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89 RH SUPERMERCADO MODERNO NOVEMBRO 2010 Por Fernando Salles | [email protected] | O boato surgiu após conflito em uma negociação de pro- dutos. O comprador da área se negava a incluir no sorti- mento itens de um deter- minado fornecedor. Atento ao crescimento de mercado do fabricante, o gerente da loja, que também tinha autonomia para comprar, não aceitou a decisão e fez o pedido pessoalmente. Demorou poucos dias até o contrariado comprador começar a espalhar que o co- lega havia recebido dinheiro para colocar os itens na loja. Era mentira, mas a riqueza de detalhes da histó- ria convenceu alguns funcionários de que o gerente embolsara R$ 1,5 mil, como garantia o fofoqueiro. Na época, a maldade do comprador poderia ter causado problemas à carreira do gerente. Isso só não aconteceu porque ele agiu rápido: ao saber da fofoca, convocou uma reunião com o diretor, o comprador que inventou a história e um repre- sentante da indústria. “O forne- cedor explicou que o valor do pe- dido ficava em torno de R$ 3 mil e mostrou que saria no prejuízo se tivesse de me pagar R$ 1,5 mil”, conta a vítima da fofoca. Com a mentira desmascarada, a atitude do comprador foi negar envolvi- mento no boato. Semanas depois, Fofocas Elas podem contaminar sua empresa Sabe da última? Nem queira. Boataria cria mal-estar na equipe, derruba a produtividade e quebra a confiança entre empresa e funcionários.

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Matéria sobre os efeitos da fofoca no ambiente de trabalho. Publicada na edição de novembro da revista Supermercado Moderno

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Page 1: Fofoca - RH

89 RH S u p e r m e r c a d o m o d e r n o • novembro 2010

Por Fernando Salles | [email protected] |

O boato surgiu após conflito em uma negociação de pro-dutos. O comprador da área se negava a incluir no sorti-mento itens de um deter-minado fornecedor. Atento ao crescimento de mercado

do fabricante, o gerente da loja, que também tinha autonomia para comprar, não aceitou a decisão e fez o pedido pessoalmente. Demorou poucos dias até o contrariado comprador começar a espalhar que o co-lega havia recebido dinheiro para colocar os itens na loja. Era mentira, mas a riqueza de detalhes da histó-ria convenceu alguns funcionários de que o gerente embolsara R$ 1,5 mil, como garantia o fofoqueiro.

Na época, a maldade do comprador poderia ter

causado problemas à carreira do gerente. Isso só não aconteceu porque ele agiu rápido: ao saber da fofoca, convocou uma reunião com o diretor, o comprador que inventou a história e um repre-sentante da indústria. “O forne-cedor explicou que o valor do pe-dido ficava em torno de R$ 3 mil e mostrou que saria no prejuízo se tivesse de me pagar R$ 1,5 mil”, conta a vítima da fofoca. Com a mentira desmascarada, a atitude do comprador foi negar envolvi-mento no boato. Semanas depois,

FofocasElas podem contaminar

sua empresa

Sabe da última? Nem queira. Boataria cria mal-estar na equipe, derruba a produtividade e quebra a confiança entre empresa e funcionários.

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porém, foi demitido por outras falhas de conduta.

A história é real e aconteceu em um supermercado de São Paulo. Para evitar constrangimentos, pre-servamos os nomes das pessoas e das empresas envolvidas. Pode ser por maldade – como no exemplo acima –, por perfil comportamen-tal, imaturidade ou até ansiedade, o fato é que espalhar boatos é co-mum no ambiente de trabalho e pode gerar problemas no relacio-namento entre funcionários, além de diminuir a confiança na compa-nhia, quase sempre com impactos negativos na produtividade.

ComuniCação interna:mais transparência, menos fofoca

“A fofoca é inerente ao ser humano e as empresas nunca conseguem eliminar 100%, mas há possibili-dade de amenizar o problema”, avisa Rudney Perei-ra Júnior, gerente de projetos do Grupo Foco, em-presa com atuação em diversas áreas de recursos humanos. Uma alternativa é adotar comunicação clara e transparente. O esforço é importante sem-pre, mas fundamental em situações de transição, como fusões e aquisições, mudanças no controle acionário ou troca de parte da equipe. Pela ansieda-de que causam, ocasiões assim são fontes inesgotá-veis de boatos, daí a importância de agir para mini-mizá-los. Para isso, a recomendação é comunicar tudo o que for possível, sem privilégios. “Com to-dos munidos das mesmas informações, o clima de medo e insegurança tende a diminuir”, afirma.

