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FONÉTICA HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA Luis Henrique Araujo Faust Prof. Danielle Maçaneiro Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Letras (LED0301) – Filologia Portuguesa 19/04/08 RESUMO Introdução à fonética histórica da língua portuguesa diz respeito as chamadas leis fonéticas, proclamadas pelos lingüistas da escola Neo-Gramática do século XIX, são mudanças regulares que se observam na evolução de todas as línguas, motivadas pela configuração fonética das palavras. Não sendo, como se julgava inicialmente, maciças e inobserváveis, acabam, aos poucos, por afetar a quase totalidade do léxico de cada língua em determinada secção de tempo. São eventos históricos, sujeitos às mesmas contingências regionais, políticas, culturais e sociais dos outros eventos que atingem a vida de uma comunidade, o que significa que têm uma atuação limitada a um passo da história. Palavras-chave: Fonética; Histórica; Língua. 1 INTRODUÇÃO A verdade deste poema de Olavo Bilac deverá ser questionada por nosso tema desta mesa-redonda, que trata da importância do estudo da gramática histórica, ou melhor, do estudo diacrônico da língua portuguesa que, infelizmente, vem sendo desprezado em nossas universidades. As cargas horárias estão reduzidas, num flagrante desinteresse pela matéria. Trata-se de uma atitude incompreensível e radical que acarreta um despreparo de nossos graduandos em Letras. Certas tendências ou modismos no ensino universitário trazem, como conseqüência, uma visão deformada do fenômeno lingüístico em toda a sua extensão. Pretendemos, nesta mesa-redonda, demonstrar que a história da língua se torna

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Page 1: Fónetica

FONÉTICA HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Luis Henrique Araujo FaustProf. Danielle Maçaneiro

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVILetras (LED0301) – Filologia Portuguesa

19/04/08

RESUMO

Introdução à fonética histórica da língua portuguesa diz respeito as chamadas leis fonéticas, proclamadas pelos lingüistas da escola Neo-Gramática do século XIX, são mudanças regulares que se observam na evolução de todas as línguas, motivadas pela configuração fonética das palavras. Não sendo, como se julgava inicialmente, maciças e inobserváveis, acabam, aos poucos, por afetar a quase totalidade do léxico de cada língua em determinada secção de tempo. São eventos históricos, sujeitos às mesmas contingências regionais, políticas, culturais e sociais dos outros eventos que atingem a vida de uma comunidade, o que significa que têm uma atuação limitada a um passo da história.

Palavras-chave: Fonética; Histórica; Língua.

1 INTRODUÇÃO

A verdade deste poema de Olavo Bilac deverá ser questionada por nosso tema desta mesa-

redonda, que trata da importância do estudo da gramática histórica, ou melhor, do estudo diacrônico

da língua portuguesa que, infelizmente, vem sendo desprezado em nossas universidades. As cargas

horárias estão reduzidas, num flagrante desinteresse pela matéria. Trata-se de uma atitude

incompreensível e radical que acarreta um despreparo de nossos graduandos em Letras. Certas

tendências ou modismos no ensino universitário trazem, como conseqüência, uma visão deformada

do fenômeno lingüístico em toda a sua extensão. Pretendemos, nesta mesa-redonda, demonstrar que

a história da língua se torna extremamente agradável, longe, portanto, de ser um assunto que traria

enfado ao estudante.

Por outro lado, não se pode apenas pensar em assuntos ou matérias que tragam prazer,

estético ou não, ao futuro professor. Deve-se, antes de tudo, pensar no conhecimento científico e

global daquele que se forma em nosso curso.

O estudo da língua, em qualquer época, deve ser visto como de uma verdadeira religião, por

isso poderíamos, com palavras do escritor Francisco de Castro, afirmar que o “esplendor da língua

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portuguesa desvia-se da caducidade universal e sobrenada aos destroços dos séculos e à subversão

das idéias e sistemas”

Celso Cunha e Wilton Cardoso, em Estilística e gramática histórica, da Tempo Brasileiro,

1978, p. 8, dizem que, “na medida em que se vai fixando a noção de que a língua é a construção de

um sistema particular de expressão, impõe-se concomitantemente ao professor o dever de ensinar ao

aluno que ela é, ao mesmo tempo, uma herança histórica, cujo pecúlio fundamental lhe cabe

resguardar”.

A gramática histórica vai estudar a diacronia sob dois aspectos: primeiro, a história externa

da língua procura revelar todas as conquistas dos romanos, que levaram à constituição, por meio de

lutas sangrentas, do chamado Império Romano, principalmente com os territórios da Hispânia

(Portugal e Espanha de hoje), da Gália (atual França), da Itália e Dácia (Romênia atual), todas

integradas na unidade imperial até o século V, depois de Cristo, durante o apogeu dos latinos;

segundo: história interna - a que se ocupa da descrição do processo evolutivo a que se submeteram

os fonemas, a forma e o significado dos vocábulos e, também, os tipos de construção sintática que

foram adotados em cada língua derivada do latim vulgar.

