formas estruturais arquitetura brasilia

Upload: janine-silva

Post on 07-Apr-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    1/19

    AS FORMAS ESTRUTURAIS NA ARQUITETURA DEBRASLIA: UMA SAGA TECNOLGICA

    PORTO, Cludia Estrela

    Arquiteta e Urbanista, doutora em Estruturas Espaciais pela Sorbonne, com Ps-Doutorado na

    Agncia RFR, em Paris. Atualmente Profa. Dra. do Programa de Pesquisa e Ps-Graduao da

    FAU - (PPPG-FAU/UnB) Universidade de Braslia (UnB), Departamento de Tecnologia.

    E-mail: [email protected]

    UnB, Colina, Bloco H, Ap. 107 Asa Norte CEP: 70904-108 Braslia-DFTelefone: (+55) 61 33071358

    RESUMO

    Este texto mostra a evoluo das formas estruturais na arquitetura deBraslia desde a sua construo at os dias atuais. Apesar da presenadominante de estruturas em concreto, nas formas geniais propostas porOscar Niemeyer, tambm fazem parte do cenrio de Braslia obras emtijolo, madeira, argamassa-armada e ao. O arrojo estrutural das primeirasestruturas ganha fora no laboratrio experimental que foi a construoda Universidade de Braslia (ICC e Colina Velha). Continua na arquiteturade Joo da Gama Filgueiras Lima (Lel), Zanine, Per Luigi Nervi, SrgioParada e Alexandre Chan. Ao caminhar pelas formas estruturais de seusmonumentos, vemos que a cidade pulsa em seus espaos amplos eformas arquitetnicas complexas. A cidade, que nasceu de um sonho,tomou vida e amadureceu.

    Palavras-chave:Braslia, formas estruturais, arquitetura

    ABSTRACTThis text shows the evolution of current structural forms in the architectureof Brasilia since its construction and up to the present day. In spite of thedominant presence of concrete structures, in the geniality of the forms put

    forth by Oscar Niemeyer, also in the Brasilia townscape are works in brick,timber, ferrocement and steel. The structural boldness of the earlystructures gained ground in the experimental laboratory which was theconstruction of the University of Brasilia (ICC, Central Science Institute,and Colina Velha, a housing quarter). It went on in the architecture of Jooda Gama Filgueiras Lima (Lel), Zanine, Pier Luigi Nervi, Srgio Paradaand Alexandre Chan. Walking among the structural forms of its elements,we can see the city's heartbeat in its wide spaces and complexarchitectural shapes. The city, born of adream, breathed life and matured.

    Key-words:Braslia, structural forms, architecture

  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    2/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    2

    A estrutura no somente um meio para alcanar uma soluo. igualmente um princpio, uma paixo, j dizia Marcel Breuer1. Paixo estaque pode se transformar em obra de arte, quando a busca pela superfcieperfeita e o jogo equilibrado das estruturas transcendem o material.

    Braslia surge dinmica, nas inusitadas formas estruturais em concreto.Mas soube, como qualquer cidade em desenvolvimento, se adaptar aosnovos materiais: madeira, ao e alumnio se interagem para dar ritmo,contraste e luz ao cerrado. A cidade se transforma na imaginaocriadora de seus arquitetos.

    O primeiro dentre eles foi Oscar Niemeyer, que faz da construo deBraslia (1956-1960) um canteiro experimental desta fascinante aventurade concepo de formas estruturais, realizveis em grande parte pelognio criador do engenheiro Joaquim Cardozo. A parceria com Cardozocomeou em 1940, no conjunto de projetos desenvolvidos para o bairroda Pampulha, em Belo Horizonte (Cassino, Casa do Baile, Iate Clube e

    Igreja So Francisco de Assis). Juscelino Kubitschek, prefeito de BeloHorizonte, convocou Oscar Niemeyer para os projetos de arquitetura e,eleito presidente do Brasil, em 1955, teve como meta a transferncia dacapital do pas do Rio de Janeiro. Novamente, ser Niemeyer o arquitetoescolhido para elaborar os projetos arquitetnicos dos principais edifciosgovernamentais, que aliado ao plano urbanstico, produto de um concursopblico divulgado em setembro de 1956, dar origem nova capital.

    Braslia toma forma no plano urbanstico desenhado por Lcio Costa e nagenialidade criativa de Niemeyer, que imprime a sua marca nos principaismonumentos arquitetnicos, construdos, em grande parte, nos quatro

    anos que antecederam inaugurao da cidade. Ser ao longo do eixoMonumental, que corta o Plano Piloto no sentido leste/oeste, que o seutrao singelo continuar a pincelar o cu do cerrado ao longo destes 46anos.

