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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
FINANCIAMENTO E ACESSO A MEDICAMENTOS NO
ÂMBITO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO
MUNCÍPIO DE ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A
2012
Sandro Martins de Assumpção
São Cristóvão - SE
2014
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
FINANCIAMENTO E ACESSO A MEDICAMENTOS NO
ÂMBITO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO
MUNCÍPIO DE ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A
2012
Sandro Martins de Assumpção
Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli;
co-orientador: Prof. Dr. Wellington Barros da Silva.
São Cristóvão - SE
2014
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
A485a
Amaral, Ricardo Guimarães Avaliação da atividade antitumoral do óleo essencial da Mentha x villosa (Lamiceae) / Ricardo Guimarães Amaral ; orientadora Sara Maria Thomazzi. – São Cristóvão, 2014.
91 f. : il.
Dissertação (mestrado em Ciências Fisiológicas)– Universidade Federal de Sergipe, 2014.
1. Câncer. 2. Essências e óleos essenciais. 3. Antitumorais. 4. Toxicidade. 5. Menta x villosa. I. Thomazzi, Sara Maria, orient. II. Título.
CDU 616-006:582.929.4
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SANDRO MARTINS DE ASSUMPÇÃO
FINANCIAMENTO E ACESSO A NO ÂMBITO DA
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO MUNCÍPIO DE
ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A 2012
Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas
Aprovada em:___/___/___ ________________________________________
Prof.Dr. Ângelo Roberto Antoniolli: Orientador
________________________________________ Prof.Dr. Wellington Barros da Silva :Co-orientador
______________________________________________ Prof.Drª Adriana Andrade Carvalho:Examinadora externa
______________________________________________ Prof.Drª Francilene Amaral da Silva: Examinadora interna
PARECER _________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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RESUMO
Assumpção S.M. FINANCIAMENTO E ACESSO A MEDICAMENTOS NO ÂMBITO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO MUNCÍPIO DE ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A 2012. Dissertação de Mestrado em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Sergipe, 2013. A Assistência Farmacêutica é parte integrante do sistema de saúde e tem no medicamento, o insumo essencial em ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde. A ampliação do acesso da população ao sistema de saúde exigiu mudanças na distribuição e no financiamento de medicamentos, de maneira a aumentar a cobertura e minimizar os custos. O presente estudo se propôs a avaliar a relação entre o financiamento tripartite da Assistência Farmacêutica Básica e a garantia ao acesso da população aos medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica no município de Aracaju. Trata-se de um estudo observacional descritivo, de cunho exploratório, do tipo Estudo de Caso, avaliando o período compreendido entre os anos de 2008 e 2012. Inicia-se o trabalho com um breve resgate da história da Assistência Farmacêutica no Brasil, seus mecanismos de financiamento e o processo de descentralização da saúde. Procede-se à análise das entrevistas semi-estruturadas realizadas junto ao gestor Municipal de Assistência Farmacêutica, dos Relatórios Anuais de Gestão do município, dos relatórios elaborados pela coordenação Municipal de Assistência Farmacêutica e dos depósitos realizados na conta do Fundo Municipal de Saúde destinada ao Componente Básico da Assistência Farmacêutica e discutem-se os resultados encontrados. Após avaliação dos resultados, verificou-se que, para o período da pesquisa, existiu suficiência de recursos para atender toda a demanda municipal por medicamentos desse componente, entretanto, pôde-se perceber que, houve descontinuidade no abastecimento e, consequentemente, no acesso a esses medicamentos. Conclui-se assim, que não existiu relação entre suficiência financeira e garantia de acesso a medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica no município de Aracaju durante o período da pesquisa. Palavras-chave: Assistência Farmacêutica; Medicamentos Essenciais; Atenção Básica à Saúde
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ABSTRACT
Assumpção S.M. FINANCING AND ACCESS TO DRUGS, ESSENCIAL WITHIN OF THE PRIMARY PHARMACEUTICAL SERVICE IN ARACAJU BETWEEN THE YEARS 2008 TO 2012. Dissertação de Mestrado em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Sergipe, 2013. The Pharmaceutical Services are an integral part of the health system and it has in the drug a essential ingredient in the actions in the promotion, protection and recovery of health. Increased access of population to the health system have required changes in the distribution and financing of drugs in order to increase coverage and minimize costs. The present study aimed to evaluate the relationship between the Brazilian governmental financing and assurance the population's access to Drugs, Essential of the Component of Primary Pharmaceutical Care in the city of Aracaju. This is an observational descriptive study of an exploratory nature, the case study type, evaluating the period between the years 2008 and 2012. Work begins rescuing briefly the history of Pharmaceutical Services in the Brazilian Health System and its funding mechanisms in the process of decentralization of health. Proceeds to the analysis of semi -structured interviews conducted by the Pharmaceutical Care`s Municipal Manager, Management Annual Reports of the municipality , reports prepared by Municipal Pharmaceutical Assistance Management and of the deposits made to the account of the Fund allocated to the Municipal Health Component Basic pharmaceutical services and discusses the results. After evaluating the results, it was found that, for the study period, there was sufficient resources to serve all municipal demand for medication of this component, however, it could be seen that there was discontinuity in the supply and consequently, access to these drugs. It is therefore concluded that there was no relationship between sufficiency and ensuring access to Drugs,Essential in the city of Aracaju during the survey period. Keywords: Pharmaceutical Services; Drugs, Essential; Primary Health Care
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Representação esquemática do ciclo da AF...................................17
Figura 2 Linha do tempo com os principais marcos da AF no Brasil.............26
Figura 3 Comparação entre o valor oficial do IAFB em 2012 com o valor
de IAFB considerado adequado pela plenária da 12ª Confe-
rência Nacional de Saúde, realizada em 2003 (corrigido
pela inflação IPCA apurada no período compreendido
entre Dezembro de 2003 a Dezembro de 2012)..............................49
Figura 4 Comparação entre percentuais de aumento dos recursos do
IAFB/Inflação IPCA acumulada no período entre Janeiro de
2008 e Dezembro de 2012...............................................................52
Figura 5 Comparação da evolução do gasto com o CBAF, frente a valores
do IAFB recebidos e valores do IAFAB não utilizados, em
R$, Aracaju SE.................................................................................53
Figura 6 Comparação entre total de valores recebidos da IAFB entre os
anos de 2008 e 2012 com o Total de recursos do IAFB recebidos
e não utilizados entre 2008 e 2012 na conta do FMS que
só poderiam ser utilizados na aquisição de medicamentos do
CBAF e o gasto total com medicamentos do CBAF em 2012.
