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1 FISCAL | Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011 Recolhe unanimidade a afirmação de que o actual contexto económico exige medidas de rigor que permitam reforçar a equidade do sistema tributário e minorar a crise financeira na sustentabilidade das finanças do Estado. Neste contexto, a Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011 (doravante abreviadamente designada por “Proposta do OE”) prevê medidas de natureza fiscal assentes em quatro preocupações essenciais: (i) trazer maior justiça ao IRS; (ii) alargar a base da incidência do IRC e combater práticas de natureza evasiva; (iii) reforçar a capacidade imediata de financiamento do Estado; e (iv) incentivar o investimento. Entre as medidas previstas, têm merecido grande destaque a alteração profunda do aproveitamento das deduções à colecta do IRS, o significativo alargamento da base de incidência do IRC por via da eliminação do tratamento mais favorável actualmente atribuído, em determinadas condições, aos lucros, mais-valias e dedução de prejuízos fiscais, a revisão do limite de relevantes benefícios fiscais às empresas, a criação de uma contribuição sobre o sector bancário na linha das introduzidas noutros Estados Membros e o expressivo aumento do IVA. Mas assumem também grande relevância as alterações propostas ao Código Contributivo, com entrada em vigor prevista para 1 de Janeiro de 2011, designadamente tendo em conta o seu significativo impacto nos encargos a suportar por entidades patronais e trabalhadores. Sem o mesmo potencial de angariação de receita, foi também objecto de ampla discussão nos últimos dias a introdução de uma contribuição extraordinária de solidariedade que incide sobre as chamadas reformas douradas. Em sentido contrário às medidas expostas, prevêem-se alguns incentivos às empresas, traduzidos na promoção de soluções de financiamento dos investimentos empresariais essencialmente por meio de capitais próprios e desonerando os empréstimos às sociedades pelos seus sócios. Seguidamente, sintetizamos e comentamos as alterações fiscais mais relevantes contidas na Proposta do OE que, como referiu o actual Ministro das Finanças, será porventura a mais importante dos últimos 25 anos para o nosso país, devendo, por isso, merecer uma atenta e rigorosa análise.

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FISCAL | Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011

Recolhe unanimidade a afirmação de que o actual contexto económico exige medidas de rigor que permitam reforçar a

equidade do sistema tributário e minorar a crise financeira na sustentabilidade das finanças do Estado. Neste contexto, a

Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011 (doravante abreviadamente designada por “Proposta do OE”) prevê

medidas de natureza fiscal assentes em quatro preocupações essenciais: (i) trazer maior justiça ao IRS; (ii) alargar a base da

incidência do IRC e combater práticas de natureza evasiva; (iii) reforçar a capacidade imediata de financiamento do Estado; e

(iv) incentivar o investimento.

Entre as medidas previstas, têm merecido grande destaque a alteração profunda do aproveitamento das deduções à colecta

do IRS, o significativo alargamento da base de incidência do IRC por via da eliminação do tratamento mais favorável

actualmente atribuído, em determinadas condições, aos lucros, mais-valias e dedução de prejuízos fiscais, a revisão do limite

de relevantes benefícios fiscais às empresas, a criação de uma contribuição sobre o sector bancário na linha das introduzidas

noutros Estados Membros e o expressivo aumento do IVA. Mas assumem também grande relevância as alterações

propostas ao Código Contributivo, com entrada em vigor prevista para 1 de Janeiro de 2011, designadamente tendo em

conta o seu significativo impacto nos encargos a suportar por entidades patronais e trabalhadores. Sem o mesmo potencial

de angariação de receita, foi também objecto de ampla discussão nos últimos dias a introdução de uma contribuição

extraordinária de solidariedade que incide sobre as chamadas reformas douradas.

Em sentido contrário às medidas expostas, prevêem-se alguns incentivos às empresas, traduzidos na promoção de soluções

de financiamento dos investimentos empresariais essencialmente por meio de capitais próprios e desonerando os

empréstimos às sociedades pelos seus sócios.

Seguidamente, sintetizamos e comentamos as alterações fiscais mais relevantes contidas na Proposta do OE que, como

referiu o actual Ministro das Finanças, será porventura a mais importante dos últimos 25 anos para o nosso país, devendo,

por isso, merecer uma atenta e rigorosa análise.

FISCAL | Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011

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Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares - IRS

Obrigatoriedade de incluir o NIF de dependentes na declaração de rendimentos

Ainda que na prática a declaração de rendimentos Modelo 3 do IRS já o exigisse, propõe-se que fique expressamente

previsto na lei a obrigação dos sujeitos passivos de IRS identificarem naquela declaração os dependentes que têm a seu cargo

mediante a indicação do respectivo número de identificação fiscal para efeitos da aplicação de deduções à colecta e da

aplicação de benefícios fiscais.

Valor de aquisição de imóveis no termo de vigência de contrato de locação financeira

No caso de bens imóveis adquiridos no termo do contrato de locação financeira, propõe-se que se considere como valor de

aquisição (para efeitos do cálculo de uma posterior mais-valia) o montante correspondente ao somatório do capital incluído

nas rendas pagas durante a vigência do contrato e do preço de exercício do direito de opção de compra, com exclusão de

quaisquer encargos.

Deduções da Categoria H (pensionistas)

Actualmente, as pensões de montante anual superior a € 30.240 sofrem uma redução da dedução fiscal prevista para a

Categoria H (de € 6.000) no valor de 13% da parte que excede aquele valor de € 30.240. É agora proposto que as pensões de

montante anual superior a € 22.500 sofram também esta redução, sendo que a própria redução é ampliada para 20% da parte

que excede o valor de € 22.500. Trata-se de um aumento significativo da carga fiscal dos pensionistas.

Propõe-se ainda uma limitação acrescida à dedução, no âmbito das pensões, das contribuições obrigatórias para regimes de

protecção social e para subsistemas legais de saúde.

Restrições às deduções de perdas

Propõe-se que o resultado líquido negativo apurado no contexto dos rendimentos prediais (categoria F) e profissionais

(Categoria B), bem como o saldo apurado entre as mais-valias e as menos-valias realizadas no mesmo ano, quando negativo,

passem a ser reportados apenas aos quatro anos seguintes àquele a que respeitam (actualmente este período é de cinco anos,

para os rendimentos prediais e para o saldo negativo entre as mais e menos-valias, e de seis anos, no caso de rendimentos

profissionais).

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Taxa liberatória – Juros e outras formas de remuneração de suprimentos, abonos ou adiantamentos de capital ou decorrentes do não levantamento

de lucros ou remunerações

Propõe-se que os juros e outras formas de remuneração de suprimentos, abonos ou adiantamentos de capital feitos pelos

sócios à sociedade, bem como os que sejam devidos pelo facto de os sócios não levantarem os lucros ou remunerações

colocados à sua disposição passem a estar sujeitos a uma taxa liberatória de 21,5%. Actualmente, estes rendimentos são

sujeitos a englobamento e tributados nos termos gerais.

Regime de não discriminação entre residentes e não residentes provenientes da UE ou do EEE

A Proposta do OE alarga aos rendimentos do trabalho dependente, às remunerações dos membros dos órgãos estatutários,

aos rendimentos de trabalho prestado a bordo de navios ou aeronaves e aos rendimentos provenientes de propriedade

intelectual ou industrial que se consideram obtidos em território português, a possibilidade conferida aos não residentes

provenientes de países da UE ou do Espaço Económico Europeu de solicitar o reembolso de imposto retido sobre aqueles

rendimentos quando este montante seja superior àquele que resultaria da aplicação das taxas progressivas de IRS. Note-se

que esta prerrogativa tributária já existe actualmente no caso de rendimentos decorrentes de prestações de serviços, de actos

isolados e do exercício de actividades de profissionais de espectáculos ou desportistas.

