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1 Flávia F. David (UFMG) Diego Cortezzi (UFMG) Cultura Política: Democracia no Brasil. Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas: Aproximando agendas e agentes. Araraquara (SP), 23 a 25 de Abril de 2013.

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Flávia F. David (UFMG)

Diego Cortezzi (UFMG)

Cultura Política: Democracia no Brasil.

Encontro Internacional Participação,

Democracia e Políticas Públicas:

Aproximando agendas e agentes.

Araraquara (SP), 23 a 25 de Abril de 2013.

2

Introdução

A tendência geral nos estudos sobre cultura política segue o paradoxo que envolve

a relação entre alto apoio aos princípios ideais do regime e a baixa confiança nas

instituições politicas do mesmo (Moises, 1995, 2005, 2010; Dalton, 1999, 2004; Norris,

1999, 2011). Partimos de autores os quais estão preocupados direta ou indiretamente

com a questão, todavia seus estudos, em geral, são interpretações voltadas para

democracias industriais avançadas.

Após utilizarmos alguns conceitos básicos presentes nessas obras, pretendemos

chegar ao nosso caso: o Brasil. O país é parte das chamadas novas democracias,

apresenta realidade própria e peculiaridades que o distingue em muitos aspectos.

Tentaremos fugir de interpretações que buscam explicar o todo de forma homogênea e

desconsideram os ricos laboratórios de estudos já existentes. Sem deixar de lado, claro, a

importância de determinadas obras clássicas para que os conceitos fossem formados e

incorporados nos estudos sobre democracias.

Nossa tentativa segue com pretensão de ser um estudo adicional para

repensarmos determinados contextos democráticos e suas complexidades. Tentaremos

mostrar questões padrões nessas literaturas e usaremos seus conceitos chaves por

entendermos que nos ajudam a melhor compreensão da cultura política brasileira e

formam toda base teórica que precisamos. No entanto, mesmo partindo de fenômenos

aparentemente iguais, nossa intenção é mostrar como eles resultam em interpretações

diferentes, dado o contexto.

Cabe destacarmos que o presente trabalho é produto de uma dissertação de

mestrado em processo recente de desenvolvimento. Sendo assim, oferece uma preliminar

tentativa de aprofundamento nos dados e interpretações teóricas, sem qualquer

pretensão para além de um ensaio inicial.

Breves considerações teóricas.

Almond e Verba em 1963 são os pioneiros nos estudos sobre cultura política e

introduzem o tema na ciência política. Os autores em The civic culture abrem caminho

para que fenômenos políticos possam ser observados através de interpretações

baseadas em valores subjetivos. Tornam as atitudes por parte dos indivíduos variáveis

explicativas na busca por interpretações acerca do futuro político de determinados países.

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A cultura cívica, estágio ideal alcançado pelo individuo comum e sinônimo de boa

democracia, perpassa por variáveis de socialização, formação, historicidade, eficácia

política subjetiva, enfim, um aglomerado de fatores capazes de assegurarem a

estabilidade do regime democrático. O conceito de cultura cívica se relaciona a padrões

de interação entre os indivíduos, tais padrões, de acordo com os autores, encontram sua

forma perfeita nos EUA e Grã Bretanha. Nesses países, o padrão específico de interação

engloba o cidadão comum e sua cultura cívica expressa em três formas: paroquial, sujeita

e/ou participante.1 A cultura cívica inclui, ao mesmo tempo, um sentido de obrigação a

participar das atividades políticas e um sentimento de competência para tal (Almond &

Verba, 1963).

A eficácia politica subjetiva, ou seja, o sentimento pelo qual os indivíduos apontam

ter consciência de que podem contribuir de forma efetiva para o andamento do regime é

parte fundamental do padrão de interação participante e consequentemente da cultura

cívica. Reflete um indivíduo consciente de seu papel e disposto a desempenha-lo quando

preciso. Os autores projetam um equilíbrio entre as ações instrumentais e afetivas com

relação à política, nem tão instrumental e pragmática, porém também nem tão

intensamente afetiva (Almond & Verba, 1963).

A cultura cívica, ou a imanência de uma, abrange indivíduos com uma identidade

política comum, na qual a participação é percebida como forma mais adequada de ação

dentro do sistema, mas pela qual o indivíduo se orienta apenas quando e se for

necessário. Tal cultura deve ser entendida como a mais apropriada para um sistema

democrático, pois nela existe a atividade política, mas não tão intensa que tire o papel do

governo, e todo dissenso se encontra dentro de limites; as orientações são interpessoais

e sociais gerais e os valores subjetivos colocados em pauta (Almond & Verba, 1963).

Os autores foram alvos de muitas críticas nos anos posteriores à obra, sendo

muitas delas parte de interpretações errôneas, porém outras tantas pertinentes, todavia

1 De acordo com os autores os três tipos de cultura ou subculturas reflexos da cultura cívica de um mesmo cidadão

seriam: “Paroquial” – orientações políticas, sociais e religiosas não separadas que resultam em cidadãos sem

perspectivas com relação ao sistema. “Súdito” – a autoridade governamental do sistema é nítida e a relação estabelecida

é de submissão total ao governo. Por fim, a “participante” – orientada no sentido input e output.

Para melhor compreensão do tipo participante se faz necessária uma breve explicação sobre processos input e output.

