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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS FINANCIAMENTO E ACESSO A MEDICAMENTOS NO ÂMBITO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO MUNCÍPIO DE ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A 2012 Sandro Martins de Assumpção São Cristóvão - SE 2014

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

    FINANCIAMENTO E ACESSO A MEDICAMENTOS NO

    ÂMBITO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO

    MUNCÍPIO DE ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A

    2012

    Sandro Martins de Assumpção

    São Cristóvão - SE

    2014

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

    MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

    FINANCIAMENTO E ACESSO A MEDICAMENTOS NO

    ÂMBITO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO

    MUNCÍPIO DE ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A

    2012

    Sandro Martins de Assumpção

    Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas

    Orientador: Prof. Dr. Ângelo Roberto Antoniolli;

    co-orientador: Prof. Dr. Wellington Barros da Silva.

    São Cristóvão - SE

    2014

  • FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

    A485a

    Amaral, Ricardo Guimarães Avaliação da atividade antitumoral do óleo essencial da Mentha x villosa (Lamiceae) / Ricardo Guimarães Amaral ; orientadora Sara Maria Thomazzi. – São Cristóvão, 2014.

    91 f. : il.

    Dissertação (mestrado em Ciências Fisiológicas)– Universidade Federal de Sergipe, 2014.

    1. Câncer. 2. Essências e óleos essenciais. 3. Antitumorais. 4. Toxicidade. 5. Menta x villosa. I. Thomazzi, Sara Maria, orient. II. Título.

    CDU 616-006:582.929.4

  • SANDRO MARTINS DE ASSUMPÇÃO

    FINANCIAMENTO E ACESSO A NO ÂMBITO DA

    ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO MUNCÍPIO DE

    ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A 2012

    Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas

    Aprovada em:___/___/___ ________________________________________

    Prof.Dr. Ângelo Roberto Antoniolli: Orientador

    ________________________________________ Prof.Dr. Wellington Barros da Silva :Co-orientador

    ______________________________________________ Prof.Drª Adriana Andrade Carvalho:Examinadora externa

    ______________________________________________ Prof.Drª Francilene Amaral da Silva: Examinadora interna

    PARECER _________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

  • RESUMO

    Assumpção S.M. FINANCIAMENTO E ACESSO A MEDICAMENTOS NO ÂMBITO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO MUNCÍPIO DE ARACAJU ENTRE OS ANOS DE 2008 A 2012. Dissertação de Mestrado em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Sergipe, 2013. A Assistência Farmacêutica é parte integrante do sistema de saúde e tem no medicamento, o insumo essencial em ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde. A ampliação do acesso da população ao sistema de saúde exigiu mudanças na distribuição e no financiamento de medicamentos, de maneira a aumentar a cobertura e minimizar os custos. O presente estudo se propôs a avaliar a relação entre o financiamento tripartite da Assistência Farmacêutica Básica e a garantia ao acesso da população aos medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica no município de Aracaju. Trata-se de um estudo observacional descritivo, de cunho exploratório, do tipo Estudo de Caso, avaliando o período compreendido entre os anos de 2008 e 2012. Inicia-se o trabalho com um breve resgate da história da Assistência Farmacêutica no Brasil, seus mecanismos de financiamento e o processo de descentralização da saúde. Procede-se à análise das entrevistas semi-estruturadas realizadas junto ao gestor Municipal de Assistência Farmacêutica, dos Relatórios Anuais de Gestão do município, dos relatórios elaborados pela coordenação Municipal de Assistência Farmacêutica e dos depósitos realizados na conta do Fundo Municipal de Saúde destinada ao Componente Básico da Assistência Farmacêutica e discutem-se os resultados encontrados. Após avaliação dos resultados, verificou-se que, para o período da pesquisa, existiu suficiência de recursos para atender toda a demanda municipal por medicamentos desse componente, entretanto, pôde-se perceber que, houve descontinuidade no abastecimento e, consequentemente, no acesso a esses medicamentos. Conclui-se assim, que não existiu relação entre suficiência financeira e garantia de acesso a medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica no município de Aracaju durante o período da pesquisa. Palavras-chave: Assistência Farmacêutica; Medicamentos Essenciais; Atenção Básica à Saúde

  • ABSTRACT

    Assumpção S.M. FINANCING AND ACCESS TO DRUGS, ESSENCIAL WITHIN OF THE PRIMARY PHARMACEUTICAL SERVICE IN ARACAJU BETWEEN THE YEARS 2008 TO 2012. Dissertação de Mestrado em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Sergipe, 2013. The Pharmaceutical Services are an integral part of the health system and it has in the drug a essential ingredient in the actions in the promotion, protection and recovery of health. Increased access of population to the health system have required changes in the distribution and financing of drugs in order to increase coverage and minimize costs. The present study aimed to evaluate the relationship between the Brazilian governmental financing and assurance the population's access to Drugs, Essential of the Component of Primary Pharmaceutical Care in the city of Aracaju. This is an observational descriptive study of an exploratory nature, the case study type, evaluating the period between the years 2008 and 2012. Work begins rescuing briefly the history of Pharmaceutical Services in the Brazilian Health System and its funding mechanisms in the process of decentralization of health. Proceeds to the analysis of semi -structured interviews conducted by the Pharmaceutical Care`s Municipal Manager, Management Annual Reports of the municipality , reports prepared by Municipal Pharmaceutical Assistance Management and of the deposits made to the account of the Fund allocated to the Municipal Health Component Basic pharmaceutical services and discusses the results. After evaluating the results, it was found that, for the study period, there was sufficient resources to serve all municipal demand for medication of this component, however, it could be seen that there was discontinuity in the supply and consequently, access to these drugs. It is therefore concluded that there was no relationship between sufficiency and ensuring access to Drugs,Essential in the city of Aracaju during the survey period. Keywords: Pharmaceutical Services; Drugs, Essential; Primary Health Care

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Representação esquemática do ciclo da AF...................................17

    Figura 2 Linha do tempo com os principais marcos da AF no Brasil.............26

    Figura 3 Comparação entre o valor oficial do IAFB em 2012 com o valor

    de IAFB considerado adequado pela plenária da 12ª Confe-

    rência Nacional de Saúde, realizada em 2003 (corrigido

    pela inflação IPCA apurada no período compreendido

    entre Dezembro de 2003 a Dezembro de 2012)..............................49

    Figura 4 Comparação entre percentuais de aumento dos recursos do

    IAFB/Inflação IPCA acumulada no período entre Janeiro de

    2008 e Dezembro de 2012...............................................................52

    Figura 5 Comparação da evolução do gasto com o CBAF, frente a valores

    do IAFB recebidos e valores do IAFAB não utilizados, em

    R$, Aracaju SE.................................................................................53

    Figura 6 Comparação entre total de valores recebidos da IAFB entre os

    anos de 2008 e 2012 com o Total de recursos do IAFB recebidos

    e não utilizados entre 2008 e 2012 na conta do FMS que

    só poderiam ser utilizados na aquisição de medicamentos do

    CBAF e o gasto total com medicamentos do CBAF em 2012.

    Para o Município de Aracaju.............................................................56

    Figura 7 Evolução dos recursos destinados à aquisição de medicamentos

    pelo MS em comparação aos recursos federais destinados ao

    CBAF................................................................................................59

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Medicamentos da ARP Estadual com os maiores valores percen-

    tuais de aumento em relação aos preços obtidos pelo Pregão

    Municipal no ano de 2011 ................................................................51

    Tabela 2 Evolução de gastos e recursos recebidos na conta do Compo-

    nente Básico da AF do FMS de Aracaju-SE. Em reais( R$ )............53

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    AB Atenção Básica

    AFB Assistência Farmacêutica Básica

    APS Atenção Primária em Saúde

    ARP Ata de Registro de Preços

    CBAF Componente Básico da Assistência Farmacêutica

    CEAF Componente Especializa da Assistência Farmacêutica

    Ceme Central de Medicamentos

    CES Conselho Estadual de Saúde

    CIB Comissão Intergestores Bipartite

    CIT Comissão Intergestores Tripartite

    CMM Consumo Médio Mensal

    CNS Conselho Nacional de Saúde

    CODAF Coordenação de Assistência Farmacêutica

    DAF Departamento de Atenção Básica

    ESF Estratégia de Saúde da Família

    FES Fundo Estadual de Saúde

    FMS Fundo Municipal de Saúde

    FNS Fundo Nacional de Saúde

    GM Gabinete do Ministro

    IAFB Incentivo da Assistência Farmacêutica Básica

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

    MS Ministério da Saúde

    PFB Programa Farmácia Básica

    PNM Política Nacional de Medicamentos

    PMS Plano Municipal de Saúde

    PSF Programa Saúde da Família

    RAG Relatório Anual de Gestão

    Rename Relação Nacional de Medicamentos Essenciais

    SargSUS Sistema de Apoio ao Relatório Anual de Gestão

    SES Secretaria de Estado da Saúde

    SMS Secretaria Municipal de Saúde

    SIFAB Sistema de Acompanhamento do Incentivo à Assistência

    Farmacêutica Básica

    SUS Sistema Único de Saúde

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO..................................................................................................11

