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1 FORMULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS NA INDÚSTRIA DA CERÂMICA VERMELHA DO RIO GRANDE DO NORTE COM ÊNFASE NA GESTÃO ESTRATÉGICA ORIENTADA PARA RESULTADOS. Área temática: Gestão do Conhecimento Organizacional Paulo Ricardo Cosme Bezerra [email protected] Resumo: Durante as duas últimas décadas, tem sido crescente a pressão da sociedade e de agências de controle externo para que as organizações que operam com recursos públicos adotem políticas e práticas visando maior eficiência, eficácia e efetividade no uso desses recursos. Viana (1996) destaca as fases de formação e desenvolvimento das políticas públicas em quatro etapas distintas: construção da agenda, formulação das políticas, implementação de políticas, e avaliação de políticas que é o objeto de estudo deste artigo e ainda verificar e analisar o processo de formação de desenvolvimento das políticas públicas no projeto do SEBRAE/RN cerâmica vermelha potiguar, por meio da Gestão Estratégica Orientada para Resultados (GEOR) em confronto com a literatura específica e sendo dado maior ênfase no processo de avaliação. Palavras-chaves:. políticas públicas, gestão para resultados, formulação de projetos ISSN 1984-9354

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FORMULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS NA INDÚSTRIA DA CERÂMICA

VERMELHA DO RIO GRANDE DO NORTE COM ÊNFASE NA GESTÃO ESTRATÉGICA ORIENTADA

PARA RESULTADOS.

Área temática: Gestão do Conhecimento Organizacional

Paulo Ricardo Cosme Bezerra

[email protected]

Resumo: Durante as duas últimas décadas, tem sido crescente a pressão da sociedade e de agências de

controle externo para que as organizações que operam com recursos públicos adotem políticas e práticas

visando maior eficiência, eficácia e efetividade no uso desses recursos. Viana (1996) destaca as fases de

formação e desenvolvimento das políticas públicas em quatro etapas distintas: construção da

agenda, formulação das políticas, implementação de políticas, e avaliação de políticas que é o objeto de

estudo deste artigo e ainda verificar e analisar o processo de formação de desenvolvimento das políticas

públicas no projeto do SEBRAE/RN cerâmica vermelha potiguar, por meio da Gestão Estratégica

Orientada para Resultados (GEOR) em confronto com a literatura específica e sendo dado maior ênfase

no processo de avaliação.

Palavras-chaves:. políticas públicas, gestão para resultados, formulação de projetos

ISSN 1984-9354

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1. Contextualização

A exploração de qualquer bem natural de forma sustentável no Brasil ainda é algo

novo. Segundo GIANNINI (2002), esse conceito vem sendo mais debatido que

implementado produzindo resultados satisfatórios. Mesmo ainda insipiente, muitas

instituições, como é o caso do SEBRAE RN (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas Potiguares), atua na gestão de projetos cujo propósito é fomentar o

desenvolvimento de pequenas propriedades rurais do território potiguar, com o objetivo de

promover a geração de trabalho, renda e melhoria da alimentação das famílias de forma

integrada e sustentável, buscando atingir o bem estar social e estabelecer relações entre o

homem e a natureza analisando o processo de utilização dos recursos materiais por

populações humanas (MORAN, 1990).

A partir da metodologia de pesquisa proposta por Steward apresentada por Moran

(1990), se apresentará um aspecto essencialmente descritivo desses produtores

apresentando elementos da cultura material mais relacionados ao uso da produção, como

por exemplo, instrumentos utilizados para o plantio, dimensão da propriedade, aspectos da

organização social relativas ao uso de recursos específicos e aspectos da metodologia da

ecologia cultural investigando se os padrões de organização social e uso do ambiente

reconhecido pela população afetam de alguma maneira a dimensão da vida humana.

Durante todo o período de execução do projeto os produtores rurais produzem bens

destinados a comercialização e ao consumo próprio denominado “produtos

agroecológicos”.

Dentre as ações do projeto estão elencadas a busca de parcerias comerciais para

comercialização dos produtos, estabelecimento de metas, acompanhamento de premissas

que possam afetar a continuidade do projeto e a mensuração de resultados que busca

identificar se as metas estabelecidas foram alcanças e servem de base para a avaliação do

sucesso ou fracasso do projeto, visto que estamos desenvolvendo ações com recursos

públicos e estes necessitam ter clareza e transparência nas ações.

A problemática deste trabalho é entender como se dá as relações de organização

social, o uso do ambiente e ainda quem são estes pequenos produtores rurais do território

potiguar. A pesquisa de campo compreendendo uma amostra de 200 produtores rurais,

residentes nos municípios de Acari, Currais Novos, Frutuoso Gomes, Messias Targino,

Parelhas, Santa Cruz, São João do Sabugi, São Paulo do Potengi, São Tomé e Severiano

Melo.

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2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

Apresentar a evolução e benefícios advindos do projeto para o produtor rural do

território potiguar, além de viabilizar uma comparação entre as fases evolutivas do projeto,

T0 (2011), T1 (2012) e TF (2013), também diagnosticando a evolução e mostrando suas

perspectivas durante seu ciclo de execução.

2.2. Objetivos Específicos

- Identificar o perfil do produtor rural;

- Caracterizar a forma de organização social;

- Caracterizar o modo de produção;

- Apresentar os aspectos de comercialização e acesso a mercado;

- Avaliar a satisfação do produtor rural com a tecnologia PAIS.

3. Ecologia cultural e territorialidade

Julian Stewart citado por Diegues (2001) define ecologia cultural como sendo o

estudo dos processos adaptativos por meio dos quais as sociedades são afetadas pelos

ajustes básicos, para o homem poder assim utilizar o meio ambiente. Cita ainda que

aspectos culturais como atividades econômicas de subsistência, tecnologia e organização

social são o “núcleo central da cultura” gerando uma forte relação com o meio ambiente, e

que atividades de produção e comercialização são exemplos de estratégias adaptativas.

