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FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DE RISCO: MODELO PARA A REALIDADE BRASILEIRA
Wânia Pasinato
ESTRUTURA
Trabalhando com fatores de risco: objetivos do projeto
Legislação de referência: Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio
Trabalhando com fatores de risco: experiências brasileiras
Oportunidades identificadasCadastro Nacional de Violência Doméstica e Familiar
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
Próximos passos
TRABALHANDO COM FATORES DE RISCO: OBJETIVOS DO PROJETO
Objetivo Geral
Elaborar um documento técnico visando a padronização da avaliação de risco em casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres a ser aplicado por profissionais que integram as redes de serviços especializados (equipes multidisciplinares, profissionais do sistema de justiça)
Oferecer um instrumento estruturado (formulário) com indicadores comuns que poderão ser mensurados e avaliados a nível local, estadual, regional e nacional conforme o projeto seja disseminado no país.
AVALIAÇÃO DE RISCO: MEDIDA DE PREVENÇÃO
Avaliação do risco visa
Identificar os fatores de risco e atuar sobre eles visando a prevenção da violência
a intervenção para proteção da mulher frente ao risco imediato
a adoção de procedimentos integrados para minimizar a repetição da violência
a melhoria das respostas institucionais para reduzir a incidência da violência doméstica e familiar
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES
Enfrentamento à violência doméstica e familiar:
atuar sobre causas, consequências e efeitos sociais requer a adoção de medidas conjuntas para a prevenção, proteção das pessoas em situação de violência, promoção de direitos e responsabilização de quem pratica a violência.
Violência doméstica é familiar é uma forma de violação de direitos humanos (artigo 6º Lei Maria da Penha)
LEI MARIA DA PENHA- 11.340/2006
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou
sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
LEI DO FEMINICÍDIO - 13. 104/2015
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Artigo 121 (Homicídio)
§2º - (formas qualificadas)
[...]
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime
envolve
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
[...]
TRABALHANDO COM FATORES DE RISCO:EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS
Experiências identificadasGuia de avaliação de risco para o Sistema de Justiça – MPDFT
Ficha de avaliação de risco – MPES
Tabela de fatores de risco – SSP/SP
Ficha de avaliação de risco Guardiã Maria da Penha – MPRN
Formulário de avaliação de risco Centro de Referência Patrícia Esberpara mulheres em situação de violência – Canoas/RS
TRABALHANDO COM FATORES DE RISCO: EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS
Inspirados nas experiências internacionais , especialmente modelo europeu
Objetivo de disponibilizar instrumento que auxilie na fundamentação de pedidos de medidas protetivas de urgência (Lei Maria da Penha)
Redução da letalidade com caráter preventivo para os casos de feminicídio
TRABALHANDO COM FATORES DE RISCO: EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS
Modelos existentes variam
Quantidade de perguntas
Forma de preenchimento
Mensuração do risco
Gestão do risco
Todos os modelos foram analisados e considerados na estruturação de um modelo que será disseminado para o Brasil
Dimensão QuestãoFormulários
PT DF ES RN RS SP
VÍT
IMA
Percepção de segurançaAcredita que o/a ofensor/a seja capaz de a/o matar ou mandar matar ?
O/A ofensor/a já tentou ou ameaçou matar a vítima?
Gravidez ou parto recente A vítima está grávida ou teve um bebé nos últimos 18 meses?
IsolamentoO autor impede a vítima de visitar amigos/familiares, de trabalhar/estudar, de ter acesso
a serviços, etc.?
CO
MPO
RTA
MEN
TO E
HIS
TORIA
L D
O A
GRES
SO
R Historial de violência
O/A ofensor/a alguma vez usou violência física contra a vítima?
O/A ofensor/a já exerceu violência sexual sobre a vítima?
O/A ofensor/a já tentou estrangular (apertar o pescoço), sufocar, afogar a vítima?
O/A ofensor/a alguma vez usou violência física contra outros do agregado doméstico?
Controlo coercivo/ciúme
excessivo/stalking
O/A ofensor/a persegue a vítima, intimidando-a intencionalmente, demonstra ciúmes
excessivos e tenta controlar tudo o que a vítima faz?
