formas arquitetônicas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO CHRISTINA ARAUJO PAIM CARDOSO FORMAS ARQUITETÔNICAS: POSSIBILIDADES EM AMBIENTE COMPUTACIONAL SALVADOR 2005

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Formas Arquitetônicas

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    FACULDADE DE ARQUITETURA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO

    CHRISTINA ARAUJO PAIM CARDOSO

    FORMAS ARQUITETNICAS: POSSIBILIDADES EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

    SALVADOR

    2005

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    CHRISTINA ARAUJO PAIM CARDOSO

    FORMAS ARQUITETNICAS: POSSIBILIDADES EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. rea de Concentrao: Urbanismo.

    Orientador: Prof. Dr. Arivaldo Leo de Amorim

    SALVADOR

    2005

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMO

    CHRISTINA ARAUJO PAIM CARDOSO

    FORMAS ARQUITETNICAS: POSSIBILIDADES EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

    Tese para obteno do grau de Doutor em Arquitetura e Urbanismo

    Salvador, 26 de Agosto de 2005

    Banca Examinadora

    ___________________________________________________ Prof. Doutor Arivaldo Leo de Amorim (Orientador) Universidade Federal da Bahia Faculdade de Arquitetura

    ___________________________________________________ Profa. Doutora Elisabetta Romano Universidade Federal da Paraba- Departamento de Arquitetura ___________________________________________________ Prof. Doutor Gilberto Corso Pereira Universidade Federal da Bahia Faculdade de Arquitetura

    ___________________________________________________ Prof. Doutor Gilberto Sarkis Yunes Universidade Salvador

    ___________________________________________________ Prof. Doutor Isaas de Carvalho Santos Neto Universidade Federal da Bahia

  • 3

    Dedico este trabalho minha famlia, e a todos aqueles que sempre incentivaram as minhas atividades acadmicas.

  • 4

    AGRADECIMENTOS Ao Prof. Arivaldo Leo de Amorim, que me orientou com extrema competncia, zelo e dedicao, pela amizade, pelos ensinamentos transmitidos e, sobretudo, por confiar na minha proposta de trabalho; Aos professores Examinadores por terem aceito participar da Banca e pelas contribuies ao trabalho durante o exame de qualificao; Aos colegas do Departamento das Geometrias de Representao, que supriram as minhas ausncias quando em licenas para elaborao da tese, alm do estmulo e amizade em todos os momentos; A Iza, Natalie, Jaine e Tatiana Pessoa pelo auxlio na pesquisa e pelos conhecimentos compartilhados durante a elaborao do trabalho; Ao Prof. Dr. Enaldo Vergasta, pela gentileza e presteza nas contribuies no campo da Matemtica; Equipe do LCad, que gentilmente me acolheu durante a realizao das pesquisas, disponibilizando inclusive o seu acervo bibliogrfico, e em especial a Neusa, cujo carinho e cafezinho sempre foram estimulantes; Aos alunos e professores das turmas 01 e 02 do Atelis III e turma 01 do Ateli IV, do ano letivo de 2004, pela colaborao com a pesquisa e pelas discusses enriquecedoras sobre o tema; A coordenao e funcionrios do Colegiado do Curso de Arquitetura que viabilizaram a pesquisa dos Trabalhos Finais de Graduao; A Anete, Andrei Miler e Marcos Queiroz pelo material bibliogrfico disponibilizado; A Antonio Carlos, pelo companheirismo e suporte afetivo to importantes, e a meus filhos, me e irmos pela pacincia e compreenso nas horas subtradas do nosso convvio; E, finalmente, a todos que colaboraram com a realizao deste trabalho e que por falha no tenham sido citados,

    meu muito obrigada!

  • 5

    RESUMO Este trabalho trata da anlise da utilizao das ferramentas CAD e do papel que estas exercem na concepo e produo da forma arquitetnica. Seu objetivo analisar que influncia as ferramentas CAD, enquanto instrumentos de projeto, tem na produo de formas em arquitetura e verificar como se d esta influncia, a partir da constatao que a introduo das novas tecnologias computacionais com seus amplos recursos provocou uma mudana nas habilidades criativa e cognitiva envolvidas neste processo. Com a introduo das ferramentas computacionais no auxlio ao projeto a produo de formas arquitetnicas ganhou novas possibilidades, tornando viveis formas outrora consideradas complexas demais para serem projetadas e construdas, no apenas no que diz respeito sua geometria, mas tambm no que se refere ao seu comportamento. Assim, para atingir-se o objetivo os procedimentos que foram levados a efeito foram inicialmente montar um quadro conceitual atravs da anlise da forma, quanto a seus elementos, percepo e propriedades visuais, seguindo com suas propriedades geomtricas, gerao e classificao enquanto superfcies. A anlise da representao, alm de ser classificada quanto a caractersticas e aplicaes no projeto, tambm leva em conta o instrumental utilizado na sua construo, j separado em dois grandes grupos: o dos instrumentos tradicionais e o das ferramentas computacionais. Fechando este quadro conceitual, o processo de projeto ento discutido, frente utilizao do instrumental de representao. Dando continuidade, so realizados procedimentos de observao e anlise da produo da forma versus o instrumental utilizado na sua projetao. Faz-se ento a anlise das solues formais de algumas obras consideradas no convencionais, identificando a presena, ou no, das ferramentas computacionais na sua produo. E, finalizando, verifica-se o impacto da utilizao das ferramentas CAD no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFBA, atravs da anlise, sob o aspecto geomtrico, do resultado formal de propostas apresentadas no Trabalho Final de Graduao e em algumas turmas de Ateli (disciplina do curso responsvel pelo projeto arquitetnico), por estudantes que utilizaram estas ferramentas na sua elaborao e/ou representao. O trabalho concludo com uma abordagem geral das principais observaes e concluses a partir do que foi apresentado, com consideraes e recomendaes guisa de contribuio crtica construtiva sobre a adoo e apropriao do ferramental computacional na produo da forma arquitetnica, bem como de algumas referncias a futuros desdobramentos que o mesmo possa vir a ter. Palavras chave: Forma, projeto, ferramentas CAD.

  • 6

    ABSTRACT

    This work treats of the analysis of the use of the CAD tools and of the paper that these exercise in the conception and production in the architectural form. Its objective is to analyze what kind of influence the CAD tools, while design instruments, has in the production of forms in architecture and to verify how this influence gets, starting from the verification that the introduction of the new computational technologies with their wide resources provoked a change in the creative and cognitive abilities involved in this process. With the introduction of the computational tools in the aid to the design the production of architectural forms won new possibilities, turning viable forms otherwise considered too complex for be designed and built, not just in what it concerns its geometry, but also in what it refers to its behavior. So, to reach the objective the procedures that were taken to effect went to set up a conceptual picture initially through the analysis of the form, as for their elements, perception and visual properties, proceeding with their geometric properties, generation and classification while surfaces. The analysis of the representation, besides being classified as their characteristics and applications in the design, it also consider the instrumental used in its construction, already separate in two big groups: the traditional instruments and the computational tools. Closing this conceptual picture, the design process is now discussed, front to the use of the instrumental of representation. Giving continuity, observation procedures and analysis of production of the form versus the instrumental used in its design are accomplished. The analysis of the formal solutions of some works considered unconventionals is made, identifying the presence, or not, of the computational tools in its production. And, concluding, the impact of the use of the CAD tools is verified in the course of Architecture and Urbanization of UFBA, through the analysis, under the geometric aspect, of the formal result of proposed presented in the Final Work of Graduation and in some groups of Studio (discipline of the responsible course for the architectural project), by students that used these tools in his elaboration and/or representation. The work is concluded with a general approach of the main observations and extracted conclusions taken from what was presented, with considerations and recommendations to the contribution mode to the constructive critic about the adoption and appropriation of the computational tools in the production of the architectural forms, as well as of some references to futures unfoldings that the same can come to have.

    Key words: Form, design, CAD tools.

  • 7

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ 10

    LISTA DE SIGLAS/ABREVIATURAS .............................................................................. 14

    INTRODUO ................................................................................................................ 15

    FORMA E GEOMETRIA ................................................................................................. 22

    ESTUDO DA FORMA ............................................................................................ 22

    Conceituao .................................................................................................. 23

    Elementos da Forma ...................................................................................... 25

    Percepo e Propriedades Visuais da Forma ................................................ 27

    GEOMETRIA ......................................................................................................... 29

    Breve Histrico ............................................................................................... 29

    A Geometria e seu Estudo ...............................................................................37

    FORMA E GEOMETRIA ....................................................................................... 39

    Gerao da Forma Arquitetnica ....................................................................40

    Superfcies Geomtricas .................................................................................43

    Tipologia das Formas .................................................................................... 47

    TECNOLOGIA .............................................................................................................. 48

    2.1 TECNOLOGIA E ARQUITETURA ................................................................... 48

    2.2 TECNOLOGIA E PROCESSO DE PROJETO ................................................. 49

    2.2.1 Representao visual da forma ...................................................... 50

    2.2.2 A Representao no processo projetual ..........................................55

    2.2.3 Recursos tradicionais para representao ..................................... 61

    2.2.4 Recursos computacionais de representao ................................. 67

    2.3 TCNICAS COMPUTACIONAIS DE MODELAGEM E A ARQUITETURA ....... 72

    2.3.1 Modelos de arestas (wireframe) ..................................................... 75

    2.3.2 Modelos de superfcie ..................................................................... 76

    2.3.3 Modelos de slidos ......................................................................... 81

  • 8

    2.4 FERRAMENTAS CAD E A PRODUO DA FORMA ........................................ 91

    2.4.1 Caractersticas gerais ....................................................................... 94

    a. Ferramentas genricas ............................................................... 94

    b. Ferramentas de modelamento e/ou dedicadas para mecnica......... 95

    c. Programas dedicados ao projeto de arquitetura ................................ 96

    2.4.2 Aspectos vinculados gerao da forma ......................................... 97

    a. Ferramentas genricas .......................................................................... 97

    b. Ferramentas de modelamento ............................................................... 97

    c. Programas dedicados ao projeto de arquitetura .................................... 99