Miller (2009) expõe que o processo de adaptação é importantíssimo e se associa

intimamente ao conceito de sobrevivência, ou seja, “eles possuem a habilidade de reagir a

seu meio circundante de um modo favorável à sua própria operacionalidade ou

sobrevivência”. E para Sahlins (1968) adaptar-se é agir, o melhor que possível, diante das

circunstâncias apresentadas, que podem ser desfavoráveis. Já Moran (1990) enfatiza que

nenhuma sociedade está perfeitamente adaptada ao ambiente seja físico ou social. E diz

ainda que condições climáticas e variações de temperaturas são benéficas desde que não

4

sejam extremas.

“A ecologia cultural é caracterizada por uma preocupação

com a adaptação, em dois níveis: primeiro, com relação à

forma pela qual os sistemas de adaptam ao seu ambiente

total e, segundo – como consequência desta adaptação

sistêmica – com relação à forma pela qual as instituições

de uma determinada cultura adaptam-se ou ajustam-se

umas às outras” Miller (2009, p. 69) apud Kaplan &

Manner (1975, p. 125).

De acordo com Morán (1990) apud Ellen (1982) as comunidades humanas

dependem de mediação social tanto ou mais do que dependem do ambiente físico. É

necessário que as relações ambientais dos homens só sejam compreendidas se for incluído

o papel da cultura e das instituições sociais que intervém entre o homem e o ambiente.

Miller (2009) enfatiza a necessidade de contar sempre com o físico e o social, sendo estes

dois aspectos do ambiente. Na relação entre populações tradicionais e a natureza o

território aparece como um elemento fundamental.

Diegues (2001) apud Godelier (1984) conceitua território como ”uma porção da

natureza e espaço sobre o qual uma determinada sociedade reivindica e garante a todos,

ou a uma parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, controle ou uso sobre a

totalidade ou parte dos recursos naturais existentes que ela deseja ou é capaz de utilizar”.

O território além de fornecer a natureza do homem como espécie, também fornece

os meios de subsistência, de trabalho e de produção. Tem também tem um papel

importante na formação dos grupos sociais, podendo ser assim definido o termo

territorialidade:

“O esforço coletivo de um grupo social para ocupar, usar,

controlar e se identificar com uma parcela específica de seu

ambiente biofísico, convertendo-se assim em seu

território” (LITTLE, 2002).

Ainda segundo Little (2002) o território é um produto histórico de processos sociais

e políticos. Há uma variedade de expressões com particularidades socioculturais, saberes

5

ambientais, ideologias e identidades. E para as populações do meio rural o território tem

definições mais definidas, há demarcações de amplas áreas de uso, sem limites muito

definidos.

Thomas (1988) aponta que a preocupação com a manutenção e preservação do

território já havia nos tempos dos antigos romanos, onde ocorria a exploração dos recursos

naturais no mundo pré-cristão de modo mais eficaz que seus sucessores medievais cristãos

e que na modernidade, o culto da natureza não evitou a poluição industrial no Japão.

É importante entender que no território deve haver a preocupação com a

preservação do ambiente em que o homem vive, buscando assim evitar problemas

ecológicos como erosão do solo, o desmatamento e a extinção de espécies, priorizando um

desenvolvimento sustentável.

4. Desenvolvimento Sustentável

Durante muito tempo, o sentido do termo desenvolvimento foi dado pelo grau de

industrialização alcançado por uma sociedade (AZANHA, 2002). Sinônimo de

industrialização e avanço tecnológico conotou e definiu o processo de transformação do

ambiente natural com a finalidade de gerar riquezas materiais (produtos), ao mesmo tempo

em que impôs à sociedade como “necessidades”. Já Ribeiro (1991) cita que o termo

desenvolvimento vem sendo apresentado como uma das noções mais inclusivas existentes

no senso comum e na literatura especializada e de grande importância nas organizações das

relações políticas, sociais e econômicas. Porém, apesar de todos falarem sobre

desenvolvimento ninguém é capaz de ancorá-lo em termos concretos.

Desenvolvimento abrange noção de direitos individuais, de cidadania, valor de

mudança, tradição, justiça social, bem estar, destino da humanidade, acumulação de poder

econômico, entre outros que leva a uma leitura divergente – fazendo estar diante de uma

caixa preta ou de uma noção vazia, assim como modernidade. “Todos falam sobre

desenvolvimento, mas ninguém parece capaz de ancorá-lo em termos concretos”

(RIBEIRO, 1991).

A consequência desta elasticidade leva a “noção de desenvolvimento” estar atrelado

ao processo de se transformar e ainda de “realizar as promessas feitas”. As diversas

mudanças nas formas de reprodução da vida política, econômica, social e cultural, na

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contemporaneidade, tem levado a uma reformulação da noção de desenvolvimento

marcadas pelas teorias criadas pelo sistema mundial no pós-segunda guerra.

Intensificado no século XIX, a partir dos desdobramentos políticos, sociais,

econômicos e filosóficos no século XVIII – formulações de Owen, de Fourier e de Saint-

simon. As variações apropriadas da ideia de desenvolvimento, assim como das tentativas

de reformá-la, criam adjetivações históricas - desenvolvimento industrial, capitalista,

socialista, etc. onde os atores coletivos estabelecem perspectivas particulares como sendo

as mais corretas.

Existe tensões aos conflitos interpretativos e políticos quanto as questões do

desenvolvimento que pode ser remetido a uma dupla face do próprio iluminismo –

momento de desdobramento de novos pactos econômicos, políticos e sociais da

modernidade e suas ideologias associadas – progresso, industrialismo, secularização,

nacionalização.

Ocorreram mudanças dramáticas na organização e fluxos de poder político e

econômico internamento ao mundial no momento presente e que no século XX se

testemunhou a decadência de certas ideologias e utopias enraizadas no século IX. E que no

ocidente, o marxismo, por exemplo, tem sido por muitas décadas um discurso provedor de

uma matriz alternativa, sistemática e organizada, ao sistema predominante de relações

sociais, econômicas e políticas.

