fortaleza (ce) junho de 2018 bem vindas e bem vindos ao...

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Informativo Especial 63º Conad #1 Fortaleza (CE) Junho de 2018 Bem vindas e bem vindos ao 63º Conad! P ela sexta vez, a capital ce- arense recebe um evento do ANDES-SN. Sediado pela Seção Sindical dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará (Sinduece SSind.), o 63º Conad do Sindicato Nacional tem como tema central “Por um projeto classista e democráco de educação pública: em defesa da gratuidade, autonomia e liberdade acadêmica”. A cidade de Fortaleza já recebeu o 24º Conad em 1992 (sediado por Adufc e Adunifor), o 50º Conad em 2005 (sediado pela Adunifor) e o 55º Conad em 2010 (sediado pela Sinduece-SSind). Foram realizados, também, o 2º Congresso em 1986 e o 18º Congresso em 1999 - ambos sediados pela Adufc. O 63º Conad marca a posse da nova diretoria do ANDES-SN, que estará à frente do Sindicato Nacional durante o biênio 2018-2020. A Cha- pa 1 – ANDES Autônomo e de Luta venceu recentemente as eleições do Sindicato Nacional, com 51,71% dos votos (8732) dos eleitores, que compareceram às urnas de todo o país nos dias 9 e 10 de maio. Antônio Gonçalves, docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), assume o cargo de presidente do Sindicato Nacional. Ele será o 18º presidente da história do ANDES-SN. Sâmbara Paula, presidente da Sin- duece-SSind, afirma que é importante para uma universidade pública do Nordeste, diante da precarização das universidades estaduais, receber um evento nacional do ANDES-SN, para poder mostrar sua realidade às outras seções sindicais. “Esperamos socializar nossas dificuldades e lutas com os docentes dos outros lugares do país”, conta a docente. “Nesse período de ataques aos direitos e de recrudesci- mento do conservadorismo, eventos como esse são fundamentais para manter vivo e atuante o movimento docente”, completa Sâmbara. A Uece Criada em 1975, a partir de institutos de ensino su- perior isola- dos que exis- tiam em vá- rias regiões do estado, a Universida- de Estadu- al do Ceará possui atualmente cerca de 19 mil estudantes e 1.000 professo- res espalhados por 12 centros e faculdades. Seu principal campus é o do Ita- peri - onde acontece o 63º Conad - , que está localizado no bairro de mesmo nome, na cidade de Forta- leza. A universidade conta ainda com campi no Bairro de Fátima, também na capital, e nas cidades de Limoeiro do Norte, Itapipoca, Tauá, Crateús, Quixadá e Iguatu.

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Informativo Especial63º Conad #1

Fortaleza (CE)Junho de 2018

Bem vindas e bem vindos ao 63º Conad!

Pela sexta vez, a capital ce-arense recebe um evento do ANDES-SN. Sediado pela Seção Sindical dos Docentes

da Universidade Estadual do Ceará (Sinduece SSind.), o 63º Conad do Sindicato Nacional tem como tema central “Por um projeto classista e democrático de educação pública: em defesa da gratuidade, autonomia e liberdade acadêmica”.

A cidade de Fortaleza já recebeu o 24º Conad em 1992 (sediado por Adufc e Adunifor), o 50º Conad em 2005 (sediado pela Adunifor) e o 55º Conad em 2010 (sediado pela Sinduece-SSind). Foram realizados, também, o 2º Congresso em 1986 e o 18º Congresso em 1999 - ambos sediados pela Adufc.

O 63º Conad marca a posse da nova diretoria do ANDES-SN, que estará à frente do Sindicato Nacional durante o biênio 2018-2020. A Cha-pa 1 – ANDES Autônomo e de Luta venceu recentemente as eleições

do Sindicato Nacional, com 51,71% dos votos (8732) dos eleitores, que compareceram às urnas de todo o país nos dias 9 e 10 de maio. Antônio Gonçalves, docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), assume o cargo de presidente do Sindicato Nacional. Ele será o 18º presidente da história do ANDES-SN.