Input como um processo político é a conversão da demanda da sociedade ao sistema político em princípios

governamentais de autoridade. Output como um processo administrativo é a aplicação ou imposição dos princípios de

autoridade do governo. Apesar de não funcionarem na prática, existem como facilitadores de classificação das culturas

políticas.

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não perdem em importância no campo e; The civic culture segue como obra de referência

nos estudos sobre cultura política.

Tais estudos perdem força nas décadas seguintes a The civic culture, porém

voltam a ganhar centralidade na década de 1990.

Putnam (2006) em Comunidade e Democracia marca essa retomada culturalista. O

autor dispõe de um rico laboratório de pesquisa, a Itália ao longo de 20 anos; orienta seus

estudos para a questão do desempenho institucional, todavia seu foco é culturalista,

sendo o conceito de capital social determinante em sua obra.

O capital social gera cooperação e participação cívica e diz respeito a

características tais como confiança, normas e sistemas que facilitam as ações

coordenadas em sociedade. Putnam (2006) chama atenção para a importância da

confiança interpessoal no estreitamento dos laços comunitários, uma vez que o

associativismo é a única forma viável para manter a democracia: quanto maior a

confiança, maior a probabilidade de haver cooperação, que por sua vez suscita mais

confiança. O autor (2006) define os círculos virtuosos como capazes de gerar estoques de

capital social, envolvendo confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar coletivo; e os

círculos viciosos presentes quando tais características estiverem ausentes e o cenário for

de desconfiança, omissão, exploração, isolamento, desordem e estagnação (PUTNAM,

2006).

Interessante notar que para Putnam (2006) deve existir uma relação de

horizontalidade rica em capital social mesmo entre indivíduo e Estado para que o bom

desempenho institucional seja assegurado. Sociedade e política são partes próximas, não

há separação entre elas, na verdade há que se estabelecer a presença de uma

Sociedade Cívica para que exista um Estado Cívico. O grau de relação entre massa e

elite define a eficiência do governo, ou seja, massa e elite ao disporem de capital social

(cultura cívica) geram governos efetivos e eficazes.

Já em Almond e Verba (1963) observamos certa convergência em torno do

conceito de confiança, sendo esse fundamental para toda discussão estabelecida nos

estudos sobre cultura política. A confiança estaria no pilar gerador da cultura cívica ou do

capital social. O ato de confiar ou não em instituições e/ou atores políticos se revela

variável importante nos estudos acerca da estabilidade e legitimidade democrática. Para

efeito deste, o conceito, entre outros, permanece com importância e destaque.

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Ao fechar a tríade de clássicos culturalistas, outro autor de referência é Inglehart.

Modernização, Mudança Cultural e Democracia de Inglehart e Welzel é nossa obra de

referência, nela sua teoria ganha corpo e se revela em amplitude. Os autores com forte

influência das teorias de modernização desenvolvem uma teoria amplamente ousada em

torno das mudanças culturais.

É necessário ressaltar a importância dada aos fatores culturais, apesar do foco

econômico. A cultura, nesse ponto de vista, é considerada junto, às variáveis

socioeconômicas, explicativa para os fenômenos políticos. Para eles, os laços fortes

defendidos por Putnam (2006) como fundamentais para o capital social e

consequentemente boa democracia, são perdidos no tempo e se mantém cada vez mais

fracos, fato que marca uma centralidade subjetiva do individuo. Abrem caminho para a

presença de indivíduos com maior grau de liberdade, subjetividade e autoexpressão,

dispostos no novo cenário pós-moderno da sociedade e a crescente demanda destes por

novas formas de participação.

A herança cultural aliada ao desenvolvimento socioeconômico geram as mudanças

culturais. O desenvolvimento socioeconômico é visto como auxiliador de todo o processo,

pois, ao reduzir a pobreza, diminui as restrições materiais das pessoas, dando a elas um

sentimento maior de segurança existencial. De acordo com os autores, com o

desenvolvimento socioeconômico [...] as pessoas se tornam materialmente mais seguras,

intelectualmente mais autônomas e socialmente mais independentes. (INGLEHART &

WELZEL, 2009, P.53). Nesse cenário surgem os valores de autoexpressão, nos quais os

aspectos cognitivos se destacam e deixam as pessoas mais independentes. Tal mudança

ocorre gradativamente de forma intergeracional. A segurança e autonomia adquiridas

pelos indivíduos os levam a terem maiores liberdades de escolhas, com isso aumentam

as pressões por democracia e posicionamentos dotados de senso crítico. Os valores de

autoexpressão estão diretamente relacionados com o sistema democrático, uma vez que

[...] valores mais sólidos de autoexpressão colocam as instituições sob crescente pressão

para assegurar liberdade de escolha, corroendo a legitimidade do regime autoritário

(INGLHEHART & WELZEL, 2009, p. 203).

Almond & Verba (1963), Putnam (2006) e Inglehart &Welzel (2009) formam a base

culturalista clássica do presente estudo. Apesar dos temas limites que diferenciam uma

obra da outra, são nesses estudos que a variável cultural aparece com certo pioneirismo,

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maior clareza e importância na ciência politica. Ambos os autores enxergam na cultura

um aspecto explicativo importante para suas inferências políticas. Mesmo que cada qual

atribuía outros aspectos diferentes às suas análises, enxergam a questão cultural como

pano de fundo para suas interpretações.

