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Ele sabe o que diz Montadoras apostam no crédito para ter sucesso em 2014 Antonio Delfim Netto edição 85 mar Com sua habitual inteligência e capacidade de síntese, o ex-ministro da Fazenda esbanja mordacidade ao fazer uma acurada análise da conjuntura do Brasil

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Publicação da ACREFI – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento

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Page 1: Financeiro Ed 85

Ele sabe o que diz

Montadoras apostam no crédito para ter sucesso em 2014

Antonio Delfim Netto

edição

85mar

Com sua habitual inteligência e capacidade de síntese, o ex-ministro da Fazenda esbanja mordacidade ao fazer uma acurada análise da conjuntura do Brasil

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Páginas AzuisO ex-ministro Antonio Delfim Netto faz uma análise acurada sobre aspectos econômicos e políticos do Brasil

CréditoO financiamento é a grande esperança da indústria automobilística para 2014

Novo AssociadoBanco CNH Capital, 62º integrante da Acrefi

Terceiro Setor Fundação Gol de Letra comemora 15 anos e já atende 1.300 crianças e jovens

Fora do Expediente Louis Bazire, presidente do BNP Paribas Brasil, é um mecenas das artes na melhor acepção da palavra

CulturaCasa das Rosas, espaço para a poesia e a literatura em São Paulo

EducaçãoO escritor Pedro Bandeira fala como os pais podem estimular o hábito da leitura entre os filhos

conteúdofinanceiro

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29ArtigosAquiles DinizPlanos Econômicos

Jairo SaddiCrédito

Dorival Dourado Crédito2

Igor Tamasauskas ePierpaolo BottiniAnticorrupção

Alberto Borges MatiasAnálise e Perspectiva

Nicola Tingas Palavra Final

3março 2014 financeiro

Page 4: Financeiro Ed 85

expediente

ISSN 1809-8843

Publicação da acrefi – associação Nacional das instituições de crédito, financiamento e investimentorua Libero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP

Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br

PresidenteÉrico Sodré Quirino Ferreira

Vice-presidentesAquiles Diniz, Carlos Alberto Samogin, Claudio Messias Ferro, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Azevedo, Felicitas Renner e

Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa

TesoureiroAlexandre Teixeira

Diretores regionaisJosé Agnelo Seger, Leonardo Dadauto, Luiz Carlos do Nascimento, Paulo Dalla Nora, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro da Costa Carvalho e

Sebastião Cunha

Diretores executivosJoão dos Santos Caritá Júnior e Rubens Bution

MontadorasEdson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar

Diretores conselheirosJosé Carlos Alves e Victor Loyola

conselho consultivoAlkindar de Toledo, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti, Ilídio

Gonçalves dos Santos, Miguel José Ribeiro de Oliveira, Ricardo Loureiro e Rogério Pinto Coelho Amato (membros)

conselho fiscalDomingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes)

Diretor superintendenteAntonio Augusto de Almeida Leite (Pancho)

controllerCarlos Alberto Marcondes Machado

consultora JurídicaLívia Esteves

economista-chefeNicola Tingas

auditoriaDeloitte Touche Tohmatsu

assessoria contábilAG Silveira Contabilidade

assessoria de imprensaTamer Comunicação Empresarial

av. Brigadeiro faria Lima, 1912, cj. 12b - Jardim Paulistano - São Paulo - SP Tel.: (55.11) 3031.2388 - ceP: 01451-000 – www.tamer.com.br

Publisher Sergio Tamer

redaçãoeditores

Theo Carnier e Gilberto de Almeida

editor assistenteGustavo Girotto

repórteresEliane Santos, Elisa Polonio, Evandro Ribeiro, Geyse Alencar e Liliana Liberato

fotografiaRégis Filho e Gabriel Kosman

arteMoacyr MW, Rafael Pascoal e Evaldo Bragança

revisorVicente dos Anjos

impressãoEskenazi Gráfica

4 financeiro março 2014

Page 5: Financeiro Ed 85

O ano começou sob o espectro de incertezas

e previsões de marasmo na economia, tendo em

vista principalmente a Copa do Mundo que teremos

em breve e as eleições de outubro. Os primeiros

meses mostraram, no entanto, que os negócios

estão mais aquecidos do que se previa, o que levou

a questionamentos: será que as estimativas foram

pessimistas demais? A economia brasileira criou

resiliência suficiente para se manter ativa em que

pesem as expectativas pessimistas?

As respostas a essas questões nos remetem à

figura do “copo meio cheio, copo meio vazio”. Em

outras palavras, as diferentes situações podem ser

vistas de um ponto de vista pessimista ou de uma

perspectiva otimista, a depender do viés que dire-

ciona essas visões.

Sob essa óptica, é possível dizer que, sim, o

copo está “meio vazio” já que o Brasil enfrenta um

período de grandes desafios e a economia certa-

mente sente os efeitos desse cenário, ao qual se

somam eventos do porte da Copa do Mundo e das

eleições, que têm potencial de “paralisar” par-

cialmente o País por um período. Mas, ao mesmo

tempo, há também sinais positivos – o copo “meio

cheio” –, que nos animam a tocar nossos negócios

e renovar a esperança de dias melhores.

Um exemplo que nos leva a considerar que o

copo está “meio cheio” foi o anúncio, pelo governo,

da meta de alcançar superávit primário equivalente

a 1,9% do PIB este ano. Trata-se de uma iniciativa

mais do que bem-vinda, principalmente por se

tratar de uma sinalização de que o governo está

empenhado em melhorar a situação fiscal. Claro

que há alguns reparos e que a desconfiança dos

agentes econômicos ainda não está totalmente dis-

Copo meio cheio, meio vazio

Érico Sodré Quirino Ferreira, Presidente da Acrefi

Foto

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ri

editorial

sipada, mas não há dúvidas de que foi um passo na direção correta.

Da mesma forma, foi muito bem recebida a decisão da presidente Dilma

Rousseff de comparecer, nos primeiros meses deste ano, a eventos como

a reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e ao encontro do

Mercosul com a União Europeia, em Bruxelas. Foi outra sinalização importante,

que mostrou na prática a disposição do governo de se abrir mais para o mundo

de uma maneira estrategicamente correta.

Há outras indicações de que o governo está disposto a adotar as medidas

necessárias para reforçar a confiança do empresariado nos rumos da política

econômica, entre as quais destacam-se a prioridade do combate à inflação

(com a elevação dos juros básicos mesmo em um ano eleitoral) e a aproxima-

ção mais estreita com o Congresso para evitar que se leve o País a viver uma

indesejável “farra fiscal”.

Evidente que essas posturas, mesmo que positivas, estão longe de eliminar

focos de apreensão com o comportamento da economia (o copo “meio vazio”).

Mesmo levando em conta essas incertezas, no entanto, o panorama está longe

de ser desalentador. Temos motivos para continuar apreensivos, mas temos

também fatos que nos levam a pender para o otimismo. Pode-se até considerar

que o copo está meio vazio, mas parece haver ainda mais razões para que se

veja que o copo está meio cheio. O que não pode haver é paralisia. Mas quem

vive na economia brasileira sabe muito bem que é preciso ser dinâmico e que

se deve trabalhar sempre com muito otimismo.

5março 2014 financeiro

Page 6: Financeiro Ed 85

nossasassociadas

ACFI - Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Agiplan Financeira S.A. CFI

Banco A.J. Renner S.A.

Banco Bonsucesso S.A.

Banco Bradesco Financiamentos S.A.

Banco Cacique S.A.

Banco Carrefour S.A.

Banco Cifra S.A.

Banco Citibank S.A.

Banco Citicard S.A.

Banco CNH Capital

Banco Daycoval S.A.

Banco De Lage Landen Financial Services Brasil S.A.

Banco do Brasil S.A.

Banco Ficsa S.A.

Banco Fidis S.A.

Banco Gerador S.A.

Banco GMAC S.A.

Banco Honda S.A.

Banco Intermedium S.A.

Banco Itaú S.A.

Banco Itaucard S.A.

Banco Panamericano S.A.

Banco PSA Finance Brasil S.A.

Banco Rodobens S.A.

Banco Safra S.A.

Banco Santander Brasil S.A.

Banco Semear S.A.

Banco Toyota do Brasil S.A.

Banco Volkswagen S.A.

Banco Yamaha Motor do Brasil S.A.

Banif Banco Internacional do Funchal (Brasil) S.A.

BMW Financeira S.A. CFI

BV Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Caixa Econômica Federal

Caruana S.A. Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento

Cetelem Brasil S.A - Crédito, Financiamento e Investimento

Cred Capixaba S/A Soc. Crédito, Financiamento e Investimento

Credifibra S/A CFI

Dacasa Financeira S.A. - Socied. de Crédito, Financiamento e Investimento

Finamax S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Financeira Alfa S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos

Financeira BRB

Herval Financeira S.A. CFI

HSBC Bank Brasil S.A. Banco Múltiplo

Kredilig S/A Crédito, Financiamento e Investimento

Lecca Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Mercantil do Brasil Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos

Midway S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Múltipla CFI S/A

Negresco S/A Crédito, Financiamento e Investimentos

Omni S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Parati Crédito Financiamento e Investimento S.A.

Pernambucanas Financiadora S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Portocred S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Portoseg S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Santana S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Sax S.A. Crédito, Financiamento e Investimento

Socinal S.A. Crédito, Financiamento e Investimento

Sorocred Crédito, Financiamento e Investimento S.A.

Sul Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento

Todescredi S/A - Crédito, Financiamento e Investimento

6 financeiro março 2014

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7março 2014 financeiro

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entrevistadomês

“O homem nasceu para o ócio!”Há tempos Antonio Delfim Netto deixou de ser ministro, deputado federal e professor da USP. Mas ele é um caso clássico de rei que não perdeu a majestade: continua trabalhando a pleno vapor em um casarão no Pacaembu, bairro nobre de São Paulo, e sua palavra é considerada uma das mais acuradas na análise do Brasil. Foi em seu escritório que Delfim recebeu a revista “Financeiro” para uma conversa em que, bem ao seu estilo mordaz, falou praticamente sobre tudo relacionado à economia e à política.

Revista Financeiro: Os dados da economia sinalizam que o Brasil vive uma intitulada ‘recessão técnica’ em 2014. O que o governo deveria fazer para recuperar a confiança dos agentes econômicos?Delfim Netto - Na verdade não sei se estamos em uma re-cessão técnica. Ainda é preciso esperar um pouco mais para avaliar. No fundo, é uma convenção imaginar que dois trimes-tres negativos constituem uma recessão. É uma coisa desagra-dável, mas não é nenhuma tragédia e a recuperação é possível. Acho que hoje realmente há uma grande desconfiança entre o setor empresarial privado e governo, que foi construída ao lon-go de três ou quatro anos – por incompreensão dos dois lados. Quando o governo fez as intervenções no setor elétrico, depois nos portos e o fracasso dos leilões de concessão, deu a im-pressão que ele [governo] era contra o lucro, ou seja, no fundo também o setor privado entendeu que a modicidade tarifária sinalizava um lucro zero. O setor privado ficou horrorizado com o governo que, por sua vez, também ficou horrorizado com o setor privado – que o considerou um bando de egoístas. Foi um erro de comunicação!

Financeiro - Mas o senhor acredita que controle tarifário ou essa intervenção são necessários?Delfim Netto - Modicidade tarifária ou controle são neces-sários em qualquer concessão. Porque a concessão transfere o monopólio público para o privado. Nós sabemos que o mono-pólio do governo é frouxo. Já o monopólio privado é cruel mes-mo e, quando você transfere o público para o privado, é preciso manter a integridade de contratos bem elaborados. É neces-sário manter a estabilidade financeira do contrato e, para isso, é preciso de agências que não sejam aparelhadas por compa-nheiros de passeata, mas, por gente absolutamente compe-tente. São instituições de Estado e não do governo de plantão. Como o aparelhamento dessas agências não foi da melhor qualidade, não se deu muita confiança; acabaram cortando-se verbas de funcionamento. Daí o setor privado percebeu que os projetos não são de boa qualidade, não têm garantias de que emergências sejam levadas em conta no equilíbrio econômico

Por Theo Carnier e Gustavo Girotto

Fotos: Régis Filho

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e financeiro do contrato, e ele respondeu: não vamos entrar nesse negócio. Essa é a opinião deles! Por ou-tro lado, o governo entendeu que a forma de fazer estava correta, mas o método de como fazer, não. Nesse sistema você pode fixar prioridades, exemplo: eu quero uma AutoBan no estilo alemão, por 25 anos, que vai atender ao aumento da demanda de tráfego e, depois do tempo concedido, você vai me devolver intacta e atendendo a toda a demanda – só que é pre-ciso ter um projeto correto. Para que isso ocorra, é preciso atrair um número viável de competidores e decidir quem vai ganhar por meio de um leilão, que foi onde a teoria eco-nômica mais avançou. Não é coisa de amador, é coisa de profissional e o go-verno demorou para entender.

Financeiro - Então, qual a saída honrosa para esse imbróglio entre público e privado?Delfim Netto - No início, quando o governo fixava a taxa de retorno, a resposta do setor privado era: “com essa taxa de retorno é somente essa porcaria que eu lhe posso apresen-tar”. Felizmente isso foi superado no ano passado, na segunda metade do ano, e graças a uma intervenção dos Ministros Gleisi Hoffmann, Guido Mantega e César Borges, isso foi su-perado.

Financeiro - Empresários e investi-dores reclamam que não conseguem ver um horizonte de longo prazo na política econômica. Qual é a sua opi-nião sobre isso?Delfim Netto - O que qualquer país deseja? O nosso, está na nossa Cons-tituição: queremos uma república, uma democracia em que a igualdade de oportunidades continue crescendo. Ela [constitui-ção] diz que basicamente faremos isso através dos mercados, do uso dos mercados. Eles são constru-ções humanas, não foram inventadas por ninguém, é uma forma de conciliar objetivos contraditórios. O homem deseja liberdade, igualdade, e precisa de eficiência produtiva, por quê? O homem não nasceu para produzir, nasceu para o ócio! Quanto mais efi-ciente ele for em produção, mais tempo terá para ser homem e realizar sua humanidade. O homem saiu da África há 140 mil anos e foi procurando uma for-

ma de organização que combinasse esses três objetivos não combináveis, que são contraditórios, e o mercado é o pior de todos os sistemas – tirando todos os outros. Cada vez que um cérebro peregrino inventou um curto-circuito, terminou na Rússia, na China no Pol Pot (revolucionário comunista que liderou o Khmer Vermelho, governante do Camboja, responsável pelo genocídio cambojano), o que acontece? É um processo de evolução quase natural. Esse sistema que está vai continuar, ele nunca é permanente. O capitalismo não é uma coisa, é um processo histórico, que vai passar por que o homem continuará procurando organizações capazes de produzir esses valores de forma razoável. Quando não há perspecti-vas, é por que nós mesmos as destruímos. Esse desentendimento entre o setor empresarial privado e o governo criou uma dúvida muito grande e, mais, os fa-

tos ocorridos em que você teve uma inclusão social muito importante criaram uma diferença do que pen-sa esse setor empresarial e os que foram beneficiados nesse processo distributivo.

Financeiro - O senhor falou do problema nas tarifas públicas, mas um exemplo foram as de ônibus, vis-tas pela sociedade como um dispo-sitivo arbitrário?Delfim Netto - Isso tudo é uma incompreensão, pois as pessoas querem coisas gratuitas. A gratuida-de só pode ser para o indivíduo, pois para sociedade não há nada gratui-to. Eu sempre dizia ao Montoro (An-dré Franco Montoro, governador de São Paulo falecido em 1999), que foi meu professor de Direito Privado e grande amigo, que esse negócio de colocar nos ônibus “Transporte: um direito do cidadão e um dever do Estado” estava errado. Transporte é um direito do Pedro, pago pelo Má-rio. Para a sociedade não tem lanche grátis, para um indivíduo até pode ter. Quando você faz um movimento como esse, é preciso decidir. Ou põe

no tesouro e aumenta impostos e todos pagam para o João andar de graça, ou o mesmo João terá que pagar. Os dois sistemas são eticamente discutíveis, mas é mais razoável o João pagar, do que todos pagarem para o João.

Financeiro - Alguns economistas afirmam que a inflação subirá ainda mais nos meses da Copa do Mundo. O senhor também tem falado que o brasileiro pre-cisa começar a pagar o preço real da energia, dos combustíveis e do transporte. O que falta para isso acontecer? Delfim Netto - Isso significa que a inflação dará um pulo e voltará ao nor-mal. Se tivéssemos uma indexação plena seria muito grave. O que quer dizer: no mês de julho explodiria, em agosto subiriam todos os salários, mas já não é mais

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entrevistadomês

“Não importa se você nasceu em uma família rica ou se foi fabricado em uma noite no Museu do Ipiranga. Depois de concebido você precisa ter direito à saúde e à educação.”

Financeiro - O senhor acredita que o Brasil será um país desenvolvido?Delfim Netto - É claro que chega, o Brasil melhorou dramaticamente, não va-mos ter ilusão. Pergunto: por que a Dilma tem 47% de aprovação? Se ela fosse ter voto na classe empresarial privada teria 2%. São dois mundos distintos e é aquilo que o jornalista Elio Gaspari chama, com muita graça, de “andar de bai-xo”. O andar de baixo melhorou demais, não só em ascensão econômica e social, ele mudou sua forma de pensar. Quando você vê uma empregada doméstica se sacrificando para educar seus filhos, é por que ela entendeu que só existe um mecanismo de ascensão social que, como sempre digo – é o pior de todos, com exceção de todas as outras, que é a educação. Esse mundo está mudando, criou--se uma classe média importante – que hoje constitui um mercado que dá su-porte para o crescimento. Ou entendemos isso, ou não vamos para lugar algum. Quando o sujeito melhora, principalmente em educação, ele quer mais. Tudo isso – esses movimentos na rua – tem gosto de quero mais. O que acontece? Vai mes-mo mudar a estrutura de poder, não tem remédio. Isso tudo é um aperfeiçoamen-to do processo. O governo escolheu mal as prioridades! As pessoas entenderam,

porque estão mais educadas, que com o mesmo cimento e ferro que se constroem um estádio, também se faz um metrô e um hospital. Isso é um progresso espetacular e que vai ter consequências...

Financeiro - Até que ponto lhe preocupa a economia do País da forma como está sendo conduzida?Delfim Netto - Não há nenhuma indicação do ponto de vista social de que estamos piorando, mas do pon-to de vista econômico nossa situação é desconfortável, embora não estejamos às vésperas de um apocalipse, ele não está na esquina. O déficit público é alto, em tor-no de 58% do PIB. Ele é muito maior que o dos países emergentes, com nosso nível de renda. 60% maior pra-ticamente! Mas por que ele é desconfortável? Primeiro porque exige mais juros, porque ele valoriza o câmbio e a demanda excedente produz uma porção de proble-mas. A maior importância é que se houver uma crise de verdade, e você tiver que usar outra vez uma política pública em um sistema anticíclico, não há mais espaço. É uma coisa devastadora? Não! Nos últimos 10 anos, praticamente, a relação dívida bruta PIB ficou constante. Mesmo com todos os erros do governo em 2002, aquela

cooperação brutal de alquimia, os erros de previsão do governo em relação a ter um superávit primário de 2,5%, depois baixa para 1,9%, em seguida 1,5%. Ou seja, não causamos nenhum desastre. O déficit público também cresceu um pouquinho agora no final, mas está em torno de 3 a 3,5%, o que é perfeitamente razoável quando o País cresce. Ela é desconfortável sim, mas não produz uma tragédia. O que produz um efeito muito ruim é a acumulação dessas armas de destruição de política fiscal que estão acumuladas no Congresso...

Financeiro - O Senado disse na grande imprensa que começou a se movi-mentar contra a chamada “contabilidade criativa” nas contas públicas. O que de prático pode ser feito?Delfim Netto - O governo abdicou disso. A visita da Dilma a Davos e à União Europeia significa uma mudança profunda no comportamento do governo. A reu-nião do ministro Guido Mantega com analistas financeiros mostra que o governo Dilma se comprometeu a fazer um superávit primário de 1,9%. Que é mais que o

assim... Essas posições, digamos, do Ministério da Justiça, de que você tem que tabelar, não funcionam. Ela é até demonstrável fisicamente, um exemplo é aqui em São Paulo e nós assistimos isso. Um bom programa do atual prefeito convenceu alguns con-sumidores de crack a trabalhar – deram uniforme, um pouco de instrução, eles trabalharam e no fim de semana receberam uma ‘graninha’. No dia seguinte, o preço do crack tinha dobrado. Por que isso? Por-que a oferta não tinha se preparado para o aumento de demanda. O que parece é que estamos iludidos sobre a possibilidade de fazermos algumas coisas e esquecemos que o politicamente correto é o fisica-mente impossível.