Agravamento da taxa liberatória para rendimentos pagos ou colocados à disposição por conta de terceiros não identificados

Propõe-se o agravamento para 30% das taxas liberatórias para todos os rendimentos a estas sujeitos, sempre que sejam

pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares mas por conta de terceiros não

identificados (vulgo, “testas-de-ferro”). Esta regra não terá aplicação sempre que se consiga identificar o beneficiário

efectivo, circunstância em que se aplicarão as regras gerais.

Tributação autónoma para rendimentos de capitais pagos por não residentes que não recorram a agente pagador em território português

Prevê-se o agravamento, de 20% para 21,5%, das taxas especiais de IRS aplicáveis aos rendimentos de capitais pagos a

residentes para efeitos fiscais em território português por entidades não residentes que não recorram a agente pagador aqui

sedeado.

Alteração das regras das deduções à colecta de IRS

As deduções à colecta dos encargos com equipamentos novos de energias renováveis e com prémios de seguros de saúde

são eliminadas do Código do IRS e passam a estar previstas no EBF.

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A dedução à colecta com prémios de seguros de vida foi eliminada para a generalidade dos sujeitos passivos, excepcionando-

se as importâncias despendidas com prémios de seguros de vida pelos sujeitos passivos que desenvolvam profissões de

desgaste rápido ou as importâncias pagas a associações de mutualistas para o mesmo efeito.

A realização das deduções depende agora da correcta identificação fiscal dos dependentes, ascendentes, colaterais ou

beneficiários a que se reportem, feita na declaração de rendimentos, e ainda da identificação na factura emitida do sujeito

passivo ou do membro do agregado a que se reportem. Propõe-se ainda que as deduções à colecta passem a estar sujeitas a

limites em função do rendimento do sujeito passivo, sendo o montante da dedução menor consoante o rendimento se

enquadrar em escalão superior.

Limites à dedução dos benefícios fiscais

Em termos semelhantes ao que é proposto para as deduções à colecta constantes do Código do IRS, a dedução dos

benefícios fiscais constantes do EBF passa a estar sujeita a limites, em função do escalão do rendimento colectável do sujeito

passivo.

Escalão de rendimento colectável Limite

Até € 4.898 Sem limite

De mais de € 4.898 até € 7.410

De mais de € 7.410 até € 18.375 9,447% do rendimento colectável com

o limite de € 800

De mais de € 18.375 até € 42.259 4,354% do rendimento colectável com

o limite de € 900

De mais de € 42.259 até € 61.2440 2,130% do rendimento colectável com

o limite de € 1.050

De mais de € 61.244 até € 66.045 1,715% do rendimento colectável com

o limite de € 1.100

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Adaptação do Código do IRS ao indexante dos apoios sociais

Propõe-se que o indexante de apoios sociais (IAS) passe a ser a referência para efeitos, designadamente, da determinação dos

limites de dedução à colecta e sujeição a imposto de alguns rendimentos, substituindo a retribuição mínima mensal garantida

que até então tem servido de base. Salienta-se, no entanto, que a retribuição mínima mensal garantida se mantém, nalguns

casos, como valor de referência até que o IAS atinja o valor de € 475. A este respeito, gostaríamos ainda de referir que na

Proposta do OE se prevê a suspensão, durante o ano de 2011, da actualização anual do valor do IAS, mantendo-se assim o

actual valor de € 419,22.

Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas – IRC

Isenção de lucros colocados à disposição de entidades não residentes – Directiva Mães-Filhas

Propõe-se restringir o âmbito da isenção aplicável aos lucros colocados à disposição de entidades residentes ou

estabelecimentos estáveis situados em Estados membros da União Europeia, nos termos da Directiva Mães-Filhas, o qual

deixa de abranger as situações em que, mesmo sendo a entidade beneficiária dos lucros detentora de uma participação

inferior a 10% no capital social da entidade que distribui os lucros, o valor de aquisição dessa participação tenha ascendido a,

pelo menos, € 20.000.000.

Nestes termos, a eliminação deste requisito alternativo torna imperativo, para efeitos de aplicação da isenção, que a

participação directa detida pela entidade beneficiária seja igual ou superior a 10% do capital da entidade pagadora.

Eliminação da dupla tributação económica de lucros distribuídos

Em igual sentido, propõe-se restringir a aplicação do regime de eliminação da dupla tributação económica dos lucros

distribuídos apenas às entidades que detenham uma participação de, pelo menos, 10% no capital social da entidade pagadora,

sendo também para este efeito eliminado o requisito alternativo correspondente ao valor de aquisição não inferior a €

20.000.000.

Por outro lado, prevê-se a eliminação da dedução de 50% dos lucros recebidos e incluídos na base tributável, actualmente

aplicável aos casos em que alguns dos requisitos de que depende a eliminação total da dupla tributação (dedução em 100%)

não se encontram cumpridos, bem como nos casos em que os lucros auferidos não tenham sido sujeitos a tributação

efectiva.

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Neste cenário, se nos casos de lucros de fonte estrangeira ainda restará a possibilidade da dupla tributação internacional ser

atenuada através da aplicação do mecanismo do crédito de imposto, no que concerne aos lucros de fonte nacional verificar-

se-á uma efectiva e total dupla tributação dos mesmos.

Sociedades gestoras de participações sociais (SGPS), sociedades de capital de risco (SCR) e investidores de capital de risco (ICR)

Propõe-se a revogação da norma que consagra a possibilidade das SGPS, SCR e ICR aplicarem o regime de eliminação da

dupla tributação económica dos lucros que lhes sejam distribuídos, sem estarem dependentes do cumprimento do requisito

quanto à percentagem ou ao valor de aquisição da participação.

Nestes moldes, aquelas entidades passarão a estar sujeitas, a exemplo do que sucede com as demais, ao cumprimento integral

das condições de que depende a aplicação daquele regime, tal como a generalidade dos sujeitos passivos de IRC.

Por outro lado, no caso concreto das SGPS, propõe-se ainda restringir a aplicação deste regime quando os lucros que lhes

sejam distribuídos não tenham sido sujeitos a tributação efectiva na fonte. Com esta medida, deixa de ser efectuada qualquer

dedução do montante dos lucros auferidos nestas circunstâncias, sendo, deste modo, as SGPS equiparadas à generalidade

dos sujeitos passivos de IRC.

Perdas por imparidade em créditos

Propõe-se a extensão dos casos em que o risco de incobrabilidade de créditos de cobrança duvidosa se considera

devidamente justificado àqueles em que os créditos tenham sido objecto de reclamação em tribunal arbitral.

Créditos incobráveis

No mesmo sentido, propõe-se o alargamento das situações em que os créditos incobráveis poderão ser considerados gastos

ou perdas do período de tributação, passando a incluir os créditos que resultem de decisões de tribunal arbitral, no âmbito de

litígios emergentes da prestação de serviços públicos essenciais, e também aqueles que se encontrem prescritos e não

atinjam, neste caso, um valor superior a € 750.

Em sentido oposto, propõe-se que a dedutibilidade dos créditos incobráveis, bem como das perdas por imparidade em

créditos de cobrança duvidosa, fique condicionada à existência de prova da comunicação ao devedor da anulação da dívida.