Partiremos dessa tendência, ao tentarmos abordar certas atitudes por parte dos

indivíduos capazes de explicar aspectos do o sistema democrático. Nossa vertente é

culturalista, ao passo que ancoramos nossas análises dando credibilidade aos valores

subjetivos, enfim, definimos as atitudes como fatores importantes para interpretação de

fenômenos políticos. No entanto, nosso propósito não é entrar na discussão acerca da

causalidade entre instituições e cultura. Compartilhamos que ambas as análises são

importantes para se entender fenômenos políticos, no entanto nos preocupamos com o

viés atitudinal que mantém o regime e caracteriza seu tipo de cultura.

Longe de esgotarmos o arcabouço teórico disponível por nossos clássicos e

centrados em nosso objeto de estudo, seguiremos de forma mais inter-relacionada com

os estudos mais contemporâneos acerca da cultura politica, mais especificamente , a

cultura política democrática.

Bases teóricas contemporâneas: Instituições e Cultura.

A agenda de estudos sobre cultura politica está direcionada para os condicionantes

da legitimidade do sistema democrático. O conceito é, de fato, a grande questão que

ampara tais estudos. Já em Almond e Verba (1963) observamos que os fenômenos

democráticos são tratados em múltiplas dimensões, por exemplo, quando distinguem

valores afetivos e avaliativos. Crenças afetivas envolvem identificação com uma entidade,

ao passo que as avaliativas se relacionam ao desempenho.

No entanto, Easton (1965) elabora de forma mais direta essa tendência. Para o

autor, a legitimidade deve ser entendida enquanto um conceito multidimensional. Sua

definição do conceito de legitimidade, ou apoio politico, é feita com base em duas

dimensões: apoio difuso e apoio específico. O primeiro diz respeito ao regime

democrático enquanto viés normativo de apoio aos princípios do regime, já o segundo se

refere aos elementos que representam o sistema, ou seja, apoio as instituições, atores e

etc. (Easton, 1965).

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Autores mais contemporâneos como Moisés (1995, 2005, 2010) Dalton (2004) e

Norris (1999, 2011), se baseiam nessa multidimensionalidade do conceito e ampliam as

dimensões de Easton. Norris observa cinco dimensões da legitimidade democrática2.

Nosso estudo estará centrado nessa divisão por dimensões, mais claramente as

da Pippa Norris (1999) em Critical Citizens, inicialmente no que se refere ao apoio

normativo e confiança nas instituições e, em estudos posteriores, satisfação/percepção da

performance do regime.

A partir desses autores a questão principal que ampara tais estudos e, também, o

nosso, começa a ser delineada: o apoio normativo aos princípios ideais da democracia se

consolida em meio a desconfiança nas instituições democráticas e seus atores (Moisés,

1995, 2005, 2010; Dalton, 2004; Inglehart & Welzel, 2009; Norris, 1999, 2011).

Tal relação é classificada por Dalton (2004) como fenômeno moderno, o que

Norris (2011), conceitualiza como Déficit Democrático. Como produto do déficit a autora

define os cidadãos críticos, ou democratas insatisfeitos, os quais capazes de separar

avaliações dos políticos e das instituições de avaliação do regime, diante de maior

conhecimento, eficácia politica e informação adquiridos nos processos de mudança

cultural passaram a incorporar uma visão mais crítica com relação ao desempenho do

regime (Inglehart & Welzel, 2009; Norris, 2011).

Todos os autores abordados até o presente momento se baseiam em contextos de

democracias industriais avançadas, onde o regime está em ambiente propenso, dispõe de

tradição histórica e relativa institucionalização de suas formas. Sendo assim, partem de

estudos que buscam interpretar elementos vindos de um processo enraizado há muitas

décadas e, consequentemente, com aspectos de uma cultura voltada para democracia já

formada. Esses ambientes refletem certa estabilidade nos indicadores utilizados pelos

autores, tais como eficácia política, acesso a informação, interesse político, entre outros.

Quando pensamos realidades como a América Latina, mais especificamente o

Brasil, nas quais o regime ainda dispõe de uma curta tradição histórica e se encontra em

formato frágil, como interpretar sua cultura política da democracia? Imersos em ambientes

marcados por constantes crises, tais cenários marcam as chamadas novas democracias.

2 A primeira dimensão, a comunidade política, se refere à forma de unidade jurídica, politica e cultural com que as

pessoas se associam ao Estado. A segunda, os princípios do regime, define a democracia como melhor sistema a ser

seguido do ponto de vista normativo. A terceira, desempenho do regime, abrange o funcionamento real e prático do

governo. A quarta, as instituições do regime, engloba o apoio/confiança nas instituições políticas. Por fim, a quinta

dimensão, os atores políticos, abrange as pessoas que estão na direção da política.

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Como nossa maior pretensão é expormos uma incursão preliminar nos dados

disponíveis para nosso objeto de estudo, deixaremos de entrar com profundidade em um

amplo e rico universo teórico em torno das novas democracias e seus processos de

transição e consolidação democráticos. Porém não intencionamos deixar de lado essa

discussão em trabalhos posteriores.

Sendo assim, partimos para definição da metodologia adotada, seguida pelo

quadro de interpretação das variáveis utilizadas.

Metodologia

A metodologia consistirá na utilização de um banco para nossas inferências

baseadas nas teorias disponíveis sobre cultura política e em nossos questionamentos.

O banco de dados proposto – Barômetro das Américas – é uma das diversas

atividades do LAPOP (Projeto de Opinião Pública), dirigido pelo professor pesquisador Dr.