O período pós segunda guerra é fundamental para a discussão sobre

desenvolvimento por diversos motivos. Além da redefinição dos pesos dos diferentes

estados-nação internamente a divisão internacional do trabalho, são instaurados novos

mecanismos para se operar a nível global – como o Banco Mundial, o BIRD (Banco

Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), o FMI, o GATT (General

Agreement on Trade and Tariffs) e a ONU (Organização das Nações Unidas).

Truman, do alto poder do Estado-nação mais poderoso após a grande guerra,

estabelece o desenvolvimento como uma grande saída civilizatória para a humanidade.

Estabelece indicadores para medir o desenvolvimento como PIB, como sendo universais. E

a América latina não fica imune a essas tendências.

SANTILLI (2005) cita que um ponto importante sobre desenvolvimento sustentável

foi a divulgação, em 1987, do relatório das nações Unidas intitulado “Nosso Futuro

Comum”, também conhecido como “Relatório de Brundtland”. Ele utilizou e defendeu o

conceito de “desenvolvimento sustentável”, entendido como “aquele que satisfaz as

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necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de

satisfazer as suas próprias necessidades”.

O relatório denuncia a rápida devastação ambiental, o risco de exaurimento dos

recursos ambientais do planeta. E destaca três componentes fundamentais do novo modelo

de desenvolvimento sustentável que são a proteção ambiental, o crescimento econômico e

a equidade social. Ou seja, o desenvolvimento deve não ser só ambientalmente sustentável,

mas também, socialmente sustentável e economicamente viável.

“Desenvolvimento sustentável é definido como aquele que

atende as necessidades do presente sem comprometer a

capacidade e gerações futuras também de atenderem as

suas, é um processo de mudança no qual a exploração dos

recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do

desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional

estão de acordo com as necessidades atuais e futuras; é um

desenvolvimento que mantém possíveis as opções futuras;

é uma correção, uma retomada do crescimento alterando a

qualidade do desenvolvimento; é uma mudança no teor do

crescimento, a fim de torná-lo menos intensivo de matéria-

prima e mais equitativo em seu impacto” (RIBEIRO Apud

SANTOS, 1991).

Sob a ótica dos negócios, o desenvolvimento sustentável tem quatro implicações

básicas (RIBEIRO, 1991):

a) Uma mudança para a economia de oportunidade que facilite o acesso empresarial aos

mercados e a capacidade tecnológica – acesso ao crédito, mercados, tecnologia;

b) Uma mudança para uma economia de conservação que incentive a inclusão de valores

ambientais nas práticas comerciais;

c) uma mudança para uma economia que promova investimento a longo prazo e lucros

reais, ao invés de maximização de lucros a curto prazo;

d) Uma mudança de economia para uma cultura de poupança, ao invés de uma cultura

baseada no consumo imediato.

Ribeiro (1991) apud Márcio Fortes (1991) enfatiza que na ótica empresarial as

características que devem enfatizar o desenvolvimento sustentável são uso parcimonioso

dos recursos não renováveis, uso sustentável dos recursos renováveis, melhoria da

qualidade ambiental, conservação da biodiversidade, busca do equilíbrio econômico social

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(com redução da pobreza, melhor distribuição de renda entre os indivíduos e regiões,

aceleração da industrialização equalizadora dos países em desenvolvimento).

5. O projeto PAIS – Produção Agroecológica Integrada e Sustentável

Com vistas a adotar políticas e práticas de padrões de qualidade, eficiência1,

eficácia e efetividade, visando resultados para pequenos produtores rurais, o SEBRAE RN

desenvolveu o projeto PAIS – “Produção Agroecológica Integrada e Sustentável” nas

regiões Seridó, Oeste, Agreste e Trairi” sendo implantado no ano de 2010 e concluído em

2013, tendo como público-alvo pequenos produtores rurais familiares das regiões Seridó,

Oeste, Agreste e Trairi.

O objetivo do projeto é promover a geração de trabalho, renda e melhoria da

alimentação das famílias por intermédio da implantação da tecnologia social PAIS.

De acordo com Miller (2009) a inovação tecnológica teoricamente pode aumentar a

eficiência, logo a produção pode ser duplicada reduzindo o tempo de trabalho pela metade.

Entre os vários ciclos do projeto, a mensuração de resultados tem um papel

fundamental e é nessa fase que se identificam as mudanças, especialmente se os resultados

finalísticos e intermediários estão sendo alcançados.

Os resultados finalísticos são os efeitos que devem ser produzidos no público-alvo

ou junto a ele com a execução do projeto num determinado intervalo de tempo. Enquanto

que os resultados intermediários são os efeitos esperados da realização das ações do

projeto que contribuem para o alcance dos resultados finalísticos.

São quatro os principais resultados do projeto, distribuídos em finalísticos e

intermediários, apresentados a seguir.

a) Resultados Finalísticos

Atender 200 famílias através da Tecnologia Social PAIS, até Julho de 2014;

Obter a percepção do aumento de renda em 30% até Julho de 2014.

1 Miller (2009) destaca que o aumento da eficiência é visto como adaptação e aumentando a eficiência a vida

da sociedade se prolongará.

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b) Resultados Intermediários

Aumentar em 30% o volume físico de produção (quilos) em 30% até Julho de 2014;

Obter 01 (um) canal de comercialização – criação de feiras agroecológicas – até Julho

de 2014.

Para o não alcance dos resultados são apresentadas as seguintes premissas:

condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da produção, não incidência de

doenças e pragas de difícil controle e envolvimento dos produtores e parceiros.

O foco estratégico do projeto remete a diversificação da produção dos produtos

agroecológicos oriundo da pequena propriedade, melhoria da qualidade de vida dos

envolvidos através de uma alimentação mais saudável, criação e aumento do número de

locais para comercialização dos produtos.