Para o Município de Aracaju.............................................................56
Figura 7 Evolução dos recursos destinados à aquisição de medicamentos
pelo MS em comparação aos recursos federais destinados ao
CBAF................................................................................................59
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Medicamentos da ARP Estadual com os maiores valores percen-
tuais de aumento em relação aos preços obtidos pelo Pregão
Municipal no ano de 2011 ................................................................51
Tabela 2 Evolução de gastos e recursos recebidos na conta do Compo-
nente Básico da AF do FMS de Aracaju-SE. Em reais( R$ )............53
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LISTA DE ABREVIATURAS
AB Atenção Básica
AFB Assistência Farmacêutica Básica
APS Atenção Primária em Saúde
ARP Ata de Registro de Preços
CBAF Componente Básico da Assistência Farmacêutica
CEAF Componente Especializa da Assistência Farmacêutica
Ceme Central de Medicamentos
CES Conselho Estadual de Saúde
CIB Comissão Intergestores Bipartite
CIT Comissão Intergestores Tripartite
CMM Consumo Médio Mensal
CNS Conselho Nacional de Saúde
CODAF Coordenação de Assistência Farmacêutica
DAF Departamento de Atenção Básica
ESF Estratégia de Saúde da Família
FES Fundo Estadual de Saúde
FMS Fundo Municipal de Saúde
FNS Fundo Nacional de Saúde
GM Gabinete do Ministro
IAFB Incentivo da Assistência Farmacêutica Básica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
MS Ministério da Saúde
PFB Programa Farmácia Básica
PNM Política Nacional de Medicamentos
PMS Plano Municipal de Saúde
PSF Programa Saúde da Família
RAG Relatório Anual de Gestão
Rename Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
SargSUS Sistema de Apoio ao Relatório Anual de Gestão
SES Secretaria de Estado da Saúde
SMS Secretaria Municipal de Saúde
SIFAB Sistema de Acompanhamento do Incentivo à Assistência
Farmacêutica Básica
SUS Sistema Único de Saúde
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................11
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................14
2.1 O Sistema Único de Saúde .......................................................................14
2.2 A Atenção Básica e a Estratégia Saúde da Família ..................................14
2.3 A Política Nacional de Medicamentos e a Assistência Farmacêutica.......16
2.4 O Ciclo da Assistência Farmacêutica.........................................................17
2.4.1 Seleção de Medicamentos ..............................................................18
2.4.2 Programação....................................................................................18
2.4.3 Aquisição..........................................................................................19
2.4.4 Armazenamento...............................................................................19
2.4.5 Gestão de Materiais .......................................................................19
2.4.6 Distribuição de Medicamentos .......................................................19
2.4.7 Dispensação.....................................................................................20
2.5 O Financiamento da Assistência Farmacêutica e seus Componentes...20
2.6 O Monitoramento do Componente Básico da Assistência Farmacêutica.24
2.7 O acesso aos Medicamentos do Componente Básico da
Assistência Farmacêutica ........................................................................24
2.8 Histórico da Assistência Farmacêutica no Brasil ......................................26
2.9 A Descentralização da Assistência Farmacêutica no SUS........................28
2.10 Legislação da Assistência Farmacêutica.................................................31
2.11 Panorama Atual da Gestão da Assistência Farmacêutica
Básica......................................................................................................34
2.12 A Estruturação da Assistência Farmacêutica no Sistema Único de
Saúde e o Desafio da Ampliação do Acesso aos Medicamentos do
Componente Básico................................................................................35
2.13 A Assistência Farmacêutica Básica no Estado de Sergipe.....................36
2.14 O Processo Licitatório e o Sistema de Registro de Preços Estadual......37
3 OBJETIVOS.....................................................................................................40
3.1 Objetivos Gerais.........................................................................................40
3.2 Objetivos Específicos.................................................................................40
4 MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................41
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4.1 Tipo de Estudo ..........................................................................................41
4.2 Descrição da Unidade-Caso......................................................................41
4.3 Processo de Coleta de Dados...................................................................42
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................45
5.1 A Suficiência de recursos...........................................................................45
5.2 O Fenômeno da Judicialização de medicamentos e sua interferência
nos serviços da AF................................................................................46
5.3 As discussões sobre os valores do IAFB..................................................48
5.4 As dificuldades na garantia do acesso aos medicamentos do CBAF.......49
5.5 As dificuldades de utilização do IAFB e falta de estruturação da
AFB Municipal............................................................................................52
5.6 As dificuldades no monitoramento de recursos do IAFB...........................57
5.7 A gestão da AF Estadual...........................................................................59
5.8 Considerações do autor.............................................................................60
6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO.............................................................................63
7 CONCLUSÕES................................................................................................64
REFERÊNCIAS ....................................................................................................66
ANEXO A Roteiro de entrevista semi-estruturada realizada com o
gestor municipal da Assistência Farmacêutica...................................72
ANEXO B Lista de Medicamentos ofertados gratuitamente pelo Programa
Saúde não tem Preço do MS..............................................................73
ANEXO C Art.24 da Portaria GM/MS nº 2.981 com os medicamentos
transferidos do CEAF para o CBAF ...................................................74
ANEXO D Fragmento do Relatório Anual de Gestão 2011 do Município de
Aracaju com a informação sobre os investimentos na AF do
SargSUS.............................................................................................75
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ANEXO E Documento da CODAF/Aracaju com itens mais caros e mais
baratos na ARP Estadual e medicamentos com maiores
percentuais de diferença entre a ARP Estadual e o Pregão
Municipal de Aracaju (Ano de 2011)...................................................76
ANEXO F Anexo III da Portaria nº 4.217, de 28 de Dezembro de 2010..............80
ANEXO G Deliberação do CIE ............................................................................83
ANEXO H Elenco de referência da SES...............................................................84
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INTRODUÇÃO
A Atenção Básica (AB) à saúde vem assumindo papel relevante no
processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil como
coordenadora do cuidado no seu território. Vários cenários apontam para a
necessidade de uma mudança de paradigma nessa área, imprescindível para o
enfrentamento dos desafios sanitários, econômicos e sociais da saúde, inclusive
na Assistência Farmacêutica (AF). Nesse contexto, é necessário que as ações
desenvolvidas na AF acompanhem esse processo, capacitando-se para atender
às novas demandas que essa realidade impõe (Brasil, 2011).
Com a publicação da Política Nacional de Medicamentos (PNM), a AF
passou a ser entendida como parte integrante de um conjunto de práticas
voltadas para a promoção, prevenção e recuperação de saúde, tanto individual
como coletiva, contemplando atividades que extrapolam o simples abastecimento
de medicamentos (Barreto, 2010).
A construção de uma nova gestão de AF no SUS fundamentou-se na
implementação das diretrizes estabelecidas na PNM nos estados e municípios,
entre elas, a reorientação da AF, fundamentada, entre outros, na descentralização
da gestão (Brasil, 2007).
Assim, os municípios passaram a assumir uma série de responsabilidades
que exigem mobilização de conhecimento e habilidades técnicas, gerenciais e
políticas em relação à AF (Marin et al, 2003). Porém, essas condições ainda estão
bem distantes daquelas necessárias para que os municípios assumam suas
funções de executores desta política.
Estudos apontam para problemas na organização das atividades voltadas
para o medicamento decorrentes da falta de prioridade para com este campo de
assistência, observada historicamente na organização do sistema de saúde no
Brasil (Barreto, 2010).
A descentralização da gestão das ações da AF, sua estruturação nos
municípios e a ampliação do acesso da população aos medicamentos essenciais
foram avanços institucionais, no entanto, persistem ações prioritárias em relação
ao financiamento e cobertura populacional. A realidade brasileira ainda se
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caracteriza por uma situação desigual no que diz respeito ao acesso e ao uso
racional deste insumo (Brasil, 2007).
Atualmente, no que tange à organização e ao financiamento da AF no
âmbito do SUS, percebem-se duas realidades um tanto quanto distintas. Por um
lado, a AF legal consolidada e estruturada pelas respectivas leis e portarias, e que
de certa forma norteia e contribui para uma melhor organização da AF nos
municípios. Por outro lado, visualiza-se a AF real, atravessada por vários
problemas de ordem organizacional e financeira que comprometem o acesso dos
usuários aos medicamentos necessários para a sua terapêutica (Oliveira, et al.,
2008).
Considerando que a AF é determinante para a resolubilidade da atenção e
dos serviços prestados em saúde (Brasil, 2011) e que, evidências demonstram
que a AB tem capacidade para responder a 85% das necessidades em saúde
(Starfield,1994), realizando serviços preventivos, curativos, reabilitadores e de
promoção da saúde (Brasil, 2007), estudos que tenham como foco o acesso dos
usuários aos serviços farmacêuticos prestados no âmbito da AB e a
medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica (CBAF)
podem fornecer subsídios importantes para a melhoria na gestão pública da
saúde.
Diante desse contexto, esse estudo teve como proposta verificar se existe
suficiência financeira de recursos recebidos para o CBAF e a sua relação com o a
garantia de acesso a serviços e medicamentos no âmbito da AF Básica no
município de Aracaju, capital do Estado de Sergipe.
Aracaju é uma capital de Estado e, portanto, apesar de ser relativamente
pequena, apresenta complexidade própria de capital. Nela encontra-se instalada
toda a burocracia estatal, a sede dos poderes judiciário, executivo e legislativo. É
a cidade de maior visibilidade, isto é: ela polariza com o governo do Estado toda a
mobilização da mídia, tendo, pois, um papel estratégico na política (Santos,
2005).
Apresenta-se com uma boa representatividade demográfica, já que abriga
26% da população total do Estado (de acordo com a estimativa populacional do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas- IBGE para o ano de 2013) e, por
sua proximidade e capacidade de resolução em serviços de saúde, atende
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também a usuários dos outros municípios sergipanos e de municípios fronteiriços
do Estado da Bahia e Alagoas (Santos, 2005).
O município tem seu modelo de gestão da AB baseado na Estratégia de
Saúde da Família, implantada no ano de 1998 (Almeida et al.,2010), e que se
encontra plenamente consolidada. Conta também com uma Coordenação de
Assistência Farmacêutica estruturada há mais de dez anos, configurando-se
assim, um bom referencial para a proposta da pesquisa.
Ao traçar um panorama do financiamento do CBAF em Aracaju, pretende-
se que esse estudo seja capaz de produzir informações que possam subsidiar a
definição de estratégias e ações para o enfrentamento do problema da falta de
acesso e de controle dos recursos, contribuindo para a gestão da AF, tanto na
esfera estadual quanto na municipal.
O desenvolvimento da dissertação encontra-se estruturado a partir de um
referencial teórico que pretende fundamentar e delimitar o escopo da pesquisa.
Discorre-se brevemente sobre o SUS e a PNM, pela qual são definidas as
responsabilidades dos gestores, em todas as esferas institucionais, na sua
efetivação, assim como as bases conceituais do ciclo da AF e seus componentes.
Adicionalmente apresenta-se um histórico da AF no sistema público de saúde
brasileiro e suas respectivas diretrizes legais e constitucionais. A seguir, são
descritos o objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa. No item “Materiais e
métodos” detalha-se a abordagem metodológica do trabalho, apresenta-se e
discute-se os resultados encontrados, finalizando com as limitações e conclusões.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O Sistema Único de Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de
1988 e institucionalizado por lei em 1990. Suas diretrizes são a universalização do
acesso com equidade e a integralidade das ações e serviços de saúde e é
constituído pelo conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão pública.
Está organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas e atua em todo o
território nacional, com direção única em cada esfera de governo (Brasil, 2007a).
De acordo com o inciso I do artigo 198 da Constituição Federal, a direção
do SUS deve ser única, sendo exercida, em cada esfera de governo, no âmbito
da União, pelo Ministério da Saúde; no âmbito dos estados e do Distrito Federal,
pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente e no âmbito dos
municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente (Brasil,
2011).
