flavio gomes sobre historiografia escravidao

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Experiências negras e Brasil escravista: questões e debates Flávio dos Santos Gomes Departamento de História/IFCS/UFRJ O tema da Escravidão teve um papel fundamental nos novos percursos da historiografia brasileira. As temáticas da Escravidão (e aquelas das relações raciais) tiveram sempre espaços nobres na literatura das ciências sociais sobre o Brasil. Vários e importantes intelectuais brasileiros – em diversos contextos – se dedicaram ao assunto. De Nina Rodrigues, considerado o “pai” da Antropologia no Brasil no final do século XIX, passando por Gilberto Freire nos anos 30 até Florestan Fernandes nos anos 50. 1 O objetivo deste artigo é – com base em perspectivas teóricas e investigações empíricas recentes – analisar a formação das identidades e comunidades escravas a partir da problemática das fugas, fugitivos e os mundos da escravidão a sua volta. Em torno de um roteiro Fundamental – de início – seria tentar conectar as mudanças de perspectivas e enfoques da historiografia sobre a escravidão e o contexto da sua produção. Para lançar mão da comparação, poderia citar os Estados Unidos e alguns países da América Latina, onde os estudos sobre o negro e o índio respectivamente ganharam fôlego, redirecionamento e principalmente visibilidade com os movimentos pelos direitos civis e as lutas das populações indígenas. Para o caso norte-americano, poderíamos ainda citar a Guerra do Vietnã. Esse também seria um contexto internacional. A preocupação com as experiências históricas das chamadas “minorias” vinculou-se também a um movimento intelectual internacional de historiar mulheres, negros, índios, entre outros. As chamadas “minorias” e sua inclusão nos discursos histórico e historiográfico foram também um movimento da história destes grupos sociais e pessoas. 2 A questão não era somente incluir “minorias” – no caso dos africanos e seus descendentes. Era permitir-se uma outra concepção de história. Quais os fatores de mudança na história ? No caso da Escravidão, tais questões estariam implícitas em vários discursos. Chamaria atenção para três questões neste debate. Muitas das quais destacadas mais enfaticamente do que outras pela historiografia brasileira.

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Historiografia

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Experincias negras e Brasil escravista: questes e debates

Experincias negras e Brasil escravista: questes e debates

Flvio dos Santos Gomes

Departamento de Histria/IFCS/UFRJ

O tema da Escravido teve um papel fundamental nos novos percursos da historiografia brasileira. As temticas da Escravido (e aquelas das relaes raciais) tiveram sempre espaos nobres na literatura das cincias sociais sobre o Brasil. Vrios e importantes intelectuais brasileiros em diversos contextos se dedicaram ao assunto. De Nina Rodrigues, considerado o pai da Antropologia no Brasil no final do sculo XIX, passando por Gilberto Freire nos anos 30 at Florestan Fernandes nos anos 50.1

O objetivo deste artigo com base em perspectivas tericas e investigaes empricas recentes analisar a formao das identidades e comunidades escravas a partir da problemtica das fugas, fugitivos e os mundos da escravido a sua volta.

Em torno de um roteiro

Fundamental de incio seria tentar conectar as mudanas de perspectivas e enfoques da historiografia sobre a escravido e o contexto da sua produo. Para lanar mo da comparao, poderia citar os Estados Unidos e alguns pases da Amrica Latina, onde os estudos sobre o negro e o ndio respectivamente ganharam flego, redirecionamento e principalmente visibilidade com os movimentos pelos direitos civis e as lutas das populaes indgenas. Para o caso norte-americano, poderamos ainda citar a Guerra do Vietn. Esse tambm seria um contexto internacional. A preocupao com as experincias histricas das chamadas minorias vinculou-se tambm a um movimento intelectual internacional de historiar mulheres, negros, ndios, entre outros. As chamadas minorias e sua incluso nos discursos histrico e historiogrfico foram tambm um movimento da histria destes grupos sociais e pessoas.2A questo no era somente incluir minorias no caso dos africanos e seus descendentes. Era permitir-se uma outra concepo de histria. Quais os fatores de mudana na histria ? No caso da Escravido, tais questes estariam implcitas em vrios discursos. Chamaria ateno para trs questes neste debate. Muitas das quais destacadas mais enfaticamente do que outras pela historiografia brasileira.

A primeira seria o eixo econmico. Escravido e principalmente escravos seriam quase sempre descritos pela sua importncia econmica. Seriam propriedades dos senhores, semoventes. Mesmo - algumas anlises mais contemporneas - insistiram nas abordagens voltadas para a demografia. Escravos apareceriam mergulhados em nmeros e estatsticas. Era o trfico, a famlia escrava, a alforria. Apesar da nfase nos nmeros, tais estudos foram importantes. Alguns fundamentais. A famlia escrava apareceria com seus arranjos sociais, mudanas estruturais e cclicas. O debate sobre a mesma quase sempre marcado pelo preconceito e utilizao sem crticas das fontes de viajantes ganharia consistncia e flego com a pesquisa quantitativa e demogrfica das fontes seriais de inventrios, censos e listas nominativas. Outra questo importante seria aquele das estruturas de posse dos escravos. Havia estruturas diferenciadas. A propriedade escrava estava disseminada em todo o Brasil. Podia haver numa mesma regio tanto grandes fazendeiros absentestas da agro-exportao como pequenos lavradores produtores de alimentos.3J o tema do trfico e de suas dimenses numricas, possibilitaria esquadrinhar o litoral africano e fundamentalmente a idia de produo do escravo. A frica Romantizada no mais teria vez. Revelava-se agora o papel do trfico e dos traficantes na prpria histria africana, no s aquela econmica, mas a social e poltica.4 Quanto as abordagens sobre as alforrias apontariam para as classificaes sociais internas dos escravos. Suas origens, ocupaes e estratgias. No seria o caso s de tratar o tema no universo do paternalismo. A partir dos ndices sobre alforrias (ou seja, quem alforriado, por qu, como e quando isso acontecia) surgiria uma outra face da organizao escrava. Crioulos, mulheres e aqueles de ocupaes especi-alizadas tinham mais chances de comprar e/ou conquistar sua liberdade atravs da alforria. Alm disso, o preo estipulado pelas mesmas assim como a possibilidade de revogao, os padres de alforrias condicionais demonstraram as complexidades das relaes de poder das classes senhoriais. Junto com as alforrias destacariam os estudos sobre os libertos (inclusive os tutelados) e a populao negra livre. A partir deste enfoque tambm entenderamos as percepes de liberdade e da escravido. Cabe por ltimo destacar, que o estudo das alforrias no Brasil foi aquele mais original em termos de pesquisas de escravido nas Amricas. 5Ainda dentro do eixo econmico destacaria por ltimo os estudos sobre escravido urbana. Estes estudos, para alm das caracterizaes econmicas especficas do contexto escravo nas reas urbanas, articular-se-iam com os estudos de cultura escrava que comentaremos mais adiante. As formas de sociabilidade, as solidari-edades, os regimes de trabalho, padres de ocupao e moradia eram diversas. Es-cravido e Urbanizao seriam o foco das principais formas de controle social no Brasil do sculo XIX. Tm surgido excelentes estudos sobre as moradias populares, os libertos nas reas urbanas, irmandades religiosas de escravos e da populao negra, festas e capoeiras.6A segunda questo seria o eixo Poltica e Escravido. Falamos das abordagens sobre os movimentos escravos e as percepes polticas. De uma maneira geral, o protesto escravo s tinha sido analisado como reao. Enfim, escravos no agiam, supostamente s reagiam. Numa escravido boa como proposta por Freire no havia reao. Enquanto na escravido violenta da Escola Sociolgica Paulista, s valia destacar a reao como forma de enfatizar a crueldade do regime escravista. Um escravo-passivo nas anlises anteriores cedia a vez ao escravo-rebelde. Escravos no seriam apresentados como sujeitos histricos nestas anlises. Se eram coisa-passivo transformavam-se em coisa-rebelde. Mais recentemente, alguns estudos sobre revoltas escravas procuraram perscrutar os significados dos protestos e as percepes polticas que com eles interagiam vrios sujeitos e personagens. Escravos avaliaram sempre o mundo a sua volta. Portanto suas aes de enfrentamento no foram frutos da irracionalidade, dos castigos e maus-tratos. Cativos faziam poltica nas senzalas, nos quilombos, nas insurreies e nas cidades. A questo a para o historiador seria identificar as formas de fazer poltica. Uma historiografia mais tradicional sempre entendeu poltica como ao exclusiva das elites. Pelo contrrio, a poltica estava nas ruas. E tambm nas reas rurais. E l tambm estavam escravos, libertos e homens livres pobres. A propsito, escravos em vrios contextos articulariam suas lutas com outros setores da sociedade. Podia ser tanto populaes indgenas e de desertores militares como camponeses livres.7