Saúde mental
O/A ofensor/a revela instabilidade emocional/psicológica e não está a ser
acompanhado/a por profissional de saúde ou não toma a medicação que lhe tenha sido
receitada?
O/A ofensor/a já tentou ou ameaçou suicidar-se?
Violação de ordens do tribunal O/A ofensor violou ordem do tribunal destinada a proteger a vítima?
Uso de/acesso a armasO/A ofensor/a já utilizou/ameaçou usar (ou tem acesso a) algum tipo de arma contra a
vítima (armas de fogo, armas brancas)?
Consumo de álcool/drogas O/A ofensor/a tem problemas relacionados com o consumo de álcool, ou outras drogas?
Problemas financeiros / empregoO/A ofensor/a tem problemas financeiros significativos ou dificuldade em manter um
emprego?
CO
NTEX
TO
SeparaçãoA vítima separou-se do/a ofensor/a, tentou/manifestou intenção de o fazer (nos
últimos/próximos 6 meses)?
Escalada da violência O número de episódios violentos e/ou a sua gravidade tem vindo a aumentar?
Conflitos relacionados com o
contacto/guarda dos filhosExiste algum conflito relacionado com a guarda/contato dos filhos?
TRABALHANDO COM FATORES DE RISCO: EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS
Também são identificadas questões relacionadas às medidas protetivas como indicativos da adaptação dos modelos internacionais à realidade brasileira
Relacionadas aos filhos do casal: disputas de guarda, pensão
Violência patrimonial
Aspectos de segurança da vítima
Rede de apoio familiar
OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS:CADASTRO NACIONAL DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Cadastro Nacional de Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres (CNVD)
Lei 11.340/2006
CAPÍTULO III - DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:
[...]
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Quadro 5: Fatores de risco identificados. CNVD.
•Histórico de violência anterior entre o mesmo agressor e vítima•Uso de álcool e/ou drogas ilícitas pelo agressor•Comportamento controlador, ciúmes ou alegação de traição•Disputa familiar (bens e filhos)•Agressor com acesso a armas de fogo (profissional de segurança e outros)•Agressor já descumpriu anteriormente ordem judicial de medidas protetivas de urgência•Vítima com fator de vulnerabilidade (criança, adolescente, idosa, com deficiência)•Vítima gestante•Histórico de violência pelo agressor contra outras pessoas ou animais•Transtorno ou doença mental pelo agressor•Separação ou tentativa de separação no último ano•Presença de crianças ou adolescentes no núcleo familiar•Agressor envolvido com atividades criminosas•Vítima com dependência econômica•Vítima sem parentes próximos ou rede de apoio
Fonte: Manual do Usuário, Sistema de Cadastro Nacional de
Violência Doméstica contra a Mulher (CNVD, 2016, p. 12)
OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS:CADASTRO NACIONAL DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Preenchido pelos MPs Estaduais a partir de informações extraídas dos Inquéritos Policiais
Ausência de um instrumento padronizado de registro de informações sobre risco
A inserção no Cadastro depende da sensibilidade dos profissionais envolvidos no trabalho
Meses/ano 06/2017 09/2017 01/2018 04/2018 04/2018 08/2018
No de casos cadastrados 196.738 330.613 1.020.777 1.092.812 1.148.427 1.207.200
Taxa de não preenchimento 93,9 93,78 92,2 97,16 88,02 92,36
Histórico de violência anterior entre o mesmo
agressor e vítima13,6 22,0 22,0 20,0 22,0 23,0
Uso de álcool e/ou drogas ilícitas pelo
agressor18,05 17,0 17,0 17,0 17,0 17,0
Comportamento controlador, ciúmes ou
alegação de traição14,9 17,0 17,0 17,0 17,0 17,0
Separação ou tentativa de separação no
último ano17,72 15,0 15,0 15,0 15,0 14,0
Presença de crianças ou adolescentes no
núcleo familiar17,38 13,0 13,0 15,0 14,0 14,0
Disputa familiar (bens e filhos) 3,87 5,0 5,0 5,0 5,0 5,0
Agressor com acesso a armas de fogo
(profissional de segurança e outros)1,0 1,0 1,0 1,0
Agressor já descumpriu anteriormente ordem
judicial de medidas protetivas de urgência1,0 1,0 1,0 1,0
