fitoterapia

22
Fitoterapia Usos e abusos Reduzir gastos Biodiversida de e Indústria Riscos de extinção e fraudes Camomila, que tem propriedades calmantes Entre o conhecimento popular e o científico A fitoterapia tem se tornado cada vez mais popular entre os povos de todo o mundo. Há inúmeros medicamentos no mercado que utilizam em seus rótulos o termo "produto natural". Produtos à base de ginseng, carqueja, guaraná, confrei, ginko biloba, espinheira santa e sene são apenas alguns exemplos. Eles prometem, além de maior eficácia terapêutica, ausência de efeitos colaterais. Grande parte utiliza plantas da flora estrangeira ou brasileira como matéria-prima. Os medicamentos à base de plantas são usados para os mais diferentes fins: acalmar, cicatrizar, expectorar, engordar, emagrecer e muitos outros. É essa utilização das plantas para o tratamento de doenças que constitui, hoje, um ramo da medicina conhecido como fitoterapia. A fitoterapia, apesar de ser considerada por muitos como uma terapia alternativa, não é uma especialidade médica, como a homeopatia ou a acupuntura, e se enquadra dentro da chamada medicina alopática. O uso das plantas como remédio é provavelmente tão antigo quanto a própria humanidade. Nas Ilhas Oceânicas, por exemplo,

Upload: val-simoes

Post on 27-Dec-2015

25 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fitoterapia

FitoterapiaUsos e abusosReduzir gastos

Biodiversidade e Indústria

Riscos de extinção e fraudes

Camomila, que tem propriedades calmantes

Entre o conhecimento popular e o científico

A fitoterapia tem se tornado cada vez mais popular entre os povos de todo o mundo. Há inúmeros medicamentos no mercado que utilizam em seus rótulos o termo "produto natural". Produtos à base de ginseng, carqueja, guaraná, confrei, ginko biloba, espinheira santa e sene são apenas alguns exemplos. Eles prometem, além de maior eficácia terapêutica, ausência de efeitos colaterais. Grande parte utiliza plantas da flora estrangeira ou

brasileira como matéria-prima. Os medicamentos à base de plantas são usados para os mais diferentes fins: acalmar, cicatrizar, expectorar, engordar, emagrecer e muitos outros.

É essa utilização das plantas para o tratamento de doenças que constitui, hoje, um ramo da medicina conhecido como fitoterapia. A fitoterapia, apesar de ser considerada por muitos como uma terapia alternativa, não é uma especialidade médica, como a homeopatia ou a acupuntura, e se enquadra dentro da chamada medicina alopática.

O uso das plantas como remédio é provavelmente tão antigo quanto a própria humanidade. Nas Ilhas Oceânicas, por exemplo, há séculos a planta kava kava (Piper methysticum) é usada como calmante. Durante muito tempo, foi utilizada em cerimônias religiosas, para um tipo de "efeito místico". Depois, cientistas alemães comprovaram que seu extrato tem efeito no combate à ansiedade.

No entanto, é preciso ter cautela. A crença popular de que as plantas não fazem mal, estimulada ainda mais por fortes apelos de marketing, faz com que o quadro fique um tanto distorcido. "Havia um conceito pré-estabelecido, popular, de que o que vem da natureza não faz mal. Isso não é correto", lembra Elisaldo Carlini, pesquisador do Departamento de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Page 2: Fitoterapia

Quem é que não sabe que a planta conhecida como "Comigo ninguém pode" é extremamente tóxica e pode matar? E afinal, estricnina, morfina e cocaína também são produtos naturais.

Todo medicamento, inclusive os fitoterápicos, deve ser usado segundo orientação médica. É claro que dificilmente chega-se a uma overdose de chá de boldo. Mas há ainda muitas plantas cujos efeitos não são bem conhecidos e seu uso indiscriminado pode prejudicar a saúde. Por outro lado, vários estudos científicos comprovam que a fitoterapia pode oferecer soluções eficazes e mais baratas para diversas doenças.

Para Carlini, os preconceitos em relação ao uso de fitoterápicos estão diminuindo. "O uso da fitoterapia como prescrição até há pouco tempo não era aceito pelos próprios cientistas. Ela era considerada uma medicina inferior, alternativa, principalmente por conta dos benefícios propagados por aproveitadores e charlatões. Era vista como 'medicina popular`, desenvolvida à base de plantas que podiam ser encontradas na quitanda, na loja de artigos de umbanda, casas de chás, praças, etc", diz.

Segundo o pesquisador, o conceito de uso dos fitoterápicos vem sendo modificado graças a produtos que os próprios médicos vêm utilizando e que têm base científica comprovada: "O crescimento do uso de fitoterápicos deve-se à competência científica de estudar, testar e recomendar o uso de determinadas plantas para usos específicos", afirma.