Financeiro - O que o senhor acha que vai aconte-cer durante a Copa?Delfim Netto - O povão vai as-sistir à Copa de casa, dos bares. No estádio é para gringos e uma minoria que tem renda, mas eu pergunto: há outra saída? Não! Se não existisse televisão seria algo brutal, pois o povão que pagou teria que ficar chupando o dedo do lado de fora dos estádios para ouvir se era tiro ou gol. O avanço tecnológico acalma um pouco com a injustiça desse processo, mas, de qualquer forma, o que esta-mos com dificuldade de entender é que esse sistema que está aí não foi inventado por ninguém. Ele é um sistema muito eficiente para alocação dos fatores, mas ele tem defeitos: é muito competitivo, cria desigualdades. Por isso que na Constituição diz “igualdade de oportunidades”, ou seja, nessa cor-rida – que é o sistema – todo mundo precisa sair do mesmo lugar. A justiça é na saída, não na chegada. Não importa se você nasceu em uma família muito rica ou se foi fabricado em uma noite de sábado, no Museu do Ipiranga. Depois de concebido você preci-sa ter direito à saúde e à educação – para o ponto de partida, ou seja, precisa ser equivalente àquele que nasceu em berço de ouro. Sua chegada dependerá de sua sorte, do seu DNA, mas o importante é que você tenha o mesmo ponto de partida. É por isso que a Constituição Brasileira tem um negócio, que parece utópico, como “saúde e educação universais e gratuitas”. O Brasil não possui nenhuma das duas, mas esse é um objetivo absolutamente importante para produzir igualdades e oportunidades.

10 financeiro março 2014

Page 11: Financeiro Ed 85

suficiente para reduzir ligeiramente a dívida públi-ca e mantê-la sob controle. No fundo não podemos dar nenhuma demonstração de que não estamos cuidando, de forma absoluta, do equilíbrio fiscal. Estamos sob ameaça de uma redução do nosso ra-ting e, nesse momento, isso seria uma tragédia...

Financeiro - O senhor falou da importância de a presidente Dilma ter ido a Davos e a Bruxelas. Mas o Brasil não está cometendo erros estratégicos em sua política internacional? Delfim Netto - Nós apostamos no Atlântico Sul, que hoje é um cemitério. O Atlântico Sul, atualmen-te, somos apenas nós e a África. Nós precisamos re-novar esse sistema e nos ligar ao mundo outra vez. Perdemos aquela ousadia que tivemos no passado, de ampliar as exportações e fazer um trabalho de verdade. Basta ver o seguinte: de 1981 a 1984, Bra-sil, Coreia do Sul e China exportavam a mesma coi-sa, 1,2% das exportações do mundo. Hoje, o Brasil exporta 1,3%, a Coreia 3,5% e a China, 12%.

Financeiro - Por que a inflação está desde 2008 no nível de 6% ao ano?Delfim Netto - Cada vez que você tem meta inflacionária com banda, o Ban-co Central namora com a banda de cima. E não é só no Brasil. Mas é preciso lembrar que esse processo de valorização excessiva do câmbio foi feito com um enorme aumento do salário nominal e com uma enorme compressão do câmbio nominal. Isso tinha que desabar em algum lugar – ou em inflação ou em déficit de contas-correntes. A inflação de 5%, 6% ao ano não é nada trágico. Ela não vai explodir, não vai acontecer nada. Mas ela é desagradável, é o dobro do nível de muitos dos nossos competidores. Mas não tem nada dessa história de que a inflação vai explodir, vai voltar a níveis de 30 anos atrás.

Financeiro - Então, por que a inflação se mantém nesse nível?Delfim Netto - A rigor, nunca terminamos o Plano Real. Nunca fizemos o ajuste necessário da política fiscal. Todos os governos depois de 1988 se recu-saram a ajustar as finanças públicas às exigências da Constituição, que perse-gue o tempo todo o vetor de igualdade de oportunidades. Financeiro - O panorama externo parece estar melhorando, com a retomada dos Estados Unidos. O Brasil não ganha com isso? Delfim Netto - O Brasil vai se beneficiar sim. Somos parte do mundo, e te-mos os ônus e os bônus de fazer parte do mundo. O grande problema hoje é a Argentina, principalmente para a indústria automobilística brasileira. Se você não achar um mecanismo para ajustar isso, só esse problema já vai tomar mais ou menos 0,5% do PIB brasileiro este ano.

Financeiro - O que falta para o Brasil liderar esse bloco do Mercosul?Delfim Netto - Na verdade isso não é um bloco. É uma mixórdia. O Mer-cosul teve um papel muito importante, foi um fator decisivo para eliminar a maior tensão entre Brasil e Argentina, uma tensão militar enorme. Mas hoje não tem mais. O Mercosul não é um mal em si. Ele nunca deveria ter sido o que foi, deveria ter sido um tratado de livre comércio, eliminar as tarifas entre nós e cada um levar sua vida.

Financeiro - Os acordos bilaterais do Brasil não são lá algo para se orgulhar...Delfim Netto - Temos três acordos bilaterais e quando se olha para eles é fácil ver o ridículo: com o Egito, com a Autoridade Palestina e com Israel. Fica claro que o Brasil não entendeu as mudanças do sistema produtivo que ocorreram a partir de 2002. Ninguém mais produz tudo sozinho.

Financeiro - Como foi essa mudança do sistema produtivo?Delfim Netto - Você pega, por exemplo, uma ca-neta. A tinta é produzida na Indonésia, a ponta na China, o plástico nos Estados Unidos. A caneta é apenas montada na China. Jogamos fora três coisas que tínhamos, fora um câmbio relativamente des-valorizado, um sistema em que crescia o valor adi-cionado e um sistema de draw back verde-amarelo que permitia a importação de praticamente tudo o que você quisesse importar. O Brasil não foi per-seguido por ninguém, foi perseguido por si mesmo.

Financeiro - A presidente Dilma é favorita nas pesquisas para vencer as próximas eleições presi-denciais. O senhor considera que, se ela for real-mente eleita, a tendência é de mudanças estrutu-rais na política econômica?Delfim Netto - A mudança já está acontecendo sob os nossos olhos. Obviamente demorou para se entender o processo, mas está acontecendo. Nin-guém pode insistir no que não deu certo.

11março 2014 financeiro

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dade de ação e condições isonômicas para funcionar. Agora, está-se começando a entregar de volta as condições isonômicas. Destruímos a infraestrutu-ra do Brasil nos últimos 30 anos. Não houve inves-timento. Quando o Brasil crescia, a carga tributária era de 24% do PIB e o investimento do governo era 5% do PIB. Hoje, a carga é 36% e o investimento não chega a 2%.

Financeiro -No começo do governo Dilma, a pre-sidente deu sinalizações que foram elogiadas por economistas. Depois, é que mudou, o que aconteceu?Delfim Netto - Quando assumiu, a presidente fez o que era correto, por que estávamos em uma expansão que era insustentável. Depois, acho que o governo errou, ela teve que corrigir. Agora, não pre-cisava ter desenvolvido essa diferença entre o setor empresarial privado e o governo. Isso foi criado pelo próprio governo. Durante anos, o que ele queria era taxa de retorno que produzisse modicidade tarifária. O objetivo era absolutamente legítimo, só que a di-retriz era absolutamente errada. Demorou até que as coisas andassem. Voltamos ao problema: quando você tem duas variáveis ligadas, é preciso fixar uma, outra sai da ligação. Nesse caso você tinha duas va-riáveis, que eram a taxa de retorno e a qualidade do investimento. Agora, isso está superado. Veja o leilão de Libra. Alguns dizem que foi um fracasso. Fracasso coisa nenhuma: aconteceu exatamente o que o go-verno gostaria que acontecesse.

Financeiro - Por que o senhor avalia que o leilão de Libra foi um sucesso?Delfim Netto - É simples. Alguém pode imaginar, quando se coloca a Petrobras no meio de um leilão desses, e é obrigatório ela ter 30% de qualquer um dos projetos e escolhe alguns dos parceiros, que al-guém vai entrar contra o consórcio? Só se for louco, porque vai ser vítima da maldição do vencedor. A Pe-trobras sabe muito, muito mais sobre nossa geologia do que todos os outros juntos. Cometeram-se muito erros em relação à Petrobras, mas está sendo feita agora uma arrumação. Tenho admiração pela presi-dente da Petrobras, Maria das Graças Forster. Ela é correta, honesta, não fala uma mentira. A Petrobras é uma instituição de alta qualidade. A política de pre-ços do Executivo é que foi um equívoco. Financeiro - O senhor critica muito essa política de preços de combustíveis. Delfim Netto - Não se poderia fazer uma políti-ca dessas sob a justificativa de ganhar alguns pon-tinhos na inflação. Ora, não ganha esses pontinhos. Ninguém consegue, com truques, baixar a inflação.

Financeiro - Se o senhor tivesse que sugerir medidas microeconômicas, quais seriam suas sugestões?Delfim Netto - Não tem que sugerir nada. O Brasil tem pouca sugestão e pouca “fazeção”.

Financeiro - O senhor tem uma ligação muito próxima com a presidente...Delfim Netto - Não tem nada isso. Por acaso você acredita na imprensa? Isso é um mito. Tenho grande admiração pela presidente Dilma. Acho que ela é pro-fundamente correta, tem uma extraordinária boa vontade, com ideias muito fir-mes, faz tudo certo, de maneira errada.

Financeiro - O que falta para fazer da maneira certa?Delfim Netto - No fundo é uma angústia de fazer depressa.

Financeiro - É uma questão de personalidade, de formação?Delfim Netto - Não acredito. Veja a questão da energia, em que ela fez tudo certo, não houve violação nenhuma de contrato. Três empresas não aceitaram e tinham o direito de não aceitar. Mas a execução... é claro que ficaram uma porção de problemas no meio do caminho e agora, ainda por cima, o clima não ajuda. Mas não tenha dúvida de que a baixa do custo de energia era fundamental e infe-lizmente não aconteceu. Financeiro - Ministro, o Copom marcou duas reuniões para o período pós-eleição, o que é raro. O senhor enxerga alguma intenção de elevar os juros nessa decisão?Delfim Netto - Não, não tem nada a ver. O Copom sinalizou que vai continuar mantendo seu calendário, de reuniões a cada 45 dias. O Brasil está em condições normais de pressão e temperatura.

Financeiro - O senhor considera que será melhor se a presidente Dilma for reeleita?Delfim Netto - Eu confio na presidente Dilma. Ela tem muito boas intenções, tem disposição. Essas últimas manifestações dela estão na direção correta. É só verificar, por exemplo, que no segundo semestre de 2013 correram muito bem as concessões. Há uma compreensão muito maior do setor privado sobre ela e dela em relação ao setor privado.

Financeiro - Mas parece que a compreensão está em estágio muito inicial. E há a base aliada no Congresso.Delfim Netto - Só quem está sentado lá, naquela cadeira da presidência, é que sabe. E existe uma verdade, os inimigos estão sempre dentro de casa. Os inimi-gos que estão fora de casa não trazem nenhuma amolação. Financeiro - Em relação à balança comercial, como fica a situação do Brasil?Delfim Netto - Essa foi uma escolha nossa. Agora, a exportação do agronegó-cio não é um mal. Pelo contrário, é um grande bem. Mal foi termos abandonado a indústria. O agronegócio resistiu aos erros do governo. Resistiu, por exemplo, ao erro de não se corrigir o preço do petróleo, que destruiu o setor de etanol, acabou com o biodiesel, e não aproveitou até agora toda a energia que está acumulada nas usinas de São Paulo, que são maiores que a de uma hidrelétrica. E, além disso, tem custo muito pequeno porque basta ligar na rede.

Financeiro - O senhor tem dito que o brasileiro precisa pagar os preços das coisas, como combustível, energia...Delfim Netto - Você tem que respeitar o sistema de preços. Queremos liber-

entrevistadomês

12 financeiro março 2014

Page 13: Financeiro Ed 85

“O mais humilde cidadão entendeu que só há um mecanismo de ascensão social, a educação.”

Você apenas transfere a data em que a inflação vai aparecer. O velho Eugenio Gudin dizia uma coisa muito boa sobre isso: inflação é igual gravidez; um dia, inexoravelmente, ela aparece. Então, vai ter que enfrentá-la em 2015, 2017, quando for. Não valeu a pena gastar mais de 1% do PIB para econo-mizar, talvez, 0,1% de inflação ao longo de quatro ou cinco anos.

Financeiro - Onde foi o maior erro?Delfim Netto - Foi um erro de avaliação. Não é só um problema da Petrobras. É uma questão tam-bém do que fizemos com a energia alternativa. Nós jogamos fora uma ideia. O etanol é uma invenção praticamente brasileira, a tecnologia do etanol, a tecnologia do flex fuel, é tudo nacional. Causamos prejuízos monumentais a investidores que acredi-taram no governo. Já fizemos isso com o Proálcool no passado. A verdade é que o empresário, apesar de tudo o que se diz dele, não resiste à tentação de tentar de novo.

Financeiro - Qual é a sua previsão para crescimento do PIB em 2014?Delfim Netto - Acho que em 2014 teremos crescimento abaixo de 2%. É um ano de transição. Espero que o acordo fiscal feito pela presidente junto com o Congresso funcione, e que o Congresso não vote nenhum aumento de despesa e nenhuma redução de receita. É dar tempo para que não se perca o nível de rating e para que, depois da eleição – haja o que houver, ganhe quem ganhar – se ponha um ponto final em tudo isso. Vai ter que, de fato, construir uma so-ciedade em que a liberdade de iniciativa seja mais plena, em que a intervenção econômica seja menor, e assim por diante. Mas eu insisto: o Brasil não está à beira de um precipício, não está para enfrentar o apocalipse.

Financeiro - O Brasil caminha para se tornar um país desenvolvido?Delfim Netto - Não tenho a menor dúvida. Estamos caminhando obviamen-te para ter uma sociedade mais civilizada. A despeito de tudo o que acontece na rua, o processo civilizatório está em marcha, a ascensão social é visível. O mais humilde cidadão entendeu que só há um mecanismo de ascensão social, a educação. Isso é uma mudança muito profunda, que está funcionando. Só o Estado de São Paulo tem hoje mais de 400 universidades. Não são iguais à USP, nem ao MIT, mas representam um upgrade fundamental. Financeiro - As pesquisas mostram que o brasileiro quer mudanças na pró-xima eleição, mas com Dilma no governo.Delfim Netto - A presidente Dilma tem a confiança do andar de baixo. O nosso sistema é um jogo dialético, entre a urna e o mercado. Quando o merca-do exagera em seu economicismo, a urna vem e corrige. E quando a urna exa-gera em seu otimismo, o mercado vem e corrige. O tempo para essa correção é que é o problema. Não chegou o momento ainda. A urna ainda vai falar: “Eu quero esse processo distributivo feito de forma mais inteligente”. É isso que a oposição não está entendendo. O sentimento é “não quero a volta ao passado, quero isso que está aí, só que mais bem feito”.

Financeiro - Se a presidente Dilma realmente vencer, ela terá logo que dar um choque, trocar talvez um ministro, não é?Delfim Netto - Nesse negócio de choque, nem a Eletrobras funciona. Mas, acho irrelevante discutir troca de ministros. Pelo contrário, acho Guido Mante-ga um bom ministro. Repito, o importante é o que a urna está dizendo: “Presi-dente Dilma, um pouco mais, mas com menos”.

Financeiro - Falando sobre o setor automobilístico, ele é motivo de pre-ocupação nos últimos tempos. O senhor acha necessário um mecanismo de crédito para esse setor.Delfim Netto - O setor está muito bem protegido. Tanto é verdade que te-mos 20 montadoras atualmente no País. O mais importante é que haja concor-rência. O grande problema do Brasil, o erro fundamental, foi criar oligopólios, a tal teoria de “vencedores globais”. É tudo empulhação, para a criação de oligo-pólios, que são menos voltados para a eficiência e exercem poder econômico descabido.

Financeiro - Mas a criação de oligopólio vem de anos, por exemplo, do “mi-lagre” econômico. Delfim Netto - Não, não. Você tinha câmbio razoável, tarifa razoável. Há oligopólios naturais. Ninguém produz, por exemplo, 150 toneladas de aço por dia. O que você não pode é construir a sociedade em cima dos oligopólios. Você fica muito vulnerável.

13março 2014 financeiro

Page 14: Financeiro Ed 85

redução da atividade econômica e impacto no

emprego e na renda.

Até que Supremo Tribunal Federal (STF)

julgue os processos, o cenário econômico bra-

sileiro ficará em suspense. Dependendo dessa

decisão, reflexos negativos surgirão nas áreas

fiscais e monetárias, tendo a mesma magni-

tude daquelas desencadeadas pelos mais

violentos choques externos, podendo levar à

insolvência instituições de porte.

Enfrentar ameaças à estabilidade da eco-

nomia no presente e no futuro faz parte do

jogo, mas, buscar no passado uma crise de-

sestabilizadora, é desmoralizar a sociedade.

Como constatou Pedro Malan, ministro da Fa-

zenda do governo Fernando Henrique Cardo-

so: “No Brasil até o passado é incerto”.

Caso os bancos sejam derrotados no jul-

gamento sobre a correção, o governo pode ser

levado a aumentar impostos ou criar novas

contribuições, é o que adverte a Advocacia-

-Geral da União (AGU). Nesse contexto, a União

terá que agir para garantir a estabilidade eco-

nômica, com a certeza de que os contribuintes

terão que arcar com esta conta.

Em 2000, o STF determinou a correção

dos saldos do FGTS em apenas dois planos e,

após aquela decisão, foi criada a multa de 10%

desse fundo para os casos de demissões sem

justa causa dos trabalhadores, para pagar os

correntistas beneficiados com essa decisão.

Esse cenário negativo faria desabar a

bolsa de valores e desvalorizar outros ativos

financeiros desses mesmos poupadores que

recorreram à justiça. Neste momento, o que o

Brasil mais precisa é de um choque positi-

vo de credibilidade, gerando estabilidade e

equilíbrio. Fazer o contrário é dar com os

burros n’água.

Fantasmas dos Planos Collor, Bresser e Verão

A hipótese de tirar o amparo constitucional das

leis, que deram sustentação jurídica aos planos

econômicos criados nas décadas de 1980 e 90 para

combater a inflação, representa um risco sistêmi-

co aos bancos públicos e privados e pode provocar

grande turbulência na economia brasileira.

Quase 400 mil ações questionam a correção mo-

netária e pedem ressarcimento por supostas per-

das na caderneta de poupança, já que as medidas

congelaram e tabelaram preços. As pessoas que en-

traram com ações individuais pedem que a correção

seja feita com base na inflação

medida pelo Índice de Preços

ao Consumidor (IPC). Entida-

des também ingressaram com

ações coletivas (ações civis pú-

blicas), que podem beneficiar

os poupadores que fazem parte

dessas ações.

Caso seja votada, a mu-

dança pode colocar em cheque

marcos regulatórios importan-

tes, com perda da segurança

jurídica e gerar descrédito in-

ternacional. Até mesmo o rating

do crédito soberano brasileiro

pode ser rebaixado, perdendo o

País o tão sonhado “investment

grade”. Com isso, o custo internacional aumenta e o

dólar dispara, dificultando a captação de recursos,

trazendo pressão inflacionária.

O prejuízo causado às instituições financeiras

pode chegar a R$ 150 bilhões, segundo estimativa

do Banco Central. O custo final, porém, com a ade-

são de novos poupadores animados com uma even-

tual vitória pode chegar a 600 bilhões de reais. Com

esse rombo, a oferta de crédito no Brasil diminuiria

em pelo menos nove vezes o valor perdido, cerca

de R$ 5 trilhões, e, consequentemente, haveria a

artigoplanoseconômicos

Aquiles Diniz:vice-presidente da

Acrefi

f

Por Aquiles Diniz

14 financeiro março 2014

Page 15: Financeiro Ed 85

Fantasmas dos Planos Collor, Bresser e Verão

15março 2014 financeiro

Page 16: Financeiro Ed 85

análisedemercado

Montadoras apostam no crédito

O crédito é a grande esperança da indústria auto-

mobilística para que 2014 seja um ano favorável ao

setor. Em um ambiente em que a produção deve cres-

cer 0,7%, na estimativa da Anfavea (a associação das

montadoras), e depois da queda de 0,9% nas vendas

em 2013, para 3,77 milhões de veículos novos – pri-

meiro recuo em 10 anos – a expectativa é de que o

financiamento de veículos impulsione os licenciamen-

tos em 1,1%, levando as vendas para um total de 3,81

milhões de unidades.

O presidente da Anfavea, Luiz Moan, não deixa dú-

vidas de que as esperanças das montadoras repou-

sam sobre um crescimento do crédito para compra de

veículos: “Tenho convicção de que em 2014 o estoque

de crédito vai aumentar entre 4% e 5%, representan-

do um estímulo para a nossa atividade”, prevê Moan.

Se a previsão se confirmar, as concessões deverão

superar R$ 180 bilhões este ano, já que somaram R$

173,3 bilhões em 2013, de acordo com levantamento

da Cetip.

Um dos motivos para o otimismo dos fabricantes

é a queda da inadimplência, que se mostrou consistente ao longo do ano passado

e deve ter comportamento semelhante em 2014. No ano passado, a inadimplência

dos compradores de veículos recuou para 5,2%, depois de registrar 6,4% em 2012,

de acordo com dados do Banco Central. Para Túlio Maciel, chefe do Departamento

Econômico do BC, o recuo da inadimplência deve continuar, em consequência de

fatores como educação financeira e aumento da renda, embora a queda deva ser

mais moderada este ano.

Assim, os financiamentos seriam a alternativa para que as vendas de veículos

tenham crescimento, compensando variáveis menos positivas para o setor, como

a redução do incentivo via IPI e a previsão de crescimento modesto (entre 1,5% e

2%) do PIB este ano.

