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FRANCISCO JOSÉ DE OLIVEIRA VIANNA (SAQUAREMA, 1883- NITERÓI, 1951) Santo Antônio de Pádua, agosto de 2017 Professor: Elson Junior

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FRANCISCO JOSÉ DE

OLIVEIRA VIANNA

(SAQUAREMA, 1883-

NITERÓI, 1951)

Santo Antônio de Pádua, agosto de 2017

Professor: Elson Junior

FRANCISCO JOSÉ DE OLIVEIRA VIANNA

(SAQUAREMA, 1883-NITERÓI, 1951)

Filho de grandes proprietários rurais.

Sociólogo, historiador e mestre do ensaísmo.

Bacharel pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (1905)

Membro da ABL; do IHGB; do Instituto Internacional

de Antropologia, da Academia de História de Portugal.

Entre 1932 e 1940, foi um dos principais formuladores da política trabalhista de Vargas, atuando como Consultor da Justiça do Trabalho.

Nos anos 1940 ingressa no Tribunal de Contas da União e volta aos trabalhos sociológicos com a publicação, em 1949, de “Instituições Políticas Brasileiras”.

Principais obras:

-Populações Meridionais do Brasil (1920)

-O Idealismo na Evolução Política do Império e da República (1922)

-A Evolução do Povo Brasileiro (1923)

-Problemas de Política Objetiva (1930)

-Raça e Assimilação (1932)

-Formação Étnica do Brasil Colonial (1932)

-Problemas do Direito Sindical (1942)

-Instituições Políticas Brasileiras (2 volumes, 1949)

-- Oliveira Vianna entrou para a história como o

maior teórico do pensamento autoritário no

Brasil.

-Ficou marcado pelo seu entusiasmo arianista,

por sua participação no governo Vargas, por

suas simpatias para com o integralismo de

Plínio Salgado e pelo apoio prestado ao golpe de

1937.

-- Obra com propósitos políticos.

MESMO ASSIM, PODE-SE DIZER QUE OLIVEIRA VIANNA FOI

UM DOS MAIS INFLUENTES PENSADORES SOCIAIS DO

BRASIL NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX:

- Até o aparecimento de Casa Grande & Senzala, em 1933, era tido como autor inatacável pela comunidade intelectual do país.

- Somente a partir de 1945 se generaliza entre os intelectuais uma reação crítica às suas idéias.

- Sua produção intelectual é marcada pelo ensaísmo. Ou seja: prevalece, na exposição das idéias, a capacidade retórica do autor, em detrimento de uma metodologia “científica”.

“EVOLUÇÃO DO POVO BRASILEIRO”, 1923 [1920], P. 123.

Diagnóstico:

“Em nenhum povo a origem étnica há provindo da mistura

de raças tão radicalmente diferentes. Os caldeamentos

étnicos têm aqui uma intensidade, uma generalidade e

uma complexidade que os nossos irmãos latinos do

continente não conhecem. Nestes pode-se dizer que o

seu miscigenismo evolui em torno de duas raças apenas:

a branca e a índia [...] Entre nós, ao contrário, o negro, o

índio e o branco caldeiam-se profundamente, cruzam-se

e recruzam-se em todos os sentidos, dois a dois, três a

três, em todos os pontos do território [...]”

Problema central:

determinação da influência de cada um dos três troncos étnicos formadores (negro, indígena e branco) “na constituição dos caracteres somáticos e psicológicos dos nossos tipos nacionais.”

“dentro de cada uma dessas raças originárias, os seus representantes não possuem todos a mesma unidade morfológica, nem a mesma mentalidade; ao contrário, variam mais ou menos sensivelmente num e noutro sentido”.

Conta a história do Brasil através da miscigenação.

Explica o comportamento dos colonizadores por sua origen étnica (ex.: eugenia das famílias de nossa velha aristocracia rural).

Contraria a tese de que o Brasil foi povoado por “maus” portugueses.

PREOCUPAÇÃO CONSTANTE COM A UNIDADE

NACIONAL EM TERMOS POLÍTICOS E ÉTNICOS:

O autor destaca a complexidade interétnica e regional dos tipos brasileiros. O termo aparece sempre no plural em razão da inexistência de um tipo nacional uniforme.

“Devido a essa diversidade na distribuição geográfica das três raças formadoras, os tipos étnicos regionais não apresentam a mesma unidade de caracteres morfológicos, nem a mesma identidade de temperamento e mentalidade: daí a impossibilidade de enfeixá-los [...] num tipo único e nacional” .

