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Centro Universitário Maurício de Nassau. Pós-graduação em Fotografia Digital. Lucíola Carla Correia da Silva¹ Fotografia e compartilhamento on line: O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram. Resumo: Este artigo integra o Trabalho de Conclusão do curso de Pós-Graduação em Fotografia Digital do Centro Universitário Maurício de Nassau e tem como objetivo observar se existem indícios da reconfiguração do modelo de visualidade na plataforma digital on line da Rede Social Instagram, consubstanciada no compartilhamento de experiências estéticas através de fotografias digitais. A premissa deste artigo foi a de investigar o provável surgimento de um novo observador, independente, no século XXI diante da publicação de imagens durante os protestos da Ucrânia, em abril de 2014. Uma sequência de vinte fotografias amadoras foi selecionada, dentre os usuários que usaram a indexação por temática, através da hastag  #euromaden. As imagens demonstraram dois tipos de abordagem: Uma focada no contexto anterior ao conflito e num segundo momento uma visão voltada para a narrativa do acontecimento, concluindo-se, portanto, que a emancipação desses expectadores, no sentido de documentar o fato de forma autônoma para outros seguidores, sem precisar da interferência de uma mídia  institucionalizada, se fez presente, conforme a hipótese do estudo de caso proposto. Palavras-Chave:  Convergência, Cultura Participativ a, Fotografia Dig ital, Instagram. Abstract:  This article is part of the final exams to post graduation degree in Digital Photography of Maurício de Nassau University Center. The text aims to observe whether there is evidence of the reconfiguration of visual model on the digital platform on line: Instagram, a social network, based on shared aesthetic experiences through digital photography. Based on the studies of Techniques by the Observer in the eighteenth and nineteenth centuries, proposed by Jonathan Crary. The premise of this article was to investigate the likely emergence of a new, independent observer, in the twenty-first century, analyzing the publication of amateur pictures

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Resumo: Este artigo integra o Trabalho de Conclusão do curso de Pós-Graduação em Fotografia Digital do Centro Universitário Maurício de Nassau e tem como objetivo observar se existem indícios da reconfiguração do modelo de visualidade na plataforma digital on line da Rede Social Instagram, consubstanciada no compartilhamento de experiências estéticas através de fotografias digitais. A premissa deste artigo foi a de investigar o provável surgimento de um novo observador, independente, no século XXI diante da publicação de imagens durante os protestos da Ucrânia, em abril de 2014. Uma sequência de vinte fotografias amadoras foi selecionada, dentre os usuários que usaram a indexação por temática, através da hastag #euromaden. As imagens demonstraram dois tipos de abordagem: Uma focada no contexto anterior ao conflito e num segundo momento uma visão voltada para a narrativa do acontecimento, concluindo-se, portanto, que a emancipação desses expectadores, no sentido de documentar o fato de forma autônoma para outros seguidores, sem precisar da interferência de uma mídia institucionalizada, se fez presente, conforme a hipótese do estudo de caso proposto.

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7/21/2019 Fotografia e compartilhamento on line: O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram.

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Centro Universitário Maurício de Nassau.

Pós-graduação em Fotografia Digital.

Lucíola Carla Correia da Silva¹

Fotografia e compartilhamento on line:

O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram.

Resumo: Este artigo integra o Trabalho de Conclusão do curso de Pós-Graduação

em Fotografia Digital do Centro Universitário Maurício de Nassau e tem comoobjetivo observar se existem indícios da reconfiguração do modelo de visualidade na

plataforma digital on line da Rede Social Instagram, consubstanciada no

compartilhamento de experiências estéticas através de fotografias digitais. A

premissa deste artigo foi a de investigar o provável surgimento de um novo

observador, independente, no século XXI diante da publicação de imagens durante

os protestos da Ucrânia, em abril de 2014. Uma sequência de vinte fotografias

amadoras foi selecionada, dentre os usuários que usaram a indexação por temática,através da hastag   #euromaden. As imagens demonstraram dois tipos de

abordagem: Uma focada no contexto anterior ao conflito e num segundo momento

uma visão voltada para a narrativa do acontecimento, concluindo-se, portanto, que a

emancipação desses expectadores, no sentido de documentar o fato de forma

autônoma para outros seguidores, sem precisar da interferência de uma mídia 

institucionalizada, se fez presente, conforme a hipótese do estudo de caso proposto.

Palavras-Chave:  Convergência, Cultura Participativa, Fotografia Digital, Instagram.