    2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................14

    2.1 O Sistema Único de Saúde .......................................................................14

    2.2 A Atenção Básica e a Estratégia Saúde da Família ..................................14

    2.3 A Política Nacional de Medicamentos e a Assistência Farmacêutica.......16

    2.4 O Ciclo da Assistência Farmacêutica.........................................................17

    2.4.1 Seleção de Medicamentos ..............................................................18

    2.4.2 Programação....................................................................................18

    2.4.3 Aquisição..........................................................................................19

    2.4.4 Armazenamento...............................................................................19

    2.4.5 Gestão de Materiais .......................................................................19

    2.4.6 Distribuição de Medicamentos .......................................................19

    2.4.7 Dispensação.....................................................................................20

    2.5 O Financiamento da Assistência Farmacêutica e seus Componentes...20

    2.6 O Monitoramento do Componente Básico da Assistência Farmacêutica.24

    2.7 O acesso aos Medicamentos do Componente Básico da

    Assistência Farmacêutica ........................................................................24

    2.8 Histórico da Assistência Farmacêutica no Brasil ......................................26

    2.9 A Descentralização da Assistência Farmacêutica no SUS........................28

    2.10 Legislação da Assistência Farmacêutica.................................................31

    2.11 Panorama Atual da Gestão da Assistência Farmacêutica

    Básica......................................................................................................34

    2.12 A Estruturação da Assistência Farmacêutica no Sistema Único de

    Saúde e o Desafio da Ampliação do Acesso aos Medicamentos do

    Componente Básico................................................................................35

    2.13 A Assistência Farmacêutica Básica no Estado de Sergipe.....................36

    2.14 O Processo Licitatório e o Sistema de Registro de Preços Estadual......37

    3 OBJETIVOS.....................................................................................................40

    3.1 Objetivos Gerais.........................................................................................40

    3.2 Objetivos Específicos.................................................................................40

    4 MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................41

  • 4.1 Tipo de Estudo ..........................................................................................41

    4.2 Descrição da Unidade-Caso......................................................................41

    4.3 Processo de Coleta de Dados...................................................................42

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................45

    5.1 A Suficiência de recursos...........................................................................45

    5.2 O Fenômeno da Judicialização de medicamentos e sua interferência

    nos serviços da AF................................................................................46

    5.3 As discussões sobre os valores do IAFB..................................................48

    5.4 As dificuldades na garantia do acesso aos medicamentos do CBAF.......49

    5.5 As dificuldades de utilização do IAFB e falta de estruturação da

    AFB Municipal............................................................................................52

    5.6 As dificuldades no monitoramento de recursos do IAFB...........................57

    5.7 A gestão da AF Estadual...........................................................................59

    5.8 Considerações do autor.............................................................................60

    6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO.............................................................................63

    7 CONCLUSÕES................................................................................................64

    REFERÊNCIAS ....................................................................................................66

    ANEXO A Roteiro de entrevista semi-estruturada realizada com o

    gestor municipal da Assistência Farmacêutica...................................72

    ANEXO B Lista de Medicamentos ofertados gratuitamente pelo Programa

    Saúde não tem Preço do MS..............................................................73

    ANEXO C Art.24 da Portaria GM/MS nº 2.981 com os medicamentos

    transferidos do CEAF para o CBAF ...................................................74

    ANEXO D Fragmento do Relatório Anual de Gestão 2011 do Município de

    Aracaju com a informação sobre os investimentos na AF do

    SargSUS.............................................................................................75

  • ANEXO E Documento da CODAF/Aracaju com itens mais caros e mais

    baratos na ARP Estadual e medicamentos com maiores

    percentuais de diferença entre a ARP Estadual e o Pregão

    Municipal de Aracaju (Ano de 2011)...................................................76

    ANEXO F Anexo III da Portaria nº 4.217, de 28 de Dezembro de 2010..............80

    ANEXO G Deliberação do CIE ............................................................................83

    ANEXO H Elenco de referência da SES...............................................................84

  • 6

  • 7

  • 8

  • 9

  • 10

  • 11

    INTRODUÇÃO

    A Atenção Básica (AB) à saúde vem assumindo papel relevante no

    processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil como

    coordenadora do cuidado no seu território. Vários cenários apontam para a

    necessidade de uma mudança de paradigma nessa área, imprescindível para o

    enfrentamento dos desafios sanitários, econômicos e sociais da saúde, inclusive

    na Assistência Farmacêutica (AF). Nesse contexto, é necessário que as ações

    desenvolvidas na AF acompanhem esse processo, capacitando-se para atender

    às novas demandas que essa realidade impõe (Brasil, 2011).

    Com a publicação da Política Nacional de Medicamentos (PNM), a AF

    passou a ser entendida como parte integrante de um conjunto de práticas

    voltadas para a promoção, prevenção e recuperação de saúde, tanto individual

    como coletiva, contemplando atividades que extrapolam o simples abastecimento

    de medicamentos (Barreto, 2010).

    A construção de uma nova gestão de AF no SUS fundamentou-se na

    implementação das diretrizes estabelecidas na PNM nos estados e municípios,

    entre elas, a reorientação da AF, fundamentada, entre outros, na descentralização

    da gestão (Brasil, 2007).

    Assim, os municípios passaram a assumir uma série de responsabilidades

    que exigem mobilização de conhecimento e habilidades técnicas, gerenciais e

    políticas em relação à AF (Marin et al, 2003). Porém, essas condições ainda estão

    bem distantes daquelas necessárias para que os municípios assumam suas

    funções de executores desta política.

    Estudos apontam para problemas na organização das atividades voltadas

    para o medicamento decorrentes da falta de prioridade para com este campo de

    assistência, observada historicamente na organização do sistema de saúde no

    Brasil (Barreto, 2010).

    A descentralização da gestão das ações da AF, sua estruturação nos

    municípios e a ampliação do acesso da população aos medicamentos essenciais

    foram avanços institucionais, no entanto, persistem ações prioritárias em relação

    ao financiamento e cobertura populacional. A realidade brasileira ainda se

  • 12

    caracteriza por uma situação desigual no que diz respeito ao acesso e ao uso

    racional deste insumo (Brasil, 2007).

    Atualmente, no que tange à organização e ao financiamento da AF no

    âmbito do SUS, percebem-se duas realidades um tanto quanto distintas. Por um

    lado, a AF legal consolidada e estruturada pelas respectivas leis e portarias, e que

    de certa forma norteia e contribui para uma melhor organização da AF nos

    municípios. Por outro lado, visualiza-se a AF real, atravessada por vários

    problemas de ordem organizacional e financeira que comprometem o acesso dos

    usuários aos medicamentos necessários para a sua terapêutica (Oliveira, et al.,

    2008).

    Considerando que a AF é determinante para a resolubilidade da atenção e

    dos serviços prestados em saúde (Brasil, 2011) e que, evidências demonstram

    que a AB tem capacidade para responder a 85% das necessidades em saúde

    (Starfield,1994), realizando serviços preventivos, curativos, reabilitadores e de

    promoção da saúde (Brasil, 2007), estudos que tenham como foco o acesso dos

    usuários aos serviços farmacêuticos prestados no âmbito da AB e a

    medicamentos do Componente Básico da Assistência Farmacêutica (CBAF)

    podem fornecer subsídios importantes para a melhoria na gestão pública da

    saúde.

    Diante desse contexto, esse estudo teve como proposta verificar se existe

    suficiência financeira de recursos recebidos para o CBAF e a sua relação com o a

    garantia de acesso a serviços e medicamentos no âmbito da AF Básica no

    município de Aracaju, capital do Estado de Sergipe.

    Aracaju é uma capital de Estado e, portanto, apesar de ser relativamente

    pequena, apresenta complexidade própria de capital. Nela encontra-se instalada

    toda a burocracia estatal, a sede dos poderes judiciário, executivo e legislativo. É

    a cidade de maior visibilidade, isto é: ela polariza com o governo do Estado toda a

    mobilização da mídia, tendo, pois, um papel estratégico na política (Santos,

    2005).

    Apresenta-se com uma boa representatividade demográfica, já que abriga

    26% da população total do Estado (de acordo com a estimativa populacional do

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas- IBGE para o ano de 2013) e, por

    sua proximidade e capacidade de resolução em serviços de saúde, atende

  • 13

    também a usuários dos outros municípios sergipanos e de municípios fronteiriços

    do Estado da Bahia e Alagoas (Santos, 2005).

    O município tem seu modelo de gestão da AB baseado na Estratégia de

    Saúde da Família, implantada no ano de 1998 (Almeida et al.,2010), e que se

    encontra plenamente consolidada. Conta também com uma Coordenação de

    Assistência Farmacêutica estruturada há mais de dez anos, configurando-se

    assim, um bom referencial para a proposta da pesquisa.

    Ao traçar um panorama do financiamento do CBAF em Aracaju, pretende-

    se que esse estudo seja capaz de produzir informações que possam subsidiar a

    definição de estratégias e ações para o enfrentamento do problema da falta de

    acesso e de controle dos recursos, contribuindo para a gestão da AF, tanto na

    esfera estadual quanto na municipal.

    O desenvolvimento da dissertação encontra-se estruturado a partir de um

    referencial teórico que pretende fundamentar e delimitar o escopo da pesquisa.

    Discorre-se brevemente sobre o SUS e a PNM, pela qual são definidas as

    responsabilidades dos gestores, em todas as esferas institucionais, na sua

    efetivação, assim como as bases conceituais do ciclo da AF e seus componentes.

    Adicionalmente apresenta-se um histórico da AF no sistema público de saúde

    brasileiro e suas respectivas diretrizes legais e constitucionais. A seguir, são

    descritos o objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa. No item “Materiais e

    métodos” detalha-se a abordagem metodológica do trabalho, apresenta-se e

    discute-se os resultados encontrados, finalizando com as limitações e conclusões.

  • 14

    2 REFERENCIAL TEÓRICO

    2.1 O Sistema Único de Saúde

    O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de

    1988 e institucionalizado por lei em 1990. Suas diretrizes são a universalização do

    acesso com equidade e a integralidade das ações e serviços de saúde e é

    constituído pelo conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão pública.