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Encargos não dedutíveis para efeitos fiscais

Propõe-se que a contribuição sobre o sector bancário não seja um encargo dedutível para efeitos da determinação do lucro

tributável das entidades abrangidas por aquela, à semelhança do que sucede com os impostos incidentes sobre os lucros.

Prevê-se ainda que as menos-valias e demais perdas relativas a partes de capital não concorram para a formação do lucro

tributável, na parte que corresponda ao valor dos lucros distribuídos que tenham beneficiado, nos quatro anos anteriores, do

regime de eliminação da dupla tributação económica.

Reinvestimento dos valores de realização - mais-valias realizadas com a alienação de acções

Na mesma linha do que se encontra previsto para a isenção de lucros distribuídos a entidades não residentes, propõe-se

retirar relevância ao valor de aquisição da participação, vedando a aplicação do regime de reinvestimento relativamente a

mais-valias obtidas com a alienação de participações cujo valor de aquisição tenha sido igual ou superior a € 20.000.000, mas

representem uma participação inferior a 10% do capital social.

Dedução de prejuízos fiscais

Prevê-se que a dedução de prejuízos fiscais ao lucro tributável de um determinado período passe a estar dependente da

certificação legal das contas por parte de Revisor Oficial de Contas, segundo termos e condições a definir por portaria do

Ministro das Finanças.

A exemplo do que já se sucede relativamente a mudanças no objecto social ou a alterações substanciais na natureza da

actividade exercida, em resultado de operações de fusão, cisão ou entrada de activos que beneficiem do regime de

neutralidade fiscal, também no caso de alterações da titularidade em, pelo menos, 50% do capital social ou da maioria dos

direitos de voto resultantes de tais operações, poderá o requerimento, a solicitar a manutenção dos prejuízos fiscais, ser

apresentado à Direcção-Geral dos Impostos até ao fim do mês seguinte ao pedido de registo na Conservatória do Registo

Comercial.

É igualmente prevista uma norma (de carácter interpretativo) que determina que o requerimento a solicitar a manutenção

dos prejuízos fiscais dirigido ao Ministro das Finanças, poderá ser apresentado no prazo de 15 dias contados do termo do

prazo da entrega da declaração de rendimentos Modelo 22 (ou da data da respectiva entrega, se anterior), se verificados os

seguintes pressupostos:

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(i) Os prejuízos fiscais em questão tenham sido apurados no período imediatamente anterior ao da verificação de

alterações:

No objecto social da empresa;

Na actividade substancialmente exercida pela empresa;

Na titularidade em, pelo menos, 50% do capital social ou da maioria dos direitos de voto, e, em qualquer

dos casos, desde que

(ii) Tais alterações se verifiquem antes do termo do prazo da entrega da declaração de rendimentos Modelo 22

respectiva.

Dedução de prejuízos fiscais - pessoas colectivas e outras entidades residentes que não exerçam, a título principal, actividade comercial, industrial ou

agrícola

Prevê-se que o prazo de reporte dos prejuízos fiscais resultantes do exercício, por parte destas entidades, de actividades

comerciais, industriais e agrícolas, bem como das menos-valias obtidas, seja reduzido de seis para quatro anos, na linha do

que já se encontra previsto para os demais sujeitos passivos de IRC.

Regime Especial de Tributação de Grupos de Sociedades

Propõe-se a revogação da norma que prevê a correcção do lucro tributável do grupo na parte que correspondente a lucros

distribuídos entre as sociedades do grupo que se encontrem incluídos nas respectivas bases tributáveis individuais.

Caso esta proposta venha a ser aprovada, haverá lugar a uma dupla tributação dos lucros distribuídos, sempre que não seja

possível aplicar – designadamente, nos casos de participações indirectas – o regime geral de eliminação de dupla tributação

económica.

Neutralidade fiscal aplicável às operações de fusão e cisão - Regime aplicável aos sócios das sociedades fundidas ou cindidas

Encontra-se previsto um eventual alargamento das situações em que os sócios de sociedades fundidas ou cindidas poderão

beneficiar do regime de neutralidade fiscal, passando a ser consideradas quaisquer operações de fusão ou cisão abrangidas

pela Directiva 2009/133/CE, do Conselho, de 19 de Outubro de 2009.

Considerando que a legislação interna já abrange, actualmente, todos os tipos de operações de fusão ou cisão previstos na

mencionada Directiva, supomos que o sentido da proposta em apreço seja o de contemplar desde logo situações não

previstas no Código do IRC durante o hiato temporal que se verificará entre uma eventual alteração da Directiva que venha

a alargar o leque de operações abrangidas e a sua transposição para o Código do IRC.

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Taxa de retenção na fonte – rendimentos de capitais

Propõe-se o agravamento, de 20% para 21,5%, da taxa de retenção na fonte aplicável aos rendimentos de títulos de dívida e

outros rendimentos de capitais não expressamente tributados a taxa diferente, obtidos por entidades não residentes e sem

estabelecimento estável em território português. Deste modo, procede-se à equiparação da taxa de retenção na fonte àquela

já actualmente aplicável a entidades residentes (ainda que com a natureza de pagamento por conta do imposto devido a final)

e a sujeitos passivos de IRS que aufiram rendimentos de idêntica natureza.

É também proposto – em linha com o previsto em sede de IRS – estabelecer uma taxa de retenção na fonte aplicável aos

rendimentos de capitais pagos ou colocados à disposição em contas abertas em nome de um ou mais titulares, mas por conta

de terceiros não identificados, passando estes a ser tributados à taxa de 30%. Este regime apenas não será aplicado caso o

beneficiário efectivo destes rendimentos seja identificado, aplicando-se, nessa eventualidade, as regras gerais.

Retenções na fonte

Propõe-se a extensão do carácter definitivo da retenção na fonte aos rendimentos de capital que sejam pagos ou colocados à

disposição em contas em nome de um ou mais titulares, mas por conta de terceiros não identificados, salvo nos casos em

que o beneficiário efectivo destes rendimentos seja identificado, aplicando-se, neste cenário, as regras gerais.

Adicionalmente, é previsto o agravamento, de 20% para 21,5%, da taxa de retenção na fonte aplicável às remunerações

auferidas por membros de órgãos estatutários de pessoas colectivas e de outras entidades.

Prevê-se ainda que as sociedades gestoras de património residentes em território português, com conta aberta junto de

entidades registadoras ou depositárias, passem a ser responsáveis por efectuar a retenção na fonte sobre os rendimentos que

paguem ou coloquem à disposição.

Retenções na fonte – Direito comunitário

Propõe-se que as retenções de imposto efectuadas sobre lucros pagos ou colocados à disposição, por uma sociedade

residente sujeita (e não isenta) a tributação em sede de IRC ou de imposto do jogo, de entidades residentes noutro Estado

membro da União Europeia ou do Espaço Económico Europeu (neste caso, desde que existam mecanismos de troca de

informação em matéria fiscal), poderão ser devolvidas na parte em que excedam, tendo em consideração a totalidade dos

rendimentos auferidos, o que resultaria da aplicação das taxas gerais de IRC e da derrama estadual.

FISCAL | Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011

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Para este efeito, prevê-se a necessidade de apresentação, por parte da entidade beneficiária dos rendimentos, de um

requerimento dirigido aos serviços da Direcção-Geral dos Impostos, no prazo de 2 anos contados do final do ano civil

seguinte àquele em que se verificou o facto tributário, e a demonstração de que aquela cumpre as condições previstas na

Directiva Mães-Filhas.

