formas e tÉcnicas utilizadas para obtenÇÃo e … · utilizadas para a obtenção e armazenamento...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA José Veloso Soares FORMAS E TÉCNICAS UTILIZADAS PARA OBTENÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE MARCOLÂNDIA-PI Florianópolis - SC 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

José Veloso Soares

FORMAS E TÉCNICAS UTILIZADAS PARA

OBTENÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA

PARA CONSUMO HUMANO NA ZONA RURAL DO

MUNICÍPIO DE MARCOLÂNDIA-PI

Florianópolis - SC

2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

José Veloso Soares

FORMAS E TÉCNICAS UTILIZADAS PARA

OBTENÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ÁGUA

PARA CONSUMO HUMANO NA ZONA RURAL DO

MUNICÍPIO DE MARCOLÂNDIA-PI

PROFESSOR DR. ANTÔNIO EDÉSIO JUNGLES Coordenador do Curso

PROFESSORA MARIA INÊS RESENDE CUNHA Professor Orientador

Florianópolis -SC

2005

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FORMAS E TÉCNICAS UTILIZADAS PARA OBTENÇÃO E

ARMAZENAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO

HUMANO NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE

MARCOLÂNDIA-PI

José Veloso Soares

Monografia a ser submetida ao corpo docente da Coordenação Geral do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Especialista em Planejamento e Gestão em Defesa Civil.

Aprovado por:

___________________________________________ MARIA INES RESENDE CUNHA

Orientadora

___________________________________________ MARIA ITAYRA C. DE S. PADILHA, Dra.

1° membro

___________________________________________ FLAVIA REGINA RAMOS, Dra.

2° membro

___________________________________________ ANTÔNIO EDÉSIO JUNGLES, Dr.

Coordenador do Curso

FLORIANÓPOLIS – SANTA CATARINA - BRASIL

NOVEMBRO DE 2005

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“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

Euclides da Cunha

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Dedico este trabalho a todos que reconhecem o valor do homem do campo.

José Veloso Soares

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Agradecimentos

Agradeço a Deus, fonte inesgotável de fé e esperança do homem.

Agradeço a minha esposa e filhos, que foram privados de minha presença em momentos importantes de suas vidas, que este trabalho seja motivo de orgulho e estímulo.

Agradeço aos meus pais e irmãos, que tanto incentivaram na luta para superar os obstáculos.

Agradeço à Defesa Civil Nacional por ter proporcionado o Curso, e à Universidade Federal de Santa Catarina por concretizar sua realização.

Agradeço ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Piauí, pela oportunidade em participar do Curso, e proporcionar a elaboração do presente trabalho.

Agradeço, enfim, a todos que valorizam o Estado do Piauí com o seu trabalho.

José Veloso Soares

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Sumário

RESUMO ........................................................................................................................... 12

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

1.1 Contextualização do tema .................................................................................. 13

1.2 Objetivos ............................................................................................................ 16

1.2.1 Objetivo geral ........................................................................................... 16

1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................. 16

1.3 Justificativa ........................................................................................................ 16

1.4 Estrutura do trabalho .......................................................................................... 17

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 19

2.1 A seca e seus efeitos .......................................................................................... 19

2.2 Gestão de risco ................................................................................................... 26

2.3 A Constituição Federal e o desenvolvimento regional ...................................... 30

3. METODOLOGIA ..................................................................................................... 33

3.1 Metodologia ....................................................................................................... 33

3.2 Coleta de dados .................................................................................................. 33

4. ESTUDO DE CASO ................................................................................................. 35

4.1 Descrição do município ..................................................................................... 35

4.1.1 Localização ............................................................................................... 35

4.1.2 Aspectos socioeconômicos ........................................................................ 37

4.1.3 Aspectos fisiográficos ............................................................................... 38

4.1.4 Geologia .................................................................................................... 39

4.1.5 Águas subterrâneas ................................................................................... 40

4.1.6 Diagnóstico dos pontos cadastrados junto ao CPRM .............................. 41

4.2 Resultados e Discussão ...................................................................................... 43

4.2.1 Local pesquisado ...................................................................................... 43

4.2.2 Água para consumo humano residencial .................................................. 45

4.2.3 Cisterna ..................................................................................................... 51

4.2.4 Características físicas das edificações (habitações) ............................... 58

4.2.5 Habitações pesquisadas por data de pesquisa ......................................... 60

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 64

ANEXOS ............................................................................................................................ 66

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Lista de Ilustrações

FIGURA 1 – Habitação do Semi-árido ............................................................................ 14

FIGURA 2 – Habitação do Semi-árido ............................................................................ 14

FIGURA 3 – Habitação do Semi-árido ............................................................................ 15

FIGURA 4 – Serra-redonda (Marcolândia-PI) ................................................................ 15

FIGURA 5 – Transporte de água ...................................................................................... 15

FIGURA 6 – Transporte de água ..................................................................................... 15

FIGURA 7 – Família do Semi-Árido ................................................................................ 15

FIGURA 8 – Família do Semi-Árido ................................................................................ 15

FIGURA 9 – Efeitos do fenômeno “El Niño” para os meses de junho a agosto .............. 25

FIGURA 10 – Efeitos do fenômeno “El Niño” para os meses de dezembro a fevereiro .. 25

FIGURA 11 – Representação atual das atividades de Defesa Civil no Brasil ................... 29

FIGURA 12 – Representação proposta pelo autor, para as atividades de Defesa Civil ... 30

FIGURA 13 – Mapa do Bioma da Região de Marcolândia ............................................... 36

FIGURA 14 – Plantio de palma (cactáceo para alimentação animal) ............................. 36

FIGURA 15 – Barreiro Dois Irmãos. Placa de Inauguração ........................................... 37

FIGURA 16 – Barreiro Dois Irmãos. Abastece a Sede do Município de Marcolândia ... 38

FIGURA 17 – Barreiro Dois Irmãos. Abastece a Sede do Município de Marcolândia ... 38

FIGURA 18 – Esboço Geológico do Município ................................................................ 39

FIGURA 19 – Dessalinizador. Despejo do rejeito ............................................................ 41

FIGURA 20 – Reservatório de rejeito .............................................................................. 41

FIGURA 21 – Despejo de Rejeito na Micro-bacia da Barragem do Tamboril ................ 41

FIGURA 22 – Situação dos Poços Cadastrados ................................................................ 42

FIGURA 23 – Poço Tubular (dessalinizador) ................................................................. 46

FIGURA 24 – Poço Tubular ............................................................................................ 46

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FIGURA 25 – Fonte Natural (Cacimba) .......................................................................... 46

FIGURA 26 – Fonte Natural (Cacimba) .......................................................................... 46

FIGURA 27 – Cisterna de Tijolo ...................................................................................... 46

FIGURA 28 – Cisterna de Placas ..................................................................................... 46

FIGURA 29 – Barreiro Natural (fenda na pedra) ............................................................ 47

FIGURA 30 – Barreiro Natural ........................................................................................ 47

FIGURA 31 – Barragem Povoado Socorro .................................................................. 47

FIGURA 32 – Barreiro Artificial ...................................................................................... 47

FIGURA 33 – Cisterna - Instalações de Captação de Água de Chuva ............................. 54

FIGURA 34 – Cisterna - Instalações de Descida da Água ............................................... 55

FIGURA 35 – Cisterna - Instalações de Armazenamento ................................................ 56

FIGURA 36 – Cisterna - Instalações de Armazenamento ................................................ 56

FIGURA 37 – Mapa do Piauí. Localização Geográfica do Município de Marcolândia ... 66

FIGURA 38 – Mapa de Pontos e Cursos de Água, Limites territoriais e estradas ........... 68

FIGURA 39 – Ficha de Pesquisa de Campo ...................................................................... 80

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Lista de Tabelas

TABELA 1 – Situação dos poços cadastrados conforme a finalidade

do uso ............................................................................................................. 42

TABELA 2 – Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal, 1991

e 2000 ............................................................................................................ 69

TABELA 3 – Informações do Município de Marcolândia (PI). ....................................... 70

TABELA 4 – População residente, por deslocamento para trabalho ou

estudo segundo a situação do domicílio e os grupos de

idade – PIAUÍ ................................................................................................ 70

TABELA 5 – Pessoas de 5 anos ou mais de idade que não residiam no

Estado do Piauí em 31.07.1995, segundo o lugar de

residência em 31.07.1995. ............................................................................ 71

TABELA 6 – Pessoas de 5 anos ou mais de idade, naturais do Estado

do Piauí que já residiram fora do município, em relação

ao município de residência atual, segundo o lugar de

residência em 31.07.1995 .............................................................................. 72

TABELA 7 – Dados Pluviométricos (mm) do Município de

Marcolândia-PI ............................................................................................. 78

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Lista de Abreviaturas e Siglas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AGESPISA Águas e Esgotos do Piauí S/A

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

FUMDHAM Fundação Museu do Homem Americano

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OMS/WHO Organização Mundial de Saúde / World Health Organization

ONU Organização das Nações Unidas

PNUB Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

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Resumo

A seca é um fenômeno climático, social e econômico cujos efeitos atingem não só ao

morador do semi-árido, mas todo o povo brasileiro. A presença do homem no semi-árido

piauiense data de mais de 50 mil anos, quando chegou à região e encontrou floresta

tropical úmida e savana. Mudança no clima há aproximadamente 12 mil anos, provocou a

aridez na região, ficando a história gravada em pinturas rupestres no Parque Nacional da

Serra da Capivara, na cidade de São Raimundo Nonato (PI). Enquanto fenômeno, inserido

no conceito de segurança global da população, há necessidade de se mitigar os efeitos da

seca, sendo necessária aplicação de Gestão de Risco. O conhecimento de formas e técnicas

utilizadas para a obtenção e armazenamento de água para o consumo humano no

Município de Marcolândia (PI), fez-se necessário para a análise da situação, e busca de

soluções utilizando-se os meios disponíveis. O Brasil adotou o lema positivista de nação,

tendo Amor por princípio, Ordem por meio, e Progresso por fim. Na sua Carta Magma

reconhece a necessidade de redução das desigualdades sociais e regionais. Estimula ações

para redução das desigualdades regionais, com prioridade às regiões de baixa renda

sujeitas à secas periódicas, para aproveitamento econômico e social dos rios e das massas

de água represadas ou represáveis, tendo como finalidade o desenvolvimento da Nação e o

bem-estar de todos. A pesquisa de campo buscou identificar as características das

habitações, contemplando o número de pessoas, idade do morador mantenedor, tempo de

residência, tipos de fontes utilizadas para abastecimento de água, distância das habitações

para as fontes de água, características da água consumida, se suficiente para consumo

durante o ano ou não, caracterização das cisternas, condições da edificação da habitação e

tempo de construção ou reforma, e se possui ou não energia elétrica. Com base nos dados

obtidos, foi feita uma proposta de dimensionamento de cisternas.

PALAVRAS-CHAVE: Seca, semi-árido, cisterna, desenvolvimento.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do Tema

O presente trabalho é parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de

Especialista em Planejamento e Gestão em Defesa Civil, a ser submetido ao corpo docente

da Coordenação Geral do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de

Santa Catarina.

Representa o esforço na busca de solução para o problema do homem que vive na

zona rural do semi-árido brasileiro, sujeito às secas rigorosas e periódicas. A seca é

compreendida como um problema climático e social, que transcende a simples

compreensão da falta de água.

O objetivo do trabalho foi contribuir para a solução dos problemas, de forma a

reduzir os efeitos danosos da seca, através do conhecimento das formas e técnicas de se

obter água para que o homem que vive na zona rural do município de Marcolândia-PI

possa passar o período de estiagem prolongada, consumindo-a sem necessidade de

abastecimento complementar. Criar, assim, estímulo para que o sertanejo possa se manter

no seu meio, e com dignidade.

Para atingir tal objetivo, foi realizada pesquisa de campo, exploratória descritiva,

com registro das informações desejadas através de Ficha de Pesquisa.

A escolha do assunto relacionado ao armazenamento de água para consumo

humano na zona rural do semi-árido nordestino surgiu a partir da vivência do autor, com a

constatação in locu dos rigores a que são submetidos os seus moradores.

O autor do presente trabalho é descendente de emigrante, tendo suas origens na

região do semi-árido piauiense, distante 200 km da região pesquisada. A família migrou à

cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, para oferecer melhores condições aos

filhos. Os familiares que permaneceram na zona rural, ou migraram para as sedes dos

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municípios, não lograram tanto êxito quanto os que migraram para centros urbanos

maiores.

