folhas vivas

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Livro de Artigos, Contos e Poesias produzido pelos Alunos da disciplina de Redação Criativa 2012.1, coordenados pela Prof. Evanir Pinheiro. Diagramaçao e Arte: Pedro Balduino

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Page 1: Folhas Vivas

UFRN/CCHLA/DEART

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Sumário

IntroduçãoO Que são Folhas Vivas?

ArtigosRefletindo a Vida

As Portas Contemporâneas das Artes Visuais

Viver é Dançar na Chuva

Leitura: Fonte de Prazer e Conhecimento

Contos e CrônicasO Condenado

O Fim da Chuva, O Xale e A Flor Azul

Page 7: Folhas Vivas

Apnéia do Sono

Espetáculo da Natureza

Little Heaven

PoesiasO Tempo

Eu Sou

Quero...

Dos Diálogos Acerca do Fim

Nós Somos Frutos

A Pizza do Vovô e O Bolo da Vovó

Page 8: Folhas Vivas

O que são “Páginas Vivas”?

São emoções e saberes que se expressam e se

inscrevem em forma de elementos gráficos?

Se a escrita é energia viva que se inscreve

naquele que a produz, ela se mantém viva ao renascer

de forma singular no leitor que com ela interage...

Mas, o que acontece dentro de quem escreve?

Como se dar o fenômeno da criatividade naquele

que se permite escrever de corpo e alma?

Como essa energia pulsa no corpo/mente de

quem se abre, se integra e se entrega a sua fruição?

Não há respostas definidas para tais questões,

nem há necessidade de buscá-las, porque cada

indivíduo é capaz de encontrar suas próprias

definições ao vivenciar as páginas que se abrem nesse

livro...

Como Professora desta turma de Redação

Criativa de 2012.1 do DEART/UFRN, convido aos

apaixonados pela arte que abram seus corações e se

permitam sentipensar o fruir estético das linhas e

Page 9: Folhas Vivas

formas que desenham as emoções e saberes evocados.

Tenho a honra de apresentar estas produções dos

meus alunos e alunas, iniciantes como escritores, pois

tratam-se de jovens dedicados e esforçados por aquilo

que sentem, acreditam e buscam com responsabilidade

e criatividade. Cada página reflete a vida que pulsa

no sentipensar de cada autor ou autora, que se

imprime nas palavras e imagens que evocam.

Adentrem nessas páginas e vivenciem de corpo

inteiro a poesia, a fantasia, as ideias, os sonhos, os

desejos e descubram novos olhares e caminhos para o

mundo que lhe cercam...

Vivam essas páginas e vivam grandes emoções!

De coração aberto,

Profª Drª. Evanir de Oliveira Pinheiro

Eva Potiguar

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Artigos

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

Camila Guida

É estudante de Comunicação

Social - Publicidade e

Propaganda na UFRN.

[email protected]

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Quantas pessoas param para pensar na vida? Parar mesmo, durante horas, para pensar no presente, no passado e no futuro?

Tenho a sensação que são raras. Talvez pela vida corrida que elas têm ou aparentam

ter. Fico me perguntando como foi e como é a vida delas. Será que tiveram uma infância feliz como a minha? Será que a vida delas é boa ou cheia de problemas? O que elas esperam da vida?

Sei que quando paro para refletir sobre a minha vida, cada vez mais entendo mais coisas, lembro de mais momentos que estavam esquecidos há muito tempo e penso em mudar o que eu acreditava ser bom para mim, mas que na realidade não é e melhorar o que está bom.

Dizem que quem vive de passado é museu, mas o que seria do presente e do futuro se não houvesse uma história? As justificativas surgem assim como os questionamentos. Será que é isso...? Por quê? O que eu vou fazer...? Penso em

Refletindo a Vida

Quantas pessoas param para pensar na vida? Parar mesmo, durante horas, para pensar no presente, no passado e no futuro?

Tenho a sensação que são raras. Talvez pela vida corrida que elas têm ou aparentam

ter. Fico me perguntando como foi e como é a vida delas. Será que tiveram uma infância feliz como a minha? Será que a vida delas é boa ou cheia de problemas? O que elas esperam da vida?

Sei que quando paro para refletir sobre a minha vida, cada vez mais entendo mais coisas, lembro de mais momentos que estavam esquecidos há muito tempo e penso em mudar o que eu acreditava ser bom para mim, mas que na realidade não é e melhorar o que está bom.

Dizem que quem vive de passado é museu, mas o que seria do presente e do futuro se não houvesse uma história? As justificativas surgem assim como os questionamentos. Será que é isso...? Por quê? O que eu vou fazer...? Penso em

Refletindo a Vida

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

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conquistar os meus objetivos e buscar forças para fazer tudo o que quero.

Se todo mundo parasse para fazer isso, nem que fosse durante uma conversa, creio que seria mais feliz, mesmo que as lembranças não fossem boas, porque estaria de certa forma, superando ou compartilhando o que afligia.

Por isso, para ter no que pensar, o que conversar e o que fazer, tento viver a vida como se não houvesse amanhã.“Aproveite cada minuto, porque o tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo“.

Camila Guida

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

Isis Moura

Estudante do curso de Artes Visuais da UFRN,

possui particular interese no estudo da crítica de

arte e estética. Tendo participado do encontro de

jovens críticos de arte da AICA - Assossiação

Internacional de Críticos de Arte em 2011, na 6ª

VentoSul – Bienal Internacional de Arte

Contemporânea de Curitiba.

[email protected]

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

pode se apresentar como um problema se as explorações das imagens forem usadas para

Na atualidade, devido a infinitos fatores, a arte moderna ainda não foi apreciada com clareza por muitos. Este fato se apresenta como um dos muitos déficits para a compreensão da arte contemporânea.

É possível notar que o campo das artes sofreu com a transição de paradigma da modernidade para a pós-modernidade, pois a essência da arte passou a ser arduamente questionada. Isso porque as teorias da arte voltaram a ser verificadas e, mais uma vez, nenhuma abarcava toda a complexidade presente na arte, especialmente nesta contemporaneidade.