2.2 A Atenção Básica e a Estratégia Saúde da Família
A Atenção Básica (AB) envolve ações que se relacionam com aspectos
coletivos e individuais e visa resolver os problemas de saúde mais frequentes e
de maior relevância para a população. Ela deve ser a porta preferencial de
entrada do cidadão no SUS (Brasil, 2011).
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) está regulamentada pela
Portaria GM/MS nº 648, de 28 de março de 2006, que estabeleceu a revisão de
diretrizes e normas para a organização da AB, para o Programa Saúde da Família
(PSF).
A PNAB ressalta que “a AB caracteriza-se por um conjunto de ações de
saúde no âmbito individual e coletivo que abrangem a promoção e proteção da
saúde prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção
da saúde”. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e
sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe,
dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a
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responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em
que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa
densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e
relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os
sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, acessibilidade e
coordenação, vínculo e continuidade, integralidade, responsabilização,
humanização, equidade e participação social (Brasil, 2011a).
As evidências demonstram que a AB tem capacidade para responder a
85% das necessidades em saúde (Starfield,1994), realizando serviços
preventivos, curativos, reabilitadores e de promoção da saúde; integrando os
cuidados quando existe mais de um problema; lidando com o contexto de vida e
influenciando as respostas das pessoas aos seus problemas de saúde (Brasil,
2007).
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem como objetivo contribuir para
a reorientação do modelo assistencial a partir da AB, em conformidade com os
princípios do SUS, imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas Unidades
Básicas de Saúde (UBS), com definição de responsabilidades entre os serviços
de saúde e a população, prestando, na unidade de saúde e no domicílio,
assistência integral, contínua, com resolubilidade e boa qualidade às
necessidades de saúde da população adscrita, intervindo sobre os fatores de
risco aos quais a população está exposta, elegendo a família e o seu espaço
social como núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde, humanizando
as práticas de saúde (Brasil,1997)
Uma Equipe de Saúde da Família tem responsabilidade sobre a saúde de
uma população composta de 600 a mil famílias, não excedendo o total de quatro
mil pessoas moradoras de uma área geográfica definida. Essa área corresponde
ao território de atuação da equipe (Brasil, 2007). A ESF é a principal estratégia
organizativa da AB no SUS (Brasil, 1997).
No conjunto de políticas sanitárias e ações que têm interface com a política
de AB destaca-se a Assistência Farmacêutica (AF). A AF no Brasil pode ser
considerada como parte do modelo assistencial existente, sendo de caráter
multiprofissional e intersetorial (Araújo, 2008)
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2.3 A Política Nacional de Medicamentos e a Assistência Farmacêutica
A Política Nacional de Medicamentos (PNM), como parte essencial da
Política Nacional de Saúde, constitui um dos elementos fundamentais para a
efetiva implementação de ações capazes de promover a melhoria das condições
da assistência à saúde da população. Esta Política estabeleceu as diretrizes,
prioridades e responsabilidades da AF, para os gestores federal, estaduais e
municipais do SUS (Brasil, 2001).
O seu propósito precípuo é o de garantir a necessária segurança, eficácia e
qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da
população àqueles considerados essenciais (Brasil, 2001a).
De acordo com a Resolução Nº. 338, de 06 de maio de 2004, do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) a AF é o conjunto de ações voltadas à promoção,
proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o
medicamento como insumo essencial e visando o acesso e seu uso racional.
Segundo Araújo et al, 2005, a AF engloba as atividades de pesquisa,
produção, distribuição, armazenamento, prescrição e dispensação, esta última
entendida como o ato essencialmente de orientação quanto ao uso adequado, e
farmacovigilância (Documento do Encontro Nacional de AF e Política Nacional de
Medicamentos (PNM), 1988). Neste mesmo documento, foi definido o papel do
farmacêutico nesta política:
O farmacêutico ocupa papel-chave nessa assistência, na medida em que
é o único profissional da equipe de saúde que tem sua formação técnico-
científica fundamentada na articulação de conhecimentos das áreas
biológicas e exatas. E como profissional de medicamentos, traz também
para essa área de atuação conhecimentos de análises clínicas e
toxicológicas e de processamento e controle de qualidade de alimentos
(Brasil, 2003).
Foram colocados como propósitos dessa política a garantia da segurança,
eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional, e o acesso
da população àqueles considerados essenciais. As diretrizes estabelecidas na
PNM foram, a adoção de relação de medicamentos essenciais, a regulamentação
sanitária de medicamentos e a promoção do seu uso racional, a reorientação da
AF, o desenvolvimento científico e tecnológico, a promoção da produção de
medicamentos, a garantia da segurança, a eficácia e qualidade dos
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medicamentos, o desenvolvimento e a capacitação de recursos humanos
(Vieira, 2007).
De acordo com a política estabelecida para a AF, a garantia do acesso aos
medicamentos, a serem disponibilizados nos diferentes níveis de atenção e
programas de saúde, depende de um financiamento sustentado que deve ser
assegurado por todas as instâncias gestoras do SUS. Somente com
financiamento assegurado é possível disponibilizar os medicamentos necessários
para dar suporte às ações de atenção à saúde e viabilizar o desenvolvimento e
continuidade das ações nesta área (Brasil, 2011).
Considerando os parâmetros delimitados pelas definições, a AF é uma
grande área composta por, pelo menos, duas subáreas distintas, porém
complementares, ou seja, uma relacionada à tecnologia de gestão do
medicamento (garantia de acesso) e a outra relacionada à tecnologia do uso do
medicamento (utilização correta do medicamento), sendo que a atenção
farmacêutica pode ser considerada como uma especialidade da tecnologia do uso
do medicamento e privativa do farmacêutico (Araujo et al, 2008).
2.4 O Ciclo da Assistência Farmacêutica
Conceitualmente, é um ciclo logístico que engloba as seguintes etapas:
Figura 1 Representação esquemática do ciclo da AF.
Fonte: Adaptado de Marin et al, 2003.
Gerenciamento
Financiamento
Recursos Humanos
Sistemas de Informação
Controle e Avaliação
Seleção
Programação
Aquisição
Armazenamento
Distribuição
Dispensação
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2.4.1 Seleção de Medicamentos
O primeiro passo para um sistema de fornecimento de medicamentos
eficiente e eficaz é a seleção adequada de medicamentos. A seleção tem por
objetivo limitar o número de medicamentos a serem adquiridos para os diversos
níveis de atenção, conduzindo às seguintes conseqüências: melhor suprimento;
promove a prescrição mais racional, pois facilita a divulgação de informações
sobre os medicamentos; facilita os esforços para promover a educação do
paciente e o uso correto de medicamentos, por concentrarem-se em um número
limitado destes; reduz o gasto com medicamentos, tornando-os acessíveis às
populações cujas necessidades básicas de saúde não são atendidas. A seleção
de medicamentos tem um impacto considerável sobre a qualidade da atenção à
saúde e o custo do tratamento, sendo, por isso, uma das áreas onde a
intervenção é mais custo-efetiva (MSH, 1997; WHO, 1997).
Segundo Marin et al, a seleção é um processo de escolha de
medicamentos, baseada em critérios epidemiológicos, técnicos e econômicos,
estabelecidos por uma Comissão de Farmácia e Terapêutica, visando assegurar
medicamentos seguros, eficazes e custo-efetivos com a finalidade de racionalizar
seu uso, harmonizar condutas terapêuticas, direcionar o processo de aquisição,
produção e políticas farmacêuticas. É a atividade mais importante da AF, pois é a
partir da seleção que são desenvolvidas as demais atividades. A seleção deve ser
acompanhada da elaboração de formulário terapêutico, documento que reúne
informações técnico-científicas relevantes e atualizadas sobre os medicamentos
selecionados, servindo de subsídio fundamental aos prescritores.
2.4.2 Programação
Programar consiste em estimar quantidades a serem adquiridas para
atendimento a determinada demanda dos serviços, por determinado período de
tempo. A programação inadequada reflete diretamente sobre o abastecimento e o
acesso ao medicamento. (Marin et al,2003)
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2.4.3 Aquisição
Consiste num conjunto de procedimentos pelos quais se efetiva o processo
de compra dos medicamentos, de acordo com uma programação estabelecida,
com o objetivo de suprir necessidades de medicamentos em quantidade,
qualidade e menor custo-efetividade e manter a regularidade do sistema de
abastecimento. (Marin et al,2003)
2.4.4 Armazenamento
Conjunto de procedimentos técnicos e administrativos que tem por
finalidade assegurar as condições adequadas de conservação dos produtos.
(Marin et al,2003)
2.4.5 Gestão de Materiais
Conjunto de atividades que visa ao suprimento adequado dos serviços de
acordo com as necessidades requeridas, em qualidade e quantidades adequadas,
em tempo correto e menor custo.