Trata-se de um mecanismo que visa, essencialmente, eliminar o tratamento discriminatório dos lucros obtidos por entidades

residentes noutro Estado membro da União Europeia ou do Espaço Económico Europeu face ao tratamento fiscal

conferido aos lucros obtidos por residentes em território português.

Taxa de IRC – entidades residentes que não exerçam, a título principal, actividades de natureza comercial, industrial ou agrícola

Prevê-se o agravamento, de 20% para 21,5%, da taxa de IRC aplicável ao rendimento global auferido por entidades

residentes que não exerçam, a título principal, actividades de natureza comercial, industrial ou agrícola.

Tributação autónoma de viaturas ligeiras de passageiros

Propõe-se que a taxa de tributação autónoma aplicável aos encargos relacionados com viaturas ligeiras de passageiros ou

mistas, efectuados ou suportados pelos sujeitos passivos não isentos subjectivamente e que exerçam, a título principal,

actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, deixe de estar indexada aos níveis homologados de emissão de CO2.

Nestes termos, deixa de existir a discriminação positiva que permitia que os encargos com veículos de baixo impacto

ambiental fossem tributados autonomamente à taxa de 5%.

Assim sendo, e com excepção dos encargos referentes a veículos movidos exclusivamente a energia eléctrica, será aplicável

uma taxa de tributação autónoma de 10% sobre os encargos (independentemente de serem ou não dedutíveis) respeitantes a

todas as viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, motos ou motocicletas.

Não obstante, caso tais encargos respeitem a viaturas cujo valor de aquisição seja considerado excessivo (e.g. € 30.000, no

caso de viaturas não exclusivamente movidas a energia eléctrica, adquiridas a partir de 1 de Janeiro de 2011), a taxa de

tributação autónoma passará a ser sempre de 20% (actualmente esta taxa apenas é aplicável caso os sujeitos passivos

apresentem prejuízos fiscais nos 2 períodos de tributação anteriores àqueles em que os factos tributários digam respeito).

Adicionalmente, é proposto que todas as taxas de tributação autónoma sejam elevadas em 10 pontos percentuais sempre que

os sujeitos passivos apresentem prejuízo fiscal no período de tributação respectivo.

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Resultado da liquidação

Dentro da orientação que vem sendo seguida nos últimos anos, prevê-se uma diminuição do impacto que os benefícios

fiscais poderão produzir na determinação do imposto a liquidar por parte das entidades residentes que exerçam, a título

principal, uma actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, bem como das não residentes com estabelecimento

estável em Portugal.

Nestes termos, propõe-se que o resultado da liquidação não possa ser inferior a 90% (actualmente esta percentagem é de

75%) do montante que seria apurado caso o sujeito passivo não usufruísse de benefícios fiscais ou de outros mecanismos de

redução da tributação (relacionados com contribuições suplementares para fundos de pensões e equiparáveis ou com

prejuízos fiscais transmissíveis em resultado de certas operações de reestruturação).

Ao contrário do que se sucede actualmente, em que há uma enunciação expressa dos benefícios abrangidos por esta

limitação, a redacção ora proposta prevê a identificação taxativa dos benefícios fiscais que não serão abrangidos por aquela, a

saber:

(i) Benefícios fiscais de natureza contratual;

(ii) Sistema de incentivos fiscais em investigação e desenvolvimento empresarial II (SIFIDE II);

(iii) Benefícios referentes às Zonas Francas da Madeira e da Ilha de Santa Maria;

(iv) Benefícios que operem por redução de taxa; e

(v) Os seguintes benefícios previstos no Estatuto dos Benefícios Fiscais relativos à:

Criação de emprego,

SGPS, SCR e ICR, e

Eliminação de dupla tributação económica dos lucros distribuídos por sociedades residentes nos

PALOP e em Timor-Leste.

Face à redacção actualmente em vigor, constata-se que há uma reformulação dos benefícios abrangidos por esta limitação, a

qual passa a incluir o regime da interioridade (salvo na parte respeitante à redução de taxa), mas deixa de considerar os

respeitantes à criação de emprego e às deduções à colecta de que beneficiam as SCR.

Pagamento especial por conta

Propõe-se que os bancos, empresas de seguro e outras entidades do sector financeiro passem a considerar, para efeito de

apuramento do pagamento especial por conta, não apenas os juros e rendimentos similares e comissões ou prémios brutos

emitidos, mas também os rendimentos provenientes de comissões de contratos de seguro e de operações consideradas como

contratos de investimento ou de contratos de prestação de serviços, agravando, deste modo, o montante do pagamento a

efectuar.

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Obrigações contabilísticas das empresas

É proposto que os livros, registos contabilísticos e demais documentos de suporte que não sejam documentos autênticos ou

autenticados deixem de poder substituídos por suportes digitalizados. Nestes termos, tais documentos apenas poderão

continuar a ser substituídos por microfilmes que constituam a representação fiel dos mesmos.

É igualmente prevista a possibilidade das facturas ou documentos equivalentes, os talões de venda ou quaisquer documentos

com relevância fiscal emitidos pelo sujeito passivo, mediante recurso a um computador, poderem vir a ser arquivados em

suporte electrónico.

Despesas com equipamentos e software de facturação

Tendo em consideração a exigência de certificação do software, é proposto que, durante os exercícios de 2010 ou 2011, as

despesas excepcionais com o abate de programas e equipamentos informáticos de facturação que sejam substituídos por

motivo daquela exigência, sejam consideradas perdas por imparidade, sem necessidade de obtenção da respectiva aceitação

por parte da Direcção-Geral dos Impostos. No mesmo sentido, propõe-se que as despesas com a aquisição, durante aqueles

exercícios, de programas e equipamentos informáticos de facturação certificados possam ser considerados como gasto fiscal

no período de tributação em que sejam suportadas.

Contribuição extraordinária para o sector bancário

Nos termos da Proposta do OE serão sujeitos passivos desta contribuição as instituições de crédito com sede principal e

efectiva da administração situada em território português, as filiais de instituições de crédito que não tenham a sua sede

principal e efectiva da administração em território português e as sucursais de instituições de crédito com sede principal e

efectiva fora da União Europeia.

A contribuição sobre o sector bancário incidirá sobre:

(i) O passivo apurado e aprovado pelos sujeitos passivos deduzido dos fundos próprios de base (Tier 1) e

complementares (Tier 2) e dos depósitos abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos – taxa aplicável entre

0,01 % e 0,05% em função do valor apurado;

(ii) O valor nocional dos instrumentos financeiros derivados fora do balanço apurado pelos sujeitos passivos – taxa

aplicável entre 0,00010 % e 0,00020% em função do valor apurado.

FISCAL | Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011

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A liquidação será efectuada pelo próprio sujeito passivo, através de declaração de modelo oficial, devendo ser enviada,

anualmente, por transmissão electrónica de dados, até ao último dia do mês de Junho. No que concerne ao respectivo

pagamento, o mesmo deverá ocorrer até ao último dia do mês de Junho nos bancos, correios e tesourarias de finanças.

Serão objecto de densificação por Portaria do Ministro das Finanças, a base de incidência definida, as regras para aplicação

das taxas e para a liquidação, cobrança e pagamento da contribuição.

Imposto sobre o Valor Acrescentado – IVA

Aumento da taxa do IVA

É proposta a subida da taxa normal do IVA de 21% para 23%, no Continente, e de 15% para 16%, nas Regiões Autónomas.

