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Formação de Minicolônias de Uruçu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)] ISSN 1983-0513 Março, 2015 409

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Documentos 409 EMBRAPA

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  • Formao de Minicolnias

    de Uruu-Cinzenta [Melipona

    fasciculata Smith 1858

    (Apidae, Meliponini)]

    ISSN 1983-0513

    Maro, 2015 409

  • Documentos 409

    Giorgio Cristino VenturieriPedro Leonardo BaqueroLuciano Costa

    Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    ISSN 1983-0513Maro, 2015

    Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaEmbrapa Amaznia OrientalMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Embrapa Amaznia OrientalBelm, PA2015

  • Embrapa Amaznia OrientalTv. Dr. Enas Pinheiro, s/n. CEP 66095-903 Belm, PA.Caixa Postal 48. CEP 66017-970 Belm, PA.Fone: (91) 3204-1000Fax: (91) 3276-9845www.embrapa.brwww.embrapa.br/fale-conosco/sac

    Comit Local de PublicaoPresidente: Silvio Brienza JniorSecretrio-Executivo: Moacyr Bernardino Dias-FilhoMembros: Orlando dos Santos Watrin

    Eniel David Cruz Sheila de Souza Correa de Melo Regina Alves Rodrigues Luciane Chedid Melo Borges

    Reviso tcnica: Mrcia de Ftima Ribeiro Embrapa SemiridoVera Imperatriz Fonseca Instituto de Biocincias da Universidade de So PauloBetina Blochtein PUC/RS

    Superviso editorial: Luciane Chedid Melo BorgesReviso de texto: Narjara de Ftima Galiza da Silva PastanaNormalizao bibliogrfica: Andra Liliane Pereira da SilvaTratamento de imagens: Vitor Trindade LboEditorao eletrnica: Euclides Pereira dos Santos FilhoFoto da capa: Giorgio Cristino Venturieri

    1 edioOn-line (2015)Disponvel em: www.embrapa.br/amazonia-oriental/publicacoes

    Todos os direitos reservadosA reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Amaznia Oriental

    Venturieri, Giorgio CristinoFormao de minicolnias de uruu-cinzenta [Melipona

    fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)] / Giorgio Cristino Venturieri, Pedro Leonardo Baquero, Luciano Costa. Belm, PA : Embrapa Amaznia Oriental, 2015.

    28 p. : il. ; 14,8 cm x 21 cm. (Documentos / Embrapa Amaznia Oriental, ISSN 1983-0513; 409).

    1. Meliponicultura. 2. Abelha. 3. Criao. I. Baquero, Pedro Leonardo. II. Costa, Luciano. III. Ttulo. IV. Srie.

    CDD 21. ed. 638.1

    Embrapa 2015

  • Giorgio Cristino VenturieriEngenheiro-agrnomo, doutor em Entomologia, pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental, Belm, PA.

    Pedro Leonardo BaqueroZootecnista.

    Luciano CostaBilogo, mestre em Cincia Animal, membro da equipe do Projeto German Barcode of Life no Zoologisches Staatssammlung Mnchen, Alemanha.

    Autores

  • Agradecimentos

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e Fundao Amaznia Paraense (Fapespa), pelo suporte financeiro em diferentes projetos que apoiaram o desenvolvimento da meliponicultura no Estado do Par. Elisngela de Sousa Rgo e ao Charles Andr Barbosa Pereira, tcnicos que auxiliaram na formao de centenas de minicolnias de melponas, que hoje servem a dezenas de agricultores da Amaznia.

  • Apresentao

    A Embrapa Amaznia Oriental orgulha-se em ser pioneira e referncia no uso econmico de abelhas-nativas para a agricultura. Essa referncia foi conquistada ao longo dos ltimos 25 anos, nos quais seus pesquisadores dedicaram-se a estudar o manejo e o papel dessas abelhas na polinizao da flora nativa, incluindo importantes culturas regionais, como taperebazeiro, urucuzeiro, ramboteira e aaizeiro, esta ltima, maior geradora de renda dentre as fruteiras regionais e fortemente dependente das abelhas para a formao de seus frutos.