O objetivo fundamental da administração de materiais é determinar quando
e quanto adquirir para repor o estoque, o que deixa claro que a estratégia de
abastecimento é determinada pelo usuário. (Marin et al, 2003)
2.4.6 Distribuição de Medicamentos
Consiste no suprimento de medicamentos às unidades de saúde, em
quantidade, qualidade e tempo oportuno. A distribuição de medicamentos deve
garantir rapidez e segurança na entrega, eficiência no controle e
informação(Marin et al, 2003)
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20
2.4.7 Dispensação
A PMN definiu que a dispensação é o ato profissional farmacêutico de
proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como
resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado.
Nesse ato, o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso
adequado do medicamento.
São elementos importantes da orientação, entre outros, a ênfase no
cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos, a interação com outros
medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições
de conservação dos produtos (Marin et al, 2003)
O problema das interações medicamentosas e do conhecimento sobre o
uso de medicamentos parece ser de natureza bastante complexa, envolvendo
diversos fatores. Entretanto, torna-se imprescindível o envolvimento do
profissional farmacêutico, principalmente para um maior conhecimento da
natureza do problema, buscando melhorar a adesão dos usuários e reduzir
possíveis problemas relacionados aos medicamentos que possam surgir durante
o tratamento (Araujo et al, 2008).
Em relação à atividade do farmacêutico nesta gama de operações, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que esse é o profissional com
melhor capacitação para conduzir as ações destinadas à melhoria do acesso e
promoção do uso racional dos medicamentos, sendo ele indispensável para
organizar os serviços de apoio necessários para o desenvolvimento pleno da AF
(Araujo et al, 2008).
2.5 O Financiamento da Assistência Farmacêutica e Seus Componentes
O financiamento da AF é de responsabilidade das três esferas de gestão
do SUS e pactuado na Comissão Intergestores Tripartite1(CIT). Conforme
estabelecido na Portaria GM/MS n. 204/2007 (Brasil, 2007), atualizada pela
1 Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Instância de articulação e pactuação na esfera federal
que atua na direção nacional do SUS, integrada por gestores do SUS das três esferas de governo. A representação de estados e municípios nessa Comissão é regional, sendo um representante para cada uma das cinco regiões no País. Nesse espaço, as decisões são tomadas por consenso
e não por votação. A CIT está vinculada à direção nacional do SUS (Brasil,2009a).
-
21
Portaria GM/MS n. 837/2009 (Brasil, 2009), os recursos federais para a saúde são
repassados na forma de blocos de financiamento, entre os quais, o bloco de
financiamento da AF, que é constituído por três componentes:
1. Componente Estratégico da AF: tem por objetivo, disponibilizar
medicamentos para o atendimento de programas de saúde coordenados
nacionalmente pelo Ministério da Saúde (MS), de caráter transmissível e/ou alto
impacto na saúde da população. Neste componente estão incluídos os
medicamentos do Programa DST/Aids; para o controle da tuberculose;
hanseníase; malária e outras endemias focais, bem como os imunobiológicos e
insumos das coagulopatias e hemoderivados (Brasil, 2011).
2. Componente Especializado da AF (CEAF): este componente aprimorou e
substituiu o Componente Medicamentos de Dispensação Excepcional,
comumente chamado “medicamento de alto custo”, e tem como principal
característica, a busca da garantia da integralidade do tratamento
medicamentoso, em nível ambulatorial, de agravos cujas abordagens terapêuticas
estão estabelecidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT),
publicados pelo MS. Estes PCDT estabelecem quais são os medicamentos
disponibilizados para o tratamento das patologias contempladas e qual a instância
gestora responsável pelo seu financiamento (Brasil, 2011).
3. Componente Básico da AF (CBAF): destina-se à aquisição de
medicamentos e insumos no âmbito da AB e àqueles relacionados a agravos e
programas de saúde específicos inseridos na rede de cuidados deste nível de
atenção através do Incentivo à AF Básica (IAFB). A AB pode ser caracterizada,
geralmente, como o primeiro contato do usuário aos serviços públicos de saúde.
No âmbito dessa atenção, estão elencados os medicamentos constantes desse
componente, indicados para tratamento das doenças mais prevalentes da
população, sendo que o seu elenco é determinado pela Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais (Rename) (Brasil, 2010), sendo este Componente, o
tema desse estudo.
Desde o início da década passada o tema subfinanciamento da saúde está
presente nos debates promovidos pelos gestores das três esferas da gestão, os
quais têm sido enfáticos na defesa de um financiamento adequado para o SUS e
-
22
compatível com os seus princípios de universalidade e integralidade (Brasil,
2011).
O desafio do financiamento da saúde no Brasil tem de ser enfrentado em
duas vertentes: aumentar o gasto em saúde, mas, ao mesmo tempo, melhorar
sua qualidade (Brasil, 2009). O debate sobre financiamento tem repercussões
também na área da AF, e, entre as dificuldades apontadas pelos gestores, o
aumento do custo dos medicamentos no âmbito da assistência e o impacto dos
mesmos no orçamento da saúde sempre são mencionados, sendo um problema
comum a todos (Brasil, 2011).
2.6 O Monitoramento do Componente Básico da Assistência Farmacêutica
Como uma ação de saúde pública e parte integrante do sistema de saúde,
a AF é determinante para a resolubilidade da atenção e dos serviços prestados
em saúde e envolve a alocação de grande volume de recursos públicos (Brasil,
2011).
A Portaria GM/MS nº 176/1999, que instituiu o IAFB, não previu uma
sistemática para monitoramento da aplicação dos recursos financeiros.
Estabeleceu, tão somente que “o IAFB será financiado pelos três gestores, e que
a transferência dos recursos federais está condicionada à contrapartida dos
estados, municípios e do Distrito Federal (DF)” (Brasil, 1999). Estabeleceu
também a necessidade de comprovação da aplicação dos recursos financeiros
correspondentes às contrapartidas estadual e municipal, com prestação de contas
aprovadas pelos Conselhos Estaduais de Saúde (CES) (Brasil, 1999).
Somente a partir de sua regulamentação pela Portaria GM/MS nº 956, de
25 de agosto de 2000, ficaram estabelecidos critérios para o acompanhamento da
movimentação dos recursos pactuados (Brasil, 2000).
A ausência de instruções específicas para o preenchimento das planilhas e
a inexistência de orientação explícita quanto à necessidade de abertura de conta
bancária exclusiva para movimentação dos recursos referentes ao IAFB,
trouxeram dificuldades para o acompanhamento da movimentação financeira do
mesmo. Em virtude disso, foi desenvolvido um sistema informatizado denominado
Sistema de Acompanhamento do Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica
-
23
(SIFAB), que passou a fazer o acompanhamento da aplicação dos recursos
financeiros do incentivo. Esse monitoramento sofreu interrupção nos anos de
2003 e 2004, quando o SIFAB foi aperfeiçoado e atualizado, para posterior
disponibilização de nova versão, implantada através da Portaria GM/MS nº 2099
de 30 de agosto de 2006, disponibilizada no endereço eletrônico do MS (Brasil,
2007).
O SIFAB, mesmo após seu aperfeiçoamento e atualização, mostrou-se um
instrumento deficiente, apesar de sua notória utilidade, com falhas e dificuldades
na sua utilização, como verificado no fórum de discussões criado pelo Banco de
dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS) sobre o uso desse sistema
(http://forum.datasus.gov.br/viewforum.php?f=67&start=200).
O SIFAB foi extinto pela promulgação no ano de 2007 da Portaria GM/MS
nº 3.237, essa mesma Portaria determinou que o controle do uso dos recursos do
IAFB fosse feito através do Relatório Anual de Gestão municipal (RAG).
O RAG constitui-se no instrumento de comprovação da aplicação dos
recursos repassados do Fundo Nacional de Saúde (FNS) para os Fundos de
Saúde dos Estados (FES), do DF e dos Municípios (FMS). Sua elaboração utiliza
a ferramenta eletrônica Sistema de Apoio ao RAG (SargSUS), cuja alimentação é
anual, regular e obrigatória (Brasil, 2012).
De acordo com as Portarias GM/MS nº 3.085 e nº 3.332, é o instrumento
de planejamento que apresenta os resultados alcançados com a execução da
Programação Anual de Saúde, apurados com base no conjunto de ações, metas
e indicadores desta, e orienta eventuais redirecionamentos que se fizerem
necessários ao Plano de Saúde e às Programações seguintes.
Deve ser submetido à apreciação e aprovação do respectivo Conselho de
Saúde até o final do primeiro trimestre do ano subsequente, conforme Portaria
GM/MS nº 399, de 23 de fevereiro de 2006.
De acordo com a Portaria GM/MS nº 575, o SargSUS deve ser atualizado
pelos gestores municipais de saúde até o dia 30 de março do ano seguinte ao da
execução financeira. Compreende-se como atualização, o preenchimento da
totalidade das telas do sistema e o envio eletrônico do RAG para apreciação pelo
respectivo Conselho Municipal de Saúde (CMS).
http://forum.datasus.gov.br/viewforum.php?f=67&start=200
-
24
No ano de 2009, foi introduzida ao sistema de informações para a AF do
SUS, uma inovação tecnológica voltada à gestão das informações do setor: o
Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica – Hórus (Costa, 2012)
O Sistema Hórus é um sistema informatizado, disponibilizado pelo MS e
concebido para atender às singularidades da gestão da AF no SUS, por meio dos
seus componentes: Básico, Estratégico e Especializado. No perfil Básico do
Hórus são emitidos diferentes relatórios, contendo informações gerenciais que
subsidiam o planejamento e desenvolvimento das ações de AF na AB: históricos
das dispensações para os usuários; dados sobre pacientes faltosos; procedência
das prescrições; posição de estoque; datas de agendamento das próximas
dispensações; e outras. Estão disponíveis informações técnicas necessárias para
a qualificação dos serviços e gestão do cuidado, de forma que possam ser
utilizados durante o momento da prescrição e na dispensação: Rename;
Formulário Terapêutico Nacional; Temas Selecionados para Promoção do Uso
Correto de Medicamentos (Costa, 2012).