Outro fator decisivo foi o conhecimento da realidade da zona rural da cidade de

Marcolândia (PI), no mês de setembro do ano de 2004, no cadastramento de caminhões-

pipa para fazer distribuição de água, bem como de selecionar as famílias e cisternas que

iriam receber tal água.

As figuras abaixo mostram situações típicas do semi-árido piauiense, onde os

habitantes sobrevivem apesar dos rigores climáticos a que são submetidos. As figuras 1, 2,

3 e 4, mostram habitações inseridas em ambiente de vegetação hostil. As figuras 5 e 6

mostram moradores transportando água em animais (jumento), para consumo próprio. As

figuras 7 e 8 mostram os membros de uma família que se abastecem exclusivamente de

água de cisterna no período de estiagem.

Localizado no Polígono das Secas, o município apresenta regime pluviométrico

marcado por extrema irregularidade temporal e espacial de chuvas. A escassez de água

constitui-se em forte entrave ao desenvolvimento socioeconômico e à subsistência da

população.

FIG. 1 – Habitação do Semi-árido FIG. 2 – Habitação do Semi-árido

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

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FIG. 3 – Habitação do Semi-árido FIG.4–Serra-redonda(Marcolândia-PI)

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

FIG. 5 – Transporte de água FIG. 6 – Transporte de água

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

FIG. 7 – Família do Semi-Árido FIG. 8 – Família do Semi-Árido

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

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1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Levantar as formas e técnicas utilizadas para a obtenção e armazenamento de água

para o consumo humano na zona rural do município de Marcolândia-PI.

1.2.2 Objetivos Específicos

- Levantar e analisar as formas e técnicas utilizadas para obtenção de água para o

homem que vive na zona rural do município;

- Averiguar as condições das instalações e dos reservatórios domésticos de água

utilizados para consumo humano;

- Identificar o consumo per capta de água, do homem que vive na zona rural do

município de Marcolândia; e

- Analisar a Gestão de Risco aplicada ao fenômeno seca, com ênfase a uma matriz

preventiva e de redução da vulnerabilidade da população a ela submetida.

1.3 Justificativa

A região semi-árida do nordeste brasileiro é submetida a um regime climático

rigoroso, com má distribuição das chuvas no tempo e no espaço, tendo precipitação média

anual de 500 mm, concentrada em 04 (quatro) meses.

O desastre se materializa, e se potencializa, em função das condições de risco

existentes. Há necessidade de conhecimento sobre as fontes hídricas e características das

famílias e habitações para implantação de medidas de convivência com a seca visando a

redução da vulnerabilidade.

O presente trabalho consiste na análise crítica das soluções implantadas para

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convivência do homem com a seca, no que concerne à obtenção e armazenamento de água

para o consumo humano. Procura-se contribuir para o tema, de maneira que sejam

discutidas e analisadas soluções permanentes, visando em última análise, o

desenvolvimento sustentável da região.

1.4 Estrutura do Trabalho

No Capítulo 2 – Fundamentação Teórica se inicia com a explicação do fenômeno

seca enquanto fenômeno climático, social e econômico. Na seqüência é realizada a análise

da Gestão de Risco aplicada ao fenômeno seca, inserida no conceito de segurança global da

população, visando à mitigação dos seus efeitos. Apresenta-se uma proposta de

reestruturação das atividades de Defesa Civil Nacional.

Ainda no Capítulo 2 expôs-se que o Estado brasileiro reconhece, através da

Constituição Federal, a necessidade de redução das desigualdades sociais e regionais, e

fomenta ações no sentido de aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de

água represadas ou represáveis, tendo como finalidade o desenvolvimento e o bem-estar de

todos.

No Capítulo 3 apresenta-se a metodologia aplicada, exploratória descritiva,

baseada em pesquisa de campo na zona rural do município de Marcolândia-PI.

Na pesquisa de campo procurou-se identificar as condições da população rural e

da água de consumo, com o levantamento de: características da habitação, contemplando o

número de pessoas na habitação, idade do morador mantenedor, tempo de residência, tipos

de fontes utilizadas para abastecimento de água (para consumo humano e outras

utilizações), distância das habitações para as fontes de água, características da água

consumida (doce, salgada, filtrada, etc), se suficiente para consumo durante o ano ou não

(período de estiagem e de chuva), caracterização das cisternas (volume total e armazenado,

período em que é consumida a água da cisterna, entre outros), condições da edificação da

habitação e tempo de construção ou reforma, e se possuía ou não energia elétrica.

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No Capítulo 4 – Estudo de Caso, inicia se caracterizando o município de

Marcolândia-PI, localizado no semi-árido nordestino, fazendo fronteira com o Estado de

Pernambuco. Abordou-se a localização geográfica, geologia, aspectos socioeconômicos e

fisiográficos, e fez-se uma análise crítica do cadastro feito pela Companhia de Pesquisa de

Recursos Minerais (CPRM), dos poços da região. Na seqüência foram apresentados e

discutidos os resultados da pesquisa.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A Seca e seus efeitos

Por que morar no semi-árido? O que atraiu os primeiros moradores e

colonizadores? O que mantém o homem morando e produzindo em uma região submetida

a tanto rigor climático?

A região do semi-árido nordestino não tinha tais características. No Parque

Nacional da Serra da Capivara, localizado no município de São Raimundo Nonato (PI) se

encontra a maior concentração de sítios arqueológicos conhecida nas Américas, com 360

sítios cadastrados, e o registro do passado gravado nas pinturas rupestres, que retratam

animais da fauna atual e extinta. Em tal Parque foram encontrados vestígios da presença do

homem, com data entre 50 a 60 mil anos, que provocou uma revolução das teorias da

presença do homem nas Américas, e dada a sua importância, foi declarado pela UNESCO

como Patrimônio Cultural da Humanidade (FUMDHAM).

A Fundação Museu do Homem Americano(1) pesquisou, e concluiu que quando o

homem chegou à região, encontrou na serra uma floresta tropical úmida, e a planície em

volta coberta por savana. Há aproximadamente 12 mil anos, o clima começou a mudar, e a

aridez se instalou.

A seca é manchete de noticiários há muito, sendo que a forma como é apresentada

não mudou. A confrontação dos jornais de 1983 com os de 1877 revelam pouca diferença

(DOMINGOS NETO, 1983), e guarda semelhanças com a atualidade:

A chuva chega atrasada. Chove fora de tempo. Chove pouco ou não chove. As plantações se perdem, falta trabalho. O gado sofre. As famílias dos agricultores passam fome, tentam se arranjar com raízes, lutam para encontrar alguma caça no mato seco. Em alguns lugares, há ameaça de sede. A população esgota as possibilidades de sobrevivência em seus locais de moradia. Apelo aos santos. A tragédia se espraia em muitas direções. Os preços dos alimentos sobem bruscamente. A polícia

1 http://www.fumdham.org.br/ museu.php

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intervém contra os saques ou ameaças de saques. Começa o deslocamento em massa da população: o povo sai em busca de alimentos e emprego nas cidades. Ou em busca de terras úmidas devolutas que quase não existem mais. Autoridades locais pedem providências ao governo. Ministros fazem declarações à imprensa. Comovidos, demonstram preocupação, anunciam verbas e planos salvadores. Formam-se as frentes de serviço. As vagas não são suficientes para atender aos milhares de desempregados famintos. Surgem denúncias de corrupção com os recursos de emergência... (DOMINGOS NETO, 1983, p.27)

A redução das precipitações pluviométricas está relacionada a fenômenos

meteorológicos de dimensões globais, relacionadas com a geodinâmica terrestre externa,

totalmente fora do controle do homem no atual estágio de desenvolvimento tecnológico. O

aumento do metabolismo hídrico, decorrente da intensa insolação local agrava o déficit

hídrico e aumenta a semi-aridez, ao aumentar a evapotranspiração (CASTRO, 2004, p.6).

A atividade agropecuária constitui-se na base produtiva da região, da qual

dependem outros setores econômicos. A agricultura de subsistência é a fonte de trabalho e

sustento da grande massa de pequenos produtores rurais, com ou sem terra, e é a mais

afetada pela crise de produção provocada pela seca. A seca debilita a população de maneira

lenta e gradual, impossibilita a agricultura de subsistência, desorganiza toda a atividade

econômica e provoca alterações nas estruturas sociais da região.

No Nordeste brasileiro está localizada a região semi-árida mais densamente

povoada do mundo (CASTRO, 2004, p.13). A economia da região se baseia na agricultura

fundamentada no sistema de produção caracterizado pelo complexo de pecuária e culturas

de subsistência, altamente vulnerável ao fenômeno das secas (Relatório Nº 4 –

COMISSÃO “EL NIÑO” do Senado Federal).

Conforme se constata no Anexo 4, (Tabela 4 - População residente, por

deslocamento para trabalho ou estudo, segundo a situação do domicílio e os grupos de

idade – PIAUÍ), no ano de 2000, segundo o IBGE, 63,43 % (669.243 habitantes) da

população da zona rural do Estado do Piauí trabalhavam ou estudavam no próprio

município de residência. A mesma pesquisa apontou que 35,13% (370.651 habitantes) não

trabalhavam nem estudavam. Com a estiagem prolongada no semi-árido, caracterizando-se

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a seca, a população economicamente ativa desse universo (que trabalham ou não), fica

impotente diante da situação, passando a mero expectador do drama dos homens e animais

submetidos à situação extrema de falta de água e comida.

Ainda segundo o IBGE, 21,32% da população total do Estado, um total de

606.268 habitantes, declarou que já residiu fora do município de origem (Vide Anexo 6,

Tabela 6 - Pessoas de 5 anos ou mais de idade, naturais do Estado do Piauí que já residiram

fora do município, em relação ao município de residência atual, segundo o lugar de

residência em 31.07.1995).

A seca é um fenômeno cíclico, e os pequenos produtores são compulsados a

migrar, com ou sem família. Em geral são os homens que partem a procura de trabalho,

deixando as esposas, caricatas viúvas de marido vivo, e os filhos. As músicas “Asa

Branca”, cantada por Luiz Gonzaga, de autoria do próprio em parceria com Humberto

Teixeira, e “A Triste Partida”, cantada também por Luiz Gonzaga, com letra do

pernambucano Patativa de Assaré, retratam com fidelidade a realidade.

Na música “Asa Branca” (Anexo 7), cujo título faz referência a uma ave que

emigra quando da falta d´água, trata de um emigrante do semi-árido que se deslocou de sua

terra natal, após perder o gado e o cavalo por conta da seca, e vive longe e solitário,

aguardando chover novamente para retornar e reencontrar a sua Rosinha, que deixou a lhe

esperar.

Já na música “A Triste Partida” (Anexo 8), é retratada a situação de uma família

que se desloca após um longo período de estiagem, em que ancorou suas esperanças de

chuva de acordo com as experiências locais (dia de Natal, dia de São José, comportamento

dos animais). Observa-se uma busca de explicação para o fato, o sentimento de culpa

(castigo divino), resistência, mas se rende à necessidade de sobrevivência, e decide ir a São

Paulo, “viver ou morrer”. Decisão difícil e conflituosa, com a intenção de “pro mesmo

cantinho” tornar a voltar. Viagem sofrida, com os filhos indagando pelo patrimônio que

abandonaram (cachorro, gato, brinquedo, pé de flor). Em São Paulo estranha o ambiente e

faz planos para um dia voltar, porém vive preso, endividado.

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O sertanejo não deixa sua terra natal por opção, mas por falta (de opção), como

último apelo. É desterrado, expulso pela própria natureza que lhe dá sustento. Desagrega-se

a família, distancia-se das raízes, torna-se um estranho.

Os pequenos produtores, que não dispõem de ativos suficientes para se sustentar

durante a crise, sofrem os maiores prejuízos. A eliminação da agricultura de subsistência

em período de seca força a migração para os centros urbanos em busca de meios para

sobreviver. A redução da produção de culturas de subsistência, por sua vez, traz a

desnutrição das famílias dos pequenos produtores rurais. Esta (desnutrição), associada a

outras causas, provoca a diminuição das condições de saúde dessas populações.

