field report biodiversity survey kuando kubango april 2013 portuguese

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Abril de 2013 Esta publicação foi produzida pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Foi elaborada por Chemonics International Inc. Relatório de Viagem: Estudo da biodiversidade aquática no curso inferior dos rios Cuito e Cuando em Angola.

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Abril de 2013

Esta publicação foi produzida pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento

Internacional. Foi elaborada por Chemonics International Inc.

Relatório de Viagem: Estudo da biodiversidade

aquática no curso inferior dos r ios Cuito e Cuando em

Angola.

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Índice

Introdução 3

Métodos 5

Calendarização do Estudo 5

Locais do Estudo 5

Taxa de Amostragem 8

Resultados 9

Peixes 9

Herpetofauna 15

Crocodilos (Crocodylus niloticus) 20

Relatório Botânico 25

Pássaros 35

Libélulas e Zigópteros 377

Observações gerais 377

Ameaças observadas à biodiversidade 39

Rumo a seguir 400

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Southern African Regional Environmental Programme

Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 1

Sumário Executivo

O Programa Ambiental Regional da África Austral (SAREP) tem um objectivo estratégico de

melhorar a conservação e o uso sustentável dos recursos biológicos da Bacia do Rio Cubango-

Okavango. Este relatório dá os passos iniciais na ajuda à mitigação de uma ameaça crítica à

biodiversidade dentro do sistema, designadamente o Fraco Conhecimento da Situação, Extensão e

Factores Reguladores da Biodiversity dentro da Bacia (Ameaça Indirecta) (SAREP, 2012),

fornecendo informação acerca de alguma diversidade da fauna aquática da bacia do Cubango-

Okavango em Angola.

Este relatório fornece um resumo das conclusões iniciais do estudo, assim como das condições e

observações no terreno. Este estudo é o segundo da sua espécie organizado pelo Programa

Ambiental Regional da África Austral (SAREP), tendo o primeiro tido lugar em Maio de 2012. Os

resultados deste estudo inicial foram documentados por Brooks (2012). Os estudos são um projecto

de colaboração entre o SAREP e o Instituto da Biodiversidade do Ministério Angolano do

Ambiente (MINAMB) e o Instituto Nacional de Investigação Pesqueira do Ministério Angolano da

Agricultura (INIP). O estudo foi organizado pelo Dr Chris Brooks do SAREP e pela Drª Paula

Coelho, Directora da Direcção da biodiversidade do MINAMB. O estudo foi realizado por

especialistas das seguintes organizações com a ajuda dos seus congéneres angolanos dos referidos

Ministérios;

Professor Roger Bills & Nkosinathi Mazungula (Fish) - Southern African Institute of Aquatic

Biodiversity (SAIAB). Grahamstown, South Africa.

Werner Conradie (Herpetofauna) – Museu de Port Elizabeth, Bayworld. South Africa.

Timothy Harris - Royal Botanic Gardens Kew. London, UK & Frances Murray-Hudson (Plan-

tas) - Peter Smith University of Botsuana Herbarium (PSUB), Okavango Research Institute (ORI).

Maun, Botsuana.

Dr Sven Bourquin & Vincent Shacks (Crocodilos) – Programa de Monitorização dos Crocodilos

do Okavango. Maun, Botsuana

Mark Paxton (Pássaros)

Pessoal de Logística

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Southern African Regional Environmental Programme

Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 2

Simon Byron - Beagle Expeditions. Maun, Botsuana

O estudo teve lugar de 13 de Abril a 1 de Maio de 2013. Foi subdividido em duas fases, a primeira

das quais incluiu o curso inferior do rio Cuito e a segunda os ambientes terrestres em redor da

aldeia da Jamba, assim como o canal do rio Cuando. Estes estudos foram realizados para melhorar o

conhecimento básico das espécies e da saúde ecológica das recentemente proclamadas áreas

protegidas no canto sudeste do país. As áreas protegidas entre Mavinga e Luengue-Luiana cobrem