Mitchaell A. Seligson e apoiado pela Universidade de Vanderbilt.

O levantamento de dados é feito a cada dois anos, até o momento, foram

divulgados cinco levantamentos (2004 - em 11 países; 2006 - em 22 países; 2008 -

também 22 países e em 2010, com um viés mais amplo no que se refere às questões e a

quantidade de países, no total de 26), sendo a coleta de dados feita sempre no ano

anterior à publicação. Para as analises aqui apresentadas, utilizamos o banco de dados

de 2012, com dados de corte transversal (Cross section)..

O trabalho é realizado em associação com instituições acadêmicas em cada país;

no Brasil, a instituição parceira atual é a Universidade de Brasília, sob a coordenação do

Prof. Dr. Lúcio Rennó, e os dados são coletados no país desde 2006.

A amostra é probabilística e obedece aos territórios nacionais, as amostras

sofisticadas são desenhadas e empregadas para garantir amostras representativas nos

níveis nacionais e sub nacionais, fato que contribui para a qualidade dos dados.

Os questionários são montados pela equipe da Universidade de Vanderbilt com a

ajuda das instituições consortes e as questões visam aos estudos sobre democracia e

comportamento na América e incluem os temas: legitimidade política, tolerância política,

apoio à democracia estável, participação e capital social, Estado de Direito, avaliação de

governos locais, corrupção e comportamento eleitoral, entre outros. As escolhas das

questões obedecem ao contexto de cada país. Além disso, são realizados pré testes

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sistematicamente em todos os países pesquisados, sistemas eletrônicos de coleta de

dados “computador de mão” (PDAs) são amplamente utilizados tanto para eliminar erros

de coleta de dados e de processamento, quanto para permitir facilmente tratamentos

experimentais.

Os dados são coletados no mês de abril o que contribui para que não coincida com

processos eleitorais e finais de ano, além disso, em alguns casos são coletados dados

para além da amostra para permitir uma análise precisa de opinião nas sub-regiões

nacionais, cabe ressaltar que os participantes da pesquisa estão em idade eleitoral e são

entrevistados face a face em suas residências.

Durante os anos pesquisados, foram mantidos alguns blocos de questões, porém,

em 2010, alguns módulos, já exaustivamente pesquisados, foram retirados e incluídos

outros como, por exemplo, o tema da crise econômica e seus efeitos para os cidadãos,

temas atuais os quais contribuem com a qualidade das análises.

Com a utilização desse banco de dados optamos por um método de pesquisa

empírico que nos fornece cortes da realidade, pretendemos com isso melhorar a

qualidade do conhecimento sobre o objeto escolhido, assim como a qualidade da

inferência.

Descrição das variáveis e da forma como serão trabalhadas:

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Quadro 1. Identificação das variáveis Variável Pergunta Leitura

Índice de confiança

Com base em Norris (1999), utilizamos 7 variáveis de confiança política: presidenta, Justiça, exército, governo municipal, policia, partidos políticos e congresso. (Variação de 0 a 6)

O índice varia de 0 a 100, onde foi feito um somatório das mesmas, seguido da divisão pelo maior número e a multiplicação por 100. Chegamos a esse índice através de análise fatorial e sua confiabilidade foi estimada utilizando a análise de consistência interna, o “alpha de Cronbach” como observado no ANEXO I. Quanto maior o índice maior o nível de confiança.

Eficácia política interna

O(A) sr./sra. sente que entende bem os assuntos políticos mais importantes do país. Até que ponto concorda ou discorda desta frase? Escala de 1 a 7, onde: Baixa (1-3), Média (4-5) e Alta (6,7)

A variável tenta capturar o grau de percepção do próprio entrevistado com relação a sua posição enquanto cidadão capaz de contribuir de forma efetiva para o desenvolvimento político de seu país.

Eficácia política externa

Os que governam o país se interessam pelo que pessoas como o(a) sr./sra. pensam. Até que ponto concorda ou discorda desta frase? Escala de 1 a 7, onde: Baixa (1-3), Média (4-5) e Alta (6,7)

A variável tenta capturar o grau de percepção do próprio entrevistado com relação a posição do Estado no que se refere a capacidade de percepção do mesmo com relação as demandas dos cidadãos.

Acesso a informação

Com que frequência o sr./sra. Presta atenção às notícias, seja na TV, rádio, jornais ou na internet?: Alta (Diariamente -Algumas vezes na semana) Médio (Algumas vezes ao mês) Baixo(Raramente-Nunca)

Tenta capturar o grau de acesso a informação política por parte do entrevistado

Interesse político

O quanto o(a) sr./sra. se interessa por política: Alto (Muito) Médio (Algo) Baixo (Pouco-Nada)

Tenta capturar o grau de interesse pela política por parte do entrevistado.

Fonte: Barômetro das Américas 2012.

O caso brasileiro a partir de interpretações e dados.

A construção de uma opinião pública, no Brasil, dá lugar a um cenário marcado por

certo marasmo no que se refere ao debate público. Tal debate depende de que haja

convergência em torno de ideais e práticas democráticos, ou seja, de atores e instituições

guiados pelo ideal democrático e aptos a dirigirem os conflitos de maneira a conduzir o

regime da melhor forma possível. Porém, o que observamos é um ambiente marcado por

sentimentos de apatia e distanciamento em boa parte dos indivíduos. Além de certo

descaso por parte dos atores políticos.