A seca causa problemas não somente aos que vivem na região do semi-árido, mas

a todos os brasileiros. A falta de atendimento das necessidades básicas obriga o sertanejo a

migrar para local onde acredita ter condições de sustentar a família, e os centros urbanos

oferecem melhores atrativos. É a lei da sobrevivência. Enquanto fenômeno meteorológico,

a seca é um evento adverso local, mas na condição de fenômeno social, repercute sobre

toda a sociedade brasileira (CASTRO, 2004, p.13). Os grandes centros urbanos incham-se,

e o problema é transferido do semi-árido. Instalam-se em locais impróprios para ocupação

humana: abrigos improvisados, margens de rios e córregos, encostas acidentadas. Enfim,

provocam sobrecarga nos serviços dessas cidades, gerando dívida social, problemas

econômicos, de segurança, e relacionados com os desastres de natureza social, afetos à

defesa civil.

O Estado do Piauí, com IDH.(2) igual a 0,673, ocupa o 3º pior lugar no ranking

brasileiro do ano de 2000. O IDH-M do município de Marcolândia (0,598) do mesmo ano,

revela evolução em relação ao ano de 1991 (0,479), que esteve na faixa de baixo

desenvolvimento humano. Tais dados refletem a situação de vulnerabilidade sócio-

econômica do município, e a reduzida resiliência, que é a capacidade de recuperação e

2 O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) foi criado para medir o nível de desenvolvimento humano a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). Os valores variam de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). O com IDH até 0,499 são considerados de desenvolvimento humano baixo; com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de desenvolvimento humano médio; e com índices maiores que 0,800 são considerados de desenvolvimento humano alto.

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soerguimento de uma comunidade no pós-desastre. A Tabela 2 (Anexo 3), mostra um

quadro comparativo, atual e evolutivo, do IDH-M do município pesquisado (Marcolândia),

a capital do Estado (Teresina), e as cinco primeiras cidades brasileiras no ranking do

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUB).

Há que se distinguir quem são as vítimas da seca. Tal fenômeno atinge de forma

diferenciada os diversos segmentos da população da área atingida (DOMINGOS NETO,

1983). Para os grupos sociais compostos por agricultores sem terra, assalariados, pequenos

proprietários e outros, a seca é o período em que a sua situação de miséria permanente

torna-se agravada a ponto de não permitir sua permanência nos locais de trabalho. Há

categorias, no entanto, que são pouco afetadas pela crise periódica, e encontram na mesma

a força de sua reprodução e engrandecimento.

Há setores e regiões econômicas que, de forma direta ou indireta, têm sua lógica

de funcionamento ligada aos efeitos do flagelo. “Se todos perdessem com a crise, inclusive

os interesses mais evidentemente presentes no esquema de poder regional e nacional, seria

difícil crer que sua longevidade não teria sido profundamente abalada” (DOMINGOS

NETO, 1983).

A seca do semi-árido nordestino contribuiu e contribui para o desenvolvimento de

grandes centros econômicos. O desenvolvimento de cidades como São Paulo e Brasília

deve-se em grande parte à seca do semi-árido. A seca tornou-se matriz produtiva e

reprodutiva de mão-de-obra barata, e o semi-árido o berço e habitat natural. Dispondo de

efetivo reserva de recrutas da produção, lotados no nível de execução do sistema produtivo.

Com o alavancar do desenvolvimento, tornam-se indesejáveis devido ao nível de

qualificação. A tabela 5 (Anexo 5) e a tabela 6 (Anexo 6) refletem o destino dos

emigrantes, que coincide com regiões produtivas. Ainda há a possibilidade de tais

estatísticas estarem defasadas, em virtude da grande quantidade de trabalhadores

temporários, que se deslocam apenas no período de colheita de safra, retornando após o seu

término.

Empresas de transporte de passageiros, a indústria canavieira e da construção civil

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se constituem em setores beneficiados com essa mão-de-obra pouco especializada e de

baixo custo.

"O Homem é produto do meio geográfico em que vive, e o meio natural exerce

uma ação dominadora sobre o homem, que é submetido a ele". Tal afirmação, do geógrafo

alemão Frederico Ratzel, busca justificar a inércia passiva, a não interferência do homem

no meio, devido as características peculiares da região. O homem interage com o meio a

que está submetido, tornando-o produtivo de acordo com suas limitações. O meio tem

influência no comportamento do homem, mas não o domina.

A fixação sustentável do homem no campo, com dignidade, é princípio para a

redução da vulnerabilidade e da grandeza das catástrofes. Com pequenos investimentos na

prevenção, de forma planejada, evitam-se gastos vultosos nas ações de resposta, ou seja,

são necessárias ações governamentais efetivas e permanentes capazes de dar independência

ao homem que vive na região semi-árida.

O Fenômeno El Niño

A estação chuvosa na região é de janeiro a abril, e sujeito a grande flutuação de

precipitação a cada ano. Os problemas agravam-se quando ocorre o fenômeno “el niño” (3).

O fenômeno consiste na ruptura do sistema oceano-atmosfera no Pacífico

Tropical. Caracteriza-se pelo aquecimento das águas superficiais do Pacífico Equatorial

Oriental, tendo importantes conseqüências para o clima em todo o globo terrestre. Entre

essas conseqüências estão o aumento da precipitação na região sul da América do Sul e

seca nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, no mesmo período (Brasil. Relatório Nº 4 –

COMISSÃO “EL NIÑO”. Senado Federal).

O episódio típico de El Niño dura de 12 a 18 meses, do aquecimento ao

resfriamento, com inicio no começo do ano, atingindo sua máxima intensidade durante

dezembro daquele ano e janeiro do próximo e enfraquecendo na metade do segundo ano. O

aumento dos fluxos de calor sensível e de vapor d’água da superfície do Oceano Pacífico

3 http://www.senado.gov.br. Brasil. Relatório Nº 4 – COMISSÃO “EL NIÑO”. Senado Federal

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Equatorial para a atmosfera, sobre as águas quentes, provoca mudanças na circulação

atmosférica e na precipitação em escala regional e global (SANTOS, 2000).

Quando o fenômeno se apresenta totalmente configurado, ocorrem veranicos

prolongados durante a estação chuvosa (janeiro a abril) no semi-árido do Nordeste do

Brasil, o que provoca a escassez de recursos hídricos, agravando os índices que relacionam

as disponibilidades efetivas de água com as demandas, o processo de salinização dos solos

e a poluição dos mananciais.

As vulnerabilidades regionais manifestam-se de modo mais grave na dimensão

geoambiental em relação às demais regiões, uma vez que se registram impactos negativos

das estiagens prolongadas na produção agropecuária, na população e na economia regional

em seu conjunto (SANTOS, 2000).

FIG. 9 – Efeitos do fenômeno “El Niño” para os meses de junho a agosto

Fonte: NCEP/NOAA – EUA

FIG. 10 – Efeitos do fenômeno “El Niño” para os meses de dezembro a fevereiro

Fonte: NCEP/NOAA - EUA

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2.2 Gestão de Risco

A Política Nacional de Defesa Civil, que teve origem no estudo e preparação para

ações de socorro, evoluiu gradativamente passando a administração de desastres, ou seja,

estudo de formas de interação dos órgãos governamentais em ações de atendimento

eficiente e eficaz aos desastres.

Os danos causados pela seca estão mais relacionados à vulnerabilidade do que à

intensidade. Faz-se necessário, então, o estudo da intensidade do desastre, e principalmente

a vulnerabilidade do local em que ocorre. Os pequenos produtores rurais, que dependem da

produção agropecuária e agricultura de subsistência, apresentam maior vulnerabilidade.

A seca é classificada pela Política Nacional de Defesa Civil, como desastre natural

relacionado com a geodinâmica terrestre externa, de evolução gradual ou crônica, que

causa danos humanos, materiais e ambientais.

A caracterização do desastre seca depara na dificuldade de aferir a intensidade e

nível dos danos causados. Não se trata de um desastre típico, com dia e hora de ocorrência,

mas um desastre crônico, que se apresenta gradualmente. A situação de normalidade no

semi-árido já é próxima do desastre, com precipitações médias anual de 500 mm, sendo o

ambiente naturalmente frágil, vulnerável.

Como quantificar os danos sociais e econômicos provocados pela seca? A

agricultura e a pecuária são de subsistência, a frustração da safra corresponde ao alimento

para sobrevivência que não existirá no período subseqüente de estiagem.

Seguem os conceitos de “amenaza”, vulnerabilidade e risco, conforme “La tercera

Cumbre de las Américas”, ocorrida em São José da Costa Rica, em dezembro de 2.001.

Amenaza (perigo, ameaça) - é o fator externo de risco, representado pela

ocorrência potencial de uma sucessão de origem natural ou gerado pela atividade humana,

que pode manifestar-se em um lugar específico, e com uma intensidade e duração

determinadas;

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Vulnerabilidade – fator interno de risco de um sujeito, objeto ou sistema, exposto

a uma amenaza, que corresponde a sua disposição intrínseca de ser danificada;

Risco – é a probabilidade de exceder a um valor específico de danos sociais,

ambientais e econômicos, em um local específico e durante um tempo de exposição

determinado.

Risco aceitável se refere a um valor específico de danos que a comunidade está

disposta a assumir, frente a um desastre. O risco se baseia na quantificação de dano

esperado, ante a manifestação de uma ameaça específica. Depende da ameaça e da

susceptibilidade e capacidade de reação dos que estão expostos.

A expressão R = f(A,V), significa que o risco é em função da ameaça e da

vulnerabilidade, e está diretamente proporcional a ambas. Daí a necessidade do estudo

cuidadoso, para se ter uma adequada estimativa do risco.

A existência de desastre, ou de perdas e danos em geral, pressupõem a prévia

existência de determinadas condições de risco. O desastre representa a materialização das

condições de risco existentes. O nível de risco de uma comunidade está relacionado com

seus níveis de desenvolvimento e sua capacidade de modificar os fatores de risco que

potencialmente os afetam (“La Tercera Cumbre de las Américas”). Resiliência consiste na

capacidade de recuperação e soerguimento de uma comunidade no pós-desastre.

Gestão de Risco, neste estudo, é entendido como o processo eficiente de

planejamento, organização, direção e controle dirigido a:

- análise de riscos.

- redução de riscos (prevenção e minimização).

- manejo de desastres (preparação, alerta e resposta).

- recuperação diante eventos já ocorridos (reabilitação e reconstrução).

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A Defesa Civil Nacional adota o conceito de segurança global da população,

caracterizada pela redução dos desastres como um importante objetivo, que se fundamenta

no direito natural à vida, à saúde, à segurança, à propriedade e à incolumidade das pessoas

e do patrimônio, em todas as condições.

A Política Nacional de Defesa Civil elegeu a ação de reduzir desastres, ao invés

de "eliminar e erradicar” desastres, por considerar estes como objetivos inatingíveis.

Definiu, também, que a redução dos desastres abrange os seguintes aspectos globais

(SINDEC-Segurança Global da População):

1. Prevenção de desastres

2. Preparação para emergências e desastres

3. Resposta aos desastres

4. Reconstrução

O termo mitigación de desastres foi traduzido em português para minimização de

desastres, e se caracteriza pela somatória de ações de prevenção e de preparação, para

emergências e desastres (SINDEC-Segurança Global da População). Compreende-se que

existem profundas relações interativas entre:

1.O desenvolvimento sustentado e responsável

2. A proteção ambiental

3. A redução dos desastres

4. O bem-estar social

Daí a necessidade de planejamento contemplando de forma estratégica, a

vulnerabilidade a que está sujeita a população que reside nos locais com risco de desastre.

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PREVENÇÃO .

PREPARAÇÃO (Plano de Contingência)

RESPOSTA (Plano de Operação)

RECONSTRUÇÃO

Explorando os conceitos da Política Nacional de Defesa Civil acima, pode-se

conceber uma estrutura para a Gestão de Risco. Há que se observar que aborda a prevenção

como início do processo, e não como um princípio que norteie as demais fases.

FIG. 11 – Representação atual das atividades de Defesa Civil no Brasil

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

Uma estrutura a ser utilizada deve contemplar a prevenção não apenas como uma

fase, mas como um princípio a ser observado em todas as fases. Segue abaixo (Figura 12),

uma proposta que contempla todas as fases possíveis relativas ao assunto.

Insere-se a Previsão como fase de avaliação dos tipos de desastres a que a

comunidade encontra-se exposto, para fins de análise do risco aceitável acima definido.

Inclui-se também a fase de Reestruturação, contemplando ações de reabilitação além de

reconstrução.

