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04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: Elias Couto22 - Opinião: DNPJ24 - Semana de.. Paulo Rocha26 - Dossier A Igreja na transição democrática28 -Entrevista LOC/MTC

50 - Multimédia52 - Estante54 - Vaticano II56 - Agenda58 - Por estes dias60 - Por outras palavras61 - YouCat62 - Programação Religiosa63 - Minuto Positivo64 - Liturgia66 - Ano da Vida Consagrada70 - Fundação AIS72 - Lusofonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Francisco quer vira Fátima[ver+]

Em defesa doAmbiente[ver+]

A dignidade doTrabalho[ver+]

Manuel Carvalho da Silva |PauloRocha Octávio Carmo | ManuelBarbosa | Paulo Aido | Tony Neves |Elias Couto | Padre Feytor Pinto

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Trabalho, dom e maldição

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

A ideia de que a “verdadeira liberdade” passapor não trabalhar pode ser muito tentadora, emparticular num momento em que muitas pessoasvivem presas a um emprego precário, mal pago eque não as realiza ou sofrem em busca de umtrabalho que lhes permita ganhar o seu pão eassegurar um nível de vida digno. Não é poracaso, também, que muitos tresleem o relato doGénesis: o trabalho não é um castigo de Deuspela desobediência de Adão, é mais uma marcada imagem divina no ser humano.A esta luz se percebe que, no pensamentocatólico, o trabalho seja visto como um “bem” eum direito fundamental para que o ser humanose possa

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realizar na sua plenitude. Mais doque atividade “útil”, é algo quepertence à vocação de cada pessoae na qual esta se pode exprimir.A Igreja ensina o valor do trabalho,recordando o seu caráter denecessidade e a sua importância navida social. São João Paulo II diziaque o trabalho, como o nascimento,o amor ou a morte, são“acontecimentos fundamentais daexistência”.A divinização de estilos de vida

estéreis e fúteis contraria emtudo esta visão. Em última instância,atrevo-me a dizer, ajuda a fomentaruma mentalidade que secundarizaquem vive do trabalho e é,infelizmente, visto cada vez maiscomo um ser humano de categoriainferior, do qual se pode dispor emfunção de interesses económicos efinanceiros. É a humanidade que,em última instância, tem vindo atransformar o trabalho na maldiçãoque nunca deveria ser.

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Que a tragédia no Nepal,não ofusque estecemitério marítimo

- «O Papa anda a ser acusado de não ser um teólogo, mas, apenas umpastor. É uma tentativa ridícula para dizer o quanto ele os incomoda.» (FreiBento Domingues, Jornal «Público» 26 de Abril de 2015)

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- «O lamentável episódio, presenciado por milhões de portugueses, mastestemunhado apenas por meia dúzia deles, revela tão-só que Lopeteguinão conhece as excentricidades verbais de Jesus…» (Jorge Barbosa, Jornal«Record» 29 de abril de 2015)

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Presidente da República elogiaação das instituições sociaisO presidente da RepúblicaPortuguesa elogiou no Palácio deBelém o trabalho das instituiçõessociais em favor dos “mais frágeis”da sociedade, em particular os“atingidos” pela atual criseeconómica. “Devemos dar graças aDeus por termos a rede deInstituições de Solidariedade Socialque temos em Portugal”, defendeuAníbal Cavaco Silva, no DiaEuropeu da Solidariedade eCooperação entre Gerações.A data foi assinalada com umacerimónia na qual o presidenteportuguês agraciou várias

personalidades e instituições deSolidariedade Social com a Ordemdo Mérito. "A ação das vossasinstituições e das outras instituiçõesde solidariedade no nosso país foidecisiva para enfrentar as situaçõesde pobreza e de exclusão social,incluindo as das crianças", referiu.Segundo Cavaco Silva, foram a“dedicação” e o “altruísmo” dasinstituições do setor solidário queevitaram um maior “sofrimento” porcausa da crise económica efinanceira, elogiando a “açãodecisiva” desta rede para dar“respostas de emergência”

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aos novos pobres.A intervenção sublinhou que oEstado é incapaz de dar resposta a“todas as dificuldades”, pedindo“vigilância” às Instituições deSolidariedade Social, a quemreconheceu pelo seu “trabalhonotável”. "Muito, muito obrigado poraquilo que têm feito por Portugal",concluiu.Na cerimónia foi distinguidopresidente da ConfederaçãoNacional das Instituições deSolidariedade (CNIS), padre LinoMaia, com o grau de grande-oficial.O sacerdote recordou o trabalhopor um “Portugal mais coeso

e com lugar para todos” feito pelasmais de 4 mil instituições do setor,com os seus profissionais evoluntários, agradecendo aopresidente da República por fazerda solidariedade um “desígnionacional”.O diácono Albino Martins e a suaesposa, Cláudia Martins, da Diocesedo Algarve, receberam a medalhado grau de oficial da Ordem doMérito, que se destina a “galardoaratos ou serviços meritóriospraticados no exercício dequaisquer funções, públicas ouprivadas, que revelem abnegaçãoem favor da coletividade”.

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Semana da Vida 2015

A Igreja Católica vai promover de 10a 17 de maio a Semana da Vida2015, com a qual quer reafirmar a‘opção pelos mais fracos’ dasociedade, denunciando as práticasaborto e da eutanásia. “A Semanada Vida, este ano com o tema ‘Vidacom dignidade – opção pelos maisfracos’, inscreve-se neste esforçode rumos novos, procurandosuscitar o reconhecimento dosentido e valor da vida humana emtodos os seus momentos econdições, com uma atenção muitoespecial à gravidade do aborto e daeutanásia, sem descurar outrosmomentos e aspetos da vida”,refere o Departamento Nacional

da Pastoral Familiar (DNPF).Recordando vários números daExortação Apostólica ‘A Alegria doEvangelho’, do Papa Francisco, oorganismo da Igreja Católicareafirma que a “defesa da vidanascente está intimamente ligado àdefesa de qualquer direito humano”,nem é “opção progressistapretender resolver os problemas,eliminando uma vida humana”.Neste contexto, de preferência pelos“mais fracos”, o DepartamentoNacional da Pastoral Familiarpropõe um guião que, em cada dia,dedica atenção aos “nascituros,crianças, doentes, pobres e idosos”.

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Francisco confirma intençãode visitar Fátima em 2017O Papa Francisco confirmou a suaintenção de visitar Portugal em2017, no centenário das apariçõesde Fátima, durante uma audiênciaprivada que concedeu a D. AntónioMarto, este sábado. Segundo notapublicada pelo site da diocese epelo Santuário de Fátima, Franciscodisse ao bispo de Leiria-Fátima que,“se Deus [lhe] der vida e saúde”,quer estar na Cova da Iria daqui adois anos”, autorizando a"divulgação pública da suaintenção”.O bispo de Leiria-Fátima entregouao Papa uma oferta monetária doSantuário, "destinada às ações deajuda aos pobres" do pontíficeargentino, que se mostrou"especialmente sensibilizado poreste gesto". A mensagem de Fátimaocupou grande parte da conversa,em que o Papa

Francisco quis saber um pouco maissobre o dinamismo pastoral doSantuário e a afluência deperegrinos, tendo apreciado ainformação sobre a parceria emcurso entre Fátima e o santuáriobrasileiro de Aparecida, quecomemorará também em 2017 osseus 300 anos. “Tambémconversamos sobre os processos decanonização dos Pastorinhos, massem grandes pormenores”, conta obispo diocesano, referindo que “oPapa aproveitou o tema de Fátimapara falar sobre a misericórdia”.D. António Marto agradeceu aoPapa "a nova etapa de alegria efrescura que o seu pontificado veiotrazer à Igreja", acrescenta a notaoficial.Francisco recebeu convites paravisitar Portugal em 2017, dirigidospelo Governo, a ConferênciaEpiscopal e a Diocese de Leiria-Fátima.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Nepal: Cáritas Portuguesa envia apoio de emergência

Dia Mundial das Comunicações Sociais 2015

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Papa e ONU em defesa do ambienteO Papa recebeu no Vaticano osecretário-geral da ONU, com quemconversou sobre a sua próximaencíclica, dedicada a temasecológicos. Ban Ki-moon participanum encontro dedicado àsmudanças climáticas, organizado emconjunto pela Santa Sé e as NaçõesUnidas.O responsável disse que é um“imperativo moral” defender anatureza e proteger o ambientepara as novas gerações. Oencontro ‘Proteger a terra, nobilitara humanidade. As dimensões moraisdas mudanças climáticas e dahumanidade sustentável’ foiinaugurado por Ban Ki-moon, pelopresidente do Conselho PontifícioJustiça e Paz, cardeal PeterTurkson, e o chanceler da APC,monsenhor Marcelo SánchezSorondo.O porta-voz do Vaticano adiantouque o encontro privado demorou nasede da Academia Pontifícia dasCiências, onde o Papa se deslocou.O secretário-geral da ONU abordou“alguns pontos do atualcompromisso das Nações Unidosrelativamente não só às questõesambientais mas também dosmigrantes e das dramáticassituações humanas

nas áreas do mundo atingidas porconflitos”, adiantou o padreFederico Lombardi. Após o encontrocom o Papa, Ban Ki-moon disse que“ciência e religião não estão emdesacordo sobre as mudançasclimáticas”.O Papa Francisco tinha revelado emjaneiro que a sua próxima encíclica,sobre a ecologia, vai ser publicadaentre junho e julho deste ano, aindaa tempo de pressionar acomunidade internacional para“decisões corajosas” na Conferênciado Clima 2015, em Paris (cop21).Até dezembro, em Paris, vãodecorrer uma série de eventosdestinados a definir um novo acordoclimático global pós-2020, centradona redução de emissões para limitaro aumento médio de temperaturaem 2º.Os líderes religiosos e políticos, oscientistas e os representantes domundo económico e social queparticiparam no seminário sobre asalvaguarda do planeta afirmaramque a próxima conferência de Parissobre o clima poderia ser “a últimaocasião efetiva” para negociarmedidas que reduzam oaquecimento global.Na declaração assinada no final dostrabalhos foi frisado que os

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representantes da comunidademundial “têm uma especialresponsabilidade de aprovar, nacop21, um tratado audaz sobre oclima” capaz de inverter o rumo.Os países mais ricos “devem ajudara financiar as despesas damitigação

da mudança climática nos paísescom baixo rendimento”, favorecendo“uma rápida transformação doplaneta num mundo alimentado porenergias renováveis e por outraenergia com baixa emissão decarbono e com uma gestãosustentável dos ecossistemas”.