    A descoberta e o aperfeioamento da protenso por Eugne Freyssinetpossibilitou a evoluo das grandes construes em concreto armado. Oconcreto, tratado em cascas e em membranas delgadas, originou formasvariveis que sero determinadas pelas curvas matemticas dassuperfcies geomtricas. Em sua obra, Niemeyer mostra como umaimaginao criadora une a forma e a tcnica para dar vida ao concreto. Apesquisa de formas livres e o amor pela curva comearam no projeto daPampulha, encontraram em Braslia um campo frtil de desenvolvimentoe sero doravante o fio condutor de sua arquitetura.

    A leveza e a esbeltez nas formas estruturais so perseguidas ao extremo.Ajudado por Cardozo, Niemeyer procura se aproximar dos limitesmximos da resistncia dos materiais. No processo de criaoarquitetnica est presente o engenheiro de estruturas, que o ajuda aexplorar as formas estruturais, a buscar a proporo correta e a moldar omaterial, como nas cascas parablicas que cobrem a Igreja SoFrancisco e na marquise curva que acompanha a margem do lago daPampulha. Dezesseis anos depois, em pleno cerrado, o concreto armado

    brota do solo em formas criativas, possibilitando uma arquitetura maislivre, substituindo os ngulos retos por curvas sinuosas. Niemeyer molda

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    3/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    3

    o concreto, busca a liberdade absoluta das formas estruturais e a levezaque o material pode oferecer: Braslia mostra ao mundo que o concretoarmado tudo deve permitir, em termos de esbeltez, vos audaciosos,formas livres retas, curvas, assimtricas desde que conciliada indispensvel viabilidade estrutural2.

    Os palcios de Braslia foram criados tendo em mente o apurotecnolgico e as formas simples, que encontrariam na estrutura o seuprincipal apoio. Como Niemeyer declara: Dentro dessa arquitetura,procurei orientar meus projetos caracterizando-os, sempre que possvel,pela prpria estrutura. Nunca baseada nas imposies radicais dofuncionalismo, mas sim, na procura de solues novas e variadas, sepossvel lgicas dentro do sistema esttico. E isso sem temer ascontradies de forma com a tcnica e a funo, certo que permanecemunicamente as solues belas, inesperadas e harmoniosas. Com esseobjetivo, aceito todos os artifcios, todos os compromissos, convicto de

    que a arquitetura no constitui uma simples questo de engenharia, masuma manifestao do esprito, da imaginao e da poesia3.

    A obra de arte surge quando responde s foras estruturais com oconsumo mnimo de material: todo suprfluo eliminado nos projetos deBraslia. Alm da esbeltez das lajes das coberturas, nota-se um apuradorigor na forma plstica das colunas, com suas dimenses reduzidssimasnos pontos de apoio, dando leveza aos palcios, como se eles apenastocassem o solo. Nestas sees, como explica Jos Carlos Sussekind,verdadeiramente limites, as colunas precisam ser to intensamentearmadas que corre a anedota no sei se verdadeira de ter o Cardozorecomendado a colocao de tantas barras de ao quantas coubessem,depois preenchendo os vazios com concreto: tais sees esto, assim,mais para ao--milanesa do que para concreto armado. Com suaaudcia, Cardozo desrespeitou, conscientemente, as normas tcnicascorriqueiras e nos deu a viabilidade, para sempre, da beleza dospalcios4.

    Figura 1: Colunas do Palcio da Alvorada.Foto da autora.

    Figura 2: Mezanino do Palcio doItamarati. Foto da autora.

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    4/19

  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    5/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    5

    internos ao edifcio para absorver a maior parte das cargas, aliviando asolicitao dos pilares da fachada e possibilitando, assim, trabalharplasticamente os apoios. A forma similar a dos meios pilares dafachada principal do Palcio da Alvorada, embora aqui as curvasinferiores e superiores estejam voltadas para a lateral do edifcio, e a

    fachada principal, voltada para a praa, se caracteriza pela arestaretilnea. No Palcio do Planalto, os pilares recebem exclusivamente ascargas da laje de cobertura, que diminui de espessura em direo fachada e a curva inferior do pilar acentuada, indo de encontro laje doprimeiro pavimento, a quatro metros do solo, sem, no entanto, o suportar.No Supremo Tribunal Federal, alm de suportar as cargas da laje decobertura, os pilares recebem tambm a carga da parte externa daprimeira laje, situada a um metro e vinte acima do solo.

