-tinacional Bunge Alimentos S/A, que detém 40% do mer-cado. A empresa importa o trigo da Argentina. Rodrigo Avranesco, coordenador de logística da Bunge, atribui o custo da farinha em Brasília à falta de canais fluviais para a chegada da mercadoria. “Ela chega aqui por via terrestre, a forma de transporte de maior custo do país”, afirma Avra-nesco. Ele explica, também, que algumas cidades têm maiores vantagens porque as

de modo que consiga vender seu produto no mercado. As-sim, aqui ele aproveita para vender seus produtos a altos preços”, afirma Scheres.

O professor Noguei-ra acredita que todas essas questões que levam à gran-de instabilidade de preços no DF são motivadas por um problema ainda maior. “Olhando o gráfico anual do sobe-e-desce dos preços, percebemos claramente que falta política para o setor de alimentos”, afirma o profes-sor.

Mariano Marques acres-centa o reduzido número de concorrentes à lista de moti-vos para o custo do açúcar e da farinha na capital. “O Car-refour, o Extra e o Wal-Mart são basicamente os grandes supermercados revendedores”, explica o analista da Conab. “As distribuidoras acabam ditando os valores.” Ele dá como exemplo oposto o preço do pão. Apesar de ser deriva-do do trigo, o pão do DF não é recordista nacional devido à grande concorrência entre as padarias, que faz baixarem os preços.

A empregada doméstica Eliane Souza recebe um salário mínimo por mês e sustenta a fi-lha de oito anos. A alta do preço da cesta, principalmente da fa-rinha de trigo, fez com que ela mudasse alguns hábitos, como deixar de comprar farinha para fazer bolo e optar pelo pão. “Se a farinha de trigo fosse mais bara-ta, eu não demoraria tanto para comprar”, explica. “Comprei o último pacote há três meses.”

PREÇO ALTO DA FARINHA ESTÁ LIGADO À FALTA DE CONCORRÊNCIA NO SETOR E AO ELEVADO CUSTO DE TRANSPORTE DOS PRODUTOS

FOTO :TCHÉRENA GUIMARÃES

Açúcar

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Farinha

Ideal

Atual

Preço da cesta básica em Brasília

Salário mínimo

Por pessoa

Por família(2 adultos e 2 crianças)

Fonte: Dados do Dieese referentes ao mês de abril de 2009

l l l

R$ 1.972,64

R$ 465,00

R$ 221,18R$ 663,54

FOTO : TCHÉRENA GUIMARÃES

ELIANE SOBREVIVE COM SALÁRIO MÍNIMO E TROCA A FARINHA DE TRIGO PELO PÃO

mais caros do país

ILUSTRAÇÃO: JULIANA FONTES

Page 5: Fraude no vale-refeição

não é tão simples. “Tem uma disparidade. Tem gente que acha que faltam eventos gra-tuitos, tem gente que não sabe que existe e tem gente que simplesmente não vai,” diz.

Valois é um dos organiza-dores do CineClub do Iesb. Todos os sábados, às 14h, os alunos do curso de Cinema fazem uma exibição de um filme famoso. Antes, passam produções dos estudantes e fa-zem uma sessão de discussão. “A gente divulga no Iesb e em volta, mas não podemos fazer muita coisa porque a verba sai do nosso bolso”, afirma.

O CCBB não enfrenta carência de público por falta de divulgação. A assessoria de Comunicação do centro informou que às vezes não é possível atender a demanda por ingressos porque as pro-duções, com frequência, estão cheias. As sessões de curtas-metragens franceses da mos-tra Decididamente Animados, que ocorreu no centro, ficaram lotadas nos três dias de pro-gramação. O projeto Todos os Sons teve um público de pouco mais de 250 pessoas – caberia mais que o dobro - na exibição do final de maio.

O Conjunto Cultural da Caixa adota a postura de co-brar ingressos simbólicos em algumas produções. Os pro-jetos artísticos são escolhidos por edital. Os selecionados re-cebem o patrocínio da institui-ção e podem utilizar os espaços culturais. A assessora Melissa Luz explica que a cobrança do ingresso não é necessária, mas é um pedido da organização dos eventos. “Cobramos R$ 2 em alguns shows apenas para que as pessoas valorizem o evento”.