As novas taxas aplicar-se-ão às operações realizadas a partir de 1 de Janeiro de 2011.

Passagem de bens e serviços sujeitos à taxa reduzida ou intermédia para taxa normal

Propõe-se que determinados bens e serviços que beneficiam da taxa reduzida ou taxa intermédia de IVA passem a ser

tributados à taxa normal, por alteração das Listas I e II anexas ao Código do IVA. Destacamos as seguintes alterações:

Taxa reduzida 6% » Taxa Normal 23% (1) Taxa intermédia 13% » Taxa Normal 23% (2)

Refrigerantes, sumos e néctares de frutas Conservas

Leite achocolatado e bebidas e sobremesas lácteas Óleos alimentares e margarinas

Serviços de ginásios Aperitivos e snacks

Livros encadernados em pel Flores e plantas ornamentais

(1) Taxa reduzida de 4% » Taxa normal de 16% nas Regiões Autónomas

(2) Taxa intermédia de 9% » Taxa normal de 16% nas Regiões Autónomas

Penhora de reembolsos de IVA

A Proposta do OE contempla a alteração da regra da impenhorabilidade dos créditos de IVA, estabelecendo que passem a

ser penhoráveis os reembolsos confirmados e comunicados nos termos previstos no

Decreto-Lei n.º 229/95, de 11 de Setembro. Recorde-se que a anterior previsão estabelecia que apenas eram penhoráveis os

créditos de IVA oferecidos à penhora pelo próprio sujeito passivo.

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Restituição do IVA suportado pelas IPSS, Santa Casa da Misericórdia e Igrejas

A Proposta do OE prevê ainda a eliminação da possibilidade de restituição do IVA suportado por instituições da Igreja

Católica, por Instituições Particulares de Solidariedade Social e pela Santa Casa da Misericórdia na aquisição de determinados

bens e serviços, designadamente construção de imóveis e aquisições de veículos.

Impostos Especiais sobre o Consumo – IEC

Aumento das taxas sobre bebidas alcoólicas e tabaco

Em geral, propõe-se um aumento das taxas de imposto sobre as bebidas alcoólicas e sobre o tabaco de 2,2%.

Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos

De acordo com a Proposta em análise, manter-se-á em vigor em 2011 o adicional às taxas do imposto sobre os produtos

petrolíferos e energéticos, no montante de € 0,005 por litro, para a gasolina, e de € 0,0025, para o gasóleo rodoviário e

colorido e marcado.

Propõe-se ainda reduzir a isenção deste imposto conferida aos biocombustíveis apenas às situações em que este produto é

produzido por pequenos produtores dedicados, com o limite global de 40.000 t/ano (no regime actual esta isenção abrange

um conjunto maior de operadores económicos). O respectivo regime será regulado por portaria.

Imposto sobre Veículos – ISV

Aumento das taxas

Em geral é proposto um aumento das taxas (e parcelas a abater) de 2,2% na componente de cilindrada da forma de cálculo

do ISV.

Para automóveis ligeiros de passageiros e mistos é introduzido um “coeficiente de actualização ambiental” o qual prevê, para

2011, um acréscimo de 5% nas taxas (e parcela a abater) da componente ambiental da forma de cálculo do ISV.

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Sujeição a ISV da aquisição de veículos de transporte colectivo por pessoas colectivas de utilidade pública

A Proposta em discussão retira a isenção do ISV atribuída à aquisição, por pessoas colectivas de utilidade pública, de

veículos de transporte colectivo utilizados para actividades de interesse público. Esta isenção é mantida para as Instituições

Particulares de Solidariedade Social.

Abate de veículos em fim de vida

O incentivo fiscal à destruição de automóveis em fim de vida, por redução do ISV na aquisição de veículos novos, não é

renovado para o ano de 2011. O actual regime termina a 31 de Dezembro de 2010.

Imposto Único de Circulação – IUC

Limitação da isenção

A isenção do IUC deixa de ser aplicável às pessoas colectivas de utilidade pública.

Taxas e Contribuições

Contribuição para o audiovisual

O valor mensal da contribuição para o audiovisual a cobrar em 2011 sobe para € 2,25 (€ 1,74 em 2010).

Imposto Municipal sobre Imóveis – IMI

Instrução da Declaração Modelo 1 do IMI de terreno para construção

A Declaração Modelo 1 do IMI a apresentar pelos sujeitos passivos relativamente a terrenos para construção em que não

exista loteamento passa a poder ser acompanhada de comunicação prévia ou de informação prévia favorável.

Taxas

Propõe-se que as taxas de IMI de 1% e 2%, actualmente aplicáveis aos prédios que sejam propriedade de entidades que

tenham domicílio fiscal em país, território ou região sujeitos a um regime fiscal claramente mais favorável, constantes de lista

aprovada por portaria do Ministro das Finanças, sejam aumentadas para 5%.

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Imposto Municipal sobre a Transmissão Onerosa de Imóveis – IMT

Imóveis de interesse nacional, de interesse público ou de interesse municipal

Os prédios classificados como de interesse nacional, de interesse público ou de interesse municipal passam a beneficiar de

isenção de IMT apenas se forem individualmente classificados.

Bens situados nas regiões economicamente mais desfavorecidas

Propõe-se a revogação da isenção de IMT aplicável às aquisições de bens situados nas regiões economicamente mais

desfavorecidas, quando efectuadas por sociedades comerciais ou civis sob a forma comercial que os destinem ao exercício,

naquelas regiões, de actividades agrícolas ou industriais consideradas de superior interesse económico e social.

Aquisição de prédios destinados exclusivamente a habitação própria e permanente

A Proposta do OE prevê a actualização, de € 90.418 para € 92.407, do valor isento de IMT na aquisição de prédio urbano ou

de fracção autónoma de prédio urbano destinado exclusivamente a habitação própria e permanente.

Actualização dos escalões de tributação

Propõe-se a actualização em 2,2% dos escalões de tributação em sede de IMT relativamente à aquisição de prédios

destinados exclusivamente a habitação.

Caducidade da isenção e da redução de taxas aplicáveis a imóveis destinados exclusivamente a habitação

Propõe-se que os imóveis que não sejam afectos à habitação própria e permanente no prazo de seis meses a contar da data

da aquisição, e que tenham sido adquiridos para este fim, deixem de beneficiar da isenção e da redução de taxas de IMT.

Aquisição de prédios por instituições de crédito em actos de dação em cumprimento

Prevê-se a possibilidade de as instituições de crédito obterem a suspensão do pagamento do IMT nos casos de aquisições de

prédios urbanos ou de fracções autónomas destes exclusivamente destinados a habitação em actos de dação em

cumprimento que sejam efectuados por devedor pessoa singular.

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Caso a isenção não venha posteriormente a ser reconhecida, ao imposto devido, cujo pagamento foi suspenso, serão

acrescidos juros compensatórios, pelo prazo máximo de 180 dias.

Transmissões de partes de prédios

Nos casos de transmissão parcial ou total de um prédio, quando o adquirente seja comproprietário e tenha pago imposto

aquando da aquisição, passa a aplicar-se a taxa correspondente apenas ao valor da parte a adquirir.

Caducidade do direito à liquidação e prescrição

A Proposta do OE prevê uma nova regra nos termos da qual, relativamente aos actos ou contratos realizados por

documento particular autenticado ou qualquer outro título, quando essa forma seja admitida em alternativa à escritura

pública, o prazo de caducidade e prescrição do imposto devido conta-se a partir da data da promoção do registo predial.