    A leveza e a esbeltez so perseguidas com obsesso. Um exemplomarcante o Congresso Nacional (1958-1960, Fig. 5), cuja forma e

    dimenses escapam aos padres usuais, atraindo a ateno dosespecialistas mundiais para a soluo estrutural adotada. Soluo estaque situa as cpulas invertidas do Senado e da Cmara dos Deputadosnuma grande plataforma horizontal (200m x 80m), com trs pavimentos,compondo-se com a linha vertical dos edifcios gmeos de 27 andares,que abrigam os servios (Fig. 6). Niemeyer conta que Cardozo exultouquando lhe telefonou para dizer: Encontrei a tangente que vai permitirque a cpula da Cmara parea apenas pousada na laje6. Mas, osproblemas estruturais iam alm da concepo da forma geomtrica dacpula invertida (calota esfrica) da Cmara dos Deputados, que recebe oforro horizontal e uma cobertura em forma de coroa de crculo, com

    finalidade aparentemente esttica. O grande empuxo produzido por estacobertura constitui o ponto crucial do projeto, resistido por anis de ao,sob a forma de vergalhes embutidos no concreto.

    Figura 5: Congresso Nacional. Foto daautora.

    Figura 6: Corte esquemtico, mostrando ascpulas do Senado e da Cmara dosDeputados.

    O arrojo estrutural continua na estrutura em concreto armado da Catedralde Braslia (Fig. 21), calculada por Cardozo e concluda em 1960, antes

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    6/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    6

    da inaugurao da cidade. Os dezesseis pilares curvos, em hiperbolidesde revoluo, representam um desafio aos conceitos estruturais vigentes,uma vez que aqui encontram a sua estabilidade no anel circular de trao,sobre o qual esto apoiados, e tambm num anel de compresso, situadono no topo e sim a dez metros abaixo deste ponto. O anel superior no

    visvel, passando por dentro dos pilares, e o anel inferior, na altura dopiso, alm de absorver os esforos de trao, funciona como um tirante,reduzindo a carga nas fundaes aos esforos verticais. A laje dacobertura tem funo apenas de vedao, possibilitando ventilaonatural atravs de seu orifcio central. Esses pilares esto reunidos entresi por panos de vidros e o seu carregamento inicial, previsto por Cardozo,restringia a carga ao do vento e ao peso de uma esquadria leve, emplstico. Posteriormente, a soluo proposta em trelia espacial, alm dedirigir os carregamentos maiores para o solo, permitiu a fixao das duascamadas de vidro na estrutura hexagonal do banzo inferior e superior datrelia.

    Nos primeiros anos aps a inaugurao de Braslia, a introduo doconcreto protendido e o incio da pr-fabricao direcionaram algunsprojetos. O Centro de Planejamento Oscar Niemeyer CEPLAN, oConjunto Residencial da Colina e o Instituto Central de Cincias - ICC,situados no Campus da Universidade, so exemplos marcantes destanova concepo estrutural. O CEPLAN (1961, Figs. 7 e 8), um bloco deum pavimento projetado por Niemeyer, foi construdo apenas com doiselementos construtivos: pilares com seo em U, que funcionavamtambm como painis de vedao, e vigas de cobertura, ambos emconcreto armado pr-fabricado.

    Figura 7: CEPLAN, construdo apenas comdois elementos construtivos. Desenho deOscar Borges Kneipp.

    Figura 8: Vista interna do CEPLAN.Desenho de Oscar Borges Kneipp.

    Durante a construo da cidade, uma linha tnue delimitava a ao doarquiteto e do engenheiro. Foi nesta poca que um jovem arquiteto, Jooda Gama Filgueiras Lima, mais conhecido como Lel, enviado porNiemeyer para construir uma superquadra, desenvolve habilidades do

    oficio de engenheiro, na busca de solues construtivas para os diversosproblemas que surgiam no canteiro de obras catico deste perodo. Em

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    7/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    7

    1962, Niemeyer o convida novamente para fazer parte da equipe quedesenvolveria os projetos para a Universidade que Darcy Ribeiro haviacomeado a montar.

    Os sistemas pr-fabricados em concreto se iniciam nos prdios de Galpode Servios Gerais, mas so nos quatro prdios de apartamentos para osprofessores da Universidade Colina Velha (1962, Fig. 9) que elesadquirem uma fora nunca antes vista. Nestes, Lel utiliza as prumadasde circulao vertical, em concreto armado fundido in loco, paracontraventar e dar rigidez construo. Os demais elementos so pr-moldados: vigas gerber, de seo U protendidas, sobre as quais seapiam lajes nervuradas, tambm protendidas, que constituem os pisosdos apartamentos. Nos extremos dos blocos, as vigas so fixadas nospilares por pinos de ao e as divises internas so feitas com painis pr-fabricados (Fig. 10).

    Figura 9: Colina Velha primeirosprdios de habitao em concreto pr-fabricado. Foto da autora

    Figura 10: Sistema construtivo da pr-fabricao dos prdios da Colina Velha.Desenho de Lel.