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Mediterrâneo sem vias seguras Um conjunto de organizações daIgreja Católica dirigiurecomendações a eurodeputadosportugueses, que visam construir“vias seguras e legais” para aproteção de migrantes, refugiados erequerentes de asilo na UniãoEuropeia. “Apelamos a que sejamdesenvolvidas medidas quedisponibilizem vias seguras e legaisde acesso à União Europeia paraaqueles que têm de fugir a guerras,violência e violações graves dosdireitos humanos”, refere uma notaenviada à Agência ECCLESIA peloServiço Jesuíta aos Refugiados(JRS).O texto é dirigido a Ana Gomes,Carlos Coelho e Nuno Melo,membros da Comissão deLiberdades Cívicas, Justiça eAssuntos Internos do ParlamentoEuropeu.Entre as recomendaçõesencontram-se “o aumento dasquotas de reinstalação, a promoçãodo acesso ao direito dereagrupamento familiar, aconcessão de visto humanitário e asupressão da exigência de visto”.“Apelou-se a que as soluções orapropostas sejam refletidas naversão revista do Código de Vistos(cujos trabalhos se encontram emcurso na referida Comissão) e queestas

matérias sejam colocadas naagenda da discussão política elegislativa europeias”, assinala ocomunicado de imprensa.Este documento surge como umaresposta à constatação de “falta devias legais e seguras de acesso àproteção na Europa”, recordando osrecentes naufrágios que vitimaramcentenas de imigrantes noMediterrâneo.A este apelo do JRS juntaram-se aObra Católica Portuguesa deMigrações, a Fundação AIS (Ajuda àIgreja que Sofre), o CEPAC – CentroPadre Alves Correia, a ComissãoNacional de Justiça e Paz e aCáritas Portuguesa, “organizaçõescatólicas portuguesas com um papelrelevante no âmbito das migrações”.

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Papa denuncia escândalodas desigualdades salariaisFrancisco elogiou no Vaticano a“dignidade social” do casamento edisse que a igualdade entre homense mulheres deve levar os cristãos acombater o “escândalo” dadisparidade salarial. “Como cristãos,devemos tornar-nos mais exigente aeste respeito, por exemplo apoiandocom decisão o direito à igualdadede salário por trabalho igual. Porqueé que se dá por adquirido que asmulheres devem ganhar menos doque homens? Não, têm os mesmosdireitos”, disse, durante a audiênciapública semanal.Perante milhares de pessoasreunidas na Praça de São Pedro,Francisco assinalou que adisparidade salarial “é um puroescândalo ", apelando à valorizaçãosocial da maternidade e dapaternidade. “A semente cristã daigualdade radical entre cônjugestem de trazer novos frutos ao nossotempo. O testemunho da dignidadesocial do casamento torna-sepersuasiva precisamente para estecaminho, o caminho do testemunhoque atrai, o caminho dareciprocidade”, complementou.Neste contexto, o Papa assinalou aimportância da abertura dasfamílias aos mais necessitados,especialmente, em situações de

“pobreza, degradação e violênciadoméstica".Francisco reconheceu que asociedade hoje é “confrontada commenos casamentos”, uma crise queafeta muitos países onde osdivórcios estão a aumentar e o“número de crianças a diminuir”.Para o Papa, os casamentos“desfeitos” afetam principalmente osjovens e a forma como estes olhampara o matrimónio, entendendo-o“como algo temporário” e levando-os a “optar por não casar e preferira convivência”.“Talvez haja medo do fracasso, queimpede os homens e as mulheres deconfiarem na promessa de Cristo,da sua graça à união no casamentoe na família”, analisou Francisco,acrescentando que quase todos oshomens e mulheres “sonham comuma segurança afetiva estável, ummatrimónio sólido e uma família feliz”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Encontro com a Comunidade de Vida Cristã - Liga Missionária Estudantil daItália

Ordenação de 19 sacerdotes no Vaticano

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A indiferença e as suas vítimas

Para que,rejeitando acultura daindiferença,cuidemosdaqueles quesofrem, emparticular osdoentes e ospobres[IntençãoUniversal do Papapara o mês demaio]

1. Durante o seu pontificado, Bento XVI lembrou,com frequência, a necessidade de combater a“ditadura do relativismo”, a imposição de umacultura na qual tudo se equivale e é aceitável –excepto a afirmação de que essa equivalência éfalsa. A “cultura da indiferença”, denunciada peloPapa Francisco, tem as suas raízes nestaditadura do relativismo, pois a indiferença instala-se apenas onde nada é diferenciado, onde tudoaparece igualmente merecedor de aceitação. 2. A brutalidade que vai tomando conta da nossasociedade não precisa de nenhum estudosociológico para ser explicada. Basta consideraro relativismo indiferenciado que a consome e atorna indiferente aos mais frágeis. Quando talsociedade dá o passo seguinte, tratandodeterminadas vidas humanas como legalmentedescartáveis, não pode senão tornar-se cada vezmais violenta e indiferente face à sorte dasvítimas. Fá-lo, quase sempre, de modoinconsciente. A ignorância dos mecanismos quea movem, porém, não significa a inexistência detais mecanismos, apenas que eles fazem parteda referida sociedade e constituem aspectoselementares do seu funcionamento. Estesmecanismos são fundamentais até para que asvítimas sejam olhadas como responsáveis pelasua vitimização: a criança não nascida vítima doaborto é “culpada” de ser um empecilho, de virfora de horas, de não ser conveniente...

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3. Estes mecanismos são antigos,eventualmente tão antigos como associedades humanas. A lutaevangélica, de séculos, tem sidotrazê-los à superfície e identificá-lospor aquilo que são. Em sociedadespós-cristãs, tais mecanismos voltama mergulhar no inconscienteindividual e colectivo, tornandopossível a renovação dos processosde vitimização. A partir daí, restaapenas a escolha das vítimasculturalmente

correctas, para que aindiferenciação social possa sermantida pacificamente. Aos cristãos,por seu lado, continua a caber atarefa de tornar relevante oEvangelho, ficando do lado dasvítimas e recusando a suaculpabilização por uma sociedadeprisioneira da ditadura dorelativismo e afogada na cultura daindiferença.

Elias Couto

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A Pastoral Juvenil em Portugal(os primeiros anos)Em Outubro de 1969, o Sr. D.António Ribeiro, Bispo para a AcçãoCatólica, pediu-me para assumir aorientação nacional da JEC(Juventude Escolar Católica). Vim atomar posse em Setembro de 1970.Ao tempo, a JEC e a JUC tinhamalguns problemas, tendo mesmoperdido a grande maioria dosmilitantes. Em Portugal vivia-se aGuerra do Ultramar (Colonial) e aReforma da Educação o queconstituiu um motivo de grandesofrimento para os jovens, na suarevisão de vida que a AcçãoCatólica propunha. Esta dificuldadeda JEC e da JUC agravou-se.Aconteceu também que aRevolução de 1974 obrigava arepensar toda a Pastoral dosjovens, até aí quase exclusivamentecentrada nos grupos juvenis daAcção Católica.Em Novembro de 1975 aConferência Episcopal Portuguesapediu-me para ir a Roma, participarnum encontro da Pastoral sobre “osjovens e o futuro da fé na Europa”.Foi aí que compreendi a importânciade uma Pastoral Juvenil organizadaem todas as paróquias. Apresentei orelatório deste encontro no Vaticanoao CEP (Conferência EpiscopalPortuguesa)

e fiz então a proposta da criação daPastoral Juvenil, nas dioceses e nasparóquias.Foi possível mobilizar as diocesespara um encontro de jovens emFátima, a 26 de Janeiro de 1976. Aesse primeiro encontro de FátimaJovem foi dado o nome de Jornadada Paz. A partir daí, Fátima passoua ser o centro das grandesiniciativas de Encontro da PastoralJuvenil. Realizou-se a Páscoa Jovemem 1977, com cerca de 1000 jovensdurante a Semana Santa. Depois,em 1978, realizou-se a PáscoaLibertação, com cerca de 2000participantes também durante toda aSemana Santa, sendo a PastoralJuvenil a orientadora das cerimóniasdo Tríduo Pascal, no Santuário deFátima. A partir daí, a PastoralJuvenil encarregou-se, em Fátima,da animação da vigília de oração,em todos os dias 12/13 nos mesesde Maio e Outubro.A última vez que orientei esta vigíliafoi quando o Papa João Paulo II veiocomo peregrino a Fátima em 1982.O Papa João Paulo II, no diaseguinte, disse-me que esteve juntoà janela do seu apartamento aacompanhar

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a nossa oração de jovens, durantetoda a noite.Entre 75 e 80 forma publicados 2catecismos para orientação dasreuniões de jovens nascomunidades paroquiais: “JesusCristo, um Messias diferente” em 3volumes e “Levanta-te e Caminha”em 2 volumes. Estes catecismoseram acompanhados também comvárias cassetes de cânticoscompostas expressamente para aPastoral Juvenil.Por curiosidade, refiro jovens quelideraram a Pastoral Juvenilnalgumas dioceses, e que são hojefiguras

conhecidas da sociedadeportuguesa: Carlos Azevedo (peloPorto), João Figueiredo (porLisboa), Eugénio Fonseca (porSetúbal), António Marujo (porAveiro), António José GonçalvesFerreira (por Beja), Ulisses Garrido(por Portalegre e Castelo Branco),Isabel Monteiro (por Lamego).Sacerdotes extraordináriosacompanharam estes grupos dejovens e a Pastoral Juvenil ficouimplantada em todo o País.