    2.5 A REALIDADE VIRTUAL COMO RECURSO AUXILIAR DE PROJETA........ 100

    FORMAS ARQUITETNICAS EM AMBIENTE COMPUTACIONAL .......................... 106

    3.1 O COMPUTADOR COMO EDITOR DE DESENHO ........................................... 107

    3.2 AS FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS TAMBM COMO INSTRUMENTOS

    DE CONCEPO .............................................................................................108

    3.3 O COMPUTADOR ROUBA A CENA ..................................................................128

    3.3.1 Arquitetura lquida ........................................................................... 129

    3.3.2 Time-like architecture ...................................................................... 132

    3.3.3 Arquitetura Gentica ....................................................................... 133

    3.3.4 Animate Form .................................................................................. 134

    UM OLHAR SOBRE A PRODUO DOS ALUNOS DA FAUFBa ............................. 137

    4.1 SOBRE A ABORDAGEM ..................................................................................138

    4.2 PERCEPO DOS DOCENTES DA FAUFBA NO MOMENTO ATUAL .......140

    4.3 TRABALHOS ACADMICOS ATELIS E TFG............................................. 145

    4.3.1 O uso do computador apenas como editor desenho ...................... 147

    a. Atelis III e IV ............................................................................ 147

    b. TFG ........................................................................................... 155

    4.3.2 O computador utilizado tambm como ferramenta de concepo.. 155

    CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................... 184

  • 9

    CONCLUSES ....................................................................................................... 190

    RECOMENDAES ............................................................................................... 192

    DESDOBRAMENTOS E CONTINUIDADE ............................................................... 194

    BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 196

    REFERNCIAS ...................................................................................................... 196

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .............................................................................. 200

    SITES CONSULTADOS ....................................................................................... 204..

    APNDICES

    Apndice 01: Ficha dos Programas analisados ..................................................... 205

    Apndice 02: Relao dos trabalhos do Ateli Cooperativo de Simulao

    Digital ............................................................................................. 217

    Apndice 03: Relao dos Trabalhos Finais de Graduao destacados

    na tese ........................................................................................... 219

    Apndice 04: Ficha de perfil do aluno do ateli ..................................................... 221

    Apndice 05: Ficha de acompanhamento de atividades do ateli ........................ 223

    Apndice 06: Fichas dos Atelis III e IV acompanhados ...................................... 225

  • LISTA DE FIGURAS Captulo 1 FORMA E GEOMETRIA Figura 1.01: Ponto .................................................................................................... 25 Figura 1.02: Linha ..................................................................................................... 26 Figura 1.03: Pores de Superfcies limitadas por bordas ....................................... 26 Figura 1.04: Volume ................................................................................................. 26 Figura 1.05: A percepo da figura muda conforme mudamos a posio do apoio. 28 Figura 1.06: O quadrado que est cobrindo o outro parece estar mais prximo ..... 29 Figura 1.07: O quadrado menor parece estar mais distante .................................... 29 Figura 1.08: Conjunto de Cantor .............................................................................. 34 Figura 1.09: Curva de Koch ...................................................................................... 35 Figura 1.10: Tringulo de Sierpinski ......................................................................... 35 Figura 1.11: Sistema Cnico de Projeo ............................................................... 38 Figura 1.12: Sistema Cilndrico de Projeo ............................................................ 38 Figura 1.13: Slidos primrios .................................................................................. 41 Figura 1.14: Slidos Platnicos ou regulares ........................................................... 42 Figura 1.15: Superfcies geradas por retas e por curvas.......................................... 45 Figura 1.16: Classificao Mongeana das Superfcies............................................. 46 Captulo 2 - TECNOLOGIA Figura 2.01: Ciclo esquemtico do processo de produo da Arquitetura ............... 58 Figura 2.02: Reichstag Conversion: esboos. Arquiteto: Santiago Calatrava .......... 59 Figura 2.03: Reichstag Conversion: maquete de estudo. ........................................ 60 Figura 2.04: Igreja da Colnia Gell: pintura feita por Gaud ................................... 64 Figura 2.05: Igreja da Colnia Gell: Maquete funicular. Arquiteto: Gaud .............. 64 Figura 2.06: Sydney Opera House - Austrlia........................................................... 66 Figura 2.07: Sydney Opera House Austrlia. Cobertura que lembra velas de embarcaes........................................................................................ 66 Figura 2.08: Tabela ilustrativa dos nveis de representao grfica e alfanumrica ....................................................................................... 69 Figura 2.09: Objeto modelado em wireframe, onde todas as arestas so visveis .. 76 Figura 2.10: Poliedro modelado por superfcies, com o recurso hidden (linhas escondidas) aplicado s arestas no visveis ...................................... 77 Figura 2.11: Superfcie formada por malha poligonal .............................................. 77 Figura 2.12: Edifcio da National Nederlanden: modelagem utilizando as splines e B-splines ............................................................................................ 79 Figura 2.13: Edifcio da National Nederlanden: fotomontagem ................................ 80 Figura 2.14: Capela de Ronchamp: estrutura da cobertura. Dados grficos e resoluo espacial com a utilizao de NURBS .................................. 81 Figura 2.15: Capela de Ronchamp: anlise formal e de curvatura da cobertura ..... 81 Figura 2.16: Slido modelado por fronteira .............................................................. 83 Figura 2.17: Cubo e esfera, aos quais sero aplicadas operaes booleanas ........ 84 Figura 2.18: Aplicao de operaes booleanas de subtrao e unio ................... 84 Figura 2.19: Aplicaes de operaes booleanas de subtrao e interseo ......... 85 Figura 2.20: Slidos resultantes da aplicao de operaes booleanas a um cilindro e uma esfera ............................................................................ 85

  • 11

    Figura 2.21: Toride representado por enumerao exaustiva ou enumerao espacial ................................................................................................ 86 Figura 2.22a: Slido envolvente. Octante e sentido da numerao ......................... 87 Figura 2.22b: O Slido............................................................................................... 87 Figura 2.22c: A rvore Representao do slido por octree ................................. 88 Figura 2.23: Pea mecnica modelada a partir da decomposio celular................ 88 Figura 2.24: Duas esferas, ou metaballs e seus raios de influncia......................... 89 Figura 2.25a: As esferas isoladas ............................................................................ 89 Figura 2.25b: As duas esferas unidas, sob a ao do raio de influncia, transformam-se num glbulo .............................................................. 89 Figura 2.26: Koorean Preabiterian Church: interior. Projeto do arquiteto Greg Lynn, que utilizou os BLOBS para sua concepo ..................... 90 Figura 2.27: esquerda, exemplo de superfcie gerada pelo movimento do mouse, e direita as linhas geradoras .............................................. 103

    Captulo 3. FORMAS ARQUITETNICAS EM AMBIENTE COMPUTACIONAL

    Figura 3.01: Harbourside Centre, em Bristol: maquete .......................................... 111 Figura 3.02: Harbourside Centre, em Bristol: perspectiva a partir do modelo tridimensional do auditrio de concertos. ........................................... 111 Figura 3.03: Swiss Re, em Londres. Arquitetos: Norman Foster e Associados ..... 113 Figura 3.04: Swiss Re, em Londres: maquete de estudos ..................................... 114 Figura 3.05:Torres Petronas: esquema utilizado na planta baixa. Arquiteto: Csar Pelli .......................................................................................... 115 Figura 3.06: Torres Petronas: perspectiva esquemtica de um trecho .................. 115 Figura 3.07: Torres Petronas .................................................................................. 115 Figura 3.08: Auditrio Disney: perspectiva a partir do modelo tridimensional Arquiteto: Frank Gehry ....................................................................... 118 Figura 3.09: Auditrio Disney: maquete. ................................................................ 119 Figura 3.10: Auditrio Disney: maquete da verso final. ........................................ 119 Figura 3.11: Museu de Niteri. Arquiteto: Oscar Niemeyer .................................... 120 Figura 3.12: Novo Museu de Curitiba, projeto de Oscar Niemeyer......................... 120 Figura 3.13: Museu de Cincias de Valncia. Arquiteto: Santiago Calatrava ........ 121 Figura 3.14: Ampliao do Museu de Arte de Milwaukee, projetada por Santiago Calatrava ............................................................................. 121 Figura 3.15: Kunsthaus (Casa de Cultura), em Graz. Projeto de Peter Cook e Colin Fournier ..................................................................................... 122 Figura 3.16: Museu Guggenheim, em Bilbao. Arquiteto: Frank Gehry .................. 123 Figura 3.17: Museu Guggenheim, em Bilbao: modelo em wireframe, elaborado no CATIA ................................................................................................. 124 Figura 3.18: Esttua do Maitreya Buddha, onde funcionar um Templo: perspectiva a partir do modelo tridimensional .................................... 126 Figura 3.19:.Esttua do Maitreya Buddha: processo de digitalizao ................... 127 Figura 3.20: Esttua do Maitreya Buddha: detalhe do modelo digital .................... 127 Figura 3.21: Pavilho da gua Doce: interior. Projeto do Grupo NOX .................. 131 Figura 3.22: Pavilho de gua Doce: corte ............................................................ 131 Figura 3.23: Pavilho de gua Doce: exterior ........................................................ 132 Figura 3.24: Pavilho da gua Salgada: vista externa. Projeto: Kars Oosterhuiss.132