    Com dois pavimentos e um subsolo, a estrutura do Instituto Central deCincias- ICC (1963-71, Fig. 11), projetado por Niemeyer e desenvolvido

    por Lel, composta por grandes prticos pr-moldados de concretoprotendido. Sobre uma estrutura em radier de cascalho, foramconstrudas sapatas pr-moldadas, relativamente pequenas, nas quaisso inseridos os pilares pr-fabricados. O sistema principal de pilar-vigase estende pelos 720 m de comprimento do bloco levemente curvo. Notrreo e no primeiro pavimento, as lajes tipo calha so apoiadas em vigasduplas pr-moldadas que se apiam, por sua vez, em pilares, tambmduplos. Os pilares da periferia sobem at o nvel da cobertura e recebemvigas em perfil T, que trabalham separadamente. Entre elas, uma calhade alumnio recebe as guas pluviais e as conduzem at fachada.Sobre os jardins, estas vigas perdem as abas do T e se apiam nos

    pilares, constituindo um pergolado ao longo destes (Fig. 12).

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    8/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    8

    Ainda dentro do Campus, o prdio da Reitoria (1972-75), projeto de Paulode Melo Zimbres, com a colaborao de rico Paulo Siegmar Weidle,integralmente construdo em concreto armado, introduz a estruturasuspensa no volume do auditrio, suportado por tirantes na estrutura dacobertura.

    Figura 11: Universidade de Braslia ICCVista Area. Foto Arquivo CEDOC.

    Figura 12: ICC Trecho da Fachada dosAuditrios: 1. Pilares pr-moldados; 2.Platibanda pr-moldada; 3. Viga paraapoio das lajes do piso; 4. Lajes pr-moldadas de piso; 5. Ranhuras paraventilao; 6. Placas de pr-moldados deconcreto para fechamento dos auditrios.Desenho de Oscar Borges Kneipp.

    A hegemonia das estruturas em concreto na arquitetura de Braslia quebrada pelas construes simples, funcionais e belas do arquiteto JosZanine Caldas. Zanine, o grande mago da madeira brasileira, autodidatana arte de confeccionar maquetes e, em seguida, de transp-las obraem tamanho real, colaborou com a elite da arquitetura moderna,confeccionando maquetes para Oscar Niemeyer, Oswaldo Bratke, RinoLevi, Vilanova Artigas, da mesma forma que circulava com desenvolturacom os arquitetos que fizeram Braslia: Lcio Costa, Alcides RochaMiranda e Lel. Nos primeiros anos que se seguiram construo danova capital, sua obra tomou impulso. Tinha a capacidade de gerarprojetos de maneira eficiente e simples, que s algum com o dom natopara o ofcio poderia faz-lo, a tal ponto que Niemeyer afirmou: Zanine um caso feliz de autodidata. Sua escola foi a prpria vida e a arquiteturaseu caminho natural e inevitvel7.

    Tom Jobim costumava dizer que o melhor lugar do mundo para se morarera uma casa de Zanine. Em Braslia, entre as inmeras casas queprojetou, a do casal Bettiol (Fig. 13), situada numa colina defronte para oLago Parano, mostra a total integrao com a natureza. Os espaos soamplos, a luz natural privilegiada e a construo se adapta ao terreno.

    Iniciada em 1975 e talhada na madeira nos quatro anos subseqentes,ela surge com apuro esttico e estrutural. A madeira de lei pulsa nos

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    9/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    9

    troncos de brana (pilares), de aroeira (vigas) e de ip (piso, teto, portas e janelas). A casa se desenvolve em trs mdulos independentes umcentral e principal (rea social) e dois ligeiramente recuados (quartos) -,interligados por uma varanda. Resgata a influncia da arquitetura colonialbrasileira, com os beirais avantajados, muitas janelas, a combinao da

    alvenaria com vigas e pilares de madeira e grandes espaos comiluminao natural e zenital (lanternim). A casa a prpria estrutura, queZanine evidencia nas peas macias de madeira de quatorze metros decomprimento e nos detalhes de fixao dos elementos que compem otelhado. Os fechamentos so em vidro, com algumas poucas paredes dealvenaria.

    Figura 13: Casa Bettiol. Foto StphaneHerbert.

    Figura 14: Embaixada da Itlia: pilaresem forma de rvores sustentam aestrutura em concreto. Foto da autora.

    A partir dos anos 70, as sedes das Embaixadas comearam a serconstrudas em Braslia, com destaque para a da Embaixada da Itlia(1973-77, Fig. 14), cujo projeto foi confiado ao engenheiro-arquitetoitaliano Pier Luigi Nervi. Respondendo a uma orientao do governobrasileiro que as embaixadas se enquadrassem no estilo arquitetnico deBraslia, Nervi optou pelo emprego do concreto armado, do qual foi umdos expoentes no sculo XX.