    Está organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas e atua em todo o

    território nacional, com direção única em cada esfera de governo (Brasil, 2007a).

    De acordo com o inciso I do artigo 198 da Constituição Federal, a direção

    do SUS deve ser única, sendo exercida, em cada esfera de governo, no âmbito

    da União, pelo Ministério da Saúde; no âmbito dos estados e do Distrito Federal,

    pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente e no âmbito dos

    municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente (Brasil,

    2011).

    2.2 A Atenção Básica e a Estratégia Saúde da Família

    A Atenção Básica (AB) envolve ações que se relacionam com aspectos

    coletivos e individuais e visa resolver os problemas de saúde mais frequentes e

    de maior relevância para a população. Ela deve ser a porta preferencial de

    entrada do cidadão no SUS (Brasil, 2011).

    A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) está regulamentada pela

    Portaria GM/MS nº 648, de 28 de março de 2006, que estabeleceu a revisão de

    diretrizes e normas para a organização da AB, para o Programa Saúde da Família

    (PSF).

    A PNAB ressalta que “a AB caracteriza-se por um conjunto de ações de

    saúde no âmbito individual e coletivo que abrangem a promoção e proteção da

    saúde prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção

    da saúde”. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e

    sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe,

    dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a

  • 15

    responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em

    que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa

    densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e

    relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os

    sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, acessibilidade e

    coordenação, vínculo e continuidade, integralidade, responsabilização,

    humanização, equidade e participação social (Brasil, 2011a).

    As evidências demonstram que a AB tem capacidade para responder a

    85% das necessidades em saúde (Starfield,1994), realizando serviços

    preventivos, curativos, reabilitadores e de promoção da saúde; integrando os

    cuidados quando existe mais de um problema; lidando com o contexto de vida e

    influenciando as respostas das pessoas aos seus problemas de saúde (Brasil,

    2007).

    A Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem como objetivo contribuir para

    a reorientação do modelo assistencial a partir da AB, em conformidade com os

    princípios do SUS, imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas Unidades

    Básicas de Saúde (UBS), com definição de responsabilidades entre os serviços

    de saúde e a população, prestando, na unidade de saúde e no domicílio,

    assistência integral, contínua, com resolubilidade e boa qualidade às

    necessidades de saúde da população adscrita, intervindo sobre os fatores de

    risco aos quais a população está exposta, elegendo a família e o seu espaço

    social como núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde, humanizando

    as práticas de saúde (Brasil,1997)

    Uma Equipe de Saúde da Família tem responsabilidade sobre a saúde de

    uma população composta de 600 a mil famílias, não excedendo o total de quatro

    mil pessoas moradoras de uma área geográfica definida. Essa área corresponde

    ao território de atuação da equipe (Brasil, 2007). A ESF é a principal estratégia

    organizativa da AB no SUS (Brasil, 1997).

    No conjunto de políticas sanitárias e ações que têm interface com a política

    de AB destaca-se a Assistência Farmacêutica (AF). A AF no Brasil pode ser

    considerada como parte do modelo assistencial existente, sendo de caráter

    multiprofissional e intersetorial (Araújo, 2008)

  • 16

    2.3 A Política Nacional de Medicamentos e a Assistência Farmacêutica

    A Política Nacional de Medicamentos (PNM), como parte essencial da

    Política Nacional de Saúde, constitui um dos elementos fundamentais para a

    efetiva implementação de ações capazes de promover a melhoria das condições

    da assistência à saúde da população. Esta Política estabeleceu as diretrizes,

    prioridades e responsabilidades da AF, para os gestores federal, estaduais e

    municipais do SUS (Brasil, 2001).

    O seu propósito precípuo é o de garantir a necessária segurança, eficácia e

    qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da

    população àqueles considerados essenciais (Brasil, 2001a).

    De acordo com a Resolução Nº. 338, de 06 de maio de 2004, do Conselho

    Nacional de Saúde (CNS) a AF é o conjunto de ações voltadas à promoção,

    proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o

    medicamento como insumo essencial e visando o acesso e seu uso racional.

    Segundo Araújo et al, 2005, a AF engloba as atividades de pesquisa,

    produção, distribuição, armazenamento, prescrição e dispensação, esta última

    entendida como o ato essencialmente de orientação quanto ao uso adequado, e

    farmacovigilância (Documento do Encontro Nacional de AF e Política Nacional de

    Medicamentos (PNM), 1988). Neste mesmo documento, foi definido o papel do

    farmacêutico nesta política:

    O farmacêutico ocupa papel-chave nessa assistência, na medida em que

    é o único profissional da equipe de saúde que tem sua formação técnico-

    científica fundamentada na articulação de conhecimentos das áreas

    biológicas e exatas. E como profissional de medicamentos, traz também

    para essa área de atuação conhecimentos de análises clínicas e

    toxicológicas e de processamento e controle de qualidade de alimentos

    (Brasil, 2003).

    Foram colocados como propósitos dessa política a garantia da segurança,

    eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional, e o acesso

    da população àqueles considerados essenciais. As diretrizes estabelecidas na

    PNM foram, a adoção de relação de medicamentos essenciais, a regulamentação

    sanitária de medicamentos e a promoção do seu uso racional, a reorientação da

    AF, o desenvolvimento científico e tecnológico, a promoção da produção de

    medicamentos, a garantia da segurança, a eficácia e qualidade dos

  • 17

    medicamentos, o desenvolvimento e a capacitação de recursos humanos

    (Vieira, 2007).

    De acordo com a política estabelecida para a AF, a garantia do acesso aos

    medicamentos, a serem disponibilizados nos diferentes níveis de atenção e

    programas de saúde, depende de um financiamento sustentado que deve ser

    assegurado por todas as instâncias gestoras do SUS. Somente com

    financiamento assegurado é possível disponibilizar os medicamentos necessários

    para dar suporte às ações de atenção à saúde e viabilizar o desenvolvimento e

    continuidade das ações nesta área (Brasil, 2011).

    Considerando os parâmetros delimitados pelas definições, a AF é uma

    grande área composta por, pelo menos, duas subáreas distintas, porém

    complementares, ou seja, uma relacionada à tecnologia de gestão do

    medicamento (garantia de acesso) e a outra relacionada à tecnologia do uso do

    medicamento (utilização correta do medicamento), sendo que a atenção

    farmacêutica pode ser considerada como uma especialidade da tecnologia do uso

    do medicamento e privativa do farmacêutico (Araujo et al, 2008).

    2.4 O Ciclo da Assistência Farmacêutica

    Conceitualmente, é um ciclo logístico que engloba as seguintes etapas:

    Figura 1 Representação esquemática do ciclo da AF.

    Fonte: Adaptado de Marin et al, 2003.

    Gerenciamento

    Financiamento

    Recursos Humanos

    Sistemas de Informação

    Controle e Avaliação

    Seleção

    Programação

    Aquisição

    Armazenamento

    Distribuição

    Dispensação

  • 18

    2.4.1 Seleção de Medicamentos

    O primeiro passo para um sistema de fornecimento de medicamentos

    eficiente e eficaz é a seleção adequada de medicamentos. A seleção tem por

    objetivo limitar o número de medicamentos a serem adquiridos para os diversos

    níveis de atenção, conduzindo às seguintes conseqüências: melhor suprimento;

    promove a prescrição mais racional, pois facilita a divulgação de informações

    sobre os medicamentos; facilita os esforços para promover a educação do

    paciente e o uso correto de medicamentos, por concentrarem-se em um número

    limitado destes; reduz o gasto com medicamentos, tornando-os acessíveis às

    populações cujas necessidades básicas de saúde não são atendidas. A seleção

    de medicamentos tem um impacto considerável sobre a qualidade da atenção à

    saúde e o custo do tratamento, sendo, por isso, uma das áreas onde a

    intervenção é mais custo-efetiva (MSH, 1997; WHO, 1997).

    Segundo Marin et al, a seleção é um processo de escolha de

    medicamentos, baseada em critérios epidemiológicos, técnicos e econômicos,

    estabelecidos por uma Comissão de Farmácia e Terapêutica, visando assegurar

    medicamentos seguros, eficazes e custo-efetivos com a finalidade de racionalizar

    seu uso, harmonizar condutas terapêuticas, direcionar o processo de aquisição,

    produção e políticas farmacêuticas. É a atividade mais importante da AF, pois é a

    partir da seleção que são desenvolvidas as demais atividades. A seleção deve ser

    acompanhada da elaboração de formulário terapêutico, documento que reúne

    informações técnico-científicas relevantes e atualizadas sobre os medicamentos

    selecionados, servindo de subsídio fundamental aos prescritores.

    2.4.2 Programação

    Programar consiste em estimar quantidades a serem adquiridas para

    atendimento a determinada demanda dos serviços, por determinado período de

    tempo. A programação inadequada reflete diretamente sobre o abastecimento e o

    acesso ao medicamento. (Marin et al,2003)

  • 19

    2.4.3 Aquisição

    Consiste num conjunto de procedimentos pelos quais se efetiva o processo

    de compra dos medicamentos, de acordo com uma programação estabelecida,

    com o objetivo de suprir necessidades de medicamentos em quantidade,

    qualidade e menor custo-efetividade e manter a regularidade do sistema de

    abastecimento. (Marin et al,2003)

    2.4.4 Armazenamento

    Conjunto de procedimentos técnicos e administrativos que tem por

    finalidade assegurar as condições adequadas de conservação dos produtos.