  • 12

    Figura 3.25. Elemento arquitetnico de uma prgola em madeira realizada na ESARQ com mquina CNC, Jos Noel del Toro, Barcelona, 2002 ... 133 Figura 3.26: Estao de Trens La Sagrera, em Barcelona, projetada com auxlio dos software L-System e Rhino .......................................................... 134 Figura 3.27: Embryological House: desenvolvimento............................................. 135 Figura 3.28: Embryological House: Maquete.......................................................... 136 Captulo 4 - UM OLHAR SOBRE A PRODUO DOS ALUNOS DA FAUFBa Figura 4.01: Proposta para edifcios. Planta baixa e estudo volumtrico. Turma A. Alunas: Sabrina Cunha e Maria Elisa Veloso ..................... 149 Figura 4.02: Proposta para edifcio. Planta baixa e perspectiva da fachada. Turma A. Alunas: Sabrina Cunha e Maria Elisa Veloso ..................... 149 Figura 4.03: Proposta para edifcio. Planta baixa. Turma B. Aluna: Ana Maria ..... 150 Figura 4.04: Estudos de volumetria para edifcio. Turma B. Aluna: Elisngela Leo. ................................................................................................... 150 Figura 4.05: Centro Profissionalizante. Estudo preliminar.Aluno: Leandro Cardoso .............................................................................................. 151 Figura 4.06: Centro Cultural. Estudo da passarela. Alunos: Gustavo Santamara e Leandro Cruz ............................................................... 151 Figura 4.07: Centro Cultural. Estudo de volumetria. Alunos: Gustavo Santamara e Leandro Cruz .............................................................. 152 Figura 4.08: Hotel. Estudos de volumetria e maquete. Alunas: Mirna e Gabriela... 152 Figura 4.09: Trapiche Barnab. Estudo preliminar para proposta arquitetnica de Ocupao. Alunos: Anderson, Camile e Glenda ........................... 153 Figura 4.10: Projeto: Museu do Mar. Planta Baixa do pavimento trreo. Aluno: Fbio Melo ............................................................................... 160 Figura 4.11: Projeto: Museu do Mar. Fachada e Cobertura. Aluno: Fbio Melo .... 160 Figura 4.12: Projeto: Museu do Mar. Volumetria. Aluno: Fbio Melo ......................161 Figura 4.13: Projeto: Museu do Mar. Volumetria. Aluno: Fbio Melo ..................... 161 Figura 4.14: Projeto: EducaAo.Cortes - Administrao. Aluno: Orlando Jnior.. 162 Figura 4.15: Projeto: EducaAo. Vista em perspectiva de detalhe da estrutura da cobertura. Aluno: Orlando Jnior .................................................. 162 Figura 4.16: Projeto: CTR. Modelo tridimensional de estudo do partido com adoo das lajes verdes. Aluno: Andr Oliva ..................................... 164 Figura 4.17: Projeto: CTR. Modelo tridimensional da implantao e partido. Aluno: Andr Oliva .............................................................................. 164 Figura 4.18: Projeto: Residencial Gamboa. Planta do Pavimento Trreo. Aluno: Rodrigo Dratovsky .............................................................................. 165 Figura 4.19: Projeto: Residencial Gamboa. Estudo volumtrico. Aluno: Rodrigo Dratovsky ............................................................................................ 165 Figura 4.20: Projeto: Arquitetura Hoteleira. Cortes das torres, com estudo da ventilao. Aluna: Ldice Carvalho ..................................................... 166 Figura 4.21: Projeto: Arquitetura Hoteleira. Fachada Sul Torre A. Aluna: Ldice Carvalho ....................................................................... 167 Figura 4.22: Projeto: Terminal Rodovirio Alternativo. Modelo 3D da proposta. Aluno: Anselmo Pires. ........................................................................ 168 Figura 4.23: Projeto: Terminal Rodovirio Alternativo. Modelo tridimensional. Aluno: Anselmo Pires. ........................................................................ 168

  • 13

    Figura 4.24: Projeto: Museu Salvador. Desenvolvimento do prdio 1. Aluno: Jaine Carvalho .................................................................................... 171 Figura 4.25: Projeto Museu Salvador. Desenvolvimento do prdio 2. Aluno: Jaine Carvalho .................................................................................... 171 Figura 4.26: Projeto: Museu Salvador. Estudo para o prdio 3. Aluno: Jaine Carvalho ............................................................................................. 171 Figura 4.27: Projeto: Museu Salvador. Aluno: Jaine Carvalho ............................... 172 Figura 4.28: Projeto: Museu Salvador. Seo no nvel do primeiro pavimento. Aluno: Jaine Carvalho .........................................................................172 Figura 4.29: Projeto: Centro Cultural. Estudos de volumetria, com modelagem a partir de primitivos slidos. Aluna: Cristina Trigo ........ 173 Figura 4.30: Centro Cultural: forma escolhida. Aluna: Cristina Trigo ..................... 174 Figura 4.31: Projeto: Centro Cultural. Estudo de circulao externa e estacionamento. Aluna: Cristina Trigo ................................................ 174 Figura 4.32: Projeto: Centro Cultural.Estudos da iluminao do teatro, atravs de Simulao. Aluna: Cristina Trigo ........................................................ 174 Figura 4.33: Projeto: Centro de Esportes Aquticos. Estudo volumtrico, com modelagem tridimensional. Vista superior e vista em perspectiva. Aluno:Adriano Huoya Mariano ........................................................... 175 Figura 4.34: Projeto: Centro de Esportes Aquticos. Modelos usados no estudo estrutural. Aluno: Adriano Huoya Mariano ......................................... 176 Figura 4.35: Projeto: Centro de Esportes Aquticos. Modelo tridimensional da proposta final. Aluno: Adriano Huoya Mariano ....................................176 Figura 4.36: Projeto: Planetrio. Estudos de volumetria. Aluna: Akemi Tahara .... 177 Figura 4.37: Projeto: Planetrio. Evoluo da proposta. Aluna: Akemi Tahara ..... 177 Figura 4.38: Projeto: Planetrio. Modelo tridimensional com vista da proposta final, inserida no local. Aluna: Akemi Tahara ..................................... 178 Figura 4.39: Projeto: Planetrio.Simulao de espetculo na sala de projeo. Aluna: Akemi Tahara .......................................................................... 178 Figura 4.40: Projeto: Faculdade de Arquitetura. Modelo tridimensional da proposta final com vista da malha tridimensional. Alunos: Andrei Miler, Daniele Ferreira e Diana Fialho..................................... 181 Figura 4.41: Projeto: Faculdade de Arquitetura. Modelo tridimensional renderizado da proposta final. Alunos: Andrei Miler, Daniele Ferreira e Diana Fialho........................................................................ 181 Figura 4.42: Projeto: Faculdade de Arquitetura. Maquete da implantao. Alunos: Andrei Miler, Daniele Ferreira e Diana Fialho........................ 182

  • 14

    LISTA DE SIGLAS / ABREVIATURA

    ABEA Associao Brasileira de Ensino de Arquitetura

    AEC Arquitetura, Engenharia e Construo

    BLOB Binary Large Objetcs

    B-Rep Boundary Representation

    CAD Computer Aided Design

    CAM Computer Aided Manufacturing

    CATIA Computer Assisted Three-dimensional Interactive Aplication

    CNC Computer Numerical Control

    CSG Constructive Solid Geometry

    DAC Desenho Auxiliado por Computador

    ESARQ Escola Tcnica Superior dArquitectura

    FAUFBa Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia

    IGES Initial Graphics Exchange Specification

    LCAD Laboratrio de Computao Grfica Aplicada Arquitetura e Desenho

    MEC Ministrio da Educao

    NURBS Non-Uniform Rational B-splines

    PR Prototipagem Rpida

    TFG Trabalho Final de Graduao

    TGI Trabalho de Graduao Integrado

    UFBa Universidade Federal da Bahia

    UIC Universitat Internacional de Catalunya

  • 15

    INTRODUO

    A forma dos objetos arquitetnicos varia em cada poca e lugar em funo de um

    contexto cultural e ideolgico, influenciado e modificado por diversos fatores fsicos,

    tecnolgicos e econmicos e at de natureza legal. Entre esses fatores, est

    includo aquele relacionado ao instrumental que o arquiteto tem para auxili-lo na

    concepo, representao e visualizao destas formas.

    A soluo formal, inicialmente relaciona-se com a procura s opes que atendam a

    requisitos tais como custo, legislao, caractersticas do terreno, necessidades do

    programa, etc. Nesta procura pela soluo o arquiteto manipula vrias vezes o

    objeto em projeto num processo de aproximaes sucessivas de uma soluo

    desejada e, esta manipulao precisa ser visualizada, fazendo com que a

    representao se torne parte indispensvel neste processo.

    A representao do espao arquitetnico um dos principais fatores de limitao

    sua apreenso e compreenso, tendo grande influencia no processo de projeto, j

    que a capacidade de representar e analisar a idia fundamental para o

    desenvolvimento da proposta. As representaes auxiliam o raciocnio e alimentam

    as atividades mentais que ocorrem durante a projetao, destacando pontos de

    interesse, provocando tomadas de decises e transmitindo informaes. Assim, se o

    projetista tem limitaes quanto aos recursos de que dispe para representar suas

    idias, sua atividade criadora estar restrita nestes limites.

  • 16

    Vrios autores se dedicaram anlise dos diversos tipos de representaes, criando

    diferentes categorizaes. De uma maneira geral, considerando o suporte onde elas

    se desenvolvem, as representaes podem ser grficas (desenhos, por exemplo),

    ou fsicas (as maquetes). E, quanto ao papel que assumem no processo projetual,

    dois grandes grupos podem ser identificados: aquelas com caractersticas de

    instrumentos de concepo e criao do objeto arquitetnico e as que se colocam

    como instrumentos para a traduo das solues geradas pelos tipos anteriores.

    Podem ser definidos como instrumentos de concepo aqueles tipos de

    representao que esto presentes na etapa de concepo e criao do objeto, e

    como instrumentos de traduo aqueles tipos de representao que se colocam

    como traduo das solues encontradas para o projeto, a includos os desenhos

    tcnicos e as perspectivas.

    At os anos sessenta o instrumental utilizado para levar a efeito estas

    representaes era composto pela prancheta, rguas, esquadros, compasso,

    normgrafos, lpis, papel etc., que sero aqui denominados de instrumentos

    tradicionais de desenho. Com a introduo da computao grfica, das ferramentas

    CAD1, cuja utilizao pelos projetistas no Brasil, intensificou-se no incio dos anos

    noventa, surge a opo do instrumental composto pelo computador, seus perifricos

    (impressoras, scanner, plotter, etc) e os diversos programas para concepo e

    representao da forma.