Reembolso independentemente da anulação

A Proposta do OE contempla a eliminação da possibilidade, actualmente em vigor, de o Ministro das Finanças ordenar o

reembolso do imposto pago nos últimos quatro anos, quando o considere indevidamente cobrado, independentemente da

anulação da liquidação.

Locação Financeira

Prevê-se a alteração da norma que estabelece a isenção de IMT nas transmissões de imóveis locados a favor do locatário,

estabelecendo que tal isenção ocorra no exercício do direito de opção de compra previsto no regime jurídico do contrato de

locação financeira.

Imposto do Selo – IS

Nascimento da obrigação tributária

Nos termos da Proposta do OE, o IS aplicável nos actos, contratos, documentos, títulos, papéis e outros factos previstos na

Tabela Geral deste imposto, em que não intervenham pessoas colectivas ou pessoas singulares no exercício de actividade de

comércio, indústria ou prestação de serviços, é devido quando forem apresentados perante quaisquer entidades ou

profissionais que autentiquem documentos particulares.

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Isenção aplicável aos suprimentos

No âmbito da isenção de IS aplicável aos empréstimos com características de suprimentos, incluindo os respectivos juros

efectuados por sócios à sociedade, encontra-se prevista a eliminação do requisito que impunha a estipulação de um prazo

inicial não inferior a um ano.

Restituição de imposto

Elimina-se a possibilidade de solicitar ao Ministro das Finanças, no prazo de 4 anos, o reembolso de IS indevidamente

cobrado.

Operações de reporte

Propõe-se a isenção de IS das operações de reporte e das alienações fiduciárias em garantia realizados pelas instituições

financeiras, designadamente por instituições de crédito e sociedades financeiras, com interposição de contrapartes centrais.

Constituição de garantias

Á semelhança do anteriormente estabelecido na Lei do Orçamento do Estado para 2010, esta Proposta prevê a isenção do IS

na constituição, em 2011, de garantias a favor do Estado ou das instituições de Segurança Social, no âmbito do pagamento

de dívidas em prestações e de renovação de garantias ao abrigo do Plano Mateus.

Estatuto dos Benefícios Fiscais – EBF

Alargamento do benefício da criação líquida do emprego

Propõe-se que o benefício da criação líquida de emprego apenas possa ser concedido uma única vez por trabalhador que

tenha sido admitido na entidade beneficiária ou noutra entidade com a qual existam relações especiais. Actualmente, este

benefício apenas pode ser concedido uma vez em relação ao mesmo trabalhador, qualquer que seja a entidade patronal.

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Fundos de poupança-reforma e planos de poupança-reforma (PPR)

Propõe-se a alteração da penalização dos contribuintes em caso de mobilização antecipada dos PPR. Assim, no ano em que

ocorrer o pagamento, deverá ser acrescido à colecta de IRS um montante correspondente a 10% das importâncias pagas, se

aos sujeitos passivos que tenham beneficiado da dedução à colecta inerente aos planos de poupança-reforma for atribuído

qualquer rendimento ou for concedido o reembolso dos certificados (salvo em caso de morte do subscritor ou quando

tenham decorrido, pelo menos, cinco anos a contar da respectiva entrega e ocorra qualquer das situações previstas na lei).

Recorde-se que a penalização actualmente em vigor traduz-se no acréscimo à colecta de IRS do ano da verificação dos factos

dos montantes deduzidos, majorados em 10 %, por cada ano ou fracção, decorrido desde aquele em que foi exercido o

direito à dedução.

Mais-valias realizadas por não residentes

Prevê-se o alargamento da não aplicação da isenção de IRS/IRC para as mais-valias realizadas com a transmissão onerosa de

partes sociais, outros valores mobiliários, warrants autónomos e instrumentos financeiros derivados que cumpram

determinados requisitos, por entidades não residentes e sem estabelecimento estável em território português quando essas

entidades sejam domiciliadas em país com o qual não esteja em vigor uma convenção destinada a evitar a dupla tributação

internacional ou um acordo sobre troca de informações em matéria fiscal.

Fundos de investimento imobiliário fechados de subscrição pública

A Proposta do OE vem prever a isenção de IMI e IMT relativamente aos prédios integrados em fundos de investimento

imobiliário fechados de subscrição pública, repondo quanto a estes o regime anterior ao OE para 2010.

Revogação do benefício aplicável à aquisição de acções no âmbito de privatizações

Propõe-se a revogação da norma que, para efeitos da tributação em sede de IRS e de IRC, determina que os dividendos de

acções adquiridas na sequência de processo de privatização realizado até ao final do ano de 2002, mesmo que resultantes de

aumentos de capital, contam em apenas 50% do seu valor, líquido de outros benefícios, desde a data de início do processo

de privatização até decorridos os cinco primeiros exercícios encerrados após a sua finalização.

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Disposições diversas com relevância tributária

Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II (SIFIDE II)

Propõe-se, em termos gerais, a extensão dos benefícios fiscais previstos no âmbito do SIFIDE, para que os mesmos

continuem a ser aplicáveis aos períodos de tributação de 2011 a 2015.

Este novo regime continuará a permitir que entidades residentes e estabelecimentos estáveis em território português de

entidades não residentes possam deduzir à sua colecta de IRC, dentro de certos limites e condições, despesas com

investigação e desenvolvimento (I&D) que sejam consideradas elegíveis para o efeito.

A título de novidades, o SIFIDE II prevê que:

(i) As despesas de funcionamento elegíveis deixem de estar sujeitas a um limite máximo, mas continuem a ter de estar

relacionadas com os encargos com pessoal directamente envolvido em tarefas de I&D;

(ii) Os encargos com execução de projectos de I&D necessários ao cumprimento de obrigações contratuais públicas

passem a integrar o elenco das despesas elegíveis;

(iii) Os sujeitos passivos de IRC que sejam PME, que ainda não tenham completado dois exercícios e que não tenham

tido a possibilidade de beneficiar da taxa incremental aplicável a partir de certo nível de despesas, possam

beneficiar de uma majoração de 10% à taxa base fixada (32,5%), que serve de base ao apuramento das deduções à

colecta;

(iv) Os sujeitos passivos que estejam envolvidos em operações de fusão, cisão, entradas de activos ou permutas de

partes sociais possam solicitar ao Ministro das Finanças a transmissão deste benefício fiscal para a entidade que

resultar da realização de tais operações;

(v) A Comissão Certificadora para os Incentivos Fiscais à I&D Empresarial passe a comunicar à Direcção-Geral dos

Impostos, até ao final do mês de Fevereiro de cada ano, a identificação dos beneficiários e do montante das

despesas consideradas elegíveis reportáveis ao ano anterior.

Prorrogação do Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (“RFAI”)

A Proposta do OE prorroga, por mais um ano, a vigência do RFAI, aprovado pelo artigo 13.º da Lei n.º 10/2009, de 10 de

Março, que permite que os sujeitos passivos que efectuem em 2011 investimentos considerados relevantes usufruam de

determinados benefícios fiscais, designadamente, deduções à colecta do IRC, isenção de IMI (por um período até cinco

anos, relativamente aos prédios da sua propriedade que constituam investimento relevante), isenção de IMT e de IS

(relativamente às aquisições de prédios que constituam investimento relevante).

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Medidas Excepcionais de Apoio ao Financiamento das Empresas

Suprimentos e empréstimos efectuados pelos sócios a PME

Propõe-se, para efeitos de determinação do lucro tributável, um desagravamento da taxa máxima fiscalmente aceite aplicável

aos juros e outras formas de remuneração de suprimentos e empréstimos feitos pelos sócios, quando estejam em causa

PME. Neste caso, a taxa máxima aplicável a estes meios de financiamento passará a corresponder à EURIBOR a 12 meses

do dia da constituição da dívida acrescida de um spread de 6%.