As montadoras contam com esse aumento no volume de empréstimos tam-

bém para que se confirme a estimativa de produção na casa de 5 milhões de veí-

culos novos em 2018.

Os volumes de concessão de crédito para compra de veículos justificam essa

aposta das montadoras. O Banco Central constatou que o volume dessas opera-

ções para pessoas físicas cresceu de R$ 7,7 bilhões em janeiro do ano passado

para R$ 9,4 bilhões em dezembro (veja gráfico). Além disso, as taxas médias de

juros anuais nesses empréstimos, que chegaram a 21,6% em setembro, fecharam

o ano em 21,3%.

A perspectiva é positiva também para o financiamento de veículos usados. A

A expectativa é de que o financiamento de veículos impulsione os licenciamentos em 1,1%, levando as vendas para 3,81 milhões de unidades

16 financeiro março 2014

Page 17: Financeiro Ed 85

Fenauto (Federação Nacional das Associações de Re-

vendedores de Veículos Automotores) prevê que este

será o ano do carro usado. Com o IPI mais alto para os

carros zero quilômetro e a redução da inadimplência

(que deve resultar em maior flexibilidade na conces-

são de crédito), a entidade espera que as vendas cres-

çam entre 4,5% e 5% em 2014, o que significa algo

em torno de 13 milhões de unidades. Ao contrário do

que aconteceu com os novos, o segmento de usados

fechou 2013 com elevação das vendas: foram comer-

cializadas 12,4 milhões de unidades, total 4,7% acima

do registrado no ano anterior.

Para confirmar esse otimismo, 2014 começou

com números animadores: em janeiro foram ven-

didas 299.768 unidades (ou mais de 13.600 por dia,

incluindo automóveis e comerciais leves), recorde

para o mês e 1% mais do que em janeiro de 2013. É

certo que a maior parte desses carros foi fabricada

no ano passado, quando o IPI era menor e portanto

o preço era mais baixo. Mesmo assim, e apesar das

incertezas do cenário econômico e da renda do con-

sumidor, o mercado animou-se também com os da-

dos da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição

de Veículos Automotores), que reúne cerca de 7.600

concessionárias, segundo as quais foram emplaca-

dos 463.233 veículos em janeiro, em comparação a

456.068 unidades no mesmo mês do ano passado,

levando em conta todos os segmentos (automóveis,

comerciais leves, caminhões, ônibus, motocicletas e

implementos rodoviários).

Na avaliação de Aleciana Gusmão, técnica da co-

ordenação de serviços e comércio do IBGE, é preciso

lembrar as características do setor de veículos para

se chegar a uma conclusão mais acurada sobre as

tendências: “Os veículos são um bem durável, não se

troca de carro a toda hora. Além disso, o consumidor

foi se acostumando desde 2008 com a redução do IPI

(Imposto sobre Produtos Industrializados). Dessa for-

ma, o efeito da medida foi se dissipando com o tempo”.

Ela ressalta também o quadro referente ao crédito

para a compra de veículos: “As condições de crédito

estão facilitadas, embora atualmente o período de fi-

nanciamento esteja menor e os juros estejam maiores

do que há alguns meses”.

Feitas as ressalvas, os dados mostraram que a

produção de veículos também trouxe indicadores po-

sitivos. Embora a indústria em geral tenha mostrado

desempenho negativo em dezembro do ano passado,

de acordo com dados do IBGE, divulgados em janei-

ro, a produção de veículos foi na con-

tramão, com crescimento de 7,2% no

ano, puxada principalmente por cami-

nhões e outros veículos de transporte

de mercadorias.

Estudos do Iedi (Instituto de Es-

tudos para o Desenvolvimento Indus-

trial) mostraram que o setor puxou a

alta da produção no ano passado. Se-

gundo os dados do instituto, a produ-

ção industrial cresceu 1,2% no perío-

do, e a atividade que puxou a expansão

foi a produção de veículos automoto-

res, graças ao aumento da produção,

na maioria, dos produtos pesquisados

no setor (63%).

Na expectativaNa análise de Letícia Costa, espe-

cialista no setor automotivo e Direto-

ra de Pós-Graduação Lato Sensu do

Insper, os indicadores referentes a

veículos deverão, este ano, ser semelhantes aos de

2013, tanto em produção quanto em vendas. “A pre-

visão é de que os volumes fiquem no mesmo nível do

ano passado, com pequena variação de 1% tanto para

cima como para baixo. A demanda não deverá crescer

acentuadamente, até porque o PIB também terá cres-

cimento modesto”.

A especialista recorda que o crédito vai continu-

ar exercendo papel fundamental no desempenho do

2014 começou com números animadores: em janeiro foram vendidas 299.768 unidades

Dados de setor de veículos em janeiro de 2014

de unidades vendidas

financiados fatia de financiados em relação aos vendidos

1,531 milhão

557.637 36,4%

17março 2014 financeiro

Page 18: Financeiro Ed 85

análisedemercado

f

setor este ano e lembra que a demanda por emprés-

timos não deve ser muito aquecida, em vista do nível

de endividamento das famílias, dos juros em alta e da

possibilidade de inflação elevada. No entanto, ela con-

sidera que os preços dos veículos não terão a alta pre-

vista pelas montadoras, até pela competição acirrada

para conquistar a preferência do consumidor.

Ela prevê também que em 2014 produção e ven-

das de veículos deverão “estar mais sincronizados”,

depois de, no ano passado, a produção ter crescido em

ritmo mais acelerado. Quanto aos resultados de janei-

ro, ela afirma que é preciso fazer uma análise cuida-

dosa já que o mês foi atípico, mas ressalta: “Este ano

será atípico, de maneira geral, e não apenas no setor

automobilístico. Teremos a Copa do Mundo e eleições

presidenciais, que se somarão a oscilações em geral

no quadro econômico”.

Na mesma linha, René Martinez, sócio da EY (anti-

ga Ernst & Young) especializado no mercado automo-

bilístico, enfatiza que, em vista dos grandes eventos

deste ano, as montadoras estão especialmente aten-

tas às margens e ao volume de vendas que esteja em

linha, entre outros pontos, com o “novo consumidor”,

ou seja, os compradores e potenciais consumidores

de veículos que ascenderam socialmente e que con-

tinuarão nessa trajetória nos próximos dez anos. “O

desejo do consumidor mudou nos últimos anos e vai

continuar mudando. Ele está mais atento a itens como

segurança, conforto e conectividade”, lembra Marti-

nez.

Nessa faixa, o financiamento é ainda mais impor-

tante para o setor, afirma o especialista: “O crédito é

fundamental para os carros de entrada e para os ve-

ículos médios. Como a renda das famílias está com

crescimento modesto e os juros subiram, será pre-

ciso que a indústria redobre sua atenção para aten-

der essa faixa sem perder rentabilidade”. Ele recorda

que os compradores desses veículos levam em conta

principalmente “se a prestação cabe no bolso”.

René Martinez acredita que as montadoras farão

um esforço nessa direção e que poderão ser bem-su-

cedidas: “O histórico da indústria é favorável. Mesmo

trabalhando com itens como alta carga tributária, o

Brasil se colocou em lugar de destaque no cenário au-

tomobilístico mundial”. Essa também é a avaliação de

Letícia Costa, do Insper, para quem, apesar de todas

as dificuldades, o mercado brasileiro ainda é relevan-

te para o setor automotivo global e continuará a atrair

Mais recursos para financiamentos

Concessões de crédito com recursos livres para pessoa física – R$ bilhões - 2013

jan julmar setmai novfev agoabr outjun dez

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

9.000

10.000

mais montadoras. Mesmo com essa atratividade, no entanto, o desafio do setor é

grande, segundo ela: “A indústria busca encontrar meios para voltar a ter cresci-

mento vigoroso no setor automotivo. Tivemos, em 2011 e em 2012, anos favoráveis

às montadoras, mas 2013 foi mais de acomodação. Para alcançar essa meta de

retomada vigorosa, entretanto, o grande desafio é aumentar a competitividade”.

Quanto às exportações, Letícia Costa aponta como principal incerteza a situa-

ção da Argentina, que viveu um início de ano agitado na área econômica, cujos des-

dobramentos ainda se observarão nos próximos meses. Pelo lado da importação,

na avaliação dela, o quadro é mais favorável para o setor automotivo, tendo em

vista o efeito cambial que tem levado à desvalorização do real em relação ao dólar.

No cenário externo, a especialista lembra que a economia dos Estados Unidos

deve manter a tendência de retomada econômica e que a Europa continuará dando

sinais de recuperação, o que torna a disputa por mercados ainda mais difícil: “O

desafio da indústria automobilística instalada no Brasil é ser mais competitiva. Isso

depende também da promoção de reformas macroeconômicas, que se reflitam no

mercado automobilístico”.

18 financeiro março 2014

Page 19: Financeiro Ed 85

artigocrédito

A criação do Fundo Garantidor de Créditos

(FGC) veio preencher uma lacuna da política

de saneamento do sistema financeiro. Por

meio da criação do “seguro depósito”, foram,

pela primeira vez, estabelecidos os limites da

proteção, permitindo assim uma nova etapa

no desenvolvimento financeiro nacional, muito

diferente da proteção que prevalecia à época

da reserva monetária, que, na Carta de 1988,

transformou o IOF num imposto arrecadatório

de transações financeiras. Ademais, a prote-

ção do depositante passou a ser custeada pe-

las próprias instituições, sem a utilização de

recursos públicos, como estava estabelecido

pelo texto constitucional (inciso VI do artigo

192), mais tarde alterado pela Emenda Cons-

titucional nº 40, de 29 de maio de 2003.

O FGC protege 99,73% de todos os deposi-

tantes brasileiros, pequenos e grandes inves-

tidores, com depósitos e investimentos em

conta-corrente, poupança, depósitos a prazo,

letras de câmbio, letras de crédito do agro-

negócio, letras imobiliárias, letras de crédito

imobiliário e letras hipotecárias, até o limite

da garantia ordinária, R$ 20 mil à época da

sua criação, e, hoje, R$ 250 mil por CPF.

Esse aumento de cobertura foi fundamen-

tal para o FGC cumprir seu papel, ainda que

não tenha havido aumento na contribuição

mensal das instituições financeiras, que se

mantém no percentual de 0,0125%, aplicado

sobre o montante dos saldos das contas cor-

respondentes aos objetos da garantia.

Três aspectos justificam o aumento. Pri-

meiro, dar maior segurança aos depositantes

e aos demais credores das instituições finan-

ceiras, alinhando esse valor aos limites prati-

cados em países de economias desenvolvidas.

Esse é o principal objetivo do FGC: facilitar a

estabilidade monetária à medida que reduz

impactos potenciais na base monetária decor-

rentes das quebras de instituições financeiras,

A importância do FGC e o aumento do limite de cobertura

Art

igo

envi

ado

em 0

5/02

/201

4

f

Jairo Saddimembro do Conselho de

Administração do FGC

Por Jairo Saddi

bem como dos efeitos da contaminação e da

propagação do pânico bancário em virtude

das corridas aos bancos.

Mas o aumento da cobertura também

permite uma competição mais eficiente entre

as instituições financeiras. Na ausência de

um sistema garantidor de créditos bancários,

instituições maiores tendem a ser avaliadas

como mais seguras; podendo ocorrer o mes-

mo com as mais antigas, ou, ainda, com insti-

tuições estrangeiras perante as nacionais. Na

presença de um sistema de garantia, os de-

positantes tendem a nivelar sua percepção de

risco, facilitando a distribuição de recursos e

agilizando a competição entre as instituições

financeiras.

Finalmente, os institutos garantidores de

depósitos protegem os depositantes, mor-

mente os pequenos, ou aqueles cujo custo

de informação e avaliação do risco é maior,

tendo em vista que não dispõem de condições

para avaliar ou obter corretamente todos os

dados necessários para a tomada de decisão.

Dito de outra forma, funcionam para aqueles

agentes econômicos que não podem (ou não

querem) arcar com maiores custos de tran-

sação.

A ampliação da cobertura para R$ 250

mil faz com que o FGC seja de fato um bom

sistema de seguro-garantia para a economia

brasileira. Ao ampliar a confiança do público

e contribuir para a formação da poupança e

o desenvolvimento de um sistema financei-

ro estável, o FGC cumpre sua função pública

de participar na construção de um melhor e

maior sistema financeiro. Assim, o mecanis-

mo de seguro-garantia de créditos bancários

e financeiros concorre decisivamente para

a segurança do sistema financeiro, uma vez

que tranquiliza os agentes econômicos quan-

to ao destino de seus recursos, vale dizer,

onde seus recursos estão sendo aplicados.

19março 2014 financeiro

Page 20: Financeiro Ed 85

20 financeiro março 2014

Page 21: Financeiro Ed 85

Após alta volatilidade, inadimplência tende a se estabilizar

artigocrédito2

A despeito da piora em boa parte dos fundamentos da economia em 2013,

o mercado de crédito teve um ano razoável. De fato, o ano passado pode ser

considerado mais como um ano de ajustes, em virtude do elevado crescimento

dos indicadores de inadimplência no passado recente. Os ofertantes de crédito

mantiveram maior seletividade nas concessões (principalmente para o consu-

mo) e as modalidades com menor risco, como o financiamento imobiliário e o

crédito consignado, passaram a ter maior atenção tanto dos bancos privados

quanto dos públicos.

Ajustes costumam ser dolorosos e tendem a mudar

o comportamento dos agentes, mesmo que por um cur-

to espaço de tempo. Mas, ao mesmo tempo, ajustes con-

tribuem, em geral, para a geração de um novo equilíbrio,

mais sólido e eficiente.

De fato, tais ajustes trouxeram uma boa notícia: o re-

cuo da inadimplência. Tanto nos indicadores absolutos de

novos registros de inadimplentes quanto nos indicadores

do Banco Central (que medem a taxa de inadimplência)

observamos significativa melhora. Depois de anos de alta

volatilidade, estamos prestes a assistir a um período de

estabilidade nos níveis de inadimplência para pessoa físi-

ca em 2014. A última vez em que observamos taxas mais

estáveis foi entre março de 2007 e abril de 2008, período

pré-crise financeira. Naquele período, as taxas variaram

muito pouco, em valores próximos a 7%, ligeiramente su-

periores aos valores observados hoje. Ciclos de cresci-

mento e recuo têm sido a regra da série histórica do Banco

Central (veja gráfico a seguir) .

E por que acreditamos que deva ser diferente neste

ano? Temos presentes fatores que têm contribuído para a queda da inadimplên-

cia e outros que devem pressionar o seu crescimento.

De um lado a maior seletividade na oferta do crédito e a maior cautela do

consumidor devem continuar moldando a concessão e reduzindo a demanda por

crédito dos consumidores, com reflexos inclusive so-

bre o ritmo de crescimento da demanda das famílias.

Ademais, bancos mais seletivos na aprovação de cré-

dito continuarão priorizando modalidades de menor

risco, levando a uma melhora na composição da car-

teira das pessoas físicas no curto e no médio prazos,

contribuindo para a redução dos não pagamentos.

Por outro lado, a retomada do aperto

monetário e a desaceleração da ativida-

de econômica costumam impactar nega-

tivamente na capacidade de pagamento

dos consumidores. A elevação dos juros

básicos já vem pressionando os juros

finais ao consumidor, em todas as mo-

dalidades de crédito, e seus efeitos so-

bre a inadimplência são uma questão de

tempo. A redução do ritmo da atividade

econômica, da mesma forma, afeta a

capacidade de pagamento dos consu-

midores na medida em que traz efeitos

sobre o mercado de trabalho. Depois de

anos de crescimento da renda real e de

queda nas taxas de desemprego, a aco-

modação parece inevitável.

Independentemente do resultado a

ser consolidado, a combinação desses

fatores nos permite traçar perspectivas,

que, se não são favoráveis por não con-

tarem com maiores recuos das taxas de inadimplên-

cia, pelo menos apresentam-se mais estáveis e pre-

visíveis. Por si só, já é uma boa notícia para aqueles

que respiram o mercado de crédito. f

Art

igo

envi

ado

em 2

6/02

/201

4

Dorival Dourado,presidente da Boa Vista

Serviços

Por Dorival Dourado

21março 2014 financeiro

Page 22: Financeiro Ed 85

análisedemercado

Próximos desafios da indústria automotiva

O mercado de automóveis passa por um perío-

do que exige muita atenção e flexibilidade de todos

os que compõem o setor, incluindo a concessão de

crédito. Esse foi o principal tema do seminário

“Economia e Negócios – A Indústria Automobilís-

tica em Discussão”, realizado em 24 de fevereiro

pela Acrefi, em São Paulo.

O quadro para esse segmento é in-

fluenciado tanto por fatores macroeco-

nômicos quanto por questões ligadas

diretamente ao setor. Como lembrou Te-

reza Fernandez, especialista em indústria

automobilística da MB Associados, em

palestra durante o evento, concorrentes

do Brasil, como o México, têm previsão

de contar com quatro novas fábricas de

veículos nos próximos anos, o que deve

aumentar as exportações mexicanas para

os Estados Unidos, com a vantagem de

acompanhar a evolução tecnológica exi-

gida pelo mercado norte-americano. Ela

recordou que deverá haver excesso de

produção no Brasil pelo menos até o final

da década, e, com isso, fica uma dúvida: o

que fazer com esse excedente. Para ela,

provavelmente as fábricas passarão a ro-

dar em apenas um turno e não mais em

dois, e as montadoras poderão postergar

o início das operações.

Outra mudança, lembrada por Tereza Fernandez,

foi a entrada de várias marcas no mercado, “o que

traz uma grande alteração estrutural”. Entre os de-

safios trazidos por esse novo quadro, ela lembrou a

necessidade de o varejo mudar as regras de finan-

ciamento, com diminuição do repasse do spread e

queda na margem de comercialização. Apesar des-

ses desafios, o mercado ainda é atraente, na avalia-

ção de Fernandez.

Na mesma linha, Rodrigo Amâncio, gerente de

Produtos da Cetip, disse em sua palestra no even-

to que o quadro é novo também no financiamento

de veículos: “O volume de crédito para compra de

veículos cresceu bastante até 2008, depois se re-

traiu e ensaia um retorno de aquecimento, embora

em níveis menos elevados”, afirmou. “A boa notícia

é que a inadimplência, depois de alcançar 7,22%,

recuou para o nível atual de 5,17%.” Ele considera

que, com base nos dados da Cetip, as instituições

financeiras deixaram de ter como foco principal a

participação de mercado e passaram a privilegiar

a eficiência “com menos custos, melhores proces-

sos e mais informações para tomar decisão de

concessão de crédito”.

Na estimativa de Rodrigo Amâncio, o merca-

do de automóveis usados deve ter aquecimento

este ano, até como recuperação desse segmento,

“já que em 2004 para cada veículo novo eram fi-

nanciados cinco usados, nível que caiu de um novo

para 2,6 usados em 2013”. O varejo de automóveis

também está mais competitivo e com as altera-

ções nas regras de financiamentos e a diminuição

do repasse para essas empresas do spread conce-

dido ao “correspondente bancário”, assim como da

queda de margem na comercialização de automó-

veis novos, as empresas têm perdido margem de

rentabilidade. A meta é recuperar esses valores.

O resultado da comercialização de automó-

veis em 2013, que apresentou uma queda de

3,0%, não deveria surpreender. Nos últimos dez

anos, o crescimento de vendas nesse segmento

do setor automotivo vinha apresentando evolu-

ções fortes, tendo crescido 119% nesse perío-

do. Um ano mais fraco depois de desempenhos

tão bons é absolutamente normal. O importante

é pensar o que será esse mercado a partir de

agora, quando as projeções para 2014 e 2015 in-

Tereza Fernandez,consultora da MB

Associados

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ção

22 financeiro março 2014

Page 23: Financeiro Ed 85

dicam anos mais fracos, em um momento em que

investimentos estão sendo concluídos, novos inves-

timentos estão sendo anunciados e se projeta uma

capacidade de produção de aproximadamente 4,5

milhões de automóveis no Brasil até 2017.

Nas nossas projeções de demanda doméstica,

com um crescimento médio de 3% ao ano, em 2017

teremos um excedente de automóveis que pode atin-

gir 1,5 milhão de unidades.

A primeira constatação que fazemos é que há um

acirramento na tentativa de conquista de mercado

pelas chamadas “newcomers”, o que naturalmente

derruba a participação das quatro marcas mais tra-

dicionais no Brasil (gráfico), uma tendência que veio

para ficar. O segundo ponto importante para ser ava-

liado é referente à possibilidade de excesso de pro-

dução, a partir de 2017. A exportação do excedente

será limitada, levando-se em consideração o tipo de

automóveis que estaremos produzindo naquele mo-

mento e a demanda do mercado mundial. A América

Latina, com certeza, será o nosso grande mercado,

lembrando que, à exceção da Argentina, os demais

países demandam poucos automóveis.

O atraso ou desistência de alguns investimentos

já anunciados poderá alterar o cenário, tornando a

vida das montadoras aqui instaladas, bem como das

concessionárias, mais fáceis. Aliás, o segmento das

concessionárias está passando por um momento de

desafios. O varejo de automóveis também está mais

competitivo e com as alterações nas regras de fi-

nanciamentos e a diminuição do repasse para essas

empresas do spread concedido ao “correspondente

bancário”, assim como da queda de margem na co-

mercialização de automóveis novos, as empresas

têm perdido margem de rentabilidade. A meta é re-

cuperar esses valores.