Houve todo um esforo de reviso sobre os aspectos da suposta idia de docilidade dos cativos e do carter brando da escravido no Brasil. Com uma importncia marcante, uma corrente historiogrfica surgida no final dos nos anos 50, teve um profundo impacto quanto aos estudos sobre os movimentos dos escravos e a idia de poltica. Primeira e originalmente com a obra de Clvis Moura, e depois com os estudos de Alpio Goulart, Lus Luna e Dcio Freitas, as formas de resistncia seriam revisitadas numa proposta analtica marxista. Em tais estudos procurar-se-ia dar destaque s diversas formas de protesto, sendo que os quilombos assumiriam o papel principal nas anlises sobre a rebeldia escrava.8A ltima questo seria relativa a cultura. No necessariamente a escravido, mas o negro apareceu como foco de estudo associado ao Folclore e os temas da contribuio cultural. Falava-se em reminiscncia da cultura africana no Brasil. Era necessrio classific-la e tambm escolher seus cenrios. A frica no Brasil teria um palco privilegiado: A Bahia. Esta guardaria a frica nos seus mistrios e encantos. Foi um pouco por a que a antropologia caminhou numa tradio que guardada as especificidades percorreu de Nina Rodrigues, a Artur Ramos, a Edison Carneiro, a Roger Bastide e Pierre Verger. At a nada de novo. Esta prpria antropologia mais recentemente anos 80 demonstrou os caminhos da inveno africana no Brasil. Havia mesmo parodiando Beatriz Gis Dantas, Usos e Abusos da frica no Brasil.9 Uma tradio inventada. Textos de Manuela Carneiro, da prpria Beatriz Gis Dantas, Robert Slenes, Peter Fry e outros j destacaram isto.10 Contudo este debate ainda bem est longe de ganhar um ponto final. Isto no s para o Brasil. Aqui ou acol com falas ora permeadas da eloqncia acadmica ou da fora da militncia reaparecem. Ganham novas formas e outros argumentos. nfases e caminhos diversos.

Mas se a frica teve como local ideal no Brasil, a Bahia; a resistncia escrava, aquela fundamentalmente com um sentido cultural, tinha como espao privilegiado: o Quilombo. O outro local seria o campo da religio. Esta foi a construo da Histria e da Antropologia sobra a escravido no Brasil. Articulando religiosidade, cultura e resistncia tendo como roteiro o protesto escravo dois tipos de abordagem foram preponderantes. A primeira surgiu nos anos 30 sob a influncia de Nina Rodrigues e outros escritos temticos da Antropologia Cultural. A partir deste pressuposto antropolgico tinha-se o objetivo de caracterizar a resistncia escrava no Brasil numa perspectiva da contra-aculturao. Sabemos que foram nas obras de Edison Carneiro, Artur Ramos e, mais tarde, Roger Bastide, que tiveram fora interpretaes em torno da idia de resistncia cultural. Os significados religiosos das culturas escravas seriam to somente recriaes genunas de uma cultura de pureza africana. Tambm sabemos que o principal problema deste tipo de anlise a sua conceituao de cultura. Em grande medida, esta foi vista como uma experincia social esttica ou com mudanas histricas lineares, possibilitando a idia de difuso. 11Estudos mais recentes, pautados pela Histria como pela Antropologia, tem demonstrado como as comunidades escravas nas Amricas, fundamentalmente forjaram uma interao e transformao cultural original. Critica-se, assim, a argumentao de que havia uma forte separao ideolgica entre o desenvolvimento dos escravos crioulos nas plantaes e o carter africano das comunidades de fugitivos, provocando com isso um grande distanciamento cultural entre crioulos e africanos. Havia o carter da interao cultural e o desenvolvimento de novas snteses na constituio da cultura dos quilombos. Algumas comunidades quilombolas podem ter - por exemplo - constitudo sistemas religiosos a partir da fuso e reelaborao de prticas religiosas crists, africanas e indgenas. Esse processo possivelmente pode ter provocado mudanas significativas em algumas comunidades. Argumentamos no sentido de terem sido criados contedos e significados culturais nas senzalas e nos quilombos. Sempre melhor falar em recriaes e reinvenes. Para alm de algumas poucas e dispersas evidncias - e a necessidade permanente de se remover o p da documentao disponvel depositada nos arquivos locais tomamos como base um amplo debate terico e metodolgico sobre as especificidades das culturas escravas nas Amricas. No haveria necessariamente - enquanto modelos cristalizados e funcionalistas - uma cultura branca, outra negra, uma europia ou africana nas Amricas, e estas aqui encontrariam uma tambm nica e verdadeira cultura indgena. Pelo contrrio, houve pluralidades culturais - com semelhanas, diferenas, aproximaes e distanciamentos - de vrias origens que engendrariam-se, gestando experincias culturais diversas. Cultura, portanto, deve ser lida (e ou procurada) no contexto das experincias histricas de seus agentes. 12Significados culturais de origens africanas eram reinventados pelos escravos no Brasil, no s para a primeira gerao de africanos, mas tambm aquela de cativos crioulos. possvel pensar as culturas escravas, no numa perspectiva essencialista de africanismos ou mesmo como se os quilombos fossem necessariamente e/ou exclusivamente lugares ou guardies da cultura africana. possvel entender a cultura quilombola (ou culturas quilombolas para marcar suas complexidades e diversidades) tambm como uma extenso da cultura escrava. As senzalas podiam ser fontes constantes de backgrounds culturais para os quilombolas, como estes para as mesmas. claro que em algumas situaes, os impactos demogrficos do trfico negreiro, a crioulizao das populaes dos mocambos e das senzalas e o isolamento forado de alguns grupos quilombolas podem ter provocado interaes culturais diferentes. O fato que africanos e crioulos de uma maneira geral no estavam completamente afastados nas ruas, nas senzalas e nos quilombos de outros setores escravos, livres e negros.