    As ferramentas CAD, enquanto instrumentos de traduo, vm sendo cada vez mais

    utilizadas pelos projetistas, pois possibilitam uma nova maneira de desenhar, mais

    rpida, com maior riqueza de detalhes, preciso, disponibilizando com relativa

    facilidade elementos tcnicos para anlise, simulao, construo, etc. Mas elas

    tambm podem ser utilizadas como instrumento auxiliar para a fase de concepo

    do projeto, e o vem sendo, embora em menor escala. No substituem o projetista no

    processo criador, mas so uma importante ferramenta de auxlio principalmente

    atravs dos recursos da modelagem geomtrica tridimensional e de simulao ao

    1 CAD Computer Aided Design (Projeto Auxiliado por Computador). Segundo KLEIN (1992,

    p.10) um sistema que pode ser definido como um conjunto de ferramentas para a criao, manipulao e alterao interativa de projetos e desenhos.

  • 17

    possibilitar ensaios e projees, clculos, etc., permitindo tambm a gerao de

    vrias alternativas de projeto, com complexidades e novos recursos para sua

    anlise.

    Observa-se ento que, com a introduo das ferramentas CAD como instrumental

    para o projeto, pode ocorrer uma mudana j na maneira deste ser concebido.

    Considerando-se o desenho enquanto instrumento de concepo, as mudanas

    podem ser percebidas, j que o projetista pode dispensar os esboos iniciais, em

    planta baixa, pois mesmo que ele no tenha habilidades de desenho mo livre

    suficientes para iniciar sua concepo tridimensionalmente, ao utilizar um programa

    de modelagem ele estar capacitado a faz-lo.

    Por outro lado, ao iniciar o projeto utilizando a modelagem tridimensional ainda na

    fase inicial, como instrumento de concepo, atravs dos recursos das ferramentas

    CAD, a gerao dos desenhos de traduo se torna facilitada, o que faz com que

    enquanto instrumental de representao grfica essas ferramentas coloquem os

    vrios tipos de desenho interligados, inclusive aos modelos, podendo ser gerados a

    partir destes.

    Com relao ao processo de criao de formas, Broadbent (apud KOWALTOWSKY,

    1992), coloca que existem quatro abordagens para o problema da criao de

    formas, que so classificados como processos, a saber:

    [...]- o processo pragmtico que usa a metodologia de tentativa e falha (trial and error) e se baseia na crena de [...] o que funciona bom; - o processo tipolgico [...] onde existe um modelo pronto cuja

    repetio aceita; - o processo analgico usando imagens filosficas, conceitos

    polticos para enquadrar a forma do projeto; - o processo sinttico que procura regras geomtricas como

    sntese para a forma.

    Sobre este assunto, Lamy (2000) classifica as fases do ciclo projetual quanto

    forma de comunicao utilizada em: fase descritiva, fase topolgica e fase

    geomtrica. Segundo este autor, [...] exceto na primeira fase onde a maioria das

    informaes so representadas de forma descritiva, a linguagem grfica constitui a

    abordagem utilizada com maior freqncia, tanto como instrumento de criao

  • 18

    quanto forma de representao ou comunicao. Assim, observa que, a influncia

    do conhecimento geomtrico se faz sentir com bastante intensidade principalmente

    na fase chamada por Lamy de geomtrica e no que Broadbent chamou de

    processo sinttico, em especial a geometria euclidiana, que teve em relao

    Arquitetura, para alguns autores, sua expresso mxima na Bauhaus.

    Quanto ao processo sinttico acima referido, as formas arquitetnicas podem ser

    divididas em dois grandes grupos: o das formas convencionais e o daquelas no

    convencionais. As convencionais seriam aquelas formas geometricamente

    derivadas dos slidos primrios (o prisma, a pirmide, o cone e o cilindro) e cuja

    representao pode ser feita sem maiores dificuldades, inclusive utilizando os

    instrumentos tradicionais de desenho. As formas no convencionais seriam

    aquelas mais complexas em relao aos seus elementos geradores e menos usuais

    nos projetos de arquitetura e, ainda nesta categoria podem ser citadas aquelas

    inspiradas na natureza e que alguns autores denominam de orgnicas.

    Na representao das formas, seus desenhos de traduo tem sido elaborados ao

    longo do tempo utilizando-se os instrumentos tradicionais, e mais recentemente vem

    sendo beneficiados pela introduo das ferramentas CAD que, como j foi colocado,

    propiciam vantagens como velocidade, preciso, maior riqueza de detalhes tcnicos,

    alm de facilitarem o processo de reviso, correo e alteraes que necessitem

    serem levadas a efeito.

    No caso das formas no convencionais, sua representao foi sempre um fator

    dificultador e, portanto, limitador da sua criao. Com as tecnologias CAD, esta

    dificuldade comeou a ser solucionada. Lawson (1999) coloca que, no incio dos

    anos 80, o Gable CAD um programa de computador desenvolvido na Universidade

    de Sheffield, foi amplamente utilizado no Reino Unido e tambm em outros pases e

    a sua avaliao tcnica foi bastante positiva. A visualizao permitiu aos arquitetos

    explorar formas tridimensionais complexas e desenvolv-las de uma maneira que

    eles no podiam fazer facilmente pelo mtodo manual (LAWSON, 1999, p. 43).

  • 19

    Algumas obras arquitetnicas so o reflexo desta assertiva. Como exemplo pode ser

    citado o Museu Guggenheim de Bilbao, projetado por Frank Gehry e que contou com

    o auxlio do CATIA, um programa de computador desenvolvido originalmente pela

    indstria aeroespacial francesa, que viabilizou a execuo do projeto e da obra.

    Assim, a partir deste quadro, neste trabalho procurou-se fazer uma anlise da

    utilizao das ferramentas CAD e o papel que estas exercem na concepo e

    produo da forma arquitetnica, no apenas como instrumento de traduo, mas

    principalmente como instrumento de concepo.

    A hiptese desta tese que as novas tecnologias computacionais aplicadas

    concepo e representao do projeto, atravs da utilizao das ferramentas CAD,

    no s facilitam, mas viabilizam a produo das formas arquitetnicas, em especial,

    aquelas no convencionais.

    Desta maneira, o objetivo principal desta tese foi analisar e demonstrar como as

    ferramentas CAD, enquanto instrumento de projeto intervm na produo das

    formas no convencionais em arquitetura.

    Os procedimentos iniciais levados a efeito para atingir-se o objetivo foram o de

    realizar consultas bibliogrficas sobre forma, representao e processo de projeto, a

    fim de obter um referencial terico para o tema em desenvolvimento. Ou seja,

    procurou-se conceituar e analisar as formas quanto a seus elementos, percepo e

    propriedades visuais, seguindo com suas propriedades geomtricas, gerao e

    classificao enquanto superfcies. A anlise da representao, alm de ser

    classificada quanto s caractersticas e s aplicaes no projeto, tambm levou em

    conta o instrumental utilizado na sua construo, j separado em dois grandes

    grupos: o dos instrumentos tradicionais e o das ferramentas computacionais.

    Fechando este quadro conceitual, o processo de projeto foi ento discutido, frente

    utilizao do instrumental de representao.

    A etapa seguinte consistiu em procedimentos de observao e anlise da produo

    da forma versus o instrumental utilizado na sua projetao, em duas instncias: uma

  • 20

    profissional e outra acadmica. Na primeira instncia foram analisadas as solues

    formais de algumas obras com registro na literatura especializada e consideradas

    no convencionais, identificando a presena, ou no, das ferramentas

    computacionais na sua produo.

    Na instncia acadmica, considerando-se a insero obrigatria de disciplinas de

    Informtica Aplicada nos cursos de Arquitetura aps 1996, aliada ao fato de que

    muitos alunos por iniciativa prpria procuram se instrumentalizar no uso das

    ferramentas computacionais, optou-se por lanar um olhar sobre esta produo

    ps-informtica dos estudantes.

    O trabalho est estruturado em quatro captulos que sero apresentados a seguir:

    O Captulo 1 Forma e Geometria faz uma abordagem conceitual sobre a Forma

    enquanto configurao geomtrica, seus elementos, de como se d a sua percepo

    e quais suas propriedades visuais. Segue com um breve histrico sobre a

    Geometria, visando dar um panorama sobre seu desenvolvimento e analisa as

    diversas formas de estudo a ela relacionados. Continua, traando uma relao entre

    a Forma e a Geometria, no que diz respeito gerao da forma arquitetnica, e

    fazendo uma breve exposio sobre as superfcies geomtricas. Conclui com uma

    classificao das formas em convencionais e no convencionais de acordo com

    suas caractersticas geomtricas.

    No Captulo 2 Tecnologia, esta analisada conceitualmente e relacionada

    produo da arquitetura. O processo projetual ento analisado e conceituado,

    dando-se nfase s representaes que so usadas neste processo, bem como ao

    ferramental que utilizado para sua realizao. So apresentados os recursos de

    modelagem e realidade virtual e feita uma anlise de algumas das ferramentas

    CAD mais conhecidas com relao s suas propriedades na gerao de formas

    arquitetnicas.

    O Captulo 3 Formas Arquitetnicas em Ambiente Computacional trata da

    produo recente da arquitetura que utiliza as ferramentas CAD na sua concepo e

  • 21

    representao. So apresentadas experincias e obras de arquitetos conhecidos

    internacionalmente, que tem propostas formais no convencionais e que utilizaram o

    ferramental computacional na sua elaborao, classificadas de acordo com o nvel

    de utilizao das ferramentas, ou seja: se apenas como instrumentos de traduo

    sem que haja uma interferncia acentuada na produo da forma; se utilizadas

    como instrumentos de concepo e traduo, e j interferindo na produo da forma;

    e, por ltimo, sendo utilizadas intensivamente em toda a projetao, de maneira a

    conduzir, de certa forma, o processo.

    O Captulo 4 Um OIhar sobre a Produo dos Alunos da FAUFBa, como o prprio

    ttulo deixa claro, destina-se a fornecer um panorama de como est acontecendo a

    adoo e a apropriao do ferramental computacional no curso de Arquitetura da

    UFBa, por parte dos discentes.