Abstract: This article is part of the final exams to post graduation degree in Digital

Photography of Maurício de Nassau University Center. The text aims to observe

whether there is evidence of the reconfiguration of visual model on the digital

platform on line: Instagram, a social network, based on shared aesthetic experiences

through digital photography. Based on the studies of Techniques by the Observer in

the eighteenth and nineteenth centuries, proposed by Jonathan Crary. The premise

of this article was to investigate the likely emergence of a new, independent

observer, in the twenty-first century, analyzing the publication of amateur pictures

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during the protests in Ukraine in April 2014. A sequence of twenty amateur

photographs was selected among users who used the index by subject, under the

#euromaden hashtag . The images showed two approaches: One focused on the

previous context to the conflict and a view toward the event of the narrative,

concluding, therefore, that the emancipation of these viewers, to document the fact

autonomously to other followers without the interference of an institutionalized media

was present, according to the hypothesis of the proposed case study.

Keywords: Convergence, Participatory Culture, Digital Photography, Instagram.

1: Mestranda em Comunicação – Estética da Imagem e do Som, pela Universidade Federal de Pernambuco  – UFPE. Pós-graduada em Fotografia pela Universidade Maurício de Nassau  – Uninassau e Bacharel em Comunicação Social RTVI pelaUniversidade Federal de Pernambuco - UFPE.

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Introdução 

Diante da eclosão do acesso rápido e ilimitado à Internet, o barateamento dos

custos para se obter tecnologia produtora de narrativas audiovisuais e a

popularização das redes voltadas para o compartilhamento de fotografias, observa-

se o surgimento de um novo tipo de produtor de conteúdo audiovisual, que lança

suas ideias de forma independente na web, e simultaneamente, torna-se

consumidor de outras experiências semelhantes às que disponibilizou on line,

intercambiando narrativas. Um trânsito de dados um pouco mais democrático e

igualitário, se levarmos em conta um antigo sistema de informações hierarquizado,

que posicionava o público como simples receptor de uma instância midiática

superior e institucionalizada. O novo fotógrafo é dinâmico e proativo, dentro de uma

sociedade que anseia, numa escala crescente, maior inclusão digital. 

Observa-se também em vários estudos atuais, dentre eles a teoria da Cultura

de Convergência, que este novo produtor e consumidor de imagens não pertenceaos órgãos oficiais de informação, não possui conhecimentos acadêmicos na área

midiática, nem detém a chancela oficial de artista ou jornalista, mas ainda assim,

sente a necessidade de compartilhar suas impressões do mundo numa interface

aparentemente democrática como a web, criando um contexto em que um número

maior de pessoas adota essa prática, ampliando-se a forma com que a sociedade

interage com a produção de conteúdo midiático e artístico.  

 Ao levarmos em consideração a ideia do rompimento das fronteiras diante do

acontecimento, da arte e da convivência em sociedade, graças à extensão do

espaço público na internet; a queda das hierarquias culturais; que passam a ser

igualadas e niveladas, e o entendimento de que a experiência estética pode estar

em todos os lugares; que não é desvinculada das vivências individuais e coletivas

dos sujeitos, estamos atualmente - graças aos novos aparelhos portáteis e a

reprodutibilidade técnica on line - diante da possibilidade de novos suportes de

construção de experiências sensíveis, através de fotografias digitais, sobretudo ao

entendermos que essas representações constituem bens simbólicos resultantes da

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troca de subjetividades de um novo ser fotógrafo, ou tal qual ou conceito de Crary

acerca dos modelos de visualidade: Um novo tipo de observador.

Primeiros anos de criação e compartilhamento de obras fotográficas: 

 A partir das experiências executadas por químicos e alquimistas desde a

antiguidade já se pode falar em uma história da fotografia, uma vez que neste

período já se pensava e se produziam experiências que tentavam capturar, controlar

e entender como funcionava a formação das luzes e reflexos. Em 1525 já se

conhecia o escurecimento dos sais de prata, posteriormente utilizado nas revelações

fotográficas. No ano de 1604 o físico-químico italiano Ângelo Sala estudou o

escurecimento de alguns compostos pela exposição à luz do Sol.