Interpretações acerca da cultura política brasileira não podem deixar de lado tais

fatores e os impactos deles na formação democrática no país.

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Como referência para estudos acerca da cultura política no Brasil, temos Os

Brasileiros e a Democracia de José Álvaro Moises. Em 1995 as voltas com um passado

recente de autoritarismo e os receios pertinentes à época com relação ao futuro do

regime democrático, Moisés (1995) aborda o tema da cultura política no cenário brasileiro.

Para o autor, havia certo reservatório de legitimidade no regime democrático, entre outros

fatores, que o amparava naquele momento, porém suas preocupações com relação aos

anos que viriam posteriormente eram claras e norteavam seus questionamentos. Dado o

período de encantamento com o regime, como ele se sustentaria diante de uma realidade

social, econômica e política problemática? (Moises, 1995)

Em 1995 as preocupações de Moises estavam influenciadas pelo regime autoritário

recém-deposto. O autor aponta que a formação social e política brasileira e os papéis que

conceitos como patrimonialismo, clientelismo, populismo, enfim, todas essas instituições

informais anteriores ao regime autoritário não ofereciam impacto suficiente na democracia

(Moises, 1995). Concepção superada por ele em estudos posteriores, quando aponta ser

importante analisar tais questões, principalmente no que se refere ao papel do populismo

na formação social e política brasileira (Moises e Carneiro, 2008).

A grande questão apontada por muitos autores se refere a relativa consolidação da

adesão ao regime democrático em meio a desconfiança em suas instituições e atores

(Moisés, 1995; Dalton, 2004; Norris, 2011). Norris et al. (1999) aponta que a adesão

normativa confere legitimidade ao sistema, no entanto a baixa confiança nas instituições é

uma constante. Para a autora, a baixa confiança é reflexo de democratas insatisfeitos ou

cidadãos críticos, dessa forma não apresenta perigo para a legitimidade do sistema, uma

vez que tais cidadãos representam algo de positivo no que se refere a um ponto de vista

crítico com relação ao desempenho do regime e são capazes de articularem mudanças. A

autora os relaciona com o crescimento de novas formas de participação e os define

mesmo em novas democracias. Apesar de ressaltar a importância de se distinguir tais

contextos atribui a eles o mesmo cidadão crítico (Norris, 1999, 2011).

No Brasil, de fato, observamos os dois fenômenos, por um lado, uma alta adesão

normativa e, por outro, baixa confiança politica, porém até que ponto eles se entrelaçam

em suas interpretações? Baixa confiança é sinal de cidadão crítico?

A adesão normativa ao sistema, enquanto um princípio ideal e a baixa confiança

em suas instituições e atores como forma crítica nos faz pressupor um ideal de

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democracia fortemente arraigado entre os indivíduos. Uma atitude democrática

solidamente enraizada e aceita culturalmente, ao ponto de ser expressa de forma

irrefletida nas atitudes de apoio dos cidadãos. Já uma postura crítica, nos remete a

cidadãos com certo desenvolvimento cognitivo e sofisticação capazes de se expressarem

enquanto críticos ao desempenho do regime.

No Brasil, a adesão normativa capturada através da resposta: a democracia é

preferível a qualquer outra forma de governo, atinge 65,97% dos entrevistados, de acordo

com dados do Barômetro das Américas de 2012. Apesar de o Brasil apresentar uma taxa

menor de adesão normativa quando comparado a muitos outros países da América

Latina, podemos considerar que a legitimidade está relativamente consolidada no país

(Moisés, 1995; 2007; 2010; Ribeiro, 2008; Colen, 2009; Rennó et. al., 2011).

Todavia, no que tange à confiança nas instituições, como podemos observar na

tabela abaixo, apenas confiança no congresso nacional e nos partidos políticos se mostra

baixa para mais de 50% dos entrevistados. Nas demais, um contingente maior que 50%

apontam entre média e alta confiança, sendo que em algumas delas essa mesma posição

é superior a 70% dos casos.

Tabela 1. Confiança nas Instituições e atores políticos.

Partido

Congresso Nacional Presidenta Exercito Policia

Governo municipal Mídia Eleição Justiça

Justiça Eleitoral

Baixa confiança 66,69 53,31 25,55 17,97 37,12 48,59 20,71 42,72 45,01 50,44 Média confiança 26,04 32,77 37,99 32,64 40,1 35,84 36,66 34,23 36,64 31,16 Alta confiança 7,27 13,92 36,45 49,39 22,86 15,57 42,63 23,05 18,35 18,4

Fonte: Barômetro das Américas 2012.

Norris (1999) relaciona os cidadãos críticos às variáveis de interesse politico,

eficácia política e confiança. Para ela, indivíduos com certos sentimentos de apatia e

distanciamento representados nos baixos índices de confiança politica estariam sendo, na

verdade, críticos ao desempenho do sistema (Norris, 1999, 2011).

No entanto o que observamos no caso brasileiro nos leva a caminhos

interpretativos distintos para um mesmo fenômeno.

Ao gerarmos o índice de confiança política, detalhado no Quadro 1 e o

distribuirmos por região, unidade censitária, sexo, trabalho, acesso a informação, eficácia

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politica e interesse politico, como observado na Tabela 2 podemos fazer algumas

observações.