As experincias negras podem ser resgatas em outras dimenses da histria. Incluindo a construo de identidades tnicas. Os eixos de anlise, incluindo Cultura, Poltica e Economia, poderiam aqui ser conectados.

O contra-ponto escravo: fugas, fugitivos e cotidiano

A historiografia sobre a escravido tem dado pouco destaque s fugas. Estas tm aparecido mais como atos repetitivos quase banalizados da resistncia escrava e, portanto, sem sentido poltico. Tambm o escravo fugido foi visto como algum que somente, inadaptado ao regime da escravido, extenuado pela carga de trabalho e as condies de vida impostas a ele (alimentao, vesturio, habitao, castigos fsicos, etc.) procurava evadir-se do domnio senhorial. Mesmo alguns estudos mais contemporneos deram destaque, principalmente aos aspectos meramente econmicos dos processos de fugas.13 Neste caso, os significados po-lticos das fugas, enquanto resistncia escrava, se davam to somente pela perda por parte do senhor de seu produtor direto (o escravo) e do lucro por ele gerado. Constitua-se assim uma viso ora simplista, ora generalizadora de que na maioria das vezes os cativos fugiam com o nico objetivo de causar prejuzo econmico aos seus senhores ou porque eram muito castigados.

As estratgias dos escravos fugidos foram variadas e complexas. Mais do que fugir, o fato de se permanecer escondido, oculto, longe dos senhores e capturadores era uma arte. Tudo tinha que ser pesado e temperado. O momento certo para a fuga, as direes e caminhos a tomar, as possveis redes de proteo e solidariedades a serem acionadas, as precaues, etc. A fuga podia ser uma longa e difcil batalha pela liberdade. Infelizmente apenas conhecemos os cativos que se no perderam a guerra sofreram derrotas em algumas destas batalhas. Portanto, s conhecemos as estratgias dos fugitivos que acabaram capturados. Mesmo aqueles que passaram longos perodos como fugidos. Quase nada sabemos sobre aqueles que nunca mais chegaram a ser encontrados pelos seus senhores.

As motivaes e/ou razes das fugas no eram menos complexas. Maus-tratos, castigos e rigores do cativeiro eram alegados. Outros contextos, porm, surgiriam. O escravo Joaquim Maurcio, por exemplo, foi preso como fugido em Pitangui, em Minas gerais, onde estava trabalhando para Antnio Cardoso. Era natural da Bahia e tinha sido trazido para o Rio de Janeiro. Fora comprado por um fazendeiro de Cantagalo. Ali trabalhou mais de um ano. Alegou que fugiu apenas por ter ouvido de um agregado da casa de seu senhor que ele estava forro pois no havia sido matriculado.14 J falamos que podia-se conseguir ficar anos longe da vista dos se-nhores. Foi o que aconteceu com um outro Joaquim. Este era africano, um mo-ambique, e trabalhava em Cabo Frio. Estava fugido h mais de cinco anos e sua pousada era incerta, andando vrias vezes pelo Bananal e serra acima. Indo para Campos foi cercado pelo azar. Acabou nas mos de um capito-do-mato.

Para permanecer fugido vrias estratgias seriam tentadas. O pardo Adriano fugiu de Vassouras, em 1848, foi para Corte e assentou praa no Corpo Municipal Permanente. Disse ser livre e chamar-se Adriano Leite de Meirelles. Um ano antes no tinha feito diferente um tal Teodoro. Sua proprietria, Dona Ana Luiza Arajo Bastos, com um tom indignado, fez um petio querendo reaver o seu cativo. Informado a respeito, o Comandante Geral do Corpo Municipal justificou sua bobeada, dizendo que Teodoro era de cor bastante branca, cabelos corridos, e pretos, com ofcio de marceneiro.15 Se escravos alegavam maus-tratos, alguns se-nhores mesmo acusavam alguns fujes de ingratos. Este foi o caso do africano Sidnei, natural de Cabinda. Obteve uma promessa de alforria no prazo de cinco anos com a condio de bom comportamento. Seu senhor, entretanto, desanimado disse que este escravo tem se portado pessimamente, ausentando-se da casa, recusando obedecer e tambm seduzindo um moleque nosso.16 Mariano Jos Cupertino, tambm no teve sorte. Pediu ao Ministrio da Justia, em 1852, para trocar a africana livre Benta por outra. Alegava ter esta o insuportvel vcio de fugir, razo pela qual o levou a solicitar a troca do mesmo, pois j estava cansado de fazer despesas com pedestres, visando captur-lo nas suas repetidas fugidas. J de uma outra africana livre Manuela sua senhora dizia no ser merecedora de carta de emancipao, em 1853, uma vez que sua conduta no havia sido boa, tendo fugido vrias vezes, chegando ultimamente a ficar mais de seis meses foragida.17Episdio interessante aconteceu mesmo com o bem falante e habilidoso pardo Joo, que sabia ler e escrever, tocar flauta, gaita viola, ajudar missa e trabalhar sofrivelmente de carpinteiro e alfaiate. As peripcias e mesmo ousadia da sua fuga so contadas pelo padre Manoel Gomes de Figueiredo, seu proprietrio, um carrancudo dono de engenho no termo do Divino Esprito Santo de Inhambupe, na Provncia da Bahia. Sua fuga acorreu nos ltimos dias de 1846. Talvez na noite de natal, depois da missa. No incio de 1847, o tal Joo j era praa na Charrua Corvia e logo depois grumete na Corveta Bertioga. Adoeceu. Foi parar no Hospital de Marinha da Corte. Descoberto tratou novamente de fugir. Com o nome falso de Jos de Figueiredo parecia que estava agora em Maca, no interior do Rio de Janeiro. De l tinha a audcia de escrever cartas para o seu senhor e mesmo para outros escravos. Nelas ridicularizava a possibilidade de ser capturado, alegando que estava bem protegido em Pernambuco, e incentivava outros escravos a fugirem. Os carimbos do correio denunciaram o pardo Joo, porm continuaria longe das mos do desmoralizado padre e seu senhor. Este ainda em 1853 pedia as autoridades para localiz-lo. Boa ocasio, talvez sucesso na fuga.18 Em 1848, Domingos Cabinda e Rosa Muange, tiveram a criminosa habilidade de abusar da amizade, sinceridade e boa f de Manoel Pinto da Silva, seu proprietrio. Aproveitando-se da sua cegueira botaram o p na estrada, levando consigo suas cartas de alforria condicional de prestao de servios.19 Boa ocasio e motivos teve, em 1856, Janurio que mudou o nome para Csar para escapar de uma fazenda em Valena. Capturado, alegou ter sido roubado e seduzido para ir trabalhar numa fazenda do cunhado do Imperador, onde passaria muito bem, pois l teria cem mil ris, teria domingos, e dias santos para descansar e negociar, e nos outros dias trabalharia pouco, que existiam muitas raparigas e poucos rapazes. Nada mal. Fugindo entre roubos e sedues escolhia uma outra escravido.20Eram vrios os fazendeiros e lavradores espertalhes que se aproveitavam dos servios de escravos fugidos. Em Maca, em 1864, cerca de 26 cativos (de um mesmo senhor) dados como fugidos foram encontrados trabalhando na fazenda do Deitado, de propriedade de Bernardo Lopes da Cruz.21 Este foi denunciado como acoitador e ladro de escravos. Os cativos recapturados confirmaram tal denncia e fizeram outras revelaes. Tinham sido vendidos h pouco tempo para os irmos Souza Passos, que lhes concedeu o prazo de um ms pouco mais ou menos para venderem as suas roas e criaes, e se preparassem para a viajar. Iriam trabalhar na fazenda Nova. Pior que isso foi o aviso que receberam de Custdio Portugal, um pequeno lavrador de arroz: na nova fazenda o passadio era mau e o cativeiro rigoroso. Como conselho falou tambm que fugissem todos a casa de Bernardo Lopes, que lhes daria agasalho por que os queria comprar, e que ele Custdio ficaria com alguns. Fugiram. Denncias de aoitamento de fugidos e roubos de escravos, porm, chamaram a ateno das autoridades locais. Acabaram sendo presos. Segundo o crioulo Agapito interrogado: inicialmente, de dia estes escravos tra-balhavam na colheita e de noite eram recolhidos nas senzalas locais. Aps o envio das expedies punitivas, estes escravos fugidos foram aconselhados a fazer ran-chos nas matas da fazenda. Ali tambm plantavam, mantinham sua subsistncia e trocavam produtos com cativos assenzalados. Naquela situao existia outros es-cravos fugidos da regio.22Neste caso, os escravos insatisfeitos com a troca de senhores e, portanto de cativeiro, acabaram fugindo coletivamente. Deixando-se seduzirem foram trabalhar para um outro fazendeiro, com a promessa de compra dos mesmos. Enquanto isso colhiam caf, ora dormiam nas senzalas da fazenda para onde tinha fugido, ora nos matos em ranchos. Encontraram sob ordens de um futuro e prometido senhor ajuda de escravos e mesmo de outros fugitivos que ali j se achavam. Era um tipo de quilombo pacfico que bem revela interesses, motivaes, estratgias e razes de fugas, fugitivos, ladres, fazendeiros e coiteiros.