Padre Vítor Feytor PintoPároco do Campo Grande, Lisboa

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Semana de dias líquidos

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

A semana de dias “líquidos” começa por ser aocasião para fazer memória – justamente – demuitos dias “sólidos”.Há 40 anos Portugal foi a votos livremente! Aconquista da liberdade, um ano antes, em abrilde 1974, gerou confrontos de ideias entrediferentes grupos, sociais e políticos, para adefinição de um regime democrático a partir doqual se fundamentasse a construção eorganização da sociedade. Dias, semanas emeses de acesos debates, manifestações dediferentes pontos de vista, não só de formaverbal mas também nas praças públicas,erguendo slogans e bandeiras da livre expressãode ideias. E ainda mais nos anos anteriores,mesmo na clandestinidade.Fazer memória dos acontecimentos de há quatrodécadas tem de ser uma oportunidade derecomeço e de confronto com princípiosfundadores, tendo-os sempre por horizonte dequalquer grupo ou organização.A memória da solidez de propostas, objetivos,compromissos e da determinação com que seatingiam metas contrasta com as formas como

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hoje se desenvolvem campanhaspara tentar por fim a outros dramas,maiores sobretudo porque são dopresente. Não pela fragilidade daspropostas, mas pela dificuldade emcontagiar a “sociedade líquida”Um exemplo: os migrantes vítimasde tráfico e da morte em tantosnaufrágios no Mar Mediterrâneooriginaram uma onda de indignaçãomediática, esquecida tãorapidamente quanto surgiu; emotivaram, por exemplo, apromoção da campanha#todossomospessoas, comrepercussão pouco mais do que“digital” porque não teve qualquerconsequência no quotidiano doscidadãos e ainda menos na vida dosque procuram melhores condiçõesde vida longe da África.O continente digital, comum apessoas de qualquer latitude, gerafrágeis sentimentos de pertença,desligados frequentemente dequalquer compromisso. Declararnum mural de uma rede social aadesão a uma causa é bemdiferente do que estampar mesmadeclaração num muro de

uma cidades ou aldeia. E ainda émaior a diferença entre ocompromisso gerado por um “like” ea exibição de uma bandeira ou o“retweet” de uma declaração epassos dados em qualquermanifestação pública em torno decartazes e slogans.Há momentos para tudo e, mesmohoje, o relevo e o alcance dequalquer causa podem atingir-se namanifestação em espaços públicosou na partilha espontânea emambientes digitais. Tudo dependedas razões que o motivam e docompromisso que se coloca emcada gesto ou palavra.Podemos estar completamenteaparelhados entre telefones outablets, sejam de sistemas iOS ouAndroid, mas continuar empermanente solidão; e podemosligar-nos a todas as redes e mantera ausência de compromissos,pessoais ou sociais.A “modernidade líquida”, os “diaslíquidos” que tendencialmentetendem a caraterizar o ambientedigital não são uma fatalidade.Basta que as motivações sejamsólidas!

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O 1.º de Maio, considerado hoje na Europa o dia do trabalhador, foinosfins do século XIX e princípios do século XX, um dia dereivindicaçõese mesmo de lutas violentas pela promoção da classe operária. AIgrejaquis dar uma dimensão cristã a este dia. Nesse sentido, Pio XII, em1955, colocava a «Festa do trabalho» sob a proteção de São José,operáriodurante toda a sua vida.O Semanário ECCLESIA assinala este dia com uma edição que contacom os contributos de Manuel Carvalho da Silva, da LOC/MTCe testemunhos concretos de quem abraçou novos projetospara se realizar profissionalmente.

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A crise e a desvalorização doTrabalho A celebração do 1.º de Maio serviu como pano de fundo para umainterpelação à Liga Operária Católica/Movimento de TrabalhadoresCristãos (LOC/MTC) em Portugal sobre o impacto da crise económicae os caminhos de futuro que se podem abrir para superar asdificuldades criadas. Agência ECCLESIA (AE) - A criseeconómica afetou a relação entreempregador e trabalhador?LOC/MTC - Sim. Porque promoveua desvalorização do trabalho e dacontratação coletiva, a destruiçãode postos de trabalho econsequentemente a pobreza, oque afeta as relações de trabalho.Os trabalhadores não sabem,muitas vezes, para quem trabalham,nem sabem quem são os seuspatrões. Funcionam como merosprestadores de serviços dasempresas, como acontece com osrecibos verdes e com as empresasde trabalho temporário.Trabalhadores, dentro da mesmaempresa, são obrigados a assinarnovos contratos, porque têm medode perder os seus postos detrabalho e, desta forma, perdemdireitos e confiança nosempregadores. Estão sob grandepressão nos seus locais detrabalho, devido à precariedade, àvideovigilância e outras exigências

que lhes são impostas, sentindo-se,assim, enganados, desmotivados edeprimidos. É notório, por parte demuitos empresários, oaproveitamento da situação paraexplorar os mais frágeis evulneráveis, que perante asdificuldades vêem-se impotentespara se defenderem. 28

AE - As boas práticas empresariaissão uma exceção ou precisam deser mais divulgadas?LOC/MTC - As boas práticas, aspoucas que existem devem ser maisdivulgadas de modo a servirem deexemplo, até mesmo a satisfaçãodos trabalhadores, os seusresultados e a diferença que taispráticas podem trazer. Há estudosque revelam que os trabalhadoresmotivados atingem melhoresresultados, mesmo no

trabalho que executam. A empresanão tem que ser vista apenas peloslucros mas também como umserviço, um bem social, produtorade satisfação e promotora depessoas felizes e realizadas.Entendem-se boas práticas quandoa empresa respeita e aplica alegislação, reconhece os direitos e éum meio facilitador da vida e dadignidade dos seus trabalhadores.

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AE - Como é que os princípioscristãos podem inspirar a vida dasempresas nos dias de hoje?LOC/MTC - Os princípios cristãos ea doutrina social da Igreja podeminspirar a vida das empresas seforem mais divulgados, valorizadose interiorizados, por quem nelastrabalha e, principalmente, pelosempregadores e gestores. Se, deacordo com aqueles princípios, fordado mais valor às pessoas do queàs máquinas e ao capital, a funçãosocial das empresas será umarealidade e a sua missão serácumprida, gerando justiça eequidade e promovendo o bem-estar de todos os que para elacontribuem. São conhecidosexemplos de maior sucesso, mesmoeconómico, em empresas onde ostrabalhadores se sentem bemporque são reconhecidos erespeitados. AE - A atenção do Papa Franciscoàs questões da dignidade dotrabalho e aos problemas dodesemprego ajudam a motivar asorganizações cristãs que trabalhamneste campo?LOC/MTC - É certo que a atençãoque o Papa Francisco tem dado àvalorização e dignidade do trabalho

e dos trabalhadores, ajudam eincentivam os Movimentos deTrabalhadores Cristãos. Com osseus ensinamentos, principalmenteos configurados na ExortaçãoApostólica “Alegria do Evangelho” ,as suas atitudes e intervenções,temos sentido , que a nossa missãocomo cristãos no mundo do trabalhose identifica com o seuentendimento de missão da IgrejaCatólica junto dos trabalhadores,dos pobres e dos maisdesfavorecidos. E isso anima-nos,como cristãos comprometidos acontinuar a testemunhar e promoveros valores e os princípios dadignidade humana, da unidade, dafraternidade, da solidariedade, dajustiça e da valorização do trabalho. AE - A precariedade laboral é umacondição indispensável para asustentabilidade das empresas?Como contrariar o atual cenárioportuguês?LOC/MTC - Pelo contrário, nãohaverá sustentabilidade dasempresas se elas trabalharem combase na precariedade laboral e emsalários baixos. A necessáriaprodutividade das empresas, nãoserá possível sem uma participaçãoestável e satisfatória

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dos trabalhadores, sem organizaçãodo trabalho, sem modernização dasempresas, sem métodos de gestãoe sem bons níveis de qualificaçãoquer dos trabalhadores quer dosempresários. Existem outros fatoresque contribuiriam para essaestabilidade como sejam, aequidade fiscal, a redução decustos da energia, a facilidade definanciamentos e o aumento depoder de compra dos trabalhadorese das populações maisdesfavorecidas.

Um estudo da OIT-OrganizaçãoInternacional do Trabalho, sobrePortugal, refere que as empresasforam afetadas por condiçõesmacroeconómicas apertadas queprevaleceram desde 2011. Mais deum quinto das pequenas e médiasempresas referem que o acesso aocrédito é o seu problema maispremente – daí resultando menoresoportunidades para a criação deemprego.

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A Dignidade do Trabalhono Pontificado do Papa FranciscoNestes tempos em que os poderesdominantes propiciam a uma ínfimaminoria de indivíduos a apropriaçãodesmedida de riqueza, colocandocada vez mais povos e países aviverem na miséria ou sobprogramas sociais e económicos deemergência, o Papa Francisco temassumido uma denúncia certeira daidolatria do dinheiro, dafinanceirização, da “nova tiraniainvisível, por vezes, virtual” e das“forças cegas e da mão invisível dosmercados”, da “corrupção tentaculare evasão fiscal egoísta” – que estãopor detrás dos sofrimentos humanos–, contrapondo os valores dasolidariedade, da tolerância, davalorização e responsabilização dapolítica, do preenchimento dignodas nossas vidas, da dignificaçãodo trabalho, da Paz.O Papa Francisco vem fazendointeressantes abordagens (ecombate) às situações de exclusãoe marginalização e à sua profundarelação com a ausência de trabalho(a “inatividade” e o desemprego) eas más condições de prestação eretribuição do trabalho, relembrandoque “o trabalho é uma realidade

essencial para a sociedade, para asfamílias e para os indivíduos” e bemindispensável “da pessoa humana,porque a realiza como tal, com assuas atitudes e as suascapacidades intelectuais, criativas emanuais”.O trabalho a produzir bens eserviços úteis ao desenvolvimentohumano, criativo, solidário,componente da realização dapessoa e não submetido, ou atédestruído, pelos mecanismosmodernos de criação e apropriaçãodo dinheiro. Realço as afirmaçõesdo Papa Francisco que colocam otrabalho “estável e dignificado”como direito universal e “disponívelpara todos”, a sua denúncia de “umsistema económico que já não écapaz de criar trabalho”, num mundoque utilizando mais racionalmenteapenas uma parte da riquezaproduzida podia criar milhões emilhões de novos postos de trabalhode grande utilidade e valor.Neste 1º de Maio devemos fazer umesforço redobrado para reafirmar osvalores da solidariedadeconcretizada na ação concreta danossa vida no trabalho, rechaçandoinevitabilidades e afirmandoalternativas, recusando que planosde assistência em