2 FONÉTICA

Ciência que estuda as propriedades acústicas dos sons da fala, as condições fisiológicas

necessárias para a produção dos mesmos e a forma como estes são percebidos, independentemente

das oposições paradigmáticas ou das combinações sintagmáticas que os sons possam estabelecer

nas línguas particulares, campo de estudo cuja responsabilidade já é da alçada da fonologia.

A fonética divide-se em três grandes ramos, de acordo com os estádios sucessivos que

possibilitam a transmissão de uma mensagem de um locutor para um ouvinte, num acto de

comunicação oral. Deste modo, numa primeira fase da elaboração da mensagem, irão intervir os

mecanismos de produção da fala, o seja, todas as estruturas anatómicas e as configurações

articulatórias fundamentais para a produção de sons, processo este estudado pela fonética

articulatória ou fisiológica; numa segunda fase, será necessário analisar a natureza física dos sons

produzidos pelo falante, aspecto de que se irá ocupar a fonética acústica; finalmente, numa última

fase, há que ter em conta os mecanismos de percepção do ouvinte, cujo estudo se designa

tradicionalmente como fonética perceptiva ou auditiva. Assim, segundo a linguista Maria Helena

Mira Mateus, os objectivos da fonética, enquanto disciplina linguística, passam não só pelo

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estabelecimento das “(...) propriedades acústicas, articulatórias e perceptivas (...) que ocorrem nas

línguas particulares”, mas também pelo modo como aqueles se relacionam entre si e pelo “(...)

entendimento da natureza da relação entre as representações linguísticas e as representações

sonoras” (Fonética, Fonologia e Morfologia do Português, Universidade Aberta, Lisboa, 1990,

p.24) .

A fonética articulatória tem contribuído fundamentalmente para a fundação da descrição

linguística, permitindo a classificação dos sons da fala de acordo com o contexto no qual os

mesmos são articulados. A classificação mais importante é aquela que distingue as vogais das

consoantes, muito embora alguns estudiosos ponham em causa a sua validade, devido à dificuldade

em estabelecer uma definição precisa da diferença articulatória entre estas duas classes de sons.

O ramo da fonética acústica tem-se dedicado essencialmente à análise das propriedades

físicas dos sons da fala e às correspondências entre traços acústicos e elementos dos sistemas

fonológicos das línguas. De modo a concretizar este objectivo, a referida disciplina recorre  a

métodos de investigação e técnicas instrumentais entre as quais se devem destacar o uso de

espectrogramas de sons, nas décadas de 50 e 60, e a utilização de técnicas informáticas de

processamento da fala, a partir da década de 70. Importa, porém, frisar que o real interesse da física

do som assenta na relação que esta estabelece com os outros domínios da investigação do sistema

linguístico, nomeadamente o articulatório e o perceptivo.

Relativamente ao estudo da percepção da fala, este tem sido desenvolvido com base em

diversas técnicas de análise que envolvem as respostas do ouvido, do nervo auditivo e do cérebro

aos sons da fala. Segundo o linguista Peter Ladefoged (1982), dois dos métodos que mais têm

contribuído para o avanço da fonética perceptiva são aqueles que se baseiam em experiências

envolvendo a speech synthesis e a manipulação do natural speech stimuli. Tais experiências têm

contribuído para a construção de um sistema informático cuja função é a produção de respostas ade

quadras a um vasto leque de dados acústicos, no decorrer das décadas de 80 e 90.

Todo o processo de análise linguística referido anteriormente pode ser perspectivado de

acordo com diversos tipos de estudos fonéticos, tais como a fonética comparada (estudo

comparativo dos sons em duas ou mais línguas diferentes), a fonética histórica (estudo da evolução

dos sons no curso da história da língua) e a fonética descritiva (análise dos sons de uma língua num

momento dado da sua evolução), entre outros.

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No que se refere à  tradição do estudo da fala e da linguagem, esta não provém da Europa

Ocidental, como possa parecer, mas sim da Índia, país onde , entre os séculos VI e II antes de

Cristo, diversos escritores tentaram, pela primeira vez, formular uma doutrina de classificação dos

sons da fala. Os seus esforços foram continuados por autores gregos , entre os quais se devem

destacar nomes como Hipócrates, Aristóteles e Galeno. Os dados reunidos neste período, muito

embora fossem inconsistentes e pouco sistemáticos, constituíram a base para o aprofundamento do

estudo da fala durante o Renascimento, com a ajuda de figuras como Leonardo da Vinci e Vesalius.