Para os restantes casos, o spread a acrescer àquela taxa EURIBOR continuará a não poder ultrapassar 1,5%.

Remuneração convencional do capital social

Prorroga-se a vigência do regime da remuneração convencional do capital social, aprovado pela Lei n.º 67-A/2007, de 31 de

Dezembro, o qual consiste na dedução de uma importância correspondente à remuneração convencional do capital social,

calculada mediante a aplicação da taxa de 3% ao montante das entradas realizadas, por entregas em dinheiro, pelos sócios, no

âmbito da constituição de sociedade ou de aumento do capital social, na determinação do lucro tributável do IRC.

Para a aplicação deste benefício será necessário que:

(i) A sociedade beneficiária seja qualificada como PME, nos termos previstos no anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007,

de 6 de Novembro;

(ii) Os sócios que participem na constituição da sociedade ou no aumento do capital social sejam exclusivamente

pessoas singulares, SCR ou ICR;

(iii) O lucro tributável não seja determinado por métodos indirectos.

A referida dedução aplica-se exclusivamente às entradas, no âmbito de constituição de sociedades ou de aumento do capital

social, que ocorram nos anos de 2011 a 2013, e é efectuada no apuramento do lucro tributável relativo ao período de

tributação em que ocorram as mencionadas entradas e nos dois períodos seguintes.

Este benefício fiscal é apenas cumulável com os benefícios relativos à interioridade, desde que globalmente não ultrapassem

€ 200.000 por entidade beneficiária, durante um período de três anos, de acordo com as regras comunitárias aplicáveis aos

auxílios de minimis, definidas no Regulamento (CE) n.º 1998/2006, da Comissão, de 15 de Dezembro de 2006.

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Medidas Excepcionais de Apoio ao Financiamento da Economia

Empréstimos externos

Propõe-se a isenção de IRS ou de IRC relativamente aos juros de capitais provenientes do estrangeiro representativos de

contratos de empréstimo Schuldscheindarlehen celebrados pelo Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, I.P., em

nome e em representação da República Portuguesa, desde que o credor seja um não residente sem estabelecimento estável

em território português ao qual o empréstimo seja imputado.

Para o efeito, prevê-se a necessidade de apresentação de prova de não residência até à data do pagamento do rendimento ou,

caso o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, I.P. não conheça, nessa data, o beneficiário efectivo, nos 60

dias posteriores.

Valores mobiliários representativos de dívida emitida por entidades não residentes

Prevê-se que os rendimentos dos valores mobiliários representativos de dívida pública e não pública emitidos por entidades

não residentes, que sejam considerados obtidos em território português, pagos pelo Estado Português enquanto garante de

obrigações assumidas por sociedades das quais é accionista em conjunto com outros Estados membros da União Europeia,

fiquem isentos de tributação em sede de IRS e IRC.

A isenção aplicável a tais rendimentos apenas aproveitará aos beneficiários efectivos que:

(i) Não sejam considerados residentes nem possuam estabelecimento estável em território português;

(ii) Não sejam pessoas colectivas detidas, directa ou indirectamente, em mais de 20% por entidades residentes;

(iii) Não sejam entidades residentes em país, território ou região com regimes de tributação privilegiada, constante de

lista aprovada por portaria do Ministro de Estado e das Finanças, salvo nos casos dos bancos centrais e das

agências de natureza governamental.

Operações de reporte com instituições financeiras não residentes

Propõe-se a isenção de IRC relativamente aos ganhos obtidos por instituições financeiras não residentes na realização de

operações de reporte de valores mobiliários efectuadas com instituições de crédito residentes, desde que os ganhos não

sejam imputáveis a estabelecimento estável daquelas instituições situado em território português.

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Código do Procedimento e do Processo Tributário – CPPT

Entidades competentes para reconhecer o direito a juros indemnizatórios e prazos

De acordo com o texto da Proposta, o CPPT passará a prever as entidades competentes para reconhecer o direito dos

contribuintes a juros indemnizatórios. Estabelecem-se ainda os procedimentos a adoptar e os prazos para o contribuinte

reclamar a falta de pagamento dos juros indemnizatórios, depois de aquele reconhecimento ser efectuado, sendo ainda

fixado um prazo de 30 dias contados do termo do prazo de execução espontânea, para a reclamação de não pagamento de

juros indemnizatórios, dirigida ao órgão periférico regional, no caso da execução de uma decisão judicial de que resulte esse

direito.

Alteração do procedimento de verificação e graduação de créditos

Propõe-se que a verificação e graduação de créditos passe a ser efectuada pelo órgão de execução fiscal, deixando assim de

estar a cargo do tribunal tributário de 1.ª instância. Poderão todavia os credores reclamar da verificação e graduação de

créditos no prazo de 10 dias. Esta reclamação terá efeito suspensivo, sendo o tribunal tributário de 1.ª instância o órgão

competente para dela conhecer.

Agilização das regras de venda de bens penhorados

São propostas alterações aos procedimentos inerentes à venda de bens penhorados. Propõe-se que a venda passa a ser feita

preferencialmente por meio de leilão electrónico e só na impossibilidade deste é que se recorre à venda por propostas em

carta fechada (único meio actualmente previsto na lei). O leilão electrónico decorrerá durante 15 dias, sendo o valor base de

licitação o correspondente a 70% do valor do bem, calculado nos termos do CPPT. Salienta-se ainda que o adquirente do

bem penhorado passa a poder, com base no título de transmissão, requerer ao órgão de execução fiscal a entrega dos bens.

Regime Geral das Infracções Tributárias

Cúmulo material das sanções aplicáveis em processo contra-ordenacional

Propõe-se que as sanções aplicadas às contra-ordenações em concurso sejam sempre objecto de cúmulo material. Trata-se de

um regresso ao regime inicialmente previsto no registo, que implicará a eliminação dos limites máximos dos montantes das

coimas relativas às contra-ordenações em concurso.

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Lei Geral Tributária

Esclarecida a obrigação de informação relativa a operações financeiras efectuadas por sujeitos passivos da Categoria B e de IRC

Actualmente, as instituições de crédito e sociedades financeiras têm o dever de informar a Administração Tributária, quando

esta o solicite, sobre o valor dos fluxos de pagamentos com cartões de crédito e de débito relativos a sujeitos passivos

inseridos em determinados sectores de actividade que aufiram rendimentos da categoria B de IRS e de IRC, sem que se

identifique os titulares dos cartões. De acordo com a Proposta, deixará de ser necessário solicitar esta informação, devendo a

mesma ser fornecida para todos os sujeitos passivos que aufiram aqueles rendimentos, até ao final do mês de Julho de cada

ano, através de declaração de modelo oficial, a aprovar por Portaria do Ministro das Finanças.

Existência de dívidas tributárias passa a justificar acesso a informações e documentos bancários

Propõe-se que a mera “existência comprovada” de dívidas tributárias permita à Administração Tributária o acesso a todas as

informações ou documentos bancários sem dependência do consentimento do titular dos elementos protegidos. Note-se que

esta prerrogativa da Administração Tributária já se encontrava prevista, desde Setembro de 2010, no caso de dívidas à

Segurança Social.