Ela conta que algumas ve-zes a gratuidade faz com que os interessados retirem as en-tradas na bilheteria e não com-pareçam à apresentação. “Isso é ruim porque se perde o contro-le do número de espectadores”, afirma. Apesar disso, vários artistas da Caixa preferem gra-tuidade. “Os eventos nunca fi-cam vazios, sempre há uma fila de espera que preenche todos os lugares”, completa.

Não há mais desculpas para reclamar da vida cultural da capital.

Aqueles que insistem em afir-mar que não há nada para fazer em Brasília ou que os eventos são muito caros podem se sur-preender. O Campus passou uma semana acompanhando a vida cultural gratuita da cida-de. Há programação de qua-lidade para todos os dias. Às vezes, mais de uma. A diver-sidade de shows, exposições e apresentações é tão grande que é difícil escolher apenas uma entre as opções.

Na última semana de maio, foram visitados alguns dos cen-tros culturais mais freqüenta-dos de Brasília, como o Teatro Nacional, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e o Conjunto Cultural da Caixa. Além disso, a Torre de TV e o Açougue T-Bone ofereceram oportunidades de diversão para os brasilienses.

O I Encontro de Cordel Nordestino em Brasília teve como objetivo integrar repre-sentantes da cultura de cordel e repente, além de mostrar o trabalho dos artistas de várias partes do país. Ao longo do dia 29 de maio, sexta-feira, corde-listas expuseram seus traba-lhos no Teatro Caixa Cultural. O fechamento do evento ficou por conta de apresentações de repentistas que homenagea-ram Patativa do Assaré, famo-so poeta nordestino.

No mesmo dia, ocorria a abertura da segunda edição do Festival Rolla Pedra, na Torre de TV. O evento, criado em

5 Cultura((

De ópera tcheca a rock pesado, programação mostra que há diversidade cultural mesmo em eventos gratuitos

CAMILLA MACHUyJULIANA NOGUEIRA

(nos shows gratuitos) que a gente não atingiria num show fechado”.

DivulgaçãoApesar de serem gratuitos,

os eventos nem sempre têm a lotação esperada. Na apresen-tação do Ópera para Todos no último sábado de maio, ape-nas 11 das 95 cadeiras da sala do teatro estavam ocupadas. Asta-rose Alcaide, presidente da Associação Ópera Brasília, explica que quem cuida da di-vulgação é ela. “Estive doente e não pude fazer a divulgação direito, mas normalmente coloco o programa em todas as colunas”, conta. “Tem que se criar o hábito de assistir à ópera para que as pessoas fre-quentem.”

Arabela Miranda, profes-sora de geografia, soube do encontro dos cordéis pelos jornais. “Sempre consulto a internet, a TV e os jornais para ver o que há de interessante”, diz. Para a professora, existe

Confira a agenda cultural diariamente no site: fac.unb.br/campus2009@

uma boa variedade de eventos. Já Célio Amorim, professor de remo, ficou sabendo do even-to por meio de um cartaz na UnB. Para ele, a programação gratuita não é muito divulga-da. “Tem até uma variedade legal de coisas gratuitas para se fazer, mas é só um público privilegiado que fica sabendo”, opina.

Além dos jornais e da in-ternet, o boca-a-boca é uma forma efetiva de divulgação. Foi assim que o grupo de amigos formado pelo advoga-do Rômulo Lourenzatto e os universitários Naiara Young, Érica Barros e Leonardo Fe-lipe ficaram sabendo do pro-jeto Todos os Sons. “Recebi a programação no meu e-mail e contei para eles”, diz Felipe. “A gente não tem dinheiro, mas tem gasolina no carro”, explica Lourenzatto.

Para Cezar Valois, estudante do 4º semestre de Cinema do Instituto de Ensino Superior de Brasília (Iesb), o assunto

2006, abre espaço para bandas independentes de Brasília. O público que gosta de um som mais pesado pôde acompanhar grupos que ainda despontam no mercado cultural e outros já bem conhecidos, como o Raimundos.

Para quem aprecia a música erudita, a Associação Ópera Brasília promove no último sábado do mês, às 17h, o pro-jeto Ópera para Todos. Víde-os de óperas são projetados na Sala Alberto Nepomuceno, no Teatro Nacional. Estão sendo exibidas peças de diversos paí-ses. No dia 30, foi apresentada A Noiva Vendida, do composi-tor tcheco Bedrich Smetana.