Fugitivos tinham que contar com a proteo (mesmo interesseiras) e com as solidariedades nas suas aventuras. Um conhecido escravo Serafim fez escola. Propriedade de Domingos Pedro Ribeiro, saiu fugido da cidade de Leopoldina, na Provncia de Minas Gerais, indo parar na Corte, em 1884. Fez tudo isso a p, passando ora numa, ora noutra fazenda, com os escravos e ora no mato. Nas fazendas onde buscava proteo, tinha escravos seus conhecidos e at desconhecidos que lhe dava mantimentos com os quais se sustentava. Em 1855, reclamava-se na subdelegacia de Iraj que grupos de escravos da fazenda Imperial que viajavam freqentemente de Santa Cruz para a Quinta da Boa Vista traziam no meio deles misturados, fugidos e desertores. Dizendo-se escravos do Augusto Soberano impediam a aproximao de qualquer inspetor de polcia ou de pedestres.23 Solidariedades demais podiam acabar mal. O preto fugido Apolinrio acabou matando o africano livre Domingos, isto em So Paulo, em 1871. O motivo principal foi uma dvida no paga. Processado, Apolinrio justificou-se diante do Juiz, dizendo que andava fugido na cidade de So Paulo e contratou o africano livre Domingos para fazer sua comida diariamente, para a qual pagava e fornecia alimentos. Numa ocasio, Domingos completamente embriagado no preparou sua refeio e ainda o in-juriou. Apolinrio acabou sendo condenado a gals perptuas, o que recorreu o seu proprietrio Francisco Antnio Nogueira. O juiz ainda quis saber grifando no processo de apelao como Apolinrio conseguia arranjar dinheiro para comprar mantimentos e pagar Domingos. Este simplesmente explicou que o dinheiro conseguido foi da venda dos produtos da sua roa, pois estava foragido h apenas um ms.24 Em Pelotas, em 1869, conflitos tambm acabaram por gerar o assassinato do escravo Joaquim Gung. O acusado um outro cativo de nome Gonalo confessou o crime e alegou que o dito Gung lhe tinha negado um pedao de carne e um bocado de farinha para comer por ocasio em que andava fugido no mato e que no comia a cinco dias.25No desfile de estratgias dos fugitivos, alm de mudar de nome, trocar de roupa, esquecer o nome do senhor, tentar passar-se por livre e liberto, podemos incluir ainda a questo da lngua. No contexto da proibio do trfico e da chegada ilegal de africanos, fugidos crioulos tentaram, por exemplo, assumir a identidade de africanos. Em, 1837, numa petio foi isso que reclamou Antnio Francisco Terra, morador na vila de Barbacena, em Minas Gerais. Alegou que trs escravos seus fugiram, indo parar na Corte. Capturados, estes fingiram ser boais e novos, quando na realidade eram ladinos. Instaurado um processo acabaram sendo considerados africanos livres. Irado, o tal Terra que bem podia ser mais um comprador de escravos africanos depois da lei de 1831 resmungava pelos quatro cantos dizendo: para se evadirem a escravido de nada mais careciam os escravos, que de fingir-se ignorantes da linguagem deste Imprio, a falarem somente a da sua nao.26 Foi, sem dvida, com essa estratgia que Caetano Congo estava quase ganhando uma queda-de-brao com seu senhor em 1844. Fugido, foi apreendido, avaliado como boal, interrogado e considerado africano livre. Seu proprietrio Manoel Pedro de Alcntara Ferreira e Costa entrou com um processo de revista cvel pela sua posse. Perdeu na primeira instncia e apelou para a Corte de Apelao, apresentando mais documentos, testemunhas, recibos, etc. Dizia Ferreira e Costa: ainda que no apresentasse bastante desembarao no falar a lngua, no era isso o que devia decidir ser ou no boal o referido escravo, visto que ningum ignorava o fato de que os pretos da Costa, particularmente os Congos, uma vez importados j adultos nunca falavam bem a lngua portuguesa. Caetano acabou perdendo as batalhas do Tribunal, contra as quais tinha poucas armas. Em 1847 volta a ser declarado escravo.27

Em 1839, a secretaria de Estado dos Negcios da Justia mandava publicar instrues a respeito dos procedimentos com os fugidos. Aps ser preso, o escravo deveria ser imediatamente interrogado a fim de se identificar o verdadeiro proprietrio. Tambm era necessrio imediatamente dar a maior publicidade possvel na sua captura atravs de jornais ou editais, revelando seus sinais e caractersticas. Sabia-se o quanto que os fugidos davam informaes falsas e incompletas sobre seus senhores e locais de origem.28 O contedo de tais instrues revela, por outro lado, como as autoridades pareciam conhecer (pelo menos um pouco) os significados das estratgias dos fugitivos. Para permanecer fugidos podiam trocar seus nomes ou aqueles de seus senhores. Porm, quando capturados poderia ser mais interessante revelar logo a verdade. Ficariam menos tempo em cadeias, voltariam a seus donos e mesmo depois de castigos, punies e apadrinhamento poderiam planejar novas fugas. Outros fugidos tambm podem ter omitido os nomes de seus senhores e acabaram sendo arrematados em leiles pblicos. No se conseguia a liberdade, mas inventava-se outra escravido.