Com a chegada do século XVIII e mais tarde do XIX, os estudos sobre fonética passam

sobretudo a relacionar-se com questões sobre a maneira correta de falar, preocupação esta que

permitiu o desenvolvimento de uma das teorias mais populares da época – a teoria fonética

articulatória clássica – cujo fulcro, em certa medida, encontrou continuidade em algumas teorias

fonéticas mais recentes, como a teoria dos traço distintivos de Chomsky e Halle (1968). Outro

aspecto importante que irá marcar as investigações fonéticas a partir deste período será a

substituição da natureza qualitativa das pesquisas efetuadas até então por métodos quantitativos

mais fiáveis e o crescente contributo de outras áreas científicas, tais como a engenharia

electrotécnica, a física, a fisiologia e a psicologia para o estudo da disciplina em questão.

O desenvolvimento da fonética moderna teve ainda como contributo importante a

formulação da teoria acústica da produção da fala pelo físico alemão Muller em 1848, graças à qual

foi possível relacionar os estádios articulatório e acústico da produção da fala. O aprofundamento

desta linha de investigação permitiu a obtenção de resultados importantes, por diversos estudiosos,

até à década de 60, resultados estes que viriam a revelar-se o alicerce para o estudo compreensivo

das propriedades fonéticas da fala, dotando a fonética com o estatuto de disciplina linguística

autónoma.

Mais recentemente, têm-se vindo a aprofundar outras linhas de estudo da fonética,

nomeadamente no que diz respeito à investigação de ponta, apenas concretizada a nível laboratorial

(fonética experimental) e à perspectivação da fala como um sistema fisiológico, no qual interagem,

de diversas maneiras, as variáveis articulatórias do aparelho vocal (fonética paramétrica).

3 CONCLUSÃO

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Sendo um organismo vivo, a língua está sempre evoluindo, o que muitas vezes resulta num

distanciamento entre o que se usa efetivamente e o que fixam as normas. Isso não justifica, porém, o

descaso com a Gramática. Imprecisa ou não, existe uma norma culta e toda pessoa deve conhecê-la

e dominá-la, mesmo que seja para propor modificações. Quem desconhece a norma culta tem um

acesso limitado às obras literárias, artigos de jornal, discursos políticos, obras teóricas e científicas,

enfim, a todo um patrimônio cultural acumulado durante séculos pela humanidade.

6 REFERÊNCIAS

ALI, Manuel Said, 1921-23, Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Edições Melhoramentos, 1971 (7ª edição).

DIAS, A. Epiphanio da Silva, 1918, Syntaxe Historica Portugueza. Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1970 (5ª ed.).

HAADSMA, R. A. e NUCHELMANS, 1963, Précis de Latin Vulgaire. Groeningen, J. B. Wolters.

HUBER, Joseph, 1933, Altportugiesisches Elementarbuch. Trad. port. de Maria Manuela Gouveia Delille: Gramática do Portugês Antigo. Lisboa, Gulbenkian, 1986.

LLOYD, Paul M., 1987, From Latin to Spanish. Vol. I Historical Phonology and Morphology of the Spanish Language. Philadelphia, The American Philosophical Society.

MAIA, Clarinda de Azevedo, 1986, História do Galego-Português. Estado Linguístico da Galiza e do Noroeste de Portugal desde o Século XIII ao Século XVI. Coimbra, INIC.

NUNES, José Joaquim, 1919, Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa. Fonética e Morfologia. Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1975 (8ª ed.).

RAMOS, Maria Ana, 1983, "Nota linguística", Elsa GONÇALVES e Maria Ana RAMOS, A Lírica Galego-Portuguesa. Lisboa, Editorial Comunicação.

SILVA, Rosa Virgínia Mattos e, 1989, Estruturas Trecentistas. Para uma Gramática do Portugês Arcaico. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

SILVA, Rosa Virgínia Mattos e, 1991, O Português Arcaico. Fonologia. São Paulo - Baía, Contexto - Editora da Universidade Federal da Bahia.

SILVA, Rosa Virgínia Mattos e, 1994, O Português Arcaico: Morfologia e Sintaxe. São Paulo - Baía, Contexto - Editora da Universidade Federal da Bahia.

WILLIAMS, Edwin B., 1938, From Latin to Portuguese. Historical Phonology and Morphology of the Portuguese Language. Trad. port. de Antônio Houaiss: Do Latim ao Português. Fonologia e Morfologia Históricas da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1975 (3ª ed.).

VÄÄNÄNEN, Veikko, 1957, Introduction au Latin Vulgaire. Paris, Editions Klincksieck, 1981 (3ª edição, revista e aumentada).

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