foral manuelino de samora correia

24

Upload: museu-benavente

Post on 16-Mar-2016

229 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

"O Foral Manuelino de Samora Correia - 13 de abril de 1510" Comemorações dos 500 anos do foral de Samora Correia Junta de Freguesia de Samora Correia Câmara Municipal de Benavente 2010

TRANSCRIPT

Page 1: Foral manuelino de samora correia
Page 2: Foral manuelino de samora correia

FICHA TÉCNICA Título: Foral Manuelino de Samora Correia Autor: Sandra Ferreira

Capa: Foral Manuelino de Samora Correia Livro de Forais Novos Entre-Tejo-e-Odiana

Grafismo: Sandra Figueiras

Edição: Junta de Freguesia de Samora Correia

Apoio: Câmara Municipal de Benavente

Page 3: Foral manuelino de samora correia

CORREIA 13 de Abril de 1510

O Foral Manuelino de

SAMORA

Page 4: Foral manuelino de samora correia
Page 5: Foral manuelino de samora correia

A 13 de Abril de 1510, D. Manuel I concede Foral a Samora Correia, e no censo de 1532 ao novo concelho é atribuído o total de 65 famílias.Samora Correia era uma das comendas da Ordem de Santiago e analisar o seu Foral ou estudar a sua história implica contextualizar a referida Ordem Militar. A Ordem de Santiago teve um papel predominante em todo o território que fica compreendido entre o rio Tejo e o Sado, quer a nível militar, mantendo a tranquilidade dos povoados e o repovoamento de alguns espaços, quer a nível económico, recebendo benefícios de variadas actividades económicas locais, tais como, a agricultura e a pesca. Estes benefícios, no que diz respeito a Samora Correia, estão evidenciados no próprio texto do Foral.

Esta Ordem, segundo Alexandre Flores e António Nabais(1), surgiu provavelmente, à semelhança de outras ordens como Calatrava, Avis…, como associação particular de cavaleiros piedosos que se uniram e avançaram em lutas e correrias, para combater os serracenos na vanguarda cristã, por volta dos anos de 1160-1170, e que seriam talvez leoneses, porque o seu primeiro assento conhecido foi em Cáceres. Em 28 de Outubro de 1186, D. Sancho I confirma aos cavaleiros, a doação das povoações, entre as quais, Palmela, que então gozava de paz e de certa prosperidade.Mais tarde, pela carta régia passada em Lisboa, a 2 de Setembro de 1552, o Mestrado é incorporado no Coroa, passando a Ordem de Santiago a depender do rei.

INTRODUÇÃO

(1) FLORES, Alexandre M.; NABAIS, António J. Os Forais de Palmela. Palmela, Edição Câmara Municipal de Palmela, 1992, p.23

[ 5 ]

Page 6: Foral manuelino de samora correia
Page 7: Foral manuelino de samora correia

A Reforma dos Forais mandada fazer por D. Manuel I, que levou à substituição de todos os Forais antigos por forais novos, limitava-se a indicar o que os concelhos deviam pagar à coroa. Todas as outras matérias tratadas nos forais antigos continuaram a ser reguladas nas leis gerais insertas nas Ordenações Afonsinas donde passaram para o “Regimento dos Oficiais das Cidades, Vilas e Lugares destes Reinos”, de 1504, e deste para as Ordenações Manuelinas e Filipinas. Posteriormente à reforma de D. Manuel e até ao século XIX só foram concedidos mais quatro forais que passaram a ser concedidos pela designação de forais novíssimos(2).

Como todos os forais manuelinos do 1.º quartel do século XVI, o foral de Samora Correia de 1510, tem interesse para a história económica e social. Relativamente à economia da vida local, o interesse advém pelas referências a terras de sesmarias, montados, «gado de vento», fornos e aos privilégios que a Ordem Militar de Santiago tinha sobre aquelas terras.