46 000 e 22 600 quilómetros quadrados, respectivamente. Estes dados serão usados na formulação

de quaisquer planos de gestão destes parques naturais e fornecerão dados de monitorização de linha

base valiosos para o futuro. As conclusões gerais do estudo indicaram que estas áreas objecto de

estudo foram negativamente afectadas pela longa guerra civil na região. Populações de herbíveros

de grande porte foram fortemente afectadas pela caça furtiva, e os que sobreviveram permanecem

muito desconfiados e tímidos em relação ao homem. A alteração de habitat na região parece

aumentar em virtude de mais pessoas estarem a deslocar-se para as aldeias e cidades maiores,

aumentando deste modo a procura de alimentos. A ameaça das minas continua a ser um desafio

nestas partes do país e as organizações de desminação prosseguem aí a sua actividade. O isolamento

total das aldeias nesta parte meridional de Angola prejudica actualmente o desenvolvimento da

área, mas existem todos os sinais de que a construção de novas estradas alcatroadas está em curso e

em rítmo acelerado na região.

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Southern African Regional Environmental Programme

Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 3

Introdução

No dia 14 de Novembro de 2011, Steve Johnson, Director do Programa Ambiental Regional da

África Austral (SAREP) assinou um Memorando de Entendimento (MoU) com a Ministra

Angolana do Ambiente (MINAMB), Maria de Fatima Monteiro Jardim e a Directora Nacional da

Biodiversidade do Ministério do Ambiente, Paula Francisco Coelho. A assinatura do MoU finalizou

os requisitos processuais da colaboração do SAREP com o MINAMB e o trabalho em conjunto no

planeamento do Estudo da Biodiversidade Aquática.

A necessidade do estudo da biodiversidade mereceu prioridade no seio do MoU como segundo

objectivo, após o fortalecimento de cooperação entre as partes. A justificação para tão elevado grau

de prioridade é clara ao abordar o Plano de Acção Nacional (PAN) de Angola para o Cubango-

Okavango, que preconiza, sob o objectivo 4, a necessidade de “Desenvolver um melhor

conhecimento e compreensão dos ecossistemas da bacia através da monitorização da

biodiversidade, gestão ambiental e programas de formação”, e no objectivo 11 define ainda a

actividade como: “Biodiversidade da Bacia conhecida e protegida graças à implementação de

pesquisa científica e acções de monitorização da biodiversidade e de formação”. A fraca situação do

conhecimento sobre a natureza e extensão da biodiversidade na parte angolana da bacia está bem

registada, considerando o seu elevado grau de preocupação com a Avaliação Preliminar da Ameaça

à Biodiversidade relativamente à bacia do Cubango-Okavango. A realização do estudo da

biodiversidade aquática ajuda, deste modo, a mitigar esta ameaça identificada e contribuir para as

necessidades expressas do Governo de Angola.

O primeiro estudo da biodiversidade da bacia hidrográfica superior de Angola indicou as diferenças

distintas entre os vários sistemas fluviais dentro da bacia. Estas diferenças exigem protocolos de

gestão e monitorização únicos, que ajudarão expectavelmente a proteger os recursos naturais, ao

mesmo tempo que permitirão ainda o desenvolvimento sustentado desta região. As várias ameaças à

biodiversidade local foram realçadas neste estudo, e é apenas através destes tipos de estudo

detalhado que o progresso exacto e a alteração da biodiversidade podem ser avaliados numa região.