Autorizações Legislativas

Directiva n.º 20010/24/UC

Autoriza-se o Governo a proceder à transposição para a ordem jurídica interna da Directiva n.º 2010/24/UE, do Conselho,

de 16 de Março de 2010, relativa ao mecanismo de assistência mútua em matéria de recuperação de créditos de impostos,

direitos e outras medidas entre os Estados membros da União Europeia, e a revogar o Decreto-Lei n.º 296/2003, de 21 de

Novembro.

Revisão da regulamentação relativa à atribuição e gestão do número de identificação fiscal

A Proposta do OE contempla uma autorização legislativa ao Governo para revisão e sistematização de toda a

regulamentação relativa à atribuição e gestão, para fins exclusivamente fiscais, do número de identificação fiscal pela

Direcção-Geral dos Impostos, procedendo à uniformização das regras de emissão do cartão de identificação fiscal com as

regras aplicáveis ao cartão do cidadão, cartão da empresa e cartão de pessoa colectiva e introduzindo procedimentos que

visem simplificar o cumprimento de obrigações fiscais.

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Autorização legislativa relativa ao regime de estruturação fundiária

A Proposta do OE contempla igualmente uma autorização legislativa ao Governo para proceder à aprovação do regime

jurídico da estruturação fundiária. Esta autorização compreende, entre as diversas medidas propostas, a criação de um

regime de incentivos fiscais destinados à promoção do redimensionamento de prédios e à mobilização de terras agrícolas,

florestais ou agro-florestais, designadamente, benefícios fiscais associados ao IMI, IMT e ao IS.

Código Contributivo

Perspectivando-se a entrada em vigor do Código Contributivo para Janeiro de 2011, é proposta a introdução de algumas

alterações à Lei n.º 110/2009, de 16 de Setembro, que aprovou aquele diploma. Destacamos seguidamente as mais

relevantes.

Regras dependentes de regulamentação

A Proposta do OE contém uma alteração ao diploma que aprovou o Código Contributivo, de acordo com a qual

(i) os montantes atribuídos aos trabalhadores a título de participação nos lucros da empresa (quando não esteja

assegurada ao trabalhador uma remuneração adequada ao seu trabalho),

(ii) os valores despendidos pela entidade empregadora com aplicações financeiras, a favor dos trabalhadores, que

sejam objecto de antecipação e

(iii) os prémios atribuídos ao trabalhador que estejam relacionados com o desempenho da empresa,

apenas integrarão a base de incidência contributiva quando houver regulamentação que defina os termos em que estas

prestações estarão sujeitas a contribuições.

Refira-se ainda que a regra da adequação da taxa contributiva à modalidade de contrato de trabalho – introduzida pelo

Código Contributivo – também carece de regulamentação prévia para que passe a vigorar. Salienta-se que, nos termos da

Proposta do OE, a regulamentação não terá lugar antes de 1 de Janeiro de 2014 e será precedida de avaliação efectuada em

reunião da Comissão Permanente de Concertação Social

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Base de incidência contributiva – Sujeição dos montantes atribuídos a título de despesas de representação

Propõe-se que a sujeição a contribuições para a Segurança Social dos valores atribuídos a título de despesas de representação

– desde que predeterminados – passe a estar dependente de não terem sido prestadas contas até ao termo do exercício, no

que constitui uma aproximação ao regime constante do Código do IRS.

Base de incidência contributiva – Clarificação da sujeição a contribuições pela atribuição de viatura automóvel ao trabalhador

Adita-se uma regra ao Código Contributivo na qual se procura esclarecer em que medida a atribuição de viatura automóvel

ao trabalhador integra a base de incidência, sendo proposto passar a considerar-se que a viatura é para uso pessoal sempre

que tal se encontre previsto em acordo escrito entre o trabalhador e a entidade empregadora.

Do acordo escrito deverá resultar:

(i) a afectação em permanência de uma viatura concreta ao trabalhador,

(ii) que a entidade empregador suporta na íntegra os encargos com a viatura e decorrentes da sua utilização e

(iii) que é conferida ao trabalhador a possibilidade de utilização para fins pessoais ou, quando o trabalhador não esteja

abrangido pelo regime da isenção de horário de trabalho, a possibilidade de utilização da viatura durante 24 horas

por dia.

Nos termos constantes da Proposta do OE, a viatura será ainda considerada para uso pessoal sempre que no acordo escrito

seja afecta ao trabalhador, em permanência, viatura automóvel concreta, com expressa possibilidade de utilização nos dias de

descanso semanal. Salientamos ainda que, na sujeição a contribuições desta prestação, deixa de ser feita remissão para as

regras do IRS, referindo-se agora que o valor sujeito a incidência contributiva corresponde a 0,75% do custo de aquisição da

viatura.

Base de incidência contributiva – Clarificação da sujeição a contribuições das despesas de transporte suportadas pela entidade empregador

Propõe-se que as despesas de transporte suportadas pela entidade empregadora para custear as deslocações em benefício dos

trabalhadores passem a estar sujeitas a contribuições apenas na medida em que não se traduzam na utilização de meio de

transporte disponibilizado pela entidade empregadora. Propõe-se ainda a sujeição a contribuições quando tais despesas

excedam o valor de passe social ou, na inexistência deste, quando excedam o valor que resultaria da utilização de transportes

colectivos.

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Base de incidência contributiva – Alteração dos limites de incidência contributiva por Instrumento de Regulamentação Colectiva

É proposto que, relativamente às importâncias atribuídas a título de ajudas de custo, abonos de viagem, despesas de

transporte e outras equivalentes, aos abonos para falhas, à compensação por cessação do contrato de trabalho por acordo

nas situações com direito a prestações de desemprego e às importâncias auferidas pela utilização de automóvel próprio em

serviço da entidade empregadora – prestações relativamente às quais a incidência contributiva será determinada por remissão

para as regras do IRS –, os limites previstos no Código do IRS possam ser acrescidos até 50%, desde que o acréscimo resulte

de Instrumento de Regulação Colectiva de Trabalho.

Base de incidência contributiva – Compensação por cessação do contrato de trabalho

Propõe-se que a exclusão da base de incidência contributiva dos montantes de compensação por cessação de contrato de

trabalho, actualmente circunscrita aos casos de despedimento colectivo, por extinção do posto de trabalho e por

inadaptação, passe a ser aplicável aos casos de não concessão de aviso prévio, de despedimento por caducidade e por

resolução por parte do trabalhador.

Prestação de serviços – Enquadramento como entidade contratante

Deverão passar a considerar-se entidades contratantes de serviços – sujeitas a uma contribuição de 5% do valor dos serviços

prestados – as pessoas colectivas e as pessoas singulares com actividade empresarial que no mesmo ano civil beneficiem de

pelo menos 80% do valor total da actividade de trabalhador independente, considerando-se para este efeito como prestados

à mesma entidade contratante os serviços prestados a empresas do mesmo agrupamento empresarial.

Contribuição Extraordinária de Solidariedade

Prevê-se a criação de uma contribuição extraordinária incidente sobre as reformas, pensões, subvenções e outras prestações

pecuniárias de idêntica natureza, pagas a um único titular, cujo valor seja superior a € 5.000 (que vulgarmente tem sido

denominada “imposto sobre as reformas douradas”).

Nos termos propostos, esta contribuição incidirá sobre o montante daquelas prestações que exceder o mencionado valor, a

respectiva taxa será de 10% e reverterá a favor da Segurança Social, no caso das pensões pagas pelo Centro Nacional de

Pensões, e a favor da Caixa Geral de Aposentações, nos restantes casos.