O presente estudo tem por base a cópia do foral de Samora Correia de 1510, existente na Torre do Tombo.

Na transcrição do foral, escrito em letra gótica, procuramos seguir o método diplomático, ou seja, desenvolvemos as abreviaturas, respeitando sempre o teor do texto.

(2) FLORES, Alexandre , Ob. Cit. , p. 94

[ 7 ]

Page 8: Foral manuelino de samora correia

O trabalho que se segue pretende tornar o Foral mais próximo

das gentes da comunidade de Samora Correia. Assim, a sua

análise, oferece alguns elementos para o conhecimento da vida

dos moradores da vila e seu termo, no início do século XVI. Este

documento oferece-nos elementos importantes para o estudo

da vida económica, política, judicial e criminal desta comunidade.

[ 8 ]

Page 9: Foral manuelino de samora correia

A Ordem de Santiago, representada localmente por um comendador, era proprietária dos dois pauis referenciados no texto do Foral. O primeiro paul ao qual não é feita qualquer alusão à forma como poderia ser designado surgindo no texto apenas como «o paul de(…)» e, o paul da várzea que se chama da «Morteira» denominação que chegou até aos nossos dias, designando uma vasta área limítrofe de Samora Correia e pertença da Companhia das Lezírias do Tejo e do Sado.As terras de sesmaria que não tinham senhorio, nem dono, deveriam pagar à Ordem o sexto daquilo que nelas se lavrasse e colhesse como até então se costumava pagar.

«(…)taaes terras que assy foram dadas de sesmarja e agora nom tem senhorio nem dono que se pague ha ordem ho seisto daquyllo se em ellas lavrar e colher segundo se atee quy custumou de pagar e mais nam.»

As terras sem dono seriam da Ordem. O texto do Foral refere-se a algumas dessas terras (de sesmaria) que nunca foram lavradas ou que deixaram do o ser, se transformadas em pinhais não tendo dono seriam da Ordem.Será importante neste ponto reforçar que, na idade média, na área de Palmela ou seja, na área de influência da Ordem de Santiago existiam grandes quantidades de pinhais e montados, como documenta a descrição da coutada, feita em 1381, por D. Fernando:

«Começava em Benavente para baixo e compreendia toda a Ribeira da Canha até Marateca, seguindo por Valle Longo até Cezimbra e pela Serra da Arrábida até Almada contra o mar, com todo o Ribatejo, sobraes e pinhais de Palmela e seu termo e todas as outras mattas que se viam por Azeitão até ao mar.(3)»

(3) Barros, Gama, História da Administração Pública em Portugal, nos séculos XII a XV, 1.ª ed., T.III, pp. 26

ANÁLISE DO FORAL

[ 9 ]

Page 10: Foral manuelino de samora correia

FORNOS

Os fornos são da Ordem e no lugar ninguém o poderia fazer senão a Ordem ou o seu comendador.

O texto do Foral revela-nos a existência de dois fornos. Era dever do comendador manter esses fornos «aparelhados» e, se pelo crescimento populacional se tornasse necessário a existência de mais fornos este deveria tomar as diligências necessárias para os manter.No que toca aos fornos aparece-nos o ofício de forneira.

«Os fornos do dito lugar sam da ordem e nom os poderá outrem fazer na ditta villa senam a dita ordem ou o seu comendador O qual tera sempre dous fornos aparelhados que agora hy ha E se ao diante mais neçesarios forem polla multiplicaçam da gente mais faram com decraraçam que se a forneira que nelles estiver nom quiser aquentar cada huum dos ditos fornos cada veez que lhe for requerido por dizer que nõ tem lenha ou por qual quer outra Rezam ou causa por que ho nom qujser ou nam poder fazer.»

No funcionamento dos fornos é afirmado que se a forneira não tiver condições para assegurar a sua manutenção e consequente funcionamento, por qualquer outra razão, as pessoas que quizerem cozer o seu pão poderão mandar pôr lenha e cozer o pão sem lhe «pagar poya(4)» nem outro direito.