    Acredita-se que, em breve, a agricultura regional ir demandar de grande quantidade de colnias de abelhas para os servios de polinizao, uma vez que a maioria das culturas tropicais so autoincompatveis, necessitando do cruzamento de flores de indivduos diferentes para uma boa frutificao. Em resposta a essa perspectiva, o pesquisador Giorgio Venturieri e seus colaboradores tm trabalhado na multiplicao artificial em larga escala de colnias de abelhas- -indgenas-sem-ferro. A presente publicao descreve em detalhes e com farta ilustrao a produo de minicolnias de Melipona fasciculata (uruu-cinzenta), contudo, esse processo pode ser adaptado a diversas outras espcies de abelhas-sociais-nativas-brasileiras, conhecidas popularmente como abelhas-indgenas-sem-ferro.

  • Com a adoo da tecnologia de produo de minicolnias, o criador de abelhas-nativas poder ser mais eficiente na multiplicao artificial de suas espcies, evitando a supresso dos estoques naturais, ampliando a gerao de renda por meio da explorao sustentvel de produtos endmicos e, principalmente, disponibilizando um nmero muito maior de abelhas para os servios de polinizao de cultivos tropicais.

    Adriano VenturieriChefe-Geral da Embrapa Amaznia Oriental

  • Sumrio

    Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)] ........................11

    Introduo ......................................................................................11

    A melhor poca ..............................................................................13

    Materiais necessrios para formao das minicolnias ........13

    Material no biolgico .....................................................................13

    Material biolgico............................................................................14

    Nutrio das minicolnias ............................................................15

    Higiene das minicolnias ..............................................................17

    Cuidados com inimigos naturais.................................................18

    Iniciando a minicolnia .................................................................19

    Para os casos em que o estabelecimento de uma rainha fisogstrica mais demorado .....................................................23

    Referncias ......................................................................................25

  • Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Giorgio Cristino VenturieriPedro Leonardo BaqueroLuciano Costa

    Introduo

    A criao de abelhas-indgenas-sem-ferro, ou meliponicultura, uma atividade em constante crescimento no Brasil e em outras regies tropicais e subtropicais do mundo (CORTOPASSI-LAURINO et al., 2006). No Brasil, tradicionalmente, a meliponicultra tem a produo de mel como principal objetivo. No entanto, em virtude da diversidade de formas, tamanhos e ecologia, vrias espcies de meliponneos tm se revelado como potenciais polinizadoras de diversas culturas agrcolas, tanto em casas de vegetao como em cultivo aberto (HEARD, 1999; SLAA et al., 2006).

    A uruu-cinzenta ou tiba (Melipona fasciculata) uma espcie criada com sucesso por centenas de criadores tradicionais em sua rea de ocorrncia, sendo mais popular nos estados do Par e Maranho. No Nordeste Paraense, em virtude do trabalho de pesquisa e extenso da Embrapa Amaznia Oriental (VENTURIERI, 2005), mais de 1,5 mil colnias de M. fasciculata encontram-se atualmente em caixas racionais e sendo manejadas de acordo com as boas prticas recomendadas em meliponicultura. Essas colnias so fruto de intensa multiplicao de ninhos que, inicialmente, estavam alojados em caixas caboclas (VENTURIERI et al., 2003).

  • 12 Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Tradicionalmente, e ainda hoje, essa abelha tem sido empregada na produo de mel (VENTURIERI et al., 2003). Essa vocao justificada por uma boa produtividade, uma vez que as colnias produzem em mdia 3,5 L/ano e, em alguns casos, at 7 L de mel/ano. H, portanto, grande potencial para o melhoramento da produo. Entretanto, alm da produo de mel, a uruu-cinzenta tambm pode ser utilizada para a polinizao de plantas que precisam de abelhas vibradoras (NUNES-SILVA et al., 2013; VENTURIERI et al., 2010), como as solanceas. Atualmente, as abelhas do gnero Bombus so as mais utilizadas em servios de polinizao dessa famlia, principalmente o tomateiro (VELTHUIS; VAN DOORN, 2006), mas a uruu-cinzenta tambm poderia ser usada com essa finalidade. Em condies tropicais e subtropicais, M. fasciculata poder, no futuro, substituir com vantagens as abelhas Bombus. O seu manejo relativamente mais simples, ela adapta-se muito facilmente em caixas de madeira, suas colnias podem ser ajustadas a diferentes tamanhos populacionais e, por no possurem ferro, no oferecem perigo ao horticultor.