É considerado fitoterápico toda preparação farmacêutica (extratos, tinturas, pomadas e cápsulas) que utiliza como matéria-prima partes de plantas, como folhas, caules, raízes, flores e sementes, com conhecido efeito farmacológico. O uso adequado dessas preparações traz uma série de benefícios para a saúde humana ajudando no combate a doenças infecciosas, disfunções metabólicas, doenças alérgicas e traumas diversos, entre outros. Associado às suas atividades terapêuticas está o seu baixo custo; a grande disponibilidade de matéria-prima (plantas), principalmente nos países tropicais; e a cultura relacionada ao seu uso.

Quais são, então, os riscos e benefícios dos fitoterápicos?

Page 3: Fitoterapia

Usos e abusos da fitoterapia

Quando utilizados de maneira adequada, os fitoterápicos apresentam efeitos terapêuticos, às vezes, superiores aos dos medicamentos convencionais, com efeitos colaterais minimizados.

Um exemplo é a valeriana (Valeriana officinalis) que vem sendo usada no tratamento de insônia e que, ao contrário dos medicamentos convencionais, não provoca dependência nem tolerância. No entanto, se ingerida em grandes quantidades e por tempo prolongado, ela pode ser tóxica para o fígado.

A utilização inadequada dos fitoterápicos, como a automedicação, pode trazer uma série de efeitos colaterais. Entre os principais problemas causados por seu uso indiscriminado e prolongado estão as reações alérgicas, os efeitos tóxicos graves em vários órgãos e mesmo o desenvolvimento de certos tipos de câncer. Elisaldo Carlini, pesquisador da Unifesp, chama a atenção para a importância de educar a população, conscientizando-a sobre o uso adequado das plantas e medicamentos ditos naturais.

Artigo publicado na revista Archives of International Medicine (veja a bibliografia) mostra que 4% das causas de internação de pacientes em hospitais na Coréia do Sul é devida ao uso abusivo de plantas medicinais. O mesmo acontece em outros países asiáticos. No Brasil não há dados precisos, uma vez que problemas como esse não são de notificação obrigatória ao serviço de saúde.

Fitocomplexo - Os fitoterápicos, de maneira geral, possuem efeitos mais suaves, o que pode explicar a redução dos efeitos colaterais. Ao contrário dos medicamentos convencionais, que possuem quantidades conhecidas de princípios ativos isolados, ou seja, das substâncias responsáveis pelos efeitos, nos fitoterápicos os princípios ativos não são isolados. Eles coexistem com uma série de outras substâncias presentes na plantas. Em cada planta, apenas uma parte é utilizada para a formulação de medicamentos. A diversidade de substâncias existentes nessas partes é chamada de fitocomplexo, que é responsável pelo efeito terapêutico mais suave e pela redução dos efeitos colaterais. O efeito terapêutico da valeriana, por exemplo, só é atingido quando se administra o fitocomplexo. Quando o princípio ativo é administrado isoladamente, não há efeito significativo.

Qualidade dos medicamentos - O crescimento do mercado de fitoterápicos e seu uso indiscriminado, baseado na crença de ausência de efeitos colaterais, têm gerado certa preocupação entre os cientistas. Vários artigos publicados na Archives of International Medicine, mostram que a maioria das plantas medicinais e chás vendidos no mundo não é licenciada, ou seja, está à disposição dos consumidores de maneira clandestina. Também falta regulamentação e controle de qualidade adequado para a

Page 4: Fitoterapia

comercialização. A maior parte desses produtos está no mercado sem nenhum critério científico.

Além disso, a automedicação é um grande problema, porque muitas pessoas utilizam plantas que crescem nos próprios quintais ou as coletam em terrenos baldios ou florestas. Eventualmente, essas plantas são confundidas com outras que possuem características semelhantes, como o mesmo tipo de folhas, flores, frutos, caules ou raízes.

As pessoas que se automedicam também desconhecem que a quantidade de princípios ativos contida nas plantas pode variar de acordo com a idade da planta, a época da colheita, o tipo de solo, a parte utilizada e as condições de estocagem. E as plantas que crescem muito próximas a rodovias apresentam concentração elevada de metais como chumbo, zinco e alumínio, entre outros, cujos efeitos podem ser indesejáveis.

O caso do confrei - Um exemplo marcante sobre efeito tóxico de plantas medicinais no Brasil está relacionado ao uso do confrei. No início dos anos 80 foi amplamente divulgado na imprensa que esta planta teria fantásticas propriedades terapêuticas para uma série de doenças, incluindo a leucemia e até mesmo o câncer. A partir daí, muitas pessoas passaram a ingerir suco de confrei (folhas com água batidas no liqüidificador) regularmente.

No entanto, estudos toxicológicos posteriores mostraram que o confrei possui uma substância extremamente tóxica para o fígado, o que acabou culminando na proibição de sua indicação para uso interno. Já quando usado externamente, o confrei apresenta excelentes propriedades cicatrizantes.