O projeto Todos os Sons, que já está em seu terceiro ano, ocorre a cada 15 dias no gramado do CCBB, sempre aos domingos. O primeiro espetáculo deste ano trouxe Ellen Oléria, o rapper GOG e o grupo de hip hop argenti-no Actitud Maria Marta. Este ano, os artistas nacionais divi-dirão o palco com grandes no-mes da música internacional.

A cantora argentina Ma-lena D’Alessio, do Actitud María Marta, diz que a mú-sica é “uma coisa básica”, que deveria ser gratuita, mas que o artista tem de sobreviver e, por isso, é preciso haver financia-mento. “É muito importante o governo financiar a cultura. Quando você toca gratuita-mente, significa que o Estado ou uma empresa está bancan-do”, afirma. “O show aberto é agregador”, diz Célio Maciel, baterista da banda de Ellen Oléria. O guitarrista da ban-da, Rodrigo Bezerra, concor-da: “Às vezes tem um público

Capital com entrada FRANCA

ELLEN OLÉRIA E BANDA TOCAM NO PROJETO TODOS OS SONS QUE OCORRE AOS DOMINGOS NO CCBB

FOTO : CAMILLA MACHUY

IndiquePor Pedro Duprat

Modern Times (Bob Dy-lan, 2006, Columbia) O penúltimo álbum de Bob Dylan a ser lançado, Mod-ern Times é, ao mesmo tempo, uma homenagem aos velhos mestres do folk norte-americano e uma crônica da modernidade. Várias letras são adaptações do poeta Henry Timrod e as músicas agradam tanto no campo quanto na ci-dade, com sonoridades remanescentes do blues e do rockabilly. Esse disco foi aclamado pelos críticos, recebendo cinco estrelas da Rolling Stone e aprovação de 89% no metacritic.

Estômago (Brasil, Itália, 2007) A saga de Raimundo Nonato, imigrante nordes-tino que chega a São Paulo. Ele é descoberto pelo dono de um restaurante de classe alta num boteco e acaba preso. Na prisão, o talento para as artes culinárias o leva ao topo na hierarquia prisional. Nessa comédia, Raimundo, ou Alecrim, é ao mesmo tempo alta e baixa cultura, comida e poder.

Filme

Abril Vermelho (Santiago Roncagliolo, 2006) A obra conta a história do promo-tor Félix Chacaltana, que, ao encontrar vários assassina-tos que ecoam na mitologia andina, acaba por afundar na loucura e cometer vários crimes para escapar da rela-ção edipiana com a mãe. Romance policial vertigi-noso e, ao mesmo tempo, profundo, ganhou o prêmio Alfaguara de 2006.

Livro

Álbum

ILUSTRAÇÃO : ANIGER DE OLIVEIRA

mais caros do país

Page 6: Fraude no vale-refeição

de volume, aumentando o po-tencial de geração de energia dos resíduos. “Em casos de madeiras mais macias, como a balsa, essa concentração pode aumentar de 200 Kg/m3 para 1.200”, diz o profes-sor. Os pesquisadores também desenvolvem um forno para que a energia proveniente dos briquetes e de outros resíduos seja gerada localmente pelos produtores.

A idéia é produzir equi-pamentos de baixo custo que sejam acessíveis aos peque-nos produtores. “O objetivo é agregar renda para o agricul-tor. Em vez de descartar esses resíduos, ele pode não só utili-zar essa energia, mas também produzir carvão para vender”, explica a mestranda Daniela Cemin, uma das pesquisado-ras do projeto. Segundo ela, toda a estrutura montada deve custar para o produtor em torno de R$ 300. “Estamos trabalhando com materiais re-ciclados para diminuir o pre-ço”, diz Cemin. Atualmente a pesquisadora trabalha para o desenvolvimento de um siste-ma que deve reduzir a quanti-dade de metano – cerca de 22 vezes mais poluente que o gás carbônico – na fumaça gerada pela combustão da biomassa.

Para geração de energia elétrica, a biomassa pode ser utilizada na forma sólida, por meio da carbonização de resí-duos e briquetes, e pode tam-bém ser gaseificada. É essa a linha de pesquisa desenvolvida

6 Ciência e Tecnologia

Em vez de desperdício, produção de energia

Babaçu, casca de café, serragem, caroço de açaí, óleo de dendê e

algodão. Esses são alguns dos produtos usados na geração de energia sustentável por agri-cultores e habitantes de co-munidades isoladas pelo Brasil afora. Pesquisas em andamen-to na Universidade de Brasí-lia desenvolvem protótipos a serem utilizados na produção de energia a partir de resíduos florestais e da agricultura.