Levando em consideração o atual cenário social, pode-se dizer que as imagens divulgadas, principalmente pelas mídias tradicionais, revelam o uso emaranhado de estilos visuais, que geram um circuito de diferenciais estéticos. Tal fato implica no aspecto sensitivo do sujeito contemporâneo, que dentro deste contexto, tem a oportunidade de vivenciar diversas possibilidades de contemplação e participação.

No entanto, a distorção e a incompreensão por vezes causadas por esse excesso de exposição visual, impedem que o sujeito consiga compreender os fenômenos artísticos de maneira mais significativa.

Por exemplo, a explosão de imagens emitidas pela televisão, não nos permite ter tempo suficiente para pensar sobre as imagens. Em geral, seus sentidos são absorvidos de forma inconsciente, e este fato

As Portas Contemporâneas

das Artes Visuais

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condicionar comportamentos. Como é possível observar nos comerciais televisivos.

Tal problemática implica em evidenciar a dificuldade de compreensão vivida pelo público frente à notável pluralidade das formas artísticas presente nos dias atuais. As gerações estão reestruturando seus valores, mesmo sem perceber, pois estão imersas neste mundo pós-moderno.

Neste complexo mundo, por vezes não nos damos conta de como as imagens midiáticas influenciam nosso comportamento, interferindo, e muitas vezes confundindo nossas percepções, tornando-se parte do nosso cotidiano social e cultural.

Em contrapartida, a arte contemporânea alimenta o nosso imaginário, nos faz ver outras realidades que fogem da habitualidade, provocando a reflexão e a crítica. As novas gerações parecem ter uma interação maior com o mundo contemporâneo, e talvez, por isso, tenham uma maior possibilidade para a compreensão da arte contemporânea.

Embora avanços nesta perspectiva tenham sido observados ao longo dos anos, ainda é possível constatar grande dificuldade de inserção desta tendência na sociedade. As portas do conhecimento parecem elucidar as oportunidades de aprendizagem que o mundo pós-moderno nos oferece. As imagens possuem conteúdos que merecem análise e leitura, cobrando do sujeito contemporâneo uma alfabetização visual de tal modo que o dialogar do sujeito seja fluído com a produção atual e os modos de reflexão em torno da arte contemporânea, suas características, tendências e complexidades.

Isis Moura

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

Nilson de Morais Saraiva

É estudante do curso de Artes Visuais

na UFRN, artista plástico, professor

de Artes e proprietário do Nil Ateliê e

Galeria de Artes.

https://www.facebook.com/Niltheoogam

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

A vida é um eterno dançar na chuva, cuja alegria tem que estar presente em todos os instantes de nossa existência, apesar das dificuldades apresentadas, temos que procurar sentir os pingos que caem, nos aliviar, resfriando nosso corpo e limpando nossa alma nos fazendo relembrar quando éramos crianças, brincando na chuva, pulando em poças, redescobrindo a infância dentro de nós e toda sua liberdade, entender que as dificuldades é uma chuva que passa, e como nossa mãe nos chamando para dentro de casa, sempre há alguém ao nosso lado, nos fortalecendo e nos impulsionando para o bem.

O ser humano em seu processo evolutivo sempre esteve visando o seu bem estar, independente de dificuldades apresentadas. O homem está sempre a procura de algo muitas vezes incompreensível, procura a alegria e as belezas na matéria o que só vai encontrar no interior dele mesmo. Ou seja, em espírito, muito embora, saibamos que a humanidade evolui, mesmo que a passos lento, o homem já consegue voar, porém continua se arrastando em ilusões.

Os nossos sonhos de paz na maioria das vezes parecem algo surreal, mesmo assim devemos encontrar a beleza e a clareza da vida e saber que dançar na chuva é um eterno presente de Deus

Nilson de Morais Saraiva.

Viver é Dançar na Chuva

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Rivaldo BenevutoFormado em Pedagogia pela UVA (2005),

Especialista em Ensino Aprendizagem de Língua

Portuguesa - Aspectos Teóricos e Práticos pela

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte/UFRN (2007) e atualmente aluno do 8º

período do curso de Artes Visuais da UFRN. Já

lecionou em diversas instituições e atualmente atua

como professor no Campus Parnamirim do [email protected]

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

A leitura é um componente essencial no processo de ensino – aprendizagem, porém a forma como ela é compreendida pelos sujeitos é o que garante a sua eficiência. São muitas as concepções que cercam o ato de ler e fazem dele um objeto de estudo tão relevante para o sucesso da prática docente.

A mais tradicional concepção apresenta a leitura como uma atividade simples centrada na decodificação, ou seja, ler é limitar-se apenas a conversão de letras em sons. Desse modo, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN/Língua Portuguesa: 1ª a 4ª séries (1998, p.55) afirmam que: “Por conta desta concepção equivocada a escola vem produzindo grande quantidade de 'leitores' capazes de decodificar qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler”.

Essa concepção pressupõe que a compreensão do que foi lido acontece em conseqüência da decodificação. Esta é uma das mais antigas concepções sobre a leitura, a qual tem sido responsável pelo fracasso tanto de alunos quanto de professores que ainda fundamentam-se neste ponto de vista.

O ato de ler vai além da decodificação, como afirma Yunes (2002, p. 102): “O homem lê desde sempre e lê não só o verbo; lê

Leitura:

Fonte de Prazer e Conhecimento

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

todos os significantes que estão disponíveis e nos deixou os de sua primeira invenção no mundo das cavernas”. Ainda segundo esta autora (2002, p. 102): “Ler é condição de estar no mundo, criando-o outra vez”.

Esta visão de leitura é bastante convergente com o conceito de Freire apud Barreto (2004, p. 77) quando diz que: “O ato de aprender a ler e a escrever começa a partir de uma compreensão abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra”. Assim, a leitura do mundo antecede a leitura da palavra. Parafraseando Nicola (1998) Ler é atribuir significado, ampliando a leitura de mundo.