    Conforme demostrado por Venturieri et al. (2010) e Nunes-Silva et al. (2013), M. fasciculata apresenta-se como um excelente polinizador de solanceas, adaptando-se bem em ambientes fechados como o de casas de vegetao. Alm disso, em cultivo aberto, essas abelhas so polinizadoras de plantas como aa, manga, tapereb, abbora, melancia, melo e feijo-caupi, dentre outras (SLAA et al., 2006; VENTURIERI et al., 2012).

    A tecnologia de produo de minicolnias ajusta-se muito bem com a capacidade de M. fasciculata em adaptar-se a diferentes tamanhos populacionais. Esta uma caracterstica importante em ambientes fechados como as estufas, com recursos limitados, se consideramos que colnias muito populosas podem exceder a capacidade dos recursos disponveis, podendo vir a danificar flores e frutos (MALAGODI-BRAGA, 2002). Alm disso, estudos sobre biologia e comportamento que demandem observaes internas so mais facilmente realizados em colnias menores, facilitando o rastreamento das atividades de seus ocupantes.

  • 13Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Nesta publicao descrevemos, de forma detalhada e ilustrada, um mtodo que vem sendo empregado com sucesso na Embrapa Amaznia Oriental desde setembro de 2003. Esse mtodo, por utilizar pouco material biolgico (6-8% da colnia-me), causa dano insignificante nas matrizes e serve como uma alternativa para a tradicional diviso ao meio, inicialmente divulgada por Oliveira e Kerr (2000).

    A melhor poca

    As minicolnias podem ser estabelecidas em qualquer poca do ano, mas no incio da poca de maior florada que se obtm melhor resultado quanto sobrevivncia e crescimento da colnia. No nordeste do Par, a partir de julho, quando as chuvas diminuem, menor a incidncia de fordeos, uma praga que pode ser devastadora aos ninhos. Alm disso, nessa poca tambm maior a proporo de rainhas virgens em relao s operrias que nascem e maior a oferta de plen e nctar, em virtude da grande quantidade de rvores em florescimento. No caso das melponas, a determinao de rainhas gentico-alimentar (KERR, 1950; MENEZES et al., 2007) e ento h maior abundncia delas quando ocorrem as melhores condies ambientais (floradas). Assim, nessa poca do ano, alm de haver maior nmero de rainhas nas clulas de cria, haver tambm rainhas na vizinhana, buscando colnias rfs onde se estabelecer (WENSELEERS et al., 2011).

    Materiais necessrios para formao das minicolnias

    Material no biolgico

    Para a formao das minicolnias so necessrios os seguintes materiais: o ninho e a tampa da caixa, modelo Embrapa, para a espcie Melipona fasciculata (VENTURIERI, 2004), esponjas ou haste de buriti para tampar os orifcios de ventilao (do fundo e da tampa) e tela de malha fina de metal, para tampar a entrada da caixa, mas permitir

  • 14 Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    ventilao. A tela para o orifcio de entrada deve ser fina o suficiente para impedir a invaso por fordeos. Para facilitar a observao da colnia recm-formada, deve-se utilizar uma lmina de acetato entre a caixa e a tampa.

    Em ambiente onde a temperatura fique abaixo de 28 C, recomenda- -se usar um quadro aquecedor sobre o ninho, confeccionado conforme Costa e Venturieri (2007). Com o nmero de operrias limitado, o aquecimento auxilia na manuteno da temperatura constante (entre 28 C e 30 C) na rea de cria, acelerando e aumentando o desenvolvimento das larvas (BOONGIRD, 2011; COSTA; VENTURIERI, 2007; VOLLET-NETO et al., 2011).

    Material biolgico

    Para cada minicolnia, deve-se retirar um favo de cria com pupas em final de desenvolvimento, ou seja, um favo com operrias prontas para emergir. Tal tipo de favo pode ser reconhecido por ser de cor mais clara e ter a regio central vazia (Figura 1).

    Figura 1. Exemplo de favo

    contendo pupas maduras,

    de cor mais clara, e vazio

    na regio central. Ateno:

    em M. fasciculata pode

    haver variao na colorao

    dos favos. Algumas

    colnias apresentam favos

    um pouco mais escuros

    (encerados), mesmo

    quando bem maduros.