Esses resíduos podem ser melhor aproveitados subs-tituindo a queima da lenha que, ainda hoje, representa 12% do consumo de energia no Brasil. “A serragem da madeira e as cascas dos grãos do café são biomassas de bai-xo custo, renováveis, ambien-talmente corretas e poten-cialmente capazes de gerar calor, vapor e energia elétrica, mas, no Brasil, ainda são mal aproveitadas”, destaca o pro-fessor do Departamento de Engenharia Florestal da UnB Ailton do Vale. Segundo ele, de cada 100m³ de madeira nas serrarias, cerca de 60% vira resíduo e é simplesmente queimado.

Um dos processos que vêm sendo estudados por pesqui-sadores da Faculdade de En-genharia Florestal da UnB é a briquetagem, método que consiste na compactação da biomassa na mesma unidade

Pesquisas realizadas na UnB utilizam resíduos como fonte de energia. O objetivo é atender comunidades isoladas e pequenos produtores rurais

))

Luz que cura sem deixar marcas

João Freitas da Silva não imaginava que os muitos anos sem pro-

teção contra o sol pudes-sem lhe trazer problemas. Na juventude, ele não se preocupava em cuidar da pele e agora, aos 65 anos,

com várias cicatrizes no braço e algumas no rosto, Silva - como tantos outros brasileiros - faz tratamento para se livrar de um câncer de pele. Há um ano, no entanto, ele descobriu uma terapia que utiliza substân-cias fotoquímicas que são menos nocivas e não dei-xam vestígios.

Quando foi ao Hospi-tal Regional da Asa Norte (HRAN), João da Silva, que já havia passado por procedimentos para a reti-rada do câncer de pele, fi-cou bastante entusiasmado com a possibilidade de uma alternativa, ainda em teste, à cirurgia. A dermatologis-ta Simone Karst, responsá-vel pelos experimentos, lhe contou sobre a Terapia Fo-todinâmica (TFD), que cura sem marcas, o que para Sil-va era importante, já que seu rosto estava tomado pelas lesões. Assinou, en-tão, a pedido da médica, um termo em que se dispunha a participar da pesquisa.

Apenas uma semana após a aplicação da substância fotoquímica e uma espécie

de banho de luz, João da Silva deixou para trás parte dos sinais de 38 anos de ca-minhão e 10 de roça. Hoje, a quase quatro meses da úl-tima aplicação, ele se sente rejuvenescido. “A pele está ótima, dá até pra namorar”, diz com um sorriso maro-to. Silva compara com a TFD o tratamento anterior, que era “na base da faca”, e explica que, com a nova opção, “a pele escama e nasce uma nova no lugar, sem marcas”.

Embora grande parte do câncer de pele no rosto de João da Silva tenha sido re-movida, ele tem consciên-cia de que nunca estará to-talmente curado. Ainda lhe resta tratar o braço “do lado da porta do caminhão” e “a

IzABELLA MIRANDA

ANNA CAROLINA VILELAFILIPE kAFINO

carequinha também”, diz. A TFD já era conhecida

na Europa e principalmente nos Estados Unidos desde a década de 70. No entanto, a química usada na época provocava muitos efeitos colaterais. O coordenador do Instituto Nacional de Ci-ência e Tecnologia de Na-nobiotecnologia e professor da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Azevedo, esclarece que “novos fár-macos foram estudados e com isso a terapia ganhou novo fôlego”.

No Brasil, a pesquisa é uma parceria entre a USP-Ribeirão Preto e a UnB, que cedeu a infraestrutura para os testes laboratoriais. Os testes clínicos são reali-zados pela dermatologista

Simone Karst no HRAN, como parte de sua pesquisa de doutorado pela Univer-sidade de Brasília.

