fotos negras e fotos brancas nas redes sociais

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O racismo anti negro (ou qualquer outra forma de racismo) natureza humana, como supõe algumas muitas almas espalhadas por ai. Se compreendemos a natureza humana como algo imanente que nas indivduo, podemos citar que os sentimentos fazem parte dessa natu despertados por determinadas circunst!ncias que envolvem as rela"õ com a sociedade e seu crescimento e o#ten"ão de uma certa intelig$ constituda a partir da conviv$ncia entre mem#ros mais pr%&imos a amigos. 'uando estamos discutindo racismo anti negro discutimos re naturaliza"ão que envolvem duas categorias sociais #rancos e negr a segunda metade do século *+ a divulga"ão da justifi cat%lica - escraviza"ão de negros africanos pelos europeus para se col nias americanas ganhou a consci$ncia europeia. Segundo o domin /rancisco de 0a 1ruz, os negros africanos são descendentes de 1am e&piar o seu pecado cometido contra seu pai, oé, logo, os african ser escravizados a modo de pagarem pelo erro de 1am. (234O5O0O. 67 o século * *, com o advento do neocolonialismo, a tentat a inferioridade dos negros e a domina"ão das pot$ncias econ micas africano ganhou ares (pseudo)cientficos. 9 antropologia foi uma d cientistas europeus racistas #uscaram seus argumentos para mostrar africanos e a si pr%prios as #ai&as qualidades intelectuais e a in governarem das civiliza"ões negras. :iversos foram os argumentos c justifica"ão, pautados em estudos e teorias como a frenologia que do tamanho do cr!nio, poderia se determinar a capacidade intelectu qualidades de um indivduo ou de uma ra"a. essa perspectiva, vemos então que o racismo anti sentido de arca#ou"o te%rico para legitimar a domina"ão de #rancos diversas civiliza"ões africanas negras, dei&ando<nos seu leg e&pressa materialmente na e&clusão (ou inclusão perversa) da popul como podemos definir o racismo= 9ntonio Sérgio 9lfredo >ui caminho. a sua o#ra ?@acismo e antirracismo no 4rasilA o autor de em questão ?O racismo é, portanto, uma forma #astante especfica vida social, isto é, de e&plicar diferen"as pessoais, soci diferen"as tomadas como naturaisA. (>C 29@DES. 67F6). sso qualidades de um negro quando comparadas a de um #ranco são tidas

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Artigo que reflete sobre as representações na mídia brasileira sobre a população negra, com um breve histórico sobre o racismo

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O racismo anti negro (ou qualquer outra forma de racismo) no parte da natureza humana, como supe algumas muitas almas espalhadas por ai. Se compreendemos a natureza humana como algo imanente que nasce junto com o indivduo, podemos citar que os sentimentos fazem parte dessa natureza, mas que so despertados por determinadas circunstncias que envolvem as relaes do indivduo com a sociedade e seu crescimento e obteno de uma certa inteligncia emocional constituda a partir da convivncia entre membros mais prximos a si, como familiares e amigos. Quando estamos discutindo racismo anti negro discutimos relaes de poder e naturalizao que envolvem duas categorias sociais: brancos e negros.Na segunda metade do sculo XVII a divulgao da justificao da igreja catlica escravizao de negros africanos pelos europeus para serem vendidos s colnias americanas ganhou a conscincia europeia. Segundo o dominicano espanhol Francisco de La Cruz, os negros africanos so descendentes de Cam e que deveriam expiar o seu pecado cometido contra seu pai, No, logo, os africanos negros deveriam ser escravizados a modo de pagarem pelo erro de Cam. (MBOKOLO. 2009)No sculo XIX, com o advento do neocolonialismo, a tentativa de justificar a inferioridade dos negros e a dominao das potncias econmicas frente ao continente africano ganhou ares (pseudo)cientficos. A antropologia foi uma das cincias em que os cientistas europeus racistas buscaram seus argumentos para mostrar ao mundo, aos africanos e a si prprios as baixas qualidades intelectuais e a incapacidade de se auto governarem das civilizaes negras. Diversos foram os argumentos construdos para tal justificao, pautados em estudos e teorias como a frenologia que, a partir da medio do tamanho do crnio, poderia se determinar a capacidade intelectual, o carter e outras qualidades de um indivduo ou de uma raa.Nessa perspectiva, vemos ento que o racismo anti negro assume seu sentido de arcabouo terico para legitimar a dominao de brancos europeus sobre diversas civilizaes africanas negras, deixando-nos seu legado simblico que se expressa materialmente na excluso (ou incluso perversa) da populao negra. Mas como podemos definir o racismo? Antonio Srgio Alfredo Guimares aponta um caminho. Na sua obra Racismo e antirracismo no Brasil o autor delineia o conceito em questo: O racismo , portanto, uma forma bastante especfica de naturalizar a vida social, isto , de explicar diferenas pessoais, sociais e culturais a partir de diferenas tomadas como naturais. (GUIMARES. 2012). Isso quer dizer que as qualidades de um negro quando comparadas a de um branco so tidas como parte da essncia do indivduo negro. Por exemplo, as diferenas hierrquicas em postos de trabalho assumidos por brancos (cargos mais bem remunerados e valorizados) e negros (cargos com baixa remunerao e poucos valorizados) so compreendidas como algo natural, e no o resultado de um processo histrico social que permitiu o branco o acesso a tais postos de trabalho e criou outras inmeras barreiras para o negro. importante ressaltar que esse processo de naturalizao e justificao entre as diferenas da vida material entre brancos e negros so frutos da teoria racista contempornea do sculo XIX, importada para o Brasil atravs de intelectuais como Oliveria Vianna em fins do sculo XIX e incio do XX.