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    O favo a ser utilizado na formao da nova colnia deve conter no mnimo 300 clulas (BAQUERO et al., 2004). Isso significa um favo com cerca de 12 cm de dimetro mdio. Como os favos so normalmente irregulares (no so perfeitamente circulares), toma-se a mdia aritmtica do maior e menor dimetro.

    Alm do favo de cria, necessrio tambm um nmero de 60-80 operrias aderentes, ou seja, aquelas abelhas que ainda no voam. Na criao das minicolnias, deve-se dar preferncia ao uso de operrias na fase inicial da vida, pois nessa fase que elas dedicam- -se aos trabalhos internos da colnia, como a produo e o manejo da cera para construo de clulas de cria, potes de alimento, pilares, construo do tubo de entrada e nutrio da rainha (NOGUEIRA-NETO, 1997; SAKAGAMI, 1982). Alm disso, operrias mais velhas so mais agressivas com as rainhas virgens, conforme observado em M. fasciculata (BAQUERO et al., 2004).

    Uma maneira eficaz de coletar operrias mais novas com a ajuda de um aspirador entomolgico ou, dependendo da habilidade, a captura pode ser feita manualmente. As operrias jovens ou aderentes devem ser acondicionadas em um recipiente e transferidas para a minicolnia. Na caixa modelo Embrapa, os orifcios de ventilao so muito teis para a introduo dessas novas operrias, mas lembramos que isso deve ser feito antes da colocao da folha de acetato.

    Nutrio das minicolnias

    Para a nutrio energtica das minicolnias, deve-se fornecer em doses de 50 mL o xarope de acar na concentrao de 60% (1,5 kg de acar para 1 L de gua). Sempre que as operrias consumirem o xarope, deve ser adicionada uma nova dose. importante que o fluxo de xarope no seja interrompido, uma vez que ele estimular o incio da postura. No recomendado o uso de mel diludo ou puro da abelha Apis mellifera em razo do risco de transmisso de doenas como a Nosema ceranae, entre possveis outras. A contaminao de doenas entre abelhas de diferentes gneros possvel, conforme observado entre Bombus e Apis (FRST et al., 2014). No podemos correr o risco de que o mesmo acontea com os meliponneos.

  • 16 Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    O xarope deve ser oferecido dentro de um recipiente, como um pequeno frasco de plstico com as paredes internas lixadas, como uma boa soluo para evitar o afogamento das operrias, como por exemplo inserir um pequeno pedao de tela plstica ou metlica, conforme mostra a Figura 2. Vrias alternativas so possveis, use a sua imaginao e os materiais disponveis. importante lembrar que o xarope um excelente meio de cultura, podendo nele proliferar bactrias e bolores, provocando a sua fermentao. Assim, quanto mais limpo for o recipiente e mais fresco for o xarope, menos chances de ocorrer contaminao. Xarope fermentado nunca deve ser utilizado.

    Figura 2. A) Como lixar o frasco de plstico para evitar afogamento das abelhas.

    B) Frasco lixado, com tela plstica e xarope. A tela plstica e a superfcie lixada do frasco

    dificultam o afogamento de abelhas.

    Para a nutrio proteica, podem ser utilizados potes de plen de uma colnia matriz, desde que seja possvel retirar potes em boas condies, secos e no rasgados. Outra possibilidade fazer bolotas de plen congelado e ento mergulh-las em cerume derretido (Figura 3). Quando os potes semiartificiais estiverem em temperatura ambiente, podem ser fornecidos para as abelhas. Alternativa para o plen (ou sabur) coletado das matrizes o alimento proteico fermentado feito com extrato de soja e acar, confeccionado conforme Costa e Venturieri (2009) e Rabelo et al. (2009).

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  • 17Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    O fornecimento de alimentao proteica fundamental para o amadurecimento das glndulas hipofarngeas e ovrios das operrias nutrizes (COSTA; VENTURIERI, 2009). Essas operrias alimentaro a rainha com geleia real e ovos trficos. Alm disso, a formao do alimento larval dependente da alimentao proteica (HARTFELDER; ENGELS, 1989; MENEZES et al., 2007). Portanto, na ausncia de alimentao proteica, no haver incio de postura. Assim, o fornecimento de alimentao proteica deve ser crescente, de forma a estimular a oviposio.