    (Marin et al,2003)

    2.4.5 Gestão de Materiais

    Conjunto de atividades que visa ao suprimento adequado dos serviços de

    acordo com as necessidades requeridas, em qualidade e quantidades adequadas,

    em tempo correto e menor custo.

    O objetivo fundamental da administração de materiais é determinar quando

    e quanto adquirir para repor o estoque, o que deixa claro que a estratégia de

    abastecimento é determinada pelo usuário. (Marin et al, 2003)

    2.4.6 Distribuição de Medicamentos

    Consiste no suprimento de medicamentos às unidades de saúde, em

    quantidade, qualidade e tempo oportuno. A distribuição de medicamentos deve

    garantir rapidez e segurança na entrega, eficiência no controle e

    informação(Marin et al, 2003)

  • 20

    2.4.7 Dispensação

    A PMN definiu que a dispensação é o ato profissional farmacêutico de

    proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como

    resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado.

    Nesse ato, o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso

    adequado do medicamento.

    São elementos importantes da orientação, entre outros, a ênfase no

    cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos, a interação com outros

    medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições

    de conservação dos produtos (Marin et al, 2003)

    O problema das interações medicamentosas e do conhecimento sobre o

    uso de medicamentos parece ser de natureza bastante complexa, envolvendo

    diversos fatores. Entretanto, torna-se imprescindível o envolvimento do

    profissional farmacêutico, principalmente para um maior conhecimento da

    natureza do problema, buscando melhorar a adesão dos usuários e reduzir

    possíveis problemas relacionados aos medicamentos que possam surgir durante

    o tratamento (Araujo et al, 2008).

    Em relação à atividade do farmacêutico nesta gama de operações, a

    Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que esse é o profissional com

    melhor capacitação para conduzir as ações destinadas à melhoria do acesso e

    promoção do uso racional dos medicamentos, sendo ele indispensável para

    organizar os serviços de apoio necessários para o desenvolvimento pleno da AF

    (Araujo et al, 2008).

    2.5 O Financiamento da Assistência Farmacêutica e Seus Componentes

    O financiamento da AF é de responsabilidade das três esferas de gestão

    do SUS e pactuado na Comissão Intergestores Tripartite1(CIT). Conforme

    estabelecido na Portaria GM/MS n. 204/2007 (Brasil, 2007), atualizada pela

    1 Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Instância de articulação e pactuação na esfera federal

    que atua na direção nacional do SUS, integrada por gestores do SUS das três esferas de governo. A representação de estados e municípios nessa Comissão é regional, sendo um representante para cada uma das cinco regiões no País. Nesse espaço, as decisões são tomadas por consenso

    e não por votação. A CIT está vinculada à direção nacional do SUS (Brasil,2009a).

  • 21

    Portaria GM/MS n. 837/2009 (Brasil, 2009), os recursos federais para a saúde são

    repassados na forma de blocos de financiamento, entre os quais, o bloco de

    financiamento da AF, que é constituído por três componentes:

    1. Componente Estratégico da AF: tem por objetivo, disponibilizar

    medicamentos para o atendimento de programas de saúde coordenados

    nacionalmente pelo Ministério da Saúde (MS), de caráter transmissível e/ou alto

    impacto na saúde da população. Neste componente estão incluídos os

    medicamentos do Programa DST/Aids; para o controle da tuberculose;

    hanseníase; malária e outras endemias focais, bem como os imunobiológicos e

    insumos das coagulopatias e hemoderivados (Brasil, 2011).

    2. Componente Especializado da AF (CEAF): este componente aprimorou e

    substituiu o Componente Medicamentos de Dispensação Excepcional,

    comumente chamado “medicamento de alto custo”, e tem como principal

    característica, a busca da garantia da integralidade do tratamento

    medicamentoso, em nível ambulatorial, de agravos cujas abordagens terapêuticas

    estão estabelecidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT),

    publicados pelo MS. Estes PCDT estabelecem quais são os medicamentos

    disponibilizados para o tratamento das patologias contempladas e qual a instância

    gestora responsável pelo seu financiamento (Brasil, 2011).

    3. Componente Básico da AF (CBAF): destina-se à aquisição de

    medicamentos e insumos no âmbito da AB e àqueles relacionados a agravos e

    programas de saúde específicos inseridos na rede de cuidados deste nível de

    atenção através do Incentivo à AF Básica (IAFB). A AB pode ser caracterizada,

    geralmente, como o primeiro contato do usuário aos serviços públicos de saúde.

    No âmbito dessa atenção, estão elencados os medicamentos constantes desse

    componente, indicados para tratamento das doenças mais prevalentes da

    população, sendo que o seu elenco é determinado pela Relação Nacional de

    Medicamentos Essenciais (Rename) (Brasil, 2010), sendo este Componente, o

    tema desse estudo.

    Desde o início da década passada o tema subfinanciamento da saúde está

    presente nos debates promovidos pelos gestores das três esferas da gestão, os

    quais têm sido enfáticos na defesa de um financiamento adequado para o SUS e

  • 22

    compatível com os seus princípios de universalidade e integralidade (Brasil,

    2011).

    O desafio do financiamento da saúde no Brasil tem de ser enfrentado em

    duas vertentes: aumentar o gasto em saúde, mas, ao mesmo tempo, melhorar

    sua qualidade (Brasil, 2009). O debate sobre financiamento tem repercussões

    também na área da AF, e, entre as dificuldades apontadas pelos gestores, o

    aumento do custo dos medicamentos no âmbito da assistência e o impacto dos

    mesmos no orçamento da saúde sempre são mencionados, sendo um problema

    comum a todos (Brasil, 2011).

    2.6 O Monitoramento do Componente Básico da Assistência Farmacêutica

    Como uma ação de saúde pública e parte integrante do sistema de saúde,

    a AF é determinante para a resolubilidade da atenção e dos serviços prestados

    em saúde e envolve a alocação de grande volume de recursos públicos (Brasil,

    2011).

    A Portaria GM/MS nº 176/1999, que instituiu o IAFB, não previu uma

    sistemática para monitoramento da aplicação dos recursos financeiros.

    Estabeleceu, tão somente que “o IAFB será financiado pelos três gestores, e que

    a transferência dos recursos federais está condicionada à contrapartida dos

    estados, municípios e do Distrito Federal (DF)” (Brasil, 1999). Estabeleceu

    também a necessidade de comprovação da aplicação dos recursos financeiros

    correspondentes às contrapartidas estadual e municipal, com prestação de contas

    aprovadas pelos Conselhos Estaduais de Saúde (CES) (Brasil, 1999).

    Somente a partir de sua regulamentação pela Portaria GM/MS nº 956, de

    25 de agosto de 2000, ficaram estabelecidos critérios para o acompanhamento da

    movimentação dos recursos pactuados (Brasil, 2000).

    A ausência de instruções específicas para o preenchimento das planilhas e

    a inexistência de orientação explícita quanto à necessidade de abertura de conta

    bancária exclusiva para movimentação dos recursos referentes ao IAFB,

    trouxeram dificuldades para o acompanhamento da movimentação financeira do

    mesmo. Em virtude disso, foi desenvolvido um sistema informatizado denominado

    Sistema de Acompanhamento do Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica

  • 23

    (SIFAB), que passou a fazer o acompanhamento da aplicação dos recursos

    financeiros do incentivo. Esse monitoramento sofreu interrupção nos anos de

    2003 e 2004, quando o SIFAB foi aperfeiçoado e atualizado, para posterior

    disponibilização de nova versão, implantada através da Portaria GM/MS nº 2099

    de 30 de agosto de 2006, disponibilizada no endereço eletrônico do MS (Brasil,

    2007).

    O SIFAB, mesmo após seu aperfeiçoamento e atualização, mostrou-se um

    instrumento deficiente, apesar de sua notória utilidade, com falhas e dificuldades

    na sua utilização, como verificado no fórum de discussões criado pelo Banco de

    dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS) sobre o uso desse sistema

    (http://forum.datasus.gov.br/viewforum.php?f=67&start=200).

    O SIFAB foi extinto pela promulgação no ano de 2007 da Portaria GM/MS

    nº 3.237, essa mesma Portaria determinou que o controle do uso dos recursos do

    IAFB fosse feito através do Relatório Anual de Gestão municipal (RAG).

    O RAG constitui-se no instrumento de comprovação da aplicação dos

    recursos repassados do Fundo Nacional de Saúde (FNS) para os Fundos de

    Saúde dos Estados (FES), do DF e dos Municípios (FMS). Sua elaboração utiliza

    a ferramenta eletrônica Sistema de Apoio ao RAG (SargSUS), cuja alimentação é

    anual, regular e obrigatória (Brasil, 2012).

    De acordo com as Portarias GM/MS nº 3.085 e nº 3.332, é o instrumento

    de planejamento que apresenta os resultados alcançados com a execução da

    Programação Anual de Saúde, apurados com base no conjunto de ações, metas

    e indicadores desta, e orienta eventuais redirecionamentos que se fizerem

    necessários ao Plano de Saúde e às Programações seguintes.

    Deve ser submetido à apreciação e aprovação do respectivo Conselho de

    Saúde até o final do primeiro trimestre do ano subsequente, conforme Portaria

    GM/MS nº 399, de 23 de fevereiro de 2006.