Inventando comunidades e refazendo identidades: um episdio de fronteiras

Mocambos e fugitivos davam o que falar nas reas de fronteira do Gro-Par coma Guiana Francesa (esta regio atualmente corresponde ao estado do Amap). Nesta regio havia pelo menos dois tipos de comunidades de fugitivos. Mais para o interior da floresta ainda que no isolados tinham grupos de quilombolas mais estveis e numerosos (a partir de 30 pessoas). Muitos destes podem ter se formado na segunda metade do sculo XVIII. Podiam igualmente reunir desertores e ndios. Dedicavam-se a produo de farinha e outros gneros, e mantinham trocas mercantis (inclusive prestao de servios) com colonos franceses nas fronteiras. Neste caso, mocambos de negros e povoaes de gentios misturavam-se.29Tambm mocambos menores, formados por pequenos grupos de quilombolas (entre 5 e 15 fugitivos) surgiam aqui ou acol. Possuindo maior mobilidade, migravam freqentemente, sempre, porm, rondando vilas e povoados. Estabeleciam pequeno comrcio clandestino e buscavam proteo junto a outros escravos, regates e lavradores. Os mocambos mais estveis e duradouros, tanto como aqueles menores, mantinham contatos entre si. Assim como, aquelas fronteiras estavam borradas em termos dos complexos grupos sociais e estratgias ali desenvolvidas mocambos surgiam e desapareciam, antes mesmo que quaisquer iniciativas de represso pudessem ser acionadas.30 Vamos acompanhar aqui um episdio, envolvendo fugitivos e a formao de comunidades tnicas em fugas.

Em 1848, as autoridades andavam s voltas, perseguindo um grupo de fugitivos no Amap. Alm de fugidos, estavam sendo procurados por terem cometido assassinatos na ilha de Arapiranga. Teriam matado um colono alemo e sua mulher, seqestrando seus dois filhos menores. Perseguies ocasionaram prises e investigaes. Resultou-se, na ocasio, as providncias, que se devem dar, imposta a medida em maior escala reclamada de tantas partes para a expurgao dos lugares infestados de escravos, e criminosos fugidos. Se no fosse s isso, havia o costumeiro problema relativo aos quilombos em todas as partes do Brasil dos acoutadores dos fugitivos. Coibir tal prtica de proteo, incluindo comrcio clandestino, era muito difcil, seno impossvel. Tais redes de proteo e comrcio eram extensas e clandestinas. No havia muitas vezes a quem prender posto que as denncias no transformavam-se em comprovao. Alm disso, no havia lei especfica, destacando este tipo de crime. Com relao a esta questo assim argumentaria o chefe de polcia da Provncia do Gro-Par:

Quanto a acoutadores de escravos, no h este crime classificado no Cdigo Criminal: os proprietrios tm contra eles ao cvel para ressarcimento dos lucros cessantes dos servios de seus escravos. Eu penso que seria forado inteligncia o considerar-se esse acoutamento como um efetivo furto, ou roubo de escravos.Naquela ocasio, as autoridades policiais do Gro-Par tentavam solucionar, entre outras coisas, a extrao e o comrcio clandestino da borracha. Na regio do Amap, em seus vrios distritos sabia-se que vagavam desertores e escravos fugidos at mesmo por barracas de seringueiros. Na perseguio aqueles fugitivos acusados de assassinato e seqestro em 1848, seria descoberta uma extensa rede de comrcio clandestino, no muito distante da vila de Macap:

Levando guardas e paisanos que num caminho encontrou em cuja explorao achou barracas, roados, plantaes de manivas, e milhos, e indcios de manufaturar a goma elstica pelos centros que bem indica serem de fugidos e desertores e tendo capturado-se apenas 3 pretos e 1 preta que h tempos se achavam fugidos.

Apesar de pequeno grupo, estes fugitivos estavam atentos s possibilidades de trocas comerciais atravs da economia extrativista. J tendo canoas, protegiam-se construindo seus mocambos na parte de terra firme das ilhas. Passaram pela do Par, das Onas, das Barreiras e do Arapiranga. Este mocambo era formado por vrios pequenos grupos de fugidos. No mximo 2 ou 3 escaparam juntos de seus senhores. A maioria estava dispersa e organizaram o mocambo depois de anos de fuga.

Pedro, escravo de um ingls, um tal Gudany revelou que havia fugido de seu senhor h trs anos, da cidade do Par junto com Laurindo, e Joaquim, escravos de Jos Ferreira Lisboa, da mesma cidade do Par, e vieram para a Ilha das Onas. Ali encontrariam o preto Antnio, escravo de Fernando Jos da Silva e a preta, Ana, escrava de Maria Madalena tambm fugidos de seus senhores da Cidade do Par, e reunidos todos sentaro [sic] para estes distritos. Com uma s canoa resolveram roubar outra, quando acabaram supostamente cometendo os assassinatos na Ilha de Arapiranga.

Outros grupos de fugitivos uniram-se a estes. Outras histrias de fugitivos surgiriam. Capturada no mocambo do Rio Aneurapuc Felcia revelou ter fugido de seu senhor Fernando Jos Rodrigues j h anos. Escapou junto com o preto Joo Tat, escravo de Dona Cndida da Vila de Chaves, a quem tinha encontrado logo na fuga. Dali rumaram para o rio Vila-Nova e acamparam em um igarap de nome Lindo onde estiveram e ali se uniram [ilegvel] outros fugidos. Novamente separaram-se, ganhando agora a companhia do preto Celestino, escravo fugido de Procpio Antnio Rolla. Diria ainda Felcia que: ... poucos tempos depois se vieram aos mocambos nos cabeceiras de um igarap, brao do mesmo Aneurapuc e ali fizeram roas de maniva, e fabricavam seringa. Reunir-se-ia a tambm o preto Manoel Cumbam, tambm fugido de Procpio Antnio Rolla e aquele Pedro, escravo do tal ingls Gudany. Mais ainda: vendiam os gneros que podiam obter para Florncio de Silva Santos e Francisco Xavier de Souza.

As rotas do comrcio clandestino e redes de proteo e acoutamento eram complexas. O principal encarregado era o preto Celestino. Era ele que vinha trazer os gneros, que adquiriam ao sitio do dito Florncio, e que dali levava o que comprova ao dito Santos, em troco. J o preto Manoel Cumbam vendia os sapatos de seringa que fazia ao preto Antnio, escravo do mesmo Florncio. Para alm das solidariedades, nestas redes de proteo e comrcio havia tambm conflitos. A prpria Felcia afirmou:

que ouvia queixar-se o dito preto Manoel que o referido preto Antnio lhe devia tanto que h poucos tempos he que vindo com os pretos, Celestino, Manoel, e Pedro, e achando na Boca do Rio, o mulato Hilrio, e o preto Antnio, escravo do dito Florncio o dito Manoel disse ao referido Antnio, quando lhe havia por [sic] o seu dinheiro aos sapatos que lhe havia dado para lhe vender ao que respondeu o dito Antnio, que os ainda no tinha vendido. Disse mais que o vero prximo passado o dito Florncio mandou o seu mulato Hilrio ao mocambo, donde eles estavam chamar o preto Celestino para lhe ir fazer cinza cuja cinza ele Celestino lhe veio fazer dez alqueires, e lhe te ouvisto [sic] a ele dizer que ainda o dito Florncio lhos no tinha pago.Vemos aqui a complexidade e autonomia deste comrcio clandestino. Para alm de fugitivos e regates, dele participava proprietrios de escravos que utilizava estes como intermedirios. Mais do que a simples troca de gneros excedentes produzidos nos mocambos, havia mesmo a demanda e encomenda de alguns produtos. Alm disso, os escravos assenzalados tinham seus interesses e faziam seus prprios negcios. E isso gerava conflitos. Tambm com os fugitivos. Alguns fugitivos po-diam ficar refns e/ou dependentes de seus protetores, inclusive aqueles escravos. Esse parecia ser o caso de Manoel Cumbam que ao invs de dinheiro s recebia promessas. Alis, o preto Cumbam tinha sua prpria histria de fugas e aventuras naquelas paragens. Possua j um currculo de 3 anos de fugido. Uma fuga solitria que no demorou achar companhia, posto afirmar que logo que fugiu se reuniu com o cafuz Gregrio, e o preto Jos, escravos do casal do falecido Martinho Bentes, que to bem andavam fugidos. Se um era pouco, trs no eram demais. Tais fugidos se foram amiziar [homiziar?] com o mulato Jacob, escravo do Padre Jos, residente em Mazago. Viviam os quatro prximos ao rio Marac e andavam com franqueza acoitados por quase todos os moradores daquele rio. Como moeda de troca produziam estopa, a qual vendiam para Clemente de Rosa do Esprito Santo, Luiz de Tal e Mateus Flexa, moradores em Mazago. Conseguiam vender a arroba de estopa por mil ris cada e chegaram a comercializar 29 com s um comprador. Entretanto, o preto Cumbam parecia estar mais preocupado com as aventuras das suas andanas pela floresta do que pesos, valores e medidas. No demorou muito obra de seis meses se passou para a Ilha do Par e se juntou com o preto Faustino tambm fugido. Igualmente, no esquentaria lugar, pois ali esteve poucos dias, depois passou-se para o rio Vila-Nova, para o lugar em que foi apanhado. J ento teria a companhia dos fugitivos Celestino, Pedro e Felcia. Ali ocupavam-se em lavouras de algodes, fabricando seringa e manivas, salgas de peixe, apanhando jaboti e ma-tamatazes. Vendiam para Florncio e Francisco, a quem nos referimos anteriormente. Produziram ainda 12 paneiros de cinza, recebendo como pagamento doze covados de riscado botalho do dito Florncio. Cumbam parecia ser tambm escravo das dvidas. Muitos eram aqueles que lhe devia dinheiro. Os principais eram o mulato Hilrio, o branco Florncio e tambm o mulato Antnio. S para este ltimo teria entregue 24 paneiros de cinza. Fora este, tinha para receber 16 a 20 mil ris dos sapatos de seringas vendidos. At agora nada de dinheiro. Mas a sorte no foi companheira de Cumbam que acabou capturado.

Outras revelaes surgiriam no depoimento de Manoel Joaquim dos Reis, acusado de dar proteo e manter comrcio com esses fugitivos. A propsito, foi este acusado quem serviu de informante e guia para a expedio contra estes fugitivos do Amap. Talvez quisesse escapar da cadeia, facilitando a priso dos mesmos. O tal Reis, confessou ter correspondncia direta com o preto fugido Faustino, a quem ven-dia machados, farinha, e sal, recebendo em troco sapatos de seringa. Numa dessas transaes comerciais entrou, inclusive, uma panela, que achada no mocambo in-vadido serviu de prova incriminadora. Sabemos que o tal Reis assim como Florncio Fontes e Francisco Xavier no eram os nicos homens livres naquelas paragens a se meterem com negcios junto aos fugitivos. Revelaria ainda Joaquim dos Reis:

... que sabe que tambm se correspondia em Bernardo que capito do mato, e igualmente se correspondia com o mulato Macrio, e o preto Igncio, escravos de Carlos Francisco Saraiva, assim como tambm que da barraca do dito preto Faustino tinha uma estrada direita a casa da roa dos preto do dito Carlos Saraiva e que era o caminho mais perto ao rancho que servia de barracamento ao dito preto Faustino.Este episdio no Amap, em 1848 revela com detalhes as estratgias multifacetadas de fugitivos, suas opes, possibilidades econmicas e alianas com homens livres e escravos.31 Histrias de fugitivos que andavam sozinhos, se reuniam a outros fugitivos (que podiam escapar em duplas ou trio), agrupavam e tambm se separavam, migrando para diversos lugares so igualmente muito interessantes. Indicam como fugitivos e quilombolas se misturavam, ficando difcil caracteriz-los separadamente, assim como projetos de fugas e formao de quilombos eram permanentemente reavaliados. Numa rea de fronteira considerada aqui tanto enquanto limites territoriais com outras colnias, como de reas econmicas abertas como o Amap o quadro era ainda mais complexo.

At os anos 60 falava-se de Escravido to somente. A sociedade escravista apareceria como homognea. Ora branda, ora cruel. S havia espao para senhores e escravos, e o palco privilegiado era a casa-grande, a plantation e a economia agro-exportadora. O tema da Escravido geral no Brasil cedeu a vez s anlises sobre o Escravismo nos anos 60 e 70. O que importava agora era entender a sociedade escravista atravs do seu sistema, articulado e estrutural. Tanto na idia de Escravido generalizante como naquela de Escravismo, poucos espaos haviam para os sujeitos histricos, fundamentalmente os escravos. Essa foi a principal contribuio da historiografia a partir de meados dos anos 80 e principalmente nos anos 90. A Escravido generalizante e o Escravismo cederam a vez para a Histria dos Escravos.32Para alm da fragmentao, mas sim recuperando a diversidade, novos estudos sobre o Brasil escravista tm recuperado as experincias dos trabalhadores escravizados, sua agncia, arranjos familiares, cotidiano, mentalidades e reinvenes culturais.

Notas bibliogrficas:* Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla em andamento que conta com financiamento do CNPq. Agradecemos tambm o auxlio instalao da FAPERJ

1 Ver: FERNANDES, FLORESTAN. A Integrao do Negro na Sociedade de Classes. 2 volumes. So Paulo, Dominus/EDUSP, 1965; FREYRE, GILBERTO. Casa Grande e Senzala. Formao da Famlia brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro, Maia & Schimidt, 1933 e RODRIGUES, NINA. Os Africanos no Brasil. 5 edio, So Paulo, Ed. Nacional, 1977.

2 Ver: PARISH, PETER J. Slavery. History and Historians, Nova Iorque, 1989.

3 Ver: SCHWARTZ, STUART B. Recent Trends in the Study of Slavery in Brazil. Luso - Brazilian Review, volume 25, nmero 1, vero 1988, p. 1-25 e Slaves, Peasants, and Rebels. Reconsidering Brazilian Slavery University of Illinois Press, 1992.