    O trabalho concludo com uma reflexo geral das principais observaes e

    concluses a partir do que foi apresentado. Tambm so apresentadas

    consideraes e recomendaes guisa de contribuio crtica construtiva sobre a

    adoo e a apropriao do ferramental computacional na produo da forma

    arquitetnica, tanto por parte dos profissionais de projeto como no curso de

    Arquitetura e Urbanismo da FAUFBa, bem como de algumas referncias a futuros

    desdobramentos que o mesmo possa vir a ter.

    .

  • 22

    FORMA E GEOMETRIA

    1.1 ESTUDO DA FORMA

    A produo da forma em Arquitetura, nas suas diversas etapas, envolve um grande

    nmero de variveis e condicionantes. Dentre estas, destacam-se sua geometria e

    as diversas tecnologias que viabilizam sua criao e representao, bem como sua

    construo. Os meios de representao e a manipulao2 da forma Arquitetnica

    tem grande influncia no processo de projetao, limitando muitas vezes a

    criatividade.

    At bem pouco tempo a representao grfica da forma s podia ser feita utilizando-

    se os instrumentos tradicionais de desenho rgua, esquadros, compassos, lpis,

    borracha, etc. -, e para sua manipulao usavam-se os modelos fsicos maquetes.

    Ocorre que tanto a representao obtida usando-se os instrumentos tradicionais de

    desenho, como o uso dos modelos fsicos tem muitas limitaes, como por exemplo,

    o tempo para sua execuo, e a necessidade de uma viso espacial bem

    desenvolvida. Essas limitaes se agravam quando se trata das formas no

    2 No contexto deste estudo, ser chamado de representao grfica o ato ou efeito de representar

    graficamente um objeto, ou seja, de reproduzi-lo e descrev-lo atravs de desenhos, de figur-lo usando uma linguagem simblica que traduza sua aparncia. E entende-se por manipulao as vrias operaes que podem ser levadas a efeito em um corpo, no sentido de modific-lo em relao aos seus prprios elementos e suas propriedades, bem como nas suas relaes com o espao que o cerca. Assim, as operaes de adio, subtrao, unio, interseo e as transformaes seriam exemplos de manipulao de uma forma arquitetnica.

  • 23

    convencionais, ou seja, daquelas menos usuais, no derivadas de slidos primrios,

    e que so em sua maioria, mais complexas em sua gerao. Entretanto, com a

    introduo das tecnologias computacionais, observa-se que tanto a manipulao

    como a representao grfica das formas ganharam novas possibilidades de

    criao e expresso.

    Nesse sentido, uma abordagem para o estudo da produo da forma em

    Arquitetura, pode ser centrada em dois grandes eixos:

    1. a anlise da forma, propriamente dita, atravs de sua conceituao,

    definio de suas propriedades e atributos geomtricos e fsicos, e

    de sua classificao em convencionais e no convencionais;

    2. anlise das tecnologias, enquanto instrumental de projeto e

    sistemas construtivos.

    Este trabalho tem como objeto uma abordagem inicial desses dois eixos. Consta da

    conceituao e caracterizao da forma, suas propriedades geomtricas que

    remetem ao estudo das superfcies, e o estabelecimento de uma classificao em

    formas convencionais e no convencionais, e uma rpida introduo ao papel das

    tecnologias de representao grfica no processo de projetao. A anlise dos

    atributos fsicos da forma, tais como estabilidade, caractersticas estruturais,

    construtibilidade, etc, e seu cruzamento com as metodologias de projeto e as

    tecnologias enquanto sistemas construtivos, apesar de muito importantes, no sero

    objeto deste trabalho.

    1.1.1 Conceituao

    Forma pode ser definida como configurao, feitio, feio externa, manifestao,

    estado, estrutura, arranjo e estilo em composio literria, musical ou plstica

    (BUENO, 1975, p. 585). Ou ainda, segundo Corona & Lemos, no Dicionrio de

    Arquitetura Brasileira,

    [...] toda a construo, organicamente composta pelos espaos interiores que ela determina e cuja razo de ser tem sempre base numa necessidade prtica, construtiva e esttica. A manifestao concreta da forma, se faz atravs de mltiplas combinaes obtidas

  • 24

    pelas linhas, pelas superfcies e pelos volumes, ocupando determinado espao arquitetnico, protagonista da arquitetura

    (CORONA & LEMOS, 1972).

    Os elementos visuais formato, tamanho, cor e textura, constituem, para Wong o

    que chamamos de Forma. Neste sentido, no apenas uma figura que vista, mas

    um formato de tamanho, cor e textura definidos. [...] Assim, ponto, linha ou plano,

    quando visveis, se tornam forma. Logo, no sentido amplo, forma tudo aquilo que

    pode ser visto, que tenha formato, cor, textura, tamanho. O autor considera ainda

    que, em relao maneira como ela criada, construda ou organizada em conjunto

    com outras formas, ou seja, relativamente sua produo, a forma regida por

    uma certa disciplina qual ele chama de estrutura3.

    A conceituao feita por Barki, para quem a forma a estrutura, organizao e

    disposio das partes ou elementos de um corpo ou objeto e tambm modo pelo

    qual uma determinada coisa em um dado contexto se revela nossa percepo,

    sintetiza todas as definies anteriores, onde o que predomina a idia da

    configurao, a partir de elementos, e que s se realiza a partir da nossa percepo.

    Segundo Wong, o fato de vivenciarmos um mundo que tridimensional, faz com que

    nossa experincia de forma tambm o seja, e ressalta o fato de que esta

    experincia tridimensional influencia nossa percepo das formas bidimensionais.

    O que seriam as formas bidimensionais? De acordo com Wong, seriam os

    escritos, desenhos, pinturas feitos pelo homem, essencialmente como uma criao

    para comunicar idias, registrar experincias, expressar sentimentos e emoes, ou

    ainda aquelas utilizadas como simples decorao ou transmisso de vises

    artsticas. So constitudas por pontos, linhas e/ou planos sobre uma superfcie

    plana. J a forma tridimensional aquela em direo qual podemos caminhar,

    da qual podemos nos afastar ou em torno da qual podemos andar (WONG, 2001, p.

    138-139).

    3 A palavra estrutura, aqui tem um sentido muito especfico, relativo ao desenho, significando

    basicamente a organizao e disposio, segundo princpios e regras, dos elementos que compem a forma.

  • 25

    Nas definies acima aparece o conceito de formato. Os formatos so formas

    mostradas de determinados ngulos e a certa distncia, reas definidas por um

    contorno, e assim sendo, verifica-se que a forma pode ter diversos formatos. O

    formato, segundo Wong, sempre bidimensional e pode ser considerado, ento, um

    aspecto da forma. Esta a aparncia visual total de um objeto, embora o formato

    seja seu principal fator de identificao. Um formato ao qual se d volume e

    espessura e que possa ser visto de diferentes ngulos passa a ser forma.

    1.1.2 Elementos da Forma

    Os elementos definidores da forma, chamados por Ching de Elementos Primrios,

    so o Ponto, a Linha, a Superfcie e o Volume.

    O Ponto o gerador principal da forma e indica uma posio no espao. Com

    relao ao seu formato, para que uma forma seja reconhecida como um ponto

    deve ser comparativamente pequena, e de formato razoavelmente simples. Assim, o

    formato

    Figura 1.01: Ponto

    mais comum de um ponto o de um crculo, e quanto ao tamanho, deve estar

    inserido num espao/moldura de tamanho razoavelmente maior que o seu (Figura

    1.01).

    A Linha pode ser definida como o deslocamento de um ponto em uma s dimenso.

    Possui propriedades de comprimento, direo e posio. Para que uma linha seja

    reconhecida como tal, seu formato deve ter a largura extremamente estreita e seu

    comprimento deve ser bem evidente (Figura 1.02).

  • 26

    Figura 1.02: Linha

    A Superfcie resultante do deslocamento de uma linha numa direo diferente da

    sua. Possui propriedades de largura e comprimento, rea, orientao e posio. A

    Superfcie pode ser definida como uma extenso a duas dimenses. Sendo limitada

    numa poro, o ser por linhas conceituais que, assim, constituiro sua borda. Neste

    caso, uma poro de superfcie pode ter uma variedade de formatos: geomtricos,

    orgnicos, retilneos, irregulares, e podem ser gerados propositalmente

    (desenhados, por exemplo), ou surgir por acidente (uma mancha de tinta que cai no

    papel) (Figura 1.03).

    Figura 1.03: Pores de superfcies limitadas por bordas

    O Volume gerado pelo deslocamento de uma poro da superfcie numa direo

    diferente das suas geradoras, possuindo um limite. Desenvolve-se em trs

    dimenses, e tem as seguintes propriedades: largura, comprimento e profundidade,

    forma, superfcie, orientao e posio. Para que seja possvel perceb-lo

    representado, no plano bidimensional, so utilizados os recursos do Desenho

    Projetivo, atravs de perspectivas ou projees (Figura 1.04).

    Figura 1.04: Volume

  • 27

    1.1.3 Percepo e Propriedades Visuais da Forma

    O estudo da percepo visual das formas importante para quem trabalha na sua

    criao, a fim de responder a questionamentos tais como:

    Por que algumas formas agradam e outras no?

    Que fatores so determinantes para se garantir a legibilidade das formas

    que estamos criando?

    Assim, os psiclogos gestaltistas4 desenvolveram uma teoria da percepo, com

    base em um mtodo que possibilitou a compreenso de como as formas que

    percebemos se ordenam e/ou se estruturam, no nosso crebro. Segundo eles, a

    emergncia da figura com relao ao fundo aspecto primrio e fundamental na

    percepo da forma. A figura considerada como forma positiva e o fundo, a forma

    negativa. Basicamente a percepo da forma o resultado de diferenas no campo

    visual, as quais constituem o contraste que separa a figura do fundo.

    Entretanto s a percepo visual no suficiente para que se conhea o mundo que

    nos cerca. Sero precisos outros atos do pensamento, a partir das funes ditas

    cognitivas: atribuir significado, registrar situaes significativas e agrup-las em

    classe, segundo suas analogias, estabelecer experincias, selecionar dados, etc.