«Em tal caso poderá qual quer pessoa que qujser cozer seu pam mandar polla lenha e cozer seu pam nos dittos fornos sem lhe pagar poya nem outro direito do forno cada vez E em qual quer tempo que o tal caso assy acontecer.»

Relativamente à cobrança do montado, direito que incidia sobre o gado que pastava no termo de uma terra vindo de outra, o Foral instituía que não se cobraria nada aos «vizinhos e comarcãaos».

«Os montados do gaado que entram a paçer nom se leva nada dos vizinhos e comarcãaos com que tem vizinhança(…)»

No que diz respeito ao gado de outrem que não «vizinhos e comarcãaos» este pagaria montado segundo as posturas em vigor. Isto significa que o concelho já acumulava para si o produto do imposto, o que mostra que a vila reunia alguma receita.

«E dos outros levarão segundo for posto per suas posturas aquelles que emtrarem sem a dita licença ou avença (…)»

Assim, o Foral estatui que o montado reverta para o Concelho.«O qual montado he do comçelho livremente assy pêra paçerem como pêra venderem aos estrangeiros como pera sy cortarem lenha e biloto e veadeira e carvam sem disso pagarem nynhuma cousa a ordem de portagem Assy do que comprarem ou venderem na dita terra como do que tirarem per fora per mar e per terra.»E as outras pessoas de fora da dita villa e termo que cada huma das ditas cousas comprarem e tirarem pêra fora por agoa pagarão de carrada de lenha ou bileto três Reaes E da carrada de carvam seis Reaaes da que se assy carregar per agoa. Nom se levara daquy adiante direito da comrrajem que se levara por que assy foy per sentença da nossa Rolaçam Julgado que se nom levasse.»

MONTADO

(4) Pão dado ao forneiro(a) como retribuição da cozedura de uma fornada.

[ 10 ]

Page 11: Foral manuelino de samora correia

A portagem recaía sobre os produtos introduzidos numa terra e respectivo termo para aí serem vendidos e os que dela fossem levados para venda noutras localidades. Estavam isentos do seu pagamento os moradores e vizinhos de um lugar quando para ele, ou dele, levavam mercadorias.No registo do Foral que se encontra na Torre do Tombo afirma-se que «(…) a portajem com todollos capítulos atee fim em tudo assy como palmella.». Assim, no referido registo, nada mais se pormenoriza relativamente ao imposto, cujo regime seria comum a outras localidades que tinham por padrão a vila de Palmela, sede da Ordem de Santiago.Segundo Jorge Fonseca(5), a adaptação dos forais de umas terras a outras era vulgar e derivava da semelhança das respectivas realidades socioeconómicas. Mas isso impede-nos de considerar o conteúdo de cada um como emanação e reflexo da realidade económica e social da respectiva localidade e de o utilizar para um conhecimento preciso da mesma. Permite-nos que o mesmo sirva de apoio na abordagem dessa realidade.

Com tudo isto, o Foral de Samora Correia remete-nos, neste ponto, para o Foral de Palmela que de seguida se apresenta.

(5) Fonseca, Jorge Montemor-o-Novo Quinhentista e o Foral Manuelino Câmara Municipal de Montemor-O-Novo, 2003, p.120

PORTAGEM

Tradução:

«Da portagem: dêem foro de trouxel (fardo) de cavalo, de panos de lã ou de linho 1 soldo. De trouxel de lã 1 soldo. De trouxel de fustão 5 soldos. De trouxel de panos de cor 5 soldos. Pela carga de pescado 1 soldo. Pela carga de jumento 6 dinheiros. Pela carga de coelhos trazidos por cristãos 5 soldos. Pela carga de coelhos trazidos por mouros 1 morabitino. Portagem de cavalo que se vender no açougue 1 soldo. De mula, 1 soldo. De burro, 6 dinheiros. De boi, 6 dinheiros. De carneiro, 3 mealhas. De porco, 2 dinheiros. Do furão, 2 dinheiros. Por carga de pão ou de vinho, 3 mealhas. Por carga de peão, 1 dinheiro. Do mouro que se vender no mercado 1 soldo. Do mouro que se libertar, a décima. De mouro que talha no açougue, com seu senhor, a décima (dízima). De couro de vaca ou de zebra, 2 dinheiros. De couro de gamo ou de cervo, 3 mealhas. De carga de cera, 5 soldos. De carga de azeite, 5 soldos. Esta portagem será paga pelos homens de fora da vila, a terça parte seja dada ao hóspede, e as duas partes ao rei.(…)»

Transcrição do Foral de Palmela de 1185, trecho referente ao imposto de Portagem:

«De portagem foro de trosel de caualo de pannos de lana uel de Lino I solidum. De Trosel de lana I solidum De trosel de fustanel V solidos. De trosel de pannos de color V solidos. De carrega de piscato I solidum. De carrega de asino VI denarios. De carrega de christianos de coneliis V solidos. De carrega de mauros de conelios I morabitinum. Portagem de caualo quem uendiderint in azougui I solidum. De mulo I solidum. De asino VI denarios. De boue VI denarios. De ariette III mealias. De porco II denarios. De foron II denarios. De carrega de pam aut de uino III mealias. De carrega de peon I denarium. De mauro quem uenderent in mercado I solidum. De mauro qui se redimiret decima. De mauro qui taliar cum suo domino decima. De coiro de uaca, aut de cerua II denarios. De coiro de gama, aut de ceruo III mealias. De carrega de cera V solidos. De carrega de azeite V solidos. Iste portagem est de homines foras uille tercia de suo hospite, et duas partes de rege (…)»

Transcrição do texto publicado no Portugaliae Monumenta Historica, Leges et Consuetudines, I, p.430-431

[ 11 ]

Page 12: Foral manuelino de samora correia

PENA D’ARMA

«E assy a pena darma tambem poendo em este lugar de çamora correa na fym de pena darma esta decraraçam seguynte.E nam se levara pena quem passando polla villa levar arma de camjnho polla aRimarem.»

A pena d' arma era uma multa cobrada a quem praticasse actos violentos, com uso de arma. Eram isentas dos seu pagamento as pessoas a quem não era imputada responsabilidade mulheres, menores de 15 anos para baixo e escravos (se usassem pau ou pedra) quem castigasse dependentes, como mulheres, filhos ou escravos, quem utilizasse armas em defesa própria ou para separar pessoas numa briga. Também não era considerado para efeito de penalização o uso de paus ou pedras, excepto se propositadamente para agredir, ou o simples empunhar de armas, sem as tirar.De acordo com as Ordenações, a pena era de 200 reais, perdendo o infractor as armas do delito.

O GADO DE VENTO

O Foral Manuelino de Samora Correia faz referência ao gado de vento e remete-nos para o Foral de Palmela (1185).

«E o gado do vento e assy a portajem com todollos capítulos atee fim em tudo assy como palmella.»

Tal como este, em 1512, também o de Palmela o refere, como se poderá verificar na transcrição que se segue:

“O gaado de vento he do alcaide per nossa ordenança com decraraçam segundo vay em Elvas. E assy há pena darma e a portagem com todollos capitollos atee a fym do capitollo dos priviligiados homde diz casas y famílias, em tudo he tal commo Elvas tirando também que este palmella nom tem o capitollo da sacada carga per carga. E no fym do capitollo dos privilegiados entra este capitollo seguinte (…)”

O texto do Foral evidencia a existência de um porto pelo qual entravam e saíam mercadorias da vila e no qual se pagava imposto pela sua utilização conforme se poderá verificar no extracto do Foral que se segue.