Sâmbara Paula, presidente da Sin-duece-SSind, afirma que é importante para uma universidade pública do Nordeste, diante da precarização das universidades estaduais, receber um evento nacional do ANDES-SN, para poder mostrar sua realidade às outras seções sindicais. “Esperamos socializar nossas dificuldades e lutas com os docentes dos outros lugares do país”, conta a docente. “Nesse período de ataques aos direitos e de recrudesci-mento do conservadorismo, eventos como esse são fundamentais para manter vivo e atuante o movimento docente”, completa Sâmbara.

A UeceCriada em

1975, a partir de institutos de ensino su-perior isola-dos que exis-tiam em vá-rias regiões do estado, a Universida-de Estadu-al do Ceará possui atualmente cerca de 19 mil estudantes e 1.000 professo-res espalhados por 12 centros e faculdades.

Seu principal campus é o do Ita-peri - onde acontece o 63º Conad - , que está localizado no bairro de mesmo nome, na cidade de Forta-leza. A universidade conta ainda com campi no Bairro de Fátima, também na capital, e nas cidades de Limoeiro do Norte, Itapipoca, Tauá, Crateús, Quixadá e Iguatu.

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EXPEDIENTEO Informandes é uma publicação do ANDES-SN // site: www.andes.org.br // e-mail: [email protected] // Diretores responsáveis: Cláudio Ribeiro e Luís Acosta // Redação e Edição: Renata Maffezoli MTb 37322 // Diagramação: Renata Fernandes Drt-DF 13743

“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba”. É dessa maneira que o cearense,

nascido na Messejana, José de Alencar iniciou Iracema, uma das obras que lhe consagrariam como importante escri-tor brasileiro,. A referência ao canto da jandaia, ou “onde canta a jandaia”, é intencional; ela visa a expressar o estrito sentido da palavra de origem indígena Siará. Canto da pequena arara ou periquito (jandaia), portanto, é o significado literal do nome de batismo do estado que recebe a sexagésima ter-ceira edição do Conad do ANDES-SN.

Ceará, ou “onde canta a jandaia”, é apenas uma das várias expressões incorporadas ao nosso cotidiano e que remontam à língua tupi. E isso não é casual. A história do Ceará é marcada pela presença de nações indígenas, como os pitiguaras e tabajaras, entre outros. E o romancista José de Alencar, ao nomear a principal personagem de sua obra de “Iracema”, estava cha-mando a atenção exatamente para a

Siará... ou “o lugar onde canta a jandaia”importância dos povos originários na formação social do chamado “Novo Mundo”, uma vez que o título de sua obra nada mais seria do que um ana-grama da palavra América.

O historiador Airton de Farias, autor de “História do Ceará”, explica que a herança indígena na cultura cearense pode ser atestada, por exemplo, no hábito generalizado de balançar-se em redes, na presença de armadores nas casas, no gosto pela tapioca. A invasão do Ceará por portugueses, por sua vez, não haveria de ser sem conflitos. Da catequese jesuítica dos índios à escravização dos mesmos, a colonização vitoriosa subjugava os povos originários, porém não neu-tralizava por completo a continuidade de aspectos de sua cultura, e nem suprimia a indelével ascendência de seus traços, estampada nos rostos cearenses.

A imposição da criação do gado como um dos principais fatores da economia cearense não traria vulto-sos excedentes de capitais para os

seus criadores. A baixa rentabilidade da atividade explicava, na verdade, o motivo da escravização dos índios -o escravo africano, para a realidade econômica do Ceará, era muito caro. Por outro lado, tradições alimentares e de vestimenta - como sarabulho, charque, sandálias, chinelos e roupas de couro - são incompreensíveis sem a percepção da importância que a pecuária exerceu nos primórdios.

Com a Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861) – que era o principal exportador de algodão para a Inglaterra, país precursor da Revolu-ção Industrial (1776) –, alteram-se as condições globais da produção da mais importante matéria-prima da indústria têxtil de então e, com isso, abre-se a vaga para a cotonicultura do Ceará deslanchar. Foi a oportunidade para a geração de excedentes econômicos para a economia local. Foi, portanto, graças a tal contingência histórica que o Ceará consolidou-se como estado brasileiro, desvinculando-se, por con-seguinte, da capitania de Pernambuco.