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emergência se instalem comoprogramas políticos definitivos, pois“não é suficiente esperar que ospobres recolham as migalhas quecaem da mesa dos ricos”.Digamos não às instabilidades,precariedades e inseguranças, ao

brutal desemprego e à miséria,lutemos pelo emprego, pelo direito asalários dignos e a horários detrabalho que nos permitam realizaras nossas vidas. Manuel Carvalho da Silva

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Construamos uma sociedade justa,fraterna e sustentávelTrabalho digno e justo para todos,sem importar a cor da pele, o sexo,a religião ou o país de origem dapessoa, é algo pelo qual luta oMovimento Mundial deTrabalhadores Cristãos (MMTC) emconjunto com os seus movimentos.Desde 1889 (em que foiestabelecido o 1º de Maio como Diados Trabalhadores), muitostrabalhadores e trabalhadoras detodas as partes do mundo saempara as ruas no 1º de Maio paracomemorar a luta que levou ossindicalistas em Chicago a obteremmelhores condições de trabalho emais dignas, na qual váriosmanifestantes perderam a vida.Com este apelo, o MMTC querrecordar o pouco progressoalcançado desde então em algumaspartes do mundo e a importância decontinuar a comprometer-seactivamente para melhorar asituação.Apesar das muitas declarações ereivindicações por um trabalhodigno, apresentadas por exemplonas encíclicas sociais dos Papas,em numerosas publicações da OIT eem muitos outros documentos, aexploração e as condições detrabalho similares à escravaturacontinuam

a ser frequentes. A maioria daspessoas nos países pobres trabalhasem qualquer tipo deregulamentação relativa ao dialaboral, à segurança no trabalho, àprotecção social e à remuneração.A uma empregada numa famíliaendinheirada, no Mali, prometeramdar-lhe o seu salário no final do ano.Mas, na altura, disseram-lhe quetinha partido tantas coisas (copos,jarras), que já não sobrava nenhumdinheiro do seu salário para lhe dar.Ela trabalhava 7 dias por semana edevia estar disponível o tempo todo.No fim, tinha trabalhado um anointeiro sem ganhar ordenado. Esteexemplo representa muitas pessoasem todo o mundo. Os movimentosmembros do MMTC denunciam estetipo de situações, registam-nas nasinstituições do Estado (policia) eajudam para que as vítimas semobilizem com o objectivo demelhorar a sua situação.Há muitos países em que se ignorapor completo a regulamentação aoconverter os empregados emtrabalhadores “independentes”, quecontinuam a ser na mesmadependentes como antes, e em

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troca quase não têm direitos. Umexemplo disto são os condutoresque entregam encomendas, mas,devem comprar o seu próprioveículo e assumir todos os riscosque isso implica. Muitas vezesconduzem mais de 10 horas por diae com dificuldade conseguemalimentar uma família. Se tiveremalgum problema com o carro, vêm-se obrigados a pedir umempréstimo, tornando-se ainda maisdependentes que antes.

Escândalo maior é o facto demilhões de pessoas estarem fora domercado laboral, pois apesar derealizarem grandes esforços, nãoconseguem encontrar um posto detrabalho. No sul da Europa, metadedos jovens estão desempregados.Para conseguir um lugar, têm queaceitar, com frequência, máscondições de trabalho ou ir paraoutro país.Sabe-se que na Asia, além disso, ossalários são demasiado baixos, há

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feridos graves por falta desegurança industrial. Em muitasfábricas têxteis não existe nenhumtipo de protecção contra incêndios,e nas tinturarias, muitosempregados trabalham com aspernas nuas em líquidos químicos.No Peru, os trabalhadores tentamimpedir que se abra uma mina queameaça causar enormes danosambientais, de cuja exploração sóse podem esperar salários baixos.Agora a multinacional americanapediu ao estado, que tinha assinadoum acordo de proteção deinvestimentos, para indemnizar aempresa. Desta forma o governoperuano, em nome da ditamultinacional, faz com que a políciapersiga estes trabalhadores, tendojá morrido alguns, durante asmanifestações. É a Isto que chamamjustiça?A ganância e o dinheiro contammuito mais que a natureza e adignidade das pessoas. Asmultinacionais não têm o maispequeno interesse nas pessoas,olham para elas como produtoresou como consumidores.“Desta forma o mandamento de“Não matar” estabelece um limiteclaro que assegura o valor da vidahumana, hoje temos que dizer Não auma

economia de exclusão edesigualdade social. É umaeconomia que mata. É incrível quenão se faça notícia quando umidoso, que se vê obrigado a viver narua, morre de frio, enquanto se faznotícia de uma queda de 2 pontosna bolsa”. ( Diz o Papa na EvangeliiGaudium nr.53).Deixemo-nos inspirar pelo Papa. Osmovimentos do MMTC lutam poristo, para que todos sejamconsiderados com a sua dignidade ea sua alma como criaturas de Deus,e não só como matéria disponívelpara servir os ricos e poderosos.Apoiemos regras mundiais quepermitam levar uma vida digna.Unamo-nos e lutemos juntos porsalário justo, dignidade, fraternidadee solidariedade. Construamos umasociedade justa, fraterna esustentável.

Movimento Mundial

de Trabalhadores Cristãos

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1974“O 1.º de Maio de 1974 foi a concretização do impossível tornado possívele de facto é indescritível o clima que se criou. Ainda não se tinhapercebido algumas das consequências negativas que depois se vieram afazer sentir posteriormente. Era ainda um período de grande euforia,grande sonho, grande ideal em que parece que a fraternidade estavapresente, que se podia tocar, era algo palpável, qualquer pessoa queencontrássemos na rua.Realmente havia atmosfera de fraternidade e liberdade que era muitoimportante”Manuela Silva, antiga presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz; ex-secretária de Estado para o Planeamento, no I Governo constitucional(1976-77)

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Partilhar talentos profissionaiscom valores de féA plataforma de formação ‘Talentos’,que nasceu na família missionáriaVerbum Dei, quer ajudar a partilharos “dons e experiências”profissionais aliando-os a valores defé. “Foi o tentarmos unir anecessidade que temos de sermosbons profissionalmente, de nosespecializarmos, e que essaformação não nos tornedesumanos”, explica à AgênciaECCLESIA o formador RicardoResende.O professor universitário revela quese reuniram pessoas com essacapacidade profissional e formativae que a fé está presente “qual o fimúltimo da profissão”, para além doobjetivo de “aprender a ser maiseficiente”.O ‘talentos.verbumdei’ tem comoobjetivo facilitar a partilha dos donse experiências de vida, nacomponente profissional.Segundo Ricardo Resende, a fétransparece nas formações “onde émais evidente” pelo menos na“intencionalidade do formador”: “Euestou aqui porque quero ajudar atrabalhar melhor, a servir melhor”.

Há dois anos, as formaçõesmaterializam-se em pequenosworkshops, em várias áreas, quefuncionam mediante adisponibilidade dos formadores eadesão dos interessados, cujopreço é simbólico.O professor universitário revela quetambém existem surpresas“interessantes” na participação dosalunos, como numa formação sobreExcel. “Estou à espera queapareçam jovens que estão nauniversidade, e aparece um ououtro, mas aparecem pessoas de 50anos que diziam que tinham deaprender a trabalhar”, explica.Segundo o entrevistado, naformação talentos.verbumdei.org assessões duram entre hora e meia aduas horas, nas quais os formandos“aprendem qualquer coisa”, masfuncionam sobretudo como“arranque, semente”.Depois há uma formação noutrotema, as pessoas voltam e dizemque já fazem algumas coisas noExcel”, exemplifica RicardoResende, para quem é “inesperado”ver pessoas com 50, 60 anos com“vontade de aprender”. Nestecontexto,

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o formador comenta que recebe a“alegria de partilhar e ser útil”porque gosta de dar aulas“principalmente” quando os alunosestão “muito interessados”.“Ali tenho pessoas que queremmesmo estar e até partilharamqualquer coisa”, comenta ointerlocutor, que não recebenenhum valor monetário.

No contexto do Dia do Trabalhador,no 1.º de Maio, o programaECCLESIA apresentou ao longo dasemana a experiência deplataformas e projetos de formação,às 22h45, na Antena 1 da rádiopública.

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Projeto de empreendedorismo nointerior de Portugal com ajuda daCáritasA Geolife, uma empresa deanimação turística de Idanha-a-Nova, desenvolveu-se numasituação de desemprego e tornouRui Nunes e Susana Santosempreendedores na raia com oapoio do plano "CriaActividade", daCáritas Portuguesa. “Esta ajudasurgiu em novembro de 2014, fomosconvidados pela Câmara Municipalde Idanha-a-Nova para participarem reuniões com a CáritasPortuguesa”, recorda Rui Nunes àAgência ECCLESIA.O projeto "CriaActividade" pretendeapoiar iniciativas deempreendedorismo em várias fasesque podem começar na conceçãode uma ideia ou como no caso daGeolife cujo apoio “foi a nível dadivulgação” e a possibilidade deentrarem numa plataforma decrowdfunding (financiamentocolaborativo). “Para angariarmos algum valor eajudar no que fosse necessário”,explica o sócio que se dedica atempo inteiro ao projeto. A empresade animação turística pretendedivulgar e valorizar o patrimóniohistórico,

cultural, paisagístico e humano nazona de Idanha-a-Nova.“Temos a noção que há muitopotencial para explorar, as pessoasnão conhecem e é por ai quequeremos começar. Mesmo antes deestar desempregado já tínhamos asideias no papel”, revela Rui Nunespara quem Portugal não é sóLisboa, Porto ou Algarve por issoquerem levar os “turistas para ointerior”.Engenheiro do ambiente, oempreendedor explica quecomplementa as “visitas guiadas, ascaminhadas pela natureza” com aformação académica nesse sentidoestá “realizado” porque investe oseu “tempo e trabalho” numa áreade que gosta.