“Assy do que comprarem ou venderem na dita terra como do que tirarem per fora per mar e per terra.E as outras pessoas de fora da dita villa e termo que cada huma das ditas cousas comprarem e tirarem pêra fora por agoa pagarão de carrada de lenha ou bileto três Reaes E da carrada de carvam seis Reaaes da que se assy carregar per agoa. (…)”

Neste porto, a partir do momento em que se inicia a aplicação do Foral, não se cobrará direito de ancoragem (imposto que se pagava por ancorar) por sentença do Julgado da Relação.

“Nom se levara daquy adiante direito da comrrajem que se levara por que assy foy per sentença da nossa Rolaçam Julgado que se nom levasse.”

O PORTO

[ 12 ]

Page 13: Foral manuelino de samora correia

CONCLUSÃO

O Foral Manuelino de Samora, integrado na reforma administrativa e judicial encetada por D. Manuel I, põe em relevo alguma autoridade atribuída ao concelho instituído, em oposição à autoridade da Ordem de Santiago que, como já foi referido anteriormente, se fazia sentir neste território fronteira com a Ordem de Avis à qual pertencia a vizinha Benavente. O texto do Foral evidencia a existência de posturas às quais a Ordem de Santiago estaria sujeita.

«E nestas nem em outras quaaes quer terras que a ordem Ja tem ou ouuer que nam sejam de paul nam levara mais coyma que a pena ou postura que ho comçelho posser pêra as suas propriedades.»

A partir deste momento, com este documento, surge-nos mais um sistema administrativo, judicial e económico: «Çamora Correa»

Estes novos forais, perdem o carácter de puros estatutos político-concelhios, para conservarem em si o aspecto de registos actualizados das isenções e encargos locais. Mas, não podemos deixar de evidenciar que o Foral é um dos documentos mais importantes para o estudo da história local. Não se pode compreender a nossa história social e económica sem conhecer uma das fontes mais valiosíssimas: os forais.

[ 13 ]

Page 14: Foral manuelino de samora correia
Page 15: Foral manuelino de samora correia

Livro d

e Forais N

ovo

s Entre-Tejo-e-O

diana - P

T/T

T/LN

/45 - fls. LXX

IXIm

agem ced

ida pelo

A.N

.T.T. [ 15 ]

Page 16: Foral manuelino de samora correia
Page 17: Foral manuelino de samora correia

Livr

o d

e Fo

rais

Novo

s En

tre-

Tejo

-e-O

dia

na -

PT

/TT

/LN

/45

- fls

. LX

XIX

V.

Imag

em c

edid

a pe

lo A

.N.T

.T.

[ 17 ]

Page 18: Foral manuelino de samora correia
Page 19: Foral manuelino de samora correia

Dom Manuel(6)[sinal de pontuação]Tem a ordem(7) primeiramente no termo da dita villa o paul de (sic) do qual leva de seis huum, das cousas que nelle se lavram e colhem de reçam.Tem outrossy a ordem outro paul da várzea que se chama da morteira o qual o comendador(8) do dito lugar lavra per sy e daa a quem quer como cousa sua propia e da dita comenda e ordem. E isto daqujllo que se lavrar e se colher no dito paul de dentro das vallas que antigamente foram feitas.E por quanto antre ho comendador e os moradores da dita villa avia ora comtenda sobre o direito ou reçam que se pagaria das terras que em outro tempo foram dadas de sesmarja e ora nom tinham dono Determjnamos vista a diligencia que se sobre isso fez E a inquyriçam que mandamos tirar de taaes terras que assy foram dadas de sesmarja e agora nom tem senhorio nem dono que se pague ha ordem ho seisto daquyllo se em ellas lavrar e colher segundo se atee quy custumou de pagar e mais nam. E nom tiramos per aquj a liberdade que sempre tiueram os moradores da dita villa de auerem as terras do termo da dita villa de sesmarja dadas pollo sesmeiro segundo nossa