A Tecnologia PAIS vai ensinar os produtores a construir hortas circulares, onde

diversas culturas são produzidas. No centro dessa horta, um criatório de galinhas é

montado. As plantas são regadas com a água de uma caixa colocada em um ponto mais

alto, onde a força da gravidade ajudará a aguar tudo igualmente com o sistema de irrigação

por gotejamento. O adubo vem da produção natural. Em localidades onde a energia elétrica

não existe, o SEBRAE RN apóia a instalação de placas para produção de energia solar.

Figura 1 – Modelo de horta aplicando a tecnologia PAIS

10

6 – Metodologia da Pesquisa

A metodologia de pesquisa utilizada é a proposta por Steward apresentada por

Moran (1990) que abrange três aspectos fundamentais:

a) Análise descritiva, buscando identificar os elementos da cultura material referentes ao

uso de recursos pela população como habitação, máquinas e equipamentos, alimentos

cultivados, tamanho da propriedade, etc.;

b) Apresentar os aspectos da organização social;

c) Verificar se os aspectos da metodologia da ecologia cultural investigam se os padrões de

organização social e uso do ambiente interferem outros aspectos de cultura. Onde fatores

demográficos, de assentamento, de parentesco, de apropriação e uso da terra, entre outros

foram observados.

A pesquisa de campo junto ao público alvo do projeto, sendo adotada a

metodologia denominada Painel, na qual utiliza o mesmo público alvo em diferentes

momentos, com a finalidade de avaliar os resultados ao longo do tempo.

Público Alvo: Pequenos produtores rurais familiares das regiões Seridó, Oeste, Agreste

e Trairi;

Número de pesquisados: 200 produtores rurais, compreendendo os seguintes

municípios: Acari (15), Currais Novos (25), Frutuoso Gomes (20), Messias Targino

(20), Parelhas (25), Santa Cruz (20), São João do Sabugi (25), São Paulo do Potengi

(20), São Tomé (10), Severiano Melo (20);

Fase de Aferição: Fase inicial, T0 (janeiro a dezembro de 2011);

Fase intermediária, T1 (janeiro a dezembro de 2012);

Fase Final, TF (janeiro a dezembro de 2013).

Coleta de Dados: Os dados foram coletados por meio de entrevista junto aos

empresários constantes do painel, por meio de questionário. Os trabalhos de campo

foram executados pela equipe da área de Pesquisas do SEBRAE RN.

O instrumento de coleta de dados utilizado um questionário semi-estruturado,

dividido três em blocos de varáveis: Bloco 1 - Identificação do produtor; Bloco 2 – Dados

sociais; Bloco 3 – Produção; Bloco 4 – Comercialização; Avaliação do produtor em

11

relação à tecnologia PAIS. Para o tratamento dos dados desse estudo foi utilizado o

programa SPSS (Versão 16.0) e as estatísticas geradas foram apresentadas em formatos de

tabelas e gráficos.

7. Resultados

Os produtores rurais pesquisados neste trabalho estão intrinsecamente relacionados

as culturas e sociedades tradicionais citados por Diegues (2001), que tem como principais

características:

a) dependência até a simbiose com a natureza, os ciclos naturais e os recursos renováveis a

partir dos quais se constrói um modo de vida humano;

b) conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de

estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais;

c) noção de território ou espaço onde o grupo social se reproduz econômica e socialmente;

d) moradia e ocupação desse território por várias gerações, ainda que alguns membros

individuais possam ter-se deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra de seus

antepassados;

e) importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de mercadorias possa

estar mais ou menos desenvolvida, o que implica uma relação com o mercado.

f) reduzida acumulação de capital;

g) importância dada a unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco

ou compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais;

h) importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça, à pesca e atividades

extrativas;

i) a tecnologia utilizada é relativamente simples, de impacto limitado sobre meio ambiente.

Há reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor (e

sua família) domina o processo de trabalho até o produto final;

j) fraco poder político, que em geral reside com os grupos dos centros urbanos;

k) auto-identificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta

das outras.

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A seguir segue os resultados da pesquisa de campo:

7.1. Perfil do produtor rural – Aspectos demográficos

Gênero

Ambos os sexos caracterizam os produtores rurais, predominando o sexo masculino

com percentual de 74,39% e 25,61% são do sexo feminino.

Gráfico 1 - Distribuição por sexo

Faixa Etária

Na distribuição da faixa etária por sexo, verifica-se maior faixa etária para os

homens no intervalo de 45 a 49 anos de idade e para as mulheres a maior frequência esta

no intervalo de 50 a 54 anos de idade.

Gráfico 2 – Pirâmide etária dos produtores.

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Procedência

A Tabela 1 apresenta a concentração de produtores por município que para Mauss

(2003) é uma das condições que constituem a forma de agrupamento humano. Nessas

regiões é onde os grupos sociais se reproduzem de forma econômica e social, sendo esta

uma das características das sociedades tradicionais (DIEGUES, 2001).

Tabela 1 – Procedência de produtores por município atendidos pela tecnologia PAIS

Município Produtores Porcentagem

Acari 15 7,5%

São Tomé 10 5,0%

Severiano Melo 20 10,0%

São Paulo do Potengí 20 10,0%

Santa Cruz 20 10,0%

Frutuoso Gomes 20 10,0%

Messias Targino 20 10,0%

Parelhas 25 12,5%

São João do Sabugí 25 12,5%

Currais Novos 25 12,5%

Total 200 100,00%

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Figura 4 – Municípios dos produtores rurais

7.2. Organização Social

Desenvolvimento de atividades

A organização social é do parentesco que pode ser identificado pelo número de

pessoas que residem e trabalham com o produtor rural, prevalecendo o trabalho autônomo

ou familiar.

A Tabela 2 apresenta as medidas descritivas para o número de pessoas que

desenvolvem algum tipo de atividade com o produtor rural, seja residir ou residir e

trabalhar na propriedade, apenas trabalhar na atividade e ainda o número de pessoas

ocupadas no PAIS.