    De acordo com a Portaria GM/MS nº 575, o SargSUS deve ser atualizado

    pelos gestores municipais de saúde até o dia 30 de março do ano seguinte ao da

    execução financeira. Compreende-se como atualização, o preenchimento da

    totalidade das telas do sistema e o envio eletrônico do RAG para apreciação pelo

    respectivo Conselho Municipal de Saúde (CMS).

    http://forum.datasus.gov.br/viewforum.php?f=67&start=200

  • 24

    No ano de 2009, foi introduzida ao sistema de informações para a AF do

    SUS, uma inovação tecnológica voltada à gestão das informações do setor: o

    Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica – Hórus (Costa, 2012)

    O Sistema Hórus é um sistema informatizado, disponibilizado pelo MS e

    concebido para atender às singularidades da gestão da AF no SUS, por meio dos

    seus componentes: Básico, Estratégico e Especializado. No perfil Básico do

    Hórus são emitidos diferentes relatórios, contendo informações gerenciais que

    subsidiam o planejamento e desenvolvimento das ações de AF na AB: históricos

    das dispensações para os usuários; dados sobre pacientes faltosos; procedência

    das prescrições; posição de estoque; datas de agendamento das próximas

    dispensações; e outras. Estão disponíveis informações técnicas necessárias para

    a qualificação dos serviços e gestão do cuidado, de forma que possam ser

    utilizados durante o momento da prescrição e na dispensação: Rename;

    Formulário Terapêutico Nacional; Temas Selecionados para Promoção do Uso

    Correto de Medicamentos (Costa, 2012).

    2.7 O Acesso aos Medicamentos do Componente Básico da Assistência

    Farmacêutica

    Assegurar o acesso a medicamentos é uma das questões cruciais no SUS,

    constituindo-se o eixo norteador das políticas públicas estabelecidas na área da

    AF, considerando que estes insumos são uma intervenção terapêutica muito

    utilizada, impactando diretamente sobre a resolubilidade das ações de saúde

    (Brasil, 2011)

    Programas, como o “Programa Farmácia Popular do Brasil” (FPB) e,

    “Saúde Não Tem Preço”, criados pelo governo federal, tendem a ampliar o acesso

    a medicamentos básicos e diminuir os gastos dos Municípios com esses

    medicamentos.

    O Programa FPB, foi instituído por meio do Decreto n.º 5.090, da Casa Civil

    da Presidência da República, de 20 de maio de 2004, cujo foco principal é a

    implantação da rede FPB, em parceria com governos estaduais e municipais, bem

    como com instituições da área da Saúde e instituições de Ensino Superior sem

  • 25

    fins lucrativos, para a instalação de unidades do programa em locais estratégicos

    no País, por meio de convênios com a Fiocruz, tendo com interveniente o MS

    (Brasil, 2005).

    Os produtos distribuídos por intermédio do Programa FPB são os

    adquiridos em processos específicos, não se confundindo com as aquisições

    públicas realizadas pela União, Estados, DF ou Municípios. O Programa possui

    uma rede própria de Farmácias Populares e a parceria com farmácias e drogarias

    da rede privada, chamada de "Aqui tem Farmácia Popular". Ao todo, são mais de

    107 itens oferecidos a baixo custo (Brasil, 2005).

    Em março de 2011, o programa „Farmácia Popular/Saúde Não Tem Preço‟,

    fruto de uma parceria firmada entre o MS com entidades de Indústria e Comércio,

    passou a ofertar medicamentos para hipertensão e diabetes (Anexo) e,

    atualmente, mais de 20 mil farmácias privadas já estão cadastradas para a

    distribuição gratuita desses medicamentos (Malta, 2011). Em junho do mesmo

    ano, o programa foi aumentado com a inclusão de três medicamentos anti-

    asmáticos (Anexo B).

    No Brasil estimou-se que, em 2000, 70 milhões de pessoas não tinham

    acesso a medicamentos, o que corresponde a, aproximadamente, 41% da

    população brasileira daquele ano. Este é um dos principais desafios para o

    sistema público de saúde (Vieira, 2007).

    É importante compreender que garantir acesso significa pensar em todas

    as dimensões desse acesso, o que equivale a dizer que não basta haver

    disponibilidade. Os medicamentos precisam ser prescritos e utilizados de forma

    racional (Guerra Jr. et al, 2004).

    Apesar dos avanços do Sistema de Saúde desde sua criação, o Estado

    ainda falha em garantir o acesso da população brasileira aos medicamentos

    essenciais. Atualmente, no País, um fenômeno está desestruturando a política de

    medicamentos neste aspecto, comprometendo os orçamentos para a aquisição

    de medicamentos. Tornou-se frequente a reivindicação por parte do cidadão, via

    sistema judiciário, da aquisição de medicamentos que não constam nas relações

    de medicamentos essenciais (Messeder, 2005).

    A equidade no acesso aos medicamentos no SUS tem sido discutida a

    partir da premissa de que o direito à assistência integral farmacêutica implica a

    http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=30296

  • 26

    partilha entre os entes federativos das responsabilidades legais do Estado de

    propiciar o acesso igualitário e universal aos medicamentos e procedimentos

    terapêuticos para a assistência integral à saúde dos cidadãos (Brasil, 2011).

    2.8 Histórico da Assistência Farmacêutica no Brasil

    Figura 2 - Linha do tempo com os principais marcos da AF no Brasil

    • Instituição da Central de Medicamentos (Ceme), políticacentralizada de aquisição e de distribuição de medicamentos.

    1971

    • Instituição da Farmácia Básica: Módulo padrão de 48medicamentos constantes da RENAME

    1987

    •Promulgação da Constituição Federal : saúde como direito social."A saúde é direito de todos e dever do Estado..."

    1988

    •Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080/90),determina,como campo deatuação do SUS, a formulação da política de medicamentos (...) eexecução de ações de assistência terapêutica integral, inclusivefarmacêutica

    1990

    •Desativação da Ceme sendo suas atribuições transferidas paradiferentes órgãos e setores do Ministério da Saúde.

    1997

    •Portaria GM/MS nº 3916, PNM, tendo como uma de suasfinalidades principais: O acesso da população àquelesmedicamentos considerados essenciais.

    1998

    • Início da descentralização: Portaria GM/MS nº 176, estabeleceucritérios e requisitos para a qualificação dos Municípios e Estadosao Incentivo à Assistência Faramcêutica Básica (IAFB)

    1999

    •Portaria GM/MS nº 2084 definiu mecanismos e responsabilidadespara financiamento da AFB. Dois componentes, umdescentralizado e um Estratégico com compra centralizada:Blocos de financiamento com aquisição pelo MS

    2005

    •Descentralização. Portaria GM/MS nº 3.237 estabeleceu aextinção os blocos de financiamento e assim os valores da ParteFixa e da Parte Variável dos Grupos de Hipertensão e Diabetes,Asma e Rinite e Saúde Mental passam a compor valor único definanciamento

    2007

    • Portaria GM/MS 2.981; Tranferência de medicamentosdo CEAF para o CBAF; Portaria GM/MS 2.982 15% dosrecursos anuais dos recursos das contra-partidas estaduais emunicipais de em adequação de espaço físico e estruturaçãodas Farmácias do SUS relacionadas à AB; e realização deatividades vinculadas à educação continuada voltada àqualificação dos recursos humanos da AFB.

    2010

  • 27

    A AF, como política pública, teve início em 1971 com a instituição da

    Central de Medicamentos (Ceme), que tinha como missão o fornecimento de

    medicamentos à população sem condições econômicas para adquiri-los e se

    caracterizava por manter uma política centralizada de aquisição e de distribuição

    de medicamentos (Brasil, 1971).

    A Ceme passou por várias fases desde sua criação. Por ser um órgão que

    estava ligado diretamente à Presidência da República, estaria sujeita às

    influências das várias correntes ideológicas e dos interesses políticos que

    predominavam na época. Por isso, desviava-se dos seus objetivos iniciais, na

    medida em que o contexto político se alterava (Consedey, 2000).

    Apesar da importância e do papel estratégico previsto para a Ceme na

    coordenação das atividades que envolviam os medicamentos, em especial os

    medicamentos essenciais, a centralização do gerenciamento das ações trouxe

    inúmeros problemas. Merecem destaque, a programação, aquisição e a

    distribuição de medicamentos em desacordo com as reais necessidades dos

    estados e municípios (Conass, 2007).

    Em 1987, a Ceme instituiu uma Farmácia Básica, proposta do governo

    federal para racionalizar o fornecimento de medicamentos para a AB. Esta, previa

    módulos padrão de medicamentos, de modo a atender as necessidades de uma

    população de três mil habitantes constituída por 48 medicamentos, todos

    constantes da Rename, destinava-se a atender as doenças prevalentes mais

    comuns, em especial no nível ambulatorial (Cosendey, 2000).

    Concebido como um módulo padrão que não considerava as diversidades

    regionais, aliado à descontinuidade no fornecimento nos anos posteriores à sua

    implantação, ao envio de medicamentos com prazos de validade próximos da

    expiração e ao excesso de alguns itens, o programa apresentou grandes perdas.

    Devido a esses problemas decorrentes, principalmente, da centralização dos

    processos de programação e aquisição, que não correspondiam ao perfil de

    demanda das populações atendidas, o programa foi extinto em 1988 (Consedey,

    2000a).

  • 28

    A década de 1990 foi marcada por uma crise na Ceme em razão de atritos

    entre a instituição e os laboratórios oficiais e escândalos de corrupção que

    culminaram com a sua extinção, em 1997 (Oliveira, et al).

    Com a desativação da Ceme, suas atividades foram absorvidas por

    diferentes setores e órgãos do MS, pulverizando as ações de AF (Brasil, 2007).

    Na continuidade, para suprir as necessidades de medicamentos básicos,

    em 1997 o MS criou o Programa Farmácia Básica (PFB), desenvolvido com base

    nos mesmos parâmetros da Farmácia Básica da Ceme, modulado para atender

    três mil habitantes em municípios com população de até 21 mil habitantes. Os

    medicamentos, adquiridos pelo MS, eram repassados a pólos de distribuição,

    localizados em cada uma das regiões do país (Cosendey, 2000).