ordenança sem dellas pagarem cousa allguma assy as que nunca foram lavradas nem aproveitadas como aquellas que ho Ja foram e ho deixaram de seer Salvo se algumas sam tornadas em pinhaaes de que a ordem esta em posse por que estas taes em que sam feitos pinhaaes ou as outras em que ao diante se fizerem nom tendo dono seram da ordem. E nestas nem em outras quaaes quer terras que a ordem Ja tem ou ouuer que nam sejam de paul nam levara mais coyma que a pena ou postura que ho comçelho posser pêra as suas propriedades.Os fornos do dito lugar sam da ordem e nom os poderá outrem fazer na ditta villa senam a dita ordem ou o seu comendador O qual tera sempre dous fornos aparelhados que agora hy ha E se ao diante mais neçesarios forem polla multiplicaçam da gente mais faram com decraraçam que se a forneira que nelles estiver nom quiser aquentar cada huum dos ditos fornos cada veez que lhe for requerido por dizer que nõ tem lenha ou por qual quer outra Rezam ou causa por que ho nom qujser ou nam poder fazer.Em tal caso poderá qual quer pessoa que qujser cozer seu pam mandar polla lenha e cozer seu pam nos dittos

(6) Por ordem de D. Manuel I os forais antigos foram sujeitos a reforma e substituídos por novos diplomas que ficaram conhecidos por forais novos.

(7) Samora Correia pertencia à Ordem de Santiago. Esta ordem militar radicou-se em Palmela desde o séc. XII e, entre os finais do séc. XV e 1834, manteve aí a sua sede.

(8) Eclesiástico ou cavaleiro de uma Ordem Militar a quem era concedido um beneficio, como uma Igreja, mosteiro, terras ou povoação, em recompensa de serviços prestados, ou seja, pessoa que era agraciada com uma comenda. Neste caso, a comenda de Samora Correia.

Foral de camora correa dado por palmella

[ 19 ]

Page 20: Foral manuelino de samora correia

fornos sem lhe pagar poya nem outro direito do forno cada vez E em qual quer tempo que o tal caso as-sy acontecer.Os montados(9) do gaado que entram a paçer nom se leva nada dos vizinhos e comarcãaos com que tem vizinhança E dos outros levarão segundo for posto per suas posturas aquelles que emtrarem sem a dita licença ou avença O qual montado he do comçelho livremente assy pêra paçerem como pêra venderem aos estrangeiros(10) como pera sy cortarem lenha e biloto e veadeira e carvam sem disso pagarem nynhuma cousa a ordem de portagem(11) Assy do que comprarem ou venderem na dita terra como do que tirarem per fora per mar e per terra.E as outras pessoas de fora da dita villa e termo que cada huma das ditas cousas comprarem e tirarem pêra fora por agoa pagarão de carrada de lenha ou bileto três Reaes E da carrada de carvam seis Reaaes da que se assy carregar per

agoa. Nom se levara daquy adiante direito da comrrajem que se levara por que assy foy per sentença da nossa Rolaçam Julgado que se nom levasse.

E o gado do vento(12) e assy a portajem com todollos capítulos atee fim em tudo assy como palmella(13).E assy a pena darma tambem poendo em este lugar de çamora correa na fym de pena darma esta decraraçam seguynte.E nam se levara pena quem passando polla villa levar arma de camjnho polla aRimarem.Dada em a nossa muy e sempre leal Villa de santarem aos xjjj dias do mês de abril Anno do nosso senhor Jesus Cristo de mjll e quibnhentos e dez E vay scripto ho originall em quatorze folhas sooescrito e assynado pollo dito Fernam de pina.