Além de estabelecer um novo relacionamento

com as montadoras quanto a transferência de carros

para os seus pátios e negociar uma margem melhor

para as vendas dos veículos novos, os concessioná-

rios precisam avançar de forma profissional na su-

cessão, bem como no ajuste das empresas no que se

refere a custos, na qualificação contínua de pessoal

e na utilização correta da internet como instrumento

de resultados, associada à utilização de TI em geral.

Mais que o citado acima, é importante uma defi-

nição da estratégia de médio e longo prazos em mul-

tifranquias, como forma de minimizar riscos com as

mudanças previstas de market share no Brasil. A escolha das marcas não é uma

decisão simples, assim como a decisão de nova oportunidade de concessão ou

aquisição de uma marca já em operação também não é tão simples neste mo-

mento, pois as oportunidades estão em ambos os casos. Não esquecer, no caso

de aumento de investimentos, da adequação desses valores à capacidade de ge-

ração de caixa para evitar endividamento que comprometa a operação.

O mercado de automóveis vai apresentar mudanças importantes nos pró-

ximos anos. Os agentes que operam nesse mercado, inclusive na concessão de

crédito, deverão estar atentos às mesmas, em um momento em que os juros

estão subindo, o câmbio se desvalorizando, a economia crescendo menos e,

em especial, uma massa salarial com variações inferiores às que tivemos nos

últimos anos. O desafio é interessante e – como em todos os cenários – virão

novas oportunidades. f

Seminário promovido pela Acrefi mostra que o setor de automóveis passa por um período que exige muita atenção e flexibilidade

Gráfico: Do ponto de vista da oferta, a participação das

quatro grandes vem decrescendo

23março 2014 financeiro

Page 24: Financeiro Ed 85

24 financeiro março 2014

Page 25: Financeiro Ed 85

artigoanticorrupção

Primeiras impressões sobre a nova lei anticorrupção

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Por Pierpaolo Cruz Bottini e Igor Sant´Anna Tamasauskas

Mês passado entrou em vigor a Lei 12.846/13, a chamada Lei de Combate à Corrupção, talvez uma das iniciativas mais impor-tantes do Poder Legislativo nos últimos tempos. Os menos avisa-dos podem se perguntar sobre o que há de novo nessa lei, uma vez que a corrupção já era proibida em nosso ordenamento. Mas há uma diferença: as regras anteriores puniam apenas as pessoas físicas que cometiam a corrupção, deixando de lado a empresa, em regra a mais favorecida com o ato. Punia-se o particular, impune ficava a instituição beneficiada.

Agora as empresas também serão responsabilizadas por atos de corrupção e outros similares praticados em seu benefício. A lei prevê penas duras, como multas de 0,1 a 20% do faturamento bru-to, vedação de contratar com o poder público, e até a dissolução compulsória, uma espécie de pena de morte empresarial.

Talvez a inovação mais significativa – e polêmica – seja a previsão da responsabilidade objetiva da empresa. Com isso, a corporação será punida mesmo que seus dirigentes não tenham autorizado o ato ilícito. Basta que um funcionário, parceiro, contra-tado ou consorciado tenha oferecido ou pago vantagem indevida a funcionário público, e as penas serão aplicadas. Desde, claro,

que a empresa seja beneficiada pelo ato. Assim, se uma corporação contrata um serviço de terceiro para obter licença ambiental, e esse pague propina para obter o resultado, ambos serão punidos, con-tratante e contratado.

A ideia do legislador é que a empresa cuide não apenas de sua probidade, mas também se as-segure do comportamento ético daqueles com os quais trabalha. Claro que isso tem o limite do bom senso, dada a impossibilidade de se conhecer inte-gralmente o caráter de seus parceiros ou empre-gados. Mas a ideia é incentivar a corporação a de-senvolver sistemas de controle internos que façam checagens periódicas sobre seus colaboradores, assegurando-se de que todos mantêm uma postu-ra correta em suas relações com o poder público.

Nessa linha, a lei prevê a redução da sanção para a empresa que mantiver mecanismos inter-nos de prevenção a atos ilícitos, códigos de ética, auditorias regulares e canais para denúncias. Bus-

Pierpaolo Bottini e Igor Tamasauskas:sócios do escritório Bottini & Tamasauskas Advogados

“A ideia do legislador é que a empresa cuide não apenas de sua probidade, mas também se assegure do comportamento ético daqueles com os quais trabalha”

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25março 2014 financeiro

Page 26: Financeiro Ed 85

artigoanticorrupção

ca-se, com isso, estimular o compromisso empre-sarial com uma cultura ética.

Busca-se, ainda, evitar que a organização em-presarial trate seus dirigentes como material fun-gível, substituindo-os como se fossem mais um in-sumo de sua cadeia produtiva. A partir dessa nova lei, a entidade empresarial será responsabilizada pelos atos, inclusive com a possibilidade de disso-lução, como acima destacado.

Os impactos da lei já foram sen-tidos. É notável como boa parte das corporações revisou ou criou regras de boas condutas, estabeleceu pa-drões rígidos de comportamento, e passou a colaborar com investiga-ções sobre atos ilícitos praticados em suas dependências. Ao contrário de tantas leis que “não pegam”, esta já surtiu efeitos mesmo antes de en-trar em vigor.

É claro que existem problemas. O primeiro diz respeito à amplitude dos órgãos com competência para apurar os atos de corrupção das em-presas e para aplicar sanções. Pelo texto da lei, a instauração e o julga-mento de processo administrativo para a apuração da responsabilidade das empresas cabem à autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Ou seja, os poderes da União, Estados e Muni-cípios terão competência para determinar penas de multas, cujos espaços variam de 0,1% a 20% do faturamento bruto das empresas. Ou seja, uma enormidade de servidores com capacidade de in-vestigar, fazer acordos de leniência, julgar admi-nistrativamente e determinar o valor das sanções.

Nessa seara, excessos, arbítrios e conflitos de competência podem ocorrer. Por isso, é importante que a CGU (Controla-doria-Geral da União) – órgão designado pelo legislador para expedir o decreto regulamentar da lei – fixe critérios pre-cisos para a dosimetria da multa, do contrário, a confusão reinante poderá afetar toda a racionalidade que se espera na aplicação do novo texto legal.

Uma segunda questão diz respeito ao bis in idem. A lei em análise aponta que sua incidência não afasta a improbidade administrativa (Lei 8.429/92) nem a responsabilidade pelos ilícitos em licitações (Lei 8.666/93). Isso significa que será necessário um esforço para identificar quando tais normas têm seu espaço autônomo de aplicação e quan-do existirá superposição, caso em que ha-verá um conflito aparente de normas a ser solucionado pelos mecanismos próprios de interpretação.

Criticas à parte, a lei é boa. Vale sempre lembrar que não se trata de norma penal. Não tem a contundência inútil da ameaça de prisão, mas a racionalidade de identificar os reais beneficiários do ato de corrupção e puni-los, afetando seu setor mais sensível: o faturamento. Ademais, ao prever a cola-boração das empresas na identificação ou na repressão aos ilícitos que possam ser praticados em seu benefício, o poder pú-blico faz uma espécie de prevenção geral

positiva, forçando a incorporação de novos valores na orga-nização corporativa.

Se tal estratégia é adequada, o tempo dirá. Mas criar dis-positivos que incentivem a cooperação dos agentes privados na prevenção ao ilícito parece mais eficiente do que a velha e fracassada política de aumentar penas ou transformar tudo o que incomoda em crime hediondo, como se isso, num pas-se de mágica, reduzisse a pó o crime organizado. f

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“Ao contrário de tantas leis que ‘não pegam’, a Lei de Combate à Corrupção já surtiu efeitos mesmo antes de entrar em vigor.”

26 financeiro março 2014

Page 27: Financeiro Ed 85

realidadedigital

Judiciário on-line

Não há como retroceder. O Poder Judiciário

finalmente ingressou na era digital. Em 17 de de-

zembro do ano passado, o Conselho Nacional de

Justiça aprovou a regulamentação do Processo

Judicial Eletrônico (PJe), que exige que tribunais

de todo o País, a partir de agora, adotem o siste-

ma digital, em substituição ao processo físico. Ou

seja, aquelas pastas recheadas de documentos po-

dem um dia se transformar em relíquias no arquivo

morto dos Estados. Os burocráticos despachos e

petições ganham celeridade com o uso da assinatu-

ra eletrônica. Uma das mais entusiasmadas com a

informatização dos processos judiciários é a advo-

gada Elizete Scatigna, sócia da Carvalho e Advoga-

dos Associados, que desde 2004 aboliu o papel nos

milhares de processos em que o escritório atua. “O

que antes precisávamos de 24 horas para dar an-

damento, hoje gastamos no máximo 10 minutos”,

afirma Elizete. “Como a documentação dos bancos

também já está digitalizada, os processos ganham

no trâmite processual cerca de 30 dias”, garante a

especialista em cobrança de crédito.

Assim como em toda mudança, haverá sempre

resistências naturais à modernização. Mas, essa

“oposição” pode perder força diante da redução de

custos financeiros, com a redução de horas dedi-

cadas ao andamento do processo, com eliminação

dos gastos para locomoção do advogado até o fó-

rum, com cópias das peças processuais, entre ou-

tras despesas. Além disso, ainda há o ganho real de

tempo, com as audiências podendo ser realizadas

via Skype – tecnologia que já é adotada com suces-

so pela ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribu-

nal de Justiça, que despacha com os advogados por

meio do programa de telefonia com vídeo

pela internet. A ministra reúne em sua

mesa, no gabinete, aproximadamente 15

petições e memoriais, discutidos em au-

diências virtuais com os advogados. Na

hora marcada, ela se “encontra” com o

representante legal e dá início à audiên-

cia. Tudo pode ser filmado e gravado.

“Ao comparar com os anos anterio-

res, fomos da petição manuscrita à má-

quina de escrever, à máquina elétrica,

ao computador, à internet, e o processo

judicial eletrônico é uma consequência

natural da evolução”, pondera Elizete

Scatigna. “É evidente que é novo, que

exigirá um período de adaptação. No

entanto, as dificuldades e as eventuais

falhas serão superadas durante a transição gra-

dativa. Não podemos, porém, deixar a estagnação

tecnológica tomar conta do Poder Judiciário”,

avalia a sócia do escritório Carvalho e Advogados

Associados.

Conselho Nacional de Justiça aprova regulamentação do Processo Judicial Eletrônico, que exige que tribunais de todo o País adotem o sistema digital, em substituição ao processo físico

Elizete Scatigna:“Antes precisávamos de 24

horas para dar andamento no processo, hoje gastamos apenas

10 minutos”

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27março 2014 financeiro

Page 28: Financeiro Ed 85

perfil

Fundada há sete anos, a HS Financeira ganha espaço no plano de crescimento do grupo gaúcho Herval

Pronta para o futuro

A gestão do Grupo Herval é focada na estratégia

de diversificação de negócios, por meio da sinergia

entre as suas marcas. Uma das necessidades era

de inserir no conjunto de operações uma instituição

do sistema financeiro para se integrar à adminis-

tradora de consórcios, que já alavancava vendas e

trazia rentabilidade para o grupo. Era o que faltava

para um negócio “apoiar” o outro dentro do mesmo

guarda-chuva.

Assim, a HS Financeira nasce em 2007, a partir

de oportunidade de expansão dos negócios. A cria-

ção de uma financeira também serviria para facili-

tar as vendas de colchões, móveis, computadores e

outros produtos comercializados pelo conglomerado

de empresas, sediado em Dois Irmãos (RS), municí-

pio a 58 quilômetros de Porto Alegre.

“Em pouco tempo, percebemos que o serviço

de uma financeira seria essencial para atender os

nossos clientes de forma mais abrangente”, conta a

gestora Dilvânia Airoldi. A ideia inicial foi estabele-

cer uma parceria com um banco especializado em

operações de crédito. Mas a proposta evoluiu e o

Grupo Herval optou por criar sua própria financei-

ra. “Não foi um caminho fácil de trilhar, mas os re-

sultados foram extremante satisfatórios”, lembra

Dilvânia. Isso por que o Grupo manteve em suas

mãos um dos maiores patrimônios construído em

seus 54 anos de trabalho: a carteira de clientes –

atualmente um de seus ativos mais valiosos. f

Atenta às oportunidades apresen-

tadas pelo mercado, a HS Financeira

procura oferecer seus produtos (le-

tras de câmbio, capital de giro, cré-

ditos pessoal e consignado, CDC, au-

tocrédito, seguros e cartão de crédito

HS Card) com taxas e prazos competi-

tivos em relação aos índices pratica-

dos pelo mercado. “O nosso principal

diferencial é trazer para o pequeno e

médio varejista a mesma possibilida-

de de recursos na área financeira que,

hoje, os grandes lojistas têm, visando,

ainda em 2014 expandir a emissão

de novos cartões HS Card”, destaca a

gestora da HS Financeira.

Também, com sinergia, a IF Solu-

ções Planejadas, empresa de móveis

planejados do Grupo Herval, atua

com a HS Financeira para atender as

lojas espalhadas em todo o País, ofe-

recendo à marca um diferencial competitivo, pois

são poucos os concorrentes deste segmento que

possuem sua própria financeira para favorecer

as vendas. Em 2013, a HS Financeira obteve uma

receita bruta de R$ 55 milhões, 10,67% maior do

que o resultado obtido no ano anterior. São núme-

ros que demonstram seu potencial crescimento

nos próximos anos.

Dilvânia Airoldi,gestora do Grupo Herval

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28 financeiro março 2014

Page 29: Financeiro Ed 85

associadoacrefi

Com sede em Curitiba, o 62º associado da Acrefi inaugura unidade em Belo Horizonte e passa a atender à montadora Iveco

CNH Capital, seja bem-vindo!

A Associação Nacional das Instituições de Crédi-

to, Financiamento e Investimento (Acrefi) comemora

a adesão do seu 62º associado: o Banco CNH Capital.

Essa conquista acontece em sintonia com a recen-

te notícia de que a instituição passou a atender, em

2014, a marca Iveco, tradicional montadora de cami-

nhões e ônibus, que tem fábrica em Sete Lagoas e

sede em Nova Lima, ambas em Minas Gerais. Para

administrar as novas demandas, o Banco CNH aca-

ba de inaugurar em Belo Horizonte uma unidade que

cuidará, no início, das operações de retail (financia-

mento a clientes finais) e, depois, de wholesale (fi-

nanciamento direto aos concessionários).

Fundado há quatro décadas e com presença no

Brasil há mais de 14 anos, o Banco CNH Capital pos-

sui uma carteira de 25 mil clientes ativos, sem con-

tar a carteira de clientes da marca Iveco. Atualmente

suas operações são voltadas ao financiamento de

máquinas agrícolas e equipamentos de construção

da CNH Industrial e veículos de transporte. Com sede

em Curitiba, o banco tem, além da nova unidade na

capital mineira, representantes comerciais distribuí-

dos em todo o Brasil.

“É com enorme satisfação que acolhemos o Ban-

co CNH Capital entre os nossos associados. Isso se

torna ainda mais importante quando sabemos que a

instituição passa por período de expansão”, festeja

o presidente da Acrefi, Érico Sodré Quirino Ferreira.

Para Brett Davis, presidente do CNH Capital, os recen-

tes êxitos do banco fazem parte do momento promis-

sor vivido pelo Brasil, que cada vez mais ganha repre-

sentatividade na economia mundial, e são também,

resultados do trabalho realizado nos últimos anos

por todo o grupo. “O trabalho de todo o time do banco

resultou no atual momento que vivemos, é uma enor-

me satisfação para mim encerrar o ano de 2013 com

excelentes resultados e iniciar 2014 atendendo mais uma grande

marca, a Iveco “, avalia Davis.

Com o mercado aquecido, a demanda por crédito deve seguir es-

tável. Diante dessa perspectiva, Brett Davis projeta incrementar ainda

mais neste ano suas ações voltadas ao agronegócio, aos investimen-

tos em obras civis e de infraestrutura e aos veículos de transporte.

Brett Davis,presidente do CNH Capital

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29março 2014 financeiro

Page 30: Financeiro Ed 85

panoramacetip

Como faz regularmente, a Cetip acaba de consolidar os dados

acumulados em 2013 relacionados ao financiamento de veículos.

Segundo Marcus Lavorato, gerente de relações institucionais da

Unidade de Financiamentos da Cetip, as concessões de crédito

para a compra de veículos subiram de R$ 170 milhões, em 2012,

para R$ 173 milhões no ano passado. Em 2013, foram financia-

dos 6,7 milhões de veículos, entre automóveis de passeio e co-

merciais leves, motocicletas e pesados. Os números são do Sis-

tema Nacional de Gravames (SNG), base privada de informações,

que reúne o cadastro das restrições financeiras de veículos, uti-

lizada como garantia em operações de crédito em todo o Brasil.

O SNG impede que o processo de financiamento de veículos seja

suscetível a fraudes. São levados em consideração financiamen-

tos por meio de crédito direto ao consumidor (CDC), leasing e

6,7 milhões de veículos foram financiados em 2013

autofinanciamento (consórcio).

A Cetip adota alguns critérios para calcular o montante libe-

rado para financiamentos de veículos. Para o cálculo do volume

financiado são consideradas apenas inclusões de gravames de au-

tomóveis leves com financiamento de até R$ 200 mil e cujos prazos

não sejam superiores a 120 meses; para motocicletas, o montante

limite é de R$ 50 mil. A metodologia também restringe em R$ 500

mil as inclusões de gravames de pesados. Dessa forma, a Cetip

desconsidera operações com valores e prazos destoantes com as

práticas do mercado. Além disso, o cálculo considera repasses do

BNDES via Finame. É importante salientar que os números não são

diretamente comparáveis com os divulgados pelo Banco Central,

pois a instituição contempla apenas operações de CDC e de arren-

damento mercantil.

30 financeiro março 2014

Page 31: Financeiro Ed 85

Marcus Lavoratogerente de Relações

Institucionais da CetipFoto: Divulgação

31março 2014 financeiro

Page 32: Financeiro Ed 85

tecnologia&inovação

Silvio Meira, pesquisador em engenharia de software no Brasil, diz que os investimentos em tecnologia são essenciais para as instituições que pretendem sobreviver à competição global

Ninguém inova por que gosta

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em um

de seus discursos no Fórum Econômico Mundial,

em Davos, afirmou que “a reforma e a inovação for-

necem uma força propulsora inexaurível para o de-

senvolvimento do país”. Essa evolução que transita

pelos inúmeros aspectos relacionados à criatividade

humana, em momentos de instabilidade econômica,

pode alterar os ventos de uma dificuldade interna.

As inovações possibilitam o aumento dos níveis

de emprego e de renda, além do acesso ao mundo

globalizado, contribuindo de maneira direta com mo-

mentos favoráveis de crescimento de riquezas. Para o

cientista chefe do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sis-

temas Avançados do Recife), Silvio Meira, notável pes-

quisador na área de engenharia de software no Brasil,

o mercado brasileiro é um dos mais regulamentados

do mundo. “Isso evitou que entrássemos na crise de

2008. Por outro lado, esse cuidado excessivo cria um

atraso estrutural no desenvolvimento de mecanismos

de inovação”, alertou Meira.

Um exemplo de praticidade, segundo ele, é o

banco norte-americano Simple, que nasceu para fa-

cilitar os serviços dos usuários. Transferências para

pessoas, compras com um cartão de débito ou ainda

creditar um cheque apenas tirando uma foto dele com

o celular é possível nesse novo conceito de operação. “É um banco no

qual você começa a se registrar pelo Facebook. Ele existe on-line e é

uma das coisas mais maravilhosas que alguém já fez”, exemplificou.

No movimento do mobile payment, a empresa Dwolla que per-

mite transferências de dinheiro ou pagamentos pelo celular, também é

vista positivamente pelo especialista. “Você deposita um valor na conta

da empresa e, por meio de um software, é possível efetuar paga-

mentos de consumo como café, táxis e coisas do dia a dia. Dinheiro é

informação sobre poder de compra. Os sistemas podem evoluir em

velocidade muito grande ou catastrófica, uma vez que não se

deve limitar seu desenvolvimento natural”, afirmou Meira.

Outra novidade citada é a M-Pesa, lançada no Quênia, onde o

dinheiro é transferido de uma pessoa para outra por meio de um

sistema telemóvel. “Um elemento importante dessa inovação é a

capacidade de adaptação às especificidades locais, uma vez que o

regulador financeiro não interfere em seu desenvolvimento. Isso

simplifica a vida das pessoas”, considera o especialista.

Quando o assunto é Brasil, Meira não esconde sua inquietação

com o atraso dos meios de evolução por excesso de regulamenta-

ção. “Os Estados Unidos e a China sobressaem-se em todas essas

frentes, até por que o desenvolvimento de seus marcos regulatórios

transita em sintonia com as necessidade locais. No Brasil, o sistema

financeiro age dentro de um escopo em que tudo precisa ser explici-

tamente permitido. Se algo não está dentro de uma regulamentação,

o resultado é que não pode ser feito. Já nos Estados Unidos e em

Por Gustavo Girotto

32 financeiro março 2014

Page 33: Financeiro Ed 85

Em contrapartida, ele classifi-

ca a Embraer como uma empresa

de ponta com olhares voltados

para o mundo. “O Brasil importa

15% do seu Produto Interno Bruto

(PIB). A média da América Latina

é 25%; a China é 29%. A nossa

Embraer é uma das nossas maio-

res importadoras e exportadoras,

faz parte das duas listas, por

isso a classifico como uma gran-

de empresa inovadora”, elogiou

Meira, lembrando que “o setor

de eletroeletrônicos – que é todo

fechado e com reserva de mer-

cado – tem deixado um déficit na

balança comercial acima de 35

milhões de dólares, nos últimos

dois anos. Ele não importa para

exportar, mas sim para consumir

e isso traz reflexos”.