- Por Rogério Castro DRT-BA-2684

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História de lutas

O Ceará orgulha-se de ter sido o pioneiro estado brasileiro a abolir a escravidão – em 25 de março de 1884. Com a proibição do tráfico interna-cional de escravos - Lei Eusébio de Queirós-, os estados do Sul supriram sua demanda por força de trabalho, por meio do tráfico interprovincial. Na época, o Ceará protagonizou um importante acontecimento contra o comércio de escravos: a greve dos jan-gadeiros. Dessa greve, despontou um dos principais personagens da história local: Francisco José do Nascimento, o Chico da Matilde, também conhecido como o “Dragão do Mar” – que hoje é nome do principal centro cultural do estado.

Outro momento de grande re-levância em que os trabalhadores cearenses, por meio de sua ação, questionaram o poder instituído foi a experiência do Sítio Caldeirão, na região do Crato (1920-1930). Liderados pelo beato José Lourenço - discípulo do ex-prefeito de Juazeiro do Norte, o famoso Padre Cícero-, o Sítio era uma espécie de comuna, onde todos produziam e o produto do trabalho coletivo era repartido entre os seus membros. Embora fosse guiada por princípios do catolicismo, a comuna

logo foi rotulada de bolchevique e comunista - há que se considerar que, naquela quadra histórica, onde a Revolução Russa desafiava de modo concreto a dominação capitalista, a histeria anti-bolchevique grassara por todos os lados.

O governo Vargas viu o episódio com forte preocupação e a Serra do Araripe terminou bombardeada por aviões oficiais. Apesar de ser liderada por um beato, a dura repressão que o Sítio sofreu não contou com a solidariedade da Igreja Católica, que, ao contrário, via com desaprovação aquela experiência inusitada na região também conhecida como cariri cearense.

No século XX, a economia do Ceará, sintonizada com o movimento nacional de industrialização, experimentou também um peculiar processo de “modernização conservadora”. Ape-sar do assim chamado “crescimen-to econômico” ter atingido níveis satisfatórios para aqueles que dele desfrutaram, o historiador Airton de Farias explica que a “questão social” não sofreu uma inflexão mitigadora. Ao contrário, esta intensificou-se no bojo do desenvolvimento cearense.

Além do conflito entre os índios tabajaras e pitiguaras contado de maneira primorosa a partir do amor

desabrochado entre Iracema e Martin, na obra de José de Alencar, o drama do sertanejo retirante cearense foi descrito em versos pelo poeta popular cearense Patativa do Assaré e cantado pelo pernambucano Luiz Gonzaga, em Triste Partida. Viria do Ceará, também, o compositor Humberto Teixeira, coautor de clássicos como o “Rei do Baião” e “Asa Branca”, assim como algumas das vozes mais combatentes do regime empresarial-militar: os cantores Belchior e Ednardo. A terra “onde canta a jandaia” consagraria ao mundo, ainda, a escritora Rachel de Queiroz, o cantor Fagner, o humorista Chico Anysio e muitos outros.

Sinduece: 15 anos de lutas!A Sinduece – Seção Sindical do

ANDES-SN na Universidade Estadual do Ceará foi fundada em 11 de dezembro de 2002. O quadro das universidades estaduais cearenses era de grave de-terioração das condições estruturais. As sucessivas gestões da Uece eram caracterizadas por um forte autori-tarismo e pela total submissão aos governos estaduais. Criada a seção sindical, os docentes passaram a ter um instrumento próprio de luta para encaminhar as (muitas) demandas da universidade. Nessa época, o salário

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dos docentes da Uece era o mais baixo de todas as universidades do Brasil. As primeiras diretorias do sindicato pautariam, então, a luta por recom-posição salarial, plano de cargos e salários e também concurso público para professor efetivo.