 A Câmera Escura pode ser considerada a primeira grande descoberta

da fotografia, cuja técnica data-se desde os séculos XVI e XVII. Consistia numacaixa composta por paredes opacas, que possuíam um orifício em um dos lados, na

parede paralela a este orifício, uma superfície fotossensível era colocada. Uma

propagação retilínea da luz permitia que os raios luminosos que atingissem o objeto

e passassem pelo orifício da câmara fossem projetados no anteparo fotossensível

na parede paralela ao orifício. Esta projeção produzia uma imagem real invertida do

objeto na superfície fotossensível. Quanto menor o orifício, mais nítida era a imagem

formada, pois a incidência de raios luminosos vindos de outras direções é bem

menor nesta situação. Vários pintores da época da Renascença e de vanguardas

posteriores utilizavam a câmera escura para imprimir volume, realismo e jogo de luz

e sombra em suas obras, realizando decalques de pinturas sobre a parte refletida da

imagem, dentre estes artistas temos os célebres Johannes Vermeer e Michelangelo

Merisi da Caravaggio.

 Após seguidos avanços nas pesquisas sobre captação de luz e fixação em

objetos, em 1826, Joseph Nicéphore Niépce, consegue capturar a imagem que

ficaria conhecida como a primeira fotografia da história, a paisagem da janela de seu

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quarto, que surge em uma placa de metal que passou por oito horas de exposição à

luz solar e banhos químicos de betume-da-judeia, óleo de asfalto e ácido:

Foto 1: Primeira fotografia da história “ Vista da Janela no Le Gras”  – Niepce.

Poucos anos depois, outros pesquisadores conseguem evoluir o experimento

de Niepce e diminuir o tempo de exposição e manter a fixação permitindo cópias dasmatrizes. Louis Jacques Mandé Daguerre, na França, patenteia um processo

fotográfico extremamente popular chamado “Daguerreótipo”, diminuindo o tempo de

exposição para se capturar a imagem em uma hora a trinta minutos, enquanto que

William Henry Fox-Talbot, na Inglaterra, cria o Talbótico, que já usava o conceito de

revelação negativo/positivo.

Todas as pesquisas vão potencializar a popularização da fotografia no

mundo, inclusive no Brasil. Com a criação da fábrica de câmeras e laboratórios de

revelação Kodak, na virada do século XIX para o século XX, com suas máquinas

portáteis de fácil manuseio, pessoas sem conhecimentos avançados de química ou

física óptica já podiam registrar seu cotidiano e os rostos ao seu redor,

popularizando a técnica do retrato, dando origem aos álbuns de família e aos

cartões postais de troca através de correspondências que se tornaram um modismo

para a sociedade da época.

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O desejo de compartilhar experiências fotográficas enquanto prática social. 

 A busca por uma identidade própria, assim como reconhecer-se em outros

semelhantes, é uma característica social. As pessoas estão sempre procurando

mecanismos para a compreensão do “eu” e da realidade; seja através de registros

históricos, da imprensa, de reportagens, de manifestações artísticas, textos escritos

ou fotografias. Todos esses suportes consubstanciam hábitos que envolvem a

criação de discursos sobre suas experiências pessoais: “Os sujeitos se constroem e

se dão a ver pelo discurso, pois a expressão promove o conhecimento de si e o

encontro com o outro”. (BRETAS 2010, p. 278).

Diferentes suportes têm sido utilizados para exprimir e dar sentido às

experiências vividas. Após o nascimento das tecnologias digitais e da internet, essas

subjetividades são divulgadas em fotografas digitais instantâneas e compartilhadas

massivamente nas redes sociais multimídia, dentre elas o Instagram, aumentando o

repertório de técnicas para a estetização da vida cotidiana. Diante disso, cidadãos

que não possuíam acesso à arte ou à cultura de consumo de classes superiores, por

exemplo, passam a conhecer e aumentar seus repertórios através desse novo

cenário compartilhado por fotografias digitais. Muitas vezes tentando projetar um

estilo de vida ambicionado, numa espécie de ornamentação da vida cotidiana. 

Contudo, é importante observar que a cultura da imagem enquanto espelho

do real, do uso de ilustrações, pinturas, projeções e fotografia como formas de

compreensão do estar no mundo, datam desde antes do surgimento da internet,tendo sua massificação a partir do século XIX. Uma vez que o método de produção

das imagens dessa época passa a refletir um novo sujeito que tem consciência que

vê e que é visto, que é estudado à luz da ciência, cujo ato de observar dá

movimento e dinâmica à imagem.