Mas uma das maiores vantagens da fitoterapia está na redução de custos...

Fitoterapia é uma saída para reduzir gastos no sistema público de saúde

Num país como o Brasil, onde a população carente não só tem dificuldades para obter os medicamentos convencionais mas também adoece muito mais, o uso criterioso da fitoterapia no sistema público de saúde pode ser uma alternativa para a redução do custo dos medicamentos.

Enquanto na região Sudeste os medicamentos convencionais ainda são os mais prescritos pelos médicos, estados como o Ceará e a Paraíba desenvolvem algumas iniciativas bem sucedidas de uso de medicamentos não-convencionais.

Page 5: Fitoterapia

A experiência mais antiga é da Universidade Federal do Ceará (UFCE) que em 1983 começou a implantar o programa Farmácias Vivas, sob a coordenação do professor José Abreu Matos. Seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o programa oferece assistência farmacêutica fitoterápica de base científica às comunidades mais carentes de Fortaleza, aproveitando as plantas de ocorrência local ou regional dotadas de atividade terapêutica comprovada.

O programa vem mostrando seus resultados. Dados de 1995 mostram, por exemplo, que para os casos de amebíase e giardíse (doenças parasitárias muito comuns) cápsulas de hortelã têm efeito comprovado e custavam, à época, R$ 0,96 enquanto que o medicamento convencional, Flagyl (da Rhodia) custava R$ 4,12. Outro exemplo é o xarope de cumaru-malvariço-hortelã japonesa, utilizado como broncodilatador e expectorante, que custava R$ 1,30 ao passo que o Aerolin (da Glaxo) custava R$ 2, 17.

O Farmácias Vivas de Fortaleza já se tornou referência para outras faculdades de Farmácia do Nordeste brasileiro. Em 1998, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), após 10 anos de pesquisas com fitoterápicos, começou a implantar o projeto no seu hospital universitário, com financiamento da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Em breve estará sendo iniciado atendimento ambulatorial, no qual serão feitas avaliações clínicas de uma planta com propriedades broncodilatadoras. O nome da planta por enquanto é segredo, pois, segundo a professora Rinalda A. G. de Oliveira, da Faculdade de Farmácia, a universidade pretende patenteá-la.

Outra iniciativa é a da Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba que a partir de 1998 começou a implantar o Programa de Alternativas Alimentares, Terapias Complementares, Homeopatia e Acunpuntura (PROACHA), sendo que a fitoterapia está contemplada dentro das terapias complementares.

Os médicos, de modo geral, aceitam bem a fitoterapia, mas não a prescrevem por falta de conhecimento técnico, fruto de uma educação deficiente nessa área, conforme mostrou uma consulta realizada pela Secretaria de Saúde. Para suprir essa demanda, as universidades Federal e Estadual da Paraíba já oferecem a disciplina de fitoterapia para alguns cursos da área de saúde.

Trabalho Interdisciplinar - Implantar a fitoterapia no sistema de saúde não é um trabalho fácil, pois envolve diversos profissionais, como médicos (para prescrever), farmacêuticos (para manipular) e agrônomos (para planejar o cultivo das plantas), entre outros. Além disso, é necessário conhecimento técnico sobre as plantas, seus efeitos terapêuticos e tóxicos, parte utilizável, via de administração e um bom banco

Page 6: Fitoterapia

de dados de referências bibliográficas. Tudo isso só é possível através da pesquisa contínua, desenvolvida dentro das universidades.

Tão importante quanto a pesquisa é a divulgação e o ensino da fitoterapia nos cursos de graduação da área de saúde, para que aos poucos vá se formando uma nova mentalidade, que proteja e ao mesmo tempo utilize o potencial da flora brasileira, colocando-o, de maneira mais acessível, à serviço da saúde.

Veja também qual o valor da flora medicinal para a economia do país.

Biodiversidade e indústria Brasil tem 10 mil espécies de plantas medicinais e aromáticas

O Brasil abriga 55 mil espécies de plantas, aproximadamente um quarto de todas as espécies conhecidas. Destas, 10 mil podem ser medicinais, aromáticas e úteis. É o que aponta estudo realizado por Lauro Barata e Sérgio Queiroz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), denominado Contribuição Efetiva ou Potencial do PADCT para o Aproveitamento Econômico Sustentável da Biodiversidade (vide bibliografia). Segundo os pesquisadores, o mercado mundial de produtos farmacêuticos, cosméticos e agroquímicos soma aproximadamente U$ 400 bilhões ao ano, o que dá a dimensão da enorme oportunidade existente para os produtos brasileiros.