Este é, para Oliveira Vianna, o grande problema nacional.

“O BRASILEIRO TÍPICO NÃO É MAIS QUE

UM PROJETO FUTURO”:

“O tipo antropológico brasileiro só poderá, pois,

surgir com a sua definitiva caracterização depois

de uma lenta elaboração histórica, quando o

trabalho de fusão das três raças originárias se

tiver completado e as seleções étnicas e naturais

tiverem ultimado a sua obra simplificadora e

unificadora.”

Proposta de caldeamento >> formação do tipo

nacional.

CONDICIONANTES:

A saída do branqueamento depende da capacidade eugênica de cada tipo étnico regional (medida “pela sua maior ou menor fecundidade em gerar tipos superiores, capazes de ultrapassar pelo talento, pelo caráter ou pela energia da vontade, o escalão médio dos homens da sua raça ou do seu tempo”).

Ainda que OV reconheça um certo grau de capacidade eugênica em todas as raças, prevalece o pressuposto assimilacionista da necessidade de conversão das outras raças à civilização - obra exclusiva do homem branco (As raças “exóticas” “somente concorrem com elementos eugênicos para a formação das classes superiores, quando perdem a sua pureza e se cruzam com o branco”).

Negros: potencial civilizatório por imitação.

Indígenas: incivilizáveis, baixo potencial

eugênico.

“Civilização é obra exclusiva do homem branco”.

TENDÊNCIAS E CAMINHOS DA ARIANIZAÇÃO:

REDUÇÃO DOS “ELEMENTOS BÁRBAROS” E AUMENTO

DA POPULAÇÃO “BRANCA PURA” NO BRASIL.

Seleção sexual e “zelo eugênico” da raça branca: fecundidade ariana contraposta à “situação estacionária da população negra”;

Entrada de imigrantes europeus;

Seleção natural pelo “vício e castigo”: maior índice de mortalidade do que de fecundidade nos grupos raciais “inferiores”;

Miscigenação acentuada;

RISCO:

A “INSTABILIDADE SOMATOLÓGICA” DOS

TIPOS CRUZADOS”

DAÍ A NECESSIDADE DO CONSTANTE

ESTÍMULO À ENTRADA DE CONTINGENTES

ARIANOS NO PAÍS.

DESFILE MILITAR PELO DIA DA RAÇA,

1939. RIO DE JANEIRO (CPDOC/FGV)

2ª FASE – OCUPA-SE DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS E DA

CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO NACIONAL CONCEBIDO COMO

ESTÂNCIA MÁXIMA DE ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE:

O ESTADO DEVE APARELHAR-SE PARA PROMOVER UMA CONSCIÊNCIA

NACIONALISTA E SOLIDÁRIA (BASEADA NO CORPORATIVISMO) ENTRE

OS CIDADÃOS.

- A existência de um governo forte e centralizado, imune às

pressões de partidos, dos interesses individuais e de classe, tanto

quanto das lideranças locais seria, segundo Oliveira Vianna, uma

questão de adequação das estruturas políticas à realidade social

do país.

- Oliveira Vianna argumentava não ser possível construir uma

ordem política democrática e liberal em um país onde a geografia

“conspira contra a política” e em uma sociedade dominada por

“oligarquias broncas”.

SEU DISCURSO RETRATA UM PAÍS INACABADO, AINDA

POR REALIZAR-SE; A SER CONSTRUÍDO DE CIMA PARA

BAIXO:

“[...] somos ainda um povo em fase elementar de integração social; temos uma estrutura extremamente fragmentária, dispersa, pulverizada em miríades de pequenos grupos patriarcais, que cobrem por inteiro o nosso território”. (“O Idealismo da Constituição”, 1939, p. 65)

CERIMÔNIA DE INCINERAÇÃO

DAS BANDEIRAS ESTADUAIS,

DEZEMBRO DE 1937. O ATO

CÍVICO SIMBOLIZOU A NOVA

ORDEM POLÍTICA

CENTRALIZADORA

ESTABELECIDA COM O

ESTADO NOVO. JUNTO COM A

EXTINÇÃO DOS PARTIDOS

FORAM PROIBIDOS TODOS OS

SÍMBOLOS REGIONAIS, SENDO

ESTES SUBSTITUÍDOS PELO

PAVILHÃO NACIONAL, QUE

PASSAVA A SER O ÚNICO

ADMITIDO.