(9) O montado (também designado por montático, montádego e montádigo) consistiu num dos principais encargos que se desenvolveram na Idade Média, vindo com variações diversas até aos tempos modernos. Na sua forma mais representativa, foi o encargo-tipo a que estavam sujeitos os donos de gado bovino e ovino quando os seus animais aproveitavam terrenos para pastar, quer fossem de domínio senhorial, quer dos alfozes comunais dos conselhos. Por isso se revestiu de um carácter misto, pertencendo tanto aos membros da classe senhorial como às camadas superiores dos concelhos, além de, em muitos outros casos, ser partilhado entre o senhor e os municípios.

(10) Indivíduos de fora do concelho.

(11) A portagem era o imposto ou direito fiscal que, às portas ou entradas das cidades, vilas, julgados ou coutos, que tinham jurisdição sobre si, se pagava das mercadorias e de tudo que para aí fosse trazido para venda. Só em caso excepcional a portagem se regulava pela importância ou preço da transacção. Imposto que corresponde ao que ainda hoje chamamos “direitos de barreira”.

(12) Gado de vento, abandonado, sem dono.

(13) O Foral Novo foi dado a Palmela em 1 de Junho de 1512. No Foral Manuelino de Palmela reconhecem-se e apresentam-se alguns dos privilégios da Ordem de Santiago, então sediada no castelo da vila, bem como os direitos dos moradores do concelho. São mencionadas as terras foreiras da Ordem nos Barris e na Várzea, os lagares e as estalagens da Ordem, as suas sesmarias. Verifica-se o acautelamento dos direitos dos moradores da vila em relação à Ordem, nomeadamente estabelecendo a prioridade de, nos lagares, ser em primeiro lugar moída a azeitona do povo e garantindo que qualquer pessoa da vila pudesse fornecer dormida ou comida a quem lhe aprouvesse, apesar da existência das estalagens da Ordem. Quanto aos montados, são indicados como propriedade do concelho e o gado de vento como sendo do alcaide, por ordem régia.

[ 20 ]

Page 21: Foral manuelino de samora correia

AAçogue - mercado que pertencia à coroa ou ao concelho, onde se vendiam víveres e outros produtos.

Alcaide - representante do rei no concelho que exercia funções militares, assim como administrativas e judiciais. Pelas suas funções, estava ligado à praça que governava e devia defende-la até ao ultimo extremo. Havia outros alcaides, tais como: alcaide-mor, alcaide dos mouros e alcaide dos navios.

CCarga - tudo o que é ou pode ser transportado por pessoa, animal ou barco…

Coima - multa ou pena, que se leva pela injustiça, injúria ou afrontas cometidas.

Comendador - Eclesiástico ou cavaleiro de uma Ordem Militar a quem era concedido um beneficio, como uma Igreja, mosteiro, terras ou povoação, em recompensa de serviços prestados, ou seja, pessoa que era agraciada com uma comenda.

Concelho, “concilio” - inicialmente, significava a assembleia constituída pela Junta da Câmara e de homens, que davam execução às determinações do Foral.

DDécima, Dízima - havia dízima eclesiástica e dízima secular. A primeira pagava-se à Igreja, a segunda, ao senhorio.

Dinheiros - Moeda. No reinado de D. Manuel, o seu valor era tão complexo, motivo pelo qual este rei lhe deu fim. Foi uma moeda de cobre, que tinha de um lado a Cruz da Ordem de Cristo com duas estrelas, duas meias luas nos vãos e a frase “A. REX PORTUGALIAE”, e do outro, as cinco quinas. Valia então, 1 ceitil menos um décimo.

FForal - ou carta de Foral, o diploma concedido pelo rei, ou por um senhor laico ou eclesiástico, a determinada terra, contendo normas que disciplinam as relações dos seus povoadores ou habitantes entre si e destes com a entidade outorgante. Assim, este diploma instituía, em princípio, um concelho e as normas jurídicas dos seus habitantes, ou seja, conferia a um território ou comunidade um regime próprio. Na maioria dos casos os forais foram outorgados pelo rei.