Tabela 2 – Medidas descritivas para o número de pessoas que desenvolvem algum tipo de atividade com o

produtor rural

Estatísticas

Pessoas que

residem com o

produtor

Pessoas que

residem e

trabalham com o

produtor

Pessoas que

trabalham na

agropecuária

Pessoas ocupadas

no PAIS

Média 4,29 2,50 2,40 2,06

Mediana 4,00 2,00 2,00 2,00

Desvio padrão 1,36 1,19 1,11 0,92

Mínimo 1,00 1,00 1,00 1,00

Máximo 8,00 6,00 6,00 5,00

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Acessibilidade a Programas Sociais

Em relação a acessibiliade aos programas socias, por pessoas que residem com o

produtor rural, na faze T0 era de 88,35%, na fase T1 era 84,82%, já na fase TF foi de

92,86%, conforme a tabela 3. A mairia dos produtores possuem Bolsa Família e ao longo

dos anos a acessibilidade aos programas socias aumentou.

Tabela 3 - Acesso a programas sociais entre as fases do projeto PAIS

Programas Sociais Etapas do projeto PAIS

T0 (2011) T1 (2012) TF (2013)

Bolsa Família 65,77% 53,79% 59,76%

Aposentadoria 26,13% 22,07% 41,46%

PETI 4,50% 0,69% -

Outros (Ver gráfico 4) 3,60% 23,45% 58,54%

O gráfico abaixo mostra a representatividade, em percentual, dos programas sociais

em cada fase do projeto. Ao longo das fases houve um incremento aos programas de

aposentadoria e outros benefícios. O acesso a outros programas aumentou

aproximadamente 54%.

Gráfico 3 - Representatividade de acesso aos programas socias nas fases do projeto

16

Em relação aos outros programas sociais, correspondentes a 58,54% na fase TF, o

gráfico 4 descreve em percentuais cada um dos benefícios sociais a que tiveram acesso no

ano de 2013.

Gráfico 4 – Acesso a outros programas socias

Renda familiar

A Tabela 4 apresenta a renda média mensal das famílias sem e com os benefícios

do programa PAIS. É observado uma elevação na renda ao longo das fases de 65% com a

renda do PAIS, superando um dos resultados do projeto que é aumentar a renda em 30%

até o final do projeto.

Tabela 4 - Renda média familiar (R$) mensal

RENDA FAMILIAR (R$) MENSAL SEM O PAIS

Fase Mínimo Mediana Média Máximo

T0 (2011) R$ 42,00 R$ 600,00 R$ 630,06 R$ 1.714,00

T1 (2012) R$ 134,00 R$ 678,00 R$ 876,40 R$ 3.500,00

TF (2013) R$ 70,00 R$ 790,00 R$ 989,78 R$ 4.000,00

RENDA FAMILIAR (R$) MENSAL COM O PAIS

Fase Mínimo Mediana Média Máximo

T0 (2011) R$ 100,00 R$ 912,00 R$ 1.031,01 R$ 3.428,00

T1 (2012) R$ 134,00 R$ 840,00 R$ 1.065,18 R$ 6.988,50

TF (2013) R$ 70,00 R$ 1.431,30 R$ 1.704,49 R$ 6.759,50

Gráfico 5 – Renda média (R$) com a tecnologia PAIS

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Participação em organizações sociais

A organização social é um fator importante para a sobrevivência do indivíduo,

devendo os interesses do grupo se sobrepor ao interesse pessoal do indivíduo trazendo

vantagens como segurança e compartilhamento de recursos (MILLER, 2009, p. 108). No

caso a participação dos produtores em organizações sociais é bem intensa, onde verificou-

se que 96,34% participam de alguma organização social e apenas 3,66% não participam.

Gráfico 6 - Participação dos produtores em organizações socias.

Em relação as organizações sociais que o produtor rural participa, 72,15% referem-

se a associações, 21,52% a sindicatos, 3,50% a colonia de pescadores 1,27% a conselhos e

1,27% acooperativas.

Gráfico 7 – Participações em organizações sociais.

18

De acordo com a pesquisa, o percentual de produtores que desenvolve outra

atividade além da agropecuária é de 34,15%. O percentual de 65,85% mostra o nível de

dedicação ao projeto PAIS.

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Gráfico 8 - Atividades além da agropecuária.

7.3. Propriedade Rural

Para Mauss (2003) ao escrever o habitat de uma população específica é necessário

saber como essas populações estão distribuídas no território que ocupam, de quais grupos

são compostos, qual o número, o tamanho e a disposição deles.

Referente a área da propriedade ocupada para a produção agropecuária, identificou-

se 60,98% dos produtores possuem área de produção acima de 10,1 hectares. Os

percentuais sobre as demias áreas são apresentadas no gráfico 9 a seguir.

Gráfico 9 - Área da propriedade em hectares

Posse do imóvel

20

Em relação a forma de ocupação do imóvel foi identificado que 65,00% se refere a

compra de pequena propriedade, 21,25% têm lote de reforma agrária e 13,75% por

arrendamento.

21

Gráfico 10 - Forma de posse do imóvel

Foi constatado na análise dos dados que 90,24% dos produtores residem na

propriedade, apenas 9,76% não residem.

Gráfico 11 - Produtores residentes na propriedade.

7.4. Produção e Renda

Produção

Quanto à renda mensal adquirida pelos produtores através da comercialização dos

produtos, constatou-se 36 (trinta e seis) itens de comercialização. Foi identificado o

volume total produzido por cada item, com seus respectivos preços médio unitário e a

arrecadação média total mensal por produto, os dados são apresentados na Tabela 5 mais à

frente.

O Quadro 1 a relação dos produtos com maiores detalhes quanto a valores, volume

e renda gerada mensal. Constatou-se que o volume mensal produzido e comercializado, em

22

relação a todos os produtos, por todos os produtores, movimenta um valor mensal

aproximado de R$ 57.000,00 reais.