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FIGURA 12 – Representação proposta pelo autor, para as atividades de Defesa Civil

2.3 A Constituição Federal e o Desenvolvimento Re gional

A Constituição da República Federativa do Brasil, datada de 1988, estimula ações

governamentais que criem mecanismos para redução das desigualdades regionais.

Estabelece prioridade em relação às regiões de “baixa renda sujeitas à secas periódicas”, para

aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis,

conforme segue:

PREVISÃO (risco) Análise das informações orientando

para a hipótese da ocorrência e riscos.

PREPARAÇÃO (Plano de Contingência)

RESPOSTA Ações de socorro e assistência

(Plano de Operação)

REESTRUTURAÇÃO - Reconstrução - Reabilitação

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“Art. 43 - Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais.” “§ 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além de outros, na forma da lei:” “IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas à secas periódicas.”

Reza, no Art. 3º, que constituem objetivos fundamentais da República Federativa

do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade

e quaisquer outras formas de discriminação.

Reconhece, ainda, como direitos sociais, conforme Art. 6º (com Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 26, de 2000): a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o

lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a

assistência aos desamparados. A saúde sendo “direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença

e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação” (Art. 196).

A Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO), Organismo da

Organização das Nações Unidas do qual o Brasil faz parte, define saúde como “um estado

de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença

ou de enfermidade”.

Constata-se a preocupação do legislador em priorizar o bem-estar de todos, com o

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reconhecimento da necessidade de redução das desigualdades sociais e regionais, tendo

como finalidade o desenvolvimento da Nação. Expõem, assim, o lema positivista de uma

nação, em parte impresso na Bandeira Nacional: Amor por princípio, Ordem por meio, e

Progresso por fim.

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3. METODOLOGIA

3.1 Metodologia:

A metodologia utilizada foi apoiada em referencial teórico, a exemplo das

publicações da Secretaria Nacional de Defesa Civil, de estudos feitos pelo CPRM, e

Associação Brasileira de Normas Técnicas.

O planejamento operacional para a realização deste trabalho teve como base a

experiência do pesquisador durante cadastramento de caminhões-pipa e habitações com

cisternas para recebimento de água através de programa emergencial da Defesa Civil

Nacional e Estadual. A Ficha de Pesquisa (Anexo 10, Figura 40) foi minuciosamente

elaborada com a finalidade de colher o máximo de informações.

Foi efetivado pesquisa de campo, exploratória descritiva, com levantamento na

zona rural do município de Marcolândia-PI, para registro das informações desejadas.

A pesquisa buscou responder a indagações como: Qual a situação da água

consumida? Quais os tipos de fontes de água? A cisterna é uma solução viável? O seu

tamanho é suficiente para atender uma família de quantas pessoas? Quais as condições das

instalações das cisternas e dos telhados das residências? Qual o consumo per capta médio

de água no semi-árido nordestino?

3.2 Coleta de Dados:

Os dados foram coletados nos dias 08, 09, 10 e 11 de setembro de 2005, com o

preenchimento das fichas de pesquisas, e colhendo demais informações necessárias ao

presente trabalho. Os trabalhos de campo foram executados percorrendo a área nos turnos

da manhã e tarde. Os trabalhos de campo tiveram como base cartográfica o mapa municipal

extraído do Diagnóstico do CPRM, acrescido de informações obtidas na EMATER-PI.

O trabalho contemplou o recenseamento das habitações com fontes de

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abastecimento para consumo humano (cisterna, barreiro, barragem, poço tubular e fonte

natural). Não foi possível a determinação das coordenadas geográficas pelo uso do Global

Positioning System (GPS), previsto na Ficha de Pesquisa, com o equipamento cedido pelo

25º Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro, por ter apresentado problemas técnicos,

não registrando o posicionamento desejado. Não houve prejuízo na pesquisa, uma vez que

era objetivo secundário a posição geográfica precisa. Ademais, foram colhidas todas as

informações possíveis de ser coletadas através de visita técnica (caracterização das

habitações, instalações, situação da captação, dados operacionais, uso da água da cisterna, e

aspectos relacionados a período de consumo da água).

Os dados coletados, após rigorosa análise, alimentaram um banco de dados que,

devidamente consistido e tratado, possibilitou a identificação das condições dos moradores,

das habitações, das instalações e das fontes de água utilizadas para consumo humano. Os

dados foram lançados no programa Microsoft Office Excel 2003, com processamento

através da ferramenta “Auto Filtro”, e cálculos com inserção de fórmulas para obtenção dos

dados desejados. Permitiu, assim, a elaboração do perfil da zona rural do município

relacionado ao tema deste trabalho, cujas informações são complementadas por esta nota

explicativa, visando fácil manuseio e compreensão acessível a diferentes usuários.

A amostra foi extraída de forma aleatória, procurando-se pesquisar um número

expressivo de habitações, no maior número de povoados.

A população do Município é de 6.178 habitantes, sendo 1.430 na zona rural

(Fonte: IBGE. Censo 2000). Foram pesquisados 98 domicílios, com uma amostra de 486

pessoas, o que correspondente a 33,986 % da população da zona rural.

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4. ESTUDO DE CASO

4.1. Descrição do Município

4.1.1 Localização

O município localiza-se na microrregião do Alto Médio Canindé, com uma área

de 140,72 km2, tendo como limites os municípios de Caldeirão Grande do Piauí e

Francisco Macedo ao norte, ao sul com Simões e o Estado de Pernambuco (Araripina-PE),

a leste com o estado de Pernambuco (Araripina-PE) e, a oeste com Padre Marcos e

Francisco Macêdo (vide Anexo 2, Figura 39). A sede do Município encontra-se a 873

metros de altitude acima do nível médio do mar, tendo como coordenadas geográficas

07º26’33” de latitude sul e 40º39’40” de longitude oeste de Greenwich e dista cerca de 412

km de Teresina, capital do Estado. (Fonte: IBGE), conforme Anexo 1 (Figura 38).

O limite com o Estado de Pernambuco é a linha de cumeada(1) que separa a bacia

do rio Canindé da bacia do rio São Francisco (Pernambuco), ficando próximo ao limite

com a bacia Atlântico NE Oriental (Ceará) (Fonte: IBGE). Tal característica coloca o

município em uma situação desfavorável em relação a precipitação pluviométrica, quanto

presença de água no subsolo e área total das micro-bacias. É uma região de rochas

magmáticas do período Paleozóico, e se caracteriza por ter solo regular, com deficiência de

nutrientes e teores elevados de alumínio (Fonte: IBGE).

A zona rural do Município, área onde se encontra o universo da pesquisa, divide-

se em regiões com duas características distintas: uma plana e alta conhecida por “Serra”

(localizada na chapada do Araripe), e outra acidentada e baixa, conhecida por “Sertão”.

Os rios apresentam regime de intermitência, decorrente da formação geológica e

geomorfológica da bacia. Os cursos d´água nascem no embasamento cristalino, com fraca

1 Linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de uma seqüência de morros ou de montanhas, constituindo-se no divisor de águas (Resolução Nº 303, de 20 de março de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA);.

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condição de retenção da água, acrescido do fato da região semi-árida contar com

baixíssimas e irregulares precipitações. (Atlas do Abastecimento de Água do Estado do

Piauí. Site www.pi.gov.br no dia 03 NOV 2005).

FIGURA 13 - Mapa do Bioma da Região de Marcolândia

Fonte: IBGE –2004 (www.ibge.gov.br)

FIG. 14 – Plantio de palma (cactáceo para alimentação animal)

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

O município tem como bioma a caatinga. A vegetação predominante é a savana

florestada (T), a Savana Estépica Florestada (Td) e a Savana Estépica Arborizada (Ta),

conforme Figura 13.

PIAUÍ

CEARÁ

PERNAMBUCO

Sede do Município

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A figura 14 mostra o plantio de palma, um cactáceo utilizado para alimentação

animal no período de estiagem.

4.1.2 Aspectos Socioeconômicos

O Município foi desmembrado do Município de Padre Marcos através da Lei nº

4.477 de 29/04/1992, que o criou. A população total é de 6.178 habitantes, com densidade

demográfica de 43,9 hab/km2. 76,8% da população se encontra na zona urbana, e 23,20 %

(1.430) na zona rural (Fonte: IBGE - Censo 2000), este correspondendo ao universo da

amostra pesquisada.

A agricultura do Município tem como base a produção sazonal de feijão, algodão,

mandioca, milho, arroz e amendoim. (Fonte: IBGE)

Contrariamente ao que relata o “Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por

água Subterrânea, Estado do Piauí: Diagnóstico do Município de Marcolândia”, feito pelo

CPRM, a sede do município não dispõe de abastecimento público de água, pelo menos

canalizado, fato constatado in loco durante a pesquisa. Algumas habitações da sede

dispõem de cisternas, com abastecimento através de água captada da chuva,

complementada através de carros pipas. Outras, não dispondo de cisterna, se abastecem no

barreiro público, cuja água tem qualidade duvidosa, conforme figuras 16 e 17, abaixo:

FIG. 15 – Barreiro Dois Irmãos. Placa de Inauguração

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

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FIG. 16 – Barreiro Dois Irmãos. Abastece a Sede do Município de Marcolândia

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

FIG. 17 – Barreiro Dois Irmãos. Abastece a Sede do Município de Marcolândia

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

4.1.3 Aspectos Fisiográficos

O Município se localiza na região do semi-árido nordestino. As condições

climáticas apresentam temperaturas mínimas de 18 ºC e máximas de 36 ºC, com clima

semi-árido, quente e seco. A precipitação pluviométrica média anual é definida no Regime

Equatorial Continental, com isoietas anuais em torno de 500 mm, tendo como período mais

chuvoso de janeiro a abril. Apresenta elevada deficiência hídrica (IBGE, 1977)

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FIGURA 18 – Esboço Geológico do Município

Fonte: CPRM (2004)

4.1.4 Geologia

A Figura 18, acima, mostra o contexto geológico do município, formado em sua

maioria (60%), pelas rochas do embasamento cristalino, representadas por Granitos e pelo

Complexo Jaguaretama, que é constituído de gnaisses, mármores, quartzitos e xistos. As

coberturas sedimentares ocupam cerca de 40% da área total do município e compreendem

as unidades: Formação Exu, com arenito e siltito; e a Formação Santana, englobando

calcário, folhelho, siltito, arenito e lentes de gipsita (Fonte: CPRM).

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4.1.5 Águas Subterrâneas

No município distinguem-se dois domínios hidrogeológicos: as rochas cristalinas

e as rochas sedimentares.

Nas rochas cristalinas não existe porosidade primária. A ocorrência de água

subterrânea é condicionada por uma porosidade secundária representada por fraturas e

fendas, o que se traduz por reservatórios aleatórios, descontínuos e de pequena extensão. É

comumente denominado de “aqüífero fissural”. As vazões produzidas pelos poços são

pequenas e a água, em função da falta de circulação, dos efeitos do clima semi-árido e do

tipo de rocha, é, na maior parte das vezes, salinizada. Tais condições definem um potencial

hidrogeológico baixo para as rochas cristalinas. (Fonte: CPRM)

Os poços artesianos e tubulares apresentam alta taxa de salinização. (Fonte:

CPRM 2004). Os poços tubulares têm água salgada ou salobra, sendo que do total de

poços, dois são públicos e possuem dessalinizadores, sendo um em operação.

A dessalinização oferece alto custo de manutenção, e provoca danos ambientais. O

equipamento separa a água extraída em duas: uma com baixo teor de sólidos totais

dissolvidos (para consumo) e outra com alto teor de sólidos totais dissolvidos, rejeito não

aproveitado, jogado ao solo, sendo carreado pela água da chuva.

Exemplo, conforme mostra as ilustrações abaixo, é o poço cadastrado no CPRM

sob nº CF 118, coordenadas 7º24´19,4” de latitude sul e 40º44´4,7” de longitude Oeste, que

se localiza na linha de talvegue da bacia que abastece a barragem do Tamboril (Anexo 2,

Figura 39–Mapa de Pontos de Água). Segundo relato dos moradores da região, confirmado

pelo Engenheiro Agrônomo representante da EMATER-PI na cidade, o mesmo transborda

água no sangradouro a cada dez anos, e a água acumulada não dura até o final do período

de estiagem (mês de dezembro). A água de tal barragem foi declarada como medianamente

salgada pelos pesquisados, tendendo a tornar-se imprópria para o consumo a médio ou

longo prazo, a se manter tal situação.