Gestor deve aGirPapel do líder é evitar mal-entendidos

Mas as fofocas não aparecem apenas nos períodos de mudança. Pequenas intrigas do dia a dia podem de-sunir equipes e tirar o sono dos gestores. O desafio é agir antes que a situação fuja do controle. Um bom exemplo vem do mesmo gerente envolvido no episó-dio relatado no início da matéria. Depois do ocorri-do, ele aprendeu que uma fofoca não esclarecida pode causar diversos problemas. Por essa razão, age

Pelo menos a julgar por um estudo realizado no ano passado pelo instituto OnePoll, as mulheres têm motivos para reclamar da

fama de campeãs absolutas quando o assunto é fofoca. A pesquisa ouviu cinco mil pessoas na Inglaterra e constatou que, em 22 dias, os homens gastaram quase nove horas a mais do que elas falando da vida dos outros. Entre os assuntos preferidos dos participantes do estudo do sexo masculino, aparecem histórias vividas por amigos e, claro, comentários sobre as mulheres. Elas, apesar do menor tempo destinado às fofocas, têm a língua mais ferina: criticam outras mulheres, comentam o peso das amigas e chegam até a dar pitacos na vida sexual de gente conhecida.

Mulheres levaM a faMa, Mas hoMens fofocaM Mais

comunique com transparência. Se todos tiverem a mesma

informação, o boato desaparece

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M A I S I N F O R M AÇÕ E S :

Grupo Foco: www.grupofoco.com.brLCZ: (11) 5182-7779

Sm

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FoFoca

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ao primeiro indício de boatos mal-dosos entre os colaboradores. Por lá, um dos comentários mais co-muns tem a ver com liberação para folgas. “Para que ninguém diga que um colega foi privilegiado ao folgar em um sábado, reúno a equipe e explico que ele só vai sair porque trabalhou mais durante a semana para compensar”, diz.

Essa atitude proativa também deve aparecer nos casos em que o gestor toma conhecimento de fo-focas na equipe sobre assuntos fora da sua alçada, mas relaciona-dos à empresa. Segundo o gerente de projetos do Grupo Foco, nesses

casos a saída pode ser procurar a direção ou a área de RH para conhecer a versão da companhia sobre o assunto e, com isso, desfazer qualquer mal-entendi-do. Líderes com difi culdade para enfrentar a situa-ção podem recorrer a cursos de gestão que incluam orientações sobre as melhores maneiras de lidar com questões comportamentais no ambiente de trabalho.

saLÁrio dos outrosFofoqueiros adoram esse assunto

Outro tema frequente nas fofocas é a questão salarial. ‘Faço o mesmo trabalho que fulano, mas ganho me-nos’ é uma das frases mais recorrentes. Novamente, Pereira Júnior lembra que é ilusão pensar em elimi-nar totalmente a situação, no entanto uma gestão que valoriza a meritocracia e conta com um plano de car-gos e salários bem defi nido reduz constrangimentos.

Com uma certa dose de atenção, fofoquinhas do dia a dia podem ser minimizadas sem gerar trau-mas. No entanto, as empresas devem fi car ainda mais atentas aos reincidentes nesse comportamen-to, sobretudo se os comentários prejudicarem al-guém. A pessoa que não consegue segurar a língua e acaba por jogar um colega contra o outro – ou mesmo contra o chefe –, precisa ter seu comporta-mento coibido. “O gestor deve chamá-la, esclarecer que tal prática é inconcebível no ambiente de traba-lho e exigir mudança”, aconselha o consultor. Se ela não vier, a demissão torna-se inevitável.

Já para os funcionários que convivem com um colega fofoqueiro, a dica é evitar espalhar o que ouve, diz Luís Felipe Cortoni, diretor da LCZ, con-sultoria em desenvolvimento de pessoas. “Só há fo-foca se alguém estiver disposto a ouvir. Afastar-se de quem espalha boatos maldosos é o melhor a fa-zer para não sair chamuscado”, garante. Veja, por-tanto, se a curiosidade compensa os riscos de ouvir quem costuma abordá-lo com a sugestiva pergun-ta: “Já sabe da última?”

“Quando a fofoca tem objetivos maldosos, precisa ser coibida.

em casos assim, pode até ocorrer demissão do funcionário”.

RUDNEY PEREIRA JÚNIOR, GRUPO FOCO

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