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Semear a Esperança

A Cáritas Diocesana de Bejaapresentou o projeto "Horta NovaEsperança", rientado para aocupação, capacitação ereabilitação de jovens que caíramna toxicodependência e noalcoolismo.A iniciativa, cujo lançamento foiacompanhado pela AgênciaECCLESIA, envolve os utentes daComunidade Terapêutica HortaNova, e conta com o apoio docentro de desenvolvimento eresponsabilidade social da EDIA eda Escola Superior Agrária, doInstituto Politécnico de Beja.Para o bispo de Beja, D. AntónioVitalino, este projeto prefigura “umaboa prática” e “pode servir de bomexemplo” no que à ação social esolidária diz respeito. O prelado

destacou depois as “múltiplasutilidades” da iniciativa, desdeajudar os “jovens que ali estão arecuperar” a começarem “uma vidanova”; até à própria dinamização daatividade agrícola na região.Com cerca de cinco hectares deterreno para cultivar, a ideia éapostar na diversidade de produtose espécies, procurando contribuirpara a promoção e bem-estar detodas as pessoas envolvidas.A Ecclesia traz a experiência doutente Joaquim Matos que olhaagora o futuro com nova esperança.

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A importância de ter objetivosna procura de empregoBernardo Gomes estevedesempregado e, para além dapersistência e vontade em voltar aoativo, encontrou apoio na fé e noGrupo de Entreajuda na Procura deEmprego (GEPE), onde é formador,e aconselha a “nunca” “perder ofoco”.“Vão servir às mesas, trabalhar alançar faturas mas se o foco é outraárea completamente diferente não opercam porque vão conseguir. Nóssabemos que a história é cíclica, háfases melhores e piores”, é amensagem do entrevistado para oDia do Trabalhador.Para Bernardo Gomes fazer o“sacrifício” de estar noutra atividadeé algo que “todos” têm de fazer maso essencial é manter os objetivos e“acreditar” porque esta atitude “valea pena e dá resultados”.À Agência ECCLESIA, explica quedepois de uma fase de afastamentoda Igreja voltou a “acreditar emDeus” e a fé foi uma “grande ajuda”na vertigem do desemprego, algoque ainda o emociona.Formado em tecnologia deinformação hoje trabalha na área dacontabilidade e confessa-se uma

“pessoa realizada”, começou asreuniões semanais no GEPE, com“pessoas na mesma situação dedesemprego”, em março de 2013onde agora é formador.Bernardo Gomes conheceu o Grupode Entreajuda na Procura deEmprego, do Instituto Padre AntónioVieira, numa revista e como sabiaque a empresa de construção civilonde estava a trabalhar ia “encerraratividade” enviou um email e foi auma entrevista em “dezembro de2012”.Para o entrevistado que não eradesempregado mas estavadesempregado, “é uma situaçãocomo estar a trabalhar”, estarealidade não é “vergonha” masreafirma a necessidade de “reagir”depois do “período de luto”, nomáximo até dois meses.“Cada uma reage da sua maneira,uma mais cedo, outras mais tarde,umas mandam 50 currículos por dia,outras três. Não podem ser julgadaspor isso, cada pessoa tem o seuritmo, a sua maneira de ser e nósencontramos pessoas nas diversasfases”, contextualiza o interlocutor.

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GEPEOs Grupos de Entreajuda na Procura de Emprego – GEPE sãogrupos informais de pessoas desempregadas, que se reúnemperiodicamente e cujo objetivo é a procura ativa de emprego, naqual todos os membros do grupo colaboram e se entreajudam. Arede GEPE é um projeto experimental e inovador que pretendedesta forma apoiar desempregados, em particular os que sofremum maior impacto psicológico do desemprego, quer pela suaduração, pela situação inesperada ou pela vulnerabilidade em quese encontram.

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Vaticano e Cáritas Internacionalcontra o trabalho escravoO Vaticano e a Cáritas Internacionalacabam de lançar um documentoconjunto que apela a um “reforço”da ação dos católicos no combateao tráfico de pessoas e o trabalhoescravo. “O tráfico humano é umaforma moderna de escravidão. Issoimplicara controlar uma pessoaatravés da força, da fraude ou dacoação com o propósito desubmete-los a trabalhos forçados eexploração sexual”, refere adeclaração.A campanha inclui um vídeo de doisminutos produzido pela ‘Caritasinternationalis’ com o apoio daEmbaixada dos Estados Unidosjunto da Santa Sé. “Talvez fossemelhor não falar mais de tráfico masdiretamente de ‘escravidãomoderna’ para evitar ambiguidades,desconfianças e equívocos”, explicaMichelle Hough, do departamentode comunicação da confederaçãointernacional da Cáritas.O vídeo concluiu o encontro queteve lugar no Conselho Pontifíciopara os Leigos, organizado paraapresentar e promover ‘Ocompromisso cristão contra otráfico’», da ‘Caritas Internationalis’e do Conselho

Pontifício para a Pastoral dosMigrantes e Itinerantes.A iniciativa recorda que há 21milhões de pessoas que são vítimasde tráfico e conta com o apoio daCOATNET - Organizações Cristãscontra o Tráfico de Seres Humanos.“Quando uma pessoa é vítima detráfico torna-se muito difícil efrequentemente perigoso evitaraquela situação. Quando ossobreviventes do tráfico decidemfugir deparam-se inevitavelmentecom muitíssimas dificuldades”,assinala a declaração conjunta.A Santa Sé e a Cáritas recordamque o tráfico “viola a dignidade dapessoa” e é “um crime” que deveser combatido nos países de origeme nos países de destino.O documento, enviado à AgênciaECCLESIA, condena um “negóciointernacional” que cresce de formarápida e é “altamente lucrativo”.Os membros da COATNET partilhamexperiências através da internet eoferecem “assistência técnica”nalguns casos.

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O compromisso cristão contra o tráfico“Quando uma pessoa é vítima de tráfico torna-se muito difícil efrequentemente perigoso evitar essa situação. Quando ossobreviventes do tráfico decidem fugir deparam-seinevitavelmente com muitíssimas dificuldades. É-lhes negado oacesso a direitos como a proteção médica e serviços de consulta.Além disso, qualquer forma de assistência de que necessitem estácondicionada por uma espécie de cooperação com as autoridades,prescindindo do perigo ao qual poderia estar exposta a pessoatraficada”

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Trabalho, emprego e justiçaNão há dia que passe sem queouçamos falar dos números dodesemprego em Portugal, mas, aomesmo tempo, damo-nos conta deque poucos querem discutir o graveproblema que temos entre mãos,pois o desemprego é mais do que asoma dos problemas de cada um, éum problema da sociedade. Arelação entre o emprego e otrabalho de cada um deve serestável e não pender demasiadopara um emprego sem trabalho, ouseja, um emprego que leva apessoa a sentir que o seu trabalhonão é mais do que aquilo a queKeynes se referia na célebreexpressão – «pagar às pessoaspara cavar buracos e logo deseguida tapá-los» – e que não estárealmente a produzir algo útil para asociedade. O dinheiro não pode sera única preocupação em relaçãoaos desempregados; também nostemos de preocupar com o trabalhoque desempenharão tanto para obem da sociedade como para a suaprópria realização.Ao mesmo tempo, não podemos cairno erro de considerar que odinheiro não importa, visto que nasociedade atual não se consegueviver dignamente sem dinheiro senão

se depender de alguém. É poisnecessário juntar ao trabalhoprodutivo de uma pessoa a devidarecompensa pelo trabalho feito, demodo a ter uma vida digna eesperança num futuro melhor.Temos assim duas preocupações:que o trabalho seja recompensadodevidamente e que seja produtivo.Só assim podemos começar a definiro que queremos para a nossasociedade, em termos de níveis dedesemprego, porque todos sabemosque os níveis atuais sãoinsustentáveis, não só em termoseconómicos, pois o Estado gastamais com os apoios sociais do querecebe em impostos, masprincipalmente em termos de justiça,porque o desemprego é o maiorfator de injustiça num paísdesenvolvido. Assim sendo, essajustiça não se atinge só com osdireitos adquiridos, porque não épelo facto de a Constituição nosproteger, ao dizer que todos devemter direito ao emprego, querealmente o temos. É preciso agir, épreciso combater a injustiça queimpera onde pessoas capazes einteressadas, aliás necessitadas detrabalhar, não o podem fazer e sãoobrigadas a pedir apoio, seja eleestatal ou da sociedade civil.

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O desemprego atinge hoje níveisdemasiado elevados, todosconcordamos, mas até que pontodevemos ir na nossa luta contra odesemprego? Porque antes depensarmos em agir e no modo deagir temos de saber que níveis dedesemprego a nossa sociedadeacha aceitáveis.O desemprego atinge hoje níveisdemasiado elevados, todosconcordamos, mas até que pontodevemos ir na nossa luta contra

o desemprego? Porque antes depensarmos em agir e no modo deagir temos de saber que níveis dedesemprego a nossa sociedadeacha aceitáveis. Proponho convocara esta reflexão o melhor dos casos:o pleno emprego, ou seja, uma taxade desemprego reduzida nummercado de trabalho onde o númerode empregos disponíveis seja maiorque o número de pessoas àprocura, de modo a que ninguémesteja desempregado durantelongos

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períodos de tempo quando estádisposto a trabalhar. Parece utópicofalar de pleno emprego numa alturadestas, mas, mais do que nunca, épreciso pensar no rumo quequeremos como sociedade e, se éuma sociedade justa que queremos,não a podemos equacionar comníveis de desemprego como os dehoje.(…)Podemos então juntar váriospensamentos políticos, tanto de

direita como de esquerda, e arranjaralgumas soluções como as que seseguem.Em primeiro lugar, comecemos peloEstado e pela solidariedade fiscal,que poderia aumentar e ao mesmotempo beneficiar o crescimento doemprego através da descida dosimpostos indiretos (em especial doIVA) e do IRC para as PME,aumentando o IRS de forma acompensar a quebra de receita eampliando a solidariedade

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pelo maior contributo de quem temmais rendimentos.Em segundo lugar, a curto prazo, ostrabalhadores com maioresrendimentos deveriam disponibilizar-se para ver o seu salário e osprémios reduzidos, enquanto osacionistas aceitariam pôr de ladoparte dos seus lucros paraaumentar a disponibilidadefinanceira das empresas paraempregar mais pessoas. No longoprazo, a principal medida passa pornão haver aumentos salariais semque haja aumentos da produtividadee que os primeiros sejam menoresque os segundos de modo a criarmais emprego.Em terceiro lugar, para que teremprego signifique ter umapossibilidade de fugir à pobreza,devemos aumentar o salário mínimoporque neste momento quem o

recebe corre o risco de viver abaixodo limiar da pobreza ou muito pertodele. Num país desenvolvido, ésocialmente inaceitável que quemtrabalhe não consiga deixar apobreza.O desemprego é o nosso maiordesafio atual porque é um grandedesperdício de recursos humanos,potencia a pobreza, as doenças(devido à falta de cuidadoshigiénicos e má alimentação ou atéfalta dela) e a exclusão social, tendochegado a um nível tal que asociedade, como está organizada,não tem capacidade de acudir atantas pessoas necessitadas. Estaincapacidade de proteger os queestão mais fracos deveria forçar-nosa repensar os nossos objetivoscoletivos e a procurar umasociedade mais justa e igualitária.