Fustão, “Fustaes” - lençaria de linho ou algodão, tecida de cordão, mais ou menos fina.

GGado de Vento - chama-se gado de vento o que, sem dono ou pastor, anda vagando sem destino.

MMaravidil, marabitino, ou morabitino - moeda que circulava no início da nossa monarquia. O de ouro valia 500 reis; o de prata 27 reis; o de cobre 1 real. A de ouro com o valor de 500 reis, tinha dum lado a efígie do rei a cavalo com a espada nua na mão, tendo inscrito em volta: “In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti”, e do outro lado tinha o escudo real e o nome do rei.

Mealha - Metade de um dinheiro, partido com a faca, tesoura ou outro instrumento. As mealhas extinguiram-se no reinado de D. Manuel I. Valia meio cetil; e doze valiam um real.

Montado, Montatico, Montadigo - deriva de “montar”, isto é, servir-se dos montes comuns para pastos. O Montado constituía um tributo, que se pagava por pastar os gados no monte de algum senhorio ou termo.

Morador - família, casa habitada.

PPortagem - A portagem era o imposto ou direito fiscal que, às portas ou entradas das cidades, vilas, julgados ou coutos, que tinham jurisdição sobre si, se pagava das mercadorias e de tudo que para aí fosse trazido para venda. Só em caso excepcional a portagem se regulava pela importância ou preço da transacção. Imposto que corresponde ao que ainda hoje chamamos “direitos de barreira”.

Postura - Deliberação camarária para os munícipes cumprirem.

SSesmaria - Assim se chamavam as terras, casais ou pardieiros, que estão em ruína e desaproveitadas, e que os seus direitos senhorios, depois de avisados, não fazem aproveitar e valer. Aos almoxarifes pertencia a inspecção, segundo a Ordn. Do Reino, livro IV, tit. 43.

TTermo - Limite, confins, a área territorial que abrangia o concelho.

VVizinho - família, casa habitada; morador de uma aldeia ou povoação; pessoa que reside próximo de outrem.

ZZebra - (zevro ou zebro) cavalo de pequeno porte, muito veloz e com mau temperamento, com o pêlo riscado de cinzento e branco no dorso e nas patas. Viveu na Península Ibérica até ao século XVI.

GLOSSÁRIO

[ 21 ]

Page 22: Foral manuelino de samora correia

Fontes Manuscritas

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

. Livro dos Forais Novos Entre-Tejo-e-Odianacota: PT/TT/LN-45

. Livro do número de moradores e confrontações de termos, com declaração de vilas e lugares do Mestrado, comarcas Entre-Tejo-e-Odianacota: Gaveta V, 1-47

Bibliografia Consultada

BARROS, Gama, História da Administração Pública em Portugal, nos séculos XII a XV, vols. I e VIII, 2.ª ed. Dirigida por T. de Sousa Soares

CARVALHO, Manuel Raimundo Serra de, Forais de Caminha. Caminha, Edição Câmara Municipal de Caminha, 1984

COSME, João, O Foral Manuelino de Arronches, Edições Colibri e Câmara Municipal de Arronches, 2005

COSTA, Mário Júlio de Almeida “Forais”, in Dicionário de História de Portugal, sob a direcção de Joel Serrão, vol. II. Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1971

FLORES, Alexandre M.; NABAIS, António J. Os Forais de Palmela. Palmela, Edição Câmara Municipal de Palmela, 1992

FONSECA, Jorge et al., Montemor-O-Novo Quinhentista e o Foral Manuelino. Montemor-O-Novo, Edição da Câmara Municipal de Montemor-O-Novo, 2003

FONTES E BIBLIOGRAFIA

[ 22 ]

Page 23: Foral manuelino de samora correia

CORREIA 13 de Abril de 1510

O Foral Manuelino de

SAMORA

Page 24: Foral manuelino de samora correia