    As propriedades visuais da forma, para Ching, so o contorno (que determina seu

    aspecto), o tamanho, a cor, a textura, a posio em relao a seu campo de viso, a

    orientao em relao ao seu plano de sustentao, e a inrcia visual. Esta ltima

    o grau de conceituao e estabilidade visual da forma, e est diretamente

    relacionada sua geometria, assim como s propriedades de posio e orientao.

    J o contorno nos remete questo do formato. Wong (2001) chama a ateno

    para o fato de que formato e forma so freqentemente usados como sinnimos

    embora tenham significados diferentes. Assim o formato seria a rea contida em

    um contorno.

    4 Escola da Gestalt, criada na Alemanha em 1910.

  • 28

    Para Wong (2001), formas apresentam alguma profundidade e algum volume

    caractersticas associadas a figuras tridimensionais, enquanto formatos so formas

    mostradas de determinados ngulos, de determinadas distncias. Ou seja, o

    formato est relacionado aos diferentes aspectos sob os quais a forma possa se

    apresentar aos nossos olhos. Quando uma forma girada no espao, a cada passo

    desta rotao um aspecto diferente ser visto. Pode-se dizer, portanto, que forma

    diz respeito totalidade, e o formato s partes, decomposio em aspectos.

    Outros elementos tambm tem influncia na maneira como so percebidas as

    figuras: a dimenso predominante, que pode determinar a predominncia ora da

    largura, ora do comprimento, que so as duas principais dimenses de uma figura.

    Por exemplo, um quadrado apoiado pelo seu vrtice tende a ser percebido como

    uma figura diferente do mesmo quadrado que se apia sobre um de seus lados

    (Figura 1.05).

    Figura 1.05: A percepo da figura muda conforme mudamos a posio do apoio.

    A impresso de profundidade pode ser obtida por exemplo, colocando-se um objeto

    cobrindo parcialmente outro, quando ento o que cobre ser percebido como mais

    prximo do que o outro (Figura 1.06), ou ainda colocando-se dois objetos com a

    mesma forma, e com tamanhos diferentes, fazendo com que o maior parea mais

    prximo (Figura 1.07).

  • 29

    Figura 1.06: O quadrado que est Figura 1.07: O quadrado menor

    cobrindo o outro parece estar mais prximo. parece estar mais distante

    O estudo das propriedades geomtricas da forma, como colocado anteriormente,

    remete trs momentos: uma abordagem da geometria propriamente dita, sua

    classificao e caractersticas; o estudo dos slidos e das superfcies, de como so

    geradas, seus principais elementos; e de sua representao numrica e grfica,

    esta ltima, atravs dos instrumentos tradicionais de desenho e da utilizao da

    tecnologia computacional.

    1.2 GEOMETRIA

    1.2.1 Breve Histrico

    A palavra vem do grego geo = terra, e metrein = medir, portanto significa medida

    da terra. Esta cincia desenvolveu-se inicialmente em funo da necessidade dos

    antigos egpcios de refazerem as marcaes de terra s margens do rio Nilo, que

    eram destrudas a cada cheia, todos os anos. Com o passar do tempo seu

    significado tornou-se mais abrangente, transformando-se na cincia que, atravs de

    mtodos matemticos, trata da exata determinao de lugares no espao, e

    investiga e descreve as formas, planas e espaciais, de objetos.

    Os gregos foram os grandes gemetras da Idade Antiga. O grande organizador da

    geometria grega Euclides (300 a. C.), que reuniu, organizou e divulgou, atravs do

    seu livro Elementos, todo o conhecimento geomtrico produzido at ento,

    originando a chamada Geometria Euclidiana. Este livro era composto de treze

  • 30

    captulos: os seis primeiros sobre geometria plana elementar, os trs seguintes

    sobre a teoria dos nmeros, o dcimo captulo sobre os nmeros incomensurveis, e

    os trs ltimos, na sua maior parte sobre geometria espacial.

    Segundo Atique (2003), Euclides e seus predecessores partiram da premissa de que

    no se pode provar tudo e, para construir uma estrutura lgica, uma ou mais

    proposies so admitidas como axiomas a partir dos quais todas as outras so

    deduzidas.

    Assim, Euclides apresentou seus axiomas em dois grupos: as noes comuns e os

    postulados. As noes comuns parecem ter sido consideradas como hipteses

    aceitveis a todas as cincias ou admissveis por qualquer pessoa, enquanto os

    cinco postulados seriam hipteses peculiares da Geometria.

    As Noes Comuns so as seguintes:

    1. Coisas que so iguais a uma mesma coisa so tambm iguais;

    2. Se iguais so adicionados a iguais, os totais so iguais;

    3. Se iguais so subtrados de iguais, os restos so iguais;

    4. Coisas que coincidem uma com a outra, so iguais;

    5. O todo maior do que qualquer uma das partes.

    Os Postulados so:

    1. Pode-se traar uma (nica) reta ligando quaisquer dois pontos;

    2. Pode-se continuar (de uma nica maneira) qualquer reta finita,

    continuamente, em uma reta;

    3. Pode-se traar um crculo com qualquer centro e com qualquer raio;

    4. Todos os ngulos retos so iguais;

    5. verdade que, se uma reta ao cortar duas outras, forma ngulos internos,

    no mesmo lado, cuja soma menor do que dois ngulos retos, ento as

    duas retas, se continuadas, encontrar-se-o no lado onde esto os

    ngulos cuja soma menor do que dois ngulos retos.

  • 31

    Muitas provas do quinto postulado foram propostas, mas geralmente continham uma

    suposio equivalente ao que se estava querendo provar, tais como as seguintes:

    1. Duas retas que se interceptam no podem ser paralelas a uma

    mesma reta;

    2. Retas paralelas tm distncia constante uma da outra;

    3. A soma dos ngulos internos de um tringulo 180 5.

    Nessa tentativa de provar o quinto postulado, Saccheri6 obteve resultados que ele

    considerou inconsistentes, mas que na verdade, viriam a ser depois, os

    fundamentos da Geometria Hiperblica.

    A partir do sculo XIX, os matemticos j no se satisfaziam com a Geometria

    Euclidiana para resolver os problemas da forma no espao. Assim, outros

    matemticos deram tambm sua contribuio na evoluo desta cincia.

    Conforme Crawford (2003) e Kubrusly (2003) hoje sabe-se que o axioma das

    paralelas no pode ser reduzido a outro axioma mais bsico sendo, portanto, de

    fundamental importncia para distinguir o espao euclidiano de outros possveis.

    H duas maneira de negar a unicidade das paralelas no quinto postulado de

    Euclides:

    1. admitir que por qualquer ponto fora de uma reta dada, possvel

    passar pelo menos duas paralelas a esta reta;

    2. admitir que nenhuma paralela possvel, isto , que o espao no

    admite paralelas.

    No primeiro caso, sero obtidas as chamadas Geometrias Hiperblicas, e no

    segundo, o espao sem paralelas que chamado de Geometria Elptica.

    5 A primeira formulao foi proposta por John Playfair, gelogo e matemtico escocs, nascido em

    1748. Proclus foi o responsvel pela segunda formulao e Adrian-MarieLegendre, matemtico francs, nascido em 1752, redigiu a terceira formulao. 6Jesuit Saccheri, matemtico italiano, que viveu entre 1667-1773. Foi o precursor das geometrias no

    euclidianas e criador do famoso quadriltero que leva seu nome e que sugere a no existncia dos retngulos. In: . Acesso em 07 jan. 2004.

    http://www.dmm.im.ufrj.br/projeto/diversos/gngaleria.htm

  • 32

    Descrevendo estas geometrias, diz Crawford: Dentre estes outros espaos

    possveis existem dois que tambm so uniformes assim como o espao

    euclidiano -, ou seja, so homogneos e isotrpicos, pois todos os seus pontos e

    todas as suas direes so equivalentes. O primeiro espao foi desenvolvido por

    Gauss, Lobatchevsky e Janos Bolyai, que, trabalhando isoladamente,

    desenvolveram sistemas coerentes desta geometria no-euclidiana. Uma teoria mais

    geral, hoje conhecida como Geometria Riemanniana, que inclui a Euclidiana, a

    Hiperblica e a Esfrica, foi desenvolvida pelo alemo Georg Friedrich Riemann

    (1826 -1866), e a geometria mais adequada em diversas situaes, inclusive para

    a descrio de fenmenos astronmicos, e na qual Albert Einstein se baseou para a

    sua Teoria da Relatividade.

    Resumindo estes trs espaos numa linguagem simples, pode-se dizer que:

    1. Num espao euclidiano por um ponto dado s passa uma reta

    paralela a outra reta dada e a soma dos ngulos internos de um

    tringulo igual a dois ngulos retos, ou seja, 180;

    2. No espao hiperblico, por um dado ponto passam muitas paralelas

    uma reta dada, e a soma dos ngulos internos de um tringulo

    sempre menor que dois ngulos retos, logo, menor que 180;

    3. Finalmente, no espao com geometria esfrica ou elptica, no existe

    nenhuma paralela uma reta dada e a soma dos ngulos internos

    de um tringulo maior que dois ngulos retos, portanto, maior que

    180.

    O conceito das dimenses fracionrias tambm surgiu no sculo XIX e se relaciona

    com a teoria do Caos, sendo que a primeira confirmao da sua existncia foi feita

    pelo francs Henri Jules Poincar em 1879. Com o surgimento e o avano da

    Computao Grfica foi possvel dimensionar sua complexidade, nascendo da a

    Geometria Fractal. O responsvel pela sua investigao e denominao, sendo por

    isso conhecido como o pai da Geometria Fractal, foi o matemtico polons B. B.

    Mandelbrot, em 1975.

  • 33

    A teoria do Caos surgiu tendo como objetivo compreender e dar resposta

    fenmenos onde no havia previsibilidade, que no podiam ser previstos por leis

    matemticas. Por exemplo, o gotejar de uma torneira, as variaes climticas e as

    oscilaes da bolsa de valores.