Só no setor de medicamentos, de acordo com o pesquisador Luiz Carlos Marques, do Departamento de Farmácia e Farmacologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), o volume de vendas de fitoterápicos no mundo já atingiu a cifra de US$ 13,9 milhões ao ano. O valor representa cerca de 5% do total de vendas no mercado global de medicamentos.

O interesse pelos produtos naturais tem origem em fatores comportamentais, biológicos, farmacológicos, biotecnológicos e químicos, que produziram uma mudança na estratégia das empresas, que passaram visar ao mercado dos produtos originados de plantas. Segundo Barata e Queiroz, a literatura especializada tem mostrado que esta guinada em direção aos produtos naturais se inspira em grande medida nas florestas tropicais do Brasil, China e Índia. Esses países são considerados verdadeiros mananciais de moléculas bio-ativas.

O potencial da flora brasileira também é comprovado por Elisaldo Carlini, do Departamento de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): "Tomemos como exemplo que nem todas as espécies tem fins terapêuticos. A Suíça, por exemplo, pode ter uma única espécie em sua vasta flora que atenda às finalidades terapêuticas; a Alemanha possui mais de 20 espécies; o Reino Unido, 100 espécies; o México, 3 mil e o Brasil mais de 25 mil plantas nativas. Isso somente na Amazônia,

Page 7: Fitoterapia

fora o Pantanal, o cerrado e a caatinga; cada região com sua flora característica e enorme potencial de investigação científica", diz.

Industrialização - Segundo Carlini, cientistas e laboratórios do exterior começam a perceber o potencial da fitoterapia e não somente para populações menos favorecidas. Para ele, a indústria brasileira está disposta a colaborar mas faltam incentivos à pesquisa no Brasil: "É necessário e urgente investir em pesquisa. Não adianta querer impedir uma corrida à nossa flora se nós não podemos competir. Precisamos nos preparar para essa corrida, só assim poderemos competir", declara.

As empresas brasileiras encontram-se em estágio de desenvolvimento suficiente para a fabricação de produtos farmacêuticos. "Embora com qualidade deficiente, a indústria brasileira já produz fitoterápicos", dizem Lauro Barata e Sérgio Queiroz. Os medicamentos vendidos em farmácias no Brasil, contendo produtos naturais, associados ou não, renderam aproximadamente U$ 470 milhões em 1994.

Mas o Brasil também exporta plantas medicinais para serem processadas no exterior, embora tenha tecnologia para fazer esta operação internamente. Dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontam que o volume de plantas exportadas triplicou nos anos de 1993 a 1995.

A quantidade de medicamentos patenteados pela indústria farmacêutica brasileira é praticamente nula, se comparado com a indústria estrangeira. Uma das limitações está no fato de que 70% do mercado é controlado por empresas transnacionais. Apesar disso, as universidades já começam a desenvolver suas próprias patentes. Um exemplo é o do Departamento de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que tem duas patentes desenvolvidas com a colaboração de indústrias brasileiras e está desenvolvendo parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), juntamente com um laboratório brasileiro, para um novo preparado fitoterápico.

Um grande problema da exploração da flora para formulação de medicamentos é o risco de extinção das espécies.

Risco de extinção e fraudes: um alerta aos consumidores

Se, de um lado, a flora brasileira permite um potencial amplo para o desenvolvimento da indústria farmacêutica, de outro, cientistas começam a se preocupar com a

Page 8: Fitoterapia

exploração irracional desta flora, que poderia estar levando algumas espécies à extinção.

Por causa da coleta indiscriminada, já há dificuldade para encontrar algumas espécies. Um exemplo é o da Pfáfia paniculata, cujas propriedades são semelhantes às do ginseng coreano. Segundo o professor Luis Carlos Marques, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), é praticamente impossível encontrar Pfáfia paniculata no mercado de matéria-prima e os produtos à venda que acusam essa espécie no rótulo estão na verdade utilizando outras variedades como a Pfáfia glomerata.

Outra espécie ameaçada é o jaborandi (Pilocarpus jaborandi), muito utilizado em formulações cosméticas. Esta planta faz parte da Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção, publicada em 1992 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Controle de qualidade - Um dos grandes problemas no mercado de fitoterápicos no Brasil está relacionado ao controle de qualidade. Fraudes e adulterações são muito comuns e ocorrem por diversos fatores tais como a falta de conhecimento dos produtores e distribuidores e a fiscalização deficiente. O consumidor brasileiro deve tomar cuidado e tentar comprar fitoterápicos apenas de produtores confiáveis. "Mesmo assim, há risco. O mercado de fitoterápicos brasileiro é enganoso, a começar pelos extratores, que não são confiáveis", alerta a bióloga Gemima Born, pesquisadora da organização não-governamental Vitae Civilis.