A Leitura de mundo exerce forte influência sobre o ato de ler e compreender. Garcez (2001, p. 23) reforça esta afirmação dizendo que “a leitura é um processo complexo e abrangente de decodificação de signos e de compreensão e intelecção do mundo que faz rigorosas exigências ao cérebro, à memória e à emoção. Lida com a capacidade simbólica e com a habilidade de interação mediada pela palavra”.

Seguindo esta linha de pensamento, Lerner (2002, p. 73) vai mais além quando declara que: “Ler é entrar em outros mundos possíveis. É indagar a realidade para compreendê-la melhor, é se distanciar do texto e assumir uma postura crítica frente ao que se diz e ao que se quer dizer, é tirar carta de cidadania no mundo da cultura escrita”.

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

De acordo com Garcez (2001, p. 29) O objetivo da leitura determina de que forma lemos um texto: “Lemos por prazer, em busca de diversão ou de emoção estética; para obter informações, esclarecimentos, em busca de atualização; lemos para escrever um texto relativo a um tema; para estudar, desenvolver o intelecto; em busca de qualificação profissional; para seguir instruções; ou simplesmente para comunicar um texto.

O autor, assim como Solé (1987) defende o uso de estratégias de compreensão leitora para a efetivação de uma leitura eficiente. Entre os procedimentos destacam ser necessário: Estabelecer um objetivo claro; identificar as palavras - chave; tomar notas, estudar o vocabulário; destacar as visões no texto para agrupá-las posteriormente; simplificação; identificação da coerência textual; percepção da intertextualidade; monitoramento e concentração.

Segundo os PCN/ Língua Portuguesa: 1ª a 4ª séries (1998, p 57): “A leitura, como prática social, é sempre um meio, nunca um fim. Ler é resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal. Uma prática constante de leitura na escola pressupõe o trabalho com a diversidade de objetivos, modalidades e textos que caracterizam as práticas de leitura de fato”.

O ato de ler é um processo complexo e abrange inúmeras necessidades. Lemos antes mesmo de decifrar o código escrito o que nos permite explorar a criatividade e quando passamos a

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dominar as convenções da linguagem escrita lemos com inúmeros objetivos que vão desde a busca de informações gerais até o mais simples e puro deleite. O fato é que lemos a todo tempo e em qualquer lugar ou situação. Lemos não apenas palavras, mas também imagens, sons, gestos e toda e qualquer linguagem que nos propusermos decifrar, pois a leitura constitui-se uma fonte de prazer e conhecimento inesgotável e disponível a todos que a buscam.

Rivaldo Benevuto

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Contos

Crônicase

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Leíze de Sá

Fotógrafa e artista plástica.

Atualmente, estudante do curso de

Artes Visuais na UFRN.

leizedesa.blogspot.com

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

Um dia, andando de bicicleta como sempre faço, me deparei com raios de sol atravessando as nuvens espessas que anunciavam a chuva que já banhava as cidades mais ao nível do mar. E não pude deixar de me ver nesses raios, com a determinação de atravessar a qualquer custo as espessas massas cinzentas que se colocam em minha frente todos os dias. No entanto, jamais poderia supor a realidade que aqueles raios procuravam iluminar naquele momento.

Num lugarejo não tão distante de onde eu estava. Um homem havia sido morto há alguns anos, injustamente, como pena por não ter pago uma dívida que não contraíra, e que nem tão pouco conhecia o verdadeiro devedor. Acontece que este homem era o pai de uma família numerosa, a viúva então se via com oito crianças pra dar de comer sem nunca ter trabalhado na vida. Tinha casado muito jovem e havia sido criada, filha única, com todos os mimos com que uma boneca pode ser cuidada. Jamais

O Condenado

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imaginara passar por tal situação, nunca supôs a possibilidade de ficar sem seu marido, homem que ela mesma havia escolhido por bondade de seu pai que optou por livrá-la do costume da aldeia.

No entanto, como fora criada com grande zelo e carinho, ela era bela como só as pessoas felizes conseguem ser, por isso todos os homens da região ansiavam que seu pai lhe desse sua mão. Como aconteceu diferente do que esperavam, alguns se entristeceram pois nutriam por ela amor sincero, mas logo esqueceram dela e apaixonaram-se por outras moças, outros ainda se alegraram por sua felicidade, estes eram amigos dela ou do noivo e se alegraram por verem os amigos tão felizes por estarem juntos. Mas houve também os que ficaram com ciúmes e planejaram ter a moça só pra si. Formaram grupos e investiram de várias maneiras contra o amor que não lhes era dedicado.

Foi então que, passados muitos anos do casamento realizado e da família constituída, os ciumentos tendo cultivado seu rancor por muitos anos, ludibriaram o pobre rapaz e o questionaram sobre uma dívida que não era sua. Ele então buscou de todos os argumentos, possíveis

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testemunhas, defensores de outras regiões... Nada foi suficiente para livrar-lhe da acusação de

e, seguindo o costume de sua aldeia de gente honesta, foi condenado a morte na forca. E vendo-se condenado, chorou amargamente sua dor por toda a noite que antecedia a execução, imaginando o que seria feito de sua família, seus filhos, sua esposa que tanto amava.

Assim o dia amanheceu e ele foi ter com sua esposa, usufruindo de seu direito a um ultimo pedido. E consolando seu choro e sua dor, ele lhe disse: 'Não chores minha querida, a vida para você será longa mas todos os dias, antes que você se lembre do que acontecerá mais tarde, virei até nossa casa para lhe dar o beijo de bom dia, como sempre fiz. Sempre veres um raio de sol, serei eu a te dar bom dia, minha querida'. Ela o ouviu com atenção e fez com que seus filhos também ouvissem do pai um consolo parecido, algo que lhes desse força pra seguir com dignidade a vida que lhes era marcada de uma forma tão dura naquele momento. E assim, o homem justo mas que fora condenado a morte, seguiu sem relutar na direção da forca. Cumpriu sua sentença com coragem, embora não sem dor.

velhacaria

,

(o que é isso)

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

Desde então, fizesse chuva ou dia claro, um raio de sol incidia diretamente sobre a casa do condenado. Mesmo quando alguém pudesse dizer que era impossível, mesmo sem ninguém se dar conta, ele atravessava a janela do quarto da viúva e todas as manhãs tocava seu rosto como se lhe beijasse com um beijo de bom dia. Ela então abria os olhos sorrindo e iniciava seu dia, indo acordar os filhos pra que tomassem juntos o café da manhã, como sempre fizeram. E o sol passou a fazer parte de suas vidas a partir de um momento em que a noite tomava conta de seus corações.