    Buscando elementos estruturais desenvolvidos por Antoni Gaud (pilaresramificados em forma de rvores), Nervi projetou um prdio organizadoem um nico bloco elevado sobre robustos pilares de concreto, queavana parcialmente sobre um extenso espelho dgua. este elementoestrutural que simbolicamente faz aluso s florestas tropicais, que dfora e unidade ao conjunto. Os pilares quadricspides deixam livre apassagem da luz pelo alto e sustentam o corpo do prdio principal. Dotopo do pilar se ramificam quatro braos, que recebem as resultantes dasforas das vigas de contorno da laje nervurada. Eles prosseguem at opiso inferior, formando grandes pilotis que do leveza ao conjunto. Obloco abriga a residncia do Embaixador, os sales de representao, osescritrios da Chancelaria e um ousado teatro-sala de concerto, que podeacomodar mais de 250 pessoas. A estrutura em grelha retilnea da

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    10/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    10

    cobertura do teatro prossegue em hexgonos, nas laterais inclinadas, quedirecionam as foras para pilares situados nas quatro extremidades,tambm inclinados segundo a componente final das foras. Ao contrriodo que se supunha, a concepo estrutural em concreto armado conferea uma unidade intrinsecamente pesada, uma excepcional leveza.

    Figura 15: Vista interna da Casa Borges,mostrando a estrutura em arcos.Desenho Lel.

    Figura 16: Casa Borges: da unio de doisarcos, nasce um terceiro. Desenho Lel.

    No domnio quase absoluto do concreto armado, a Residncia NivaldoBorges (1972-75), na qual Lel busca nas razes catals o uso do tijolo naforma de arcos e abbadas, surge como um projeto atpico nas formasestruturais de Braslia. O tijolo, material bsico de construo, empregado na execuo das paredes de vedao e na prpria estrutura.Este retorno s tcnicas artesanais simples de construo no foiobstculo criao de espaos internos ricos, com tetos abobadados eseus grandes arcos vencendo vos de mais de seis metros (Fig. 15). Ascoberturas abobadadas, apoiadas em vigas de concreto, formam tetos

    ajardinados e se estendem por quase toda a casa. Da unio de doisarcos, nasce um terceiro, que alm de proporcionar um p-direito duplo,permite o grande vo central. Os arcos, por sua vez, se apiam empilares de tijolos (Fig. 16).

    Porm, no Hospital Sarah Kubitschek Braslia Doenas do AparelhoLocomotor (1975-80, Fig. 17), Lel retoma os pr-moldados em concreto,e avana significamente em suas pesquisas sobre a racionalizao dossistemas construtivos. Nota-se aqui a padronizao dos elementos deconstruo com a elaborao de um elemento pr-fabricado de laje, quevence vos variveis e permite a criao de terraos-jardins alternados,cujas aberturas correspondem aos octgonos das vigas vierendeel quecompem as fachadas e que se apiam nas torres de concreto decirculao vertical.

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    11/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    11

    Figura 17: Vista area do Hospital Sarah Kubitschek Braslia Doenas do AparelhoLocomotor. Abaixo, em primeiro plano, o novo Auditrio do Complexo do Hospital. FotosLel.

    Mas, ser na tecnologia da argamassa armada que Lel imprimir umadimenso nunca antes experimentada no Brasil. As experincias com pr-

    fabricao em argamassa armada, desenvolvidas nos anos oitenta,serviro para avaliar o potencial do material na produo de componentesmais sofisticados para a execuo de edifcios. A complexidade doprograma e a grande variedade na tipologia das implantaesdeterminaram a criao de mais de duzentos componentes para osCentros Integrados de Ensino CIACs, construdos em Braslia em 1990.Bancos, passarelas e abrigo de nibus em argamassa armada comeamtambm a fazer parte do cenrio do Plano Piloto.

    O domnio tcnico desta tecnologia, aliado ao ao e ao concreto, atinge opice no hospital Sarah, do Lago Norte (1995-2003, Fig. 18), onde aindustrializao possibilitar uma construo rpida e eficiente. Os trsblocos principais so em elementos pr-fabricados em ao e argamassa

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    12/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    12

    armada; o concreto armado aparecendo apenas nas cintas fundidas nolocal e em algumas sapatas isoladas.

    Figura 18: Foto area mostrando o conjunto de edificaes do Hospital Sarah do LagoNorte. Foto Lel.

    No bloco principal e superior prevalece a estrutura dos sheds metlicos,cujo arcabouo formado por vigas longitudinais em chapa dobrada etrelias que se apiam nestas vigas, formando as aberturas dos sheds. Acobertura dos barcos feita atravs de arcos que encontram apoio porum lado no prprio terreno e, por outro, nos pilares situados ao longo davaranda. A beleza plstica e formal ampliada no bloco intermediriocircular, destinado fisioterapia infantil, cujo espao moldado por 64

    vigas radiais que se apiam num anel perifrico circular e se lanam parao alto, encontrando um anel central aberto para a extrao do ar quente.No bloco superior, o auditrio composto por uma estrutura especial,formada por vigas tambm treliadas, vencendo vos de 28 metros. Ospilares tubulares em ao da estrutura, por onde escorrem as guaspluviais, se apiam ora em sapatas isoladas de concreto, ora em galeriaspara a passagem de tubulaes, executadas em argamassa armada.Todos os elementos verticais, que sejam as paredes externas dosdiversos blocos ou as divisrias internas, so tambm constitudos nestemesmo material.