Lia Varner Schucman, em Entre o encardido, o branco e o branqussimo. Branquitude, hierarquia e poder na cidade de So Paulo define o racismo como qualquer fenmeno que justifique as diferenas, preferncias, privilgios, dominao, hierarquias e desigualdades materiais e simblicas entre seres humanos, baseado no conceito de raa. Isso porque, mesmo esse critrio no tendo nenhuma realidade biolgica, o ato de atribuir, legitimar e perpetuar as desigualdades sociais, culturais, psquicas e polticas raa significa legitimar diferenas sociais. E isso se d a partir da naturalizao e essencializao da falcia de diferenas biolgicas, as quais, dentro da lgica brasileira, se manifestam pelo fentipo e aparncia dos indivduos de diferentes grupos sociais. (SCHUCMAN. 2014)Portanto, Guimares e Schucman nos mostram que o racismo est intimamente ligado a uma questo de poder que perpassa a naturalizao e adentra cultura e s estruturas do Estado, ou seja, as formas de tornar legtimo o abismo estrutural entre brancos e negros se tornou prtica comum e se materializa nas relaes cotidianas que, no nosso pas se expressa nas aes da polcia militar que aborda e mata muito mais jovens negros do que brancos; no acesso ainda limitado universidade para a populao negra; na enorme fenda salarial entre brancos e negros; nos olhares tendenciosos que homens e mulheres brancos apontam aos homens e mulheres negros.

Mas como toda essa discusso est interligada com fotos de pessoas brancas e negras compartilhadas nas redes sociais como o facebook?

Uma das formas de racismo que se perpetua no Brasil a da representao nos meios de comunicao em massa, como a televiso e o cinema, de pessoas brancas, uma vez que essa massificao representativa da imagem do indivduo branco por meio da mass mdia edifica uma falsa impresso na sociedade de que vivemos em um pas majoritariamente constitudo por pessoas de olhos e pele claros, quando o ltimo censo do IBGE mostrou que somos formados por mais de 50% de pessoas que se consideram pretas ou pardas. Outro impacto que a ausncia em peso do negro em telejornais, novelas, filmes, comerciais e seriados nacionais causa a concepo de beleza, de padro de comportamento, de cultura, de formas de se vestir, de formas de pentear o cabelo, de formas de consumo; e tambm ratifica e naturaliza posies sociais mais comuns a negros e nordestinos do que outros brancos, como empregadas domsticas e seguranas. O fluxo do discurso e o curso do significado se apresentam como a continuidade do conhecimento, do vivido, do fluxo normal das coisas, da boa rotina do mundo, fazendo com que o significado guarde sempre o mesmo sentido. (BORGES. 2012).Dessa forma, essa negao da veiculao da imagem do negro nos meios de comunicao respinga nas maneiras de conceber o outro, o correto, o normal; criando um modo de operar nas aes de avaliar o outro (o negro) a partir de um padro tico, moral, esttico, cultural, poltico. A imagem do humano branco ganha contornos de normalidade quando inseridos em certos locais e posies sociais e de estranhamento quando o negro assume postos mais comuns aos brancos.Seguindo esse raciocnio, nas redes sociais, quando um jovem, adulto ou velho negro ou negra compartilha suas fotos de forma excessiva, estas ganham um sentido poltico, de contestao ordenao e normalizao esttica imposta pela mdia racista brasileira; as fotos adquirem um sentido de combate ao racismo anti negro, pois a imagtica que se vai criando atravs da publicao de imagens de pessoas negras no facebook, por exemplo, fazem-nos reavaliar o padro de belo e a valorizar os traos fenotpicos dessa grande parcela da sociedade, mas claro que nem todos executam essa prtica com o sentido que coloco aqui. O que quero chamar a ateno para a diferena entre uma foto de uma pessoa branca e uma foto de uma pessoa negra veiculada nas redes sociais; a sua denotao subjetiva que a foto de uma jovem negra ganha ao ser divulgada. Como descrito no pargrafo anterior, uma imagem de um indivduo negro nas redes sociais opera na deteriorao do monoplio representativo da pessoa branca. As redes sociais no Brasil se fazem um espao alternativo em relao a grande mdia brasileira e por isso que a divulgao fotos de pessoas negras compartilhadas por elas mesmas se fazem um mecanismo de subverso ordem representativa branca.Enfim, no podemos nos iludir que o racismo brasileira (velado, escondido, negado pelos seus praticantes) se esvanecer atravs da prtica de se postar fotos, mas temos que reconhecer nessas fotos indivduos em sua grande maioria estigmatizados pelo racismo anti negro praticado pelo Estado, suas estruturas oficiais e no oficiais e seus concidados e que com o advento das redes sociais se possibilitou a criao de novas formas de luta pela representatividade e contestao de padres, portanto, fotos de si massivamente compartilhadas por pessoas negras no questo de insuflao de ego, mas sim, de ttica combativa ao racismo anti negro.Referncias citadas

BORGES, Rosane da Silva. Mdia, racismos e representaes do outro. Ligeiras reflexes em torno da imagem da mulher negra. In: BORGES, Roberto Carlos da Silva; BORGES, Rosane da Silva (org.) Mdia e racismo. Petrpolis: DP editora. 2012GUIMARES, Antonio Srgio. Racismo e antirracismo no Brasil. So Paulo: Editora 34. 2012. 3 ed. 1 reimpresso.

MBOKOLO, Elikia. frica Negra. Histria e civilizaes. Salvador: EDUFBA. Casa das fricas. 2009

DOS SANTOS, Joel Rufino. O que racismo. So Paulo: Brasiliense. Col. Primeiros Passos. 1980 4 ed.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o encardido, o branco e o branqussimo. Branquitude, hierarquia e poder na cidade de So Paulo. So Paulo: Annablume. 2014