O gráfico abaixo remete ao resultado referente ao aumento do volume bruto de

produção que tem como meta aumentar em 30% o volume físico de produção até Julho de

2014 e na prática o volume aumentou 67,36% superando a meta planejada.

Gráfico 12 – Volume bruto de produção

Para Thomas (1988) o mundo vegetal sempre foi fonte de alimento e de

combustível. No grupo estudado os recursos naturais são fontes de alimentos e de trabalho,

sendo responsável por parte da renda dos produtores rurais. O tipo de agricultura é de

pequena produção mercantil2 destinado a venda e consumo próprio.

Nas roças se plantam abobrinha, acerola, alface, batata doce, beterraba, caju,

cebola, cebolinha/coentro, entre outros.

Figura 2 – Produtores atendidos pela Tecnologia

PAIS no município de Acari na comunidade rural de

Beira do Rio.

Figura 3 – uma horta ao redor (quintal

agroecológico) e um sistema de irrigação por

gotejamento, que economiza água. É um sistema

2 As culturas tradicionais decorrentes de pequena produção mercantil encontram-se articuladas ao modo de

produção capitalista (DIEGUES, 2001). Essa maior ou menor dependência do modo de produção capitalista,

muda a forma pela qual o pequeno produtor trata o mundo natural e seus recursos.

23

ecologicamente correto, socialmente justo,

culturalmente aceito e economicamente viável.

24

Quadro 1 – Relação de produtos, volume e valores por produtos.

Produto Nº

produtores Unidade

Volume mensal produzido Valor do produto em R$ Total

gerado

em R$ Média Mediana Desvio

padrão Mínimo

Máxim

o Total Média Mediana

Desvio

padrão Mínimo

Máxim

o

Abobrinha 40 Unid. 35,68 20 45,79 4 218 1427 1,80 2,00 0,88 0,15 3,50 2027,60

Acerola 4 Kg 8,75 9 5,06 3 15 35 1,85 1,75 1,80 1,00 5,00 83,00

Alface 72 Pés 123,04 80 131,60 1 600 8859 1,26 1,00 0,57 0,25 2,50 10051,00

Batata doce 2 Kg 15,00 15 7,07 10 20 30 2,00 2,00 0,71 1,50 2,50 65,00

Berinjela 41 Unid. 29,37 20 31,13 3 150 1204 1,34 0,50 1,21 0,20 5,00 1251,10

Beterraba 37 Kg 10,22 6 9,59 1 40 378 2,86 3,00 0,91 0,50 5,00 1182,00

Caju 1 Kg 10,00 10 0,00 10 10 10 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 10,00

Cebola 31 Kg 16,76 8 25,03 1 120 520 5,89 3,00 6,43 0,80 25,00 3760,70

Cebolinha/coentro 59 Molho 91,53 40 152,24 1 800 5400 0,78 0,50 0,48 0,25 2,50 4289,00

Cenoura 19 Kg 15,11 10 12,86 2 50 287 2,59 2,50 0,91 0,50 4,00 682,50

Coco 1 Unid. 10,00 10 0,00 10 10 10 1,00 1,00 0,00 1,00 1,00 10,00

Coentro 65 Molho 243,49 150 309,64 3 1800 15827 0,64 0,50 0,34 0,15 1,50 8432,80

Couve 31 Folhas 54,58 30 63,72 4 300 1692 0,84 1,00 0,62 0,15 3,00 1110,40

Feijão verde 2 Kg 18,50 19 9,19 12 25 37 3,50 3,50 0,71 3,00 4,00 136,00

Galinha 44 Unid. 15,86 10 18,62 1 80 698 24,07 25,00 6,77 8,00 40,00 16081,00

Goiaba 1 Kg 1,00 1 0,00 1 1 1 3,00 3,00 0,00 3,00 3,00 3,00

Jerimum 6 Unid. 11,83 13 9,00 2 20 71 2,50 2,25 0,89 1,50 4,00 161,00

Limão 4 Pct 21,50 18 13,00 10 40 86 1,00 1,00 0,00 1,00 1,00 86,00

Macaxeira 2 Kg 13,00 13 16,97 1 25 26 2,25 2,25 1,06 1,50 3,00 40,50

Mamão 2 Unid. 30,00 30 14,14 20 40 60 1,00 1,00 0,00 1,00 1,00 60,00

Manga 2 Kg 31,50 32 2,12 30 33 63 2,00 2,00 0,00 2,00 2,00 126,00

Maracujá 1 Kg 33,00 33 0,00 33 33 33 2,00 2,00 0,00 2,00 2,00 66,00

Maxixe 38 Kg 19,79 14 17,32 1 70 752 2,99 2,00 4,65 0,70 30,00 1873,00

25

26

Continuação do Quadro 1.

Produto Nº

produtores Unidade

Volume Valor do produto em R$ Total

gerado

em R$ Média Mediana Desvio

padrão Mínimo

Máxim

o Total Média Mediana

Desvio

padrão Mínimo

Máxim

o

Melancia 6 Unid. 8,00 8 3,74 2 12 40 6,50 6,50 3,15 3,00 10,00 282,00

Melão 1 Unid. 12,00 12 0,00 12 12 12 2,00 2,00 0,00 2,00 2,00 24,00

Ovos 42 Unid. 122,14 90 141,71 10 800 5130 0,46 0,50 0,09 0,15 0,70 2282,00

Pepino 3 Unid. 18,67 20 2,31 16 20 56 1,67 2,00 0,58 1,00 2,00 92,00

Pimenta 3 Pct. 7,00 4 7,94 1 16 21 2,00 2,00 1,00 1,00 3,00 27,00

Pimentão 53 Unid. 87,53 50 112,55 2 500 4639 0,54 0,30 0,68 0,10 4,00 1437,00

Pintos 1 Unid. 50,00 50 0,00 50 50 50 3,00 3,00 0,00 3,00 3,00 150,00

Quiabo 24 Kg 28,13 15 38,21 1 160 675 2,23 1,50 1,40 1,00 6,00 1209,00

Rabanete 2 Unid. 20,00 20 0,00 20 20 20 15,13 15,13 21,04 0,25 30,00 5,00

Rúcula 10 Molho 24,50 25 13,39 1 40 245 1,30 1,25 0,48 0,50 2,00 303,00

Salsinha 3 Molho 20,67 20 19,01 2 40 62 0,67 0,50 0,29 0,50 1,00 41,00

Seriguela 1 Pct. 25,00 25 0,00 25 25 25 2,00 2,00 0,00 2,00 2,00 50,00

Tomate 23 Kg 15,70 10 14,96 1 50 361,00 3,73 4,00 1,51 1,20 6,00 1294,80

27

28

Um dos objetivos do projeto é melhorar a qualidade de vida e proporcionar

sustentabilidade para as comunidades. Além disso, estimula a prática da agricultura