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41

FIG. 19–Dessalinizador. Despejo do rejeito FIG. 20 – Reservatório de rejeito

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

FIG. 21 – Dessalinizador. Despejo do rejeito na micro-bacia da barragem do

Tamboril

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

No município existem duas Barragens (Barragem do Tamboril e Barragem do

povoado Socorro). Aquele abastece o povoado em torno, os animais da região, e todos os

carros-pipa que abastecem a zona urbana e rural, dos Municípios de Marcolândia e de parte

da zona rural do Município de Francisco Macedo (PI).

4.1.6 Diagnóstico dos Pontos Cadastrados junto ao CPRM

O CPRM tem cadastrado 25 poços tubulares. Nove poços são públicos e dezesseis

são de uso particular. Do total, 7 (sete) estão em operação, conforme quadro abaixo:

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42

TABELA 1 – Situação dos poços cadastrados conforme a finalidade do uso

Natureza do poço Abandonado Em Operação Não Instalado

Público 2 6 1

Particular 2 1 13

Total 4 7 14

Fonte: CPRM (2004)

Os poços em operação são aqueles que funcionam normalmente. Os não

instalados representam os poços que foram perfurados, mas não foram equipados com

sistemas de bombeamento e distribuição. Os abandonados representam os que não

apresentam possibilidade de produção, incluindo os poços secos e poços obstruídos.

FIGURA 22 – Situação dos Poços Cadastrados

Fonte: CPRM (2004)

A salinização dos poços consiste em outro fator limitante de uso. Os resultados

das análises, no cadastro dos poços no CPRM, mostram valores do teor de minerais

dissolvidos oscilando de 260,60 a 2.951,0 mg/L, com valor médio de 1.212,9 mg/L.

Verifica-se a predominância de água salobra em 16 poços (500 mg/L < STD(2) < 1.500

mg/L), três poços com água salgada (STD ≥ 1.500 mg/L), e dois poços com água doce

(STD ≤ 500 mg/L).

A água com demasiado teor de minerais dissolvidos não é conveniente para certos

usos. Com mais de 1.000 mg/L contém minerais que lhe conferem um sabor desagradável e

a torna inadequada para diversas finalidades. Dos sete poços em operação, um se encontra

abaixo, mas muito próximo desse limite (Código de poço nº CF 139 - Povoado Morada

2 STD: Sólidos Totais Dissolvidos na água.

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43

Nova I ), com STD = 955,5 mg/L . Os demais estão todos acima, incluindo-se, em destaque

o poço de Código nº CF 124, Povoado Lagoinha V, com STD = 2.951,0 mg/L.

No cadastro dos poços no CPRM, estranha-se a classificação de dois poços como

de água doce, considerando-se que ambos são registrados como “não instalado” e “não

equipado”, e os poços vizinhos estarem classificados como de água salobra, pertencentes a

uma mesma formação geológica, conforme segue:

a) no povoado Aldeia de Cima, Código CPRM nº CF132 (STD = 260,7mg/L),

coordenadas 7º23´31,0” de Latitude Sul e 40º45´42,7” de longitude oeste, tendo como poço

vizinho, no mesmo povoado, CF131 (STD = 718,3mg/L-água salobra), coordenadas

7º23´29,2” de Latitude Sul e 40º45´41,1” de longitude oeste; e

b) no povoado Morada Nova, Código CPRM nº CF140 (STD = 494mg/L),

coordenadas 7º23´25,2” de Latitude Sul e 40º44´2,3” de longitude oeste, tendo como poço

vizinho, no mesmo povoado, CF139 (STD = 955,5mg/L-água salobra), coordenadas

7º23´23,6” de Latitude Sul e 40º43´57,6” de longitude oeste.

4.2. Resultados e Discussão

4.2.1 Local pesquisado

4.2.1.1 Habitações por Região Pesquisada

LOGRADOUROS

Serra

Sertão

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Logradouro (localização) Quantidade %

Serra 40 40,82%

Sertão 58 59,18%

Total 98 100,00%

4.2.1.2 Idade do Morador Mantenedor da Habitação

A pesquisa constatou que a idade média do morador mantenedor das residências

era de 48,72 anos, morando em média há 17,96 anos no mesmo local.

Idade do morador (mantenedor da casa)

Quantidade Unidade

Média: 48,72 anos

Máxima: 89 anos

Mínima: 20 anos

Desvio Padrão: 16,618

4.2.1.3 Tempo de Residência na Habitação

Tempo de residência na habitação:

Quantidade Unidade

Média: 17,96 anos

Máxima: 89 anos

Mínima: 0 anos

Desvio Padrão: 17,267

4.2.1.4 Número de Pessoas por Habitação Pesquisada

A média de 4,735 habitantes por residência mostra-se acima da média nacional.

Considerando-se o consumo calculado de 37 litros de água por pessoa dia, são consumidos

42.046,80 litros de água em um período de 240 dias (8 meses).

Número de pessoas por habitação Quantidade Unidade

Média: 4,735 habitantes

Máxima: 12 habitantes

Mínima: 0 habitantes

Desvio Padrão: 2,30

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45

4.2.2 Água para consumo humano residencial

4.2.2.1 Tipos de Fontes que a habitação utiliza para as necessidades gerais:

Conforme se constata no Anexo 7 (TABELA 7 - Dados pluviométricos do

município de Marcolândia-PI), de novembro de 1993 a agosto de 2005 as chuvas tiveram

variações na intensidade e distribuição, com um mínimo acumulado registrado de 509,50

mm, no período de novembro de 2.000 a outubro de 2001. No outro extremo, o máximo

registrado é de 990,50 mm, no período de novembro de 2.003 a outubro de 2004. Nesse

último, 54,47 % (539,50 mm) do acumulado foi registrado no mês de janeiro de 2004.

As últimas chuvas significativas ocorridas na região, segundo informações da

EMATER-PI, foram registradas nos dias 01 e 02 de maio, respectivamente 32 e 38 mm.

Foram registradas outras de menor intensidade, nos dias 10 (7,5 mm) e 14 de maio (5,0

mm). O total acumulado no período foi de 546,5 mm.

Considerando-se que a pesquisa foi feita no período de 08 a 11 de setembro de

2005, estavam com 118 dias sem chover, e faltavam 114 (cento e quatorze) dias para o dia

1º de janeiro de 2006, quando é esperado o inicio do período das chuvas. Somam-se 232

dias, pouco menos de 8 (oito) meses, sem registro de chuva para abastecer os reservatórios.

As barragens e açudes mostraram-se insuficientes, dada a alta taxa de evaporação

(2.000 mm/ano), distância das comunidades a serem atendidas, utilizações simultâneas por

pessoas e animais consumindo do mesmo reservatório, a subutilização da água, somando-

se à reduzida precipitação pluviométrica, insuficiente para encher os reservatórios (o que

causa a salinização da água). Acrescente-se que o desmatamento para plantio provocou o

assoreamento gradual das barragens.

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46

FIG. 23 – Poço tubular (dessalinizador) FIG. 24 – Poço tubular

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

FIG. 25 – Fonte natural (Cacimba) FIG. 26 – Fonte natural (Cacimba)

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

FIG. 27 – Cisterna de tijolo FIG. 28 – Cisterna de Placas

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

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FIG. 29–Barreiro natural (fenda na pedra) FIG. 30 – Barreiro Natural

Fonte: Ilustração do Autor, 2004

FIG. 31–Barragem povoado Socorro FIG. 32 – Barreiro Artificial

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

Conforme Tabela a seguir, a pesquisa mostrou que não há qualquer tipo de fonte

natural (rios, riachos, cacimbas, etc) que forneça água aos habitantes do município. Toda

água consumida ou é de poço ou é represada de chuva (barreiro, barragem, açude, cisterna).

91,84% declararam que as fontes de água para consumo humano distam 100 metros das

residências. A água para utilização diversa (Asseio Pessoal e lavagem de roupas, Consumo

Animal, etc), somente 43,88% dos pesquisado deslocam-se até 500 metros para alcançá-

los. 27,55% dos pesquisados não dispõem dessa fonte secundária de água.

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Tipos de Fontes Quantidade %

Somente poço 1 1,02%

Somente cisterna 22 22,45%

Somente barreiro artificial 5 5,10%

Poço e cisterna 4 4,08%

Poço e Barragem/Açude 1 1,02%

Poço e barreiro artificial 2 2,04%

Cisterna e Barragem/Açude 11 11,22%

Cisterna e Barreiro artificial 26 26,53%

Cisterna e Barreiro natural 1 1,02%

Barragem/Açude e Barreiro artificial 1 1,02%

Poço, cisterna e Barragem/Açude 24 24,49%

Fonte natural (rio, riacho, etc.) 0 0,00%

Total 98 100,00%

NOTA : Foram observadas 06 (seis) habitações que recebiam água encanada, todas no povoado Morada Nova, oriunda de um poço tubular, porém todos os entrevistados afirmaram ter seu uso extremamente limitado, devido a grande salinidade. Há um dessalinizador no poço que os abastece, porém há muito que está inoperante por falta de manutenção. Tais habitações, com água encanada, foram classificadas como com água de poço.

4.2.2.2 Distância, da Habitação à Fonte da Água para Consumo Humano:

Distância Quantidade %

Até 100m: 90 91,84%

Até 500 m: 3 3,06%

Até 1 Km: 2 2,04%

Até 2 Km: 0 0,00%

Acima de 2 Km: 3 3,06%

Total 98 100,00%

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49

4.2.2.3 Distância da Habitação à Fonte de Água para Utilização Diversa

(Asseio Pessoal, Consumo Animal)

Distância Quantidade %

Até 500 m 43 43,88%

Até 1 Km 11 11,22%

Até 2 Km 9 9,18%

Até 3 Km 1 1,02%

Acima de 3 Km 7 7,14%

Total (*) 71 72,45%

NOTA: (*) 27 habitações (correspondente a 27,55%) não dispõem de segunda opção de fonte de água. Utilizam-se da mesma fonte, tanto para consumo humano (beber, cozer alimentos, etc) como para utilização diversa (asseio pessoal, consumo animal, etc).

4.2.2.4 Características da água para consumo humano

4.2.2.4.1 Capacidade Suficiente para Consumo Durante um Ano?

A Tabela abaixo mostra que 70,41% dos entrevistados declarou que o reservatório

de água para consumo humano não dura um ano. Já para 78,87 % dos entrevistados que

dispõem de água para utilização diversa, tal reserva também não supre as necessidades no

período de um ano, conforme tabela do item 4.2.2.5.1.

As reservas mostram-se insuficientes para atender a demanda mínima. Tais

números refletem a limitação de qualquer tentativa de ampliação de uma matriz produtiva

que envolva criação de gado, por exemplo.

Sim

Não

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50

Resposta Quantidade %

Sim 29 29,59%

Não 69 70,41%

Total 98 100,00%

4.2.2.4.2 Possui Processo de Filtragem (Filtro doméstico ou outro)?

Constatou-se que 80,61% das habitações pesquisadas não dispõem de processo de

filtragem, tratamento básico de água para consumo humano, o que potencializa os

problemas relacionados à saúde, dada a vulnerabilidade para doenças de transmissão

hídrica. Acrescente-se que “a falta de conservação ou manejo inadequado das cisternas, tais

como, falta de tampas, rachaduras, cordas e baldes utilizados para retirar a água e os

diversos meios de transporte de água têm proporcionado a contaminação das mesmas”

(AMORIM e PORTO, 2003).

Sim

Não

Resposta Quantidade %

Sim 19 19,39%

Não 79 80,61%

Total 98 100,00%

4.2.2.5 Características da Água para Utilização Diversa

4.2.2.5.1 Capacidade Suficiente Para Consumo Durante Um Ano?

Resposta Quantidade %(*)

Sim 15 21,13%

Não 56 78,87%

Total 71 100,00%

NOTA: (*) Porcentagem considerando-se somente as habitações que utilizam fonte para utilização diversa. (asseio pessoal, consumo animal, etc).