Os níveis de níveis de confiança são tanto maiores quanto maiores o interesse

político, o acesso a informação e a eficácia politica. Os cidadãos críticos da Pippa Norris

(2011) são partes de democracias industriais avançadas e, portanto, interagem em

ambientes de forte tradição democrática, tais indicadores encontram certa plenitude

nesses contextos.

De acordo com Inglehart e Welzel (2009) seriam indivíduos que, após os processos

de mudanças culturais adquiriram autonomia suficiente para se auto expressarem de

forma livre e consciente com base em amplo desenvolvimento de suas capacidades

cognitivas e políticas. Essa capacidade poderia ser relacionada ao que Almond e Verba

(1963) denominam como padrão de interação participante; aquele que dispõe de, entre

outros indicadores, eficácia politica capaz de torna-lo passivo politicamente na maior parte

do tempo, porém ativo quando o regime apresentar necessidade de que ele ocupe seu

espaço enquanto cidadão consciente de seu lugar. Sua eficácia política subjetiva lhe

atribui capacidade de se enxergar enquanto parte capaz de contribuir efetivamente para

seu sistema politico.

Como podemos observar na Tabela 2, no Brasil, os níveis de eficácia política

subjetiva tanto interna quanto externa são baixos, porém quanto maior a eficácia, maior a

média do índice de confiança nas instituições políticas, assim como as variáveis de

acesso a informação e interesse político, nas quais quanto mais altas a posições dos

indivíduos, maiores suas médias de confiança nas instituições políticas.

Como esperado, apenas escolaridade, segue os padrões de análise e mostra que

quanto maior a escolaridade dos indivíduos, menores os níveis de confiança, no entanto,

a média de confiança não oscila muito nos níveis de escolaridade e está sempre superior

a 50% dos indivíduos. Recorte interessante que nos leva a observar, mais uma vez, o fato

de que “atitudes críticas” podem não estar correlacionadas a escolaridade e baixa

confiança.

Os indivíduos que trabalham possuem maior média de confiança quando

comparados aos que não trabalham. Assim como mulheres quando comparadas aos

homens e moradores rurais quando comparados aos urbanos.

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Outro dado interessante se refere a região, indivíduos na região Sul e Sudeste

tendem a confiar mais do que aqueles localizados na região nordeste. Enfim, nossos

dados preliminares nos levam a interpretar de forma diferente um mesmo fenômeno. No

Brasil a baixa confiança não estaria relacionada a atitudes críticas ou cidadãos críticos.

Todavia, ainda precisamos estratificar mais os grupos em análises posteriores.

Tabela 2. Subgrupos por índice de confiança política.

Distribuição

Percentual dos indivíduos

Índice de confiança

nas instituições políticas

Variáveis Categorias

Norte 14.17 53.628

Nordeste 21.35 47.752

Região Centro- Oeste 14.87 48.449

Sudeste 33.28 46.601

Sul 16.34 49.363

Situação censitária Urbana 88.59 53.918

Rural 11.41 47.882

Sexo Feminino 49.18 47.773

Masculino 50.82 49.448

Escolaridade Fundamental 40.91 50.171

Médio 40.79 48.401

Superior 14.30 45.001

Trabalho Sim 48.96 50.247

Não 51.04 47.041

Baixo 20.05 45.378

Acesso a informação. Médio 29.13 48.023

Alto 50.82 50.195

Interesse Baixo 33.10 44.499

Político Médio 39.93 50.347

Alto 26.97 51.155

Eficácia Interna Baixa 53.67 44.592

Média 33.79 52.264

Alta 12.53 55.449

Eficácia Externa Baixa 65.34 44.375

Média 26.10 53.356

Alta 8.56 63.918

Fonte: Barômetro das Américas, 2012.

15

As variáveis de confiança no Congresso Nacional e Partidos Políticos, nos

remetem a um padrão de desconfiança, como observamos na Tabela 1. A baixa confiança

nos partidos políticos abrange 66,69% e no Congresso Nacional 53,31% dos indivíduos.

Mais próximos ao que Power e Jamison (2009) denominam de uma síndrome de

desconfiança generalizada, essas duas variáveis, a nosso ver, simbolizam os sentimentos

de distanciamento com relação à política por parte dos indivíduos, mais do que

sentimentos de crítica ao sistema. Uma vez que as mesmas variáveis quando observadas

isoladamente apontam que indivíduos com maior eficácia politica, interesse politico e

acesso a informação tendem a confiar mais, mesmo entre essas instituições com baixa

confiança geral.

Outra característica marcante da cultura política brasileira é a excessiva confiança

na figura do presidente, 74,44% apontam entre média e alta confiança na pessoa da

presidenta. Essa vem sendo uma postura cultural no Brasil, ou seja, após sucessivos

governos populistas e autoridades personalistas, o país segue uma tendência contínua de

apoio à figura do presidente e uma suposta ligação direta com a figura do poder

executivo.

Contudo, dada a baixa confiança no Congresso e Partidos Políticos e os baixos

níveis de eficácia política interna e externa, bem como interesse político, entre outros, fica

clara a falta de capacidade por parte de determinados indivíduos em avaliar a democracia

em sua totalidade de relações. Tais atitudes remetem a uma aparente falta de

compreensão dos papéis dependentes entre os atores e instituições políticas.

Posteriormente à análise das estatísticas descritivas, foram estimados modelos de

regressão linear múltipla com mínimos quadrados ordinários para verificar os fatores que

influenciam a confiança nas instituições públicas. Os modelos foram construídos de forma

progressiva, com a inclusão de diferentes variáveis de um modelo para o outro. Os

resultados das regressões estão organizados na Tabela 3.