4 Ver, entre outros: ALENCASTRO, LUIS FELIPE DE. O Trato dos Viventes. A Formao do Brasil no Atlntico Sul. So Paulo, Cia. das Letras, 2000

5 Sobre alforrias ver: EINSENBERG, PETER L. Homens Esquecidos. Escravos e Trabalhadores livres no Brasil Sculos XVIII e XIX, Campinas, UNICAMP, 1989; Modernizao sem mudana; a indstria aucareira em Pernambuco, 1840-1910. Rio de Janeiro, Paz e Terra, Campinas, UNICAMP, 1977; MATTOSO, KATIA M. DE QUEIROZ. Ser Escravo no Brasil. So Paulo, Brasiliense, 1982; SCHWARTZ, STUART B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. So Paulo, Cia. das Letras, 1988

6 Sobre escravido urbana ver: ALGRANTI, LEILA MEZAN. O Feitor Ausente. Estudos Sobre a Escravido Urbana no Rio de Janeiro - 1808-1821. Petrpolis, Vozes, 1988; CARVALHO, MARCUS DE. Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo. Recife, 1822-1850. Recife, Ed. Universitria, 1998; CHALLHOUB, SIDNEY. Vises de Liberdade. Uma Histria das ltimas dcadas da Escravido na Corte. So Paulo: Companhia das Letras, 1990; GRAHAM, SANDRA LAUDERDALE. Proteo e Obedincia: criadas e seus padres no Rio de Janeiro. 1860 1910. So Paulo, Companhia das Letras, 1992; KARASCH, MARY C. A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro. So Paulo, Cia. das Letras, 2000 e SOARES, CARLOS EUGNIO LBANO. Zungu: rumor de muitas vozes. Rio de Janeiro, Arquivo Pblico Estadual, Concurso Memria Fluminense, 1998 e WISSENBACH, MARIA CRISTINA CORTEZ. Sonhos africanos, Vivncias ladinas: escravos e forros no Municpio de So Paulo, 1850-1888, So Paulo, Hucitec, 1998

7 Sobre polticas escravas as referncias continuam sendo os trabalhos de Joo Reis: O Jogo duro do dois de Julho : O partido negro na independncia da Bahia. in : REIS, JOO JOS e SILVA, EDUARDO. Negociao e Conflito : A resistncia Negra no Brasil Escravista. So Paulo, Companhia das Letras, 1989, p. 233-84; O levante dos mals : uma interpretao poltica. in : REIS, JOO JOS e SILVA, EDUARDO. Negociao e Conflito : A resistncia Negra no Brasil Escravista. So Paulo, Companhia das Letras, 1989, p. 99-122; Slave Rebellion in Brazil. The Muslin Uprising of 1835 in Bahia, The Johns Hopkins University Press, 1993; Resistncia escrava na Bahia. Poderemos brincar, folgar e cantar...: O Protesto escravo na Amrica. IN: AFRO-SIA, Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBa, Salvador, nmero 14, Dezembro de 1983, pp. 107-122 e Um Balano dos estudos sobre as revoltas escravas da Bahia. in: REIS, JOO JOS. (org.) Escravido e Inveno da Liberdade. Estudos Sobre o negro no Brasil. So Paulo, Brasiliense, 1988, p. 87-140 e Rebelio escrava no Brasil. A histria do levante dos mals (1835). So Paulo, Brasiliense, 1986.

8 Ver: QUEIROZ, SUELY ROBLES REIS DE. Rebeldia Escrava e Historiografia. ESTUDOS ECONMICOS, So Paulo, IPE-USP, volume 17, nmero especial, 1987, p. 7-35. e REIS, JOO J. Quilombos e Revoltas Escravas no Brasil. Revista USP, nmero 28, Dezembro/janeiro/fevereiro, 1995-96, pp. 14-40. Sobre escravido no Brasil, ver tambm os debates em: CARDOSO, CIRO FLAMARION S. Escravido e Abolio no Brasil. Novas Perspectivas. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1988 e GORENDER, JACOB. A Escravido Reabilitada. SP, tica, 1991. Um importante estudo mais recente que recupera as principais questes e debates da historiografia brasileira aparece: SLENES, ROBERT. Na Senzala, uma Flor. Esperanas e Recordaes na Formao da Famlia Escrava. RJ, Nova Fronteira, 1999

9 Ver: DANTAS, BEATRIZ GIS. Vov Nag, Papai Branco. Usos e Abusos da frica no Brasil. SP, Brasiliense, 1988

10 Ver: CUNHA, MANUELA CARNEIRO DA. Negros estrangeiros; os escravos libertos e sua volta frica. So Paulo: Brasiliense, 1985; FRY, PETER & VOGT, CARLOS. Cafund: A frica no Brasil. Linguagem e sociedade. So Paulo, Cia. das letras, 1996 (com a colaborao de Robert Slenes); SLENES, ROBERT W. Malungu, Ngoma vem! : frica coberta e descoberta no Brasil. REVISTA USP, nmero 12 (dez./jan./fev., 1991-1992). Na bibliografia internacional h vrias perspectivas de interpretaes sobre a criao de culturas e identidades dos africanos. Ver, entre outros: AGORSAH, E. KOFI.(org.) Maroon Heritage. Archaelogical Ethnografic and Historical Perspectives. University of the West Indies, 1994; BARNES, SANDRA J. (Eds.) Africas Ogun Old World And New. Indiana University Press, 1992; MINTZ, SIDNEY W. & PRICE, RICHARD. An Anthropological Aproach to the Afro-American Past; A Caribbean Perspective. Piladelfia, ISHI, 1976; MULLIN, MICHAEL. Africa in America. Slave Acculturation and Resistance in the America South and the British Caribbean, 1736-1831., University of Illinois Press, 1992 PALMI, STEPHAN. (org.). Slave Cultures and the Cultures of Slavery. Knoxville, The University of Tennesse Press, 1995; STUCKEY, STERLING. Slave Culture : Nationalist Theory and The Foundations of black America, Nova Iorque, 1987;THORNTON, JOHN K. Africa and Africans in the Making of the Atlantic World, 1400-1680, Cambridge University Press, 1992; VLACH, JOHN M. (org.) In: By The Work Of Their Hands. Studies in Afro-American Folklife. University Press of Virgnia, 1992.

11 Ver: BASTIDE, ROGER. As Amricas Negras: As Civilizaes Africanas no Novo Mundo. So Paulo, DIFEL/EDUSP, 1974; As Religies Africanas no Brasil. Contribuio a uma Sociologia das Interpretaes das Civilizaes. So Paulo, Livraria Pioneira Ed., 1985; CARNEIRO, EDISON. Ladinos e Crioulos; estudos sobre o negro no Brasil. Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 1964; O Quilombo de Palmares., 3 ed., Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 1966; RAMOS, ARTHUR. A Aculturao Negra no Brasil, So Paulo, Cia. Ed. Nacional, Col. Brasileira, 1942; As Culturas Negras no Novo Mundo. 3 edio, So Paulo, Ed. Cia. Nacional, 1979; O Negro Brasileiro. 1 edio, Rio de Janeiro, Ed. Civilizao Brasileira, 1935; O Negro na Civilizao Brasileira. Rio de Janeiro, Ed. Casa do Estudante do Brasil, 1953 e RODRIGUES, NINA. Os Africanos no Brasil. Op. Cit.

12 Ver, entre outros: REIS, JOO JOS & GOMES, FLVIO DOS SANTOS.Uma histria da Liberdade, In: Liberdade por um fio. Histria dos Quilombos no Brasil. SP, Cia. das Letras, 1996. Sobre maroons ver a reviso das anlises de Price em: PRICE, RICHARD. Resistance to Slavery in the Americas: Maroons and their Communities. Indian Historical Review, nmero 15, Volume 1-2 (1988-89). Ver ainda os clssicos: CRATON, MICHAEL. Testing the Chains. Resistance Slavery in the British West Indies. Cornell University Press, 1982; GASPAR, DAVID BARRY. Bondmen & Rebels. A study of Master-Slave Relations in Antigua with implications for Colonial British America., The Johns Hopkins University Press, 1985 e GENOVESE, EUGENE. Da Rebelio Revoluo : As Revoltas de Escravos nas Amricas. So Paulo, Global, 1983.