2.7 O Acesso aos Medicamentos do Componente Básico da Assistência
Farmacêutica
Assegurar o acesso a medicamentos é uma das questões cruciais no SUS,
constituindo-se o eixo norteador das políticas públicas estabelecidas na área da
AF, considerando que estes insumos são uma intervenção terapêutica muito
utilizada, impactando diretamente sobre a resolubilidade das ações de saúde
(Brasil, 2011)
Programas, como o “Programa Farmácia Popular do Brasil” (FPB) e,
“Saúde Não Tem Preço”, criados pelo governo federal, tendem a ampliar o acesso
a medicamentos básicos e diminuir os gastos dos Municípios com esses
medicamentos.
O Programa FPB, foi instituído por meio do Decreto n.º 5.090, da Casa Civil
da Presidência da República, de 20 de maio de 2004, cujo foco principal é a
implantação da rede FPB, em parceria com governos estaduais e municipais, bem
como com instituições da área da Saúde e instituições de Ensino Superior sem
-
25
fins lucrativos, para a instalação de unidades do programa em locais estratégicos
no País, por meio de convênios com a Fiocruz, tendo com interveniente o MS
(Brasil, 2005).
Os produtos distribuídos por intermédio do Programa FPB são os
adquiridos em processos específicos, não se confundindo com as aquisições
públicas realizadas pela União, Estados, DF ou Municípios. O Programa possui
uma rede própria de Farmácias Populares e a parceria com farmácias e drogarias
da rede privada, chamada de "Aqui tem Farmácia Popular". Ao todo, são mais de
107 itens oferecidos a baixo custo (Brasil, 2005).
Em março de 2011, o programa „Farmácia Popular/Saúde Não Tem Preço‟,
fruto de uma parceria firmada entre o MS com entidades de Indústria e Comércio,
passou a ofertar medicamentos para hipertensão e diabetes (Anexo) e,
atualmente, mais de 20 mil farmácias privadas já estão cadastradas para a
distribuição gratuita desses medicamentos (Malta, 2011). Em junho do mesmo
ano, o programa foi aumentado com a inclusão de três medicamentos anti-
asmáticos (Anexo B).
No Brasil estimou-se que, em 2000, 70 milhões de pessoas não tinham
acesso a medicamentos, o que corresponde a, aproximadamente, 41% da
população brasileira daquele ano. Este é um dos principais desafios para o
sistema público de saúde (Vieira, 2007).
É importante compreender que garantir acesso significa pensar em todas
as dimensões desse acesso, o que equivale a dizer que não basta haver
disponibilidade. Os medicamentos precisam ser prescritos e utilizados de forma
racional (Guerra Jr. et al, 2004).
Apesar dos avanços do Sistema de Saúde desde sua criação, o Estado
ainda falha em garantir o acesso da população brasileira aos medicamentos
essenciais. Atualmente, no País, um fenômeno está desestruturando a política de
medicamentos neste aspecto, comprometendo os orçamentos para a aquisição
de medicamentos. Tornou-se frequente a reivindicação por parte do cidadão, via
sistema judiciário, da aquisição de medicamentos que não constam nas relações
de medicamentos essenciais (Messeder, 2005).
A equidade no acesso aos medicamentos no SUS tem sido discutida a
partir da premissa de que o direito à assistência integral farmacêutica implica a
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=30296
-
26
partilha entre os entes federativos das responsabilidades legais do Estado de
propiciar o acesso igualitário e universal aos medicamentos e procedimentos
terapêuticos para a assistência integral à saúde dos cidadãos (Brasil, 2011).
2.8 Histórico da Assistência Farmacêutica no Brasil
Figura 2 - Linha do tempo com os principais marcos da AF no Brasil
• Instituição da Central de Medicamentos (Ceme), políticacentralizada de aquisição e de distribuição de medicamentos.
1971
• Instituição da Farmácia Básica: Módulo padrão de 48medicamentos constantes da RENAME
1987
•Promulgação da Constituição Federal : saúde como direito social."A saúde é direito de todos e dever do Estado..."
1988
•Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080/90),determina,como campo deatuação do SUS, a formulação da política de medicamentos (...) eexecução de ações de assistência terapêutica integral, inclusivefarmacêutica
1990
•Desativação da Ceme sendo suas atribuições transferidas paradiferentes órgãos e setores do Ministério da Saúde.
1997
•Portaria GM/MS nº 3916, PNM, tendo como uma de suasfinalidades principais: O acesso da população àquelesmedicamentos considerados essenciais.
1998
• Início da descentralização: Portaria GM/MS nº 176, estabeleceucritérios e requisitos para a qualificação dos Municípios e Estadosao Incentivo à Assistência Faramcêutica Básica (IAFB)
1999
•Portaria GM/MS nº 2084 definiu mecanismos e responsabilidadespara financiamento da AFB. Dois componentes, umdescentralizado e um Estratégico com compra centralizada:Blocos de financiamento com aquisição pelo MS
2005
•Descentralização. Portaria GM/MS nº 3.237 estabeleceu aextinção os blocos de financiamento e assim os valores da ParteFixa e da Parte Variável dos Grupos de Hipertensão e Diabetes,Asma e Rinite e Saúde Mental passam a compor valor único definanciamento
2007
• Portaria GM/MS 2.981; Tranferência de medicamentosdo CEAF para o CBAF; Portaria GM/MS 2.982 15% dosrecursos anuais dos recursos das contra-partidas estaduais emunicipais de em adequação de espaço físico e estruturaçãodas Farmácias do SUS relacionadas à AB; e realização deatividades vinculadas à educação continuada voltada àqualificação dos recursos humanos da AFB.
2010
-
27
A AF, como política pública, teve início em 1971 com a instituição da
Central de Medicamentos (Ceme), que tinha como missão o fornecimento de
medicamentos à população sem condições econômicas para adquiri-los e se
caracterizava por manter uma política centralizada de aquisição e de distribuição
de medicamentos (Brasil, 1971).
A Ceme passou por várias fases desde sua criação. Por ser um órgão que
estava ligado diretamente à Presidência da República, estaria sujeita às
influências das várias correntes ideológicas e dos interesses políticos que
predominavam na época. Por isso, desviava-se dos seus objetivos iniciais, na
medida em que o contexto político se alterava (Consedey, 2000).
Apesar da importância e do papel estratégico previsto para a Ceme na
coordenação das atividades que envolviam os medicamentos, em especial os
medicamentos essenciais, a centralização do gerenciamento das ações trouxe
inúmeros problemas. Merecem destaque, a programação, aquisição e a
distribuição de medicamentos em desacordo com as reais necessidades dos
estados e municípios (Conass, 2007).
Em 1987, a Ceme instituiu uma Farmácia Básica, proposta do governo
federal para racionalizar o fornecimento de medicamentos para a AB. Esta, previa
módulos padrão de medicamentos, de modo a atender as necessidades de uma
população de três mil habitantes constituída por 48 medicamentos, todos
constantes da Rename, destinava-se a atender as doenças prevalentes mais
comuns, em especial no nível ambulatorial (Cosendey, 2000).
Concebido como um módulo padrão que não considerava as diversidades
regionais, aliado à descontinuidade no fornecimento nos anos posteriores à sua
implantação, ao envio de medicamentos com prazos de validade próximos da
expiração e ao excesso de alguns itens, o programa apresentou grandes perdas.
Devido a esses problemas decorrentes, principalmente, da centralização dos
processos de programação e aquisição, que não correspondiam ao perfil de
demanda das populações atendidas, o programa foi extinto em 1988 (Consedey,
2000a).
-
28
A década de 1990 foi marcada por uma crise na Ceme em razão de atritos
entre a instituição e os laboratórios oficiais e escândalos de corrupção que
culminaram com a sua extinção, em 1997 (Oliveira, et al).
Com a desativação da Ceme, suas atividades foram absorvidas por
diferentes setores e órgãos do MS, pulverizando as ações de AF (Brasil, 2007).
Na continuidade, para suprir as necessidades de medicamentos básicos,
em 1997 o MS criou o Programa Farmácia Básica (PFB), desenvolvido com base
nos mesmos parâmetros da Farmácia Básica da Ceme, modulado para atender
três mil habitantes em municípios com população de até 21 mil habitantes. Os
medicamentos, adquiridos pelo MS, eram repassados a pólos de distribuição,
localizados em cada uma das regiões do país (Cosendey, 2000).
Posteriormente, o PFB foi reformulado, praticamente excluindo a
participação formal da esfera estadual, distanciando-se do processo de
organização da AF em andamento em várias Unidades da Federação (Brasil,
2007).