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4.2.3 Cisterna

As cisternas contribuem para a convivência com os rigores das estiagens normais

amenizando a falta de água para as populações, e se apresentou como alternativa viável

para o desenvolvimento da região, permitindo o abastecimento emergencial através de

caminhão-pipa. A pesquisa mostrou que a capacidade de armazenamento não é

dimensionada em função do tamanho da família, e a água acumulada mostrou-se

insuficiente em alguns casos, mesmo servindo somente para matar a sede, ajudar no

preparo de alimentos e asseios básicos. O banho e a água para consumo dos animais que

ajudam o homem a suportar as adversidades do campo não são considerados nos cálculos

de armazenamento de água. Considere-se que tal população é submetida a um esforço

sobre-humano, com trabalho que requer esforço físico, e conseqüente aumenta do consumo

de água.

Do total de habitações pesquisadas, 84,69% utiliza-se de cisternas para

armazenamento de água de chuva.

Foram incluídas como não tendo cisterna, para efeito dos cálculos relacionados à

área de captação, volume armazenado e abastecimento extra, as habitações pesquisadas

conforme segue: 02 (duas) habitações pesquisadas com abastecimento através de cisterna,

porém utilizam cisterna da habitação vizinha, genitora das entrevistadas; 01 (uma)

habitação, por abastecer em uma cisterna comunitária afastada da habitação mais de 500

metros, sem captação de água de chuva, cujo abastecimento é feito através de caminhões-

pipa pela Prefeitura Municipal; 03 (três) habitações, devido à cisterna não armazenar água,

dado elevado nível de infiltração (vazamento).

4.2.3.1 Distribuição

Logradouro (localização)

Quantidade %

Serra 29 34,94%

Sertão 54 65,06%

Total 83 100,00%

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4.2.3.2 Capacidade de armazenamento (Σ das cisternas da habitação)

A capacidade total média de água armazenada nas residências, em cisternas, foi de

20,58 m3, tendo um volume médio armazenado na data da pesquisa de 8,14 m3. Não foi

possível se fazer uma relação entre tais números, uma vez que 55,01% das residências com

cisternas fizeram abastecimento extra de água, em média, com 18,22 m3 por habitação.

Capacidade Quantidade Unidade

Média: 20,58 m3

Máxima: 47,40 m3

Mínima: 14,60 m3

Desvio Padrão: 8,24

4.2.3.3 Volume armazenado (Σ das cisternas da residência):

Volume Quantidade Unidade

Média: 8,14 m3

Máxima: 37,20 m3

Mínima: 0,00 m3

4.2.3.4 Cisternas com abastecimento extra, através de caminhões-pipa:

Quantidade Unidade

Residências com cisterna abastecidas 44 habitações

Abastecimento extra (média) (*) 18,22 m3/ habitação

Porcentagem de cisternas abastecidas (**) 53,01 %

(*) Na cidade apenas um caminhão-pipa tem capacidade de transporte de 14,00 m3, os demais têm capacidade de 8,00 m3 (Fonte: Defesa Civil). O volume de abastecimento extra de água foi calculado com base nas informações fornecidas pelo entrevistado (tipo de caminhão contratado e quantidade). Para efeito de cálculo foi estimada perda de 5,00% durante o deslocamento do veículo (fonte-cisterna).

(**) Cisternas abastecidas em relação à quantidade total de habitações com cisternas (83).

4.2.3.5 Período de Consumo da água.

A pesquisa mostrou que 77,11% das habitações que têm cisterna na zona rural do

município de Marcolândia consomem água da mesma no período de estiagem e no período

chuvoso. Tais números demonstram que a grande maioria das residências consome a água

da cisterna não somente nos 08 (oito) meses de estiagem, mas durante todo o ano. A água

armazenada nas cisternas oferece melhores condições de consumo, e permite

abastecimento extra através de caminhão-pipa.

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Apenas noperíodo deestiagem

No período deestiagem e noperíodochuvoso

Resposta Quantidade %

Apenas no período de estiagem 19 22,89%

No período de estiagem e no período chuvoso 64 77,11%

Total 83 100,00%

4.2.3.6 Encheu (ou não) no último período chuvoso?

Os dados corroboram em parte as informações do item acima, ou seja, que as

residências consomem água no período de chuva. Mostram também, em parte, necessidade

de dimensionar ou ampliar a área de captação de água.

Resposta Quantidade %

Sim 31 37,35%

Não 52 62,65%

Total 83 100,00%

4.2.3.7 Já deixou de utilizar a água por considerar suja?

Resposta Quantidade %

Sim 3 3,61%

Não 80 96,39%

Total 83 100,00%

4.2.3.8 Capacidade suficiente para consumo da família durante (em meses)

(obs: estimativa do entrevistado):

A pesquisa mostrou que 68,68% dos entrevistados estimou que a água da cisterna

cheia consegue atender a demanda da habitação em período inferior a 8 (oito) meses, que

corresponde ao período de estiagem. Ou seja, em algum período a habitação fica sem água

na cisterna para consumo.

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54

3,61%24,10%

19,28%21,69%

13,25%

18,07% até 2 meses

de 2 a 4 meses

de 4 a 6 meses

de 6 a 8 meses

de 8 a 10 meses

de 10 a 12 meses

Tempo estimado Quantidade %

até 2 meses 3 3,61%

de 2 a 4 meses 20 24,10%

de 4 a 6 meses 16 19,28%

de 6 a 8 meses 18 21,69%

de 8 a 10 meses 11 13,25%

de 10 a 12 meses 15 18,07%

Total 83 100,00%

4.2.3.9 Condições das instalações

4.2.3.9.1 Instalações de Captação de Água de Chuva

FIG. 33 – Cisterna - Instalações de Captação de Água de Chuva

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

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55

Instalações de Captação Quantidade %

Muito Bom 52 62,65%

Bom 25 30,12%

Regular 2 2,41%

Suficiente 2 2,41%

Péssimo 1 1,20%

Não têm instalação 1 1,20%

Total 83 100,00%

4.2.3.9.2 Instalações de Descida da Água

FIG. 34 – Cisterna - Instalações de Descida da Água

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

Instalações de descida Quantidade %

Muito Bom 70 84,34%

Bom 11 13,25%

Regular 1 1,20%

Suficiente 0 0,00%

Péssimo 0 0,00%

Não têm instalação 1 1,20%

Total 83 100,00%

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4.2.3.9.3 Instalações de Armazenamento (Cisterna Propriamente Dita)

FIG. 35 e 36 – Cisterna - Instalações de Armazenamento

Fonte: Ilustração do Autor, 2005

Instalações de Armazenamento Quantidade %

Muito Bom 81 97,59%

Bom 0 0,00%

Regular 2 2,41%

Suficiente 0 0,00%

Péssimo 0 0,00%

Total 83 100,00%

4.2.3.9.4 Instalações de Retenção de Impurezas da Captação e Descida

Instalações de Filtragem Quantidade %

Muito Bom 0 0,00%

Bom 1 1,20%

Regular 2 2,41%

Suficiente 3 3,61%

Péssimo 76 91,57%

Não têm instalação 1 1,20%

Total 83 100,00%

4.2.3.10 Manutenção e Limpeza:

34 cisternas (40,96%) foram declaradas como tendo sido feita limpeza nove meses

antes da pesquisa, o que corresponde ao início do período chuvoso na região.

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57

4.2.3.11 Última Chuva Expressiva:

Prejudicado no preenchimento, em virtude dos entrevistados apresentarem

dúvidas quanto ao dia exato. Não houve prejuízo para o presente trabalho, considerando-se

que os dados pluviométricos encontram-se registrados na EMATER-PI.

4.2.3.12 Dimensionamento de Uma Cisterna Residencial para o Semi-Árido

4.2.3.12.1 Consumo Per Capta versus Volume Armazenado

Das habitações pesquisadas, 77,11% declararam que utilizam água da cisterna no

período de estiagem e no período chuvoso. O que é razoável, uma vez que é a água que

oferece melhores condições para consumo.

Para se chegar ao consumo médio per capita de um habitante da zona rural do

semi-árido, utilizou-se como base de cálculo o volume total da cisterna, os abastecimentos

extras através de caminhão-pipa e o volume armazenado no dia do levantamento de campo.

Considerou-se que o dia 02 de maio 2005, em que foi registrada uma chuva de 38,00

mm(Fonte: EMATER-PI), como estando a cisterna cheia. E o dia 09 de setembro, dia

mediano da pesquisa, totalizando-se 130 (cento e trinta dias).

O consumo médio calculado foi de 4,808 m³/pessoa (≈37 litros/dia por habitante),

que corresponde a 8,88 m³/pessoa para um período de 08 (oito) meses. Para

dimensionamento foram selecionadas as habitações que dispõem apenas de cisterna, que

consumiram água no período de estiagem ou no período chuvoso, que fizeram ou não

abastecimento extra de água através de caminhão-pipa, e que encheu por completo no

período chuvoso.

No mês de janeiro, caracteriza-se o início do período chuvoso tanto na cidade de

Marcolândia como na cidade de Teresina (PI). Neste mês a Companhia de Abastecimento

de água do Estado - AGESPISA registrou o consumo médio de 8,22 m³ nas residências

com hidrômetro na cidade de Teresina (PI) (≈ 65,40 litros por pessoa dia). No mês de

outubro, mês de intenso calor, o consumo médio passou a 11,30 m³ (≈ 86,997 litros por

pessoa dia). Um incremento do consumo no mês de outubro em relação a janeiro de 37,47

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58

%. Considere-se a média de moradores da cidade de Teresina de 4,19 pessoas por habitação

(Fonte: IBGE-Censo Demográfico 2000).

Na região pesquisada, o consumo registrado nas habitações pesquisadas com

cisterna, corresponde a 42,5 % da média do habitante da capital do Estado no mês de

outubro do ano de 2005.

4.2.3.12.2 Volume Armazenado versus Área de Captação do Telhado

A análise da relação entre área de telhado de captação (m²) e volume armazenado

da cisterna (m³) permite analisar as condições da captação da água de chuva, considerando-

se a precipitação acumulada de 546,5 mm do último período chuvoso (Fonte: EMATER-

PI). A média calculada é de 2,128 m² (telhado) / m³ (cisterna).

Tal média mostra uma perda de 14,012 % de rendimento dos telhados em relação

à precipitação acumulada, tendo como causas: água utilizada para limpeza (primeiras

águas), deficiência na captação e descida, e evapotranspiração.

4.2.4 Características físicas das edificações (habitações):

4.2.4.1 Características da Parede da Habitação:

Parede Quantidade %

De alvenaria 96 97,96%

De barro 2 2,04%

De palha 0 0,00%

Outro 0 0,00%

Total 98 100,00%

4.2.4.2 Características do teto da habitação:

Teto Quantidade %

Telha cerâmica 98 100,00%

De palha 0 0,00%

Outro 0 0,00%

Total 98 100,00%

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4.2.4.3 Área da projeção do telhado de captação (m²)

4.2.4.3.1 Área do telhado de captação de residências com cisternas

Residências com cisterna (*) Quantidade Unidade

Média: 57,22 m²

Máxima: 160,05 m²

Mínima: 15,54 m²

Desvio Padrão: 32,046

(*) área utilizada para captação de água de chuva

4.2.4.3.2 Área do telhado de captação de residências sem cisternas

Residências sem cisterna (**) Quantidade Unidade

Média: 49,61 m²

Máxima: 93,50 m²

Mínima: 13,86 m²

Desvio Padrão: 23,745

(**) área total do telhado, potencialmente útil para captação de água de chuva

4.2.4.4 Tempo de Construção / Reforma do telhado (área de captação de água

para cisterna):

Tempo Quantidade %

Até 1 ano 10 10,20%

de 2 a 5 anos 26 26,53%

de 5 a 10 anos 17 17,35%

de 10 a 15 anos 15 15,31%

mais de 15 anos 30 30,61%

Total 98 100,00%

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4.2.4.5 Situação do telhado (se de telha cerâmica):

Situação Quantidade %

Muito Bom 61 62,24%

Bom 30 30,61%

Regular 5 5,10%

Suficiente 2 2,04%

Péssimo 0 0,00%

Não têm instalação 0 0,00%

Total 98 100,00%

4.2.4.6 Possui energia elétrica?

Sim

Não

Resposta Quantidade %

Sim 68 69,39%

Não 30 30,61%

Total 98 100,00%

4.2.5 Habitações Pesquisadas por data de pesquisa:

Dia Quantidade %

08 SET 2005 (Quinta-feira) 12 12,24%

09 SET 2005 (Sexta-feira) 26 26,53%

10 SET 2005 (Sábado) 30 30,61%

11 SET 2005 (Domingo) 30 30,61%

Total 98 100,00%

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61

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As ações voltadas para criar condições de sobrevivência na zona rural do

município de Marcolândia, localizada no semi-árido nordestino, requerem atuação do

poder público para assegurar condições ao desenvolvimento sócio-econômico, e garantir a

máxima proteção e preservação da segurança alimentar, da saúde e do meio ambiente.