Segundo a pesquisa da mestranda em Educação, Danielle Alves, a pri-meira greve ocorrida sob o comando da Sinduece SSind. foi em 2005. A mobilização foi marcada pela violenta desocupação da Reitoria da instituição, por meio do Batalhão de Choque da PM. Em junho do ano seguinte, os docentes deflagraram novamente uma greve contra o arrocho salarial e por um Plano de Cargos e Carreira (PCC). De acordo com Alves, após 156 dias de paralisação, o movimento paredis-ta foi encerrado com a promessa de implementação do Plano de Cargos, em 2007. Com o não cumprimento do acordado, em 7 de novembro de 2007, os docentes decidiram novamente suspender as atividades. Essa greve iria ser marcada pela ocupação da Assembleia Legislativa (Alce) por estu-dantes e professores. A paralisação foi suspensa em fevereiro de 2008, após decisão judicial e, três meses depois, a Alce finalmente aprovou o Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos da Uece.

A luta contra a precarização do trabalho docente sempre foi uma das principais bandeiras da Sinduece SSind. Em 2011, como forma de pressionar o governo a realizar concurso público para professor efetivo, a Seção Sindical deflagrou a campanha “Pra UECE não parar, efetivo já!”. A pressão surtiu

efeito e, em 2012, o governo estadual autorizou a realização do concurso. Em outubro de 2013, foram as questões estruturais que motivaram a deflagra-ção de um novo movimento paredista. A paralisação foi suspensa mediante um acordo com a administração es-tadual. Novamente, parte do acordo não fora cumprido, e, em setembro de 2014, os docentes decidiram retomar a greve. A paralisação foi suspensa logo após a posse do novo governador – no dia 9 de janeiro de 2015. Como, mais uma vez, os acordos não foram integralmente cumpridos - o concur-so docente foi realizado, porém, os aprovados não foram nomeados-, os docentes retomam a greve em 30 de abril de 2016, que foi encerrada em outubro de 2016, com a nomeação dos 81 novos professores.

A mestranda Danielle Alves, que é ex-estudante da Uece, afirma que, à luz dos dados, fica evidente que a Sindue-ce tem uma importância fundamental para a manutenção da universidade. “Se você pegar as pautas de greves e as conquistas da universidade, você irá ver que elas vão bater. A gente só tem um Restaurante Universitário porque foi conquista da greve de 2008. Os professores só têm o Plano de Cargos por conta de movimentos paredistas, que vieram desde 2005/2006. Os estu-dantes só tiveram uma ampliação no valor das bolsas com a greve de 2013 e o complexo esportivo com o movi-mento paredista de 2008”, explica.

A presidente da Sinduece SSind., Sâmbara Paula, destaca que a atual diretoria assumiu numa conjuntura bastante adversa, após o golpe de

2016 e a ascensão do governo ilegítimo de Michel Temer (MDB). Sâmbara expli-ca que a Sinduece SSind. e o ANDES-SN foram fundamentais para a mobiliza-ção e a unidade da classe trabalhadora contra a Emenda Constitucional 95 (EC-95) e as Reformas Trabalhista e da Previdência postas em marcha pelo governo de Michel Temer, como a greve geral de 28 de abril de 2017. No âmbito estadual, ela afirma que o governo Camilo Santana (PT) segue o mesmo caminho do governo federal, ao impor uma política de teto para os gastos públicos, elevar a alíquota de contribuição previdenciária dos ser-vidores estaduais de 11% para 14% e ao precarizar o Instituto de Saúde dos Servidores do Ceará (Issec).

“Logo após a aprovação da EC 95, o governo Camilo encaminhou uma mensagem para a Assembleia Legis-lativa do Ceará, a EC 88, que congela os gastos sociais por dez anos e uma mensagem de aumento da alíquota da previdência de 11% para 14%. E tudo isso logo no começo da nossa gestão”, conta.

Mas Sâmbara afirma que a categoria não se abateu pela adversidade das circunstâncias. “A gente combateu a privatização do Isecc a revelia dos outros sindicatos do estado do Ceará, combatemos a reforma da Previdência em nível nacional e em nível estadual”, disse.

Como parte das comemorações dessa década e meia de existência, a Sinduece lançou, no ano passado, o documentário “Amar e Mudar as Coisas”, contando a curta – porém de muita luta – história da entidade.

A confraternização do 63º Conad será um arraiá realizado na sexta-feira, dia 29, a partir das 22

horas no Iate Clube, em Mucuripe.

As atrações serão a banda Luxo da Aldeia e Cristiane do Acordeon.

Ingressos podem ser adquiridos com monitores do Conad, pelo valor de R$ 50,00.