Uma solução mediante o pro-

blema, segundo ele, seria criar

bases nacionais para competir internacionalmente.

“Esse é o nosso principal problema. A Embrapa é

extremamente competente, mas não é ela que plan-

ta e cole a soja. O problema não é ter a competên-

cia nos institutos de pesquisa e nas universidades,

pois é preciso ter competência na economia. Quando

olhamos para grandes sistemas, como o financeiro,

agropecuário e o industrial – a competitividade é

uma parte do que o produtor ou o agente de mercado

faz. A outra, é tão somente o que o sistema permite”,

analisou Meira.

Em termos de controle de um sistema, no mun-

do atual, o especialista considera um entrave. “Hoje

é preciso pensar globalmente. Não estamos isolados

do mundo e precisamos pensar em liderar algumas

frentes, aumentando fluidez em nossas nas transa-

ções”, disse Meira. Para ele, é preciso localizar-se,

observando dados como os de grandes economias de

primeiro mundo. “Em 1960, a produtividade em servi-

ços dos Estados Unidos era três vezes maior que no

Brasil. Em 2010, o País ficou cinco vezes mais produ-

tivo. Vamos mudar realmente de patamar quando, em

vez de montar produtos, o Brasil possa ter a capa-

cidade própria de desenvolvê-los e conseguir baixar

seus custos nessa cadeia produtiva”, finalizou. f

parte da China só não há sequência quando, efetiva-

mente, algo é proibido. Isso cria um grau de liberda-

de extra para os agentes de mercado, uma vez que

podem ir avançando e, se algo sair fora do contexto

macro ou legal, ocorre uma interferência espontânea

dos agentes”, defendeu Meira.

Para ele, é preciso que o sistema financeiro da

América Latina olhe os exemplos de sucesso de ou-

tros países. “É um problema da região, uma vez que

não se vê uma consolidação de bancos na América

Latina. Os que temos no Brasil, praticamente, só

existem por aqui – além das instituições estatais

quem têm capilaridade no setor – já o resto são ban-

cos europeus. Não vemos bancos brasileiros conso-

lidando o segmento bancário da América Latina, nem

à mão inversa. À medida que o mundo se globaliza,

vamos ficando isolados”, pondera Meira.

Ele avalia que há sempre razões para inovar

e isso faz parte de decisões. “Ninguém inova por

que é gostoso e, muitas vezes, é até parte de uma

decisão dramática. Custa o envolvimento continu-

ado de instituições inteiras, em períodos longos

de tempo, sendo que depende da profundidade da

inovação que se vai fazer. Ninguém inova por que

gosta, na verdade, é a combinação de duas coi-

sas: ser forçado ou puxado. O primeiro exemplo

é aquele em que se muda por que todos o estão

fazendo, ou seja, se eu não fizer, tão logo desa-

pareço. Já ser puxado é quando ninguém mudou

e você vislumbrou uma oportunidade de mudar:

isso lhe move e lhe coloca em um patamar di-

ferenciado”, disse o especialista, citando Peter

Drucker, que diz: “inovação é uma fonte de van-

tagem competitiva sustentável”.

Ainda em relação ao grande dragão asiático,

Meira lembra que o China Construction Bank (CCB)

adquiriu o banco brasileiro BicBanco, instituição fi-

nanceira voltada ao segmento de pequenas e mé-

dias empresas. “Eles o compraram para aprender

sobre o mercado nacional, uma vez que é uma eco-

nomia com grande liquidez. O que custa para eles

se estabelecerem como um grande banco no Brasil,

até por que são os nossos maiores compradores de

commodities?!”, questionou-se o especialista, afir-

mando que “em um sistema internacional todo co-

nectado, não adianta muito se proteger da inovação

sistêmica, pois é impossível controlar tudo e preci-

samos acordar para o mundo”.

Ninguém inova por que gosta

Silvio Meira, cientista chefe do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e

Sistemas Avançados do Recife)

Foto

: Gab

riel

Kos

man

33março 2014 financeiro

Page 34: Financeiro Ed 85

terceiro

Usar o esporte como forma de inclu-

são social, fomentando a participação da

comunidade como multiplicadora do co-

nhecimento e da prática socioeducativas

e, ao mesmo tempo, participar do desen-

volvimento do jovem. Esse conceito não é

apenas um discurso ilustrativo. Ele é leva-

do à risca diariamente por toda a equipe

da Fundação Gol de Letra. A entidade, que

acaba de completar 15 anos de atividades,

atende a 1.300 crianças e jovens em São

Paulo e no Rio de Janeiro.

Sóstenes de Oliveira, irmão de Raí e

diretor-geral da entidade, lembra que os

avanços obtidos pela entidade nos últi-

mos anos permitem projetar um futuro

promissor para a organização. “Em 2010,

criamos o Programa de Disseminação,

que nos possibilitou dar saltos no relacio-

namento com comunidades do Brasil afo-

O diretor-geral da Fundação Gol de Letra, Sóstenes de Oliveira, fala sobre os avanços conquistados pela entidade fundada há 15 anos pelos ex-jogadores Raí e Leonardo – e como as empresas podem colaborar com os seus projetos sociais

Por Elisa Polonio

ra. Chegamos a atender 1.000 crianças e

jovens”, conta Sóstenes. Um dos exemplos

de ação de sucesso é o Projeto Ginga So-

cial, realizado em parceria com a Adidas,

que busca por meio do esporte oferecer

formação e capacitação a agentes educa-

cionais e a jovens carentes de comunida-

des em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto

Alegre, Belo Horizonte, Salvador e, em

breve, Brasília.

Fazer o bem faz bem!

34 financeiro março 2014

Page 35: Financeiro Ed 85

Outra grande conquista foi a forma-

ção de monitores esportivos, desenvol-

vida nos programas da fundação. Nessa

dinâmica, jovens da comunidade, que

normalmente já passaram pelos progra-

mas, voltam à quadra esportiva: porém,

dessa vez, recebendo capacitação em

diferentes áreas e ajudando os educado-

res nas atividades. Desse modo, eles se

tornam referências para os mais novos,

gerando mais responsabilidade e fazen-

do com que a missão da entidade seja

cumprida: a de contribuir para a forma-

ção cultural e educacional de crianças e

jovens para atuar com autonomia na

transformação de suas realidades.

As experiências bem-sucedidas na

atuação social renderam recentemente o

prêmio Itaú-Unicef de Educação Integral

à Fundação, em função de seu programa

Virando o Jogo, que promove atividades

artísticas, culturais e corporais a 240

crianças e jovens de São Paulo. Além dis-

so, em 2001, a Fundação Gol de Letra ha-

via sido reconhecida pela UNESCO como

modelo de atendimento às crianças em

situação de vulnerabilidade social.

Captação de recursos – O orçamento

anual da entidade é de R$ 5 milhões, cap-

tados, principalmente, por meio de em-

presas parceiras (25%), eventos (24%) e

doações via Lei de Incentivo Fiscal (22%).

“As empresas passaram a fragmentar

seu investimento social, e isso, além de

ser benéfico a elas por proporcionar uma

inclusão social na comunidade de atua-

ção, é uma grande mola propulsora para

as atuações das entidades”, destaca Sós-

tenes, acrescentando que as empresas

podem contribuir para a Fundação Gol de

Letra por quatro maneiras: doações dire-

tas, doações via Lei de Incentivo Fiscal,

campanhas de mobilização de produtos

e serviços – em que uma porcentagem é

doada à Fundação – e até mesmo em tor-

neios promovidos pela entidade.

Na última modalidade, ganha desta-

que o Torneio Gol de Letra: trata-se não

somente de uma via de captação de re-

cursos, mas também uma ação de RH

das empresas com os seus colaborado-

res. No campeonato, que em 2014 vai

para sua 11ª edição, empresas diversas

inscrevem seu time de colaboradores,

que disputam entre si o título que cos-

tuma ser decidido em grandes finais

no Morumbi (SP) e no Maracanã (RJ).

Realizado anualmente, o torneio reúne

também atletas, ex-atletas e personali-

dades, proporcionando dois fins de se-

mana de plena interação, descontração,

e, claro, networking entre as empresas

participantes.

“Para as empresas que querem co-

laborar com a Fundação Gol de Letra, as

portas estão abertas. Recebemos cada

empresário individualmente, mostra-

mos a entidade, e, caso a caso, discorre-

mos sobre as possibilidades de doação”,

declara Sóstenes, acrescentando que a

Fundação também recebe doações de

pessoa física. “Muitas empresas parcei-

ras promovem campanhas entre seus

funcionários, o que também é uma for-

ma de captação de recursos”. A Funda-

ção Gol de Letra é auditada pela KPMG

e apresenta, anualmente, às empresas

parceiras o balanço da entidade. f

Fotos: Divulgação

35março 2014 financeiro

Page 36: Financeiro Ed 85

foradoexpediente

Semeador das artesLouis Bazire, presidente do Banco BNP Paribas Brasil, usa seu olhar refinado para revelar o talento de artistas brasileiros que ainda são desconhecidos do grande público

Por Gilberto de Almeida

Foto

: Luc

iana

Pre

zia

36 financeiro março 2014

Page 37: Financeiro Ed 85

Num fim de tarde, um motorista e seu patrão

trocam impressões sobre arte contemporânea,

enquanto estão presos no trânsito de uma grande

metrópole. A cena, aparentemente incomum, po-

deria fazer parte do roteiro de um filme do diretor

franco-suíço Jean-Luc Godard. No entanto, essa

situação é real e faz parte do cotidiano de dois bra-

sileiros: o motorista chama-se Wagner Gregório e

seu patrão é Louis Bazire, presidente no Brasil do

Banco BNP Paribas, uma das maiores instituições

bancárias do mundo.

Esse interesse de Wagner pelas artes plásti-

cas é apenas uma pequena amostra do resultado

do trabalho realizado há dez anos no Brasil pela

Fundação BNP Paribas. Porém, o empenho de Ba-

zire na difusão das artes vai muito além do bate-

-papo cultural com seu motorista. Ele mergulha

nessa atividade de corpo e alma. É um mecenas

na melhor acepção da palavra, aquele que é capaz

de identificar artistas e projetos que só ganham a

merecida atenção se tiver a sua dedicação pessoal

e o respaldo do banco. “A nossa fundação está pre-

sente em vários países e tem critérios para definir

os projetos que receberão o apoio do banco, mas eu

faço questão de participar pessoalmente de todas

as etapas de seleção”, conta Bazire. “Se você quer

fazer um a trabalho consistente, precisa traçar

uma diretriz forte e segui-la à risca.”

Esse trabalho consistente começa por uma só-

lida parceria que a Fundação Cultural BNP Paribas

mantém há anos com o MAM (Museu de Arte Mo-

Museu de Arte Moderna de São Paulo: parceria do BNP Paribas que permite que os funcionários do banco e seus

familiares entrem gratuitamente em qualquer exposição montada no espaço

derna de São Paulo), que permite não só que o ban-

co realize eventos reservados para clientes e ami-

gos nas dependências do museu, como também

franquia a entrada de seus funcionários e familia-

res em qualquer exposição montada no prestigiado

espaço da marquise do Parque do Ibira-

puera. Basta apresentar o crachá e entrar.

Foi aí, provavelmente, que Bazire semeou

o interesse de Wagner pelas artes.

Bazire sabe perfeitamente o poder

transformador que uma visita a um museu

pode provocar na vida das pessoas. Nasci-

do no Rio de Janeiro, filho de pai francês

e mãe americana, ele não se esquece da

primeira vez que entrou num museu, aos

12 anos de idade. Foi no Louvre, em Paris,

logo após mudar-se para a França com

seus pais. De lá para cá, essa paixão pelas

artes só cresceu. Embora não tenha con-

quistado habilidade com os pincéis e as

tintas, desenvolveu um olhar certeiro para

identificar novos talentos e abrir portas

para artistas que ainda não tiveram sua real opor-

tunidade no mercado das artes. “Como se faz para

‘fabricar’ esse olhar, eu não tenho ideia. Quem sabe

vendo muitas coisas. Tudo é muito subjetivo”, tenta

explicar Bazire. “Eu olho não só a obra de arte, mas

o jeito como ela é feita, depois é uma questão de

sensibilidade.”

Foi assim que Bazire encantou-se com o traba-

lho da artista plástica Lara Donatoni Matana, que

“Se você quer fazer um

a trabalho consistente,

é preciso traçar uma

diretriz forte e segui-la à

risca.”

Foto: Divulgação

37março 2014 financeiro

Page 38: Financeiro Ed 85

foradoexpediente

o executivo acostumado a tomar decisões profissionais

com base nos frios números do setor financeiro. “Não me

desfaço de nada, nem acompanho o sobe e desce dos ar-

tistas no mercado internacional.” Com lágrima nos olhos,

sensibilidade rara entre os banqueiros, ele diz: “Pode ser

que eu tenha comprado quadros há 20 anos que hoje va-

lem muito mais, mas não quero me desfazer. Eles são a

minha paixão e espero deixá-los para as minhas filhas.

Embora elas não morem no Brasil, assim que chegam

aqui pedem logo para conhecer as novidades.”

Com o mesmo carinho que dedica à sua coleção par-

ticular, Bazire participa ativamente da seleção de qua-

tro a seis projetos que a Fundação BNP Paribas Brasil

apoia anualmente entre mais de 300 propostas recebi-

das. Além de enquadrados na Lei Rouanet, os projetos

devem estar focados na preservação do patrimônio cul-

tural brasileiro, por meio de exposições, publicações de

livros, concertos ou recitais. Para 2014, a programação

da Fundação BNP Paribas no Brasil já está praticamente

fechada, com a realização de um concerto, em parceria

com o Centro da Cultura Judaica, do pianista israelense

Boris Giltburg, vencedor do disputado Concurso Interna-

cional Rainha Elisabeth, organizado na Bélgica em 2013;

a exposição de Marcos Bretas, pintor brasileiro radicado

em Paris e ainda pouco conhecido por aqui; a exposição

cria painéis cubistas a partir de finas lâminas de

madeira reflorestada, provocando sensação de

movimento, profundidade, ondulação, etc. Aliás, a

obra da artista “Expansão em Perspectiva” atrai a

atenção daqueles que, por alguns minutos, aguar-

dam na recepção do salão de almoço do banco. Ou-

tro artista capaz de magnetizar o olhar de quem

visita a sede do BNP Paribas, em São Paulo, é o

capixaba Hilal Sami Hilal, que, com uma delicada

escultura em papel artesanal provoca instigantes

efeitos cinéticos, como definiu, em 1998, a crítica

de arte Angélica de Moraes. Esses são apenas dois

exemplos de trabalhos que fazem parte da coleção

do BNP Paribas no Brasil que merecem destaque

na decoração do escritório do banco.

A proximidade de Louis Bazire às criações de

Hilal aconteceu por meio de outra parceria que o

banco mantém com a galerista Marilia Razuk, que

cuida da carreira do escultor capixaba. “O Bazire

é um apaixonado por arte. Ele tem uma visão di-

ferenciada sobre o que está acontecendo no mer-

cado”, destaca Marilia. “Se fica encantado com o

trabalho de um artista, ele leva catálogos para o

exterior, mostra e fala para os amigos. Ou seja, ele

faz acontecer, tudo motivado pela paixão que tem

pelas artes”, lembra a marchand.

Esse entusiasmo faz com que aproveite cada

instante livre da sua pesada agenda de executivo

para pingar nos olhos novas gotas de conheci-

mento. No entanto, às vezes, chega até a perder

a noção do tempo diante de tantas atrações. Em

janeiro deste ano, por exemplo, depois de partici-

par de um seminário do banco em Lisboa, aprovei-

tou para ficar mais um dia na cidade apenas para

apreciar a coleção do Museu Berardo, próximo do

Centro Cultural de Belém. “Achei tudo tão legal e

atraente que por pouco não perdi o avião de volta

para o Brasil”, conta Bazire. A pressa, porém, não o

impediu de trazer na bagagem mais catálogo para

a sua coleção particular. “Sei que a minha mulher

fica chateada com essas compras. Não temos mais

espaço em casa para essas coisas. Ainda bem que,

desta vez, eu trouxe apenas um catálogo e não um

quadro novo”, brinca ele.

Mesmo quando não resiste e compra uma nova

obra para o seu acervo particular, Bazire nunca faz

a aquisição de olho no lucro que a peça que possa

render no futuro. “Compro porque gosto; detesto

falar em arte como moeda de negociação”, afirma

Louis Basire: diante de uma das obras da artista plástica Lara Donatoni Matana

38 financeiro março 2014

Page 39: Financeiro Ed 85

de Lucia Mindlin Loeb – neta do bibliófilo José Min-

dlin, falecido em 2010 –; a publicação do livro “A

Flor da Floresta Amazônica”, do fotógrafo paulista

Rodrigo Petrella; e a publicação de um guia inédito

sobre os museus da São Paulo.

Por meio de iniciativas semelhantes a essas, há

dois anos, a fundação também bancou a edição do

livro “Villa de Paraty”, com fotos de Dom João de

Orleans e Bragança. “Tudo aconteceu muito rápi-

do. O editor Pedro Corrêa do Lago me procurou e

disse que não tínhamos, até então, um bom livro

sobre a história de Paraty. Avaliei o projeto e achei

que ele estava dentro dos objetivos da fundação”,

conta Bazire. Algo semelhante aconteceu com Ân-

gela Gutierrez, fundadora do Museu do Oratório de

Ouro Preto, que precisava do nosso incentivo para

renovar o catálogo da instituição. “Existem pessoas

que gostam de carros antigos, eu tenho predileção

por pintura, fotografia e música”, compara o execu-

tivo. “Às vezes, chego um pouco mais tarde em casa

por que estou envolvido com os projetos da funda-

ção, mas esse esforço é totalmente recompensado

quando consigo surpreender alguém com o traba-

lho de um artista ainda desconhecido do grande

público”, completa Bazire.

Hilal Sami Hilal:um dos artistas que recebeu apoio da

Fundação BNP Pariba Brasil

Foto: Divulgação

Foto: Luciana Prezia

f

39março 2014 financeiro

Page 40: Financeiro Ed 85

cultura

Por Eliane Santos

Reinaugurada em 2004, a Casa das Rosas ganhou a designação Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, em homenagem a um dos mais importantes poetas brasileiros e coautor do movimento concretista. A coleção de livros do ensaísta e tradutor faz parte do valioso acervo do museu

Casarão dos versos

Fotos: Gabriel Kosman

40 financeiro março 2014

Page 41: Financeiro Ed 85

Encravada no coração financeiro de São Paulo,

uma imponente mansão do século passado sobrevive

em meio aos grandes edifícios comerciais. Emoldura-

da pelo quadrilátero formado pela Avenida Paulista,

Alameda Santos e as ruas Leôncio de Carvalho e Dou-

tor Rafael de Barros, o casarão de quatro andares, que

foi ponto de encontro da oligarquia dos barões do café,

– hoje tombado pelo Patrimônio Histórico em 1985 e

reinaugurada em 1991 – abriga o rico acervo da Casa

das Rosas, um mais importantes espaços culturais da

cidade, dedicado à difusão da poesia e da literatura.

Pela entrada da Avenida Paulista, a fachada do

Museu Casa das Rosas mescla, em perfeita harmo-

nia, os contrastes de dois períodos arquitetônicos: o

novo e o velho. Na frente, destaca-se um sobrado de

1935 e um lindo jardim; na parte de trás do terreno,

um moderno prédio recoberto por vidro espelhado.

Embora antagônico, o projeto valoriza os contornos

do casarão, criado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e

oferecido de presente de casamento à filha Lucia e ao

genro Ernesto Dias de Castro, que por ali viveram com

seus herdeiros por duas gerações.

Após uma crise financeira, em 1985, a família

vendeu o imóvel e o terreno ao empreendedor Mário

Pimenta Camargo e ao arquiteto Júlio Neves, que ti-

nham planos mais ousados que contrastavam com a

urbanização daquela região. Naquele período, o casa-

rão foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de De-

fesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e

Turístico) e tornou-se um bem cultural da cidade. Mas,

por meio de projeto de lei criado na época, que permi-

te destinar as áreas não construídas do terreno de um

imóvel tombado a novos projetos imobiliários, o pro-

jeto foi dividido em duas partes. A casa foi restaurada

e o seu famoso jardim foi conservado. A parte livre

do terreno de 5.500 metros quadrados, que tem saída

para a Alameda Santos, abriu espaço para uma torre

de 21 andares.

Depois de funcionar como galeria de arte por qua-

se dez anos, a casa fechou para restauro e foi reinau-

gurada em dezembro de 2004. Com o mesmo nome,

mas com uma nova designação, ela passou a se cha-

mar Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de

Poesia e Literatura. O nome é uma homenagem ao tra-

dutor, poeta e ensaísta brasileiro, Haroldo de Campos.