Leíze de Sá

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Mayara SuellenNascida em Currais Novos, Rio Grande do Norte, Mayara

Suellen vive em Natal. Desenha desde a infância, a contar do

dia em que descobriu o lápis – o que a leva a fazer da Arte objeto

de estudo e profissão. É fascinada por literatura fantástica e

direciona seu trabalho para a área da ilustração, com interesse,

principalmente, na ilustração voltada ao público de literatura

infanto-juvenil. Em sua produção, tem preferência por utilizar

materiais tradicionais como aquarela, lápis de cor e tinta

acrílica, além de trabalhar com meios digitais.

http://facebook.com/[email protected]

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O dia estava bonito naquela manhã. Tinha chovido a semana inteira, e a jovem Rita esperava ansiosa por raios de sol. Ela supunha que por esses dias o tempo começasse a melhorar, com o início da primavera — que é quando ela faz aniversário. Completaria, então, dezessete anos. Acordava todos os dias com a expectativa de não ouvir mais o barulho de gotas caindo no peitoril da janela ao lado de sua cama, apesar de gostar de adormecer com este som. Neste dia, acordou mais cedo do que de costume, com a visão do Sol, branco, surgindo num céu cor-de-rosa que tocava o horizonte. Por algum tempo, ficou debruçada na janela, olhando e sorrindo, até o Sol tomar o tom de dourado que fazia o orvalho brilhar feito diamante, mesmo nas árvores mais distantes.

Levantou-se, calçou seus chinelos e foi animada ao quarto de sua avó contar que finalmente tinha nascido um dia bonito. Rita morava com ela desde os quatro anos, quando perdeu seus pais num acidente de carro — acidente o qual, foi a única a sobreviver. Eles estavam viajando para o interior, indo justamente visitar Dona Nice, sua avó, quando tudo aconteceu. Estava sendo uma viagem tranquila, mas em certa altura, uma chuva forte começou a despencar e, perdendo visibilidade, o pai de

O Fim da Chuva, o Xale e a Flor Azul

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FOLHAS VIVAS - PROF. DR. EVANIR PINHEIRO - DEART/UFRN

Rita quase chocou o carro contra um burro perdido na estrada. Quando conseguiu avistar o animal, já de muito perto, desviou o carro bruscamente e o veículo acabou por desabar pela ribanceira. Outros viajantes, que assistiram o acidente, ligaram para a emergência e, felizmente, o socorro chegou logo. Rita, muito machucada, foi levada para o hospital, mas os seus pais não resistiram e faleceram no caminho. Ela não se lembra de muitas coisas desse dia, exceto de pequenos momentos em que cantava músicas com sua mãe, enquanto seu pai ria, com as mãos ao volante. Foi uma grande mudança em sua vida, ter de viver sem os pais e longe da cidade, mas ela era muito novinha e se acostumou facilmente à vida no campo. Sua avó lhe confortava e dizia para não se preocupar. Lá era sua nova casa. Ela estava protegida e, afinal de contas, era assim que as coisas deveriam acontecer.

O quarto de Dona Nice era fechado por uma grossa cortina amarela que substituía o espaço de uma porta. Rita passou por ela e avistou sua avó ainda embrulhada nos lençóis. Ela tinha estado doente nos últimos meses, e já não era mais tão ativa. Adorava cuidar do jardim e das culturas de vegetais, mas até isso ela havia incumbido a neta de fazer — e Rita não reclamava pois, assim como a avó, nada lhe aprazia mais do que cuidar da natureza . Na ponta dos pés, foi até o outro lado do quarto e abriu uma banda da janela, deixando um filete de luz solar clarear o ambiente. Quando olhou novamente para Dona Nice, ela já estava de olhos

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olhos abertos, sorrindo para ela.— Vovó, o dia está lindo! — disse a garota — Não está

mais chovendo!— Estou vendo, Ritinha, mas ainda sinto o cheiro do

orvalho. — respondeu Dona Nice, virando-se para a janela com um olhar vago.

— Sim, e o orvalho nas árvores está brilhando com a luz do Sol. É tão bonito, Vovó! Venha ver!

— Já vi muitos e tantas vezes, minha filha. Eu não estou muito disposta hoje. Mas vá, vá ver o Sol! Eu sei o quanto que você estava ansiosa. Tome este xale e cubra os ombros, ainda é muito cedo e está frio. — puxou um pano azul das costas de uma cadeira próxima à cama e entregou à jovem — Vou preparar o café.

Rita saiu, sem pensar duas vezes. Abriu a porta da frente e, ainda dos degraus da varanda, caminhou por toda a paisagem com os olhos. A casa ficava isolada, rodeada por um grande arvoredo em um terreno mais alto. De lá, podia se avistar uma pequena vila com algumas poucas casas. Com o dia amanhecendo, já se via o movimento de pessoas bem ao longe, como as lavadeiras que subiam por uma estradinha de barro em direção ao rio, e o senhor de chapéu, que guiava duas cabras para algum lugar, acompanhado por um cão magricela. As duas, avó e neta, tinham pouco contato com os moradores da vila lá abaixo. Elas conseguiam manter-se bem com o cultivo natural, e com muito

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muito pouca frequência lhes subiam visitantes serra à cima. Rita olhou para o alto e o Sol ainda era aquela esfera branca, mas o céu, repleto de nuvens, já havia tomado um frio tom de azul. Desceu os degraus e sentiu a grama alta derramar gotas d'água sobre os seus pés. Envolta no fino xale azul de sua avó, ergueu o rosto, fechou os olhos e deixou a pele beber o calor da luz. O canto dos pássaros tornou-se evidente em sua consciência, e ficou por um bom tempo de olhos fechados, brincando de distinguir quais pássaros estavam cantando para ela.