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    13/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    13

    Figura 19: Bloco circular intermedirio,destinado fisioterapia infantil. As 64 vigasradiais se apiam sobre um anel perifricocircular. Foto Lel.

    Figura 20: Detalhe do esquema deventilao e luminosidade atravs dossheds metlicos no bloco principal doHospital Sarah do Lago Norte. Desenho efoto Lel.

    Os sistemas de estruturas espaciais, em ao ou alumnio, desenvolvidosna Europa e nos Estados Unidos a partir da 2 Guerra Mundial, surgiramcomo uma excelente possibilidade estrutural para cobertura de grandesvos, obtendo-se uma estrutura mais leve e econmica. No Brasil, oimpulso foi dado com a construo do Centro de Exposies do Anhembi,em 1971. Em Braslia, estes sistemas surgiram nos anos oitenta, com aconstruo dos Terminais Rodovirios (Cruzeiro, Taguatinga Sul e Norte,Ceilndia, Brazlndia e Guar), utilizando inicialmente cantoneirassoldadas, que foram substitudas pelos tubos, to logo a sua produopassou a ser competitiva.

    A primeira idia de utilizao de uma malha espacial nos projetosarquitetnicos a soluo proposta para o fechamento lateral, entre ospilares de concreto, da Catedral (Fig. 21). Embora no se trate aqui de umn espacial, uma vez que as barras so constitudas de vergalhes deao de soldadas, tanto o banzo inferior como o superior da trelia soconstitudos de hexgonos alongados, seccionados horizontalmente,formando dois trapzios e unidos por diagonais (Fig.22).

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    14/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    14

    Figura 21: Catedral de Braslia. Foto daautora.

    Figura 22: Detalhe da fixao das duascamadas de vidro sobre a estruturahexagonal da malha tridimensional e sobrea estrutura em concreto da Catedral deBraslia. Foto da autora.

    A Associao Mdica de Braslia (1981-83), projeto do arquiteto PauloZimbres, introduziu o tubo nas malhas espaciais em Braslia, mas foi aFeira do Guar (1983), em cujo projeto o engenheiro Rodney Farahexplora as potencialidades do tubo e do novo n, o Cruzeta, queconsolidar, aos olhos dos arquitetos, as vantagens de uma soluoespacial.

    O arquiteto Rogrio Carvalho de Mello Franco teve papel significativo no

    desenvolvimento destas estruturas, com o prdio Hangar 5 (1981-82), emestrutura tubular em n Tpico ou Borboleta. No projeto da Creche doItamarati Fundao Cabo Frio, realizado em seguida (1982), propeuma soluo em cantoneira soldada para a construo do primeiro esegundo blocos, mas para o terceiro mdulo, finalizado em 1993, aestrutura apresenta evolues com o n Noxframe. com este sistemaque cobrir as quadras poliesportivas do Colgio INEI, em 2002, emboratenha utilizado o n Capacete na primeira parte da obra, realizada em1986.

    Mesmo considerando os cuidados que uma estrutura em alumnio requer,a ALUSUD, empresa responsvel pela execuo da maior reaconstruda em estruturas espaciais no Brasil, realizou, em Braslia, duasgrandes obras em estrutura espacial mista (barras em alumnio e ns emao), utilizando sistemas similares ao Cruzeta e ao Tpico. No Estdio deFutebol Man Garrincha (1981-83), a estrutura espacial em N de Ao(chapas soldadas e galvanizadas a fogo), similar ao Cruzeta, se apia noprtico de concreto das arquibancadas, com balanos de trinta e doismetros, tendo um fechamento curvo. O Pavilho de Exposio do Parqueda Cidade (1990), realizado com o n estampado Kiefer, onde os banzose diagonais ficam unidos atravs de um nico parafuso central, entroupara o Guinness Book como a maior rea de estrutura espacial

    (54.000m) montada e erguida em menor espao de tempo (100 dias).Mas, o preo proibitivo do alumnio (cinco vezes o do ao) faz com queprevaleam as estruturas espaciais em ao.