    Posteriormente, o PFB foi reformulado, praticamente excluindo a

    participação formal da esfera estadual, distanciando-se do processo de

    organização da AF em andamento em várias Unidades da Federação (Brasil,

    2007).

    Em 1990 o SUS foi regulamentado, através da Lei no 8.080, reforçando a

    necessidade cada vez mais emergente da formulação de uma PNM, consoante

    com o novo sistema de saúde do país (Brasil,1990; Bermudes et.al.,1995).

    A desarticulação da AF no país, em descompasso com as mudanças que

    vinham ocorrendo na área da saúde, especialmente em relação ao processo de

    descentralização das ações do SUS e a irregularidade no abastecimento de

    medicamentos destinados à rede ambulatorial, entre eles, os medicamentos para

    AB, contribuíram para a formulação de novas diretrizes na área de medicamentos.

    Esse processo levou ao estabelecimento da PMN, publicada por meio da Portaria

    GM/MS n. 3916, de 30 de outubro de 1998 (Brasil, 2007).

    2.9 A Descentralização da Assistência Farmacêutica no SUS

    A construção de uma nova gestão de AF no SUS fundamentou-se na

    implementação das diretrizes estabelecidas na PNM nos estados e municípios,

    entre elas, a reorientação da AF, fundamentada, entre outros, na descentralização

    da gestão; na promoção do uso racional de medicamentos; na otimização e na

  • 29

    eficácia do sistema de distribuição no setor público e no desenvolvimento de

    iniciativas que possibilitem a redução dos preços dos produtos, viabilizando,

    inclusive, o acesso da população aos produtos no âmbito privado (Brasil, 2007).

    A interrupção do PFB, a publicação da PNM e os diversos debates

    ocorridos na época, levaram o governo federal à elaboração de uma nova

    proposta para a área, que resultou na publicação da Portaria GM/MS nº 176, de

    08 de março de 1999, que estabeleceu critérios e requisitos para a qualificação

    dos Municípios e Estados receberem o IAFB, passo inicial para sua

    descentralização, com responsabilidades pactuadas entre as três instâncias

    gestoras do SUS (Brasil, 2007).

    O IAFB passou a nortear o financiamento e a participação do nível federal

    começou a ser feita através de repasse fundo a fundo, do FNS para os FES e

    FMS com recursos no valor de R$ 1,00 por habitante/ano, repassados em

    parcelas de 1/12 mensais. A participação dos Estados e Municípios deveria ser

    feita através das contrapartidas financeiras que, somadas, não poderiam ser

    inferiores ao valor repassado pelo governo federal (Brasil, 1999).

    A criação do IAFB foi um avanço, pois, diferente do PFB, abrangia a

    totalidade dos municípios, prevendo a participação dos gestores estaduais e

    municipais no processo de gestão e gerenciamento, mediante pactuação nas

    respectivas Comissões Intergestores Bipartite2 (CIB) (Brasil, 2011).

    A descentralização da AF Básica (AFB) aos municípios, vinculou o repasse

    financeiro à implementação das atividades relacionadas à sua reorientação, entre

    elas, a de ampliar o acesso dos usuários do SUS aos medicamentos básicos,

    promovendo seu uso racional (Brasil, 2007).

    A reorientação da AF, uma das diretrizes da PNM, tem como objetivo o

    desenvolvimento de atividades relacionadas à promoção do acesso da população

    aos medicamentos essenciais e não deve se restringir à aquisição e distribuição

    de medicamentos (Brasil, 2001).

    2 Comissão de Intergestores Bipartite (CIB): Espaços estaduais de articulação e pactuação política

    que objetivam orientar, regulamentar e avaliar os aspectos operacionais do processo de descentralização das ações de saúde. São constituídas, paritariamente, por representantes do governo estadual e dos secretários municipais de Saúde. As CIBs foram institucionalizadas pela Norma Operacional Básica nº 1 de 1993 e instaladas em todos os estados do País.

  • 30

    A sistemática adotada para gerenciar o recurso financeiro, pactuada entre

    estados e municípios, deveria considerar estratégias que levassem à otimização

    na aplicação do mesmo. Nesse contexto, diferentes estratégias foram adotadas,

    tais como: a centralização dos recursos nas SES, a descentralização total aos

    municípios, descentralizações e centralizações parciais em estados ou

    municípios. Em alguns estados, a estratégia adotada foi a criação de consórcios,

    com a finalidade de fazer compras conjuntas, objetivando economia de escala

    (Brasil, 2007).

    Como condição para acessar o IAFB, os estados tiveram que elaborar os

    Planos Estaduais de AFB (PEAFB) (Brasil, 2001).

    Na avaliação do MS, um dos problemas detectados nos PEAFB

    relacionava-se à seleção. Os elencos pactuados pelos Estados e Municípios,

    apresentavam grande diversidade e, na avaliação da Gerência Técnica de AF,

    vinculada ao Departamento de AB da Secretaria de Políticas de Saúde, em

    muitos casos, o elenco proposto não contemplava as necessidades da AB (Brasil,

    2007).

    Considerando que esse fato poderia apresentar impacto negativo no

    atendimento de saúde prestado pelos municípios, o MS estabeleceu um elenco

    mínimo e obrigatório de medicamentos, a ser adquirido com o IAFB e

    disponibilizado em todos os municípios (Brasil, 2007).

    Com a finalidade de atender grupos de pacientes portadores de patologias

    que, por suas peculiaridades, necessitavam ser referenciados a serviços

    específicos, como os agravos relacionados à saúde mental, foi implantado o

    Programa para a Aquisição dos Medicamentos Essenciais para a Área de Saúde

    Mental na rede pública (Brasil, 2007).

    Estados e municípios encontravam-se na fase de estruturação da AF e

    adequação de seus elencos, com a incorporação do elenco mínimo e obrigatório,

    quando surgiram iniciativas de aquisição centralizada de medicamentos básicos

    (Brasil, 2011).

    A primeira delas, de março de 2001, foi a criação de um kit, composto por

    medicamentos destinados a dar suporte a estratégias e ações específicas da

    atenção primária, entre elas, o PSF. Além de se sobrepor ao elenco

    disponibilizado com recursos do IAFB, o kit seguiu uma lógica distinta, dificultando

  • 31

    seu gerenciamento. A interlocução era feita diretamente pelo MS com as equipes

    do PSF das Secretarias Municipais de Saúde (SMS), sem participação da

    instância estadual (Brasil, 2007).

    Na mesma lógica, em março de 2002, foi ampliado o elenco de

    medicamentos básicos sob responsabilidade federal, disponibilizando-se

    medicamentos anti-diabéticos orais e para hipertensão arterial, destinados a um

    programa de reorientação da atenção aos portadores desses agravos, também

    repassado diretamente aos municípios (Brasil, 2007).

    Apesar de algumas dificuldades, é importante ressaltar que a

    descentralização de recursos financeiros, como do IAFB, e a necessidade de

    desenvolver estratégias para gerenciá-lo de forma competente, propiciaram um

    avanço significativo no processo de implementação e organização da AFB (Brasil,

    2007).

    A partir de 2003, retomou-se o processo de discussão da AFB o que

    resultou na apresentação de uma proposta preliminar, que procurava superar a

    fragmentação vigente. A partir disso, as três instâncias gestoras do SUS

    avaliaram a situação da AFB, propondo unificar e atualizar elencos e redefinir as

    responsabilidades das instâncias gestoras (Brasil, 2007).

    2.10 Legislação da Assistência Farmacêutica

    Em de 05 de julho de 2005 a publicação a Portaria GM/MS nº 1105, que

    ampliou os valores mínimos a serem aplicados pela União, Estados, DF e

    municípios com o IAFB, iniciou um processo de descentralização da aquisição de

    55 itens destinados a atender diferentes programas, mas trinta medicamentos

    ainda permaneceriam sob responsabilidade do MS, relacionados aos Programas

    de Hipertensão e Diabetes, Asma e Rinite, Saúde da Mulher, Alimentação e

    Nutrição e de Combate ao Tabagismo.

    Essa mesma portaria, além de elevar os valores destinados à AFB, buscou

    tornar claras, as fontes e as responsabilidades pelo financiamento da mesma.

  • 32

    Naquele momento, alguns aspectos relacionados ao teor da Portaria

    GM/MS nº 1105, levaram à rediscussão da mesma, com apresentação de

    propostas de alterações no texto (Brasil, 2007).

    Como resultado das discussões foi publicada a Portaria GM/MS nº 2.084

    de 26 de outubro de 2005, que definiu mecanismos e responsabilidades para

    financiamento da AFB e estabeleceu que o elenco de medicamentos para esse

    nível de Atenção seria constituído por dois componentes, o Estratégico –

    conjunto de medicamentos e produtos cuja responsabilidade pelo financiamento

    e/ou aquisição era do MS, e o Componente Descentralizado – constituído pelo

    IAFB, financiado com recursos do MS, estados, municípios e Distrito Federal

    (DF).

    A responsabilidade pela aquisição dos medicamentos era dos estados,

    municípios e do DF, de acordo com as pactuações feitas nas CIB. Os elencos

    eram compostos por medicamentos definidos no Elenco Mínimo Obrigatório e por

    outros destinados à AB, devendo os mesmos obrigatoriamente constar da

    Rename. A partir dessa pactuação, a decisão final pela descentralização dos

    recursos, com transferência da responsabilidade pelo seu gerenciamento aos

    estados e/ou municípios, se daria em conformidade com as decisões das CIB de

    cada estado (Brasil, 2007).

