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Fragmentos da historia da educação ambiental (EA)

Aldenice Alves Bezerra1

Resumo

Este trabalho é resultado de uma pesquisa exploratória onde foi utilizado como procedimento para coleta de dados um levantamento bibliográfico e documental, objetivando investigar através de diferentes fóruns as contribuições efetivas das recomendações para análise da legislação, programas e projetos que abordam a temática ambiental. Palavras-chave: Educação ambiental; políticas públicas; problemas sócio-

ambientais. Trajetória internacional

Os debates sobre a EA no mundo contemporâneo estão relacionados

aqueles mais gerais sobre a problemática ambiental que tem feito parte das

preocupações dos mais variados setores da sociedade, em razão de que se

pretende oferecer uma visão panorâmica da EA que situe o leitor cronologicamente

na trajetória que atravessa esta especificidade do conhecimento humano. Entende-

se que a EA, como os outros assuntos da chamada questão ambiental não pode ser

abordada apenas em sua dimensão local e sim, compartilhadas por diferentes

países e nações. É legitimo, portanto, que devam ser explicitados alguns eventos

trilhados pela EA no contexto internacional e também nacional.

Neste sentido, a partir do ano 1942 surge a preocupação em organizar

eventos internacionais para discutir as questões relacionadas ao meio ambiente e a

preservação dos aspectos naturais do planeta. Embora se tenha conhecimento de

importantes eventos que marcaram a trajetória da EA contemporânea, privilegia-se

neste estudo as três conferências internacionais que apontam a educação ambiental

como estratégia de preservação.

1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) – Mestrado em Educação da Faculdade de

Educação (FACED) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Doutora pela UNICAMP.

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Conferência de Estocolmo

Considerada o marco inicial de interesse da EA – A Conferência de

Organização das Nações Unidas sobre o ambiente humano – A Conferência de

Estolcomo (1972), é um marco histórico internacional na emergência de políticas

ambientais em muitos países, inclusive no Brasil. O Plano de Ação da Conferência

de Estolcomo foi à de que se deve educar o cidadão para solução dos problemas

ambientais. Pode se dizer que aí nasce o que se convencionou chamar de

Educação Ambiental.

Conferência Internacional de Belgrado

A Carta de Belgrado

A Conferência de Belgrado, realizada na ex-Iugoslávia em 1975 e

promovida pela UNESCO, foi produzida, por estudiosos e especialistas de 65 países

a carta de Belgrado se constitui no Documento que culminou com a formulação de

princípios e orientações para um programa internacional de EA e preconiza uma

nova ética planetária para promover a erradicação da pobreza, fome, analfabetismo,

poluição, exploração e dominação humanas. Censura o desenvolvimento de uma

nação à custa de outra. Sugere a criação de um programa mundial em Educação

Ambiental. (PEDRINI, 1997).

Conferência Internacional de Tbilisi

Trata-se da Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação

Ambiental, convocada pela UNESCO em cooperação com a PNUMA, realizada em

Tbilisi, na Geórgia, ex-URSS, no período de 14 a 26 de outubro de 1977.

Consagrada como a “Conferência de Tbilisi” sua declaração foi publicada na íntegra

(UNESCO, 1980) onde constam os objetivos, funções, estratégias, características e

recomendações para a EA.

Do referido documento vale ressaltar alguns pontos de partida: deveria a EA

basear-se na ciência e tecnologia para consciência e adequada apreensão dos

problemas ambientais; deveria se dirigir ainda tanto pela educação formal como

informal e as pessoas de todas as idades.

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A Conferência definiu o meio ambiente como: “o conjunto de sistemas

naturais e sociais em que vive o homem e os demais organismos e de onde obtêm

sua subsistência” (UNESCO/PNUMA, 1978, p.19).

As recomendações da Conferência de Tbilisi, em número de quarenta e um

(41) primam pela união internacional dos esforços para o bem comum, constituem

um verdadeiro plano de ação, tendo a EA como fator primordial para que a riqueza e

o desenvolvimento dos países sejam atingidos mais igualitariamente. (PEDRINI,

1997).

Na verdade, essa Conferência foi à culminância de um movimento ético e

histórico de transformação do pensamento e das atitudes do homem contemporâneo

diante da ameaça de destruição do planeta. Movimento que teve início na década de

1960, com a efervescência da mobilização de vários grupos pelos direitos humanos,

dentre eles o ambientalista.

Conferência Internacional de Moscou

Em agosto de 1987, aconteceu a Conferência de Moscou (antiga União

Soviética), a qual reuniu cerca de trezentos educadores ambientais de cem países,

visando fazer uma avaliação do desenvolvimento da EA desde a Conferência de

Tbilisi.

As prioridades advindas da Conferência de Moscou tinham como meta

apontar um plano de ação para a década de 90, considerando que houve um

processo de conscientização gradual, no âmbito mundial e individual, do papel da

educação em compreender, prevenir e resolver problemas ambientais.

O Congresso de Moscou chegou à conclusão de que a EA deveria

preocupar-se com a promoção de conscientização e transmissão de informações,

desenvolvimento de critérios e padrões, orientações para a resolução de problemas

e tomada de decisões. Portanto, objetivar modificações comportamentais de ordem

cognitiva e afetiva.