Para reduzir a vulnerabilidade, é necessário criar condições de desenvolvimento

sustentável através da ampliação da matriz produtiva da região, concentrada na agricultura

e criação de subsistência. São necessárias soluções técnicas de baixo custo, e de estímulos

e subsídios à produção regional, com investimento em opções de meios produtivos

alternativos que não dependam demasiadamente de água, ou permitam a utilização de água

com elevado teor de sólidos totais dissolvidos, visando gerar micro-pólos produtivos para

incremento da economia local.

As decisões sobre a implementação de ações de convivência com a seca exigem o

conhecimento sobre a localização, caracterização e disponibilidade das fontes hídricas.

Para um gerenciamento efetivo dos recursos hídricos, em particular em caráter emergencial

como é o caso das secas, merece atenção a utilização das fontes de abastecimento de água

subterrânea e o armazenamento de água da chuva, uma vez que esses recursos podem

tornar-se significativos no suprimento hídrico da população e dos rebanhos.

A pesquisa identificou como fontes de abastecimento de água para consumo

humano: poço, cisterna, barreiros naturais e artificiais, barragens e açudes. Das habitações

pesquisadas nenhuma declarou abastecer-se de fonte natural, assim considerados os rios,

riachos, poços, etc. Os rios e riachos são temporários, somente tendo água durante a

ocorrência de chuva, em virtude da não existência de lençol freático, e da proximidade da

linha de cumeada do divisor de bacias hidrográficas.

A cisterna apresentou-se como solução duradoura e viável, oferecendo água de

qualidade próxima das residências. É necessário ser feito o dimensionamento do volume

de armazenamento em função da quantidade de membros da habitação, da área de captação

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(telhado), e para o consumo de pequenos animais que são criados para consumo próprio.

A pesquisa constatou que as instalações de captação (92,77 %), de descida (97,59

%) e de armazenamento (97,59 %) das cisternas tiveram avaliação positiva, entre muito

bom ou bom.

São necessárias pesquisas para construção de cisternas de alvenaria de cerâmica

vermelha, impermeabilizada, visando estimular a implantação de indústrias cerâmicas na

região, considerando vantagens adicionais:

a) Os locais perfurados para extração da matéria-prima (argila), transformam-se

em pontos de armazenamento de água de chuva;

b) o período de produção das cerâmicas não coincide com o período de plantio e

colheita;

c) permite a confecção de tijolos e telhas cerâmicas mais resistentes;

d) utiliza como matriz energética a madeira extraída dos locais de desmatamento

para plantio, que pode se transformar em fonte de renda extra, e que é extraviado

(queimado);

e) permite o desenvolvimento da indústria de cerâmicas artesanais.

Concluiu-se com a pesquisa, que as cisternas devem ser dimensionadas e

instaladas atendendo os seguintes itens:

a) ter capacidade volumétrica em função da quantidade de habitantes da residência

a ser abastecida;

b) atender a relação mínima de 8,88 m³/pessoa, visando o consumo no período de

08 (oito) meses, período de estiagem normal;

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c) ser considerada a perda de 14,012 % da precipitação média anual da região (500

mm/ano), para fins de cálculos da área de captação de água de chuva utilizando-se os

telhados.

d) ser em local que permita a aproximação para abastecimento emergencial

através de caminhão-pipa;

e) ser afastada de árvores (ação das raízes), edificações (infiltrações que

comprometam as fundações das mesmas) e currais, apriscos, galinheiros e demais locais

destinados a animais domésticos (potabilidade da água);

f) permanecer com água, mesmo que salgada ou salobra, para evitar rachaduras e

infiltrações.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL . Consulta em 23 OUT 05, site

www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDH-M

CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Glossário de Defesa Civil Estudos de Riscos e Medicina

de Desastres. 4.ed. Revista e Ampliada, Publicação da Secretaria Nacional de Defesa Civil do

Ministério da Integração Nacional. Brasília: 2004.

CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Segurança Global da População. 3.ed., Publicação da

Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional. Brasília: 2000.

CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Manual de Planejamento. Vol. I, Publicação da Secretaria

Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional. Brasília: 2004.

CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Glossário de Defesa Civil Estudos de Riscos e Medicina

de Desastres. 2.ed. Revista e Ampliada, Publicação da Secretaria Nacional de Defesa Civil do

Ministério da Integração Nacional. Brasília: 1998, p. 216.

BARDI, Júlio J. Gestión de Riesgo em Desastres y Emergências Complejas. 1.ed., Centro de

Estúdios Estratégicos, Buenos Aires: 2004.

CONFERENCIA HEMISFÉRICA PARA LA REDUCCIÓN DE RIESGOS. Contribución al

seguimiento de “La Tercera Cumbre de Las Américas”. In: Conferencia Hemisférica para La

Reducción de Riesgos. Anais… Em São José, Costa Rica, de 4 a 6 de dezembro de 2001.

MARCONDES, Clodomir Ramos. Defesa Civil: Orientação legal; Ações nas Emergências;

Mapa de Ameaças Múltiplas; Preparação para os Desastres; Responsabilidade dos Agentes.

2.ed., Imprensa Oficial. São Paulo: 2003.

CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Manual de Desastres, Parte I, II e III. 2.ed. Revista e

Ampliada, Publicação da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração

Nacional. Brasília: 1998.

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CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de Castro. Programa de Redução das Vulnerabilidades à Seca do Semi-

Árido Nordestino-PREVSAN / Introdução – v.1 / Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de

Defesa Civil, Brasília, 2004

5º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva, Teresina, PI, 11-14/07/2005. Tema:

Captação e Manejo de Água de Chuva para Sustentabilidade de Áreas Rurais e Urbanas – Tecnologias e

Construção da Cidadania. Título da apresentação: Transporte e Armazenamento de Água para Consumo

Humano no Sertão do Nordeste em Período de Seca.

DOMINGOS NETO, Manuel, BORGES, Geraldo Almeida. Seca Seculorum, Flagelo e Mito na Economia

Rural Piauiense. Fundação CEPRO, Teresina-PI, 1983.

SANTOS, Myrthes Marcele. Relatório Técnico: Vulnerabilidade Climática e Consumo de Energia

Elétrica em Áreas Urbanas. Rio de Janeiro, Junho / 2000.

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ANEXOS

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ANEXO 1

FIGURA 37 - Mapa do Piauí. Localização Geográfica do Município de Marcolândia.

Fonte: CPRM (2004)

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ANEXO 2

FIGURA 38 – Mapa de Pontos e Cursos de Água, Limites territoriais e estradas

Fonte: CPRM (2004)

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ANEXO 3

TABELA 2 – Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal, 1991 e 2000

Município IDHM, 1991

IDHM, 2000

IDHM-Renda, 1991

IDHM-Renda, 2000

IDHM-Longevi

dade, 1991

IDHM-Longevidade, 2000

IDHM-

Educação, 1991

IDHM-

Educação, 2000

Florianópolis (SC) 0,824 0,875 0,803 0,867 0,771 0,797 0,898 0,96 Porto Alegre (RS) 0,824 0,865 0,818 0,869 0,748 0,775 0,907 0,951 Brasília (DF) 0,799 0,844 0,801 0,842 0,731 0,756 0,864 0,935 Rio de Janeiro (RJ) 0,798 0,842 0,794 0,84 0,714 0,754 0,887 0,933 São Paulo (SP) 0,805 0,841 0,822 0,843 0,726 0,761 0,868 0,919 Teresina (PI) 0,713 0,766 0,637 0,695 0,708 0,734 0,793 0,87 Marcolândia (PI) 0,479 0,598 0,463 0,526 0,561 0,632 0,412 0,636

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil

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ANEXO 4

TABELA 3 – Informações do Município de Marcolândia (PI).

Descrição Valor Unidade Pessoas residentes - 2000 6178 Habitantes Homens residentes - 2000 3060 Habitantes Mulheres residentes - 2000 3118 Habitantes Pessoas residentes - área urbana - 2000 4748 Habitantes Pessoas residentes - área rural - 2000 1430 Habitantes Pessoas Residentes - 10 anos ou mais de idade - Sem instrução ou menos de 1 ano de estudo 1704 Pessoas Esgoto - Domicílios particulares permanentes com banheiro ligado à rede geral 0 Domicílios Água - Domicílios particulares permanentes com abastecimento ligado à rede geral 2 Domicílios Domicílios particulares permanentes - 2000 1458 Domicílios

Fonte: IBGE, Censo 2000

TABELA 4 - População residente, por deslocamento para trabalho ou estudo,

segundo a situação do domicílio e os grupos de idade - PIAUÍ

Situação do domicílio e grupos de

idade

População residente

Total (1)

Deslocamento para trabalho ou estudo

Trabalhavam ou estudavam no município de

residência

Não trabalhavam

nem estudavam

Trabalhavam ou estudavam em

outro município da Unidade da

Federação

Trabalhavam ou estudavam

em outra Unidade da Federação

Trabalhavam ou

estudavam em País

estrangeiro

Total.......... 2 843 428 1 852 933 944 167 31 939 14 052 20 Urbana...... 1 788 330 1 183 690 573 516 20 945 10 011 5 Rural......... 1 055 098 669 243 370 651 10 994 4 041 15

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

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ANEXO 5

TABELA 5 - Pessoas de 5 anos ou mais de idade que não residiam no Estado do Piauí

em 31.07.1995, segundo o lugar de residência em 31.07.1995.

Lugar de residência TOTAL Lugar de residência TOTAL

Total............................ 89 772 Bahia.............................. 3 736

Rondônia........................... 313 Minas Gerais.................. 1 473

Acre.................................. 26 Espírito Santo................. 320

Amazonas......................... 788 Rio de Janeiro................ 2 231

Roraima............................ 471 São Paulo....................... 23 367

Pará.................................. 3 988 Paraná............................ 343

Amapá.............................. 129 Santa Catarina............... 219

Tocantins.......................... 1 188 Rio Grande do Sul........ 815

Maranhão......................... 24 533 Mato Grosso do Sul...... 317

Ceará............................... 8 335 Mato Grosso................. 883

Rio Grande do Norte...... 826 Goiás............................ 2 171

Paraíba........................... 1 016 Distrito Federal............ 6 770

Pernambuco................... 3 655 Brasil sem especificação......

764Alagoas.......................... 468

Sergipe........................... 355 Exterior........................ 269

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

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ANEXO 6

TABELA 6 - Pessoas de 5 anos ou mais de idade, naturais do Estado do Piauí que já

residiram fora do município, em relação ao município de residência atual, segundo o

lugar de residência em 31.07.1995

Lugar de residência TOTAL Lugar de residência TOTAL

Total.................... 606 268 Bahia.............................. 3 736

Rondônia...................... 197 Minas Gerais.................. 1 473

Acre.............................. 26 Espírito Santo................. 320

Amazonas..................... 401 Rio de Janeiro................ 2 231

Roraima........................ 215 São Paulo....................... 23 367

Pará.............................. 1 769 Paraná............................ 343

Amapá.......................... 32 Santa Catarina............... 219

Tocantins...................... 690 Rio Grande do Sul........ 815

Maranhão..................... 5 899 Mato Grosso do Sul...... 317

Piauí............................. 564 871 Mato Grosso................. 883

Ceará............................ 2 327 Goiás............................ 2 171

Rio Grande do Norte.... 378 Distrito Federal............ 6 770

Paraíba.......................... 423 Brasil sem especificação......