    As pactuações referentes à descentralização dos recursos para

    Hipertensão e Diabetes e da Asma e Rinite foram bastante variadas, 24 estados

    optaram pela descentralização de recursos aos estados ou municípios e três

    pactuaram pela manutenção das compras centralizadas no MS. A pactuação da

    descentralização dos grupos de medicamentos para Saúde da Mulher;

    Alimentação e Nutrição e Combate ao Tabagismo, na CIT, prevista para março de

    2006, não se concretizou, uma vez que os recursos financeiros correspondentes

    já estavam comprometidos com a compra centralizada pelo MS (Brasil, 2011).

    O MS propôs que a descentralização de mais recursos para a AFB, deveria

    ser analisada de forma concomitante com o processo de revisão geral da Portaria

    GM/MS nº 2.084, necessário para contemplar as diretrizes do Pacto Pela Saúde

    (Portaria GM/MS nº 399/2006) e o estabelecido na Portaria GM/MS nº 204/2007

    que tratava da transferência dos recursos federais na forma de blocos de

  • 33

    financiamento, entre eles o referente à AF e seu Componente Básico e, além

    disso, adequar questões como a flexibilização do elenco de medicamentos e

    execução dos recursos, inserir os medicamentos da saúde mental e adequar o

    elenco à nova versão da Rename (Brasil, 2007).

    Em 29 de dezembro de 2007 foi publicada a Portaria GM/MS nº 3.237 que

    revogou a partir de 01 de fevereiro de 2008, as Portarias GM nº 1.077 de 24 de

    agosto de 1999; nº 280 de 27 de fevereiro de 2004; nº 2.084 de 26 de outubro de

    2005; nº 2.099/GM de 30 de agosto de 2006 e os parágrafos 1º ao 7º do Artigo 25

    da Portaria 204/2007.

    A Portaria GM/MS nº 3.237 estabeleceu que fossem extintos os blocos de

    financiamento e assim os valores da Parte Fixa e da Parte Variável dos Grupos

    de Hipertensão e Diabetes, Asma e Rinite e Saúde Mental passaram a compor

    valor único de financiamento, no Componente Básico, e que os Estados

    pactuassem nas CIB o Elenco de Referência Estadual, sendo esse elenco

    composto de medicamentos previstos na Rename vigente a época e não sendo

    obrigatório aos municípios a disponibilização de todos os medicamentos

    constantes nesse elenco estadual.

    Em 1º de janeiro de 2010 entrou em vigor a Portaria GM/MS nº 2.982 que

    revogava a Portaria GM/MS nº 3.237 e fazia uma série de modificações em

    relação ao financiamento do componente básico. O MS ampliou o Elenco de

    Referência Nacional para a AFB, na qual se procurou definir os medicamentos

    essenciais a serem utilizados na AB passíveis de financiamento com o recurso

    tripartite do CBAF.

    Concomitantemente à publicação da Portaria GM/MS nº 2.982, foi

    publicada a Portaria GM/MS nº 2.981 que, em seu artigo nº 24 determinava a

    transferência de 15 medicamentos que faziam parte do CEAF para o CBAF

    (Anexo C), pois se tratavam de medicamentos essenciais, de baixo custo,

    previstos na Rename, e que, portanto, deveriam ter o acesso assegurado pelos

    municípios e pelo DF no âmbito da AB, sendo assim custeados com os recursos

    tripartites do CBAF.

    A portaria concedeu autonomia aos gestores estaduais e municipais para

    pactuarem na CIB a definição do Elenco de Medicamentos de Referência

  • 34

    Estadual, de acordo com o perfil epidemiológico loco/regional. Para a definição

    deste elenco, a CIB deveria usar como referência, a Rename vigente, o Elenco de

    Referência Nacional, e ter assegurado a inclusão dos medicamentos definidos no

    Anexo III da Portaria (Anexo F).

    Essa portaria trouxe uma importante inovação quanto à destinação dos

    recursos, uma vez que desde 1999 quando se iniciou o processo de

    descentralização da AFB, os recursos tripartites sempre foram destinados

    exclusivamente para o custeio de medicamentos básicos e a Portaria GM/MS nº

    2.982 previu em seu Art. 5º que os recursos das contra-partidas estaduais e

    municipais poderiam, tendo como teto o montante de 15% dos recursos anuais,

    ser utilizados em atividades destinadas à adequação de espaço físico das

    Farmácias do SUS relacionadas à AB; aquisição de equipamentos e mobiliário

    destinados ao suporte das ações de AF; e realização de atividades vinculadas à

    educação continuada voltada à qualificação dos recursos humanos da AFB.

    Em dezembro de 2010 foi publicada a Portaria GM/MS n° 4.217, que

    aumentava os valores financeiros destinados à AFB passando a partida federal

    para R$ 5,10/habitante/ano, e as contrapartidas estadual e municipal para no

    mínimo R$ 1,86/habitante/ano cada.

    2.11 Panorama Atual da Gestão da Assistência Farmacêutica Básica

    Atualmente está em vigor a Portaria GM/MS nº 1.555 de 30 de Julho de

    2013 que estipula os valores mínimos das contrapartidas, estadual e municipal,

    para R$ 2,36 por habitante/ano sendo que este aumento de R$ 0,50 refere-se à

    inclusão do recurso destinado à aquisição dos insumos para insulino-dependentes

    (conforme Art. 8º da Portaria nº 4.217/2010) nos valores financeiros estaduais, do

    DF e municipais de suas contra- partidas.

    De acordo com o Art. 3º dessa Portaria, é possível financiar os

    medicamentos e insumos do CBAF constantes dos Anexos I e IV da Rename

    vigente no SUS, além disso, podem ser adquiridos com esses recursos, os

    medicamentos fitoterápicos, estabelecidos na Portaria GM/MS n° 4.217, e

    homeopáticos constantes na Farmacopéia Homeopática Brasileira 2ª edição.

  • 35

    Foram mantidos o percentual de até 15% da soma das contrapartidas estaduais e

    municipais que pode ser aplicado em ações de estruturação das Farmácias do

    SUS e qualificação dos serviços farmacêuticos.

    O montante federal é repassado mensalmente pelo FNS aos estados e/ou

    municípios, de forma regular e automática, em parcelas de um doze avos. A

    contrapartida estadual é realizada por meio do repasse de recursos financeiros

    aos municípios, ou em alguns casos, por meio do fornecimento de medicamentos

    básicos, definidos e pactuados pelas CIB. A contrapartida municipal deve ser

    realizada pelas prefeituras, com recursos do tesouro municipal, e destinada ao

    custeio dos medicamentos básicos previstos na Rename vigente, ou ainda em

    ações de estruturação e qualificação da AFB, respeitados os limites e demais

    normas estabelecidas na Portaria GM/MS n° 4.217.

    2.12 A Estruturação da Assistência Farmacêutica no SUS e o Desafio da

    Ampliação do Acesso aos Medicamentos do Componente Básico da Assistência

    Farmacêutica

    A equidade no acesso aos medicamentos no SUS tem sido discutida a

    partir da premissa de que o direito à assistência integral farmacêutica implica a

    partilha entre os entes federativos das responsabilidades legais do Estado, de

    propiciar o acesso igualitário e universal aos medicamentos e procedimentos

    terapêuticos para a assistência integral à saúde dos cidadãos. A necessidade de

    apontar aos gestores um rumo para a área resultou na formação de um grupo de

    profissionais com o intuito de discutir os principais aspectos relacionados aos

    medicamentos no país (Brasil, 2011).

    Desde 2003, o tema subfinanciamento da saúde está presente nos debates

    dos gestores das três esferas, que tem defendido um financiamento adequado

    para o SUS e compatível com os seus princípios de universalidade e

    integralidade. O desafio do financiamento da saúde no Brasil tem de ser

    enfrentado em duas vertentes: aumentar o gasto em saúde e ao mesmo tempo,

    melhorar sua qualidade. Este subfinanciamento tem repercussões também na

    área da AF, e, entre as dificuldades apontadas pelos secretários, o aumento do

  • 36

    custo dos medicamentos no âmbito da assistência e o impacto dos mesmos no

    orçamento da saúde sempre são mencionados, sendo um problema comum a

    todos (Brasil, 2009).

    Assegurar o acesso a medicamentos é uma das questões cruciais no SUS,

    constituindo-se no eixo norteador das políticas públicas estabelecidas na área da

    AF, considerando que estes insumos são uma intervenção terapêutica muito

    utilizada, impactando diretamente sobre a resolubilidade das ações de saúde

    (Brasil, 2009).

    2.13 A Assistência Farmacêutica Básica no Estado de Sergipe

    Sendo a Unidade-caso escolhida, o Município de Aracaju, Capital do

    Estado de Sergipe, torna-se imprescindível entender a atuação da SES Sergipe

    no âmbito da AF.

    Um dos papéis fundamentais da SES é o de coordenar o processo de

    implantação e de funcionamento do SUS no respectivo estado. Para a execução

    deste importante papel, o gestor estadual do SUS precisa agir de forma articulada

    e solidária com as outras duas esferas de governo (federal e municipal) e com o

    controle social representado pelo Conselho Estadual de Saúde (Brasil, 2009).

    Cabe à SES depositar sua contrapartida e fiscalizar a regularidade dos

    depósitos financeiros na conta do IAFB do FMS assim como a correta utilização

    desses recursos por parte dos municípios e, em caso de descumprimento, aplicar

    as sanções previstas (Brasil, 2010).