“A casa passou a funcionar como um espaço dedicado

à poesia e à literatura, abrigando toda a coleção de

Integração:Espigão de 21 andares que fica ao

fundo da Casa das Rosas

O acervo da biblioteca abriga mais de 20 mil títulos da coleção do poeta Haroldo de Campos

41março 2014 financeiro

Page 42: Financeiro Ed 85

cultura

mais de 20 mil títulos de livros de Haroldo de Cam-

pos. Os livros são expostos por temas, atualizados

a cada três meses. Todo o acervo doado pela famí-

lia do poeta foi catalogado e está disponível para

visitação on-line, por meio do site da instituição

(www.casadasrosas.org.br).

Quem visita o centro de poesia e literatura tem

acesso a saraus, eventos literários, seminários,

festivais, cursos e um núcleo voltado para forma-

ção de escritores, o Centro de Apoio ao Escritor

(CAE). O projeto oferece uma série de atividades

educativas, palestras e projetos culturais. Só o Cur-

so Livre de Preparação do Escritor recebe aproxi-

madamente 500 inscrições para 30 vagas ofereci-

das anualmente.

Segundo o diretor, o espaço ainda recebe muitos

pedidos para realização de lançamentos de livros

e exposições. “É bacana você ter uma casa, em um

ponto bem localizado, que foi construída para a elite

e hoje esse espaço ser compartilhado por diferentes

classes sociais”, completou Frederico Barbosa.

livros do poeta”, conta o diretor do Museu, Frederico Barbosa.

À frente da instituição desde a inauguração, Barbosa relembra com orgu-

lho como participou de cada detalhe desse projeto. “Quando assumi, a casa

estava necessitando de manutenção. As portas foram arrancadas para refor-

ma e eu mesmo fiz a recolocação. Recebemos a ajuda de seis voluntários que

trabalharam, gratuitamente, por seis meses”. Em 2008, esses e outros volun-

tários, fundaram a organização social POIESIS – Instituto de Apoio à Cultura, à

Língua e à Literatura.

A Casa das Rosas, que recebe em média 85 mil visitantes por ano e abre

espaço para diversas manifestações culturais, exposições intermitentes de

arte contemporânea e uma exposição permanente, intitulada ‘Bibliocasa’, com

Frederico Barbosa:diretor da Casa das Rosas

f

Cerca de 85 mil visitantes por ano participam dos eventos culturais promovidos pela casa

42 financeiro março 2014

Page 43: Financeiro Ed 85

artigoexterior

43março 2014 financeiro

Page 44: Financeiro Ed 85

educação

Revista Financeiro: A que você atribui a sua afinidade e o seu sucesso com o público infanto--juvenil?

Pedro Bandeira: Quando você escreve para um

público mais jovem é preciso partir do pressuposto

de que ele não sabe nada sobre aquilo. Ele desco-

nhece o que foi a época de Getúlio Vargas ou a de

Juscelino Kubitschek, muito menos o que signifi-

cou o assassinato de John Kennedy, em 1963. Ele

não sabe nada, está chegando agora. Então o en-

caminhe, não venha com desafios. Pouquíssimos

meninos podem se interessar por um assunto tão

distante deles. Quando eu era criança, Washington

Luís era tão distante de mim quanto Álvares Cabral.

Ou seja, é preciso inseri-lo no contexto da história.

RF: Mas, existe também uma preocupação com a linguagem?

Pedro Bandeira: Você adapta a sua linguagem

de acordo com o seu interlocutor. Se entrar aqui

Pedro Bandeira é um escritor para quem a conversa flui tranquila, como água que nasce na fonte. Aos 72 anos, com 80 títulos dedicados ao público infanto-juvenil, ele fala sobre o papel dos pais em estimular o hábito da leitura entre as crianças

uma criança, você vai dizer que gracinha, que belezinha. Você vai falar como

um bobo para ela. Agora, se entrar aqui o embaixador do Reino Unido, você vai

dirigir-se a ele como excelência e provavelmente ficará de pé. É a mesma coisa

quando você escreve. Isso foi uma coisa que aprendi quando ainda era jorna-

lista. Se eu estou trabalhando na revista Claudia, eu sei que a minha leitora é

uma dona de casa, uma mulher bem enfatizada, mas não necessariamente

uma intelectual. Eu levo tudo isso em conta quando estou escrevendo.

RF: Quais foram outros benefícios que você trouxe do jornalismo?Pedro Bandeira: O jornalismo foi uma escola perfeita para mim. Isso por-

que o repórter é obrigado a não ter uma maneira de escrever. A não ser

quando você fica velho, torna-se o bacana, conquista seu espaço de cronista

e passa a escrever do seu jeito. Até lá, esses jornalistas comeram muita

poeira. Eu tive que trabalhar nas editorias de esportes, polícia, política, fiz

até horóscopo durante as férias de um colega. Além disso, você aprende no

jornalismo a respeitar uma coisa sagrada que é o prazo. O horário do fecha-

mento ninguém discute. Outra coisa, você é levado a escrever sobre diferen-

tes assuntos. Você ganha um cultura geral que lhe permite saber um pouco

de tudo. Depois de 10 anos de jornalismo, você fala sobre qualquer assunto,

até culinária, se for o caso.

“Deixe seu filho subir a escada do

conhecimento com os próprios pés”

Por Gilberto de Almeida

Fotos: Divulgação

44 financeiro março 2014

Page 45: Financeiro Ed 85

RF: Como os pais po-dem instigar nos filhos o hábito da leitura?

Pedro Bandeira: É

importante que esse pai

mostre as coisas que ele

considera boas para o fi-

lho ler? Não, o filho tem

que ler o que ele quiser

ler. Será bom aquilo que

ele achar bom, não aquilo

que você acha bom. Não,

meu filho tem que ler

“Memórias Póstumas de

Brás Cubas”. Não. É um

livro maravilhoso, mas

você acha que um garoto

de 14, 15 anos vai gostar

de “Memórias Póstumas

de Brás Cubas”? Nunca,

jamais. Então o deixe ler o

que ele quiser. Para você,

a escolha dele pode ser

uma porcaria. Ele está

numa escala de conhecimento. Não adianta puxá-lo para um

degrau acima. Deixe-o subir a escada com os próprios pés. Não

faça com que ele trilhe os caminhos que você trilhou. Ele não

tem a sua biografia. O seu DNA não significa que ele tenha a sua

biografia. Se ele tiver liberdade de acesso ao conhecimento, ele

gostará de ler.

RF: E qual é o papel do professor em estimular o prazer da leitura nos alunos?

Pedro Bandeira: Nos países adiantados, não existe adoção

de livros de literatura nas escolas. Por quê? Não precisa porque

o papai, a mamãe, a madrinha compram livros para as crian-

ças. Elas têm em casa o exemplo do pai lendo um livro. Como

não existe isso no Brasil, coube à escola essa tarefa. Em minha

opinião, a escola pode fazer muitas coisas, mas não pode suprir

um papel que a família não cumpriu. Existem pais que preferem

gastar R$ 1 mil em um tênis para o filho do que pagar R$ 30

num livro.

RF: O que você diria para os pais que ficam apavorados quando veem seus filhos escrevendo cifrado na internet?

Pedro Bandeira: Antigamente, os telegramas eram cobrados

por letra. Usava-se a linguagem cifrada para pagar menos. Você

era VC. Era a chamada linguagem telegráfica. Então as crianças,

para andarem depressa na internet, usam essa mesma lingua-

gem telegráfica. É extremamente humano, perfeito... Por que

não? Agora, quando ele quer mergulhar num pensamento, pas-

sará a aceitar naturalmente a forma culta. Eu só uso norma culta

e tenho livros publicados há 30 anos, desde quando lancei, em

agosto de 1984, a minha série de maior sucesso, “Os Karas”, com

K. Na época não havia internet, não havia celular, não havia nada

nesse sentido. Hoje, o livro vende mais do que quando foi lança-

do. Isso se explica, porque a literatura não tem tempo. O livro não

precisa ser igual à vida que a criança leva? Não, o livro tem que

ser igual ao sonho que ela tem.

RF: Por falar nisso, como nascem os seus livros?Pedro Bandeira: Eu sou muito instintivo na entrada. Você

descobre alguma coisa que é importante contar, só que a partir

daí começa o trabalho. É costurar, é virar até que a ideia fique de

pé. Um livro bem antigo surgiu da cadelinha de um amigo. Ela

teve cinco cachorrinhos, que vinham pedir agrado. E um deles

fazia aquele ganido para pedir carinho, que parecia um miado de

gato. Pensei: ‘que engraçado, um cachorro que mia’. Era uma si-

tuação que poderia ser explorada para falar de preconceito. Essa

era a entrada do livro. O resto é desenvolvimento. O cachorrinho

miou porque era amigo de um gato. O que o pai dele, um cachor-

rão machão, vai achar disso? Só por que ele está miando poderia

ser chamado de gay? Pronto, aí é trabalho. Eu vou precisar de

um pouco de humor no começo, depois uma dose de suspense,

para depois a criança refletir sobre uma situação diferente. Por

que um cachorro não pode miar? Por que meu colega de escola

não pode ser gordinho? Eu estou tratando, de forma indireta, do

bullying. A eventual adequação educacional do livro passa a ser

um papel do professor ou do pai. Eu só instigo.

RF: Como o legado cultural dos pais pode ser repassado para os filhos?

Pedro Bandeira: Não duvide da capacidade do seu filho. Não

tente amarrá-lo, pois estará limitando a capacidade dele de as-

similar coisas novas. Você pode até orientar, sugerir... se ele não

gostou da sugestão, recue. Deixe-o não gostar da sua sugestão.

Hoje não dá para uma criança ler Monteiro Lobato. São persona-

gens que moram num sítio, com jabuticabeira. Para um menino

de hoje, a jabuticaba é no máximo a fruta que a mãe traz dentro

de um saquinho do supermercado. 90% da população brasileira é

urbana. É difícil sentir-se atraído por um ambiente que tem vaca,

porco, sabugo de milho. Isso não faz parte da realidade deles.

Hoje, o menino mora em um prédio e não quer ouvir falar em

vaca mocha ou burro falante. Pode ser que você queira que o

seu filho assista o “Grande Ditador”, do Chaplin. Para o menino, o

filme pode ser chato. É claro que é uma grande obra-prima. Um

dia, já adulto, ele vai ver o filme e descobrirá que é uma obra-

-prima. Mas, não force o seu filho a odiar o Chaplin.

Pedro Bandeira:” Nos países adiantados, não existe adoção de livros de literatura nas escolas. Por quê? Não precisa porque o papai, a mamãe, a madrinha compram livros para as crianças.

f

45março 2014 financeiro

Page 46: Financeiro Ed 85

negócio&lazer

O Grande Hotel São Pedro se reinventa sem perder o charme e se mantém como uma das principais referências turísticas do interior paulista, desde a época dos cassinos

Por Evandro Ribeiro

Refúgio das águas

Fotos: Divulgação46 financeiro março 2014

Page 47: Financeiro Ed 85

Imagine só. Você

faz uma reserva em um

hotel e, antes de sua

estadia, um mordomo

liga para saber qual é

seu tipo de travesseiro

preferido, qual é a tex-

tura ideal da sua roupa

de cama, se tem algu-

ma restrição alimen-

tar, qual o seu jornal

predileto, o seu vinho

favorito, entre outros

mimos. Ao chegar ao

hotel, em vez daquela

experiência protocolar

e burocrática, o hóspe-

de é recepcionado com

uma taça de champa-

nhe, pelo mesmo mordomo que, alguns dias antes,

quis saber das suas preferências pessoais. Essas

são sutilezas que tornam o Grande Hotel São Pedro

– Escola Senac, em Águas de São Pedro, a 180 km

da capital paulista, uma das principais referências

turísticas do Estado desde a época dos cassinos.

O cliente que gosta de exclusividade e não abre

mão da privacidade, a sugestão é optar por um dos

confortáveis e espaçosos bangalôs (chamados de

vilas), no refúgio da Vila do Golfe, em área reser-

vada em torno de um campo de golfe de 9 mil me-

tros quadrados. Quem se hospeda lá tem direito à

atenção de um mordomo ao longo da estadia, café

da manhã no quarto até ao meio-dia, menu de fil-

mes – acompanhados de pipoca –, miniadega cli-

matizada, ofurô, entre outros cuidados. “As vilas do

golfe são os nossos produtos premium. É o que de

melhor podemos oferecer aos hóspedes”, garante

Graziela Zanin, gerente geral do hotel. As regalias

são tantas que o cliente não precisa nem desfazer

as malas. As outras suítes do hotel, apesar de não

contarem com todos esses serviços, também são

confortáveis, charmosas e tranquilas.

Rodeado por jardins e bosques e com instala-

ções em estilo art déco, o hotel foi inaugurado, em

1940, pelo empreendedor Octávio de Moura Andra-

de, um visionário que apostou no potencial turísti-

co das fontes termais da região. A cidade naquela

época nem existia, as primeiras casas surgiram só

depois da fundação do hotel. Hoje, o Grande Hotel

evoluiu, está supermoderno, sem perder a tradição.

O poder medicinal das águas foi ampliado e ago-

ra oferece um spa completo para cuidados com a

“As vilas do golfe são os nossos produtos premium. É o que de melhor podemos oferecer aos hóspedes”. Graziela Zanin, gerente geral

Interior:Preservação do estilo art déco

Jardim de inverno:Momentos de leitura e descontração

Bangalô:Vila do Golfe, área em torno de um campo de golfe de 9 mil m²

Fotos: Divulgação

Foto: Gabriel Kosman

Foto: Gabriel Kosman

47março 2014 financeiro

Page 48: Financeiro Ed 85

saúde e com a beleza. Além das três piscinas

distribuídas na área comum do hotel, o hós-

pede pode se energizar com o clássico banho

de imersão em águas sulfurosas, fazer mas-

sagens terapêuticas e tratamentos estéticos

faciais e corporais. Se ainda sobrar disposição,

ele pode movimentar-se nas quadras de tênis,

vôlei e basquete.

Sob a administração do Senac São Paulo,

o Grande Hotel São Pedro tornou-se também

uma das primeiras referências nacionais na

formação de profissionais voltados para ho-

telaria e para a alta gastronomia. Esse perfil

educacional foi uma das estratégias usadas

para manter o glamour dos anos 40, quando

o hotel abrigava em seus salões um concorri-

do cassino, que atraía artistas e a aristocracia

paulista. Contudo, em 1946, com a proibição

do jogo no Brasil, o Grande Hotel buscou algu-

mas alternativas e o conceito hotel/escola, já

em 1969, foi o que se mostrou mais atraente

e lucrativo. Segundo Graziela Zanin, 80% dos

funcionários saíram dos cursos profissionali-

zantes ministrados ali, inclusive ela.

Com um quadro de colaboradores tão pre-

parado, o restaurante do hotel oferece aos hós-

pedes diversas alternativas gastronômicas. No

Engenho das Águas, ele pode experimentar o

Cabra Safado, guisado de bode com massapê

de mandioca, purê que faz alusão ao barro tí-

Bosque:Ar puro e tranquilidade

Arquitetura:Atmosfera dos anos 40

Sob a administração do Senac São Paulo,

o Grande Hotel São Pedro tornou-se uma

das referências nacionais na formação de

profissionais voltados para hotelaria e alta

gastronomia

negócio&lazer

Foto: Gabriel Kosman

Foto: Gabriel Kosman

48 financeiro março 2014

Page 49: Financeiro Ed 85

pico do Ceará. Também conhecer ingredientes típicos nacionais,

como maxixe, pirarucu, priprioca (erva da região amazônica) e

aviú (microcamarão abundante nas águas dos rios do Pará). Para

variar, no dia seguinte, o hóspede pode optar por capeletti de co-

dorna com creme de abóbora. Na seleção dos doces, o chef Jor-

ge da Hora sugere um petit gâteau, preparado com cacau 70% da

Bahia, acompanhado de sorvete de maracujá. Além disso, o menu

tem outras tentações: quindim, arroz-doce com aroma de capim

cidreira, manjar de coco com calda de ameixa, torta de castanha

e sorvete de tapioca.

Como Águas de São Pedro é uma cidade muito pacata, o ho-

tel tem uma programação de lazer organizada de acordo com as

faixas etárias dos hóspedes. “As nossas atividades são divididas

por segmentação. Temos o miniclube, que reúne a criançada de 3

a 6 anos, o grupo dos pré-adolescentes, de 6 a 12 anos, depois o

dos adolescentes e dos jovens, o pessoal adulto e os clientes mais

experientes, conhecidos carinhosamente como da melhor idade,

explica Graziela Zanin, gerente geral do hotel. A área de lazer tem

opção para todo mundo, para quem não quer fazer nada o dia in-

teiro e para quem quer praticar esporte o tempo todo. Pensamos

até naqueles que desejam ficar abraçando uma das 1,2 milhão

árvores espalhadas no nosso parque”, brinca Graziela.

São tantos os encantos do Grande Hotel São Pedro que o livro

Gastronomia & História revela que a música Café da Manhã, suces-

so de Roberto Carlos, foi composta, em 1978, entre os lençóis de

uma das suítes. Já o escritor Ignácio de Loyola Brandão fez do lu-

gar o cenário ideal da lua de mel de Rosa e José, protagonistas no

romance Zero. Se gostou da dica, faça as malas e venha viver a sua

história nesse ambiente cheio recordações, beleza e conforto.

Serviço

Grande Hotel São Pedro

Parque Dr. Octávio de Moura Andrade, s/n

Águas de São Pedro – SP

www.grandehotelsenac.com.br

Tel. (19) 3482-7600

Spa personalizado:Além das três piscinas, o hóspede pode se energi-

zar com o banho de imersão em águas sulfurosas

f

Foto: Divulgação

49março 2014 financeiro

Page 50: Financeiro Ed 85

Nas happy hours ou nos encontros informais de negócios, os drinques refrescantes são ótimas opções para tornar o bate-papo mais agradável

Que tal substituir o uísque ou até mesmo a cerveja – uma das

paixões nacionais nesses dias quentes de verão – por um drinque

que possui um mix de sabores das frutas típicas da estação, com

bebidas que relaxam e também refrescam? Os dias mais longos e

de temperaturas mais elevadas são convidativos a essa experiên-

cia. Para vivenciá-la, bares e restaurantes dispõem de muitas op-

ções que, seguindo algumas recomendações, podem ser feitas e

saboreadas com a família e com os amigos, nos momentos de des-

contração e lazer.

Quem desvenda os segredos desses drinques é o tarimbado

barman Derivan Ferreira de Souza, titular do Bar Número, em São

Paulo, que soma 42 anos de profissão, oito publicações sobre o

tema e muitos prêmios, como o Mundial de Coquetelaria. “Os drin-

ques de verão têm um apelo especial, tanto no preparo quanto no

modo de servir. A estação pede frutas frescas, bebidas

de baixo teor alcoólico, água gaseificada e sucos. Antes

da escolha, no entanto, é preciso identificar o momento

a ser servido. Para cada ocasião há um momento que

harmoniza. Os aperitivos para antes das refeições. Os

digestivos após. Os long drinks nas horas de distração

e os hot drinks nos dias frios”, revela.

Outro segredo – compartilhado por quem já pre-

parou drinques para Frank Sinatra, Bono Vox, Hebe

Camargo, Pelé e Adoniran Barbosa – é o ato de pre-

parar e servir. “Ao descrever os ingredientes e o modo

de preparo aos nossos convidados, temos que buscar

surpreender o paladar, despertar os sentidos, aguçar

a saliva, a vontade de provar”, complementa Derivan.

Cheers! Um brinde ao verão

Por Liliana Liberato

happyhour

Foto

: Gab

riel

Kos

man

e M

auro

Hol

anda

Mestre Derivan:barman de Frank Sinatra, Bono Vox, Hebe e Pelé

Serviço

Bar Número – Rua da

Consolação, 3585 – Cerqueira

César – São Paulo (SP),

tel.: 55 11 3161-3995.

50 financeiro março 2014

Page 51: Financeiro Ed 85

Clássicos & Contemporâneos

Café Oden Spritz

40 ml de Aperol60 ml de espumante brut20 ml de água com gás

Modo de preparoEm um copo para vinho Bordeaux, coloque gelo. Quando mais gelo, mais refrescante. Em seguida, coloque os ingredientes. Misture bem e decore com uma fatia de laranja.

Rouge

3 morangos 3 amoras 2 cerejas em conservaComplete com água tônica Modo de preparo

Em um copo long, coloque as frutas e amasse bem. Em seguida, coloque bastante gelo. Complete com água tônica.

Caipiry

40 ml de cachaça1 tangerina em cubos1 colher de açúcar15 ml de St. Rémy

Modo de preparoEm um copo para caipirinha, coloque a tangerina e o açúcar. Pressione de-licadamente. Em seguida, coloque a cachaça e complete com gelo. Decore com fatias de tangerina no copo.

Sex on the Beach

40 ml de vodca15 ml de Peach Stock80 ml de suco de laranja1 lance de Kaly Grena-dine

Modo de preparoEm um copo long drink, coloque gelo e em seguida a vodca, o licor e o suco de laranja. Misture bem. Decore com uma fatia de laranja e uma cereja, fi-nalize com o Kaly Grenadine.