Uma brisa passou mexendo em seus cabelos, como premissa de um vento mais forte, que prometia levar Rita a flutuar. Ainda de olhos fechados, ela abriu os braços, com o xale feito asas. Era quase como se voasse, mesmo. O vento ficou mais e mais forte. De repente, um som distante fez Rita abrir os olhos. Era uma música, mas nada que ela tivesse ouvido antes.. Quase sem que ela percebesse, seu xale escorregou pelas costas e foi levado pelo vento, escapando de ser segurado a tempo. Foi levado pelo ar, por entre as árvores, e ela correu, tentando persegui-lo. A música ficava mais audível a cada passo. O pedaço de tecido azul curvava-se maleável por entre os troncos, como se soubesse para onde ia, e Rita tentava alcançá-lo, sem sucesso. O som de batuques, cada vez mais alto, quase acompanhava as batidas do seu coração acelerado. O xale voou para uma área de árvores mais densas. Ela acabou por perdê-lo de vista. Assustada, parou. Passava pouca luz pelos espessos

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ramos das árvores e o lugar estava escuro. Quase que imediatamente, os batuques da música — que há segundos parecia estar tocando ao pé do seu ouvido —, haviam parado. Rita olhou em volta e, sem mais fazer caso do xale, resolveu voltar. Mas antes que pudesse se mover, ouviu passos sobre a folhagem seca do chão. Muitos passos, na verdade. Sentia seu coração pulando. Se pudesse bater mais rápido do que já estava batendo, sairia pela boca.

Em pouco tempo, os donos dos passos tomaram forma sob a meia luz, debaixo das árvores. Aproximavam-se devagar, quase receosos. Rita não conseguia vê-los nitidamente, nem contar quantos eram. Pelas silhuetas, pareciam homens, mas ao mesmo tempo eram totalmente diferentes. Eram bem pequenos. Mais baixos que ela, pelo menos. Rita girou. Queria fugir dali, mas viu-se cercada pelos estranhos, que agora brandiam suavemente uma espécie de chocalho.

— Quem são vocês?! Deixem-me ir! — disse, tentando não demonstrar desespero.

Eles não responderam, mas sacudiram os chocalhos num ritmo mais rápido, e depois mais e mais rápido, até que pararam todos ao mesmo tempo. Sem mais, os homenzinhos estranhos voltaram sua atenção de Rita para um lugar à esquerda dela. Estavam se movimentando, abrindo caminho para algo ou alguém. A garota estava tão tensa que não podia se mexer. Suas forças tinham saído de seu corpo. Como se não bastasse toda

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movimentando, abrindo caminho para algo ou alguém. A garota estava tão tensa que não podia se mexer. Suas forças tinham saído de seu corpo. Como se não bastasse toda aquela estranha situação, Rita deu por si enxergando algo luminoso que vinha em direção a ela, silenciosamente, por aquele caminho. Era fascinante, e ao mesmo tempo a aterrorizava. A certa distância, a luz delineou-se em formas mulher, jovem e de pele pálida, e com longos cabelos prateados. Ela olhava diretamente para Rita, enquanto andava até ela, até parar frente a frente. Suas feições eram meigas, como as de alguém a que Rita já conhecesse.

Estagnada, Rita fitava aqueles olhos cinzentos, quando sentiu o toque de sua mão sendo erguida pela macia mão dela. Deu-se conta de que a mulher lhe entregava uma flor. Era uma flor azul. Ela imprensou a flor contra sua mão e Rita a abraçou com os dedos, segurando-a. Já podia sentir seu perfume. Rita levou a flor ao nariz e, de olhos fechados, inspirou o aroma doce por um pequeno tempo. Era um cheiro muito agradável. Nesse momento, também sentiu um beijo quente na testa. Abriu os olhos e não havia ninguém com ela. Olhou para todos os lados e todos haviam sumido, mas ainda tinha a flor em suas mãos. Girou por alguns segundos, tentando entender a situação, até que resolveu sair de lá.

Voltou para casa correndo pelo mesmo caminho, que agora lhe pareceu muito mais curto do que na ida. Precisava falar com a

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avó, mostrar-lhe a flor e contar-lhe todo o absurdo que lhe havia acontecido. Ela não acreditaria, com certeza. Diria, como sempre disse, que não há criatura na terra com a imaginação mais fértil do que Rita. Durante a infância, ela costumava alarmar a avó sobre os dragões que moravam nas nuvens e, vez por outra, sobrevoavam a serra, prestes a cuspir fogo em sua casa.

— Oh, menina! Venha me ajudar a debulhar o feijão. — ela respondia.

Nem mesmo Rita acreditaria nessa história, na verdade, se alguém lhe contasse. Mas estava ainda pasma, e a perfumada flor azul em suas mãos era prova do que tinha acontecido. Aos pés da casa, ainda a segurava firmemente.

Entrou agoniada, segurando o impulso de correr. Foi direto para cozinha, sentindo o cheiro da fervura de café. Por um momento, achou ter visto sua avó em pé, recostada ao portão da cozinha, mas num segundo olhar viu que era só o portão, mesmo, balançando com o vento.

— Vó, você está aqui? — não houve resposta. — Preciso lhe contar algo! Minha nossa! Algo muito estranho!