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    15/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    15

    Em Braslia, vemos a predominncia do n Cruzeta, de fabricaosimples e trs vezes mais barato que o Mero. Mas, em um casoexcepcional, em que preocupaes estticas se sobrepuseram sconsideraes de custo, optou-se por um sistema mais caro, o Sphere,derivado do Mero. Essa opo foi feita pela empresa Paulo Otvio, na

    execuo da cobertura do Braslia Shopping (1992-94).Na primeira etapa de ampliao do Aeroporto de Braslia (1990-92), oarquiteto Srgio Parada prope uma estrutura espacial em n Tpico,composta de barras em alumnio e parafusos de ao, que se apia empilares de concreto, atravs de apoios piramidais invertidos, aumentandoo conforto trmico e luminoso sobre o viaduto de embarque edesembarque de passageiros (Fig. 23). Numa segunda etapa, em 1995, oterrao panormico foi coberto por um sistema espacial diferente, sendoutilizado o n semi-esfrico, com furos rosqueveis, em ao cromado,conhecido como n Facetado (Fig. 24). Nestes, as ponteiras das

    extremidades dos tubos so aparafusadas no n.

    Figura 23: Vista da rea de embarque edesembarque dos passageiros doAeroporto de Braslia, coberta por umaestrutura espacial tridimensional. Foto daautora.

    Figura 24: N Facetado, semi-esfrico,utilizado para cobrir o terrao panormicodo Aeroporto de Braslia. Foto da autora.

    As malhas espaciais so usadas como fachadas (parede-cortina) emcasos espordicos, como no projeto do Banco Inter Americano deDesenvolvimento BID (1996), do arquiteto Jos Galbinski. No hconstrues de cpulas at o momento, embora as malhas espaciais(trelia espacial de dupla camada superposta, ligada por triangulao)permitam a construo de cpulas de dupla camada.

    Aps quarenta anos, Braslia ainda palco de estruturas inovadoras. Otema da estrutura suspensa foi retomado por Niemeyer no prdio daProcuradoria Geral da Repblica (1995-2002, Fig. 25), com seis blocosinterligados por um nico subsolo. Apesar da geometria bsica, o projetoesconde num jogo de lajes, vigas e pilares, uma complexidade inerente forma arrojada da estrutura. Como ele mesmo afirma, aqui h um desafionecessrio ao progresso da tcnica construtiva8. Esforo este

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    16/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    16

    dissimulado pelos reflexos do vidro azulado da fachada, que esconde aestrutura.

    Duas passarelas fechadas, situadas no 5 e 8 andares, e uma passarelaaberta, na altura do mezanino, ligam os dois blocos principais circulares.O edifcio que abriga o gabinete do Procurador Geral ganha destaquepelo arrojo estrutural: de uma estrela, composta de oito braos deconcreto protendido, apoiada num nico pilar central cilndrico, todopreenchido por concreto, saem tirantes, tambm de concreto, quesustentam os seis andares do bloco cilndrico, soltos no ar, liberandoassim todo o trreo. Em outro bloco similar, o edifcio administrativo,Niemeyer faz com que a edificao fique pousada sobre pilares. Aqui, ospavimentos cilndricos so apoiados em oito pares de pilares delgados,situados ao longo do permetro externo e interno da circunferncia, queprosseguem at o trreo. Origina-se um edifcio de planta livre, tendo osdezesseis pilares e a circulao situada no miolo do prdio como

    elementos fixos (Fig. 26).

    Figura 25: Vista externa do Prdio daProcuradoria Geral da Repblica. Fotoda autora.

    Figura 26: Procuradoria Geral da Repblica- Corte esquemtico do Prdio dosGabinetes e dos Funcionrios.

    A ponte Juscelino Kubitschek (Fig. 27), a terceira sobre o Lago Sul,

    inaugurada em abril de 2002, vem coroar as formas inusitadas deestruturas na nova capital. Na busca da soluo plstica e estrutural, oarquiteto Alexandre Chan se uniu aos engenheiros Mrio Vila Verde,Filemon Botto de Barros e Piotr Slawinski para propor um projetoarrojado, vencedor do concurso pblico, e fundamentado nas seguintespalavras: com vistas a reduzir a quantidade de pilares e de fundaes,foram projetados trs vos de 240 metros, a serem vencidos porarrojados arcos de ao que sustentam o plano nico do tabuleiro por meiode estais formados por cordoalha de ao especial. O aspecto monumentalda obra caracterizado pelos arcos, que cruzam diagonalmente, e emseqncia, o espao areo do tabuleiro, apoiados em pontos opostos e

    formando planos inclinados, com as seqncias radiais dos estais,dispostos nas laterais das pistas de rodagem9.

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    17/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    17

    Figura 27: Terceira ponte do Lago Sul.Foto da autora.

    Figura 28: Detalhe da estrutura estaiada daterceira ponte do Lago Sul. Foto StphaneHerbert.

    Embora a escala monumental da ponte choque com a linearidade dourbanismo proposto por Lcio Costa, o seu apuro do ponto de vistaestrutural inquestionvel, a tal ponto que a firma de engenhariaLeonhardt, Andr und Partner, uma das mais conceituadas em pontes daEuropa, ressaltou que, apesar de sua complexidade, a ponte possuigeometria e estabilidade estrutural perfeitas, em correspondnciastrocadas com a Via Dragados10, responsvel por sua construo.