João Coelho AzevedoLicenciado em Economia

Edição especial ECCLESIAA edição especial do Semanário ECCLESIA dedicada à reflexãosobre ‘Caridade, Justiça, Solidariedade’, com mais de 120 páginas,aborda estas temáticas fundamentais a partir várias perspetivasculturais e religiosas, ao longo da história da humanidade. Podeser consultada, na íntegra, em

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Departamento Nacionalda Pastoral Juvenil onlinehttp://ecclesia.pt/pjuvenil/ Entre os dias 2 e 3 de maio decorremais um Fátima Jovem, “essegrande encontro de jovens cristãosem Portugal”. Promovido peloDepartamento Nacional da PastoralJuvenil (DNPJ), “a peregrinaçãonacional de jovens a Fátima é umencontro de compromisso, queoferece aos jovens, de todas asdioceses, experiências únicas de fé,alegria e testemunho”.Assim esta semana proponho umavisita ao sítio virtual do DNPJ. Esteespaço online apresenta umaimagem gráfica bastante atual eperfeitamente enquadrada com opúblico-alvo a que se destina.Ao entrarmos na página principalencontramos os habituaisdestaques, as principais notícias euma forma muito inteligente epróxima de chegar ao públicojuvenil, referimo-nos às ligaçõespara a presença do departamentonas redes sociais. Na opçãoPastoral Juvenil, podemos perceberqual o enquadramento destedepartamento que é daresponsabilidade da comissão

do laicado e da família, bem como,conhecer a constituição da equipacoordenadora. Em “conselho”,somos informados acerca dacomposição do conselho nacionalda pastoral juvenil, qual oregulamento que o rege e aindaaceder aos comunicados emitidospor este órgão que integra“representantes das diversasinstituições eclesiais que se ocupamda pastoral juvenil no âmbitonacional e da coordenaçãodiocesana”.Caso pretenda aceder aos diversoscontactos das dioceses e respetivosresponsáveis diocesanos quetrabalham com a pastoral juvenil,basta clicar em “pastoral juvenil –dioceses”. Por outro lado, se o seuobjetivo passar pela obtenção doscontactos dos diversos movimentoseclesiais nacionais que trabalhamcom os jovens, clique em “ “pastoraljuvenil – movimentos”.No espaço “blog” acedemos a umaárea bastante interessante,denominada “Grão de Mostarda”. Aísomos presenteados com “um meiode aproximação, um contributopessoal, um olhar, uma partilha, umaexperiência de fé que se propaga.

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Se não estivermos atentos, quasenão damos conta, mas quando aacolhemos, lança raiz e expande-seabrindo à surpresa”.Por último em “recursos”, acedemosa uma zona onde se podem obter osmais variados materiais, sejamtextos, apresentações multimédia,reflexões, mensagens do Papa elocais para retiros.

Aqui fica apresentada mais umaforma de acompanharmos onlineeste tão importante departamentoque “tem por missão fomentar, anível nacional, o encontro dasdiversas instituições eclesiais depastoral da juventude”.

Fernando Cassola Marques

[email protected]

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«Que fazes aí fechada?»A alegria e em liberdade da VidaConsagrada no femininoO jornalista Filipe d’Avillez, autor dolivro «Que fazes aí fechada?», quisapresentar “histórias fascinantes”de vida consagrada, incluindo duasreligiosas de clausura, para superarpreconceitos. “As histórias quecontei são fascinantes porque sãohistórias de vida. Isto não sãoprofissões, não são hobbies, sãovidas inteiras que estão aqui comtodas as complicações que porvezes têm”, disse à AgênciaECCLESIA.O livro "Que fazes aí fechada?"relata a vocação de oito mulheres,sete portuguesas e uma albanesa, enenhuma das entrevistadas está a“esconder-se ou a remoer coraçõespartidos e desgostos amorosos”. “Émuito fácil dizer que o livro éfantástico porque estou a elogiá-lase às suas histórias”, acrescentou ojornalista da Rádio Renascença,que sempre teve o “fascínio” deperceber o que leva as mulheres a“consagrar-se inteiramente a Deus”.A irmã Sara Pina, das Hospitaleirasdo Sagrado Coração de Jesus, foiuma das entrevistadas e consideraque

a publicação é uma oportunidade de“refletir mais” sobre o significado epapel da vida consagrada na Igreja.“No fundo, abri-las ao mundo paraconhecerem o que fazemos dentrode quatro paredes”, gracejou,explicando que aceitou este desafiocomo oportunidade de também dara conhecer a sua congregação.O autor recorda a freira cujo pai“deixou de praticar” quando elaanunciou que ia entrar para oconvento: “Não é uma história quetenha um final feliz, pelo menos doponto de vista da irmã”. “Há umavariedade enorme de histórias quesão todas de relação pessoal comJesus. Isso foi uma história que memarcou muito como autor dasentrevistas”, desenvolveu Filiped’Avillez.O jornalista, que pretendiadesmistificar ideias feitas epreconceitos, considera que o livro“consegue esse propósito” com aajuda de religiosas jovens e “muitovivas”. “Há muita vida para dar,muita liberdade”, frisa, destacandoque uma das freiras de clausuradisse que

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é “muito livre”: “As chaves estão dolado de cá”.“Que há de mais radical senão aoferta da própria vida”, escreveu noprefácio Maria João Avilez querevela ter sido “testemunha direta”deste “realizar-se”. A tambémjornalista conta a nona história devida consagrada, de Verónica, suafilha que aos 28 anos com umemprego estável e namoradodecidiu entrar para o Carmelo “commuito empenho,

muito fôlego, muita vontade radicalde Deus”.A publicação é da chancela daAletheia Editores, cuja responsávelespera que as pessoas “percebam”porque é que uma “jovem bonita,sem desgostos de amor, se vaifechar num convento”. Nestecontexto, Zita Seabra refere que olivro “procura ser” um contributopara se perceber que “são opçõesde vida”.

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II Concílio do Vaticano: O padre queestudou pela sebenta de Ratzinger

Quando o II Concílio do Vaticano foi convocado, opadre Peter Stilwell que vivia no centro da cidade deLisboa, paróquia de Santos-o-Velho, notava que afrequência na missa “era bastante grande”, mas“muito distanciada da celebração”. O celebrante“estava de costas lá em cima”, recorda o padreportuguês que, atualmente, é reitor na Universidadede São José, em Macau.Nascido a 4 de dezembro de 1946, em Lisboa, opadre Peter Stilwell sublinha à Agência ECCLESIA queas celebrações eram “todas em latim” e as pessoassabiam “as respostas todas de cor”.Nesse período pré-conciliar, durante a celebraçãoalgumas pessoas, “com menos formação”, passavamo tempo a rezar “viradas para os altares laterais”. Erafrequente, enquanto decorria a missa, um padre estara confessar “no fundo da igreja”. As homilias nãoestavam sintonizadas com as leituras, mas com a“época litúrgica e recomendações morais”. Aexplicação das leituras e textos bíblicos “raramente”se fazia.Com raízes britânicas, o reitor da Universidade de SãoJosé revela que o desenvolvimento do catolicismo emInglaterra, no século XIX e XX, “é muito marcado pelasmigrações”, como foi o caso da Irlanda e dos paíseslatinos, estes especialmente depois da II GuerraMundial.As relações ecuménicas eram quase inexistentes emInglaterra, conta o padre Peter Stilwell pelas históriasque ouvia da sua mãe. Este panorama mudou“radicalmente” com o II Concílio Vaticano (1962-1965).O sacerdote recorda-se perfeitamente da morte doPapa João XXIII, da eleição do Papa Paulo VI e davisita deste

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à Terra Santa. Entrou para oSeminário dos Olivais (Lisboa) noúltimo ano do concílio e lembra-sedo “entusiasmo” de alguns bisposportugueses e brasileiros quepassaram por aquela casa deformação sacerdotal.“Percebia-seque tinham vivido um tempo muitointenso, como aquelas pessoas quesaem de um retiro espiritual”, disse.Ao olhar para aquele períodomarcante na vida da Igreja doséculo XX, o padre Peter Stilwelldestaca o papel que o grupo dosteólogos franceses (Yves Congar,Chenu, Lubac) desempenhou nodesenvolvimento

dos trabalhos conciliares. Ao falardos protagonistas, o padre PeterStilwell realça também o atual Papaemérito, Bento XVI, na altura JosephRatzinger. “Estudei o sacramento daEucaristia com a sebenta de JosephRatzinger” porque, na altura, oprofessor era um espanhol.“Estávamos no início da Faculdadede Teologia em Portugal e algunsprofessores vinham de Espanha”.O teólogo Karl Rahner foi também“uma figura marcante” na formaçãodeste professor português que fazparte, desde o início, da revistainternacional «Communio».

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Maio 2015 Dia 01 de maio* Beja - Vila Nova de Milfontes -Encontro dos consagrados daProvíncia Eclesiástica de Évora.

* Itália – Milão - Início da Expo 2015com pavilhão da Santa Sé com otema «Nem só de pão».