Rita entrou na cozinha, mas viu que sua avó não estava lá. Também não havia café sendo fervido, mas isso não lhe ocorreu no momento. Foi até o portão ver se ela estava lá fora, mas não estava em nenhum lugar que pudesse avistar. Voltou-se para dentro, chamando por ela pela casa inteira, até parar no quarto. Passou

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pela pesada cortina e olhou em cada canto do quarto, chamando-a, mas Dona Nice também não estava lá. Foi até a janela e olhou novamente para os arredores da casa, mas sua avó ainda não tinha aparecido. Uma repentina preocupação tomou-lhe, doendo-lhe o peito, e ela foi sentar-se para pensar. Tentava imaginar para onde sua avó teria ido e por que haveria de sair, enferma como estava. E se tivesse precisado dela? Presumia que ela poderia a ter chamado, mas com tudo o que aconteceu, e com a música que aqueles homenzinhos tocavam, como poderia tê-la ouvido?

A flor ainda exalava perfume em suas mãos quando Rita resolveu que faria mais uma vistoria na casa e em seus arredores, e se não a encontrasse, estava decidida a descer até a vila próxima, para tentar saber dos moradores se alguém tinha avistado Dona Nice. Tentou apoiar-se na cadeira para levantar-se, mas sua mão escorregou em um tecido macio. Quase que despercebido, um xale azul pendia das costas do assento. Rita apanhou o tecido, intrigada. A peça era igual a que ela havia perdido lá fora, mas ela não se lembrava de sua avó ter duas. Era um presente antigo, algo que Dona Nice herdara da família, como já havia lhe contado. O xale, ao ser erguido, deixou que folhas verdes e pequenos galhos caíssem se desvencilhando de sua trama em breves rasgos. Era o mesmo xale, a garota não tinha dúvidas, mas como ele teria voltado para a cadeira de onde sua avó o tirou para lhe entregar — bem antes de ter sido perdido por ela, levado pelo vento por entre as árvores —, Rita não conseguia imaginar.

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Sem saber o que pensar, Rita largou o surrado xale de volta na cadeira, pôs a flor azul no criado-mudo ao lado da cama e deixou-se cair nela. Deitou a cabeça no travesseiro de sua avó e fechou os olhos por um instante. A figura extraordinária da mulher no bosque reapareceu em sua mente, com o mesmo olhar firme e terno. Rita sentiu a brisa que vinha da janela e que, de alguma maneira, carregava o odor da flor tornando-o mais intenso, quase inebriante, até que abriu os olhos para verificá-la, sobre o móvel — acabou encontrando-a flutuando no vento, sendo levada para fora. A garota levantou-se para tentar apanhá-la, mas a flor escapuliu janela a fora. Ao chegar ao parapeito, a flor já não estava às vistas. Tinha sumido, ido para longe ou caído. Para sua surpresa, ao olhar para o chão, viu-se envolvida por ramos de flores idênticas à flor azul que subiam rodapé à cima. A planta, em questão de segundos se espalhara em volta da casa, e as flores brotavam até meia parede de altura.

Mayara Suellen

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Olavo César Cassiano Ataíde

Graduando do terceiro período em

Comunicação Social - Publicidade e

Propaganda 2011.1

[email protected]

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Cansado como chegava todas as noites, ele jogou a sacola de compras no sofá, arrastou-se até a cozinha para ligar o rádio que disfarçava um pouco do silêncio humano e logo chegou ao quarto, o único lugar dele naquela casa, apesar de tudo. O apesar tem o peso da herança que aquele quarto colorido trazia: a cama verde era da avó, o criado-mudo amarelo com a perna quebrada havia sido de alguma tia e o abajur vermelho que não funcionava era de um primo que ele nunca tinha visto, esse inclusive havia mando uma carta dizendo que faria uma visita, mas nunca apareceu. Ainda assim, o quarto era dele e ele apreciava ficar ali mais do que qualquer outra coisa. Sem exageros.

Deitou-se na cama provocando um rangido sem tirar o uniforme do trabalho, mas de que importava? Estava exausto, moído, em cacos, a rotina era monótona e cansativa. As coisas só melhoravam quando podia deitar-se ali e dormir. Fechava os olhos, sentia o corpo relaxando

Apnéia do Sono

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aos poucos, a respiração ficava mais calma e tudo ia se encaixando. Calmo como o ar que entrava e saía. Calmo como o caminho que ele fazia, e o caminho era longo, milhas sem limites. Ele sonhava todas as noites, e sonhava sempre o mesmo sonho: uma viagem. Uma por noite, cada noite diferente da outra, cada noite um destino, uma experiência, alguém. Ele amava essas viagens, amava o mundo que desbravava sozinho, mas não solitário. Ele só era feliz quando estava ali... dormindo, sonhando, viajando.

Algo aconteceu, porém, no dia em que ele não conseguiu dormir. Ouvia um barulho absurdo vindo de algum lugar, ele não sabia se era da rua, da vizinha ou de dentro da própria casa. Só sabia que era tão alto e frequente que não conseguia dormir. Tentou de tudo e nada foi solução, não chegava nem a cochilar, parecia que o barulho estava dentro da própria cabeça. Passou-se a noite em que ele não dormiu. No dia seguinte ele não era a mesma pessoa, mas controlou-se, devia ser só uma insônia e ia passar, ele sabia. Não passou... passaram-se apenas os dias. Ele gritava com o travesseiro sobre o rosto, enchia as orelhas de algodão, tomava chá, todos os tipos de remédios e nada

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adiantava. Chegou a procurar um médico, – o caso, então, era alarmante – ele nem lembrava a última vez que fora a um médico. Mas foi, pois preferia acreditar que seu problema teria uma solução, fosse qual fosse. Não era possível viver assim. Ele precisava dormir, a vida acordado não era o bastante, não era nem perto, não era nada. Sentia o corpo tremer quando chegava em casa, deitava e não conseguia dormir porque aquele barulho infernal o ensurdecia. Estava desesperado. O médico prescreveu remédios e os remédios de nada serviram. De nada.