Pagos pela indústria para tirar da natureza as plantas necessárias à confecção dos comprimidos, extratos e chás, os extratores são normalmente moradores de regiões próximas às matas. São, portanto, pessoas que, teoricamente, conhecem as espécies. "Só que quem manda é o pedido", explica Gemima Born. "Se mandarem o sujeito trazer uma tonelada de espinheira santa de uma vez, ele vai no mato e pega tudo o que puder até completar o pedido: mesmo que não seja espinheira santa. E aí quem sai perdendo é o consumidor, porque nem nas indústrias é feito teste para checagem do material coletado", diz.

Há exceções, claro, especialmente entre os produtores que realizam seu próprio cultivo. Mas como até plantar no Brasil é uma tarefa árdua e carente de incentivo, a situação fica complicada. "Isto está sendo contornado, na China, por exemplo, com a criação de plantações planejadas só para a produção medicinal", explica o médico fitoterapeuta Norvan Martino Leite. "São tomados cuidados com a insolação, irrigação e tudo o que possa potencializar os efeitos desejados. Mas pouco se vê disto no Brasil, ainda", diz Leite.

Page 9: Fitoterapia

Uma dica para os consumidores é que eles se certifiquem, por meio dos serviços de atendimento ao consumidor, de que a empresa faz controle de qualidade da matéria-prima e de que esta é obtida por de cultivo. Essa é uma maneira de deixar os produtos fraudulentos envelhecendo na prateleira, protegendo a saúde de quem os consome e a diversidade da flora brasileira.

Bibliografia

Fontes eletrônicas

Banco de dados sobre ervas medicinais da Universidade de Washington Botanical.com , site de informação e educação sobre plantas medicinais Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Unicamp,

desenvolve pesquisas com plantas medicinais, principalmente no cultivo de diversas espécies brasileiras

Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Paraíba , programa CAPES de plantas medicianais

Herb Research Foundation Herbal Medicine and Medicinal Plant Interest Group - site da Sociedade Americana de

Farmacologia e Terapêutica Experimental Laboratório de Plantas Medicinais da ESALQ/USP, possui um banco de dados em plantas

medicinais Site comercial sobre produtos naturais Site comercial sobre ervas medicinais Sociedade Brasileira de Farmacognosia , reúne diversos pesquisadores de plantas

medicinais, publica a Revista Brasileira de Farmacognosia, divulga notícias e eventos da área

Fontes impressas

BARATA, Lauro E. S.; QUEIROZ, Sérgio R. R. Contribuição Efetiva ou Potencial do PADCT para o Aproveitamento Econômico Sustentável da Biodiversidade, estudo elaborado para o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), Sub-Programa de Planejamento e Gestão em Ciência e Tecnologia (PGCT), do Ministério da Ciência e Tecnologia. Campinas, outubro de 1995.

BENSLEY, D. and GAMBLE, A. Chinese Herbal Medicine Materia Medica. Eastland Press, 1993.

BROSSI, Jacques. As Plantas e Sua Magia. Editora Rocco. DALEN J. E. "Conventional and "unconventional"medicine. Can they be integrated?"

Archives of International Medicine 158: 2179-2181, 1998. ERNST E. Harmless herbs? A review of the recent literature. The American Journal of

Medicine104: 170-178, 1998 FRATKIN, Jake. Chinese Herbal Patent Remedies: A Practical Guide. Institute for

Traditional Medicine, Portland, Oregon, 1986. KAPTCHUK, Ted J. The Web That Has no Weaver. Congdon and Weed, 1993.

Page 10: Fitoterapia

MASHOUR N. H., LIN G. I. and FRISHMAN W. H. "Herbal medicine for the treatment of cardiovascular disease". Archives of International Medicine 158: 2225-2234, 1998.

MATOS, José de Abreu. Farmácias Vivas. Editora da Universidade Federal do Ceará (EUFC), Fortaleza, 1991.

MILLER, LG. "Herbal Medicinals: Selected clinical considerations focusing on known or potential drug-herb interactions". Archives of Internal Medicine 158: 2200-2211, 1998.

MORENO, Frederico. As Plantas que Curam. Editora Hemus. ROGANS, Eve. Fitoterapia Chinesa - Guia Prático. Callis Editora, 1998. WILLIAMS, Tom. The Complete Ilustrated Guide to Chinese Medicine. Element Books,

1996. WINSLOW LC AND KROLL DJ. "Herbs as medicines". Archives of International

Medicine 158: 2192-2199, 1998

Créditos Reportagem: Célio Lopes Silva, Débora Colombi, Izabel Machado,

Luciana Christante de Mello e Solange Celere. Colaborou: Patrícia Logullo

Entrevista aLuís Carlos Marques

Para explicitar o que é Fitoterapia, seus usos adequados e abusivos, a revista eletrônica ComCiência entrevistou o pesquisador e farmacêutico Luís Carlos Marques, especialista em Fitoterapia, mestre em Botânica e doutor em Ciências. Marques, juntamente com outros três pesquisadores, atua no Departamento de Farmácia e Farmacologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), em pesquisas nas áreas de Fitoquímica (principalmente taninos e xantonas), Farmacobotânica e Tecnologia de Fitoterápicos.