16

Tabela 3. Modelos de regressão linear múltipla com mínimos quadrados ordinários para estimar a variável dependente “índice de confiança nas instituições públicas”.

Variáveis Modelo 1 Modelo2 Modelo3 Modelo4 Modelo5

Região Sudeste Referência Referência Referência Referência Referência

Região Norte 6.554** 5.978** 5.878** 4.857** 4.060*

-2.519 -2.350 -2.404 -2.437 -2.276

Região Nordeste 0.231 0.434 0.0839 0.578 0.519

-2.778 -2.699 -2.658 -2.553 -2.322

Região Centro-Oeste 1.656 1.640 1.406 1.732 3.112

-2.987 -2.832 -2.753 -2.770 -2.843

Sul 3.199 3.745 4.578 3.755 5.309*

-3.251 -3.192 -3.231 -3.051 -2.897

Rural Referência Referência Referência Referência Referência

Urbana -5.518** -5.453** -5.770** -6.039** -4.685**

-2.596 -2.347 -2.303 -2.487 -2.289

Ensino Superior Referência Referência Referência Referência Referência

Fundamental 4.647** 5.910*** 6.584*** 7.760*** 6.705***

-1.889 -1.949 -1.923 -1.881 -1.824

Ensino Médio 3.243* 4.026** 4.514** 5.394*** 4.473***

-1.722 -1.799 -1.779 -1.723 -1.607

Feminino Referência Referência Referência Referência Referência

Masculino -1.709 -2.153** -2.298** -2.853*** -2.804***

-1.074 -1.077 -1.098 -1.072 -1.056

Interesse político

3.880*** 3.470*** 2.602*** 2.840***

(0.836) (0.824) (0.849) (0.828)

Acesso a informação

2.247** 1.404 1.765**

(0.886) (0.893) (0.848)

Eficácia política Interna

5.699*** 2.779***

-1.015 (0.946)

Eficácia política Externa

8.402***

(0.929)

Constante 49.22*** 40.99*** 36.47*** 30.78*** 21.29***

-3.508 -3.773 -4.235 -4.325 -4.170

Observações 1,448 1,443 1,425 1,385 1,374

R² 0.028 0.047 0.055 0.086 0.146 *** significante ao nível de 99%; ** significante ao nível de 95%; * significante ao nível de 90%. Foi utilizada informação de peso da Barômetro das américas 2012 para estimar as estatísticas desta tabela. Para a elaboração dos modelos foi calculado o fator de inflação de variância (VIF) e não foi encontrada multicolinearidade nos modelos. Fonte: Elaboração própria com dados do Barômetro das américas 2012

17

Na Tabela 3 temos o índice de confiança nas instituições políticas como variável

dependente nos 5 modelos apresentados. Observamos que um indivíduo ser morador de

uma das diferentes regiões geográficas do país não tem impacto direto sobre o índice,

quando comparado com o Sudeste, mantendo as demais variáveis constantes. Exceção

apenas da região Norte que apresenta significância estatística e significância econômica

em todos os modelos e região Sul que no modelo 5 apresenta significância estatística a

90%.

Com relação a situação censitária percebemos que áreas urbanas tem um impacto

negativo sobre a variável dependente (Índice) em todos os modelos, ou seja, o coeficiente

não apresentou o sinal esperado, mas apresentou significância estatística a 95%.

As categorias de escolaridade correspondentes ao ensino fundamental e ensino

médio, tendo como referência à variável de ensino superior, apresentam significância

estatística em todos os modelos. As mesmas não apresentaram o sinal esperado e, ao

analisar a significância econômica, fica claro que em todos os modelos a categoria de

ensino fundamental é mais robusta do que a de ensino médio. A variável sexo aponta

significância estatística ao nível de 95% no segundo e terceiro modelos e a 99% no

quarto e quinto modelos, com sinal negativo indicando que o indivíduo ser do sexo

masculino tem um impacto negativo na variável dependente. A variável sexo não

apresenta significância estatística no primeiro modelo.

Em todos os modelos as variáveis de interesse apresentaram significância estatística

ao nível de a 99%. A variável de acesso a informação destoa da afirmação anterior já que

apresenta significância estatística a 95% no terceiro e quinto modelos e não é

estatisticamente significante no quarto modelo. A interpretação da heteroscedasticidade

pode ser observada no ANEXO II.

Conclusões Preliminares.

De acordo com exploração preliminar dos dados e a superficial incursão pelos

estudos acerca da cultura política no Brasil podemos apontar algumas conclusões, ainda

que estejam em permanente processo de elaboração e almejem status mais sofisticado,

sólido e robusto.

De fato o Brasil segue em percursos interpretativos distintos das democracias

industriais avançadas. A baixa confiança, nesse cenário, se mostra próxima a sentimentos

18

de apatia e distanciamento com relação aos aspectos políticos, não refletidos em atitudes

de crítica para com o sistema. Podemos, ao certo, concluir que essa relação não contribui

para uma crise de legitimidade do sistema? De fato, a adesão normativa atinge mais de

60% da população, no entanto, mesmo alta, ela é inferior a muitos outros países da

própria América Latina. Esses apontamentos nos levam a confirmar a necessidade de se

pautar os estudos sobre cultura política com base em suas realidades contextuais, longes

dos padrões vigentes em democracias industriais avançadas.