A situação era crítica, não havia mais o que se fazer. As olheiras estavam tão fundas que mal dava para ver os olhos. E, enfim, ele havia desistido, não queria mais, estava exausto. Ia morrer, não tinha outra opção, não aguentava mais. Preparou tudo, 27 comprimidos diferentes todos tomados em seguida. Ele mal conseguia respirar, o corpo todo tremia, o ar não vinha, os olhos iam f i cando e scuros , fa lhos , a cab e ça g irava descontroladamente até que puxou o ar com tanta força que. A voz do tal primo veio de longe:

– Ele acordou, vem cá!Olavo Ataide

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Rayssa Vasconcelos

Aluna de Graduação em Zootecnia e

discente na disciplina de Redação

Criativa. Conclui o curso em 2012.

[email protected]

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O local parecia distante, estava coberto por enormes árvores com grossos caules de cor marrom, que se afinavam e findavam em folhas longas de cor verde escura. Era possível sentir na pele a umidade que aquele local possuía, se entranhando e provocando verdadeira sensação de frescor. O chão era coberto por tom marrom e amarelo, que revelavam um verdadeiro festival de cores que ocorria graças às folhas secas que caiam daquelas maravilhosas árvores.

A cor do céu era um azul claro, com poucas nuvens brancas. O sol era ameno, mantendo a temperatura baixa. Ao entrar naquele local o primeiro cheiro que podia sentir, era o cheiro da terra molhada, que me tomava por inteiro e me relembrava algumas das principais lembranças de minha infância, provocando um verdadeiro bem estar. Ao adentrar, o cheiro da terra molhada se misturava com o cheiro daquele verde das árvores, provocando um aroma inigualável.

Espetáculo da Natureza

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Quanto mais andava, uma sensação de paz ia sendo tomado em meu interior. Era possível observar pequenos, médio e grandes pássaros de diferentes tipos, de diferentes coloridos, que cantarolavam com seus assobios por vezes graves, por vezes finos, se tornando uma verdadeira melodia aos meus ouvidos como uma orquestra harmônica e doce. Ao observá-los no alto era possível ver uma verdadeira dança coreografada, me abrindo um sorriso simples e puro. Lá iam eles seguindo em frente, como se quisessem levar essa mesma sensação para outras pessoas que ali passavam.

Após esse espetáculo, era possível ouvir o barulho de um riacho correndo por entre as pedras, rodeando-as como se não quisessem machucá-las. Ao chegar mais perto, podíamos ver o fundo daquele riacho, graças a pureza daquela água. Fiquei algum tempo ali parada observando aquele momento único e, para aumentar tamanha grandeza, pude observar que alguns animais que habitavam naquele local tomavam daquela água e brincavam, se mostrando felizes por aproveitarem daquele pequeno momento.

Foram únicas as sensações que possuí nesse passeio,

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levarei cada uma comigo. No momento da volta, ficou um pedaço de mim, me prendendo naquele local e me fazendo demorar no momento da volta. Mas ao chegar dele, trouxe comigo lições que vou levar pelo resto da vida, com sensações de paz, harmonia e alegria durante o restante do dia.

Rayssa Vasconcelos

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Simone Medeiros

Com graduação completa em Biologia,

atualmente estuda Artes no curso de

Artes Visuais da UFRN. Trabalha

como restauradora de obras de arte.

[email protected] [email protected]

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Eu saí daqui, fui embora pra casa. Lá é o melhor lugar do mundo, lá eu tenho tudo o que eu preciso: meu amor me beijando, meus filhos me agarrando pra fazer carinho, meus gatos passando suas caudas peludas pelo meu corpo, meus peixes colorindo a água, minha cama macia e meus lençóis com os quais faço meu casulo, para dormir.

Tenho também meus hóspedes, uma família de saguis que todo dia entra na cozinha pra comer as bananas que estão na fruteira; um camaleão que passa a manhã toda comendo meus pés de nove horas, tem também um casal de timbus que toda noite vem comer os coquinhos de dendê.

Lá tem um laguinho com uma fontezinha, que eu mesma fiz; o barulhinho da água caindo nas pedras me embala nos cochilos da tarde. Meu quintal é uma duna, cheia de ipês e pés de angélica, que ao cair da tarde exala um cheiro doce, que se mistura com os cheiros do jasmim manga e jasmim laranja, tornando o anoitecer numa

Little Heaven

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festa de perfumes.Essa casa é um sonho que foi construído em 100

dias, e é vivido há dez anos por nossa família e seus hóspedes. Esse sonho era apenas um terreno nu, que nós vestimos com o que havia de melhor em nossos corações, nossos mais íntimos desejos e esse sonho não para de se transformar, todo dia ele amanhece diferente, tem uma nova flor que abriu, um novo pássaro que vem comer as frutas das árvores, uma nova peripécia de um dos gatos.

Eu quero continuar morando nesse sonho, até o último de meus dias. Lá, é o meu refúgio contra todas as mazelas do mundo, lá eu dou vida a minha arte, lá eu tenho o chamego de meus filhos e de meu amor, lá sou constantemente acompanhada pelos meus gatos e brindada pelo canto de rouxinóis, bem-ti-vis, azulões. Lá eu tenho uma rede que não troco pela cama do melhor hotel do mundo. E esse sonho tem nome, seu nome é LITTLE HEAVEN, um pedaço do céu aqui na terra.

E assim, continuarei sonhando...

Simone Medeiros

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Poesias

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Ebeson Rolim

É estudante do curso de Artes

Visuais da UFRN. Formado

em Design gráfico pela UNP.

[email protected]

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Vejo o tempoSinto o tempoPercebo-oMas, por quanto tempo?

Simplesmente, existo!Não me prendo a momentos, dedico-me ao momentoDeixo-me simplesmente serNão me abalo aos desafios, enfrento-os

Cada momento há um tempo, mas todo momento é tempoÉ tempo de sorrir, de cantar, de dançar, de se apaixonar, de viverPois estou vivo!E ainda há tempo!

Ebeson Rolim

Tempo

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Emanuel Coringa

Estudante de Teatro da

UFRN. Possui interesses em

técnicas circences.