Nesta entrevista, ele explica os cuidados que as pessoas devem ter ao adquirir produtos chamados "naturais". Estudo realizado pela equipe de Marques apontou que 80% entre 50 produtos pesquisados (amostras de plantas adquiridas do mercado paranaense e provenientes, na maioria, de São Paulo) apresentaram presença de matérias orgânicas estranhas (sujeiras e insetos por exemplo), o que prejudica a atuação do medicamento natural.

Legislação de fitoterápicosComCiência - Professor Luís Carlos Marques, o senhor vem participando de algumas reuniões sobre a regulamentação dos fitoterápicos em Brasília. Do que tratam essas reuniões? Poderia citar algumas iniciativas dos cientistas da área no sentido de exigir do poder público maior fiscalização nesse setor? Marques - Tenho participado de várias reuniões e debates sobre a questão da legislação de fitoterápicos em geral, tendo em vista as lacunas existentes na Lei de Medicamentos No 6360 de 1976, que não se refere aos fitoterápicos. Essa ausência levou os órgãos governamentais a duas

Page 11: Fitoterapia

situações: ou ao erro, por exemplo, registrando produtos tóxicos como o confrei; ou à completa falta de respostas ou ações concretas em relação a esse mercado.

ComCiência - Que problemas essa falta de controle do mercado de fitoterápicos ocasionou ou pode ocasionar aos consumidores? Marques - Essa situação permitiu que o mercado de fitoterápicos no Brasil crescesse sem qualquer limite, levando o consumidor a diversos tipos de problemas, tais como: 1) fraudes, misturas de plantas, contaminações diversas, espécies desconhecidas, etc.; 2) ausência de informações sobre se a planta pode causar efeitos tóxicos. Apesar da legislação de medicamentos exigir essas informações previamente à comercialização do produto, na maioria dos casos esses estudos não foram feitos. Exemplos dessas plantas: confrei, cipó mil-homens, cambará, cavalinha e camédrio, entre outras; 3) ausência de informações sobre se as plantas funcionam efetivamente, isto é, se cumprem com o prometido nas bulas e rótulos dos produtos. A grande maioria das produtos baseia-se apenas na tradição de uso, sem maiores estudos que comprovem tais utilizações populares; 4) oferta de produtos com indicações não tradicionais. Se a crítica é feita aos casos baseados na tradição (o que já é alguma coisa), pior ainda quando a indicação terapêutica nada tem a ver com o costume de uso. São os chamados "produtos-panacéia", que "curam" desde gripe até câncer, leucemia, AIDS, etc. São abusos que devem estar enganando muitos incautos.

ComCiência - Em relação às fraudes, o senhor poderia fazer um contraponto com a legislação atual que diz que isso é crime hediondo e prevê cinco anos de prisão, para mostrar as contradições e os exageros dessa legislação? Marques - De fato, essa lei é um exagero, ao menos em termos de fitoterápicos. Isso porque, como dito antes, estamos discutindo formas legais de intervenção. Conhecemos os problemas mas também as lacunas legais que permitiram seu surgimento e crescimento. Portanto, na Fitoterapia, é contraditório agir de forma abrupta e radical, pois o problema é grande e exige ações globais e orientativas. Nesse conjunto, existem casos de fraudes criminosas que merecem punição rigorosa, mas são exceção, como por exemplo a comercialização de fórmulas "naturais" para emagrecer, que contém, na verdade, anfetaminas e calmantes, produtos controlados e que causam dependência física.

Recomendações aos consumidoresComCiência - Diante desse quadro de fraudes, qual a recomendação que o senhor faz aos consumidores de fitoterápicos? Marques - Devem adquirir apenas produtos que conhecem bem e que são de fato tradicionais, como por exemplo boldo, camomila, erva-doce e malva. Os consumidores devem evitar novidades mercadológicas que envolvem plantas pouco conhecidas no Brasil, como por exemplo a unha de gato, a garra do diabo e a garcínia, entre outras. Também devem adquirir produtos com as plantas inteiras, que possam ser vistas e avaliadas. Quando o produto vem em pó, é muito difícil distinguí-lo de seus adulterantes. As formas líquidas, por experiência, sabe-se que não são avaliadas em termos de qualidade, salvo raríssimas exceções. Sempre que possível, o consumidor deve adquirir ou coletar tais plantas perto de suas casas, frescas. Alguns lotes de matérias-primas estão há anos nos estoques e, com certeza, são muito velho e sem atividade alguma.