Segundo Ricardo Azeve-do, a terapia funciona por meio de uma substância fo-tossensibilizante conhecida como ALA -5 (Ácido Amino Levulínico), que é aplicada na pele e que “na presença da luz sofre reações quími-cas com liberação de radi-cais livres. Esses radicais livres, por sua vez, matam as células cancerígenas”. A técnica elimina de 80 a 100% dos tumores cutâneos sem internação ou anestesia. “Os testes feitos em apro-ximadamente 60 pacientes mostraram resultados ani-madores”, comemora a mé-dica Simone Karst. HOJE, JOÃO DA SILVA SE PROTEGE DOS EFEITOS NOCIVOS DO SOL

pelo Departamento de Enge-nharia Mecânica em parceria com o Centro de Desenvol-vimento Sustentável da UnB. Eles utilizam resíduos vegetais como restos de madeira, casca de babaçu, caroços de açaí e lascas de bambu como maté-rias-primas para a geração de energia elétrica por meio de um gaseificador produzido na Universidade. No laboratório de Energia e Ambiente do Departamento de Engenha-ria Mecânica, os pesquisa-dores obtêm primeiramente a biomassa e, a partir dela, é gerado o gás combustível. O motor do equipamento utili-za 85% de gás e apenas 15% de óleo diesel.

Comunidades ruraisAtualmente, o projeto

atende uma comunidade em Correntina - BA, resultado de uma parceria entre a UnB e o Programa Luz para Todos, do governo federal. Ao todo, três famílias produzem cerca de 5kW de energia por mês. O professor Carlos Alberto Gurgel, um dos pesquisadores, conta que a pesquisa é fruto de uma ação conjunta entre alunos de graduação e pós-graduação e professores de Engenharia Mecânica e Flo-restal da Universidade. Além de produzir o equipamento, o grupo dá assistência às famí-lias e as ensina a operar a má-quina. “O objetivo do projeto é levar energia para populações rurais afastadas e nossa meta

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

é atender muito mais comu-nidades no país”, conta Pedro Rodrigues, mestrando na área de bioenergia. Ele garante ainda que a tecnologia usada na gaseificação da biomassa é bastante simples e completa-mente viabilizável no Brasil.

Já no Instituto de Quí-mica, as pesquisas são di-recionadas para a produção de biocombustíveis a partir do craqueamento, processo de quebra das moléculas dos resíduos por meio de alto aquecimento. No craquea-mento são utilizados óleos vegetais e gorduras, como óleo de dendê, sebo animal, algodão e óleo de fritura. O método, desenvolvido pelo instituto em parceria com a Embrapa, transforma as ma-térias-primas em substâncias com características muito se-melhantes às do biodiesel.

O bio-óleo que é produzi-do a partir do craqueamento deve constituir de 20% a 30% da mistura que forma o com-bustível. “Já é produzido um produto de excelente quali-dade, mas estamos trabalhan-do para aprimorar ainda mais para que, em breve, comuni-dades isoladas da Amazônia e agricultores possam obter seu próprio combustível atra-vés de miniusinas”, diz o che-fe de negócios de agroenergia da Embrapa, José Eurípedes. Os pesquisadores estão tes-tando a possibilidade de uso do biocombustível em moto-res veiculares.

FOTO: CAMILA GUEDES

Page 7: Fraude no vale-refeição

Superlotação de pa-cientes, falta de profis-sionais e de estrutura

adequada são apenas parte do problema da saúde mental no Distrito Federal. Segundo informações do Ministério da Saúde, o DF está em penúlti-mo lugar entre as unidades da federação no cuidado à saú-de mental. Só o Amazonas é pior nesse quesito. De acordo com dados do orçamento do Distrito Federal retirados do site Contas Abertas, em 2008 apenas 49,51% dos quase R$ 3,5 milhões destinados ao cui-dado da saúde mental no DF foram utilizados. Procurada pelo Campus, a Secretaria de Saúde do DF não se mani-festou sobre o assunto até o fechamento desta edição.

Outro problema refere-se ao número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que servem de referência no cuidado à saúde mental no Brasil. Além de receber trata-mento adequado, o paciente permanece em contato com a família e tem liberdade para entrar e sair. Atualmente,

7Esporte e Saúde((

Atendimento a pacientes com transtornos mentais é um dos piores do Brasil. Tanto os hospitais psiquiátricos quanto as redes de assistência sofrem com vários problemas

PEDRO DUPRAT

Saúde mental em risco no DF

Em uma área truncada do Recanto das Emas, com ruas estreitas e trânsi-

to difícil, as pessoas apontam com facilidade para a casa 12 da quadra 601. “É ali que mora o ninja”, fala um garoto de bi-cicleta. Ninja é Leroy Lee, o lutador de jiu-jitsu de 31 anos e currículo extenso de sucesso no esporte. Cinco títulos bra-sileiros, quatro brasilienses e representante no mundial de 2005 no Rio de Janeiro, hoje o lutador ajuda jovens carentes da cidade por meio do esporte. “O cara tem sangue de aço”, completa o menino.

