franÇois hartog - conceitos bÁsicos

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O autor François Hartog é historiador francês especialista em histografia antiga e mo derna. Nascido em 1946, Hartog é conhecido mundialmente pela formação e divulgação do conc eito de Regime de Historicidade. Diretor de estudos da I ÉCOLE dês Hautes Études em Scie nces Sociales (Paris), doutor em História Antiga e Moderna trabalhando com antropo logia da História e historiografia. O texto Regime de Historicidade aborda uma reflexão de Hartog sobre o regime de hi storicidade para uma melhor compreensão entre o passado e o futuro e qual o reflex o no presente. O autor aborda em seu texto questões importante quanto ao significa do e valor da historicidade. Hartog não se preocupa em considerar todas as formas de tempo ou experiência temporal, mas apenas aquelas que pertencem à tradição do saber: mais precisamente, os modos por que se conectam presente, futuro e passado na es crita da história. Dessa forma, o texto é conduzido através de uma viagem de duas vias , do século XX para a Mesopotâmia antiga e de volta. Estrutura-se a leitura utilizan do as datas simbólicas de 1789-1989 como ponto de partida para desenvolver a sua h ipótese sobre o regime moderno de historicidade. O autor introduz a temática na primeira parte do texto chamando a atenção por meio de questionamentos sobre a situação da historicidade considerando apenas as formas de t empo que conectam presente, futuro e passado na escrita da história. Segundo o aut or a expressão regime moderno significa um período em que o ponto de vista do futuro domina e o que o fim deste regime tornaria impossível escrever história por este po nto de vista e tornaria o passado imprevisível ou opaco. O autor cita Tocqueville para compreender melhor o antigo regime, quando o passado não lança mais luz sobre o futuro, o espírito caminha nas trevas e analisa o moderno regime de historicidade o nde a relação entre o passado e o futuro era dominado ou regulado por referência ao pa ssado, com o futuro não reproduzindo o passado, mas não indo além, o espírito sabia onde estava indo. Calcado em Koselleck, no regime cristão durante a Idade Média, da Mesopotâmia antiga, da Grécia Antiga e outros autores, Hartog busca identificar por quanto tempo a his toria magistra se perdurou. A partir dos dois primeiros livros dos Ensaios de Mo ntaigne, o autor reflete sobre uma grande preocupação que existe acerca do tempo e a nalisa que no mesmo instante em que tentam confiar na historia magistra, também te ntam questioná-la profundamente. A partir desse momento o autor aponta dois direci onamentos para poder compreender o tempo em que a historia magistra permaneceu n o cargo: o lugar das Igrejas e das instituições religiosas e a formação das grandes hier arquias. Novamente o autor aponta Tocqueville e Chateaubriand como dois momentos de questionamentos entre a dissolução da historia magistra e a implementação do regime moderno. No último capítulo do texto, o autor descreve sobre os questionamentos e crise do re gime moderno, onde as dúvidas ocorrem em torno e depois da Primeira Guerra, porém es sa crise profunda não terminou com a formulação de um regime de historicidade novo ou diferente. O autor analisa Benjamim, ao demonstrar as tentativas de elaborar um novo conceito de história e definir novas temporalidades, fazendo justiça aos movim entos reais. O autor, embasado em Febvre, Eliot, Niettzche, Valéry dentre outros a utores, descreve do futurismo para o presentismo, concluindo que ficamos habitan do um presente hipertrofiado que tem a pretensão de ser seu próprio horizonte: sem p assado sem futuro, ou a gerar seu próprio passado e seu próprio futuro. O autor crit ica a forma de entender o presente, e o descreve de forma onipresente, inseguro e com dificuldades em tomá-lo como sua própria avaliação. Hartog salienta que o passado está a bater à porta, o futuro a janela e o presente descobre que não dispõe de piso par a ficar de pé. O autor baseado em toda a sua hipótese acredita que o ano de 1989 dem onstra uma nítida ou mesmo o fim do regime moderno de historicidade. O autor suger e 1989 como uma ocasião de tomarmos ciência dessa mudança e começar a trabalhá-la e dar-lh e um sentindo. Sobre a relação entre passado e futuro, Hartog compara que para escre ver história nacional é necessário reabrir o passado, e olhá-lo como um conjunto de pass ados que foram uma vez futuro possível e mostrar como a via do Estado nacional, co m a sua historiografia nacional ou nacionalista, geralmente foi vencedora. É um texto interessante considerando todos os esforços de organização e síntese dos refere ncias teóricos sobre o tema abordado com um rico repertório de análises, críticas e comp arações. O autor articula de forma muito coerente a forma de olhar e analisar o pas

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CONCEITOS BÁSICOS DO HISTORIADOR FRANCÊS

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Page 1: FRANÇOIS HARTOG - CONCEITOS BÁSICOS