Em 1990 o SUS foi regulamentado, através da Lei no 8.080, reforçando a
necessidade cada vez mais emergente da formulação de uma PNM, consoante
com o novo sistema de saúde do país (Brasil,1990; Bermudes et.al.,1995).
A desarticulação da AF no país, em descompasso com as mudanças que
vinham ocorrendo na área da saúde, especialmente em relação ao processo de
descentralização das ações do SUS e a irregularidade no abastecimento de
medicamentos destinados à rede ambulatorial, entre eles, os medicamentos para
AB, contribuíram para a formulação de novas diretrizes na área de medicamentos.
Esse processo levou ao estabelecimento da PMN, publicada por meio da Portaria
GM/MS n. 3916, de 30 de outubro de 1998 (Brasil, 2007).
2.9 A Descentralização da Assistência Farmacêutica no SUS
A construção de uma nova gestão de AF no SUS fundamentou-se na
implementação das diretrizes estabelecidas na PNM nos estados e municípios,
entre elas, a reorientação da AF, fundamentada, entre outros, na descentralização
da gestão; na promoção do uso racional de medicamentos; na otimização e na
-
29
eficácia do sistema de distribuição no setor público e no desenvolvimento de
iniciativas que possibilitem a redução dos preços dos produtos, viabilizando,
inclusive, o acesso da população aos produtos no âmbito privado (Brasil, 2007).
A interrupção do PFB, a publicação da PNM e os diversos debates
ocorridos na época, levaram o governo federal à elaboração de uma nova
proposta para a área, que resultou na publicação da Portaria GM/MS nº 176, de
08 de março de 1999, que estabeleceu critérios e requisitos para a qualificação
dos Municípios e Estados receberem o IAFB, passo inicial para sua
descentralização, com responsabilidades pactuadas entre as três instâncias
gestoras do SUS (Brasil, 2007).
O IAFB passou a nortear o financiamento e a participação do nível federal
começou a ser feita através de repasse fundo a fundo, do FNS para os FES e
FMS com recursos no valor de R$ 1,00 por habitante/ano, repassados em
parcelas de 1/12 mensais. A participação dos Estados e Municípios deveria ser
feita através das contrapartidas financeiras que, somadas, não poderiam ser
inferiores ao valor repassado pelo governo federal (Brasil, 1999).
A criação do IAFB foi um avanço, pois, diferente do PFB, abrangia a
totalidade dos municípios, prevendo a participação dos gestores estaduais e
municipais no processo de gestão e gerenciamento, mediante pactuação nas
respectivas Comissões Intergestores Bipartite2 (CIB) (Brasil, 2011).
A descentralização da AF Básica (AFB) aos municípios, vinculou o repasse
financeiro à implementação das atividades relacionadas à sua reorientação, entre
elas, a de ampliar o acesso dos usuários do SUS aos medicamentos básicos,
promovendo seu uso racional (Brasil, 2007).
A reorientação da AF, uma das diretrizes da PNM, tem como objetivo o
desenvolvimento de atividades relacionadas à promoção do acesso da população
aos medicamentos essenciais e não deve se restringir à aquisição e distribuição
de medicamentos (Brasil, 2001).
2 Comissão de Intergestores Bipartite (CIB): Espaços estaduais de articulação e pactuação política
que objetivam orientar, regulamentar e avaliar os aspectos operacionais do processo de descentralização das ações de saúde. São constituídas, paritariamente, por representantes do governo estadual e dos secretários municipais de Saúde. As CIBs foram institucionalizadas pela Norma Operacional Básica nº 1 de 1993 e instaladas em todos os estados do País.
-
30
A sistemática adotada para gerenciar o recurso financeiro, pactuada entre
estados e municípios, deveria considerar estratégias que levassem à otimização
na aplicação do mesmo. Nesse contexto, diferentes estratégias foram adotadas,
tais como: a centralização dos recursos nas SES, a descentralização total aos
municípios, descentralizações e centralizações parciais em estados ou
municípios. Em alguns estados, a estratégia adotada foi a criação de consórcios,
com a finalidade de fazer compras conjuntas, objetivando economia de escala
(Brasil, 2007).
Como condição para acessar o IAFB, os estados tiveram que elaborar os
Planos Estaduais de AFB (PEAFB) (Brasil, 2001).
Na avaliação do MS, um dos problemas detectados nos PEAFB
relacionava-se à seleção. Os elencos pactuados pelos Estados e Municípios,
apresentavam grande diversidade e, na avaliação da Gerência Técnica de AF,
vinculada ao Departamento de AB da Secretaria de Políticas de Saúde, em
muitos casos, o elenco proposto não contemplava as necessidades da AB (Brasil,
2007).
Considerando que esse fato poderia apresentar impacto negativo no
atendimento de saúde prestado pelos municípios, o MS estabeleceu um elenco
mínimo e obrigatório de medicamentos, a ser adquirido com o IAFB e
disponibilizado em todos os municípios (Brasil, 2007).
Com a finalidade de atender grupos de pacientes portadores de patologias
que, por suas peculiaridades, necessitavam ser referenciados a serviços
específicos, como os agravos relacionados à saúde mental, foi implantado o
Programa para a Aquisição dos Medicamentos Essenciais para a Área de Saúde
Mental na rede pública (Brasil, 2007).
Estados e municípios encontravam-se na fase de estruturação da AF e
adequação de seus elencos, com a incorporação do elenco mínimo e obrigatório,
quando surgiram iniciativas de aquisição centralizada de medicamentos básicos
(Brasil, 2011).
A primeira delas, de março de 2001, foi a criação de um kit, composto por
medicamentos destinados a dar suporte a estratégias e ações específicas da
atenção primária, entre elas, o PSF. Além de se sobrepor ao elenco
disponibilizado com recursos do IAFB, o kit seguiu uma lógica distinta, dificultando
-
31
seu gerenciamento. A interlocução era feita diretamente pelo MS com as equipes
do PSF das Secretarias Municipais de Saúde (SMS), sem participação da
instância estadual (Brasil, 2007).
Na mesma lógica, em março de 2002, foi ampliado o elenco de
medicamentos básicos sob responsabilidade federal, disponibilizando-se
medicamentos anti-diabéticos orais e para hipertensão arterial, destinados a um
programa de reorientação da atenção aos portadores desses agravos, também
repassado diretamente aos municípios (Brasil, 2007).
Apesar de algumas dificuldades, é importante ressaltar que a
descentralização de recursos financeiros, como do IAFB, e a necessidade de
desenvolver estratégias para gerenciá-lo de forma competente, propiciaram um
avanço significativo no processo de implementação e organização da AFB (Brasil,
2007).
A partir de 2003, retomou-se o processo de discussão da AFB o que
resultou na apresentação de uma proposta preliminar, que procurava superar a
fragmentação vigente. A partir disso, as três instâncias gestoras do SUS
avaliaram a situação da AFB, propondo unificar e atualizar elencos e redefinir as
responsabilidades das instâncias gestoras (Brasil, 2007).
2.10 Legislação da Assistência Farmacêutica
Em de 05 de julho de 2005 a publicação a Portaria GM/MS nº 1105, que
ampliou os valores mínimos a serem aplicados pela União, Estados, DF e
municípios com o IAFB, iniciou um processo de descentralização da aquisição de
55 itens destinados a atender diferentes programas, mas trinta medicamentos
ainda permaneceriam sob responsabilidade do MS, relacionados aos Programas
de Hipertensão e Diabetes, Asma e Rinite, Saúde da Mulher, Alimentação e
Nutrição e de Combate ao Tabagismo.
Essa mesma portaria, além de elevar os valores destinados à AFB, buscou
tornar claras, as fontes e as responsabilidades pelo financiamento da mesma.
-
32
Naquele momento, alguns aspectos relacionados ao teor da Portaria
GM/MS nº 1105, levaram à rediscussão da mesma, com apresentação de
propostas de alterações no texto (Brasil, 2007).
Como resultado das discussões foi publicada a Portaria GM/MS nº 2.084
de 26 de outubro de 2005, que definiu mecanismos e responsabilidades para
financiamento da AFB e estabeleceu que o elenco de medicamentos para esse
nível de Atenção seria constituído por dois componentes, o Estratégico –
conjunto de medicamentos e produtos cuja responsabilidade pelo financiamento
e/ou aquisição era do MS, e o Componente Descentralizado – constituído pelo
IAFB, financiado com recursos do MS, estados, municípios e Distrito Federal
(DF).
A responsabilidade pela aquisição dos medicamentos era dos estados,
municípios e do DF, de acordo com as pactuações feitas nas CIB. Os elencos
eram compostos por medicamentos definidos no Elenco Mínimo Obrigatório e por
outros destinados à AB, devendo os mesmos obrigatoriamente constar da
Rename. A partir dessa pactuação, a decisão final pela descentralização dos
recursos, com transferência da responsabilidade pelo seu gerenciamento aos
estados e/ou municípios, se daria em conformidade com as decisões das CIB de
cada estado (Brasil, 2007).