A porta de entrada no jiu-jitsu foi estreita, mas deu a Leroy a alternativa de que precisava. O baiano, que du-rante oito anos vigiava carros na 310 Norte para ajudar a família, sempre teve interesse por artes marciais e manifes-tava seu desejo enquanto fazia a segurança dos carros. “Nin-guém me dava moral. Afinal, era só um ‘pivete’”, conta. Em 2000, ao praticar escalada com ajuda de um instrutor da quadra onde trabalhava, o então flaneli-

LUCAS DOCA

LEROY LEE (À DIREITA) REPASSA LIÇÕES DE VIDA AOS SEUS ALUNOS

nha conheceu Deoclécio Paulo, professor que o levaria à glória.

“Ele tinha tudo para ser um marginal”, conta o veterano Mestre Deo, como é conhe-cido, hoje com 78 anos. Após observar Leroy, o professor viu o potencial do jovem, le-vando-o a brigar por um títu-lo mundial cinco anos depois. Apesar de eliminado no início da competição, o aluno é mo-tivo de orgulho. “É humilde, luta com garra, é um atleta de ponta. Me sinto honrado em ser seu mestre.”

Daí para frente, Leroy só cresceu. A 310 Norte conti-

nuou sendo local de serviço, mas agora como segurança das lojas. “Ia para a quadra de bicicleta, da Candangolân-dia, às vezes, a pé. Cheguei a desmaiar de fome e cansaço no tatame, durante o treino”, lembra. Contudo, o trabalho de segurança o levou à pro-fissão atual, de instrutor e segurança em uma empresa privada do Riacho Fundo. “Essa oportunidade mudou minha vida,” afirma.

Aluno campeão Assim que ganhou o lote

da casa onde mora, o atleta

começou a construir a pró-pria academia. O lugar, ain-da simples, reflete o esforço do lutador. “Comecei aqui há dois anos, em condições muito piores que as de hoje. Treinava meus alunos no chão cru, de cimento áspero e sem teto”, descreve. Mes-mo com as dificuldades, entre seus alunos está Thiago Sales, que conquistou o Campeona-to Brasileiro de Jiu-jitsu em 2008, em Belo Horizonte.

Aluno e colega de Leroy, o também segurança Augusto Rosa conta que o entusias-mo do colega o contagiou. Para ele a prática do esporte proporcionou maior tranqui-lidade no trabalho. “A filoso-fia que o ‘Lero’ nos ensina é muito importante. Deixa os alunos mais calmos, os jovens mais tranquilos. Treino pelo esporte, mas vejo campeões do meu lado”, afirma.

Para Maria Firmina, mãe de um aluno, a maior vitória de Leroy é ajudar seu filho. “Des-de que começou a treinar há um ano, meu filho melhorou as notas na escola e encontrou um caminho melhor, graças às conversas com o treinador” .

Aos olhos do torcedor, a situação é corriqueira: a partida passa na televisão, e seu time marca de vo-

leio. Um golaço. O narrador, vibrante, comemora. Pouco tempo depois, seu time sofre o gol. Cabeceio do ata-cante após uma trombada dentro da área. Ao gritar, o locutor parece carregar na voz o dobro, quiçá o triplo de emoção do que o tento marcado pelo seu time, apa-rentemente sem razão - afinal, o gol da sua equipe foi muito mais bonito.

É um dos dilemas insolúveis do futebol: sempre há a desconfiança de que o jornalista esportivo puxa a sardi-nha para sua agremiação. Os cronistas, em sua maioria, utilizam a razão no exercício de sua profissão. Em um caso, a Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj) puniu um associado por sair correndo pela tribuna de imprensa do Maracanã, em comemora-ção a um gol do Fluminense em partida com o Santos, há duas semanas.

No entanto, paira permanente o tabu, essa espécie de ‘armário’ esportivo que distorce visões e impede uma relação mais amigável e honesta entre quem escreve e quem lê. Não estou pedindo para que o cronista ponha o escudo de seu clube ao lado da assinatura, mas não é necessário ser enrustido. Todo brasileiro está careca de saber que a relação de amor a esse esporte, genuína, sau-dável e necessária para quem trabalha com isso, começa com uma paixão: o clube. Quer saber o meu? Basta vir perguntar.