Cada vez mais consciente do poder de veracidade e status que a imagem

técnica proporcionava, o observador do século XIX também daria início ao

compartilhamento de sua vivência por meio da troca de obras fotográficas, um

costume conhecido como Carte-de-visite, patenteado pelo fotógrafo francês André

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 Adolphe Eugène Disdéri. As fotos eram reveladas em tamanho 9,5 x 6 cm, num

processo em que se utilizava impressão em albumina e eram trocadas entre

colecionadores, amigos e familiares. Uma tendência que ajudou difundir a arte do

retrato, conferindo ao fotógrafo o status de distinção social. Essa prática reverberou

até os tempos pós-modernos: Como não comparar, inevitavelmente, os perfis

fotográficos, as imagens de objetos estimados, animais, viagens, paisagens, selfies,

gastronomia, dentre outras compartilhadas diariamente no Instagram, com o

costume do Carte-de-visite que se tornou um modismo na década de 1860? A

fotografia víntage e analógica e a troca de imagens em cartões de visita seriam um

prelúdio dos atuais métodos de representação digitais e com compartilhamento via

web. 

Emergindo de uma evolução natural do modelo de visualidade do século XIX

e XX, o observador da contemporaneidade preconiza o perfil proativo já apontado

por Jonathan Crary (e por Arlindo Machado na sua posterior leitura de Crary). Os

suportes de redes de compartilhamento fotográfico on line surgem justamente para

dar conta desse novo usuário, mais participativo, que se utiliza da fotografia e das

redes sociais, como o Instagram, e suas ferramentas de indexação e busca via

hashtags  para divulgar estilos de vida, e em muitas ocasiões, proporcionar

testemunhos acerca de acontecimentos sociais, políticos e econômicos com mais

velocidade e precisão do que a mídia oficial, devido ao caráter de portabilidade e

maleabilidade dos dispositivos que possui ao seu alcance. Tal fenômeno pode ser

constatado, por exemplo, em eventos como a recente onda de protestos ocorridos

na Ucrânia no final de 2013 e início de 2014.

Surgimento do observador participativo. 

Com o aumento no trânsito de dados e interação interpessoal na Internet,

tem-se mudado de maneira intensa a forma como as pessoas produzem, observam

e consomem informação na atualidade. Paralelamente, ou até mesmo motivado pelo

desenvolvimento de dispositivos portáteis e de fácil aquisição como: smartphones,

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tablets, e filmadoras digitais, dentre outros suportes produtores de conteúdo

audiovisual, o cidadão comum, não detentor de uma formação artística ou em

comunicação, tem participado massivamente na criação de conteúdo informativo e

imagético contribuindo na veiculação de fatos em tempo real, ainda que

intuitivamente, e em alguns casos, de forma mais impactante do que os veículos

oficiais da máquina midiática, além de se tornar também receptor dessas

informações, através dos mesmos dispositivos: “Consumidores estão aprendendo a

utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo da

mídia e para interagir com outros consumidores.”(JENKIS,2008,p.46). 

Diante de uma nova realidade de possibilidades tecnológicas iniciadas noséculo XX, do surgimento da internet e da quantidade crescente de usuários na rede

 já no século XXI, entusiasmado por expressar suas próprias narrativas, surge um

novo tipo de fotógrafo, aqui neste artigo sendo chamado de observador uma vez que

pretendemos retomar o conceito de regime de visualidade de Johnathan Crary. Este

indivíduo observador que fotografa é diferente de um mero espectador distanciado, e

 já surgia antes mesmo da informatização e da cultura de dispositivos digitais, para

Crary (1990, p. 146) “Um observador mais adaptável, autônomo e produtivo eranecessário tanto no discurso como na prática”, conceito que foi posteriormente

citado e inserido na atualidade, visto que a visualização, simulação e modelação da

imagem, em meios digitais, faz parte de uma evolução natural da imperiosa

reconfiguração entre o sujeito observador e os modos de representação

(MACHADO, 2002, p. 232). 

 A escolha do termo “observador” remete ao sujeito que não apenas vê, mas

que, segundo Crary (1990, p.15) “vê em um determinado conjunto de possibilidades,

inscrito em um sistema de convenções e restrições”, percebemos que esse

indivíduo, há muito se distanciou do observador contemplativo da câmera escura. A

reprodutibilidade técnica o bombardeia com cargas imagéticas todos os dias,

resultado da expansão da indústria da informática e das telecomunicações que, em

busca de novos consumidores, oferece experiências estéticas como bens de

consumo, além de estimular a produção de fotos para compartilhamento via web

dessas experiências. Não contemplamos a arte, a notícia e a realidade, de longe,mas participamos do processo, porque a autenticidade do acontecimento é

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chancelada pelo maior número de compartilhamentos que uma imagem na internet

pode proporcionar. 