    No que tange a AFB, todos os municípios do Estado de Sergipe pactuaram

    na CIB no ano de 2005, receberem seus recursos estaduais destinados ao CBAF

    diretamente nas contas bancárias de seus respectivos FMS, ou seja, o modelo

    adotado foi o da descentralização total aos municípios (Brasil, 2007).

    Nesse modelo, o Estado de Sergipe não participa diretamente da compra

    dos medicamentos do CBAF, apenas efetiva a contrapartida estadual e pactua

    anualmente o elenco de medicamentos para a AB que serve de referência pelos

    municípios, sendo a última pactuação aprovada em 2011 foi aprovada pela

  • 37

    Deliberação nº 11 do Colegiado Interfederativo Estadual (o equivalente a CIB no

    Estado de Sergipe) (Anexo G).

    Apesar de não participar diretamente na aquisição dos medicamentos do

    CBAF, a SES-Sergipe instituiu, através do Decreto Estadual nº 26.915 de

    02/03/2010, o Sistema de Registro de Preços para a aquisição desses

    medicamentos. Mesmo com essa participação do Estado, os municípios ainda

    são os responsáveis por toda a gestão dos medicamentos do CBAF, desde sua

    seleção, passando por sua aquisição, até sua dispensação.

    Segundo a Política da AF do SUS-Sergipe as ações desenvolvidas pela AF

    devem contribuir para a efetividade, segurança e custo-benefício dos usuários em

    tratamento farmacológico no estado, nos municípios e redes assistenciais. As

    ações que devem ser desenvolvidas são: seleção de medicamentos,

    monitorização e acompanhamento do tratamento farmacológico do usuário,

    farmacovigilância e prevenção de erros da medicação, avaliação da utilização de

    medicamentos e participação em comissões de monitorização envolvendo

    medicamentos (Sergipe, 2010).

    2.14 O Processo Licitatório e o Sistema de Registro de Preços Estadual

    A licitação é uma determinação constitucional estabelecia no Art.37, XXI,

    regulamentada pela Lei Federal nº 8.666, de 21 de junho de 1993, atualizada

    pelas Leis nº 8.883, de 8 de junho de 1994 e 10.520/2002, que impõe à

    Administração Pública o dever de licitar. A licitação é um conjunto de

    procedimentos formais, uma série ordenada de atos, que devem ser registrados

    em processo próprio e obedecer aos princípios da legalidade, igualdade,

    publicidade, probidade administrativa, vinculação ao Edital e do julgamento

    objetivo, entre outros, destina-se a garantir a observância do princípio

    constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a

    Administração Pública (Brasil, 2006a).

    A lei nº 8.666, ao mesmo tempo que zela pelo bom uso do dinheiro

    tornando mais claras à toda população as aquisições feitas pelos entes públicos,

    muitas vezes gera dificuldades aos gestores no que tange a agilidade de

    processos.

  • 38

    Um processo de compra de medicamentos no setor público é complexo e

    envolve um conjunto de exigências legais e administrativas que devem ser

    cumpridas. Esta situação, entretanto, pode ser agravada quando não há

    prioridade na garantia do medicamento à população e dificuldades de tomada de

    decisão, demandando um tempo muito maior que o necessário ou levando a

    tomada de decisão sob pressão pela falta do medicamento aumentando as

    chances de não “comprar bem” (Brasil, 2006a).

    Compras freqüentes, em pequenas quantidades, segmentadas, em regime

    de urgência, por vale e outras são problemas comuns e freqüentes no serviço

    público, em sua maior parte por falta de planejamento e programação das

    compras, o que gera irregularidade no abastecimento e riscos de desperdícios de

    recursos, pois compras menores e em regime de urgência tendem a apresentar

    preços maiores (Brasil, 2006a).

    O Sistema de Registro de Preços tem sido uma ferramenta de grande valia

    à disposição da Administração Pública Moderna, pois propicia mecanismos para a

    melhoria da gestão e, principalmente, efetiva o alcance dos princípios

    constitucionais da economicidade e eficiência, pois mostra ser um modo

    inteligente de aquisição de bens e serviços para o Estado. Através do Sistema de

    Registro de Preços a Administração Pública economiza tempo, espaço, pessoal e

    recursos, pois, muitas vezes, por um só procedimento, realiza-se a aquisição de

    itens para vários entes, aumentando, inclusive, o poder de barganha na hora da

    compra (Carvalho, 2011).

    É um tipo especial de licitação, realizada obrigatoriamente nas

    modalidades de Concorrência ou Pregão (para bens e serviços comuns), em que,

    ao final, é firmada uma Ata de Registro de Preços (ARP), onde são averbados os

    bens, os preços, os fornecedores e as condições das futuras contratações.

    Esse é um tipo de licitação que tem se demonstrado bastante vantajoso

    nos casos em que ocorrem múltiplas e simultâneas licitações para um mesmo

    objeto. Além disso, permite melhor racionalização na utilização do orçamento, na

    medida em que ele deve ser disponibilizado no momento da contratação, e não

    no início da licitação. Outra grande vantagem é permitir que não se mantenham

    grandes estoques, uma vez que a licitação já foi realizada e as contratações

    podem ser até mensais (Brasil, 2006a).

  • 39

    Com a finalidade de promover melhor disponibilização de medicamentos na

    rede primária de saúde dos municípios sergipanos, de conferir agilidade e preços

    menores em função da economia de escala, o Sistema de Registro de Preços da

    Atenção Primária foi instituído como instrumento gerencial para promoção da

    eficiência, garantindo condições de igualdade na compra dos medicamentos,

    independente da quantidade necessária aos municípios (Sergipe, 2010a).

    A ARP Estadual, aprovada pela Resolução nº 09 de 29/01/2008 da CIB e

    pela Resolução nº 014 de 15/09/2009 do CES e instituída pelo Decreto Estadual

    nº 26.915 de 02/03/2010, era de adesão facultativa aos municípios, sendo

    disponibilizada no ano de 2010 contendo o Elenco pactuado de Medicamentos de

    AB do SUS Sergipe (Anexo H). Era administrada pela Secretaria Estadual de

    Administração que, por determinação do Decreto Estadual nº 27.201 de 23 de

    Junho de 2010, estabeleceu a todo o município que fizesse sua adesão, o

    recebimento de um incentivo financeiro no valor de R$ 0,30 por habitante/ano, a

    ser depositado diretamente na conta do CBAF do FMS. O município de Aracaju

    fez sua adesão no ano de 2010, passando a receber esse incentivo financeiro.

    A ARP Estadual, vigente por um período de até 12 meses, ficava à

    disposição da Administração Pública, para, quando e se necessário, efetuar a

    contratação. Portanto, os quantitativos de medicamentos exigidos eram estimados

    para aquisição pelo seu período de vigência (Sergipe, 2010a). A ARP Estadual foi

    suspensa no ano de 2013.

  • 40

    3 OBJETIVOS

    Assegurar o acesso aos medicamentos é uma das questões cruciais no

    SUS, sendo esse o eixo norteador das políticas públicas na área da AF, pois

    estes insumos são uma intervenção terapêutica muito utilizada, impactando

    diretamente sobre a resolubilidade das ações de saúde (Brasil,2011)

    O tema sub-financiamento da saúde está presente nos debates dos

    gestores das três esferas, os quais defendem um financiamento adequado para

    o SUS e compatível com os seus princípios de universalidade, equidade e

    integralidade (Brasil,2009).

    3.1 Objetivo Geral

    Caracterizar a relação entre o financiamento tripartite destinado ao CBAF

    no Município de Aracaju e o acesso da população a medicamentos no âmbito

    desse componente.

    3.2 Objetivos Específicos

    Analisar quais os problemas encontrados pelos gestores municipais para a

    garantia de acesso da população aos medicamentos do CBAF;

    Identificar os repasses financeiros destinados ao CBAF do município;

    Descrever a evolução dos recursos para o financiamento do componente;

    Realizar o levantamento das ações governamentais na esfera municipal

    relacionadas à correta utilização do recurso destinado ao CBAF.

  • 41

    4 MATERIAIS E MÉTODOS

    4.1 Tipo de Estudo

    Trata-se de um estudo observacional descritivo de cunho exploratório do

    tipo Estudo de Caso.

    4.2 Descrição da Unidade-Caso

    A unidade-caso deste estudo foi o município de Aracaju, Sergipe,

    especificamente a estrutura de gestão denominada “Coordenação de AF

    (CODAF)”, setor da Secretaria Municipal de Saúde responsável pela gestão da

    AF do município.

    Segundo o RAG do ano de 2011, único disponível no endereço eletrônico

    do SargSUS (www.saude.gov.br/sargsus), o município de Aracaju possuía

    naquele ano, uma população de 571.149 habitantes, 100% urbana e em sua

    maioria (66,32%) de pardos e negros com crescente o aumento do número de

    idosos com uma razão de sexos de 0,58 homens por mulher

    De acordo com o Plano Municipal de Saúde (PMS) de Aracaju/2010-2013

    (disponibilizado na página do SargSUS), o Município encontra-se habilitado na

    Gestão Plena do Sistema Municipal, exercendo o comando único de saúde,

    sendo responsável por todas as etapas que compõem a gestão da saúde,

    envolvendo, portanto, planejamento, controle, regulação e avaliação,

    gerenciamento de todas as unidades próprias, básicas, especializadas e

    hospitalares, co-gestão de unidades públicas e privadas, sendo responsável por

    toda a gestão da prestação dos serviços de saúde pública no município. É o único

    município sede de pólo e referência para todos os procedimentos de alta

    complexidade. Dentro de sua própria micro-região, o município mais distante

    encontra-se a apenas 30 quilômetros da sede do Município. Fora de sua própria

    micro-região, o Município fornece serviços de saúde para todos os outros