As pactuações referentes à descentralização dos recursos para
Hipertensão e Diabetes e da Asma e Rinite foram bastante variadas, 24 estados
optaram pela descentralização de recursos aos estados ou municípios e três
pactuaram pela manutenção das compras centralizadas no MS. A pactuação da
descentralização dos grupos de medicamentos para Saúde da Mulher;
Alimentação e Nutrição e Combate ao Tabagismo, na CIT, prevista para março de
2006, não se concretizou, uma vez que os recursos financeiros correspondentes
já estavam comprometidos com a compra centralizada pelo MS (Brasil, 2011).
O MS propôs que a descentralização de mais recursos para a AFB, deveria
ser analisada de forma concomitante com o processo de revisão geral da Portaria
GM/MS nº 2.084, necessário para contemplar as diretrizes do Pacto Pela Saúde
(Portaria GM/MS nº 399/2006) e o estabelecido na Portaria GM/MS nº 204/2007
que tratava da transferência dos recursos federais na forma de blocos de
-
33
financiamento, entre eles o referente à AF e seu Componente Básico e, além
disso, adequar questões como a flexibilização do elenco de medicamentos e
execução dos recursos, inserir os medicamentos da saúde mental e adequar o
elenco à nova versão da Rename (Brasil, 2007).
Em 29 de dezembro de 2007 foi publicada a Portaria GM/MS nº 3.237 que
revogou a partir de 01 de fevereiro de 2008, as Portarias GM nº 1.077 de 24 de
agosto de 1999; nº 280 de 27 de fevereiro de 2004; nº 2.084 de 26 de outubro de
2005; nº 2.099/GM de 30 de agosto de 2006 e os parágrafos 1º ao 7º do Artigo 25
da Portaria 204/2007.
A Portaria GM/MS nº 3.237 estabeleceu que fossem extintos os blocos de
financiamento e assim os valores da Parte Fixa e da Parte Variável dos Grupos
de Hipertensão e Diabetes, Asma e Rinite e Saúde Mental passaram a compor
valor único de financiamento, no Componente Básico, e que os Estados
pactuassem nas CIB o Elenco de Referência Estadual, sendo esse elenco
composto de medicamentos previstos na Rename vigente a época e não sendo
obrigatório aos municípios a disponibilização de todos os medicamentos
constantes nesse elenco estadual.
Em 1º de janeiro de 2010 entrou em vigor a Portaria GM/MS nº 2.982 que
revogava a Portaria GM/MS nº 3.237 e fazia uma série de modificações em
relação ao financiamento do componente básico. O MS ampliou o Elenco de
Referência Nacional para a AFB, na qual se procurou definir os medicamentos
essenciais a serem utilizados na AB passíveis de financiamento com o recurso
tripartite do CBAF.
Concomitantemente à publicação da Portaria GM/MS nº 2.982, foi
publicada a Portaria GM/MS nº 2.981 que, em seu artigo nº 24 determinava a
transferência de 15 medicamentos que faziam parte do CEAF para o CBAF
(Anexo C), pois se tratavam de medicamentos essenciais, de baixo custo,
previstos na Rename, e que, portanto, deveriam ter o acesso assegurado pelos
municípios e pelo DF no âmbito da AB, sendo assim custeados com os recursos
tripartites do CBAF.
A portaria concedeu autonomia aos gestores estaduais e municipais para
pactuarem na CIB a definição do Elenco de Medicamentos de Referência
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Estadual, de acordo com o perfil epidemiológico loco/regional. Para a definição
deste elenco, a CIB deveria usar como referência, a Rename vigente, o Elenco de
Referência Nacional, e ter assegurado a inclusão dos medicamentos definidos no
Anexo III da Portaria (Anexo F).
Essa portaria trouxe uma importante inovação quanto à destinação dos
recursos, uma vez que desde 1999 quando se iniciou o processo de
descentralização da AFB, os recursos tripartites sempre foram destinados
exclusivamente para o custeio de medicamentos básicos e a Portaria GM/MS nº
2.982 previu em seu Art. 5º que os recursos das contra-partidas estaduais e
municipais poderiam, tendo como teto o montante de 15% dos recursos anuais,
ser utilizados em atividades destinadas à adequação de espaço físico das
Farmácias do SUS relacionadas à AB; aquisição de equipamentos e mobiliário
destinados ao suporte das ações de AF; e realização de atividades vinculadas à
educação continuada voltada à qualificação dos recursos humanos da AFB.
Em dezembro de 2010 foi publicada a Portaria GM/MS n° 4.217, que
aumentava os valores financeiros destinados à AFB passando a partida federal
para R$ 5,10/habitante/ano, e as contrapartidas estadual e municipal para no
mínimo R$ 1,86/habitante/ano cada.
2.11 Panorama Atual da Gestão da Assistência Farmacêutica Básica
Atualmente está em vigor a Portaria GM/MS nº 1.555 de 30 de Julho de
2013 que estipula os valores mínimos das contrapartidas, estadual e municipal,
para R$ 2,36 por habitante/ano sendo que este aumento de R$ 0,50 refere-se à
inclusão do recurso destinado à aquisição dos insumos para insulino-dependentes
(conforme Art. 8º da Portaria nº 4.217/2010) nos valores financeiros estaduais, do
DF e municipais de suas contra- partidas.
De acordo com o Art. 3º dessa Portaria, é possível financiar os
medicamentos e insumos do CBAF constantes dos Anexos I e IV da Rename
vigente no SUS, além disso, podem ser adquiridos com esses recursos, os
medicamentos fitoterápicos, estabelecidos na Portaria GM/MS n° 4.217, e
homeopáticos constantes na Farmacopéia Homeopática Brasileira 2ª edição.
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Foram mantidos o percentual de até 15% da soma das contrapartidas estaduais e
municipais que pode ser aplicado em ações de estruturação das Farmácias do
SUS e qualificação dos serviços farmacêuticos.
O montante federal é repassado mensalmente pelo FNS aos estados e/ou
municípios, de forma regular e automática, em parcelas de um doze avos. A
contrapartida estadual é realizada por meio do repasse de recursos financeiros
aos municípios, ou em alguns casos, por meio do fornecimento de medicamentos
básicos, definidos e pactuados pelas CIB. A contrapartida municipal deve ser
realizada pelas prefeituras, com recursos do tesouro municipal, e destinada ao
custeio dos medicamentos básicos previstos na Rename vigente, ou ainda em
ações de estruturação e qualificação da AFB, respeitados os limites e demais
normas estabelecidas na Portaria GM/MS n° 4.217.
2.12 A Estruturação da Assistência Farmacêutica no SUS e o Desafio da
Ampliação do Acesso aos Medicamentos do Componente Básico da Assistência
Farmacêutica
A equidade no acesso aos medicamentos no SUS tem sido discutida a
partir da premissa de que o direito à assistência integral farmacêutica implica a
partilha entre os entes federativos das responsabilidades legais do Estado, de
propiciar o acesso igualitário e universal aos medicamentos e procedimentos
terapêuticos para a assistência integral à saúde dos cidadãos. A necessidade de
apontar aos gestores um rumo para a área resultou na formação de um grupo de
profissionais com o intuito de discutir os principais aspectos relacionados aos
medicamentos no país (Brasil, 2011).
Desde 2003, o tema subfinanciamento da saúde está presente nos debates
dos gestores das três esferas, que tem defendido um financiamento adequado
para o SUS e compatível com os seus princípios de universalidade e
integralidade. O desafio do financiamento da saúde no Brasil tem de ser
enfrentado em duas vertentes: aumentar o gasto em saúde e ao mesmo tempo,
melhorar sua qualidade. Este subfinanciamento tem repercussões também na
área da AF, e, entre as dificuldades apontadas pelos secretários, o aumento do
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custo dos medicamentos no âmbito da assistência e o impacto dos mesmos no
orçamento da saúde sempre são mencionados, sendo um problema comum a
todos (Brasil, 2009).
Assegurar o acesso a medicamentos é uma das questões cruciais no SUS,
constituindo-se no eixo norteador das políticas públicas estabelecidas na área da
AF, considerando que estes insumos são uma intervenção terapêutica muito
utilizada, impactando diretamente sobre a resolubilidade das ações de saúde
(Brasil, 2009).
2.13 A Assistência Farmacêutica Básica no Estado de Sergipe
Sendo a Unidade-caso escolhida, o Município de Aracaju, Capital do
Estado de Sergipe, torna-se imprescindível entender a atuação da SES Sergipe
no âmbito da AF.
Um dos papéis fundamentais da SES é o de coordenar o processo de
implantação e de funcionamento do SUS no respectivo estado. Para a execução
deste importante papel, o gestor estadual do SUS precisa agir de forma articulada
e solidária com as outras duas esferas de governo (federal e municipal) e com o
controle social representado pelo Conselho Estadual de Saúde (Brasil, 2009).
Cabe à SES depositar sua contrapartida e fiscalizar a regularidade dos
depósitos financeiros na conta do IAFB do FMS assim como a correta utilização
desses recursos por parte dos municípios e, em caso de descumprimento, aplicar
as sanções previstas (Brasil, 2010).