O segundo estudo teve por objectivo a focalização nos afluentes médios-inferiores dos principais

sistemas fluviais que formam a bacia hidrográfica do Okavango. Os sistemas fluviais específicos

que constituiram o alvo do estudo são o Cuito (bacia hidrográfica do Okavango) e Cuando (bacia

hidrográfica dos rios Linyanti/ Zambeze). A intenção deste estudo foi a de igualmente estudar

alguns ambientes terrestres dos recentemente designados parques nacionais no canto sudeste de

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 4

Angola. A equipa focalizou-se nos ambientes aquáticos dos grandes sistemas fluviais, assim como

nos lagos de água doce alimentados pelas chuvas da região. Alguns destes lagos tinham secado nas

secções meridionais, mas muitos deles ainda conservavam água das chuvas de verão. Quer os lagos

secos quer os que estavam cheios proporcionaram uma reunião interessante de espécies.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 5

Métodos

Calendarização do Estudo

A calendarização das expedições de estudo da biodiversidade depende de uma série de diferentes

factores cuja avaliação é necessária antes de um estudo como este poder ser levado a cabo. Estes

factores vão desde o planeamento logístico à emissão de vistos de viagem, actividades das espécies,

acesso aos locais, condições atmosféricas e disponibilidade de especialistas. O primeiro estudo da

biodiversidade aquática foi realizado em Maio de 2012, e enquanto este permitiu a recolha de

espécies da estação seca e níveis inferiores de água, impôs as suas próprias restrições em termos de

captura de répteis, espécies de anfíbios e libélulas. A calendarização deste estudo tomou estes

factores em consideração e tentou oferecer melhores condições de estudo da herpetofauna e

libélulas. Os constrangimentos associados à realização de um estudo em Abril seriam os elevados

níveis de água nos canais fluviais, o que tornaria difícil a captura de peixes e crocodilos.

Locais do Estudo

A intenção deste estudo foi levar a cabo a identificação básica e a informação acerca da situação das

espécies do curso inferior do rio Cuito e das recentemente proclamadas áreas protegidas no canto

sudeste do país. Os locais de estudo foram seleccionados oportunisticamente de acordo com a altura

e condições da viagem em qualquer dia particular. Todos os locais foram seleccionados de acordo

com a disponibilidade dos locais ideais de estudo para todos os especialistas. Para cada um dos

locais de estudo, foi igualmente importante a existência de um acampamento-base adequado com

boas sombras, terreno sólido, acesso a água potável e numa área sem risco de minas de guerra. A

expedição foi subdividida em duas fases, a primeira consistiu no estudo do curso inferior do rio

Cuito entre as aldeias de Rito no norte e Dirico no sul. O pessoal também passou duas noites no rio

Cubango próximo da aldeia de Calai e levou a cabo um estudo também nestes locais. Os locais de

estudo estão indicados no mapa em baixo e foram numerados consecutivamente segundo a data de

cada estudo. A segunda fase da expedição foi um estudo no rio Cuando, incluindo alguns ambientes

terrestres e aquáticos de água doce na área de Luiana.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 6

Figura 1. Acampamento e principais locais de estudo ao longo dos rios Cuito e Cuando.

Os locais 1 - 5 constituem a primeira fase do curso inferior do Cuito da expedição e os locais 6-9

constituem a fase do Cuando da expedição. A primeira fase teve lugar no período 13 - 24 de Abril e

a segunda no período 25 de Abril- 1 de Maio de 2013.

Estudo do Curso Inferior do Rio Cuito

O rio Cuito é permanente e profundo, com canais claros e abertos. O habitat circundante do canal

inclui juncos Phragmites e margens emergentes dos canais. A natureza sinuosa do rio corta

ocasionalmente para terra firme, que depois apresenta uma mistura de habitat de bosques na

margem do canal principal do rio. Pequenas ilhas com palmeiras (Phoenix reclinata) também

podem ser encontradas salpicando as planícies alagadas adjacentes do rio. O curso inferior do rio

Cuito é principalmente alimentado pelas represas a montante dos sistemas fluviais dos rios Cuito e

Longa, mas um número de afluentes mais pequenos recarregam esta secção inferior do rio a juzante

da confluência dos rios Longa-Cuito. Estes afluentes mais pequenos alimentam-se geralmente da

margem oriental do Cuito onde uma suave escarpa pode ser encontrada. Estes canais de alimentação

são aparentemente sazonais e recarregados pela água das chuvas na captação inferior deste sistema.