    Numa definio bastante sinttica, pode-se dizer que o caos corresponde um

    comportamento estocstico que ocorre num sistema determinstico. Uma definio

    que primeira vista parece paradoxal, j que o primeiro governado pelo acaso,

    enquanto que o segundo governado por leis exatas. Entretanto o que se observa

    que existe uma regra que seguida, mas num intervalo quase aleatrio, o que faz

    com que as equaes sejam incapazes de determinar o padro de comportamento.

    Atravs de estudos de modelos matemticos e mtodos computacionais, vem sendo

    constatado pelos cientistas, segundo Lamy Jr. (2000), que os sistemas caticos so

    determinsticos, regidos por equaes matemticas precisas do tipo no linear, e

    que sua imprevisibilidade est relacionada com a sensibilidade s condies

    iniciais.

    Assim, existem inmeros fenmenos na natureza que no podem ser descritos pela

    Geometria Euclidiana, devido sua irregularidade, mas que podem ser descritos

    pela Geometria dos Fractais.

    O nome fractal vem do latim e significa quebrar, criar fragmentos irregulares. Um

    fractal pode ser definido como uma forma geomtrica fragmentada, que pode ser

    subdividida infinitamente em partes, sendo cada uma delas, pelo menos

    aproximadamente, uma cpia reduzida do todo.

    Os fractais tem como caractersticas bsicas a iterao e so auto-similares, ou

    seja, a parte assemelha-se ao todo tendo a repetio como base do seu processo

    de construo e assim, apresentam o mesmo grau de irregularidade independente

    da escala.

  • 34

    Observe-se que a Geometria Euclidiana, do ponto de vista da anlise concreta do

    espao tridimensional, trabalha com elementos que tem, no mximo, trs

    dimenses. Conceitualmente, um ponto adimensional (logo, dimenso zero), a

    linha unidimensional (dimenso 1), as superfcies so bidimensionais (dimenso 2)

    e os slidos so tridimensionais (dimenso 3). J no caso dos fractais, a dimenso

    fracionria.

    Segundo Antiqueira (2002), uma curva irregular, ao se formar sobre uma superfcie,

    pode se tornar nos seus extremos to irregular que efetivamente preenche

    completamente a superfcie em que ela reside. Assim, segundo este autor, a

    irregularidade pode ser pensada

    [...] como um aumento na dimenso: uma curva irregular possui uma dimenso intermediria entre 1 e 2, enquanto que uma superfcie irregular possui uma dimenso entre 2 e 3. Em ambos os casos, a dimenso fracionria. A dimenso de uma curva fractal um nmero que caracteriza a maneira na qual a medida do comprimento

    entre dois pontos aumenta medida que a escala diminui.

    A dimenso fractal tem sido considerada como uma transio entre duas dimenses

    euclidianas regulares, entretanto no pode ser determinada analiticamente, sendo

    seu clculo feito por estimativas.

    As figuras a seguir mostram as etapas de formao de alguns fractais tericos

    bastante conhecidos.

    A figura 1.08 mostra o Conjunto Fractal

    de Cantor, obtido dividindo-se

    inicialmente o segmento AB em trs

    partes auto-similares, retirando-se a

    seguir a parte central. Repete-se o

    processo, retirando-se de cada

    intervalo restante a respectiva tera

    parte mediana. Num processo iterativo,

    chega-se ao Conjunto.

    Figura 1.08: Conjunto de Cantor

  • 35

    A figura 1.09 ilustra as etapas de formao da Curva de Koch. A partir de um

    segmento de linha reta, este dividido em trs partes iguais, e a tera parte

    mediana substituda por um tringulo eqiltero cuja base removida. Atravs de

    sucessivas repeties no processo, verifica-se que o comprimento da linha tender a

    infinito.

    Figura 1.09 Curva de Koch

    Outro fractal bastante conhecido o tringulo de Sierpinski, ilustrado na figura 1.10,

    onde partindo-se da construo do tringulo ABC, escurecido, remove-se o tringulo

    eqiltero definido pelos pontos mdios dos lados. O processo repetido

    continuadamente em todos os tringulos que permanecem escurecidos.

    Figura 1.10: Tringulo de Sierpinski

    Fractal, portanto, a geometria do Caos determinista e tambm a geometria da

    natureza, que tem permitido o estudo de diversas caractersticas de objetos reais

    tais como rugosidade, tortuosidade, aspereza, salincia, textura, etc.

  • 36

    Deve-se chamar ateno, entretanto, para o fato de que fractais verdadeiros existem

    apenas no plano conceitual, j que os objetos reais no revelam quantidades

    infinitas de detalhes quando observados em escalas diferentes, que os fractais

    tericos oferecem. Tanto seu estudo como aqueles sobre o Caos so ainda

    controversos por serem muito recentes, surgidos h menos de 30 anos, entretanto j

    tem dado contribuies em muitas reas do conhecimento humano. No cinema, tem

    sido usados para criar realidades virtuais terrestres e efeitos especiais, na geologia

    tem auxiliado na compreenso da distribuio de estruturas hexagonais em bacias

    hidrogrficas, bem como na descrio geomtrica de linhas costeiras, montanhas,

    nuvens, e vrios outros fenmenos naturais.

    Um ponto a ser observado quanto sua aplicao na gerao de formas

    arquitetnicas. Um das caractersticas de um objeto arquitetnico a sua

    construtibilidade, ou seja, a possibilidade de ser construdo, edificado. Essa questo

    envolve a locao do objeto a ser construdo, na obra, ou seja, a marcao de

    fundaes, alinhamento de pilares, paredes, vigas, etc. Essas questes so

    solucionadas atravs da geometria euclidiana, trabalhando-se com a marcao dos

    pontos principais do objeto nos eixos x, y e z. Assim, quando o objeto arquitetnico

    gerado a partir de fractais, um problema a ser resolvido o da ligao entre os

    fractais e a sua representao para a construo deste objeto, que se d atravs da

    geometria euclididana. Segundo Dantas (1992, p. 122), a soluo est em se utilizar

    software geradores de fractais, que trabalhem com a funo fractal e no com a

    imagem espectral dessa funo. Assim, ser possvel fazer o seu mapeamento em

    um sistema tridimensional cartesiano, em um padro que permita que seus pontos

    notveis sejam depois exportados para um ambiente CAD.

    Alm da abordagem cronolgica relativa ao surgimento das diversas geometrias,

    com relao aos objetos e mtodos de estudos tem-se: as Geometrias Axiomtica,

    Grficas (Plana e a Projetiva), Analtica, Diferencial e Computacional.

    Resumidamente pode-se definir cada uma delas como segue. A Geometria

    Axiomtica preocupa-se com a construo de modelos geomtricos a partir de

    propriedades pr-definidas (axiomas) dos objetos. A Geometria Grfica, como o

  • 37

    prprio nome diz, destina-se resoluo grfica de problemas geomtricos. Quando

    estes problemas so resolvidos a partir de construes de figuras planas, trata-se da

    Geometria Plana ou, como mais comumente denominada, Desenho Geomtrico.

    J a parte da geometria grfica que investiga as propriedades das configuraes

    invariantes sob a operao de projeo denominada de Geometria Projetiva. A

    Geometria Analtica surgiu quando, em 1637, Ren Descartes forjou uma conexo

    entre a geometria e a lgebra, sendo este seu fundamento, no qual as figuras so

    representadas atravs de expresses algbricas. A Geometria Diferencial investiga

    as propriedades mtricas das curvas, superfcies e volumes, atravs de mtodos de

    anlise matemtica. O estudo dos problemas geomtricos sob o ponto de vista

    "algortmico" o propsito da Geometria Computacional. Recentemente, com a

    aplicao das tecnologias computacionais ao ensino, surge a denominao de

    Geometria Dinmica para o trabalho com as construes geomtricas de maneira

    interativa e com animao.

    1.2.2 A Geometria e seu Estudo

    Segundo Costa (1996), a Geometria pode ser estudada de trs maneiras:

    axiomtica, analtica ou graficamente. Nos dois primeiros casos ela estudada em

    associao com outros ramos da Matemtica. Graficamente, ela tem sido objeto de

    estudo das disciplinas de Desenho. Como colocado, denomina-se de Geometria

    Grfica aquela que estuda, atravs do desenho, as propriedades da Forma. Quando

    estuda apenas as figuras planas vale-se para isto da disciplina conhecida como

    Desenho Geomtrico Plano, trabalhando-as diretamente no plano do desenho.

    Quando trabalha com os objetos tridimensionais, vale-se dos Sistemas de

    Representao para transpor seu estudo para o desenho bidimensional.

    Representao , segundo os dicionaristas, o ato ou efeito de representar, de ser a

    imagem ou a reproduo, de figurar, aparentar, reproduzir, descrever. Neste

    trabalho a Representao Grfica de um objeto ser definida como sendo uma

    forma de expresso, uma linguagem que o descreve, por meios grficos, analgicos

    ou digitais.

  • 38

    Os Sistemas de Representao so conjuntos de princpios e regras que norteiam a

    representao de objetos. Dentre estes, esto os sistemas de projeo que

    embasam a Geometria Projetiva7: o Sistema Cnico e o Sistema Cilndrico.

    Num Sistema de Projeo as projetantes partem sempre de um ponto, ou no sentido

    inverso, convergem para um mesmo ponto, denominado de centro de projeo. No

    Sistema Cnico de Projeo, parte-se do princpio que este centro de projeo est

    a uma distncia finita do plano de projeo (Figura 1.11). Este o sistema adotado

    pelo mtodo da Perspectiva dita exata. J no Sistema Cilndrico o centro de projeo

    situa-se a uma distncia dita infinita do plano de projeo. As projetantes so ento

    paralelas entre si, convergindo para um ponto imprprio, que o centro de projeo.

    Este Sistema o adotado pelas Perspectivas ditas paralelas e pela Geometria

    Descritiva, que por sua vez a base do Desenho Tcnico (Figura 1.12).

    Figura 1.11: Sistema Cnico de Projeo

    7 A Geometria Projetiva estuda os objetos atravs de sua projeo sobre um ou mais planos,

    utilizando-se de mtodos diversos e baseada em diferentes Sistemas de Projeo. As projees so obtidas fazendo-se passar por pontos do objeto a ser projetado, retas que iro interceptar um plano determinado, chamado de plano de projeo. Assim, a interseo desta reta, denominada projetante, com o plano de projeo resultar na projeo do ponto.