O surgimento do Instagram enquanto suporte de troca de experiências

fotográficas. 

O Instagram é um aplicativo disponível para captura de imagens e vídeos via

Smartphone, associado a uma rede social multimídia com a funcionalidade de

aplicar filtros e manipular fotografias de maneira dinâmica. Foi lançado em 6 de

outubro de 2010 pelos engenheiros de software Kevin Systrom e Michel (Mike)

Krieger e alcançou popularidade mundial em poucos meses após seu lançamento. 

 A ideia inicial do aplicativo era possibilitar aos usuários a experiência de

fotografar através de um suporte digital e aplicar filtros, modificando as cores da

imagem numa forma de emulação do aspecto visual dos antigos filmes vencidos de

35 mm e 120 médio formato da prática da Lomografia. Na primeira metade dos

anos 2000, o resgate da nostalgia dos efeitos das toy câmeras Lomo, faziam surgirna internet fotografias produzidas com cores extremamente saturadas, tons de

sépia, tons embranquecidos, mudança de temperatura de cor, alto contraste, bordas

escurecidas, dentre outros aspectos, que imprimiam uma espécie de sensação

"nostálgica" às fotos produzidas.

Porém, para se conseguir tais aspectos, era necessário se possuir um

conhecimento prévio em fotografia analógica, uma vez que era através das câmeras

vintage, produzidas desde os anos 80, que se gerava esses "filtros", ou com o uso

de programas de manipulação mais complexos como o Adobe Photoshop, por

exemplo. A ideia que impulsionou o surgimento do Instagram foi a de produzir um

aplicativo com um número inicial de 8 filtros pré-determinados, que com um simples

toque, adicionava efeitos similares aos das câmera vintage, sem que o usuário

precisasse ter o conhecimento de como operar uma câmera analógica ou como

revelar um filme 35 mm, indo mais além, o usuário sequer precisaria ter

conhecimento de qualquer programa de manipulação de imagens para imprimir o

toque nostálgico ao conteúdo que estaria produzindo. 

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Em setembro de 2011, o aplicativo transformado em Rede já tinha

conquistado quase dez milhões de usuários em escala mundial, possuindo uma

equipe de apenas seis funcionários. Apesar de inicialmente ter sido concebido para

a plataforma iOS exclusivamente para iPhones e iPad e iPod Touch, em 2012, a

então rede social, expandiu-se para o sistema Android, aumentando sua

popularidade consideravelmente e logo em seguida também se tornou disponível

nos sistemas Nokia, Blackberry e Windows Phone. Foi nesse mesmo ano, que o

programador e empresário Mark Zuckerberg anunciou a compra do aplicativo,

integrando-o a sua rede mundialmente famosa: O Facebook, e possibilitando seu

acesso através dos sistemas operacionais dos computadores e notebooks e não só

pelo dispositivo móvel, muito embora a publicação de imagens ainda se dê pelosegundo meio. 

Com aumento do número de plataformas e usuários em rede, o Instagram

passou de um aplicativo de fotos para uma comunidade global2 de troca de imagens

pessoais, reunidas sob grupos de interesses dentro das hashtags³. Exemplo:

Pessoas que gostam de yoga fotografam imagens relacionadas ao tema, com uma

marcação validando seu pertencimento a tal assunto, assim como pessoas quegostam de comida costumam publicar a imagem do prato sob a hashtag #instafood,

criando um banco de dados instantâneo de diversas experiências imagéticas,

reunidas em ordem cronológica. 

História e Motivações dos protestos na Ucrânia.

O Estudo de caso proposto nesse artigo aborda a repercussão, do ponto de

vista dos usuários do Instagram e fotógrafos amadores, acerca de uma crise e uma

onda de violência recente ocorrida na Europa: Os conflitos na Ucrânia.  A decisão do

presidente ucraniano Viktor Yanukovych, no final de 2013, de abandonar o acordo de livre

comércio com a União Europeia para se alinhar à Rússia, país que dominou a Ucrânia por  

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2: Em 2013 o Instagram contava com 130 milhões de usuários ativos todos os meses e 16 bilhões de fotos postadas desde olançamento, números que crescem exponencialmente até então. “http://www.tecmundo.com.br/instagram/41078-instagram-tem-130-milhoes-de-usuarios-todos-os-meses.htm” acesso em 27/01/2015. 