O curso inferior do Cuito é também caracterizado por um número de rápidos rochosos formados por

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 7

salientes afloramentos rochosos que atravessam este canal fluvial. Estes rápidos criam barreiras

parciais ao longo do rio e oferecem um habitat aquático único para muitas espécies. Onde estes

rápidos eram acessíveis, formavam pontos focais para o nosso estudo das espécies.

Figura 2. Rápidos em Mpupano no curso inferior do Rio Cuito.

O rio Cuito transborda para as planícies adjacentes após as chuvas de verão. Estas planícies

alagadas são extensas em algumas partes e aumentam dramaticamente o tamanho deste habitat

aquático. O acesso a estas planícies é extremamente difícil em virtude de serem completamente

cobertas de vegetação e de pouca profundidade para um barco a motor, e o acesso a pé não é seguro

devido à presença de crocodilos e hipopótamos na área.

Figura 3.Planícies alagadas sazonais adjacentes ao canal principal do rio

Estudo do Curso Inferior do Rio Cuando

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 8

O curso inferior do rio Cuando é bastante estreito e vagaroso ladeado por juncos Phragmites e

margens salientes do canal. Este sistema fluvial do “vale” aparenta ser uma planície alagada muito

extensa (até 5km de largura em alguns pontos), constituída por um número de correntes estreitas

que provavelmente variam em força e profundidade consoante os níveis de água aumentam ou

diminuem. A carga de sedimentos deste rio contribui muito provavelmente e em grande medida

para a dinâmica do fluxo destes canais mais pequenos. O acesso ao canal principal só é possível em

alguns locais específicos onde o rio corta para terra firme na margem ocidental. O rio Cuando é

alimentado principalmente pelo sistema fluvial do Luiana, cuja bacia hidrográfica se situa na parte

central de Angola. Uma área mais pequena da represa do lado da Zâmbia alimenta o Cuando

próximo da aldeia de Luiana. A partir deste ponto, o Cuando corre como um único rio através deste

sistema muito largo de planície alagada.

Taxa de Amostragem

O estudo obdeceu a um protocolo muito semelhante ao primeiro estudo da biodiversidade levado a

cabo em Maio de 2012. A intenção deste estudo foi a concentração na recolha de amostras nos rios

Cuito e Cuando com vista a compreender a ecologia de linha base destes rios e, deste modo, avaliar

a saúde da bacia hidrográfica do Okavango e das áreas circundantes protegidas. A taxa coberta

neste estudo não só nos forneceu listas de espécies muito detalhadas e dados adicionais da história

natural, mas permitiu também aos futuros gestores destas áreas avaliar a saúde ecológica no

presente. A calendarização destes estudos é essencial na medida em que fornece informação de

linha base ecológica do pós-guerra. Este estudo também representa o benefício acrescido de ter sido

realizado nos limites e dentro dos recentemente proclamados parques nacionais do sudeste de

Angola.

A taxa de amostragem também representa um forte grupo de espécies indicadoras que permitirá aos

estagiários avaliar a saúde ecológica geral da região. Este tipo de dados é igualmente essencial aos

futuros sistemas de monitorização, que um dia darão a oportunidade de dados comparativos a longo

prazo. A taxa de amostragem durante estes estudo incluiu:

Libélulas e Zigópteros

Pássaros

Crocodilos (Crocodylus niloticus)

Peixes

Herpetofauna (incluindo anfíbios, cobras, lagartos, gecko‟s e lagartos)

Plantas

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Resultados

Peixes

Professor Roger Bills – Instituto Sul-Africano da Biodiversidade Aquática (SAIAB)

Nkosinathi Mazungula – Instituto Sul-Africano da Biodiversidade Aquática (SAIAB)

Francisco Almeida - Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP)

Objectivos

O estudo de Maio de 2013 constitui a segunda visita ao sistema do Okavango em Angola sob a

coordenação do Programa Ambiental Regional da África Austral (SAREP). O principal objectivo

do estudo é expandir a cobertura geográfica do levantamento biológico de linha base da região a

fim de assistir no planeamento da utilização de recursos.