orgânica por meio de processo produtivo sem o uso de agrotóxicos. A figura 1 apresenta

um grupo de produtores da comunidade rural Beira do Rio, localizado no município de

Acari e na Figura 2 uma horta utilizando o sistema de gotejamento, que economiza água.

7.5. Acesso a Mercado

Comercialização

Em relação à forma de comercialização dos produtos observou-se que a maior parte

dos produtores comercializam seus produtos diretamente com o consumidor, 33,53%, e em

feiras agroecológicas, 30,59%. Há ainda a comercialização em feira livre (9,41%), por

meio de atravessadores (7,65%) e destinada à compra direta das prefeituras para a merenda

escolar (6,47%). Outras formas de comercialização (1,76%) foram citadas: Bar,

Restaurante e parte destinada ao consumo próprio.

Gráfico 13 - Forma de comercialização dos produtos

Investimento

Em relação aos investimentos realizados pelos produtores no programa, a Tabela 7

lista os produtos citados pelos produtores com os quais tiveram algum dispêndio referente

a investimetos com o PAIS. Os investimentos realizados pelos produtores no projeto PAIS

totalizam aproximadamente R$ 52.881,30.

29

Tabela 5 – Relação de materiais de investimentos pelos produtores na tecnologia PAIS

Investimento Quantidade Valor investido (R$)

Média Mínimo Máximo Total

Adubo 2 160,00 120,00 200,00 320,00

Ajudante 2 1.560,00 1.200,00 1.900,00 3.100,00

Arame 3 144,00 12,00 220,00 432,00

Areia/Barro 1 200,00 200,00 200,00 200,00

Bebedouro 75 75,00 75,00 75,00 75,00

Bomba 13 568,08 30,00 3.000,00 7.385,00

Caibros 5 182,00 50,00 300,00 910,00

Cano 2 261,25 240,00 282,50 522,50

Cerca 2 390,00 280,00 500,00 780,00

Chocadeira 1 480,00 480,00 480,00 480,00

Comedouro 1 150,00 150,00 150,00 150,00

Comprassol 1 25,00 25,00 25,00 25,00

Concreto 1 150,00 150,00 150,00 150,00

Construção/Alvenaria 1 750,00 750,00 750,00 750,00

Enxada 3 60,00 10,00 150,00 180,00

Equipamentos 4 58,50 18,00 150,00 234,00

Estacas 1 50,00 50,00 50,00 50,00

Fios 6 325,00 50,00 500,00 1.950,00

Frete 2 90,00 80,00 100,00 180,00

Galinhas 12 333,33 80,00 800,00 4.000,00

Irrigador 1 24,00 24,00 24,00 24,00

Madeira 1 100,00 100,00 100,00 100,00

Mangueira 12 141,36 40,00 400,00 1.555,00

Manutenção 2 50,00 30,00 70,00 100,00

Mão de obra 6 375,00 150,00 1.000,00 2.250,00

Mergulhão 2 140,00 130,00 150,00 280,00

Milho 1 200,00 200,00 200,00 200,00

Motor 1 300,00 300,00 300,00 300,00

Mourões 1 50,00 50,00 50,00 50,00

Pintos 6 1.172,33 100,00 5.400,00 7.034,00

Pneu 1 100,00 100,00 100,00 100,00

Pulverização 1 55,00 55,00 55,00 55,00

Quadro 1 1.300,00 1.300,00 1.300,00 1.300,00

Ração 11 775,82 25,00 6.000,00 8.534,00

Regador 2 10,00 10,00 10,00 20,00

Registro 2 60,00 20,00 100,00 120,00

Sementes 27 187,96 10,00 600,00 5.075,00

Somblite 9 165,00 40,00 350,00 1.485,00

Telas 9 245,22 10,00 525,00 2.207,00

Telhas 1 200,00 200,00 200,00 200,00

TNT 1 15,00 15,00 15,00 15,00

30

Torneiras 1 3,80 3,80 3,80 3,80

Canais de comercialização

Obter 01 (um) canal de comercialização – criação de feiras agroecológicas – até o

final do projeto seria a meta original pactuada entre os produtores rurais. Porém, existem

no término do projeto dez canais de comercialização nos municípios de Acari, Currais

Novos, Frutuoso Gomes, Messias Targino, Parelhas, Santa Cruz, São João do Sabugi, São

Paulo do Potengi, São Tomé e Severiano Melo.

7.6 Avaliação do produtor rural em relação ao PAIS

Foi questionado ao produtor rural quanto sua situação em relação a assistência

técnica, sobre a alimentação, saúde familiar e situação geral após implatação do programa

PAIS, o Gráfico 14 apresenta esses resultados.

Gráfco 14 - Situação do produtor pós implantação do PAIS.

Os pontos de maior destaque quanto a situação do produtor foram:

87,80% dos produtores afirmaram que, quanto a assistência técnica, melhorou

muito;

Em relação a alimentação familiar, 81,71% disseram ter melhorado muito;

31

No que tange a saúde, 78,05% dos produtores diseram ter melhorado muito. Já

13,41% afirmaram ter melhorado pouco, e apenas 8,54% confirmaram ter

permanecido igual;

Quanto a situação geral, 56,10% afirmaram que sua situação após o PAIS melhorou

muito, 41,46% disseram ter melhorado pouco, apenas 2,44% diseram ter

permanecido igual.