O autor François Hartog é historiador francês especialista em histografia antiga e moderna. Nascido em 1946, Hartog é conhecido mundialmente pela formação e divulgação do conceito de Regime de Historicidade. Diretor de estudos da I�ÉCOLE dês Hautes Études em Sciences Sociales (Paris), doutor em História Antiga e Moderna trabalhando com antropologia da História e historiografia.O texto Regime de Historicidade aborda uma reflexão de Hartog sobre o regime de historicidade para uma melhor compreensão entre o passado e o futuro e qual o reflexo no presente. O autor aborda em seu texto questões importante quanto ao significado e valor da historicidade. Hartog não se preocupa em considerar todas as formas de tempo ou experiência temporal, mas apenas aquelas que pertencem à tradição do saber: mais precisamente, os modos por que se conectam presente, futuro e passado na escrita da história. Dessa forma, o texto é conduzido através de uma viagem de duas vias, do século XX para a Mesopotâmia antiga e de volta. Estrutura-se a leitura utilizando as datas simbólicas de 1789-1989 como ponto de partida para desenvolver a sua hipótese sobre o regime moderno de historicidade.O autor introduz a temática na primeira parte do texto chamando a atenção por meio de questionamentos sobre a situação da historicidade considerando apenas as formas de tempo que conectam presente, futuro e passado na escrita da história. Segundo o autor a expressão regime moderno significa um período em que o ponto de vista do futuro domina e o que o fim deste regime tornaria impossível escrever história por este ponto de vista e tornaria o passado imprevisível ou opaco. O autor cita Tocqueville para compreender melhor o antigo regime, �quando o passado não lança mais luz sobre o futuro, o espírito caminha nas trevas� e analisa o moderno regime de historicidade onde a relação entre o passado e o futuro era dominado ou regulado por referência ao passado, com o futuro não reproduzindo o passado, mas não indo além, o espírito sabia onde estava indo.Calcado em Koselleck, no regime cristão durante a Idade Média, da Mesopotâmia antiga, da Grécia Antiga e outros autores, Hartog busca identificar por quanto tempo a historia magistra se perdurou. A partir dos dois primeiros livros dos Ensaios de Montaigne, o autor reflete sobre uma grande preocupação que existe acerca do tempo e analisa que no mesmo instante em que tentam confiar na historia magistra, também tentam questioná-la profundamente. A partir desse momento o autor aponta dois direcionamentos para poder compreender o tempo em que a historia magistra permaneceu no cargo: o lugar das Igrejas e das instituições religiosas e a formação das grandes hierarquias. Novamente o autor aponta Tocqueville e Chateaubriand como dois momentos de questionamentos entre a dissolução da historia magistra e a implementação do regime moderno.No último capítulo do texto, o autor descreve sobre os questionamentos e crise do regime moderno, onde as dúvidas ocorrem em torno e depois da Primeira Guerra, porém essa crise profunda não terminou com a formulação de um regime de historicidade novo ou diferente. O autor analisa Benjamim, ao demonstrar as tentativas de elaborar um novo conceito de história e definir novas temporalidades, fazendo justiça aos movimentos reais. O autor, embasado em Febvre, Eliot, Niettzche, Valéry dentre outros autores, descreve do futurismo para o presentismo, concluindo que ficamos habitando um presente hipertrofiado que tem a pretensão de ser seu próprio horizonte: sem passado sem futuro, ou a gerar seu próprio passado e seu próprio futuro. O autor critica a forma de entender o presente, e o descreve de forma onipresente, inseguro e com dificuldades em tomá-lo como sua própria avaliação. Hartog salienta que o passado está a bater à porta, o futuro a janela e o presente descobre que não dispõe de piso para ficar de pé. O autor baseado em toda a sua hipótese acredita que o ano de 1989 demonstra uma nítida ou mesmo o fim do regime moderno de historicidade. O autor sugere 1989 como uma ocasião de tomarmos ciência dessa mudança e começar a trabalhá-la e dar-lhe um sentindo. Sobre a relação entre passado e futuro, Hartog compara que para escrever história nacional é necessário reabrir o passado, e olhá-lo como um conjunto de passados que foram uma vez futuro possível e mostrar como a via do Estado nacional, com a sua historiografia nacional ou nacionalista, geralmente foi vencedora.

É um texto interessante considerando todos os esforços de organização e síntese dos referencias teóricos sobre o tema abordado com um rico repertório de análises, críticas e comparações. O autor articula de forma muito coerente a forma de olhar e analisar o pas

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sado, presente e futuro. Hartog critica o presentismo como único tempo possível mostrando suas falhas e reforçando a ideia que o regime de historicidades está aberto a novas pesquisas e aprofundamentos, confrontando os modelos historiográficos operados pelos historiadores.