O estudo significou um esforço de cooperação entre o SAREP e o Instituto da Biodiversidade do

Ministério Angolano do Ambiente e o Instituto Nacional de Investigação Pesqueira do Ministério

da Agricultura. O estudo dos peixes foi levado a cabo por especialistas das seguintes organizações

com o apoio dos seus congéneres angolanos dos referidos MInistérios:

Roger Bills & Nkosinathi Mazungula (peixes) - The Sothern African Institute for Aquatic

Biodiversity (SAIAB), Grahamstown, SA; e

Francisco Almeida & Manuel Domingos, Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP),

Luanda, Angola.

Áreas e Locais de Recolha de Amostras

Os rios setentrionais do sistema do Okavango em Angola são extensos e correm de norte para sul,

dos quais os principais afluentes são o Cubango, Longa-Cuito e Cuando. As terras altas de Angola

são uma parte pouco conhecida do sistema do Okavango e uma região potencialmente fascinante

em virtude de o ambiente ser muito diferente do de altitude inferior e do sistema inclinado da

Namíbia e Botsuana. Em termos de carácter físico, os afluentes ocidentais do Okavango são

semelhantes a muitas correntes no curso superior do Zambeze no noroeste da Zâmbia.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 10

Durante o actual estudo, explorámos áreas limitadas dos cursos inferiores dos rios Cuito e Cuando

no sul de Angola próximo da Faixa do Caprivi da Namíbia. Os locais de estudo foram

seleccionados em grande medida com base na logística como, por exemplo, acessibilidade e

capacidade de recolha fácil de espécimes em múltiplos ambientes.

Figura 4. Locais de exemplares de peixes (Em cima à esquerda) no Rio Cuito, Mpupa. (Em cima à direita) Canal transbordante do

Cuito, Mpupa. (No Meio à esquerda) Margens do rio Cuito, perto de Rito. (No Meio à direita) Margens do Rio Cuito (barreiras à

prova de crocodilos erguidas por pastores). (Em baixo à esquerda) Lagoa Boafe, próximo da Jamba. (Em Baixo à direita) Rio

Cuando, próximo da Jamba.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 11

Conclusões e Comentários

A nossa impressão geral durante esta segunda expedição foi que a fauna piscícola dos cursos

inferiores dos Rios Cuito e Cuando era mais semelhante à das áreas meridionais do sistema do que a

dos exemplares capturados em 2012. As espécies apanhadas nos cursos inferiores do Cuito e

Cuando eram, na sua maioria, espécies conhecidas e descritas. Os especialistas em espécies de

cursos rochosos e das colecções da parte superior do Cubango de 2012 estavam ausentes, e os

especialistas das planícies alagadas de várias famílias dominaram as capturas. Havia poucas

espécies de particular interesse, das quais se dá conta adiante.

Diferenças óbvias na fauna das duas regiões são o enorme aumento do número de poeciliid

topminnows e o decréscimo de cyprinids e mormyrids nos sistemas inferiores. Havia uma maior

diversidade global na maior parte dos grupos no curso superior do rio, embora em muitos casos o

número de espécies fosse extremamente baixo. Certas famílias como, por exemplo, os kneriids e

mastacembelids, estavam ausentes das nossas colecções do cursos inferior do rio e muitas espécies

como, por exemplo, o Barbo, estavam ausentes no curso inferior do rio. Algumas ausências nas

capturas são provavelmente atribuídas às técnicas de captura de exemplares e apetrechos de pesca,

dado que as espécies como, por exemplo, os Mormyrus e algumas espécies de barbos, estão

disseminados no sistema.