13 Ver, entre outros: GOULART, JOS ALPIO. Da Fuga ao Suicdio. Aspectos de Rebeldia dos Escravos no Brasil. Rio de Janeiro, Conquista/INL, 1972; MATTOSO, KTIA DE QUEIROZ. Ser Escravo no Brasil. So Paulo, Brasiliense, 1982, pp. 153 GUIMARES, CARLOS MAGNO. Uma Negao da Ordem Escravista. Quilombos em Minas Gerais no Sculo XVIII. So Paulo, Icone Editora, 1988 e MAESTRI FILHO, MRIO JOS. A Servido Negra, Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988, pp. 114-118.

14 APERJ (Arquivo Pblico do Estado do Rio de Janeiro), Fundo Secretria de Polcia da Provncia (SPP), Coleo 184, doc. 04.(40) Idem., Coleo 166, doc. 15.

15 ANRJ, Documentao Identificada GIFI, pacote 5 E 131, 21/07/1848 e 23/10/1847.

16 Idem., IJ 6 Mao 214 (1850), Ofcios de Polcia da Corte, 30/07/1849.

17 Idem., Documentao Identificada (GIFI), pacote 5 B 287, 30/06/1852 e pacote 5 B 272, 03/10/1859. Com relao ao exrcito brasileiro e as estratgias dos escravos fugidos, ver: KRAAY, HENDRIK. The shelter of the Uniform: the Brazilian Army and Runaway Slaves, 1800-1888. Journal of Social History, vol. 29, nmero 3, maro, 1996, A proposta. 637-657.

18 APERJ, Fundo Secretaria de Polcia da Provncia (SPP), Coleo 166, doc. 07, 13/10/1853

19 Cartrio do 2 Ofcio de Vassouras, Caixa 398, Ao de Liberdade, ano: 1852

20 ANRJ, IJ 1 mao 458 (1857), Ofcios de Presidentes de Provncia, 14/02/1857

21 Idem., IJ 1 mao 873 (1864), Ofcios de Presidentes de Provncia, Ofcio de 10/06/1864.

22 Idem., interrogatrios em anexo

23 Idem., Processo criminal, Apelao Crime, mao 153, nmero 1077, Galeria C, ano: 1884, Corte do Rio de Janeiro, fl. 26 e IJ 6 mao 221 (set./dez. 1855), Ofcios de Polcia da Corte, 25/10 e 28/11 de 1855. Para a histria de Serafim com maiores detalhes, ver: CHALHOUB, SIDNEY. Vises da Liberdade. Op. Cit., pp. 59 a 65.

24 Idem., Corte de Apelao, Caixa 3699, processo nmero 7317, ano: 1872, Provncia de So Paulo.

25 Idem., Corte de Apelao, Caixa 3969, processo nmero 6625, ano: 1869, Provncia do Rio Grande do Sul.

26 Idem., Documentao Identificada (GIFI), pacote 6 J 128, 29/05/1837.

27 Idem., Corte de Apelao, Caixa 3694, processo nmero 20, ano: 1846, Provncia do Rio de Janeiro.

28 Idem., Cdice 324 Registro de Ofcios expedidos pela Polcia Secretaria de Estado dos Negcios da Justia, Volume 3 (1834-1841), 04/04/1839, fls. 65 a 67

29 Sobre quilombos na amaznia, ver: ACEVEDO MARIN, ROSA ELIZABETH & CASTRO, EDNA M. RAMOS. Negros do Trombetas: Etnicidade e Histria, Belm, NAEA/UFPa, 1991; Negros do Trombetas. Guardies de matas e rios. Belm, UFPa, 1993; ACEVEDO MARIN, ROSA ELIZABETH. Terras e afirmao poltica de grupos rurais negros na Amaznia, In: publicado em: ODWYER, ELIANE CANTORINO (org.) Terra de Quilombos, Rio de Janeiro, Associao Brasileira de Antropologia, julho de 1995; ALONSO, JOS LUIS RUIZ-PEINADO. Publicadores de la Amaznia. Cimarrones del Trombetas. Africa Latina Cuadernos, Barcelona, nmero 21, pp. 59-68; Hijos del Rio - Negros del Trombetas. IN: JORDAN, PILAR GRACIA, IZAR, MIGUEL & LAVINA, JAVIER (orgs.). Memria, Creacion e Histria. Luchar contra el olvido. Barcelona, 1994, pp. 349-357; ANDRADE, LCIA M.M. Os Quilombolas da Bacia do Rio Trombetas? Breve Histrico, In: ODWYER, ELIANE CANTARINO (org.) Terra de Quilombos, Rio de Janeiro, Associao Brasileira de Antropologia, julho de 1995; FUNES, EURPEDES. Nasci nas matas, nunca tive senhor. Histria e memria dos mocambos do Baixo Amazonas. Tese de Doutorado, So Paulo, FFLCH/USP, 1995; Nasci nas matas, nunca tive senhor. Histria e Memria dos mocambos do Baixo Amazonas, In: REIS, JOO & GOMES, FLVIO DOS SANTOS. Liberdade por um Fio...., pp. 467-497 e GOMES, FLVIO DOS SANTOS. Em torno dos Bumerangues: Outras Histrias de Mocambos na Amaznia Colonial. Revista USP. nmero 28, Dezembro/janeiro/fevereiro, 1995-96 Nas Fronteiras da Liberdade: mocambos, fugitivos e protesto escravo na Amaznia Colonial, In: Anais do Arquivo Pblico do Par, Belm, 1996

30 Ver: GOMES, FLVIO DOS SANTOS. (Org.) Nas Terras do Cabo Norte. Escravido, Fronteiras e Colonizao na Guiana Brasileira Scs. XVII e XIX, Belm, NAEA/UFPA, 1999

31 APEP, Caixa 97, Ofcio da Secretaria de Polcia do Par (1844-1848), Ofcio do Chefe de Polcia interino Joo Baptista Gonalves Campos, enviado ao Presidente da Provncia Jernimo Francisco Coelho, 1848; Ofcio do Subdelegado da Vila de Macap, Joo Pereira da Costa, 19.05.1848; Cpia da Carta enviada por Procpio Antnio Rolla ao subdelegado de Polcia de Macap, 29.04.1848; Termos de perguntas ao escravo Pedro, 27.04.1848; Termos de perguntas a preta Felcia, 10.05.1848; Termos de perguntas ao preto Manoel Cumbam, 11.05.1848 e Termos de perguntas a Manoel Joaquim dos Reis, 11.05.1848.

32 Pensamos aqui em termos tericos e metodolgicos nas contribuies de THOMPSON, E. P.. La economia moral` de la multitud en la Inglaterra del siglo XVIII. Tradicin, Revuelta y Consciencia de Clase. Estudios sobre la crisis de la sociedade preindustrial. Barcelona,

Editorial Critica, 1979. p. 62-134. Uma abordagem sobre o impacto e influncia da obra de Thompson nos novos estudos da historiografia brasileira sobre escravido, ver: LARA, Slvia Hunold. Blowin in the Wind: E.P. Thompson e a experincia negra no Brasil, Projeto de Histria. Revista do departamento de histria da PUC-SP, nmero 12, 1995, pp. 43-56