No que tange a AFB, todos os municípios do Estado de Sergipe pactuaram
na CIB no ano de 2005, receberem seus recursos estaduais destinados ao CBAF
diretamente nas contas bancárias de seus respectivos FMS, ou seja, o modelo
adotado foi o da descentralização total aos municípios (Brasil, 2007).
Nesse modelo, o Estado de Sergipe não participa diretamente da compra
dos medicamentos do CBAF, apenas efetiva a contrapartida estadual e pactua
anualmente o elenco de medicamentos para a AB que serve de referência pelos
municípios, sendo a última pactuação aprovada em 2011 foi aprovada pela
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Deliberação nº 11 do Colegiado Interfederativo Estadual (o equivalente a CIB no
Estado de Sergipe) (Anexo G).
Apesar de não participar diretamente na aquisição dos medicamentos do
CBAF, a SES-Sergipe instituiu, através do Decreto Estadual nº 26.915 de
02/03/2010, o Sistema de Registro de Preços para a aquisição desses
medicamentos. Mesmo com essa participação do Estado, os municípios ainda
são os responsáveis por toda a gestão dos medicamentos do CBAF, desde sua
seleção, passando por sua aquisição, até sua dispensação.
Segundo a Política da AF do SUS-Sergipe as ações desenvolvidas pela AF
devem contribuir para a efetividade, segurança e custo-benefício dos usuários em
tratamento farmacológico no estado, nos municípios e redes assistenciais. As
ações que devem ser desenvolvidas são: seleção de medicamentos,
monitorização e acompanhamento do tratamento farmacológico do usuário,
farmacovigilância e prevenção de erros da medicação, avaliação da utilização de
medicamentos e participação em comissões de monitorização envolvendo
medicamentos (Sergipe, 2010).
2.14 O Processo Licitatório e o Sistema de Registro de Preços Estadual
A licitação é uma determinação constitucional estabelecia no Art.37, XXI,
regulamentada pela Lei Federal nº 8.666, de 21 de junho de 1993, atualizada
pelas Leis nº 8.883, de 8 de junho de 1994 e 10.520/2002, que impõe à
Administração Pública o dever de licitar. A licitação é um conjunto de
procedimentos formais, uma série ordenada de atos, que devem ser registrados
em processo próprio e obedecer aos princípios da legalidade, igualdade,
publicidade, probidade administrativa, vinculação ao Edital e do julgamento
objetivo, entre outros, destina-se a garantir a observância do princípio
constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a
Administração Pública (Brasil, 2006a).
A lei nº 8.666, ao mesmo tempo que zela pelo bom uso do dinheiro
tornando mais claras à toda população as aquisições feitas pelos entes públicos,
muitas vezes gera dificuldades aos gestores no que tange a agilidade de
processos.
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Um processo de compra de medicamentos no setor público é complexo e
envolve um conjunto de exigências legais e administrativas que devem ser
cumpridas. Esta situação, entretanto, pode ser agravada quando não há
prioridade na garantia do medicamento à população e dificuldades de tomada de
decisão, demandando um tempo muito maior que o necessário ou levando a
tomada de decisão sob pressão pela falta do medicamento aumentando as
chances de não “comprar bem” (Brasil, 2006a).
Compras freqüentes, em pequenas quantidades, segmentadas, em regime
de urgência, por vale e outras são problemas comuns e freqüentes no serviço
público, em sua maior parte por falta de planejamento e programação das
compras, o que gera irregularidade no abastecimento e riscos de desperdícios de
recursos, pois compras menores e em regime de urgência tendem a apresentar
preços maiores (Brasil, 2006a).
O Sistema de Registro de Preços tem sido uma ferramenta de grande valia
à disposição da Administração Pública Moderna, pois propicia mecanismos para a
melhoria da gestão e, principalmente, efetiva o alcance dos princípios
constitucionais da economicidade e eficiência, pois mostra ser um modo
inteligente de aquisição de bens e serviços para o Estado. Através do Sistema de
Registro de Preços a Administração Pública economiza tempo, espaço, pessoal e
recursos, pois, muitas vezes, por um só procedimento, realiza-se a aquisição de
itens para vários entes, aumentando, inclusive, o poder de barganha na hora da
compra (Carvalho, 2011).
É um tipo especial de licitação, realizada obrigatoriamente nas
modalidades de Concorrência ou Pregão (para bens e serviços comuns), em que,
ao final, é firmada uma Ata de Registro de Preços (ARP), onde são averbados os
bens, os preços, os fornecedores e as condições das futuras contratações.
Esse é um tipo de licitação que tem se demonstrado bastante vantajoso
nos casos em que ocorrem múltiplas e simultâneas licitações para um mesmo
objeto. Além disso, permite melhor racionalização na utilização do orçamento, na
medida em que ele deve ser disponibilizado no momento da contratação, e não
no início da licitação. Outra grande vantagem é permitir que não se mantenham
grandes estoques, uma vez que a licitação já foi realizada e as contratações
podem ser até mensais (Brasil, 2006a).
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Com a finalidade de promover melhor disponibilização de medicamentos na
rede primária de saúde dos municípios sergipanos, de conferir agilidade e preços
menores em função da economia de escala, o Sistema de Registro de Preços da
Atenção Primária foi instituído como instrumento gerencial para promoção da
eficiência, garantindo condições de igualdade na compra dos medicamentos,
independente da quantidade necessária aos municípios (Sergipe, 2010a).
A ARP Estadual, aprovada pela Resolução nº 09 de 29/01/2008 da CIB e
pela Resolução nº 014 de 15/09/2009 do CES e instituída pelo Decreto Estadual
nº 26.915 de 02/03/2010, era de adesão facultativa aos municípios, sendo
disponibilizada no ano de 2010 contendo o Elenco pactuado de Medicamentos de
AB do SUS Sergipe (Anexo H). Era administrada pela Secretaria Estadual de
Administração que, por determinação do Decreto Estadual nº 27.201 de 23 de
Junho de 2010, estabeleceu a todo o município que fizesse sua adesão, o
recebimento de um incentivo financeiro no valor de R$ 0,30 por habitante/ano, a
ser depositado diretamente na conta do CBAF do FMS. O município de Aracaju
fez sua adesão no ano de 2010, passando a receber esse incentivo financeiro.
A ARP Estadual, vigente por um período de até 12 meses, ficava à
disposição da Administração Pública, para, quando e se necessário, efetuar a
contratação. Portanto, os quantitativos de medicamentos exigidos eram estimados
para aquisição pelo seu período de vigência (Sergipe, 2010a). A ARP Estadual foi
suspensa no ano de 2013.
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3 OBJETIVOS
Assegurar o acesso aos medicamentos é uma das questões cruciais no
SUS, sendo esse o eixo norteador das políticas públicas na área da AF, pois
estes insumos são uma intervenção terapêutica muito utilizada, impactando
diretamente sobre a resolubilidade das ações de saúde (Brasil,2011)
O tema sub-financiamento da saúde está presente nos debates dos
gestores das três esferas, os quais defendem um financiamento adequado para
o SUS e compatível com os seus princípios de universalidade, equidade e
integralidade (Brasil,2009).
3.1 Objetivo Geral
Caracterizar a relação entre o financiamento tripartite destinado ao CBAF
no Município de Aracaju e o acesso da população a medicamentos no âmbito
desse componente.
3.2 Objetivos Específicos
Analisar quais os problemas encontrados pelos gestores municipais para a
garantia de acesso da população aos medicamentos do CBAF;
Identificar os repasses financeiros destinados ao CBAF do município;
Descrever a evolução dos recursos para o financiamento do componente;
Realizar o levantamento das ações governamentais na esfera municipal
relacionadas à correta utilização do recurso destinado ao CBAF.
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4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Tipo de Estudo
Trata-se de um estudo observacional descritivo de cunho exploratório do
tipo Estudo de Caso.
4.2 Descrição da Unidade-Caso
A unidade-caso deste estudo foi o município de Aracaju, Sergipe,
especificamente a estrutura de gestão denominada “Coordenação de AF
(CODAF)”, setor da Secretaria Municipal de Saúde responsável pela gestão da
AF do município.
Segundo o RAG do ano de 2011, único disponível no endereço eletrônico
do SargSUS (www.saude.gov.br/sargsus), o município de Aracaju possuía
naquele ano, uma população de 571.149 habitantes, 100% urbana e em sua
maioria (66,32%) de pardos e negros com crescente o aumento do número de
idosos com uma razão de sexos de 0,58 homens por mulher
De acordo com o Plano Municipal de Saúde (PMS) de Aracaju/2010-2013
(disponibilizado na página do SargSUS), o Município encontra-se habilitado na
Gestão Plena do Sistema Municipal, exercendo o comando único de saúde,
sendo responsável por todas as etapas que compõem a gestão da saúde,
envolvendo, portanto, planejamento, controle, regulação e avaliação,
gerenciamento de todas as unidades próprias, básicas, especializadas e
hospitalares, co-gestão de unidades públicas e privadas, sendo responsável por
toda a gestão da prestação dos serviços de saúde pública no município. É o único
município sede de pólo e referência para todos os procedimentos de alta
complexidade. Dentro de sua própria micro-região, o município mais distante
encontra-se a apenas 30 quilômetros da sede do Município. Fora de sua própria
micro-região, o Município fornece serviços de saúde para todos os outros