Codificação por Barras. Ainda não enviámos o material de 2013 para codificação por barras (gene

CO1) tal como fizémos com as colecções de 2012. Os exemplares estão agora a ser preparados e

devem estar concluídos no final de 2013 e comparados com as amostras do curso superior do rio. O

interesse aqui consiste em verificar se existe alguma estrutura genética na população piscícola do

maior sistema do Okavango que indicaria barreiras ao movimento dos peixes

Poeciliids. Havia menos espécies de topminnows nos rios inferiores mas consideravelmente em

maior número, dominando a maior parte das colecções. De interesse taxonómico especial foi a

espécie Aplocheilichthys cf. johnstoni com uma banda horizontal larga de pigmentação. Esta

espécie está ausente do Okavango na Namíbia ou Botsuana e era abundante no curso superior dos

rios no ano transacto.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 12

Figura 5. Aplocheilichthys cf. johnstoni 'banda-larga'

Citharines – Distichodontidae. Poderá haver outras espécies capturadas no curso inferior do rio –

os padrões de côres parecem indicar este facto, embora seja igualmente possível que haja padrões

sexuais específicos. O código de barras ajudará a clarificar esta questão e confirmar o número de

espécies presentes. A diversidade global e abundância eram semelhantes às do curso superior do

rio.

Figura 6. (Left) Hemigrammocharax cf machadoi revelando uma variação na pigmentação. (À Direita) Provavelmente duas

espécies diferentes de Nannocharax cf. macropterus capturadas próximo de Mpupa.

Pescadas. Capturadas no ano transacto no curso superior do rio e em dois locais em 2013 nos

acampamentos de Rito e Mpupa. Os Labeobarbus codringtoni ocorrem desde o Okavango até

Kafue e são raros nas colecções dos museus. As recentes colecções de Angola são exemplares

valiosos e ajudarão, através do código de barras, a determinar se se trata, de facto, da mesma

espécie em toda a região superior do Zambeze.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 13

Figura 7. Labeobarbus codringtoni pescado no rio Cuito próximo de Rito.

Peixe-gato com boca-de-ventosa e guinchador. A identificação de todas as espécies Synodontis

continua a constituir um desafio. Em geral, a diversidade dos mochokid era inferior com menos

Chiloglanis, mas quase a mesma espécie e número de Synodontis. As espécies de padrões atraentes

do curso superior do rio estavam presentes mas eram raras. O código de barras será realizado em

todos os espécimes na tentativa de determinar o respectivo número e identidade. Outros exemplares

destas espécies serão essenciais para distinguir a sua taxonomia.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 14

Figura 8. Espécie Synodontis pescada durante o estudo.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 15

Pesca artesanal. Em virtude de estarmos concentrados no estudo da biodiversidade, o tempo não

nos permitiu procurar pescadores. A actividade da pesca foi raramente observada, mas os relatos

indicaram que os pescadores estavam activos nas lagoas das planícies alagadas durante a nossa

expedição. Os sinais dos métodos de pesca artesanal eram evidentes nas aldeias, mas indicaram que

estas eram actividades sazonais e de baixa intensidade. Porém, estes rios têm baixa condutividade e

fora dos períodos de cheias são sistemas fluviais relativamente pequenos de um único canal e, deste

modo, de produtividade limitada. É provável que com o aumento da pressão sobre os recursos

piscícolas devido ao aumento da população e acesso mais fácil aos rios, ocorra um excesso de pesca

no futuro. Isto poderá ser agravado pela degradação e poluição do habitat variado. Sugerimos a

necessidade de um programa destinado a examinar a pesca actual e desenvolver um plano de gestão

das pescas a longo prazo, e que, idealmente, isto venha a ter um âmbito transfronteiriço.

Herpetofauna

Werner Conradie – Museu de Port Elizabeth (Bayworld), África do Sul.

O estudo herpetológico foi levado a cabo por Werner Conradie, do Museu de Port Elizabeth

Bayworld), África do Sul. O apoio no terreno foi prestado por Sven Bourquin (SAREP). Espécies

oportunísticas foram também recolhidas por outros membros do estudo, particularmente durante o

estudo dos peixes (especialmente Roger Bills e Nkosinathi Mazungula (SAIAB). Foram utilizadas

duas linhas-armadilha padrão em forma de Y, mas a maior parte das capturas foram feitas através

de busca activa. O estudo dos sons emitidos pelos anfíbios foi feito utilizando um gravador digital

Nagra ARES-ML e um microfone Sony F-V4T. Foi consultada a seguinte literatura para compilar

registos históricos da área de estudo: Monrad (1937), Branch & McCartney (1998) e Conradie

(2012a). As colecções de espécimes foram depositadas no Museu de Port Elizabeth (África do Sul)

e no Instituto da Biodiversidade Aquática Sul-Africano (África do Sul), e uma colecção

representativa será devolvida a Angola.