3: Tags são palavras-chave ou termos associados a uma informação. Hashtags são palavras-chave antecedidas pelo símbolo"#", que designam o assunto o qual está se discutindo em tempo real no Twitter e também foi adicionado ao Facebook e

Instagram. “http://www.tecmundo.com.br/instagram” acesso em 27/01/2015. 

gerações enquanto esta fazia parte da União Soviética, desencadeou uma onda de

protestos no país. O acordo estratégico com os russos incluía uma ajuda financeira,

descontos no preço do gás e a promessa de uma zona de comércio livre, causando

uma cissão na opinião popular.

 A violenta repressão policial aos protestos fez crescer o movimento de

manifestações e as críticas ao governo, alterando a pauta de reivindicações: osmanifestantes não pediam apenas o alinhamento à União Europeia, mas também a

saída do presidente. Após três meses de protestos, Yanukovych foi destituído.

 Aleksandr Turchinov, presidente do Parlamento, assumiu como presidente interino.

Na Crimeia, república autônoma da Ucrânia, confrontos entre militantes pró e

anti russos acirraram o conflito. A Rússia, que manteve uma base naval no litoral da

Crimeia, no sul, enviou tropas militares para executarem manobras na fronteira.Inserida no conflito, a população da Crimeia realizou um referendo para decidir se

deseja pertencer à Ucrânia ou Rússia, em que venceu a maioria contrária à

anexação ao território Russo. Uma nova eleição presidencial parece ter solucionado

temporariamente o impasse no país.

 A questão é que inúmeras pessoas, dentre elas, crianças, mulheres, idosos e

demais pessoas vulneráveis, perderam suas vidas diante a onda desmedida deviolência por parte do governo e de combates sangrentos entre grupos partidários da

união com a Rússia e grupos contrários às decisões do governo:

“Mais de 6 mil pessoas morreram no leste da Ucrânia desde o início do conflito, em abril de 2014, anunciou nesta segunda-

feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Raad Al-Hussein, Segundo o secretário, é

imperativo que todas as partes respeitem as decisões dos acordos de Minsk e cessem os bombardeios indiscriminados e

outras hostilidades que criaram uma situação catastrófica para os civis, em violação flagrante do direito internacional

humanitário”. (PRESSE, G1 – Mundo, Acesso em 20/12/2014).

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O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia e sua repercussão nas

redes sociais fotográficas (Estudo de Caso).

Inúmeros usuários da rede Instagram dessa localidade, antes habituados a

publicar imagens de seu cotidiano, passaram a mostrar diferentes pontos de vista do

conflito, proporcionando uma cobertura mais aproximada e íntima do que qualquer

veículo de mídia ou agência de imagens tradicional, e rapidamente acessada pela

rede através de uma indexação específica.

Para este estudo de caso foram selecionados dez usuários da rede socialacima citada, na faixa etária de 21 à 45 anos, que costumavam postar uma média de

3,5 fotos por semana, dentro da demarcação geográfica do evento selecionado,

todos utilizando a indexação pela hashtag #euromaidan. Todos os objetos também

publicaram suas imagens em perfil público e sob a licença internacional de livre

utilização e atribuição, “Creative Commons”.

 A sequência abaixo demonstra os perfis selecionados para o estudo de caso,o ponto em comum é que todos deram cobertura ao fato, mostrando enfoques

pessoais do acontecimento, em diferentes perspectivas, dias antes e um dia depois

do evento político:

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Foto 2 e 3: Usuária publica um autoretrato uma semana antes da eclosão dos protestos, durante o evento, percebe-se o olhar

aproximado do foco do conflito e os tons alaranjados das chamas  – Abril 2014.

Fotos 3 e 4: Jovens publica imagem em que diverte-se em competição esportiva com belas mulheres, uma semana depois, durante os

conflitos, publica uma imagem de um homem em cadeira de rodas, no centro dos destroços. – Abril de 2014. 

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 Fotos 3 e 5: Jovem publica foto de seu instrumento musical, uma semana depois, publica uma imagem em preto e branco, de um manifes-

tante ao centro, em frente a uma cortina de fumaça e aparente destruição. – Abril de 2014. 

Fotos 5 e 6: Moça publica imagem abraçando animal de estimação, no segundo momento, fotografa a parede formada por policiais de um

lado em contraposição à multidão no outro extremo em meio aos destroços no centro, um olhar típico do fotojornalismo – Abril de 2014. 

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 Fotos 6 e 7: Moça tira uma selfie contra o espelho numa posição autocentrada. No dia do conflito, publica uma imagem dos destroços nas

ruas da Crimea, com foto em fumaça em meio à destruição. - Abril de 2014. 