    Higiene das minicolniasComo as minicolnias permanecero fechadas at o amadurecimento da rainha e realizao do voo nupcial, deve-se auxiliar na manuteno da higiene e facilitar a limpeza das colnias recm-formadas, pois em colnias fechadas no h a eliminao do lixo. Para isto, deve ser posicionado em um dos quatro cantos da caixa um recipiente com papel toalha umedecido (ou algo equivalente) com o intuito de condicionar as operrias a depositar ali as suas fezes. Esse recipiente deve ser trocado, com cuidado para que as abelhas no escapem, sempre que estiver cheio (Figura 4). melhor que essa atividade seja realizada durante a noite, pois normalmente nesse perodo elas no voam. Para esse trabalho, pode ser usada uma luz vermelha, j que os insetos no enxergam essa cor e/ou a enxergam como se fosse uma cor muito escura.

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    Figura 3. A) Forma-se uma bolinha de plen, que recebe um palito e ento vai para

    o congelador. B) O picol de plen mergulhado em uma mistura de cera de Apis

    mellifera e cerume de M. fasciculata. C) Pote de plen pronto para ser utilizado, aps

    estar em temperatura ambiente.

  • 18 Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Cuidados com inimigos naturais

    Como as minicolnias so frgeis e muito vulnerveis a formigas e fordeos, para proteg-las alguns cuidados so recomendados, tais como: 1) vedar os cantos das caixas com uma mistura de cera de Apis mellifera e cerume de M. fasciculata derretida; 2) acondicionar as caixas em suportes isolados para formigas (ver NOGUEIRA-NETO, 1997 e CARVALHO-ZILSE et al., 2005 para obter sugestes de como fazer isso); 3) depois do voo nupcial, quando a minicolnia permanecer aberta, deve-se adicionar uma armadilha para flordeos (conforme NOGUEIRA-NETO, 1997).

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    Figura 4. Lixeirinha cheia de fezes.

  • 19Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Iniciando a minicolnia

    Pegue a caixa (base = ninho, da caixa Embrapa, ver detalhes em VENTURIERI, 2008) e feche os orifcios de ventilao com hastes de buriti (se esponjas forem utilizadas, deve-se adicionar telas metlicas sobre estas, pois sob confinamento as esponjas so rapidamente removidas pelas operrias) e feche a entrada da caixa com tela de metal fino (Figura 5). Derrame a mistura de cera e cerume derretido nos cantos e frestas da caixa, para vedar possveis locais de entrada de fordeos e formigas (Figura 6).

    Figura 6. A) Caixa com frestas seladas e pilares feitos com mistura de cera de Apis

    mellifera e cerume de M. fasciculata. B) Favo contendo algumas operrias aderentes,

    posicionado sobre os pilares, respeitando o espao abelha entre o fundo da caixa

    e o favo.

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    Figura 5. Base da caixa (ninho)

    com tampa. Orifcios de

    ventilao devem ser tapados

    com hastes de buriti ou outro

    material esponjoso rgido. A

    entrada deve ser fechada com

    tela de malha fina, que permita

    a entrada de ar, mas impea o

    acesso de fordeos.

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  • 20 Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Em seguida, faa pequenos pilares de cerume (ou mistura com cera de Apis mellifera) para sustentao do favo, com altura suficiente para permitir a passagem das operrias por baixo, e de modo que o chamado espao abelha seja respeitado (Figura 6). Feito isso, posicione a lixeirinha em um dos cantos da caixa, o frasco contendo 50 mL de xarope e um pote de plen em outro canto da caixa (Figura 7).

    Figura 7. Minicolnia contendo o favo de crias nascentes e 80 operrias nutrizes. A caixa

    est coberta com lmina transparente de acetato. Observar potes de plen no canto

    superior esquerdo e outro encostado na parede direita. (Esses potes de plen foram

    confeccionados conforme a Figura 3). Observe ainda nos cantos inferiores um recipiente

    contendo papel toalha umedecido, para a lixeira, e outro com xarope, esquerda e

    direita, respectivamente.

    Aps estes preparativos, adicione as operrias e cubra a caixa com uma lmina de acetato, para facilitar a observao (Figura 7). Lembre- -se que, se a temperatura ambiente oscilar abaixo dos 28 C, deve ser utilizado um quadro aquecedor sobre o ninho, conforme descrito em Costa e Venturieri (2007) (Figura 8).