Além disso, como observado no Brasil, determinados estratos dentro do próprio

contexto expressam sentimentos e atitudes distintos, daí o fato de o país, ainda possuir

uma cultura hibrida, a qual interage em seus relacionamentos com aspectos

tradicionais/modernos e autoritários/democráticos. A existência de grupos ou subculturas

como apontado por Moises (1995) é uma realidade marcante na sociedade hoje. As

interpretações sobre Brasil e demais países que fazem parte das chamadas novas

democracias requerem interpretações nas quais suas evoluções históricas, sociais e

políticas dos sejam levadas em consideração. Mesmo sendo difícil mensurar conceitos

como clientelismo e populismo, é necessária uma abordagem teórica consistente no que

se refere ao papel de tais instituições informais na formação da sociedade brasileira.

A falta de uma cultura democrática enraizada e a necessidade de cidadãos

politicamente mais conscientes pode ser percebida através dos baixos indicadores de

eficácia politica tanto externa, quanto interna e interesse político. Tais indicadores são

utilizados pela maior parte dos autores e oferecem pontos de partidas para suas

interpretações (Moisés, 1995; Norris, 1999).

Contudo, resta apontar que o presente trabalho, longe de esgotar suas

possibilidades requer, ainda, muitos esforços para alcançar um status mais consistente e

robusto de análise. Como esforço inicial, peca ao estruturar de maneira fraca seus

achados e conseguir levar de forma mais sofisticada suas relações com a teoria. Além

disso, dentro do propósito para o qual serve, deixa de lado muitos estudos pertinentes ao

tema que podem ser mais bem explorados e utilizados como ponto de apoio para nossos

argumentos.

19

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OPINIÃO PÚBLICA. Vol. 12, nº 1, p. 01-37. Campinas. 2006.

21

ANEXO I.

Testes feitos para a elaboração do Índice de confiança nas instituições politicas:

Teste scale = mean (unstandardized items)

Average interitem covariance: 1.259582

Number of items in the scale: 7

Scale reliability coefficient: 0.8207

Foi feito o cálculo da consistência interna, mais concretamente o coeficiente alpha

de Cronbach para criação o índice de confiança nas instituições políticas, como

observado acima, o mesmo apresenta valor de 0.82.

O alfa de Cronbach é definido como se segue:

, onde é o número de itens, é a variância e o escore

total é a variação do item i. Embora a literatura científica não declare um consenso

sobre o assunto, muitos autores creem que o valor de alfa maior que 0,7 seja satisfatório.

22

ANEXO II. Análise de resíduos.

23

Podemos perceber que pelos gráficos que há heteroscedasticidade nos resíduos,

ou seja, a variância do erro, u, não é constante. Também foi feito o Teste Breusch-Pagan

do Stata. Esse teste é, na verdade, sugerido por Koenker (1983), se baseia na estatística

LM com distribuição Chi² e k graus de liberdade. Assim, a variância de u é diferente para

diferentes valores de x, logo os erros são heterocedásticos. A heterocedasticidade não

provoca viés ou inconsistências nos estimadores de MQO dos coeficientes aqui

apresentados. Porém, os estimadores de MQO não são mais eficientes (variância

mínima), o que acarreta problemas nas estatísticas t, F e LM.

Como indicado, por ser uma amostra com propriedades assintóticas deveríamos

utilizar a matriz de White (estimação robusta). Porém tivemos que usar o comando

“svyset” no programa estatístico STATA 12 para levar em conta a complexa natureza das

amostras usadas para construção do Barômetro das Américas 2012, a saber, o uso de

estratificação, conglomerados e ponderação.

24

Pelo mesmo motivo é necessário considerar o efeito do desenho ao analisar a

pesquisa elaborada para o banco de dados do Barômetro 2012 para contar com uma

melhor precisão dos resultados e não assumir de maneira incorreta que eles têm sido

coletados por amostras aleatórias simples. Sabe-se que o efeito do desenho pode

incrementar ou diminuir o erro padrão de uma variável, que por sua vez ocasionará que

os intervalos de confiança aumentem ou diminuam. Portanto, não é permitido usar o

comando “SVY” e corrigir pela matriz de White ou qualquer outra forma de correção.

Com isso, estimamos os mesmos modelos sem o prefixo “svy” e identificamos

graficamente que o problema de heteroscedasticidade é similar. Sendo assim, corrigimos

a heteroscedasticidade pela matriz de White e não houve alterações nos níveis de

significância com exceção da região Centro-Oeste que ganhou significância.

Quando há problema de heteroscedasticidade, as estatísticas t,F e LM, mudam a

significância em uma proporção pequena. Ou seja, mesmo que a significância das

variáveis independentes sofressem alterações pela correção do problema de

hetereoscedasticidade, pode-se perceber que em todos os modelos nossas variáveis de

interesse( interesse por política, eficácia interna, eficácia externa e acesso a informação)

apresentaram significância estatística ao nível de a 99%, com exceção a variável acesso

a informação que apresentou sua significância estatística a 95%, sendo que no modelo 4

ela não é significativa.

Portanto, os modelos aqui apresentados com a ponderação “svy”, na tabela 3

violam o pressuposto da homoscedasticidade, porém mesmo com a correção do

problema de heteroscedasticidade, as mesmas variáveis continuariam sendo significativas

para explicar o índice de confiança nas instituições politicas.