Clericot

Mosaico

1 maçã-verde picada com casca sem se-mentes2 rodelas de abacaxi picadas1 carambola pequena fatiada1 laranja picada sem pele e sem sementes20 ml de licor Curaçau300 ml de soda limonada500 ml de vinho brancoAçúcar a gosto

1 cubo pequeno de ge-latina de limão com vodca1 cubo pequeno de gelatina de ce-reja com cassis 1 cubo pequeno de gelatina neutra com curaçau blue1 cubo pequeno de gelatina de uva simples Espumante gelado para completar1 fatia de carambola para decorar

Modo de preparoEm uma jarra de 2 litros, coloque as frutas, o licor e os outros ingredien-tes. Em seguida, gelo à vontade. Mis-ture tudo e sirva em copos de vinho branco.

Modo de preparoSiga as instruções de preparo da ge-latina e, na finalização, acrescente a cada uma o correspondente a 100 ml de cada bebida solicitada. Conserve-a na geladeira e, no momento de usar, corte em cubos ou utilize uma colher de chá para enformar. Em uma taça flute, previamente gelada, coloque as gelatinas e em seguida complete com o espumante brut. Decore com a carambola.

É também no verão que muitos drinques clássicos e atemporais ganham uma

releitura e voltam ao topo dos mais pedidos. A caipirinha é um deles que, na

repaginação do Mestre Derivan, recebeu o nome de Caipiry. Todo verão também

tem uma novidade. Em 2014, a novidade coube ao Café Oden Spritz, concebido em

um dos bares da histórica Plaza San Marco, em Veneza, na Itália. De lá, já ganhou

fama mundial e, atualmente, está entre os mais pedidos aqui no Brasil.

Outras sugestões do barman são o Clericot, com baixo teor alcoólico; o Rouge,

para quem não consome bebida alcoólica, e o Mosaico, para os que fazem ques-

tão de acompanhar as tendências. Entre os clássicos, mantém-se o Sex on the

Beach, além do Dry Martini, do Manhattan, do Blood Mary e do Negroni. De acordo

com o barman, seguir as recomendações indicadas é certeza de elogios. Então,

escolha o seu, prepare, e confira se, de fato, tem razão. Cheers! f

51março 2014 financeiro

Page 52: Financeiro Ed 85

Imagine as situações. Você faz uma ligação e,

minutos depois, o motoboy entrega seu jantar, en-

quanto perde horas a fio no trânsito de São Paulo.

Um jovem workaholic infarta, aos 27 anos, e cai no

chão impecavelmente vestido com sua camisa de

algodão egípcio. Um profissional heavy user em

tecnologia saca do bolso sua caneta digital que de-

tecta, na hora, a necessidade diária de minerais do

organismo. Caso a taxa esteja insuficiente, o aces-

sório alerta e indica a pílula que deve ser ingerida

imediatamente.

Essas situações fictícias, que chamam a aten-

ção para o ritmo frenético em que mundo está

caminhando, é o ponto de partida do livro “Desa-

celera, Mundo! Na contramão para viver melhor”,

terceira obra do advogado, administrador e consul-

tor tributário Mário Shingaki e a primeira voltada

para as questões ligadas à qualidade de vida.

O livro está dividido em áreas, como tecnolo-

gia, comportamento, consumo e sustenta-

bilidade. Com uma proposta de leitura leve

e descontraída, Shingaki faz questiona-

mentos sobre estilo de vida e a busca da

tão almejada felicidade. Ao mesmo tempo,

sugere estratégias para pequenas mudan-

ças na rotina diária que resultarão em óti-

mos benefícios. “Muitas vezes, a correria

para dar conta de todos os afazeres não

permite desacelerar para perceber os pe-

quenos prazeres e ‘viver melhor’”, explica

Shingaki.

“Em uma tarde de segunda-feira chu-

vosa, comecei a fazer alguns questiona-

mentos sobre meu estilo de vida, a forma

como conduzo meu dia e se isso me deixa

feliz ou triste. A partir dessa análise, surgiu

a ideia de escrever sobre o assunto”, conta

Shingaki, num tom de voz calmo e pausa-

É preciso saber viverPor Geyse Alencar

Livro “Desacelera, Mundo!” desafia os leitores a uma revisão do seu estilo de vida

qualidadedevida

Mario Shingaki:“dar conta de todos os afazeres não permite desacelerar para perceber os pequenos prazeres”

Foto

: Div

ulga

ção

52 financeiro março 2014

Page 53: Financeiro Ed 85

do, características que lhe são naturais e que

procura levar para todas as situações da vida.

O infarto fulminante de um amigo durante o

expediente foi o gatilho que despertou a cons-

ciência de Vinicius Branco, 57 anos, advogado e

sócio do escritório Levy & Salomão, em relação

à qualidade de vida. “Eu sempre tive vontade de

fazer um ano sabático, mas depois desse inci-

dente, eu percebi que o mesmo poderia aconte-

cer comigo, a qualquer momento, em função do

ritmo de trabalho: doze horas por dia, sete dias

por semana. Eu tinha vontade, tinha dinheiro,

mas me sentia refém do das atividades profis-

sionais”, relembra. “No mundo, tempo é dinheiro. No

mercado financeiro, isso é ainda mais intenso”, defi-

ne Branco, que também foi executivo do Citibank e do

Bank of Boston.

Esse fato traumático foi um divisor de águas e

mudou o rumo da vida de Branco. Ele pediu licença

do trabalho e, ao lado da esposa, tirou um período sa-

bático de um ano e foi para o Alasca de carro. Todas

as experiências dessa aventura podem ser conferi-

das no site www.vbranco.com.br.

Depois deste tempo de tranquilidade, o retorno

ao mercado foi bem diferente. As longas jornadas

de trabalho foram substituídas por uma programa-

ção mais organizada e equilibrada do tempo dedi-

cado ao expediente profissional. “Continuo traba-

lhando com a mesma eficiência, mas parei de levar

para casa projetos que ocupam parte dos meus

fins de semana. Sigo em frente, mas não no mesmo

ritmo”, alegra-se Branco.

“As doenças relacionadas ao esforço repetitivo

e aos transtornos mentais, como depressão e sín-

drome do pânico, lideram os afastamentos do tra-

balho protocolados na Previdência Social”, conta o

médico sanitarista e do trabalho, Koshiro Otani, 64

anos, sendo 38 dedicados à medicina.

Otani analisa o estilo da sociedade contemporâ-

nea: “Vivemos de forma apressada. As pessoas não

estão na correria apenas para conquistar um salário

no fim do mês, mas pelo simples fato de correr e se

acostumam a isso. Longas jornadas comprometem o

bem-estar físico e mental, prejuízos que podem levar

a doenças físicas e emocionais”.

O segredo da tão esperada qualidade de vida

está no equilíbrio: profissional, social, saúde, espi-

ritual e familiar. Como diz a composição de Roberto

e Erasmo Carlos e, posteriormente também inter-

pretada pelo grupo Titãs, “É preciso saber viver”.

• Alimentar-se de forma saudável: “Comer como rainha no café da manhã, como princesa no almoço e como mendigo à noite”, segundo Kofhiro Otoni.

• Ter vida afetiva satisfatória (família, amigos, colegas).• Analisar itens de consu mo: será realmente necessário

trocar de celular ou de carro?• Aprender a dizer não. • Delegar mais ao time de trabalho. • Estabelecer agenda de compromissos culturais. “Comprar

ingressos para temporadas é uma boa dica”, sugere Vinicius Branco.

• Repensar seus sonhos. Estão distantes? Encurte-os. • Ajudar mais o próximo com tempo e trabalho e não com

dinheiro. “Realizar uma atividade pro bono por ano. É compensador”, garante Mário Shingaki.

• Fazer curso sobre assuntos que não estão relacionados à sua profissão. Aumentar o repertório em outras áreas do conhecimento oxigena a rotina e contribui para a criatividade.

• Lutar pela felicidade de quem você ama, sem egoísmo.

Trilha da longevidade

A comunidade médica, de forma uníssona, recomenda a prática regular de exercícios físicos. É notório que a atividade libera endorfina, que gera bem-estar. Além disso, há outras dicas práticas e realistas que podem ajudar no aperfeiçoamento da qualidade de vida:

f

O segredo da qualidade de vida está no equilíbrio: profissional,

social, saúde, espiritual e

familiar

53março 2014 financeiro

Page 54: Financeiro Ed 85

54 financeiro março 2014

Page 55: Financeiro Ed 85

O mercado de crédito brasileiro

está em foco devido à sua alta ex-

pansão nos últimos anos. Principal-

mente, após a crise de 2008, quando

o estímulo ao crédito foi utilizado pelo

governo como medida de resgate ou

fortalecimento da economia frente às

ameaças externas.

Nota-se que o crescimento da car-

teira das pessoas físicas (PF) foi supe-

rior ao das pessoas jurídicas (PJ) nos

anos de 2009 e 2010, considerando-se

as medidas de estímulo à demanda e

a desaceleração das atividades em-

presariais em decorrência do cenário

internacional pessimista. Porém, com

um cenário já mais otimista a partir de

2011 e 2012, ocorreu um maior cres-

cimento da carteira das PJ, como pode

ser visto no gráfico 2.

Contudo, ao analisar o período que

vai de dez/07 a dez/13 (gráfico 1),

percebe-se que há um maior cresci-

mento da carteira de PF, passando de

R$ 432,4 bilhões para R$ 1,25 trilhão,

ou seja, um crescimento real de 108%.

Já a carteira de PJ passou de R$ 511,5

bilhões para R$ 1,46 trilhão, cresci-

mento de 105%.

Há, também, de se levar em con-

sideração o crescimento total da car-

teira, que passou de R$ 944 bilhões

em dez/07 para R$ 2,7 trilhões em

dez/13, o que representa um cresci-

mento real de 106%. Porém, mesmo

com esse crescimento, a relação cré-

dito/PIB brasileira, de 68%, ainda é

inferior ao de países como Espanha,

Alemanha, Estados Unidos e China que

apresentam, todos, relações crédito/

PIB superiores a 100% em 2012, se-

gundo dados do WorldBank.

Também se notam menores índices

de crescimento do mercado de crédito

nos anos de 2012 e 2013, sendo 2013 o

ano com menores índices para as car-

teiras de PF e PJ. Isso remete a uma

indicação do mercado, uma vez que o

governo manifestou preocupação com

o fechamento fiscal dos bancos públi-

cos. Dessa forma, essas instituições,

que foram vitais para a expansão do

mercado de crédito, passariam a ter

uma atuação mais conservadora no

mercado, levando, talvez, a uma retra-

ção no mercado de crédito.

Incertezas ou oportunidades

no mercado de crédito brasileiro

Por Prof. Dr. Alberto Borges Matias, com colaboração de João Gabriel Sehn

Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ

bancodedadosinepad

Foto

: Div

ulga

ção

55março 2014 financeiro

Page 56: Financeiro Ed 85

bancodedadosinepad

Agora, com o foco para o crédito pessoal, percebe-se uma evolução de 112% na car-

teira total entre dez/07 e dez/13, passando de R$ 88 bilhões para R$ 319 bilhões. Cresci-

mento, em suma, devido à expansão do consignado, que apresentou 133% de crescimento

real no seu volume no mesmo período, passando de R$ 54 bilhões para R$ 222 bilhões. Já

o crédito pessoal não consignado apresentou variação mais modesta, de 76%, passando

de R$ 35 bilhões para R$ 98 bilhões.

Um bom reflexo dessa expansão do crédito é o maior acesso a linhas de crédito por

parte dos consumidores, assim tendo reflexo nos indicadores de endividamento das famí-

lias. Nota-se que os níveis de endividamento, quando considerado o crédito habitacional,

passaram de 29,2% em nov/07 para 45,5% em nov/13. Já quando é desconsiderado o

crédito habitacional, os níveis são menores, passando de 25,2% para 30% no mesmo pe-

ríodo. Nota-se que o crescimento da série com o crédito habitacional é de 16,3 p.p., sendo,

Elaborado pelo Centro de Pesquisas do INEPAD - Núcleo CEPEFIN

Elaboração:Alberto Borges Matias – Diretor Presidente do INEPAD. Professor titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto. Livre docente em Finanças, atuando nos programas de graduação, pós-graduação e MBAs da Universidade

Apoio:João Gabriel Sehn – Pesquisador do Centro de Pesquisas do INEPAD – Núcleo CEPEFIN. Graduando em Economia Empresarial e Controladoria pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no Campus de Ribeirão Preto

Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ

Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ

56 financeiro março 2014

Page 57: Financeiro Ed 85

então, maior que o crescimento de 4,8 p.p. da série que exclui o crédito habitacional. Com

isso percebe-se um perfil positivo do endividamento, com crescimento do crédito voltado

para a aquisição da casa própria, por exemplo.

Já no lado da oferta, o reflexo da expansão de crédito está no crescimento das vendas

(gráfico 5). O índice de volume de vendas no varejo passou de 103,2 em dez/07 para 150,1

em dez/13. Vale ressaltar que os níveis de dezembro são sazonais devido às compras de

fim de ano. Porém, mesmo as médias anuais aumentaram bastante, passando de 73,2 em

2007 para 113 em 2013.

Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ

Gráfico 1 – Saldo das Carteiras de PF e PJ

Também se notam menores

índices de crescimento do mercado

de crédito nos anos de

2012 e 2013, sendo 2013 o ano com

menores índices para as carteiras de PF e PJ

f

57março 2014 financeiro

Page 58: Financeiro Ed 85

bancodedadosinepad

Taxas Médias: geralDATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.

dez/12 18,0 -0,9 6,5 -0,1 11,5 -0,8jan/13 18,6 0,6 6,4 -0,1 12,2 0,7fev/13 18,7 0,1 6,7 0,3 12,0 -0,2mar/13 18,5 -0,2 6,8 0,1 11,7 -0,3abr/13 18,5 0,0 6,8 0,0 11,7 0,0mai/13 18,1 -0,4 6,9 0,1 11,2 -0,5jun/13 18,5 0,4 7,6 0,7 10,9 -0,3jul/13 19,1 0,6 7,7 0,1 11,4 0,5ago/13 19,3 0,2 8,0 0,3 11,3 -0,1set/13 19,5 0,2 8,2 0,2 11,3 0,0out/13 19,8 0,3 8,2 0,0 11,6 0,3nov/13 20,0 0,2 8,5 0,3 11,5 -0,1dez/13 19,7 -0,3 8,6 0,1 11,1 -0,4

Variação dez-dez

1,7 2,1 -0,4

Fonte: BC / INEPAD

DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.dez/12 24,3 -0,8 6,6 -0,2 17,7 -0,6jan/13 24,7 0,4 6,7 0,1 18,0 0,3fev/13 24,9 0,2 7,0 0,3 17,9 -0,1mar/13 24,5 -0,4 7,1 0,1 17,4 -0,5abr/13 24,3 -0,2 7,0 -0,1 17,3 -0,1mai/13 24,0 -0,3 7,1 0,1 16,9 -0,4jun/13 24,2 0,2 8,0 0,9 16,2 -0,7jul/13 25,1 0,9 8,2 0,2 16,9 0,7ago/13 25,2 0,1 8,6 0,4 16,6 -0,3set/13 25,6 0,4 8,8 0,2 16,8 0,2out/13 26,2 0,6 8,8 0,0 17,4 0,6nov/13 26,1 -0,1 9,1 0,3 17,0 -0,4dez/13 25,6 -0,5 9,2 0,1 16,4 -0,6

Variação dez-dez

Taxas Médias: Pessoa física

1,3 2,6 -1,3

Fonte: BC / INEPAD

DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.dez/12 13,3 -0,9 6,3 -0,1 7,0 -0,8jan/13 14,0 0,7 6,2 -0,1 7,8 0,8fev/13 14,0 0,0 6,4 0,2 7,6 -0,2mar/13 14,0 0,0 6,5 0,1 7,5 -0,1abr/13 14,0 0,0 6,6 0,1 7,4 -0,1mai/13 13,5 -0,5 6,7 0,1 6,8 -0,6jun/13 14,1 0,6 7,3 0,6 6,8 0,0jul/13 14,4 0,3 7,3 0,0 7,1 0,3ago/13 14,7 0,3 7,5 0,2 7,2 0,1set/13 14,7 0,0 7,7 0,2 7,0 -0,2out/13 14,8 0,1 7,8 0,1 7,0 0,0nov/13 15,2 0,4 8,1 0,3 7,1 0,1dez/13 15,1 -0,1 8,2 0,1 6,9 -0,2

Variação dez-dez

Taxas Médias: Pessoa física

1,8 1,9 -0,1

Fonte: BC / INEPAD

58 financeiro março 2014

Page 59: Financeiro Ed 85

Consignados: saldo de operações de crédito

Fonte: BC / INEPAD

dez/12 90.225 116.039 16.244 56.595 188.878 279.103 24,5 36,9 12,4 jan/13 91.079 117.713 16.391 58.062 192.166 283.245 24,5 37,3 12,8 fev/13 91.627 119.680 16.535 59.219 195.434 287.061 24,7 37,9 13,2 mar/13 92.940 121.674 16.811 60.356 198.841 291.781 24,6 37,2 12,6 abr/13 94.042 124.091 16.964 61.412 202.467 296.509 24,3 36,8 12,5 mai/13 94.904 126.450 17.223 62.706 206.379 301.283 24,2 36,7 12,5 jun/13 95.634 128.603 17.401 63.386 209.390 305.024 24,2 38,0 13,8 jul/13 95.736 130.421 17.504 64.181 212.106 307.842 24,4 39,8 15,4

ago/13 96.486 132.123 17.727 65.102 214.952 311.438 24,5 39,7 15,2 set/13 97.579 133.439 17.860 65.536 216.835 314.414 24,3 40,3 16,0 out/13 98.605 134.936 17.950 65.893 218.779 317.384 24,6 42,2 17,6 nov/13 99 391 136 349 17 965 66 314 220 628 320 019 24,5 41,7 17,2 dez/13 97 614 137 157 17 941 66 743 221 841 319 455 24,4 41,3 16,9

Mês/Ano Não consignado Consignado

TotalConsignado Crédito

PessoalDiferença

Crédito pessoal Taxa de Juros %a.a.

crédito consignado (R$ milhões)

59março 2014 financeiro

Page 60: Financeiro Ed 85

bancodedadosinepad

dez/12 18.288 -8,4 126.614 6,0 21.480 2,4 90.225 -0,9 188.879 0,6 279.104 0,1

jan/13 20.046 9,6 126.273 -0,3 21.551 0,3 91.079 0,9 192.166 1,7 283.245 1,5

fev/13 20.800 3,8 122.107 -3,3 21.562 0,1 91.627 0,6 195.434 1,7 287.061 1,3

mar/13 20.244 -2,7 122.141 0,0 21.609 0,2 92.916 1,4 198.825 1,7 291.741 1,6

abr/13 21.220 4,8 123.598 1,2 21.662 0,2 93.944 1,1 202.469 1,8 296.412 1,6

mai/13 21.118 -0,5 126.433 2,3 21.773 0,5 94.945 1,1 206.309 1,9 301.254 1,6

jun/13 20.478 -3,0 125.372 -0,8 21.764 0,0 95.663 0,8 209.304 1,5 304.967 1,2

jul/13 20.962 2,4 129.369 3,2 21.721 -0,2 95.736 0,1 212.106 1,3 307.842 0,9

ago/13 21.086 0,6 130.019 0,5 21.739 0,1 96.787 1,1 214.728 1,2 311.515 1,2

set/13 22.025 4,5 131.437 1,1 21.558 -0,8 97.579 0,8 216.835 1,0 314.414 0,9

out/13 22.058 0,1 133.682 1,7 21.500 -0,3 98.605 1,1 218.779 0,9 317.384 0,9

nov/13 21.244 -3,7 135.236 1,2 21.416 -0,4 99.391 0,8 220.628 0,8 320.019 0,8

dez/13 20.154 -5,1 144.738 7,0 21.195 -1,0 97.614 -1,8 221.842 0,6 319.456 -0,2

MÊS

/ A

NO

CHEQUE ESPECIAL

VARIAÇÃOEM %

CARTÃO DE CRÉDITO

VARIAÇÃOEM %

VARIAÇÃOEM %

Crédito pessoal não consignado

Variação em %

Crédito pesso-al consignado

total

Variação em %

TOTAL

VAR

IAÇ

ÃO

EM %

CRÉDITO PESSOALCRÉDITO PESSOAL NÃO CONSIGNADO VINCULADO À

DÍVIDA

Saldo da carteira de crédito - pessoa físicarecursos livres - (R$ milhões)