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  • 21Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Figura 8. Desenho esquemtico de uma minicolnia contendo todos os elementos necessrios para a sua formao, incluindo a ala de aquecimento (COSTA; VENTURIERI, 2007), para locais onde a temperatura ambiente fique abaixo de 28 C.

    Ilustrao: Giorgio Cristino Venturieri.

    A minicolnia, depois de formada, dever ser observada diariamente, para que o criador possa tomar os cuidados com a alimentao, higiene e controle de inimigos naturais, conforme explicado anteriormente. tambm importante observar o dia da emergncia e o momento em que a nova rainha aceita pelas operrias. Em M. fasciculata, a rainha virgem dita dominante apresenta o segundo tergito dilatado, no qual se percebe uma linha marrom-alaranjada (BAQUERO et al., 2004). A nova rainha dominante pode tambm ser identificada por outros elementos comportamentais, tais como a corte das operrias (Figura 9).

  • 22 Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Cerca de 6 dias depois de emergir do favo, a rainha dominante realizar o voo nupcial (BAQUERO et al., 2004), e ento ser preciso abrir a caixa. Conforme observado por Baquero et al. (2004), o voo nupcial em M. fasciculata ocorre pela manh, entre 10h e 12h, e dura em mdia 25 minutos. Se o voo nupcial for bem sucedido, depois de 6 dias (em mdia) ela iniciar a postura. Nesse estgio, a minicolnia estar totalmente estabelecida e a partir deste ponto devem ser seguidas as recomendaes de manejo nutricional e de preveno e controle de inimigos naturais.

    Colnias de melponas formadas por esse mtodo usualmente levam um ano para se tornarem completamente fortes, ao ponto de serem colocadas para a produo de mel ou divididas novamente.

    Figura 9. Nova rainha dominante, com segundo tergito dilatado, no qual possvel ver uma listra marrom-clara, e a corte de operrias. As abelhas nesta foto esto marcadas de cor rosa em virtude de um experimento sobre diviso de trabalho.

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  • 23Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Para os casos em que o estabelecimento de uma rainha fisogstrica mais demorado

    Existem casos em que o surgimento de novas rainhas mais demorado, especialmente nos meses de muita chuva (de janeiro a maio na Amaznia), ou incio do perodo mais seco (de junho a julho). Nessa situao, a colnia dever ser retirada do confinamento aps o 5 dia, caso as novas rainhas no tenham emergido. A abertura da caixa possibilitar a entrada de uma rainha fecundada de outra colnia, o que s vezes acontece. Nas melponas constantemente emergem rainhas e, em colnias com condies ideais, essa proporo chega a 25% do total de crias. Essas novas rainhas normalmente so mortas ou expulsas das colnias pelas operrias. Eventualmente, alguma dessas rainhas consegue ser fecundada e, ao encontrar uma colnia rf, faz dela sua nova morada (WENSELEERS et al., 2011).

    Nos casos em que todas as abelhas do favo utilizado j emergiram e no h sinal de rainha, deve-se adicionar um outro favo de reforo (Figura 10) ou ento introduzir uma rainha, seja ela virgem ou j fecundada.

    O mtodo aqui exposto representa mais uma opo de multiplicao de colnias de meliponneos. Essa metodologia tem sido empregada com altos ndices de sucesso tambm para as espcies Melipona flavolineata, Melipona melanoventer e Scaptotrigona aff. depillis e acreditamos que ser de grande utilidade no suprimento de colnias, tanto para o mercado de produo de mel como para o de polinizao.

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    Figura 10. Adio de um segundo favo (reforo), prtica utilizada nos casos em que no

    h surgimento de rainha dominante a partir do primeiro favo utilizado.

  • 25Formao de Minicolnias de Uruu-Cinzenta [Melipona fasciculata Smith 1858 (Apidae, Meliponini)]

    Referncias

    BAQUERO, P. L.; VENTURIERI, G. C.; NATES-PARRA, G. Divisin y desarrolo de nidos

    de Melipona fasciculata. In: ENCUENTRO COLOMBIANO SOBRE ABEJAS SILVESTRES,

    2., 2004, Bogot, Colombia. Memorias. Bogot, D.C.: Universidad Nacional de Colombia,

    Departamento de Biologia, 2004. p. 128-130.

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