Chute do Campus

Por Bruno Silva

Esporte, palpites e filosofias de boteco

Declarar a paixão por um time pode ser saudável ao jornalismo

! Luta, suor e um ‘ninja’ da paz

existem no DF seis unida-des, com a cobertura de 0,22 CAPS por 100 mil habitan-tes. O ideal é uma cobertura acima de 0,70 CAPS por 100 mil habitantes.

Apesar de existirem, algu-mas unidades não funcionam. O CAPS de Ceilândia está pronto, mas desde agosto de 2008 o Ministério Público do DF e Territórios tenta, com uma ação civil pública, colocá-lo em funcionamento. A uni-dade encontra-se desativada devido à falta de profissionais. Os demais centros atendem as demandas de todo o DF e de cidades do Entorno, fa-zendo com que a regionaliza-ção do cuidado aos pacientes, uma das principais funções dos CAPS, se torne impos-sível. Mesmo com a abertu-ra dos centros de Planaltina e Riacho Fundo, o cuidado aos portadores de transtornos mentais na região continuará insuficiente, com 0,31 CAPS por 100 mil habitantes.

Dentre as unidades do DF, duas são CAPS II, que aten-dem aos pacientes de manhã e à tarde, duas são CAPS – AD, que cuidam exclusivamente

de pacientes com problemas de alcoolismo e drogas, outra unidade é CAPS – SI, que cuida somente de crianças e adolescentes, e a última é CAPS I, que presta apenas os cuidados básicos.

Segundo o diretor admi-nistrativo do Hospital São Vicente de Paula, Fábio Sfiu-za, a falta de uma boa rede de CAPS no DF acumula a demanda de cuidados psiqui-átricos nos ambulatórios dos hospitais e no São Vicente de Paula, que atende a maioria dos pacientes com transtor-nos mentais em Brasília. Dos 90.595 atendimentos de psi-quiatria em 2008, 35.838 fo-ram no São Vicente de Paula e apenas 6.267 nos CAPS. Os outros 48.490 atendimentos foram feitos em ambulatórios não especializados.

Os hospitais psiquiátricos também sofrem. Brasília tem apenas 0,05 leito psiquiátrico por 1000 habitantes, enquan-to o ideal seria no mínimo de 0,1 a 0,16 leito. O baixo nú-mero coloca o DF em terceiro pior lugar no país, na frente apenas do Amazonas e do Pará. Em Goiânia, por exem-

plo, existem sete CAPS, com uma cobertura de 0,55 unida-des por 100 mil habitantes.

Para Cássia Marques, geren-te do CAPS do Paranoá, a raiz do problema está no fecha-mento dos hospitais psiquiá-tricos e na expulsão dos pa-cientes ocorrida com a reforma psiquiátrica iniciada nos anos 70. “Estamos tentando achar esses pacientes”, diz. Segundo ela, os hospitais eram fechados sem a criação de alternativas de tratamento.

Unidade em crecheDe acordo com Cássia

Marques, o CAPS do Para-noá é exemplo de improviso. Instalado num prédio cons-truído para ser uma creche, a unidade tem dois banheiros depredados e uma pia que não funciona, além de infiltrações, bancos quebrados e superlo-tação. Lá, o cuidado de 400 pacientes com diversos qua-dros de doenças psiquiátricas e psicológicas está nas mãos de dez profissionais.

O ‘armário’ esportivo

REDE DE ATENDIMENTO PRECÁRIA DO DISTRITO FEDERAL PREJUDICA PACIENTES

FOTO: FABIANO BOMFIM

FOTO: TCHÉRENA GUIMARÃES

ESPORTE

Apesar dos problemas en-frentados, a unidade do Para-noá desenvolve 15 atividades terapêuticas diferentes, entre elas uma horta com diversos vegetais, oficina de crochê, te-rapia familiar e comunitária. “Essas atividades envolvem o contato humano e a interação dos pacientes de forma a res-peitarem uns aos outros, le-vando à melhoria e à reinser-ção social”, explica Alexandre Staerke, psicólogo do CAPS do Paranoá.