Algumas considerações sobre a trajetória da EA no Brasil

A Educação Ambiental, fenômeno social localizado na interseção entre

Sociedade, Educação e Natureza, iniciou sua trajetória de construção há cerca de

trinta anos. Como registramos à frente, o ano de 1972 foi histórico para o movimento

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ambientalista mundial culminanda com a Primeira Conferência Mundial de Meio

Ambiente Humano, em Estocolmo, na Suécia. Em se tratando do Brasil como tem

sido sua trajetória. A Educação Ambiental no Brasil não traçou um caminho linear.

Passou muitos percalços para sua implantação e desenvolvimento no ensino formal,

não-formal e informal. (PEDRINI, 2002).

A EA foi pela primeira vez citada na Constituição Brasileira em 1988 (inciso

VI do artigo 225, do capítulo VI do Meio Ambiente). Pedrini & Pedrini (1996)

concluíram que ela foi tratada apenas no capítulo de Meio Ambiente, dissociada de

sua dimensão pedagógica, o que poderia induzir a uma percepção restrita excluindo

uma visão holística da EA.

A Educação Ambiental, foi formalmente instituída no Brasil, pela lei federal

de nº 6938, sancionada em 31 de agosto de 1981, quando foi criada a Política

Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Esta lei foi um marco histórico na

institucionalização de defesa da qualidade ambiental brasileira. Foi também criado o

Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) para possibilitar organicidade e

todas as instâncias de ação principalmente governamentais.

Em 1994, o ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal determinou ao

IBAMA que elaborasse o primeiro Programa Nacional de Educação Ambiental –

PRONEA. A proposta foi elaborada. A primeira versão foi aperfeiçoadapor técnicos

do MEC e da UNESCO. As diretrizes de operacionalização foram publicadas pelo

IBAMA (1996) e já podem ser otimizadas.

A Educação Ambiental no Brasil atingiu forte dinâmica nos anos 90, durante

a Rio/92, no Fórum de Educação Ambiental, em Guarapari (ES) e I Conferência

Nacional de EA (Brasília), ambas em 1997.

Por ocasião da Conferência Internacional Rio/92, cidadãos representando

instituições de mais de 170 países assinaram tratados nos quais se reconhece o

papel central da educação para a “construção de um mundo socialmente justo e

ecologicamente equilibrado” o que requer “responsabilidade individual e coletiva em

níveis local, nacional e planetário”. (PCNs, n.9, meio ambiente e saúde, 2000).

Atualmente, a Educação Ambiental vem sendo incluída nos currículos

escolares a partir de uma perspectiva de transversabilidade. Os Parâmetros em

ação Meio Ambiente da Escola, uma iniciativa vinda do MEC através da

Coordenação da Educação Ambiental, postula uma educação para uma Consciência

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Ambiental, a preservação e a conservação da natureza no marco da análise

econômico-social dos problemas ambientais.

A Educação Ambiental, como temática de pesquisa, oferece um leque de

possibilidades muito grande visto ser um eixo de discussão que perpassa as demais

áreas do conhecimento, constituindo-se em objeto de estudo dos programas de Pós-

Graduação stricto sensu no país.

O início dos anos 90 foi o grande momento causado pelo movimento

resultado da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro. A partir daí houve um aumento

considerável de teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias de

especialização, livros publicados por editoras de renome. Cresce a procura por

cursos de Educação Ambiental. As agências financiadoras de projetos de pesquisa

nacionais e internacionais passam a considerá-la como uma de suas atividades

importantes.

Foi também a partir dos anos 90 que aconteceram os primeiros encontros

nacionais (I, II e III) Fóruns de Educação Ambiental realizadas em São Paulo,

reunindo centenas de participantes, não esquecendo inúmeros simpósios regionais

e locais ocorridos pelo Brasil.

Reigota (1998), analisando os caminhos da história da Educação Ambiental

no Brasil, conclui que a temática ambiental brasileira é variada e complexa, desta

maneira não poderia ser diferente a forma de se trabalhar com ela na Educação

Ambiental.

Registre-se aqui, os vinte anos de educação ambiental comemorados em

vários países do mundo. Seria esse momento adequado para se fazer uma análise

da EA no Brasil, seus objetivos, suas conquistas, seus limites e sua importância.

Essa síntese dos fatos, mostra o crescimento no país conquistado pela

educação ambiental num curto espaço de tempo. Como jovem de 20 anos, a

educação ambiental tem sua dose de pretensão e utopia. Portanto, pede, necessita

e merece legitimidade e respeito. O que será conquistado, com trabalho, pertinência,

qualidade e determinação.

Na análise de Reigota (1988), a EA precisa cada vez mais manter sua

autonomia e independência crítica, só desta forma poderá ser uma real possibilidade

de mobilização social e participação cidadã frente aos complexos problemas

ambientais, regionais, nacionais e planetários.

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A especificidade da educação ambiental brasileira, além da sua diversidade,

precisa ser muito claro o seu compromisso político, a sua pertinência filosófica, a sua

qualidade pedagógica de uma constante renovação.

Referências BEZERRA, Aldenice et al. Educação ambiental: estudos numa perspectiva para

uma sociedade sustentável no município de Manaus. Manaus: EDUA, 2004.

PEDRINI, A. G. (Org.). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas.

Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 1997.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: 1994.

_______________Educação ambiental: fragmentos de sua história no Brasil,

Comunicação e Mobilização Social, 1997.

_______________Verde Cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro:

DP&A, 2001.

_______________Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo: Cortez –

Questões de nossa época, 2002.