    Para dar maior rigidez ao conjunto, os trs arcos que suportam o tabuleiroso em concreto de sua nascente at o nvel do tabuleiro, e a partir dafabricados em mdulos de ao, enrijecidos transversalmente a cada trs

    metros por diafragma em perfil T ligado s paredes. Os dezesseis estaisde cada arco foram distribudos em pares ao longo do tabuleiro emdistncias regulares de vinte metros e ao longo da face inferior do arcoem intervalos de dezoito metros. So oito estais de cada lado, ligando aface inferior dos arcos com as travessas de apoio que se projetamlateralmente dos tabuleiros. Eles so inclinados para convergir daextremidade da travessa do tabuleiro at o arco projetado em diagonalcom o tabuleiro. A ancoragem inferior fixa, sem possibilidade deajustagem, e a superior regulvel, o que possibilita a correo depequenas alteraes de tenso ou de alongamento (Fig. 28).

    H muito que dizer sobre as estruturas de Braslia. A beleza escultricade Niemeyer permanecer, por muitos anos, como um acontecimentomarcante de engenharia. Mas, aps 40 anos, Braslia ainda uma viagemsurpresa, a matria se transforma nas mos hbeis de seus construtores,a cidade se modifica, deixando aberto o livro de sua arquitetura.

    1 No original: La structure nest pas seulement un moyen pour aboutir une solution. Cest galement un

    principe, une passion. Citado em:Btons matire darchitecture. Paris: Editions Rgirex-France, 1991,

    p. 712 NIEMEYER, Oscar. Conversa de amigos: correspondncia entre Oscar Niemeyer e Jos Carlos

    Sussekind. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2002, p. 123 NIEMEYER, Oscar. Forma e Funo na Arquitetura. Mdulo. Rio de Janeiro, dezembro 1960, p. 3-74 NIEMEYER, Oscar; SUSSEKIND, Jos Carlos. Conversa de amigos: correspondncia entre Oscar

    Niemeyer e Jos Carlos Sussekind. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2002, p. 13-14

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    18/19

    P@rano eletrnico ISSN 1679-0944http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm

    Volume 9, publicado em 23/04/2007.

    18

    5 Id., ibid., p. 146 Id., ibid., p. 187 SILVA, Sueli Ferreira da (projeto e coordenao).Zanine: sentir e fazer. Livraria Agir Editora, 1989.8 NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer Minha Arquitetura 1937-2004. So Paulo: Editora Revan, 2004,

    p. 268

    9 VISCONTI, Elizeu (produo de textos). Ponte JK Braslia. Rio de Janeiro: Educabem Editora, 2002,p. 3310 Id.,ibid., p. 40-41

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Btons matire darchitecture. Paris: Editions Rgirex-France, 1991.

    CTRS Centro de Tecnologia da Rede Sarah Joo Filgueiras Lima (Arquiteto Lel). Braslia:

    Associao das Pioneiras Sociais e Rede SARAH de Hospitais do Aparelho Locomotor.

    LIMA, Joo Filgueiras. Joo Filgueiras Lima Lel. Lisboa: Editorial Blau Lda. E Insituto Lina Bo e P.

    M. Bardi, 2000.

    LUIGI, Gilbert. Oscar Niemeyer Une esthtique de la fluidit. Marseille: Editions Parenthses, 1987.

    NIEMEYER, Oscar. Forma e Funo na Arquitetura. Mdulo. Rio de Janeiro, dezembro 1960.

    NIEMEYER, Oscar; SUSSEKIND, Jos Carlos. Conversa de amigos: correspondncia entre Oscar

    Niemeyer e Jos Carlos Sussekind. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2002.

    NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer Minha Arquitetura 1937-2004. So Paulo: Editora Revan, 2004.

    PORTO, Cludia Estrela. Tipologias Arquitetnicas de Estruturas Espaciais em Braslia. Braslia, 2003.

    Trabalho desenvolvido com o apoio do CNPq.

    SILVA, Sueli Ferreira da (projeto e coordenao). Zanine: sentir e fazer. Rio de Janeiro: Agir Editora,

    1989.

    UNDERWOOD, David. Oscar Niemeyer e o modernismo de formas livres no Brasil. So Paulo: Cosac &

    Naify Edies, 2002.

    VISCONTI, Elizeu (produo de textos). Ponte JK Braslia. Rio de Janeiro: Educabem Editora, 2002.

    http://www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/paranoa.htm
  • 8/4/2019 Formas Estruturais Arquitetura Brasilia

    19/19

    This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com.The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.This page will not be added after purchasing Win2PDF.

    http://www.win2pdf.com/http://www.win2pdf.com/http://www.win2pdf.com/http://www.win2pdf.com/http://www.win2pdf.com/