filosofia e religião 31.07.14
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Filosofia e Religião
RESUMO
Uma breve exploração da relação entre a Filosofia e a Religião, em particular
os conceitos de Heidegger.
Palavras-chave: Filosofia, teologia, religião, Deus, onto-teo-logia.
Introdução:
A relação histórica entre a filosofia e a religião é conturbada. No presente texto
apresento uma breve exploração dessa relação culminando no pensamento
heideggiano que trouxe uma nova interpretação propondo uma fusão onto-teo-
logica marcando a superação da metafísica tradicional, histórica.
Filosofia, o pensar racional do mundo, nasceu do afastamento das academias
gregas da crença nos deuses mitológicos. A busca de entender o mundo pela
razão sem o recurso do misterioso e a possibilidade de designar o inexplicável
à vontade dos deuses marcou o início de um diálogo, que por vezes
transformou se em guerra acirrada, entre a fé e a razão! Desde a antiguidade
o pendulo do pensamento filosófico, ora destaca a religiosidade (teísmo) ora o
secularismo (ateísmo), em cada era ele reflete a caminhada do homem na
busca pelo conhecimento de si mesmo e do mundo em que vive, e incluído
nessa caminhada é a busca do homem para um Deus, qualquer que seja seu
nome.
1. Um breve panorâmico histórico
A pesar da critica dos deuses, o conceito de um Deus (um ser supremo e
transcendental) está presente na filosofia antiga, notavelmente no pensamento
aristotélico. Na obra Metafísica, o filósofo desenvolve o pensamento a cerca do
primeiro motor, para ele “o motor imóvel, quer dizer, Deus, ou o ato puro que é
a causa de toda mudança e de todo devir no mundo, mas sem estar ele próprio
sujeito à mudança” (Metafísica III, 8) 1[1].
O pensamento da Idade Média é marcado pelo surgimento dos “monoteísmos
e encontro com a filosofia grega” 2[2]. A Europa ocidental, onde o cristianismo
dominou desde os dias do império romano, foi o palco do diálogo entre a
teologia e a filosofia marcado pelo neo-platoniso, a filosofia sendo considerada
1[1] LALANDE p.707.
2[2] Tele-aula Prof. Frederico Pieper – 24/02/2009
pelos Padres da Igreja como a serva da teologia. Esse encontro resultou numa
verdadeira fusão entre a filosofia e a teologia cristã, sacramentada nas obras
das Escolásticas, principalmente São Tomas de Aquino. O Ser Supremo de
Aristóteles tomou a roupagem do Deus do cristianismo.
A modernidade foi marcada pela secularização e um novo distanciamento entre
pensamento filosófico e a teologia. A razão e a fé mais uma vez ocuparam
espaços distintos e o Deus da filosofia não é mais o Deus divino, objeto de
adoração de culto do cristianismo, judaísmo ou islamismo, “é a causa como
causa sui. [...] A este Deus não pode o homem nem rezar nem sacrificar.” (Os
Pensadores – Heidegger – 1999, p.199).
2. Uma nova metafísica!
Hegel faz uma afirmação sobre a relação entre a Filosofia e a Religião capaz
de fazer os filósofos modernos virarem em seus túmulos, ele chega a declarar
que a filosofia e a teologia são a mesma coisa, ele considera a filosofia como
“teologia racional” – “Deus é o princípio de todas as coisas e o fim de todas as
coisas; (tudo) inicia em Deus e retorna para Deus. Deus é um e o único objeto
da filosofia [...] Assim, filosofia é teologia”. O desenvolvimento do conceito da
aproximação da filosofia e teologia é encontrado no pensamento do Heidegger.
De acordo com Heidegger, a filosofia e a religião em comum com as artes,
buscam por caminhos diferentes “as causas últimas” 3[3], ou seja, tem a
mesma finalidade.
A filosofia, como a arte e a religião, é afazer humano-além
humano de primeira e última importância. [...] a filosofia
situa-se necessariamente no esplendor da beleza e no
liminar do sagrado (Heidegger- 1930).4[4]
Na primeira etapa de sua vida profissional, principalmente no livro “Ser e
Tempo” Heidegger aparenta ateísmo, no segundo período o conceito é outro,
como enuncia Reginaldo José dos Santos Júnior.5[5]
Se a leitura de Ser e Tempo possibilitava uma
interpretação de Heidegger como um ateu, ou como
indiferente à questão de Deus, neste segundo período as
3[3] Tele-aula Prof. Frederico Pieper – 24/02/2009
4[4] Idem.
5[5] SANTOS – Deus na Filosofia de Heidegger
suas obras possibilitam outra interpretação. Nesses
textos, parece ser possível afirmar que Heidegger não
nega a existência de Deus, nem tampouco lhe é
indiferente. (p.2)
Heidegger de fato entende que o pensamento filosófico desde Platão nada
mais é de que uma onto-teo-logia a busca pelo Deus, o fundamento de todas
as coisas, seja esse Deus o primeiro motor imóvel de Aristóteles, a causa sui
do Kant ou até os humanistas em cujo pensamento o ser humano toma o lugar
de Deus. O pensamento heideggiano afasta da filosofia o Deus cristão que
dominava a filosofia na Idade Medieval e moral cristã que permeavam o
pensamento filosófico da modernidade, mesmo nas obras de filósofos que
negavam e propõe um retorno à busca pelo “ser”.
Conclusão:
Conturbada, colorida e viva a relação entre a Filosofia e a Religião oscila entre
o amor e o ódio, o respeito e desprezo, cada época determinando a natureza
do “Deus”, cada geração na busca da “causa última” para dar sentido à vida.
Referências Bibliográficas:
1. HEIDEGGER, Martin – Ser e Tempo
2. LALANDE, André – Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia – São Paulo,
Editora Martins Fontes 3ªed.1999.
3. Os Pensadores – Heidegger – São Paulo, Editora Nova Cultural Ltda, 1999.
4. SANTOS, José (Júnior) - Deus na Filosofia de Heidegger – disponível em
www.revistatheos.com.br/Artigos%20Anteriores/Artigo_01_02.pdf
5. Metafísica, Epistemologia e Linguagem – Frederico Pieper – Heidegger e o
“primeiro início” da filosofia– São Bernardo do Campo, UMESP – 2009.
Notas:
[1] LALANDE p.707.
[2] Tele-aula Prof. Frederico Pieper – 24/02/2009
[3] Tele-aula Prof. Frederico Pieper – 24/02/2009
[4] Idem.
[5] SANTOS – Deus na Filosofia de Heidegger