* Itália – Papa Francisco liga-se emdireto à inauguração da Expo 2015.

* Porto - Gaia (Seminário dosCarvalhos) - Dia dedicado aodesporto em prol do voluntariadoem São Tomé e Príncipe epromovido pelas MissõesClaretianas.

* Vaticano - Ultreia Europeia dosCursos de Cristandade e audiênciacom o Papa Francisco.

* Fátima - Peregrinação nacional deacólitos ao Santuário de Fátima

* Lisboa - Carcavelos (Seminário daTorre d´Aguilha) - Ordenaçãodiaconal por D. Joaquim Mendes.

* Lisboa - Igreja de São Domingos -Concerto de música sacra decompositores portugueses e outrospelo Highgate Choral Society.

* Algarve – Ferragudo - Iniciativa«Escola de Casais» promovida peloMovimento dos Focolares (01 a 03) 02 de Maio* Lamego – Resende - Encontronacional da ASEL (Associação dosAntigos Alunos dos Seminários daDiocese de lamego) presidido por D.António Couto.

* Braga - Igreja de São Miguel-o-Anjo - Concerto alusivo ao Dia daMãe com Claudine Pinheiro

* Braga - Guimarães (Serzedelo) -Festa das Cruzes em Serzedelo. (02e 03 de maio)

* Fátima - Fátima Jovem 2015 com otema «Felizes, como Maria a cheiade graça». (02 e 03 de maio) 03 de Maio * Açores - Encerramento (início a 19de abril) da quinzena vocacionalpromovida pela Diocese de Angra.

* Lisboa - Encerramento do Festival«IndieLisboa» que atribui doisprémios a obras que privilegiemvalores espirituais e humanistas.

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* Lisboa - Igreja de São João deDeus - Missa de encerramento docentenário de São Bento Menni,fundador da Ordem de S. João deDeus, presidida por D. ManuelClemente.

* Lamego - D. António Couto presideà Eucaristia na Queima das Fitasdos Estudantes da Escola Superiorde Tecnologia e Gestão de Lamego.

* Lisboa - Centro ComercialColombo (FNAC) - Apresentação daobra «Com franqueza...» deJoaquim Franco por FelisbelaLopes, Sampaio da Nóvoa, ÂngelaRoque e António José Teixeira.

Dia 05 de Maio* Lisboa - Reunião da Comissão doSínodo Diocesano com a presençado patriarca de Lisboa e bisposauxiliares.

* Fátima - Museu de Arte Sacra eEtnologia - Sessão do curso sobreescultura barroca em Portugal.

* Lisboa - Anfiteatro III da Faculdadede Letras da Universidade deLisboa - Encontro e diálogo cristão-budista com o padre José Tolentinode Mendonça e Paulo Borges

* Porto - Centro de Cultura Católica- Sessão do ciclo sobre SantaTeresa de Jesus sobre «Teresa deJesus: Figura, Vida e Escritos» pelopadre Jeremias Vechina, OCD * França – Paris - Assembleia geralda Companhia das Filhas daCaridade com eleição da superiorageral (05 a 12 de junho).

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O Departamento Nacional da Pastoral Juvenil vai

promover entre sábado e domingo, em Fátima, aPeregrinação Nacional de Jovens ao santuáriomariano, para divulgar a mensagem cristã através dasartes, com momentos de formação e debate. A Igreja Católica vai entregar dois prémios noFestival ‘IndieLisboa’, que decorre até domingo,distinguindo obras que privilegiem valoresespirituais e humanistas, anunciou oSecretariado Nacional da Pastoral da Cultura(SNPC). O prémio ‘árvore da Vida, a distinçãomais antiga, destina-se às obras inscritas naCompetição Nacional, longas e curtas-metragensportuguesas que têm, na sua maioria, a primeiraapresentação mundial no festival. O jornalista Joaquim Franco, da SIC, vai lançar estasegunda-feira em Lisboa (FNAC do Centro ComercialColombo, 18h30 ) o seu livro ‘Com franqueza’. Aapresentação está a cargo de Felisbela Lopes,Sampaio da Nóvoa, Ângela Roque e António JoséTeixeira. Secretariado Nacional das Comunicações Sociaisda Igreja vai promover um encontro comjornalistas para apresentação da mensagem doPapa para o Dia Mundial das ComunicaçõesSociais 2015. A iniciativa vai contar com apresença do presidente da Comissão Episcopalda Cultura, Bens Culturais e ComunicaçõesSociais, D. Pio Alves, e o jornalista PauloNogueira, partindo do tema escolhido porFrancisco, ‘Comunicar a família: ambienteprivilegiado do encontro na gratuidade do amor’.A apresentação vai decorrer às 16h00, na livrariaPaulinas Multimédia, Prior Velho (Rua FranciscoSalgado Zenha, 11).

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POR OUTRAS PALAVRAS

5º Domingo de Páscoa - Ano B

O ramo ainda está preso, mas já não circula nele a seiva da vida. É, porisso, uma questão de tempo, até que o vento o solte ou ele se desprenda.Mesmo que ainda ali perdure por mais uns dias ou semanas, não terá folhas,flores nem frutos: não tem alma. Está encostado, mas isolado; imita, mas nãoé mais nada senão um punhado de cinza adiada.De nada vale ao ramo estar dentro da quinta. A força vem da ligação àvideira!... João Aguiar Campos

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O que é o amor?

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0Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h30Domingo, dia 03 - Experiências de maternidade RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 04 -Entrevista a Lígia Pereira eFernando Moita sobre adisciplina de EMRC.Terça- feira, dia 05 -Informação e entrevista aJosé Paixão, sobre o Dia doTrabalhador;Quarta-feira, dia 06 - informação e entrevista comLuís Reis Lopes sobre a Semana da Vida; quinta-feira, dia 07 - informação e entrevista com airmã Laurinda Faria sobre o Anod radasexta-feira, dia 08 - entrevista de apresentação daliturgia dominical com os padres Nélio Pita e RobsonCruz. Antena 1Domingo, dia 19 abril - 06h00 - Património e odesenvolvimento local: Rota do Românico e Rota dasIgrejas. Comentário com o padre José Luís Borga. Segunda a sexta-feira, 20 a 24 de abril - 22h45 -Histórias de alegria pascal na semana de oração pelasvocações: Miguel Silva do Mosteiro deSingeverga; Lurdes Xavier, consagrada secular; padreNuno Santos, da diocese de Coimbra; PedroRodrigues, do Mosteiro de Singeverga e o jovemPedro Hasse Ferreira

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Ano B – 5.º Domingo da Páscoa Permanecerem Cristo

A Palavra de Deus deste 5.º Domingo da Páscoa vemrecordar-nos que o acesso à vida verdadeira sóacontece na união a Cristo. Permanecer em Cristo é apalavra de ordem. Afirmação óbvia mas nem sempreassumida!O Evangelho apresenta Jesus como a verdadeiravideira que dá os frutos bons que Deus espera. Sepermanecerem em Cristo, os discípulos serãoverdadeiras testemunhas no meio dos homens da vidae do amor de Deus.A primeira leitura diz-nos que o cristão é membro deum corpo, o Corpo de Cristo. A sua vocação é seguirCristo, integrado numa família de irmãos que partilha amesma fé, percorrendo em conjunto o caminho doamor.A segunda leitura define o ser cristão como acreditarem Jesus e amar-nos uns aos outros como Ele nosama. São esses os frutos que Deus espera de todosaqueles que estão unidos a Cristo, a verdadeiravideira. Se praticarmos as obras do amor, temos acerteza de que estamos unidos a Cristo e que a vidade Cristo circula em nós.Fiquemos uns instantes no Evangelho. “Eu sou avinha e meu Pai o agricultor”. Desta parábola,retivemos muitas vezes as palavras ameaçadoras: “Osramos secos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo eeles ardem”.Mas isso é para quem não permanece em Jesus. Overbo “permanecer” aparece mais de dez vezes nestecapítulo 15 do Evangelho segundo São João. Trata-se, antes de mais, de estar com o Senhor, porque Ele,o primeiro, é “Emanuel, Deus connosco”. Estapresença não é fugitiva. Inscreve-se na duração, nafidelidade. Quando Deus se une à humanidade no seuFilho feito homem, é para sempre. A Ressurreição deJesus garante que este “estar connosco” não acabarájamais.

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Se aceitamos permanecer comJesus, Ele introduz-nos na suaintimidade. Jesus faz correr em nósa seiva da sua própria vida. Assimpodemos dar frutos que terão osabor de Jesus. Isso acontece demodo pleno na Eucaristia. Jesusalimenta-nos com o seu corpo e oseu sangue de Ressuscitado. Elecoloca em nós o poder da sua Vida.Tornamo-nos seus discípulos. Éassim que se constrói e cresce aVinha do Senhor, o Corpo de Cristo,que é a Igreja.Se os nossos gestos não derramamamor sobre os irmãos quecaminham ao nosso lado, se nãolutamos pela

justiça, pelos direitos e peladignidade dos outros homens emulheres, se não construímos a paze não somos arautos dareconciliação, se não defendemos averdade, estamos a trair Jesus e amissão que Ele nos confiou, amissão de testemunhar em gestosconcretos o amor e a salvação deDeus.Que assim seja nesta semana,sempre alimentados pela únicaseiva que é Cristo e permanecendounidos a Jesus Cristo e entre nós.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.pt