Page 8: Fraude no vale-refeição

8 Comportamento ))

expressar raiva no trânsito era uma das únicas. Hoje, alter-nativas na internet procuram redirecionar para o ambiente virtual a irritação sentida pe-los motoristas. No Brasil, o site de relacionamento Orkut tem 450 grupos de pessoas (“comunidades”) relacionando as palavras ‘ódio’ e ‘trânsito’. A comunidade “Odeio esperti-nhos no trânsito” tem 2.246 membros, mas outras chegam a ter mais de 30 mil integran-tes. Nos Estados Unidos, o site Zapatag (atacar uma placa, em tradução livre), criado por Ryan Owana em março deste ano, tem o objetivo de possibi-litar às vítimas de desrespeito o que o seu criador chama de uma “catarse”. A ideia é expor o número e a cidade de ori-gem da placa do carro do qual se quer reclamar. Na Austrália, foram colocadas, nas proximi-dades das rodovias, cabines para motoristas inconforma-dos com situações no trânsito gravarem seus vídeos para di-vulgação na internet, em sites

como o YouTube.Iniciativas como essas

agradam especialistas. “Em uma situação de conflito, o mais sensato é você recuar e não ficar insistindo no seu direito”, sugere o professor da UnB Hartmut Günther, que atua na área de psicologia do trânsito. Cláudia Aline Mon-teiro, professora de Psicologia da Universidade da Amazônia (Unama) que há anos estuda comportamento no trânsito, acha que o uso da tecnologia é válido. “São mecanismos de alívio, mas eu fico um pouco preocupada”, afirma. Para ela, a internet também incentiva a raiva, mesmo que de forma verbal. “A melhor solução é investir no autocontrole emo-cional”, aconselha.

Em sua tese de doutorado, concluída em 2004, Cláudia Monteiro confirmou que a personalidade agressiva é uma predisposição para brigas no trânsito. “Pessoas que resol-vem problemas de maneira agressiva provavelmente vão

MARCIELE SANTOS

ceu atrás”, conta. “Deu murros no vidro e chutou a porta do carro.” A mulher do agressor tentou afastar o marido, mas a cena de violência só acabou quando o sinal abriu e o jovem conseguiu fugir, levando o nú-mero da placa para apresentar à empresa com a justificativa para a lataria amassada. “A partir daí, me acalmei mais no trânsito”, conta o jovem.

ILUSTRAÇÃO: JULIANA FONTES

Quadrinhos

Confira as respostas na próxima edição do Campus!

Condutores ganham espaço na internet para descontar a raiva gerada por atitudes irresponsáveis no trânsito

A lívio virtual para motoristas

sudokuAgora, tente encontrar o Timothy em meio à manifestação contra a ditadura militarOnde está o Timothy?

Solução (referente a última edição) ! Novos talentos

Estudante de Ciências Contábeis da UnB, Lu-cas Gomes Ferreira, 21,

precisou passar por uma expe-riência arriscada para apren-der que não se deve ofender outros motoristas no trânsito. Há três anos, quando dirigia seu carro pela Estrada Parque Taguatinga (EPTG), um mo-torista deu sinal de luz pedin-do passagem. Como a pista do meio estava lotada, o estudan-te teve que continuar na fai-xa da esquerda até conseguir abrir caminho. Quando final-mente os dois carros ficaram lado a lado, Ferreira, irritado com a pressão que sofrera, fez um gesto obsceno para o mo-torista. “Aí ele apontou uma arma para a minha cabeça”, conta. O estudante tirou o pé do acelerador e os carros se dis-tanciaram sem maiores conse-quências. “Depois desse dia, eu sou outro motorista”, afirma.

Até pouco tempo, a forma escolhida por Ferreira para

o carro de um jovem - que prefere não se identificar para não ter problemas na empresa onde trabalha como motorista - no Setor de Indústrias Grá-ficas (SIA). A reação do jovem foi abaixar o vidro do carro e chamar o outro motorista de “babaca”. Foi o suficiente para que o condutor ofendido seguisse o rapaz até o Guará. “Parei no sinal e o cara des-

ser motoristas que fazem o mes-mo no trânsito”, relata a pesquisa-dora. As entrevis-tas realizadas por Cláudia durante o estudo revela-ram que pessoas jovens, solteiras e sem filhos são as que mais co-metem violações no trânsito. Já os motoristas mais agressivos são homens casados, com filhos e nível educacional mais baixo. “Apesar de as mulheres apresentarem uma irritabili-dade maior em situações de trânsito do que os homens, são os homens que ainda co-metem as maiores violações agressivas, como dirigir em alta velocidade, xingar, buzi-nar”, explica Cláudia.

Um condutor com o perfil apontado pela pesquisadora como o mais agressivo fechou

LUCAS FERREIRA JÁ TEVE UMA ARMA APONTADA PARA A CABEÇA NO TRÂNSITO

FOTO: FABIANO BOMFIM

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