Fotos 7 e 8: Homem tira foto com a companheira em evento noturno, no dia do conflito, registra uma poça de sangue no chão com fogo,

fumaça e uma pessoa correndo ao final da imagem, numa composição que retrata a dramaticidade do ocorrido.  –  Abril de 2014. 

7/21/2019 Fotografia e compartilhamento on line: O olhar do cidadão durante os conflitos na Ucrânia através do Instagram.

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 Fotos 8 e 9: Moça fotografa reunião com amigos em um jantar na semana anterior, posteriormente, na praça principal em Misk, retrata a

fumaça e a bandeira do país numa composição de carga simbólica – Abril de 2014. 

Fotos 9 e 10: Jovem retrata detalhes de vegetação típica da região. Um dia após o conflito, fotografa o cenário de caos e destruição no

centro da cidade com muita fumaça e ferros distorcidos – Abril de 2014.

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 Fotos 11 e 12: Moça fotografa praça principal da cidade com turistas e atração ao ar livre, na semana seguinte, retrata a fumaça e o fogo

originário do confronto num ângulo extremamente parecido com o da foto anteriormente retratada, de número 5. 

Fotos 12 e 13: Jovem tira uma selfie com fantasia do personagem Coringa, numa referência à obra cinematográfica. Na semana seguinte,

seu olhar se volta para o cenário de fumaça, poeira e destruição que se instalara após o confronto. – Abril de 2014. 

Diante das amostras, conclui-se que as fotografias acima demonstram dois

focos distintos. O primeiro: Autocentrado, com imagens cotidianas, numa espécie de

autopromoção das experiências pessoais, algo que é mais comum de se observar

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no volume de imagens publicado nos perfis da rede diariamente. No segundo

momento: foco no acontecimento, no relato de uma situação que afeta a vida em

sociedade e no desejo de atestar, através da fotografia, um testemunho de

veracidade acerca do ocorrido. No entanto, em ambos os casos percebe-se um

fenômeno em comum: Um observador consciente de sua independência para

produzir, narrar e compartilhar experiências estéticas através de fotografias, com a

certeza de um alcance ilimitado proporcionado pela internet. 

Considerações Finais. 

 A experiência representa a fruição de vários de nossos sentidos. Ela destaca-

se, prende a nossa atenção em determinada obra, situação ou objeto e passa a

fazer parte do nosso repertório cognitivo, ela está presente nas diversas

modalidades de discurso, tanto naquilo que é classificado enquanto arte, quanto nas

interações sociais diárias no espaço público real: Nas ruas, nos ambientes de lazer,

nos ambientes acadêmicos, corporativos ou familiares. Por extensão, a experiência

se faz presente nas manifestações fotográficas, neste caso caracterizando-se

enquanto experiências estéticas, mediada pelo uso de notebooks, celulares e de

outros dispositivos portáteis e compartilhadas nas redes sociais multimídia, em

especial no Instagram. 

Sempre que um usuário adquire um celular com câmera, filmadora, acesso àweb e se inscreve em sites de relacionamento para compartilhar fotografias com

outros semelhantes, mesmo sem nenhum conhecimento acadêmico ou técnico, a

sua necessidade primordial é expressar-se. Divulgar seu estilo de vida, suas

impressões acerca de certos acontecimentos. Antes essas criações eram mediadas

utilizando diferentes processos técnicos adaptados ao modelo de visualidade

vigente, porém, na atualidade podem ser transmitidas e assistidas de qualquer lugar,

em tempo real, fruto do regime visual do século XXI. Fazendo parte daquilo que

Jenkins nomeou como cultura participativa, que integra a convergência:

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“A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência

ocorre dentro do cérebro dos consumidores individuais e em suas interações sociais com os outros. Cada um de

nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços de fragmentos de informações extraídas do fluxo

midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana”. (JENKINS, P. 30). 

Diante desse novo cenário que envolve a web e as novas tecnologias, pode-

se concluir que a sociedade evoluiu seus métodos de expressão e que o contexto

atual envolve uma emancipação por parte do observador, sobretudo na noção de

seu poder de produzir e absorver conteúdos midiáticos e artísticos.

Retomando os estudos de Racière, que apesar da proximidade do conceito,

diferentemente de Crary, aquele nomeia esse indivíduo observador da

contemporaneidade de “Espectador Emancipado” pode-se concluir que sujeito da

atualidade absorve, seleciona o que deseja para o seu repertório de experiências e

cria novas manifestações utilizando diferentes métodos: 

“ O espectador também age, tal como o aluno ou o intelectual. Ele observa, seleciona, compara, interpreta.