Vítima com fator de vulnerabilidade (criança,
adolescente, idosa, com deficiência) 3,9 2,0 3,0 3,0 2,0
Vítima gestante 1,0 1,0 1,0 1,0
Histórico de violência pelo agressor contra
outras pessoas ou animais3,9 2,0 2,0 2,0 2,0
Transtorno ou doença mental pelo agressor 1,0 1,0 1,0 1,0
Agressor envolvido com atividades
criminosas1,0 1,0 1,0 1,0
Vítima com dependência econômica 1,0 1,0 1,0 1,0
Vítima sem parentes próximos ou rede de
apoio0,0 0,0 0,0 0,0
OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS:CADASTRO NACIONAL DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Melhora atendimento
Previne a violência
Produz informações
Alimenta o Cadastro nacional
Aprimora os
serviços
OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS:LIGUE 180 - CENTRAL DE ATENDIMENTO À MULHER
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
Serviço do governo federal criado em 2005, atualmente vinculado à Ouvidoria do Ministério dos Direitos Humanos
Desde 2014 estruturado como Disque Denúncia com encaminhamento dos registros de denúncias para as autoridades policiais nos estados.
(SPM, 2016: em 28, 8% dos casos havia percepção do risco de morte pelas vítimas)
OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS:LIGUE 180 - CENTRAL DE ATENDIMENTO À MULHER
Experiência piloto:
incorporação de um modelo sintético de formulário de avaliação de risco para o atendimento telefônico em casos de violência doméstica e familiar que são encaminhadas às autoridades policiais nos estados
Piloto considera as peculiaridades do atendimento Sem contato face-a-face entre atendente e vítima
Relação de confiança entre vítima-atendente pode levar à omissão de informações
Limites da percepção das atendentes quanto à naturalização da violência pelas vítimas, medo ou situação de insegurança durante o atendimento
Aspecto ético do atendimento às vítimas de violência:
Proteção de sua integridade e não exposição a novas situações de violência de qualquer natureza
OPORTUNIDADES IDENTIFICADAS:LIGUE 180 - CENTRAL DE ATENDIMENTO À MULHER
Experiência piloto:
Elaboração de um modelo de perguntas com respostas sim/não/não se aplica
Encaminhado à coordenação do Ligue 180 para análise, adequação, incorporação aos procedimentos de atendimento já realizados
FORMULÁRIO SINTÉTICO DE AVALIAÇÃO DE RISCO:ESTUDO PILOTO - LIGUE 180
PRÓXIMOS PASSOS
Próximos passos
Ligue 180: estudo piloto
Avaliação dos primeiros resultados da aplicação das perguntas durante o atendimento
Adaptações necessárias ao formulário
Modelo de Formulário e manual para preenchimento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1.O Formulário de Avaliação de Risco é um instrumento importante para a prevenção da violencia baseada no gênero
2.Recurso valioso que deve ser aplicado desde o primeiro relato da violência , amparando a sequência de tomada de decisões do profissional conjuntamente com a mulher, incluindo um plano de atendimento e gestão do risco.
3.A adoção do formulário padronizado não impede sua adaptação aos contextos e suas especifidades sociais, culturais e políticas de forma a melhor orientar o atendimento e proporcionar encaminhamentos adequados para a mulher em situação de violência.
4.A interseccionalidade de gênero, raça/cor e classe são fatores estruturantes que potencializam o risco da violência porque interferem com o acesso a direitos e à justiça. Combater a discriminação no acesso a direitos, os estereótipos de gênero, raça/cor são ações prioritárias.
5.Capacitação integrada de todos os profissionais envolvidos nas ações de enfrentamento à violência contra as mulheres para compartilhamento de conceitos e procedimentos
6.Monitorar e avaliar permanentemente o processo de aplicação do formulário de risco permite reavaliar o instrumento e adequá-lo a novas situações e realidades.
MUITO OBRIGADA!
Wânia Pasinato
Socióloga
Especialista em Políticas Públicas, Gênero e Violência contra as MulheresPerita Nacional – Projeto Diálogos União Europeia-Brasil