Quanto a situação atual do PAIS, 90,24% dos produtores afirmam que o programa está

em operacionalização/funcionameto. Apenas 9,76% disseram não estar em

operacionalização, que afirmaram ser pelo motivo da seca.

Gráfico 16 – O PAIS está em operacionalização?

Foi questionado aos produtores rurais se houve aquisição de bens após a

implantação do programa. Segundo a pesquisa, 54,88% afirmaram não ter adquirido

nenhum bém. Contudo, 45,12% disseram ter adquirido algum bém após o PAIS, e em

relação aos bens adquiridos, o Gráfico 16 especifica os bens mensionados.

Gráfico 17 - Adquiriu novos bens após o PAIS?

32

Gráfico 18 – Relação de bens adquiridos com o PAIS

Satisfação

Este item refere a visão do produtor em relação a satisfação, aplicabilidade e

efeitividade com os produtos/serviços do SEBRAE RN utilizados pelo produtor rural,

onde:

A satisfação mensura o resultado da experiência de um cliente ao consumir/utilizar

algum produto ou serviço;

A aplicabilidade é a medida de avaliação do quanto o usuário colocou em prática

os conhecimentos adquiridos nos serviços dos quais participou, onde busca apresentar a

prática dos conhecimentos adquiridos.

33

A efetividade é medida pela avaliação do quanto o entrevistado obteve resultados

esperados dos serviços dos quais participou.

XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de

2015

34

Conclusões

O SEBRAE RN busca fomentar o desenvolvimento de pequenas propriedades

rurais do território potiguar, promovendo a geração de trabalho, renda e melhoria da

alimentação das famílias de forma integrada e sustentável, como forma alternativa de

alcance do bem estar social através das relações entre o homem e a natureza. A atividade

econômica de subsistência, o uso da tecnologia e a organização social geram uma forte

relação com o meio ambiente, e que atividades de produção e comercialização são

exemplos de estratégias adaptativas.

A partir das metas estabelecidas no início do projeto verificou-se o alcance e

superação dos resultados acordados. Foram atendidas 200 famílias como pretendido. Com

relação ao resultado referente ao volume bruto de produção que tem como meta aumentar

em 30% o volume físico de produção até Julho de 2014, na prática aumentou 67,36%

superando a meta planejada.

Inicialmente desejava-se obter um canal de comercialização – criação de feiras

agroecológicas – e até o final do projeto foram criados dez canais de comercialização.

Sendo também verificada uma elevação na renda ao longo dos anos de 65% com a renda

do PAIS, superando um dos resultados do projeto que tinha como meta aumentar a renda

em 30%.

Os produtores rurais pesquisados são predominantes do sexo masculino com

percentual de 74,39%. Na distribuição por faixa etária e por sexo, verifica-se maior faixa

etária para os homens no intervalo de 45 a 49 anos de idade e para as mulheres a maior

frequência esta no intervalo de 50 a 54 anos de idade. A organização social é de

parentesco, prevalecendo o trabalho autônomo ou familiar, com acessibilidade a diversos

programas sociais como, por exemplo, o bolsa família. A participação dos produtores em

organizações sociais é bem intensa, onde foi constatado que 96,34% participam de alguma

organização social.

XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de

2015

35

Em relação a forma de ocupação do imóvel foi identificado que 65,00% se refere a

compra de pequena propriedade, 21,25% têm lote de reforma agrária e 13,75% por

arrendamento. 90,24% dos produtores residem na propriedade.

Os recursos naturais são fontes de alimentos e de trabalho, sendo responsável pela

renda dos produtores rurais. O tipo de agricultura é de pequena produção mercantil

destinado a venda e consumo próprio. São produzidos trinta e seis itens para

comercialização tais como abobrinha, acerola, alface, batata doce, beterraba, caju, cebola,

cebolinha, coentro, entre outros.

Em relação à forma de comercialização dos produtos observou-se que a maioria dos

produtores comercializa seus produtos diretamente com o consumidor 33,53%, e em feiras

agroecológicas, 30,59%.

Merece destaque a avaliação dos produtores com relação à tecnologia PAIS e

mudança de vida, pois segundo eles 87,80% dos produtores afirmaram que, quanto a

assistência técnica, melhorou muito. Em relação a alimentação familiar, 81,71% disseram

ter melhorado muito; no que tange a saúde, 78,05% dos produtores diseram ter melhorado

muito. Quanto a situação geral, 56,10% afirmaram que sua situação após o PAIS melhorou

muito, 41,46% disseram ter melhorado pouco, apenas 2,44% diseram ter permanecido

igual. Apenas 9,76% disseram não estar em operacionalização, que afirmaram ser pelo

motivo da seca.

45,12% dos produtores adquiriram algum bém após o PAIS, tais como como

aminais, televisão, motocicleta, terreno, eletrodomésticos, entre outros. Quanto ao nível de

satisfação 98,18% dos produtores rurais estão satisfeitos com o projeto, 92,73% aplicam os

conhecimentos adquiridos, assim como verificou que os resultados alcançados era o que se

esperava.

Por fim, o uso da tecnologia PAIS favorece o desenvolvimento sustentável, que sob

a ótica dos negócios gera oportunidades de acesso aos mercados e capacidade tecnológica,

incentiva a inclusão de valores ambientais nas práticas comerciais como a comercialização

de produtos agroecológicos, promovendo o investimento a longo prazo e lucros reais.

XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de

2015

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O foco estratégico do projeto foi atendido remetendo a diversificação da produção

dos produtos agroecológicos oriundo da pequena propriedade, gerando melhoria da

qualidade de vida dos envolvidos através de uma alimentação mais saudável, criando e

aumento do número de locais para comercialização dos produtos.

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2015

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XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de

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