  • 39

    Figura 1.12: Sistema Cilndrico de Projeo

    O Desenho Tcnico o desenho projetivo, baseado nas projees mongeanas

    ortogonais8, acrescido de convenes que traduzem as dimenses, a funo e o

    material de que constitudo o objeto. O Desenho Tcnico usualmente acrescido

    de adjetivao que identifica o setor ao qual se destina, como por exemplo o

    Desenho Arquitetnico, Mecnico, de Construo Civil, Topogrfico, Cartogrfico,

    etc. Entretanto convm observar que mesmo quando so usados mtodos que

    representam as trs dimenses euclidianas, como no caso das perspectivas, trata-

    se de um desenho plano, pois desenvolve-se sobre uma superfcie que

    bidimensional9.

    1.3 FORMA E GEOMETRIA

    Na organizao da forma arquitetnica, a geometria tem presena inevitvel, tanto

    na ordenao da configurao geral como no inter-relacionamento das partes.

    8 O mtodo mongeano de projees baseia-se no sistema cilndrico ortogonal, portanto tem as

    projetantes paralelas entre si e perpendiculares ao plano de projeo. Desenvolve-se a partir de dois planos de projeo tambm perpendiculares entre si. assim chamado, por ter sido idealizado em finais do sculo XVIII pelo matemtico francs Gaspar Monge, que viveu de 1746 a 1818 e definiu os princpios da Geometria Descritiva, sendo considerado por isso seu criador. 9 Neste trabalho apenas os modelos fsicos maquetes, so considerados como representaes

    tridimensionais. Mesmo as maquetes virtuais, ou seja, as representaes obtidas por meios computacionais, so consideradas como representaes planas, pois sua visualizao se d tambm sobre uma superfcie bidimensional (na tela do computador ou impressa), ou seja, apesar de dar uma iluso do tridimensional, trata-se apenas de uma simulao, sendo uma representao bidimensional.

  • 40

    Segundo Barki (2002),

    [...] as formas reais so as coisas do mundo sensvel e devem sua existncia a causas fsicas, biolgicas, funcionais e/ou finais, ou scio-culturais. [...] J as formas ideais so os modelos abstratos produzidos pela imaginao humana, [...] so perfeitamente regulares, exatos em medida e contorno, teoricamente fixos e estveis e identicamente reproduzveis.

    Assim, a geometria auxilia na compreenso das coisas do mundo sensvel, para

    nele intervir.

    A Geometria Euclidiana foi o principal instrumento at o sculo XIX para interpretar

    com rigor matemtico formas reais. Hoje dispe-se de novas geometrias para

    descries convincentes de formas complexas. Entretanto observa-se que a

    Geometria Euclidiana permanece sendo o instrumento que mais favorece a

    interpretao imediata da forma, principalmente quando aplicada construo e ao

    projeto arquitetnico.

    1.3.1 Gerao da Forma Arquitetnica

    Para Ching (1982, p.64), as formas podem ser percebidas como uma transformao

    dos slidos primrios, variaes, fruto da manipulao dimensional ou da adio ou

    subtrao de elementos. So slidos10 primrios ou fundamentais a esfera, o

    cilindro, o cone, a pirmide e o prisma. Definindo cada um deles, temos:

    A esfera pode ser definida como o slido gerado pela rotao de um semi-

    crculo em torno de seu dimetro;

    O cilindro reto o slido resultante do deslocamento de um crculo ao

    longo de um eixo que passa perpendicularmente por seu centro ou

    tambm pode ser definido como o slido obtido pela rotao de um

    retngulo em torno de um de seus lados;

    O cone reto o slido obtido pela rotao de um tringulo retngulo em

    torno de um dos catetos, ou o slido resultante do deslocamento de um

    10

    No confundir os slidos geomtricos com as superfcies geomtricas. Estas, so geradas por linhas, enquanto os slidos so gerados por figuras planas (polgonos, crculos, etc). A superfcie apenas o envoltrio do poliedro. Para a existncia de slidos, temos que ter uma superfcie limitada em todas as dimenses, e considerar tanto a superfcie quanto o espao interno por ela delimitado.

  • 41

    crculo ao longo de um eixo que passa perpendicularmente por seu centro

    e tendo seu dimetro constantemente reduzido at chegar a zero

    resultando no vrtice do cone;

    A pirmide reta um poliedro11 cuja base um polgono qualquer e as

    faces laterais so tringulos que concorrem num ponto chamado vrtice

    da pirmide;

    O prisma reto o poliedro formado por duas faces poligonais iguais,

    chamadas bases e situadas em planos paralelos, e por faces laterais que

    so paralelogramos retngulos, que tm um lado em comum com cada

    uma das bases, fazendo com elas ngulo de 90 (Figura 1.13).

    Figura 1.13: Slidos primrios

    11

    Poliedros, conforme Fonseca (1999) so slidos geomtricos, limitados por um conjunto finito de regies poligonais planas, de modo que cada lado de um polgono, a aresta do poliedro, ser contguo de outro e que as faces contguas no esto em um mesmo plano.

    CILINDRO CONE

    PIRMIDE PRISMA

    ESFERA

  • 42

    Alguns autores destacam entre os poliedros, os slidos Platnicos, poliedros

    regulares, compostos por faces iguais e ngulos internos tambm iguais. So eles: o

    tetraedro - quatro tringulos eqilteros; o hexaedro (ou cubo) seis quadrados; o

    octaedro oito tringulos eqilteros; o dodecaedro doze pentgonos regulares; e

    o icosaedro 20 tringulos eqilteros (Figura 1.14).

    Figura 1.14: Slidos Platnicos ou regulares

    Barki considera que a gerao da forma arquitetnica se caracteriza principalmente

    pela ampla liberdade de escolha e por influncias de ordem scio-cultural, ao que

    devem ser acrescentados outros fatores tais como as influncias de ordem

    econmica, funcionais e tecnolgicas. Ela basicamente determinada pela relao

    entre os seus elementos constitutivos, a partir de esquemas bsicos que ordenam

    estes elementos em funo de uma idia ou tema, a partir de uma inteno

    compositiva.

    Compor, de maneira geral, segundo o dicionrio combinar, fazer, construir,

    consertar, arranjar, harmonizar (BUENO, 1975). Pode-se considerar que a

    composio do objeto consiste numa criao do todo atravs de suas partes. Em

    arquitetura, Corona Martinez citado por Rocha (2001, p. 58), define o ato de compor,

    em arquitetura, como sendo relacionar partes para formar um todo e decidir qual

    ser a relao entre essas partes, refletindo questes significativas de forma,

    espao e ordem em arquitetura. Tambm Mahfuz (1995, p. 17) assim define a

    composio: [...] arranjo das partes da arquitetura como elementos de uma sintaxe,

    de acordo com certas regras a priori, para formar um todo. As regras deste arranjo

    so o que ser aqui denominado de Estrutura, e tanto estas como a Composio

    sero objeto de uma anlise mais detalhada mais adiante, quando forem discutidas

    as questes referentes ao processo de projeto.

  • 43

    A organizao da forma final, dos seus elementos, ou seja, a composio, pode ser

    ento, como j foi visto, determinada por diversos fatores. Sua criao pode ser

    entendida como um processo de organizao e desenvolvimento com elementos

    bsicos. Uma forma complexa origina-se de elementos de base (ou formas bsicas),

    segundo determinados princpios e regras, tais como equilbrio, contraste, harmonia,

    proporo, ritmo, unidade variedade, repetio, etc.

    Nesta etapa do trabalho importa observar que, a gerao da forma arquitetnica se

    tratando de uma composio, seja a partir de elementos geomtricos definidos ou

    livres, parte de um repertrio que deve ser conhecido. Na gerao formal as

    informaes sobre os elementos (partes) da composio constituem ponto de

    partida, da a necessidade destes serem identificados enquanto formas/superfcies

    geradoras.

    1.3.2 Superfcies Geomtricas

    A maior parte das formas arquitetnicas, na sua manipulao e representao

    durante o processo de projeto, requer a definio de suas superfcies ou superfcies

    de origem. Assim, podem ser definidos contornos, intersees, pontos e arestas de

    corte, de superposio, etc.

    A superfcie a extenso a duas dimenses, sendo apenas o limite da extenso a trs dimenses ou volume; da a infinidade de formas realizadas e imaginadas pelas quais ela se apresenta comumente. [...] As superfcies compreendem no s as formas suscetveis de definio geomtrica, mas tambm as que no o so (RODRIGUES, 1968, p. 247).

    Estudando as superfcies caracterizadas por propriedades geomtricas definidas,

    estas devem ser agrupadas de maneira racional, classificadas e analisadas quanto

    seus principais elementos.

    Existem superfcies que admitem uma lei de gerao, ou seja, um conjunto de

    regras que permitem sua gerao, perfeita identificao ou caracterizao, sendo

    chamadas de superfcies geomtricas. Em outras superfcies isto no se aplica

    como, por exemplo, as superfcies topogrficas.

  • 44

    No caso das superfcies geomtricas, que possuem lei de gerao, Monge12

    estabeleceu como seus elementos principais:

    - a geratriz : linha mvel que descreve a superfcie;

    - a lei de gerao: determinao do movimento de cada forma linear, sem

    nada deixar de arbitrrio quanto posio e grandeza da geratriz;

    - as diretrizes: linhas ou superfcies fixas que determinam, em relao

    geratriz, em cada posio, as condies peculiares da lei de gerao de

    uma superfcie

    Assim, pela natureza da geratriz, ele definiu duas grandes classes: a das superfcies

    geradas por

    a- reta;

    b- curva.

    Na classe das superfcies geradas por retas, criou dois grandes grupos: 1 o das

    Superfcies Desenvolvveis, ou planificveis, onde se encontram as superfcies

    cnicas em geral, as superfcies cilndricas em geral e as superfcies de aresta de

    reverso (helicide desenvolvvel); 2 grupo das Superfcies Reversas, que no

    podem ser desenvolvidas ou planificadas, onde temos os hiperbolides escalen