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Alegria maior de ser toda de Deus“De pequenino é que se torce opepino”, diz a sabedoria popularportuguesa, um provérbio que daagricultura estendeu-se às maisvariadas situações da vida e podeaplicar-se à vocação da irmãAngélica Araújo que acredita ternascido “pela oração” porque desdemenina “gostava muito de rezar”.À Agência ECCLESIA, a freira daCongregação das IrmãsDominicanas de Santa Catarina deSena explica que desde os temposde criança participava “ativamenteda Igreja”, tendo sido catequista,cantava no coro, e do grupo dejovens também se envolveu naPastoral da Juventude Estudantil noBrasil.“Rezava o terço todos os dias,participava ativamente na missa etambém gostava de ler a vida dossantos”, exemplifica, acrescentandoque começou a “sentir umainquietude”, um chamamento quenão sabia “exatamente para quê”mas acredita que a sua “vocaçãosurgiu na oração”.A irmã Angélica Araújo acredita que“mesmo nas famílias que rezampelas vocações” a opção de umfilho/a pela vida consagrada “nemsempre” é

acolhida com “muita tranquilidade”.“Penso que o desejo de todas asmães é ver a filha casando, vestidade noiva, e a minha família não foidiferente. Eu percebi uma certaresistência no princípio no entantosempre recebi apoio quanto à minhadecisão, sempre respeitaram o meudesejo de ser religiosa”, desenvolve.No claustro do Convento dosCardaes, em Lisboa, recorda que jáadulta tornou-se educadora e foitrabalhar com as irmãs dominicanase foi o “o testemunho de alegria, detrabalho, de oração” destasconsagradas que a “fascinaram”.A viver em Portugal há cerca de 18meses, atualmente apoia dasmulheres institucionalizadas, “comdificuldades múltiplas”, na área dainformática.O Papa Francisco dedicou um ano àVida Consagrada subordinado aolema “Vida Consagrada na IgrejaHoje: Evangelho, Profecia eEsperança”. O evento pretende até2 de fevereiro de 2016 ajudar osinstitutos religiosos e seculares aconcretizarem três grandesobjetivos: “Fazer memóriaagradecida do passado; abraçar ofuturo com esperança” e “viver opresente

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irmã Angélica Araújo com paixão”.Esta iniciativa surge no contexto dos50 anos do Concílio Vaticano II e,em particular, da publicação dodecreto conciliar sobre a renovaçãoda vida consagrada.Para a freira da Congregação dasIrmãs Dominicanas de SantaCatarina de Sena este é o“momento propício” para todos osconsagrados “enquanto Igreja”mostrarem ao mundo a “alegria deser seguidor de Jesus Cristo nestavocação”.“Todas as vocações são importantese necessárias dentro da Igreja maspenso que é uma oportunidade

de repensar a vocação, cadaum enquanto consagrado, de proporaos jovens esse desafio depensaram a própria vocação”,apensa a irmã Angélica Araújo.Voltando aos consagrados, areligiosa dominicana vê este anotambém como uma “oportunidade”de agradecerem “a Deus asmaravilhas” que Ele realiza na suaIgreja “através das diversas ordense carismas”.“Eu particularmente poderia dizer,como a minha madre fundadora,Teresa de Saldanha, que não háalegria maior do que ser toda deDeus”, conclui a irmã AngélicaAraújo.

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Uma vida de doaçãoA irmã Maria da Gloria Bravo,religiosa da Congregação das IrmãsDominicanas de Santa Catarina deSena, na timidez de quem não querfalar conta resumidamente que asua vocação já “meio adulta” é umadoação aos outros.“A vida consagrada surgiu na minhavida a partir das necessidades quesentia daqueles que precisavam deajuda, dos pobres, dosnecessitados, dos marginalizados”,recorda sobre

a vontade de “entrega” e “seguirJesus Cristo” para estar mais deperto destas pessoas.Natural de Angola, a irmã Maria daGloria Bravo recorda à AgênciaECCLESIA que as irmãsdominicanas têm uma casa nomunicípio onde vivia e “simpatizou”com elas.“Ia sempre à missa, à igreja, à casadas irmãs e dali surgiu a vocaçãovendo o que faziam com aspessoas. Fiquei a gostar e fiqueicativada”, explica.

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Testemunho de D. Augusto César

Em Portugal, mais concretamenteno Convento do Cardaes, a entregada freira dominicana realiza-se nocuidado a “meninas com muitasdeficiências” que não têm família e“sem recurso económico e social”.

“É muito proveitoso”, acrescenta airmã Maria da Gloria Bravo sobre umserviço que afirma fazer com “amore carinho”, sobretudo às “meninasque são abandonadas” a quemaplica “toda a vida”.

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Síria: Irmã Annie lança grito de ajuda desde Aleppo

Silêncio que mataAleppo está a ferro e fogo. Destacidade, que já foi o orgulho daSíria, chega-nos um grito de dor,chega-nos uma carta escrita emlágrimas. A Irmã Annie pede-nosajuda. Antes que seja tarde demais. O mundo parece ter esquecido acidade de Aleppo. A guerra civil naSíria dura há já quatro anos. Omundo parece que se anestesiouperante tanto sangue, tantoescombro, tanta notícia de morte.Mas há ainda quem viva lá, nessacidade que já foi o orgulho da Síria,com uma história que atravessaséculos mas que parece não resistiràs balas de agora, àsmetralhadoras que vomitam pólvorae sangue, aos bombardeamentoscegos dos aviões que riscam oscéus. De Aleppo chega-nos umacarta. Escreve-nos Annie Demerjian,da Congregação das Irmãs de Jesuse Maria. Os seus dias são umaaflição. Annie escreve-nos comoquem lança um grito. “Parece-meque a cidade de Aleppo foiesquecida e o mundo inteiro estáem silêncio. Ninguém fala dosmassacres contra a humanidade.Quanto tempo é que o mundo vaipermanecer em silêncio a assistir

a tudo como espectador?” Estassão palavras desesperadas. As ruasde Aleppo são cemitérios, têmcicatrizes da guerra, prédios emescombros, corpos por resgatar. Acidade é uma ruína, mas a guerracontinua mais feroz ainda,incompreensível. “Salvem as nossasfamílias”Na memória de todos está ainda aPáscoa. Em Aleppo, chorou-se. Nãohá ninguém na cidade que nãotenha perdido um ente-querido, umfamiliar próximo, um amigo ou umvizinho. Todos estão de luto. “Hádois dias – diz a Irmã Annie - 165famílias abandonaram a cidadedepois de terem chovido quarentaprojécteis sobre Aleppo. A pacíficapopulação, que só quer viver empaz, recebeu todo o tipo de bombas,quais presentes de Páscoa…Ouçam o meu grito: por favorsalvem Aleppo, salvem as nossasfamílias!”As populações estão sitiadas pelosbombardeamentos. Em todo oinstante ouve-se o crepitar demetralhadoras, o silvo de bombas,os gritos de dor de quem foiatingido. Gritos de morte. Em Aleppofalta tudo: água, comida,medicamentos,

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electricidade. Há meses, numa outracarta enviada à Fundação AIS, aIrmã Annie afirmava que conheciapessoas que já tinham queimado“as próprias mobílias para seaquecerem”. Agora é ainda pior. Jánão há nada. Já não há sequermobílias para transformar em lenha.As ruas são um entulho e umprecipício para a morte. Atravessaros escombros de um bairro éarriscar a própria vida. Há dias,escreve a irmã Annie, “encontrámosuma bomba

debaixo da nossa cozinha esalvámo-nos graças à divinaProvidência. A maior parte dasnossas janelas estão partidas”. Acarta da Irmã Annie é toda ela umpranto. Perante o espanto daviolência, quando as palavras jápouco podem dizer, restam aslágrimas. “Novamente faço um apeloa todo o mundo: por favor, nãofiqueis em silêncio, fazei algo parasalvar a nossa gente!”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Liberdade e Confiança

Tony Neves Espiritano

O meu post no facebook a 9 de Janeiro levou amuitas reações. Escrevi: Liberdade e Confiançasão valores da democracia e património de umahumanidade dignificada. As escravaturas deviamestar enterradas para sempre. Em tempos deglobalização, o respeito pelos direitos humanosdevia estar na cabeça e no coração de todos oshumanos, nos quatro cantos da terra.Tudo este discurso vem a propósito do atentadoterrorista que matou doze pessoas na redaçãode um jornal satírico francês, no coração deParis, a 7 de Janeiro. A França entrou em estadode choque e de sítio. A onda mediática tornou-semais forte porque o ataque tocou no coração dosprofissionais da comunicação social. As reaçõesem cadeia multiplicaram-se ao infinito porque sereacendeu o fantasma do ’11 de setembro’ emNova Iorque, com os assassinos a equiparar-seaos pilotos dos aviões de deitaram abaixo asTorres Gémeas.É muito grave que se atente hoje, em plenoséculo XXI, contra a liberdade de expressão. Égravíssimo que se volte a instalar o medo nasmentes dos cidadãos pacatos das nossascidades e aldeias. Mas o mais terrível é a perdade confiança nas pessoas, nas instituições, nasreligiões…no futuro. E o atentado de Pariscoloca problemas em todos estes campos.Gosto de chamar os bois pelo nome. Para mim,assassinos são assassinos…ponto final. Quemmata não tem argumentos para justificar o maisgrave

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atentado aos direitos humanos. Éassassino. Tem de ser julgado epreso como pessoa perigosa para asociedade. Atenta contra asegurança. Mas já não gosto deidentificar crimes com raças, cores,instituições, países. É que, querqueiramos quer não, em todas asraças, cores, instituições e paíseshá gente boa e má. Os que vivemcom dignidade não merecem andarcom um rótulo na testa a indicar quepode ser bandido, só porquealguém da sua afinidade cometeuum crime. Mesmo que sejam muitosa cometer crimes idênticos. Portodas estas razões, concordo com adecisão de condenar o atentado, deusar todos os meios para capturar,julgar e prender os assassinos deParis. Todas as extrapolações docaso devem ser bemfundamentadas, para que não secometam mais injustiças.Como cidadão do mundo e comojornalista fiquei chocado econsternado. Condenei por todos osmeios o ataque assassino.

Mas li e ouvi opiniões que forammuito além de uma simplescondenação, pois ousaram entendero que se passa na cabeça e nocoração de quem decide matardesta forma cruel. Há que apostarna educação para a liberdade e ademocracia. Há que dar cada vezmais oportunidade e sentido deacolhimento a quem vem de outrasculturas. Há que construireconomias mais solidárias á escalaplanetária, para que povos inteirosnão se sintam empurrados para umaemigração que exclui e convida aofundamentalismo que abre as portasà morte.O dia seguinte a massacres acordasempre com céu cinzento, mas háque ter a coragem de construir associedades sobre os pilares dosdireitos humanos’.O dia Internacional da Liberdade deImprensa, a 3 de Maio, deve ajudar-nos a reflectir sobre estas e outrasideias e eventos. Haja liberdade eresponsabilidade, para bem detodos.

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