ComCiência - O senhor tem um estudo no qual faz a identificação de algumas plantas, verifica o grau de impureza dos produtos e se o nome pela qual ela é conhecida coincide com o divulgado

Page 12: Fitoterapia

no rótulo. A que conclusões este estudo chegou? Marques - A pesquisa química é um pouco trabalhosa e às vezes exige equipamentos sofisticados e caros, dificuldades que levam as indústrias e mesmo os distribuidores a argumentarem que é difícil executá-la como rotina. Por isso, resolvemos avaliar cerca de 50 amostras de plantas adquiridas do mercado paranaense (que vêm de São Paulo principalmente): pata de vaca, alecrim, guaraná, eucalipto, quassia, guaco, camomila, açafrão, ginseng brasileiro, arnica, marcela, alcaçuz, fucus vesiculosus e carqueja, entre outras. Dessas amostras, analisamos a rotulagem com base na legislação de fitoterápicos (Portaria SVS 6, de 31 de janeiro de 1995) e no Código de Defesa do Consumidor, que exige dados técnicos e gerais orientadores do consumo correto do produto. Analisamos também a parte de pureza do produto, avaliando a presença de sujidades como por exemplo fios, penas, papelão e pregos; insetos vivos e mortos e suas partes (não podem ser encontrados no produto); e ainda a chamada matéria orgânica estranha (outras partes da planta que não contém princípios ativos como por exemplo galhos da pata de vaca quando o esperado são as folhas). Por fim, analisamos a farmacobotânica, isto é, a identificação macro e microscópica dos materiais de modo a comprovar no mínimo que se trata da espécie citada no rótulo do produto. Em linhas gerais, obtivemos mais de 80% de resultados insatisfatórios, principalmente pela presença de matérias orgânicas estranhas (aumenta-se o peso do produto mas dilui-se totalmente a quantidade de substâncias químicas ativas), por sujidades e insetos em segundo lugar; e por contradições na parte farmacobotânica. As rotulagens também estão longe de atender aos requisitos legais. Esses dados mostram o problema do mercado mas também demonstram que o controle básico é muito fácil e exeqüível em qualquer empresa, que por si só seria capaz de identificar mais de 80% dos problemas básicos dessa área.

ComCiência - Quais os principais conceitos dos princípios ativos das plantas com uso potencialmente medicinal? Marques - As plantas são riquíssimas em produtos químicos, que lá estão com finalidade de interação ecológica. O uso de plantas em terapêutica deve obedecer essa complexidade, a que chamamos de "fitocomplexo", mistura essa responsável por um amplo leque de efeitos terapêuticos. O uso de plantas em terapêutica exige atuação multidisciplinar, que envolve desde a coleta da informação de uso, coleta botânica, estudo químico, farmacológico e uso médico. Deve envolver vários profissionais, desde antropólogos, botânicos, químicos, agrônomos, farmacêuticos, médicos, enfermeiros, industriais e governo.

Efeitos colaterais ComCiência - Até que ponto o efeito do uso das plantas ditas medicinais é real ou mito? É possível citar alguns exemplos do uso inadequado dessas plantas e possíveis efeitos colaterais? Marques - Como tudo na vida, depende do caso. Há casos importantíssimos em terapêutica, como o ginkgo biloba, talvez o fitoterápico mais amplamente estudado em todo o mundo, com ações potentes em memória, labirintite, zumbidos, perda da audição e vários outros problemas sérios de saúde. Já outras plantas não provaram seus efeitos, como a pata de vaca que não diminuiu a glicemia de diabéticos, entre outros. Vou citar alguns exemplos de efeitos colaterais: a) cáscara sagrada e sene em uso crônico podem constituir risco de câncer do colo-retal por seus efeitos irritantes; b) camomila e outras plantas da família das compostas podem causar sérias alergias (dermatites de contato); c) arnica montana, uma planta européia, é contra-indicada para uso interno por riscos sérios de agressão ao coração e pulmões; no entanto, é vendida em qualquer farmácia sem maiores alertas e contra-indicações; d) cavalinha inibe a absorção de vitamina B1 e pode causar deficiências nesse nutriente; e) goma guar pode interferir na absorção

Page 13: Fitoterapia

de nutrientes e medicamentos, não podendo ser tomado próximo à ingestão de medicamentos e alimentos.

ComCiência - Como o senhor avalia a polêmica divulgada pela mídia norte-americana em relação ao uso medicinal de plantas como a maconha, por exemplo, e outras de efeito alucinógeno? No Brasil já existem pesquisas nesta área? Marques - Não há contradição técnica nesse ponto, apenas muito preconceito e desinformação. Como paralelo, usamos a morfina retirada do ópio; podemos usar o THC se o mesmo tiver efeitos comprovados e indicações precisas. Parece ser este o caso de utilização em pacientes tratados com quimioterapia e que apresentam sérias crises de vômitos. Nesse caso, o THC atuaria como anti-emético. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) já estudou muito o assunto, mas atualmente não sei de nenhuma pesquisa no Brasil sobre a utilização deste tipo de planta como medicamento.