dez/12 193.215 1,3 10.450 2,8 203.665 1,4 17.913 -6,1 1.673 -0,7 23.870 0,6

jan/13 193.474 0,1 10.494 0,4 203.968 0,1 16.762 -6,4 1.637 -2,2 24.053 0,8

fev/13 192.763 -0,4 10.422 -0,7 203.185 -0,4 15.738 -6,1 1.650 0,8 24.635 2,4

mar/13 192.795 0,0 10.430 0,1 203.225 0,0 14.746 -6,3 1.634 -1,0 25.032 1,6

abr/13 192.490 -0,2 10.498 0,7 202.988 -0,1 13.732 -6,9 1.590 -2,7 25.941 3,6

mai/13 192.060 -0,2 10.657 1,5 202.717 -0,1 12.809 -6,7 1.583 -0,4 25.923 -0,1

jun/13 191.979 0,0 10.804 1,4 202.783 0,0 12.040 -6,0 1.587 0,3 26.250 1,3

jul/13 193.946 1,0 10.879 0,7 204.825 1,0 11.167 -7,3 1.525 -3,9 26.279 0,9

ago/13 194.008 0,0 11.070 1,8 205.078 0,1 10.410 -6,8 1.553 1,8 26.417 0,5

set/13 193.106 -0,5 10.923 -1,3 204.029 -0,5 9.724 -6,6 1.538 -1,0 25.700 -2,7

out/13 193.026 0,0 11.107 1,7 204.133 0,1 9.064 -6,8 1.524 -0,9 25.167 -2,1

nov/13 193.078 0,0 11.168 0,5 204.246 0,1 8.498 -6,2 1.575 3,3 25.699 2,1

dez/13 192.816 -0,1 11.421 2,3 204.237 0,0 7.906 -7,0 1.550 -1,6 25.988 1,1

MÊS

/ A

NO

VeículosVariação

em % Outros bens Variação em %

OUTROS CRÉDITOS

LIVRES

VAR

IAÇ

ÃO

EM %

AQUISIÇÃO

TOTALVARIAÇÃO

EM %VARIAÇÃO

EM %

VAR

IAÇ

ÃO

EM %

ARREN-DAMENTO MERCAN-

TIL

DESCONTO DE

CHEQUES

Saldo da carteira de crédito - pessoa física

Saldo da carteira de crédito - pessoa física

recursos livres - (R$ milhões)

recursos direcionados - (R$ milhões)RECURSOS LIVRES - (R$ Milhões)MÊS /

ANOCRÉDITO RU-RAL TOTAL

VARIAÇÃO EM %

FINANC. IMOBILI-ÁRIO TOTAL

VARIAÇÃO EM %

FINANC. RECUR-SOS DO BNDES

VARIAÇÃO EM %

MICROCRÉDI-TO TOTAL

VARIAÇÃO EM %

OUTROS CRÉDITOS DIRECIONADOS

VARIAÇÃO EM %

dez/12 90.655 4,9 255.367 2,7 29.172 2,5 3.798 6,4 4.174 5,0jan/13 90.480 -0,2 261.344 2,3 30.221 3,6 3.823 0,7 3.937 -5,7fev/13 90.964 0,5 266.577 2,0 31.156 3,1 3.824 0,0 4.039 2,6mar/13 92.705 1,9 273.917 2,8 32.146 3,2 3.879 1,4 4.454 10,3abr/13 94.192 1,6 281.343 2,7 32.991 2,6 3.936 1,5 4.491 0,8mai/13 97.014 3,0 289.652 3,0 32.839 -0,5 4.027 2,3 4.573 1,8jun/13 101.736 4,9 298.396 3,0 33.119 0,9 4.170 3,6 4.755 4,0jul/13 99.448 -2,2 306.493 2,7 33.527 1,2 4.116 -1,3 5.109 7,4ago/13 103.181 3,8 314.896 2,7 34.086 1,7 4.158 1,0 5.314 4,0set/13 105.950 2,7 319.441 1,4 34.504 1,2 4.188 0,7 6.074 14,3out/13 108.036 2,0 326.403 2,2 35.026 1,5 4.423 5,6 6.169 1,6nov/13 110.966 2,7 333.878 2,3 35.688 1,9 4.873 10,2 6.343 2,8dez/13 115.354 4,0 341.466 2,3 37.149 4,1 5.395 10,7 6.708 5,8

Font

e: B

C /

INEP

AD

Font

e: B

C /

INEP

AD

Font

e: B

C /

INEP

AD

Fonte: BC / INEPAD

60 financeiro março 2014

Page 61: Financeiro Ed 85

Gráfico do crédito pessoal

dez/12 271.628 10.811 3,98% 190.167 16.012 8,42% 9.794 672 6,86%

jan/13 275.565 12.097 4,39% 190.419 15.843 8,32% 9.982 732 7,33%

fev/13 278.776 12.155 4,36% 190.778 16.064 8,42% 10.162 802 7,89%

mar/13 279.104 12.141 4,35% 193.215 17.351 8,98% 10.450 874 8,36%

abr/13 283.245 12.774 4,51% 193.474 16.736 8,65% 10.494 855 8,15%

mai/13 287.061 11.655 4,06% 192.763 16.539 8,58% 10.422 810 7,77%

jun/13 291.741 11.465 3,93% 192.795 15.925 8,26% 10.430 787 7,55%

jul/13 296.412 11.797 3,98% 192.490 15.707 8,16% 10.498 785 7,48%

ago/13 301.254 11.719 3,89% 192.060 15.000 7,81% 10.657 764 7,17%

set/13 304.967 12.656 4,15% 191.979 15.704 8,18% 10.804 756 7,00%

out/13 307.842 12.375 4,02% 193.946 15.768 8,13% 10.879 780 7,17%

nov/13 311.515 11.869 3,81% 194.008 15.424 7,95% 11.070 782 7,06%

dez/13 314.414 13.425 4,27% 193.106 14.946 7,74% 10.923 720 6,59%

MÊS

/ A

NO

% sobre saldo da carteira

% sobre saldo da carteira

% sobre saldo da carteira

Com atraso de 15 a 90 dias

Com atraso de 15 a 90 dias

Com atraso de 15 a 90 diasSaldo total Saldo total Saldo total

CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE OUTROS BENSSOAL

Saldo da carteira de crédito - pessoa físicaSaldo (R$ milhões) e percentual (%) da carteira de crédito com recursos livres PF - Total e com atraso entre 15 e 90 dias

Data Saldo Taxa de Jurosjun/07 59.085 51,06jul/07 61.639 50,61

ago/07 63.483 49,89set/07 64.990 49,43out/07 66.842 48,88nov/07 67.089 46,75dez/07 68.259 45,80jan/08 69.758 53,08fev/08 71.083 52,59mar/08 72.900 50,48abr/08 74.510 50,60mai/08 75.967 48,39jun/08 76.744 51,39jul/08 77.987 53,59

ago/08 79.161 54,49set/08 80.137 56,31out/08 81.916 57,42nov/08 81.761 59,88dez/08 82.853 60,44jan/09 83.203 56,51fev/09 81.393 54,49mar/09 83.665 50,84abr/09 87.384 48,78mai/09 89.592 46,62jun/09 91.998 45,64jul/09 94.475 44,78

Data Saldo Taxa de Jurosago/09 97.297 44,29set/09 99.518 44,71out/09 101.735 45,74nov/09 103.450 43,64dez/09 107.283 44,35jan/10 109.248 44,83fev/10 111.396 43,81mar/10 115.128 42,69abr/10 117.580 42,87mai/10 119.875 43,04jun/10 121.546 41,97jul/10 123.631 42,21

ago/10 126.750 41,96set/10 128.691 41,63out/10 131.057 43,55nov/10 133.419 41,99dez/10 136.312 44,11jan/11 139.246 48,32fev/11 141.840 47,96mar/11 142.150 43,01abr/11 143.935 44,34mai/11 145.738 44,56jun/11 147.892 44,52jul/11 150.587 45,01

ago/11 154.027 44,52set/11 155.626 44,64

Data Saldo Taxa de Jurosout/11 157.277 45,34nov/11 159.117 43,64dez/11 159.349 42,4jan/12 161.858 44,8fev/12 164.769 45,2mar/12 167.349 43,9abr/12 170.256 41,4mai/12 174.031 39,3jun/12 177.161 38,2jul/12 179.884 38,6

ago/12 183.040 38set/12 182.506 37,7out/12 185.434 37,8nov/12 187.712 37,1dez/12 188.879 36,9jan/13 192.166 37,3fev/13 195.434 37,9mar/13 198.825 37,2abr/13 202.469 36,8 mai/13 206.309 36,7 jun/13 209.304 38,1 jul/13 212.106 39,8

ago/13 214.728 39,7 set/13 216.815 40,4 out/13 218.958 42,2 nov/13 220.628 41,7 dez/13 221.842 41,3

Fonte: BC / INEPAD

Fonte: BC / INEPAD

61março 2014 financeiro

Page 62: Financeiro Ed 85

bancodedadosinepad

dez/12 188.879 2,65 -0,01 36,90 -0,20 193.215 1,51 -0,05 19,75 -0,72 10.450 4,74 0,17 74,36 3,42

jan/13 192.166 2,68 0,02 37,30 0,40 193.474 1,57 0,05 20,53 0,78 10.494 4,55 -0,19 70,57 -3,79

fev/13 195.434 2,71 0,04 37,90 0,60 192.763 1,56 0,00 20,46 -0,07 10.422 4,49 -0,07 69,30 -1,27

mar/13 198.825 2,67 -0,04 37,20 -0,70 192.795 1,51 -0,05 19,73 -0,73 10.430 4,45 -0,03 68,63 -0,67

abr/13 202.469 2,65 -0,02 36,80 -0,40 192.500 1,53 0,01 19,92 0,19 10.503 4,43 -0,02 68,25 -0,38

mai/13 206.309 2,64 -0,01 36,70 -0,10 192.060 1,51 -0,01 19,73 -0,19 10.657 4,32 -0,11 66,20 -2,05

jun/13 209.304 2,72 0,08 38,00 1,30 191.979 1,49 -0,02 19,47 -0,26 10.804 4,33 0,01 66,40 0,20

jul/13 212.106 2,83 0,11 39,80 1,80 193.946 1,55 0,06 20,28 0,81 10.879 4,39 0,06 67,49 1,09

ago/13 214.728 2,83 -0,01 39,70 -0,10 194.008 1,60 0,04 20,92 0,64 11.070 4,39 0,00 67,55 0,06

set/13 314.414 2,86 0,04 40,34 0,64 193.106 1,64 0,05 21,60 0,68 10.923 4,43 0,03 68,17 0,62

out/13 317.384 2,98 0,11 42,23 1,89 193.026 1,59 -0,05 20,83 -0,77 11.107 4,58 0,16 71,19 3,02

nov/13 320.019 2,95 -0,03 41,72 -0,51 193.078 1,62 0,03 21,28 0,45 11.168 4,65 0,07 72,57 1,38

dez/13 319.456 2,92 -0,02 41,32 -0,40 192.816 1,62 0,00 21,29 0,01 11.421 4,93 0,28 78,13 5,56

MÊS

/ A

NO

Saldo total

Saldo total

Saldo total

R$ Milhões R$ Milhões R$ Milhões% am % am % am% aa % aa % aaVarição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Varição p.p

Taxa de juros Taxa de juros Taxa de juros

CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE BENS - VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE BENS - OUTROS

Juros

Atividade Econômica

Taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres - Pessoa Física

Fonte: BC / INEPAD

Fonte: BC / INEPAD

DATA

"Taxa da Uti-lização

da Capacidade Instalada"

Var. p.p. DATA

"Índice de Produção Física

Média Móvel Trimestral"

Var. %

dez/12 81,7 -1,20 dez/12 125,91 -0,25%jan/13 83,1 1,40 jan/13 127,12 0,96%fev/13 82,7 -0,40 fev/13 127,62 0,39%mar/13 82,4 -0,30 mar/13 128,0 0,31%abr/13 83,0 0,60 abr/13 127,74 -0,22%mai/13 82,3 -0,70 mai/13 127,87 0,10%jun/13 82,3 0,00 jun/13 128,39 0,41%jul/13 82,3 0,00 jul/13 127,38 -0,79%ago/13 82,1 -0,20 ago/13 127,26 -0,09%set/13 81,9 -0,20 set/13 126,66 -0,47%out/13 82,1 0,20 out/13 127,06 0,32%nov/13 81,9 -0,2 nov/13 127,17 0,09%dez/13 81,4 -0,5 dez/13 125,6 -1,23%

Variação Dez-Dez

-0,3 Variação Dez-Dez

-0,31

62 financeiro março 2014

Page 63: Financeiro Ed 85

Anfavea

Rendimento

Produção - Automóveis de Passageiros, Mistos, Veículos Comerciais, Leves e Pesados (em unidades)

Taxa de Desemprego (%)

Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido (R$)

DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.

jan/13 5,4% 0,8 6,4% 1,200fev/13 5,6% 0,2 6,5% 0,100mar/13 5,7% 0,1 6,3% -0,200abr/13 5,8% 0,1 6,70% 0,400mai/13 5,8% 0,0 6,30% -0,400jun/13 6,0% 0,2 6,60% 0,300jul/13 5,6% -0,4 5,80% -0,800

ago/13 5,3% -0,3 5,40% -0,400set/13 5,4% 0,1 5,80% 0,400out/13 5,2% -0,2 5,60% -0,200nov/13 4,6% -0,6 4,70% -0,900dez/13 4,30% -0,3 4,40% -0,3jan/14 4,80% 0,5 5,00% 0,6

DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.

jan/13 1,9 -0,10 3,5 -0,10fev/13 1,9 0,00 3,3 -0,20mar/13 2,0 0,10 3,7 0,40abr/13 2,0 0,00 3,7 0,00mai/13 2,0 0,00 3,6 -0,10jun/13 1,9 -0,10 3,5 -0,10jul/13 1,7 -0,20 3,2 -0,30

ago/13 1,8 0,10 3,4 0,20set/13 1,8 0,00 3,4 0,00out/13 1,9 0,10 3,5 0,10nov/13 1,9 0,00 3,4 -0,10dez/13 1,9 0,00 3,4 0,00jan/14 1,9 0,00 3,50 0,10

Data Produção Média Trim. Var. MensalVar. Mensal

(%)

jan/13 292.152 284.398 32.788 12,6%fev/13 240.796 264.104 -51.356 -17,6%mar/13 329.093 287.347 88.297 36,7%abr/13 352.355 307.415 23.262 7,1%mai/13 344.547 341.998 -7.808 -2,2%jun/13 323.880 340.261 -20.667 -6,0%jul/13 317.855 328.761 -6.025 -1,9%

ago/13 342.757 328.164 24.902 7,8%set/13 322.350 327.654 -20.407 -6,0%out/13 322.514 329.207 164 0,1%nov/13 293.189 312.684 -29.325 -9,1%dez/13 230.892 282.198 -62.297 -21,2%jan/14 237.491 253.857 6.599 2,9%

Variação Jan-Jan

-18,71%

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9%

10%

jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14

Taxa de Desemprego Inepad & IBGE

Brasil

São Paulo

Var. p.p.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido - Brasil e SP - (mil R$) Inepad &

IBGE

SP Brasil

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14

Uni

dade

s

Produção - Automóveis Leves e Pesados Inepad & Anfavea

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido - Brasil e SP - (mil R$) Inepad &

IBGE

SP Brasil

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9%

10%

jan/13 fev/13 mar/13 abr/13 mai/13 jun/13 jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 dez/13 jan/14

Taxa de Desemprego Inepad & IBGE

Brasil

São Paulo

Var. p.p.

63março 2014 financeiro

Page 64: Financeiro Ed 85

bancodedadosinepad

Exportação de Autoveículos montados (em unidades)

Licenciamento de Automóveis Nacionais e Importados - (em unidades)

Data Exportações Média Trim. Var. MensalVar. Mensal

(%)

jan/13 36.233 38.865 -4.961 -12,04%fev/13 31.743 41.194 -4.490 -12,39%mar/13 43.529 36.233 11.786 37,13%abr/13 52.771 31.743 9.242 21,23%mai/13 48.620 43.529 -4.151 -7,87%jun/13 49.444 52.771 824 1,69%jul/13 54.096 48.620 4.652 9,41%

ago/13 64.071 49.444 9.975 18,44%set/13 45.441 54.096 -18.630 -29,08%out/13 51.819 64.071 6.378 14,04%nov/13 45.234 45.441 -6.585 -12,71%dez/13 43.298 51.819 -1.936 -4,28%jan/14 25.779 45.234 -17.519 -40,46%

Variação Jan-Jan

-28,85%

Data Total 1000cc% no Total

+1000cc a 2000cc

% no total

+2000cc% no total

jan/13 231.343 97.475 42,1% 132.707 57,4% 1.161 0,5%fev/13 172.080 68.814 40,0% 102.250 59,4% 1.016 0,6%mar/13 209.797 85.683 40,8% 122.993 58,6% 1.121 0,5%abr/13 246.379 98.563 40,0% 146.066 59,3% 1.750 0,7%mai/13 232.974 93.970 40,3% 137.426 59,0% 1.578 0,7%jun/13 233.277 96.715 41,5% 135.298 58,0% 1.264 0,5%jul/13 250.685 99.838 39,8% 149.235 59,5% 1.612 0,6%

ago/13 242.479 94.689 39,1% 146.205 60,3% 1.585 0,7%set/13 222.155 85.937 38,7% 134.794 60,7% 1.424 0,6%out/13 239.590 89.442 37,3% 148.753 62,1% 1.395 0,6%nov/13 223.748 88.745 39,7% 133.291 59,6% 1.712 0,8%dez/13 259.211 101.512 39,2% 155.889 60,1% 1.810 0,7%jan/14 228.670 86.481 37,8% 140.452 61,42% 1.737 0,76%

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

Exportação de Autoveículos Montados Fonte: Inepad & Anfavea

Exportações Média Trimestral

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

180.000

Licenciamento por Categoria Automóveis Fonte: Inepad & Anfavea

1000cc +1000cc a 2000cc +2000cc

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

180.000

Licenciamento por Categoria Automóveis Fonte: Inepad & Anfavea

1000cc +1000cc a 2000cc +2000cc

Fonte: Anfavea / INEPAD

Fonte: Anfavea / INEPAD

Macro

64 financeiro março 2014

Page 65: Financeiro Ed 85

Previsões Econômicas

Ano de 2014"PIB Total

% a.a.""PIB Agropecuário

% a.a.""PIB Indústria

% a.a.""PIB Serviço

% a.a.""Produção Industrial

% a.a."

Previsão 21/02/2014 (2014/2014)

3,29 1,82 1,93 1,74 1,74

1 semana antes 14/02 3,44 1,89 1,95 1,81 1,85

1 mês antes 21/01/2014 2,88 1,87 1,97 1,99 2,09

Ano de 2014"Selic

Taxa anual""IGP-DI % a.a."

"IPCA % a.a."

"Taxa de Cãmbio R$ / US$"

"Saldo Comercial

US$ bilhões"

Previsão 21/02/2014 (2014/2014)

11,20 5,89 5,98 2,49 250,02

1 semana antes 14/02 11,21 5,81 5,92 2,49 249,97

1 mês antes 21/01/2014 10,83 5,93 6 2,47 252,98

65março 2014 financeiro

Page 66: Financeiro Ed 85

artigopalavrafinal

Com a divulgação pelo IBGE do crescimento de

2,3% do PIB em 2013, evidenciou-se o fim do ciclo

de crescimento liderado pelo consumo das famílias.

Atualmente, as famílias devem manter ritmo mais

moderado de consumo, deixando parte da propulsão

do PIB para ser realizada por investimento e expor-

tações. Também não será o consumo do governo que

poderá impulsionar significativamente o ritmo de

crescimento, dadas as crescentes restrições orça-

mentárias e fiscais que ele tem de normalizar. Tem

ocorrido gradual redução de oferta e demanda do

crédito à pessoa física, evidenciando um processo de

desalavancagem do crédito ao consumo.

No gráfico 1 pode-se verificar uma queda no rit-

mo de consumo no varejo e uma redução no crédito

total do Sistema Financeiro Nacional (pessoa jurídica

e pessoa física) expressivas em termos de redução

na demanda por crédito ao consumo.

Essa perda de robustez do consumo e, por con-

sequência, da demanda por crédito tem sido causada

por vários fatores: fim do ciclo de expansão da renda

real (salário mínimo maior, aumentos salariais ex-

pressivos, aumento da oferta de emprego, benefícios

de renda social e isenções tributárias que expandem

renda direta ou indiretamente); maior comprometi- Art

igo

envi

ado

em 2

8/2/

2014

Desalavancagemdo Crédito ao Consumo

mento da renda (ampliação acima do habitual no endivida-

mento, carga tributária crescente, novos hábitos de consu-

mo, sobretudo de maior utilização de serviços); e redução

do poder aquisitivo (aumento e persistência

de inflação elevada, com maior efeito para o

orçamento das famílias de baixa renda, dada

a diferente composição de sua cesta de con-

sumo).

O orçamento de muitas famílias não foi

capaz de suportar o conjunto de restrições

financeiras vis-à-vis à sua renda líquida,

resultando em crescimento expressivo da

inadimplência a partir de 2011. Como con-

sequência, desde 2012 tem havido intenso

esforço das famílias em buscar saídas para

a deterioração de suas finanças pessoais;

movimento acompanhado pelo sistema fi-

nanceiro nacional na busca de solução para

os extremamente endividados, inicialmente

na forma de mutirões de reestruturação de

dívida, depois diretamente nos bancos e fi-

nanceiras. Ocorreu também a utilização de

outras formas de financiamento de prazo

mais longo (crédito consignado, crédito pes-

soal com lastro imobiliário), além da maior

oferta de recursos pelos bancos públicos. Como resulta-

do desses esforços, a taxa de inadimplência tem recuado

substancialmente, como ilustra o gráfico 2.

Gráfico 1 - Evolução Crédito Total e Vendas ao Varejo

Gráfico 2 – Inadimplência Total Recursos Livres Pessoa Física

[email protected]

Por Nicola Tingas,Economista-chefe

da Acrefi

f

Por Nicola Tingas

66 financeiro março 2014

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67março 2014 financeiro

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