764Pernambuco.................. 1 270

Alagoas......................... 173 Exterior........................ 269

Sergipe.......................... 154

Bahia............................. 1 389

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

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ANEXO 7

MÚSICA: “Asa Branca” - Luíz Gonzaga

Composição: Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira

Quando oiei a terra ardendo / Qua fogueira de São João / Eu perguntei a Deus do céu, uai /

Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia / Nem um pé de prantação / Por farta d'água perdi meu gado /

Morreu de sede meu alazão

Até mesmo a asa branca / Bateu asas do sertão / Então eu disse a deus Rosinha / Guarda

contigo meu coração

Hoje longe muitas léguas / Numa triste solidão / Espero a chuva cair de novo / Para eu

voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus oio / Se espalhar na prantação / Eu te asseguro não chore não, viu

/ Que eu voltarei, viu Meu coração

(luiz-gonzaga.letras.terra.com.br/letras/47081)

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ANEXO 8

MÚSICA: “A Triste Partida” - Luíz Gonzaga

Composição: Patativa do Assaré

Meu Deus, meu Deus / Setembro passou / Outubro e Novembro / Já tamo em Dezembro /

Meu Deus, que é de nós, / Meu Deus, meu Deus

Assim fala o pobre / Do seco Nordeste / Com medo da peste / Da fome feroz / Ai, ai, ai, ai

A treze do mês / Ele fez experiênça / Perdeu sua crença / Nas pedras de sal, / Meu Deus,

meu Deus

Mas noutra esperança / Com gosto se agarra / Pensando na barra / Do alegre Natal / Ai, ai,

ai, ai

Rompeu-se o Natal / Porém barra não veio / O sol bem vermeio / Nasceu muito além / Meu

Deus, meu Deus

Na copa da mata / Buzina a cigarra / Ninguém vê a barra / Pois barra não tem / Ai, ai, ai, ai

Sem chuva na terra / Descamba Janeiro, / Depois fevereiro / E o mesmo verão / Meu Deus,

meu Deus

Entonce o nortista / Pensando consigo / Diz: "isso é castigo / não chove mais não" / Ai, ai,

ai, ai

Apela pra Março / Que é o mês preferido / Do santo querido / Sinhô São José / Meu Deus,

meu Deus

Mas nada de chuva / Tá tudo sem jeito / Lhe foge do peito / O resto da fé / Ai, ai, ai, ai

Agora pensando / Ele segue outra tria / Chamando a famia / Começa a dizer / Meu Deus,

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meu Deus

Eu vendo meu burro / Meu jegue e o cavalo / Nóis vamo a São Paulo / Viver ou morrer /

Ai, ai, ai, ai

Nóis vamo a São Paulo / Que a coisa tá feia / Por terras alheia / Nós vamos vagar / Meu

Deus, meu Deus

Se o nosso destino / Não for tão mesquinho / Ai pro mesmo cantinho / Nós torna a voltar /

Ai, ai, ai, ai

E vende seu burro / Jumento e o cavalo / Inté mesmo o galo / Venderam também / Meu

Deus, meu Deus

Pois logo aparece / Feliz fazendeiro / Por pouco dinheiro / Lhe compra o que tem / Ai, ai,

ai, ai

Em um caminhão / Ele joga a famia / Chegou o triste dia / Já vai viajar / Meu Deus, meu

Deus

A seca terrívi / Que tudo devora / Ai,lhe bota pra fora / Da terra natal / Ai, ai, ai, ai

O carro já corre / No topo da serra / Oiando pra terra / Seu berço, seu lar / Meu Deus, meu

Deus

Aquele nortista / Partido de pena / De longe acena / Adeus meu lugar / Ai, ai, ai, ai

No dia seguinte / Já tudo enfadado / E o carro embalado / Veloz a correr / Meu Deus, meu

Deus

Tão triste, coitado / Falando saudoso / Com seu filho choroso / Iscrama a dizer / Ai, ai, ai,

ai

De pena e saudade / Papai sei que morro / Meu pobre cachorro / Quem dá de comer? / Meu

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Deus, meu Deus

Já outro pergunta / Mãezinha, e meu gato? / Com fome, sem trato / Mimi vai morrer / Ai,

ai, ai, ai

E a linda pequena / Tremendo de medo / "Mamãe, meus brinquedo / Meu pé de fulô?" /

Meu Deus, meu Deus

Meu pé de roseira / Coitado, ele seca / E minha boneca / Também lá ficou / Ai, ai, ai, ai

E assim vão deixando / Com choro e gemido / Do berço querido / Céu lindo e azul / Meu

Deus, meu Deus

O pai, pesaroso / Nos fio pensando / E o carro rodando / Na estrada do Sul / Ai, ai, ai, ai

Chegaram em São Paulo / Sem cobre quebrado / E o pobre acanhado / Percura um patrão /

Meu Deus, meu Deus

Só vê cara estranha / De estranha gente / Tudo é diferente / Do caro torrão / Ai, ai, ai, ai

Trabaia dois ano, / Três ano e mais ano / E sempre nos prano / De um dia vortar / Meu

Deus, meu Deus

Mas nunca ele pode / Só vive devendo / E assim vai sofrendo / É sofrer sem parar / Ai, ai,

ai, ai

Se arguma notíça / Das banda do norte / Tem ele por sorte / O gosto de ouvir / Meu Deus,

meu Deus

Lhe bate no peito / Saudade de móio / E as água nos óio / Começa a cair / Ai, ai, ai, ai

Do mundo afastado / Ali vive preso / Sofrendo desprezo / Devendo ao patrão / Meu Deus,

meu Deus

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O tempo rolando / Vai dia e vem dia / E aquela famia / Não vorta mais não / Ai, ai, ai, ai

Distante da terra / Tão seca mas boa / Exposto à garoa / A lama e o paú / Meu Deus, meu

Deus

Faz pena o nortista / Tão forte, tão bravo / Viver como escravo / No Norte e no Sul / Ai, ai,

ai, ai

(luiz-gonzaga.letras.terra.com.br/letras/82378/)

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ANEXO 9

TABELA 7 - Dados Pluviométricos (mm) do Município de Marcolândia - PI

ANO: 1993/1994

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 27,0 26,0 300,5 156,0 172,5 73,0 26,0 2,5 0,0 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 27,0 53,0 353,5 509,5 682,0 755,0 781,0 783,5 783,5 783,5 783,5 783,5

ANO: 1994/1995

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 40,5 132,0 82,5 173,0 156,5 237,0 24,5 8,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 40,5 172,5 255,0 428,0 584,5 821,5 846,0 854,0 854,0 854,0 854,0 854,0

ANO: 1995/1996

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 29,0 38,0 114,0 190,0 82,0 295,0 120,5 84,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 29,0 67,0 181,0 371,0 453,0 748,0 868,5 952,5 952,5 952,5 952,5 952,5

ANO: 1996/1997

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 52,5 22,0 144,0 60,5 236,5 196,0 117,0 7,5 12,5 0,0 0,0 47,5

Acumulado (mm) 52,5 74,5 218,5 279,0 515,5 711,5 828,5 836,0 848,5 848,5 848,5 896,0

ANO: 1997/1998

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 19,0 35,5 194,0 159,5 162,5 5,0 10,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 19,0 54,5 248,5 408,0 570,5 575,5 585,5 585,5 585,5 585,5 585,5 585,5

ANO: 1998/1999

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 90,0 27,5 179,5 225,0 231,5 31,5 37,5 0,0 0,0 2,5 0,0 30,0

Acumulado (mm) 90,0 117,5 297,0 522,0 753,5 785,0 822,5 822,5 822,5 825,0 825,0 855,0

ANO: 1999/2000

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 119,5 54,5 83,0 179,0 78,5 113,0 0,0 14,0 0,0 19,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 119,5 174,0 257,0 436,0 514,5 627,5 627,5 641,5 641,5 660,5 660,5 660,5

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79

ANO: 2000/2001

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 38,5 134,5 33,0 81,0 104,0 49,5 17,5 0,0 19,5 0,0 32,0 0,0

Acumulado (mm) 38,5 173,0 206,0 287,0 391,0 440,5 458,0 458,0 477,5 477,5 509,5 509,5

ANO: 2001/2002

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 9,0 51,0 307,0 29,0 109,0 27,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 9,0 60,0 367,0 396,0 505,0 532,5 532,5 532,5 532,5 532,5 532,5 532,5

ANO: 2002/2003

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 57,0 137,5 165,0 91,5 119,0 51,5 52,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 57,0 194,5 359,5 451,0 570,0 621,5 673,5 673,5 673,5 673,5 673,5 673,5

ANO: 2003/2004

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT

Precipitação (mm) 17,0 19,5 503,0 279,0 122,5 22,5 17,0 10,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 17,0 36,5 539,5 818,5 941,0 963,5 980,5 990,5 990,5 990,5 990,5 990,5

ANO: 2004/2005

mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO

Precipitação (mm) 27,0 12,0 118,0 61,5 200,5 45,0 82,5 0,0 0,0 0,0

Acumulado (mm) 27,0 39,0 157,0 218,5 419,0 464,0 546,5 546,5 546,5 546,5

Fonte: EMATER-PI

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FICHA Nº ........................

ANEXO 10

FIGURA 39 – Ficha de Pesquisa de Campo.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CT - DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESPEC. EM PLANEJ. E GESTÃO EM DEFESA CIVIL

== FICHA DE PESQUISA ==

Obtenção de Água para Consumo Humano Município de Marcolândia-PI (Zona Rural)

1

Local visitado

Latitude (Sul)=> Longitude (Oeste) => Altitude (em relação ao nível médio do mar): Povoado/Logradouro: Morador (Nome): Idade: Nº de Pessoas (na casa): Tempo que reside (no local):

2 Água para Consumo Humano Residencial

2.1

Fontes de água

TIPOS DE FONTE 1 Poço (tubular, cacimbão, etc) 4 Fonte natural (Rio, riacho, etc) 2 Cisterna . 5 Barreiro artificial (*) 3 Barragem / Açude 6 Barreiro natural (*) 7 Outro: Distância (Residência - fonte de água) para consumo humano 1 Até 100m 2 Até 500 m 3 Até 1 Km 4 Até 2 Km 5 Acima de 2 Km Distância (Residência - fonte de água) para utilização diversa (asseio pessoal, consumo animal, etc) 1 Até 500 m 2 Até 1 Km 3 Até 2 Km 4 Até 3 Km 5 Acima de 3 Km

2.2

Características

da água (consumo humano)

1 Doce 2 Pouco salgada 3 Medianamente salgada 4 Muito salgada Capacidade suficiente para consumo durante um ano? 1 Sim ---------------- 2 Não Possui dessalinizador --------------------------------- 1 Sim --------------------------- 2 Não Possui processo de filtragem ----------------------- 1 Sim --------------------------- 2 Não Já foi realizada análise de qualidade água?---- 1 Sim --------------------------- 2 Não

2.3

Características

da água (utilização diversa)

1 Doce 2 Pouco salgada 3 Medianamente salgada 4 Muito salgada Capacidade suficiente para consumo durante um ano? 1 Sim ---------------- 2 Não Possui dessalinizador 1 Sim --------------------------- 2 Não Possui processo de filtragem 1 Sim--------------------------- 2 Não Já foi realizada análise de qualidade água? 1 Sim--------------------------- 2 Não

2.4

Cisterna

Capacidade: ............................ m3 Volume Armazenado: ........................ m3 A água da cisterna é consumida 1 No período chuvoso 2 No período de estiagem Construída com recursos 1 Próprios 2 Governo 3 Comunitária 4 Parceria Encheu no último período chuvoso? 1 Sim ------------- 2 Não Já deixou de utilizar a água por considerar suja? 1 Sim ------------- 2 Não Capacidade suficiente para consumo da família durante (em meses): 1 até 2 m 2 de 2 a 4 m 3 de 4 a 6 4 de 6 a 8 5 de 8 a 10 6 de 10 a 12 Condições das instalações (1-Muito Bom; 2-Bom; 3-Regular; 4-Suficiente; 5-Péssimo): Área de Captação Instalações de descida Armazenamento Filtragem MANUTENÇÃO e LIMPEZA 1 Manutenção 2 Limpeza Há quanto tempo? ÚLTIMA CHUVA EXPRESSIVA 1 Até 2m 2 3m 3 4m 4 5m 5 + 5m

3 Características da Edificação

3.1

Característica da

edificação

Parede: 1 Alvenaria 2 Barro 3 Palha 4 Outro: Teto: 1 Telha cerâmica 2 Palha 3 Outro: Área do telhado de captação: ....................... m² Tempo de construção: 1 Até 1 ano 2 de 2 a 5a 3 de 5 a 10 4 De 10 a 15a 5 + de 15a Situação do telhado (se de telha cerâmica) 1 Muito bom 2 bom 3 regular 4 suficiente 5 péssimo Possui Energia elétrica ------------------------ 1 Sim 2 Não

4 NOME DO ENTREVISTADO:

5 NOME DO PESQUISADOR: José Veloso Soares Data da entrevista:

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