Mercado mundial ComCiência - É possível afirmar que o número de fitoterápicos no mercado está aumentando? Há alguma indicador sobre esses dados? Marques - Sim, há diversos dados mesmo em âmbito mundial e muita literatura sobre o assunto. O mercado global de medicamentos está estimado hoje em US$ 280 bilhões, dos quais cerca de US$ 14 bilhões (cerca de 5% do global) referem-se a medicamentos fitoterápicos. Somente a Alemanha é responsável por 50% do mercado europeu e mais de 20% do mercado mundial de fitoterápicos (mais de US$ 3 bilhões), com um consumo anual per capita de US$ 39,00. O potencial de crescimento desse mercado em outros países depende do desenvolvimento de atividades de marketing mais amplas. É o que estão ensaiando grandes empresas multinacionais farmacêuticas como a Boehringer Ingelheim, Bayer, Novartis e Roche. O mercado de fitoterápicos cresce na faixa de 6,5% ao ano apenas no ramo OTC. Outras estimativas apontam crescimentos diferenciados de acordo com o País. Na Espanha, a taxa de crescimento é da ordem de 35%; na Alemanha, 15%; na Itália, 11%; e no Reino Unido, 10%. O mercado norte-americano os herbal products é novo e deve crescer bem mais.

ComCiência - A que o senhor atribuir esse crescimento do mercado de fitoterápicos? Marques - Mundialmente, são conhecidas as tendências culturais a favor de tudo que tenha caráter "natural", decorrentes, a princípio, de um processo de contra-cultura e, posteriormente, de um processo de transmutação desse movimento, em decorrência da dissolução da Guerra Fria. Dessa mudança nasce o movimento ecológico, e dele uma tendência geral para se privilegiar tudo o que seja natural. Esta é uma tendência mundial. A grande indústria de medicamentos tem acompanhado as mudanças de hábitos da população, com a compra de pequenas empresas de fitoterápicos e lançamento de produtos nessa classe, sem abandonar a classe química usual. Alguns estudos sociológicos vem sendo feitos sobre esse tema.

Biodiversidade brasileiraComCiência - Como o senhor avalia o potencial fármaco (ou farmacológio ou fitoterápico) da flora brasileira e o desenvolvimento de pesquisas nessa área no Brasil? Marques - Há um enorme potencial em flora e etnofarmacologia no Brasil, porém não há estrutura cultural entre os cientistas e indústrias para gerar pesquisas e colocá-las à disposição no país. Há resistência política à colaboração com o setor industrial e mesmo oposição ideológica contra a idéia de patentes, o que tem inviabilizado o uso desse potencial. Essas contradições vem

Page 14: Fitoterapia

sendo usadas pelas indústrias internacionais, que têm investigado, descoberto e patenteado muitas plantas brasileiras como por exemplo a camu-camu da Amazônia (Myrciaria dubia), que é uma frutinha avermelhada que tem mais vitamina C que a acerola. Está patenteada pelo Japão desde o ano de 1992 como matéria-prima de sucos e sobremesas.

ComCiência - Qual a melhor forma de se proteger a flora brasileira utilizada em bioterapias? Marques - Entendo que é a colaboração mesmo internacional. Como temos poucos financiamentos, creio que devemos entrar em colaboração com japoneses, alemães, americanos e com quem quiser estudar nossa flora, patentear e dividir essa patente conosco. Não fazemos isso em nome da soberania; mas também não fiscalizamos quem entra e patenteia o que quer; bem como não estudamos nossa própria flora. É muito contraditória mas precisamos dessas parcerias antes que nossa flora seja destruída pelas queimadas...

ComCiência - Quais as principais dificuldades do pesquisador brasileiro na área de fitetorápicos?

Marques - São vários os problemas: faltam financiamentos para pesquisa (como em todas as áreas hoje no Brasil), mas falta também contatos com o setor industrial para parcerias conseqüentes. Em minha opinião falta, principalmente, uma política ao setor e um gerenciamento desse processo. Existem milhares de plantas e a pesquisa acontece quando somam-se informações e a planta alça um patamar científico e é estudada. No entanto, cada pesquisador quer pesquisar o que bem entende, sem aprofundar o que já existe e sempre iniciando algum conhecimento. Temos centenas de plantas para as quais apenas a primeira fase da pesquisa foi feita, sem maior aprofundamento para chegar a um medicamento. Os pesquisadores, em nome de sua "autonomia científica", não aceitam qualquer sugestão ao que fazem, numa clara distorção do que seja interesse nacional.

Leitura indicada

FERREIRA, S. (Coord.). Medicamentos a partir de plantas medicinais no Brasil. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Ciências, 1998.

TEIXEIRA, F.E. Natureza: um modismo na cultura alternativa. Pau Brasil, 1985.