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Eu sou aquele de um corpo franzinoSou uma mente sonhadora e chorosa

Sou a verdade contida em um meninoE a mentira escondida em uma rosa

Eu sou o grito contido da loucuraEu sou a faca que corta minha gargantaEu tenho a força de uma velha carranca

E a fraqueza de um novo suicida

Eu trago a força de uma raça guerreiraE as costas Lapeadas de chibata

Eu sou o pão repartido em santa ceiaE aquela fome que maltrata e que mata

Eu sou cruz na porta de uma casaE a macumba preparada na esquinaEu sou a mão que reza em devoção

E a mesma mão que mata e assassina

Eu Sou

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Eu sou a flor que perfuma tua casaE mesma que ornamenta teu caixãoEu sou o bêbado deitado na esquinaPara quem sabe não ver a escuridão

Eu sou o homem que prega revoluçãoE o mesmo homem que dirige a ditadura

Eu sou aquele que aplaude a decisãoE aquele mesmo que cava a sepultura

Eu sou a paz que não vive sem a guerraSou a mentira que não existe sem verdade

Eu sou aquele que odeia e se apaixonaE que esquece sua própria vaidade

Sou Dionísio e o mesmo Jesus cristoSou o africano rezando para Buda

Sou aquele que diz é 10%E o mesmo que diz só cristo ajuda

Eu sou um homem preso no hospícioQue existe dentro da sua cabeça

Pois seus sonhos são as suas amarasE da loucura espero que eu padeça.

EU, EU SOU!!! E VC?

Emanuel Coringa

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Eva PotiguarDoutorado e Mestrado em Educação pelo PPGEd

da UFRN.

Atuações Principais: Artes / Educação /

Formação de Professores / Docência e

Inter/Transdisciplinaridade.

[email protected]

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Quero você NUDe suas mentirasDe suas verdadesDe seus medosDe seus preconceitosDe seus lamentos

Quero você BANHADODe poesiaDe ternuraDe alegriaDe FéDe bondadeDe generosidade

Quero você VESTIDODe sua luz interiorDe sua belezaDe sua pazDe seus talentosDe seus encantosDe seus ideais

QUERO...

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Quero você ACOMPANHADODe sua esperançaDe sua coragemDe sua fidelidadeDe seus sonhosDe seus errosDe seus acertos

Quero você LIVREDe seu passadoDe seu pessimismo De seu individualismoDe sua angústiaDe sua insegurançaDe sua intolerância

Quero você CONSCIENTEDe suas curasDe suas asasDe suas forçasDe seus domíniosDe seus mistériosDe seus limites

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Acima de tudoQuero você Não como eu queroComo parte de TIO quero é também para MIMComo sementes na terraComo aroma e florUnidades que se completamNo querer bem do amor

O que quero para NÓS?Estarmos NUS, BANHADOS, VESTIDOS, ACOMPANHADOSLIVRES E CONSCIENTES como seres iluminados que sabem o que QUER

Eva Potiguar

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Israel da Nóbrega

É estudante do curso de Artes

Visuais na UFRN. Escreve

roteiros para cinema e

[email protected]

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Cá estou, solto no vazio, vendo-te agonizar.Tua paz, tua cor, teus lábios vermelhos, Teu ósculo sagrado que a muito se punha a acariciar a alma dos homens.Duro é saber que estais aí, acorrentada às linhas do hoje,E que foste molestada pelo contraste da última aurora.

Entretanto, te vendo assim, débil e desfigurada por teus carrascos.Ressalta-me à memória o que um dia significastes para eles. A beleza e a feiura que compunham tua facePresenteavam-nos a cada dia com uma nova e plena ressurreição.Teu rosto, hoje, ausente e sem expressão, levou consigo minha vontade de viver.

A ti, ó mãe de todas as coisas, digo que só terás paz em outro tempo,O tempo em que os homens te amem e te odeiem como outrora,Onde não lhe farão sofrer sob o peso de seus ideais funestos,Onde não a torturarão por meio de vossos corpos enlodados.

Talvez não mais sofrais nas mãos daqueles que só querem lucrar em teu nome.

Hoje, minha mãe, o sol raiou escuro, reverenciando-te. Disse que não mais brilharáAté que encontres um lugar fora do que se pode conceituar.

Fora do que possa ser julgado ser ou não ser tua própria essência.

Dos Diálogos Acerca do Fim

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Quanto a mim, não te deixarei.Sou fraco demais para viver a idéia do viver, sem fazer de ti meu fundamento. Dai-me teu segredo e como alquimista te recriarei no fundo de minh'Alma... As horas se passam e já é tarde...O tempo, teu filho bastardo, não conhece a generosidade.Sendo assim,Durma em paz minha rainha...Aguardarei pacientemente até que o grande dia floresçaE os grilhões que hoje rego com lágrimas se despedacem anteO triunfo glorioso de teu regresso.Até breve,Minha querida Arte.- E depois disto, soluçando, deitou ao lado dela e sobre seus pés recostou a cabeça carinhosamente e dormiu...

Israel da Nóbrega

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Das experiências e momentos que passamos...

Indescritíveis!!!

Daquilo que vimos...

Momentos nos marcam,

Daquilo que tocamos...

Daquilo que degustamos...

Daquilo que cheiramos...

Daquilo que ouvimos...Somos frutos de uma vida cheia de surpresas,

Você é o fruto do que você sente!!!

De uma vida baseada em momentos,

Que mudam o nosso presente,

Momentos como esses,

E que influenciam nosso futuro!!!

Momentos que transformam,Momentos que nos trazem as lembranças do passado,

Jéssika Liebis

Nós Somos Frutos...

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Pedro Balduino

Artísta plástico, fotógrafo e realizador

audiovisual. Atualmente, estudante do

curso de Artes Visuais da UFRN.

Fundador e Assessor da Império Assessoria

Artística. Ás vezes, escritor.

pedrobalduinoarte.wordpress.comwww.wix.com/pedrobalduino/arte

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Numero da Página

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E COLOCAR

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PRA ASSAR!

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