Relaciona o que vê com muitas outras coisas que viu em outras cenas, em outros tipos de lugares. Compõe seu

próprio poema com elementos do poema que tem diante de si. Participa da performance refazendo-a à sua

maneira, furtando-se, por exemplo, à energia vital que esta supostamente deve transmitir para transformá-la em

pura imagem e associar essa pura imagem a uma história que leu ou sonhou, viveu ou inventou. Assim, são ao

mesmo tempo espectadores distantes e interpretes ativos do espetáculo que lhes é proposto”. (RANCIÈRE, P. 17)  

Essas fotografias no Instagram partem das necessidades individuais,

transformando-se em coletivos. Favorecendo a formação de grupos que se

conectam através dos discursos em comunidades de interesses e hashtags,

representando a evolução dos métodos imagéticos de compartilhamento de

experiências estéticas e promovendo a organização de redes que refletem os

costumes de uma sociedade que se reconhece dentro dessa diversidade de fotos

produzidas pela tecnologia portátil e imediatista. 

“Consciente de sua condição subjetiva e de sua singularidade, o sujeito utilizava -se de técnicas e tecnologias

para a promoção do autoconhecimento, nas quais se incluem anotações, diários e diversas outras formas deregistros propiciados por diferentes linguagens: Páginas pessoais, Blogs, Fotologs, Videologs, Fóruns, Listas (...)

 As tecnologias intelectuais que favorecem esses conhecimentos e promovem relações entre sujeitos são vistas

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como métodos ou processos que ativam fundações culturais na apreensão do real e participam da construção de

nossas imagens e conceitos sobre o mundo, carregando desejos e outras subjetividades ai incrustadas”. (BRETAS,

P. 279) 

Portanto, tomando como base estes alguns outros pressupostos sobre a

construção da experiência estética e interação de pessoas no Instagram, pode-se

concluir que essas mudanças no modelo de visualidade do século XXI são

consequências desse novo observador, fruto de umas sociedade que se vê em

perfis imagéticos pessoais e amadores. Essas mudanças reverberam na forma de se

fazer mídia dentre os meios corporativos tradicionais, e reconfiguram os métodos de

construção dos repertórios pessoais e atualização dos sentidos, vivemos a era do

surgimento de um observador independente, emancipado e participativo. 

Referências Bibliográficas: 

BENJAMIN, Walter. A Obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, in:

BENJAMIN, Walter et al. Benjamin e a obra de arte: Técnica, imagem e percepção.

Tradução: Marijane Lisboa e Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

BENJAMIN, Walter, Pequena História da Fotografia: Magia e técnica, arte e

política. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

CRARY, Jonathan. Técnicas do Observador : Visão e modernidade no século XIX.

Tradução: Verrah Chamma, Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

CRARY, Jonathan. Suspensões da Percepção: Atenção, espetáculo e cultura

moderna. Tradução: Cristina Montenegro, São Paulo: Cosac Naify, 2013. 

DELABRE, Raul Trejo. Internet como expressão e extensão do espaço público.

Disponível em < www.revistas.usp.br/matrizes/article/download/38225/40996 >.

 Acesso em: 8 de agosto de 2014.

JENKIS, Henry. Cultura da Convergência. Tradução: Suzana Alexandria. São

Paulo: Aleph, 2008. 

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KATCHBORIAN , Pedro: A vida antes e depois dos protestos na Ucrânia por usuários

do Instagram. Disponível em: <http://youpix.virgula.uol.com.br/redes-sociais-

2/protestos-ucrania-instagram/>. Acesso em: 8 de ago. de 2014. 

MACHADO, Arlindo: A Emergência do Observador . Disponível em: <

http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/galaxia/article/view/1302/1072>.

 Acesso em: 8 de ago. de 2014. 

MENDONÇA, Carlos Camargos. Pequenas crises: experiência estética nos mundos

cotidianos. In: GUIMARÃES, César; LEAL, Bruno; MENDONÇA, Carlos.

Comunicação e experiência estética. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006. p.103-116. 

PRESSE, Francis: Ucrânia teve mais de 6 mil mortos desde início de conflito.

Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/03/ucrania-teve-naus-de-6-mil-mortos-desde-inicio-de-conflito.html> Acesso em: 22 de dez. de 2014.

RACIÈRE, Jacques. O Espectador Emancipado. Tradução Ivone C. Benedetti. São

Paulo: WMF martinsfontes, 2012.