Um total de 55 espécies de anfíbios e répteis foi registado a partir da área de estudo até ao presente.

Durante o estudo de Abril de 2013, foi acrescentado o registo de 12 novos anfíbios e 17 novos

répteis à área de estudo.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 16

Bacia do Rio Cuito

No total, 30 espécies de anfíbios e répteis foram associados à bacia hidrográfica do rio Cuito a oeste

da área de estudo.

Bacia do Rio Cuando

No total, 40 espécies de anfíbios e répteis foram associados à bacia hidrográfica do rio Cuando a

oeste da área de estudo.

Descobertas Importantes

Embora relativamente poucos répteis tenham sido apanhados, o estudo revelou algumas

descobertas importantes, incluindo:

1º registo de Acontias kgalagadi [=Typhlosaurus lineatus] em Angola. Segundo Broadley (1986),

apenas A. jappi, espécie-irmã de A. kgalagadi, ocorre a norte do Cubango-Okavango e do Rio

Zambeze. Este é, pois, o primeiro registo a norte do Rio Cubango-Okavango e poderá estar mais

disseminado na zona sudeste arenosa de Angola.

2º registo de Naja mossambica em Angola, o outro único registo é de Maconjo (Broadley 1974).

Bill Branch (com pessoal) recolheu outro exemplar no sudoeste de Angola em Dezembro de 2012.

É expectável que esta espécie esteja também disseminada no sudeste de Angola.

2º registo de Limnophis bangweolicus, o outro registo ocorreu a 700 km a norte de Calundo

(Província de Moxico). A sua espécie-irmã, Limnophis bicolor, está mais disseminada nas partes

ocidental, central e setentrional de Angola.

2º registo do Cágado Articulado do Okavango (Pelusios bechuanicus) em Angola. O outro único

registo em Angola ocorre no Rio Chonga, Província de Moxico (Laurent 1964), 700 km a norte.

3º registo (=Ichnotrophis) squamulosa em Angola. A relação filogenética entre Meroles e

Ichnotropis está em curso e pode representar muitas linhagens não-descritas.

3º registo de Typhloacontias rohani. O local-tipo desta espécie é o Rio Lwankundu, um afluente

ocidental do Rio Cuando. O outro único registo em Angola é de Chimporo (Monrad, 1937). Haacke

(1997) reporta esta espécie como sendo comum na zona nordeste da Namíbia, Faixa do Caprivi,

região norte do Botsuana e região ocidental do Zimbabwe.

As seguintes 16 espécies são novas na área de estudo: Acontias jappi, Limnophis bangweolicus,

Natriciteres olivacea, Psammophis subtaeniatus, Python natalensis, Zygaspis quadrifrons, Varanus

niloticus, Afroablepharus wahlbergi, Mochlus sundevalli, Trachylepis varia, Chondrodactylus

turneri, Lygodactylus angolensis, Meroles squamulosa, Pelusios bechuanicus, Pelomedusa subrufra

e Stigmochelys pardalis.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 17

Figura 9. (Em cima à esquerda) Serpente Listada dos Pântanos (Limnophis bangweolicus); (Em cima à direita) Serpente Verde dos

Pântanos (Natriciteres olivacea); (Em baixo à esquerda) Tartaruga Leopardo (Stigmochelys pardalis); (Em baixo à direita)

Lagarto de Minhocas de Cabeça-redonda do Kalahari (Zygaspis quadrifrons)

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 18

Figura 10. Em cima à esquerda: Cobra Escavadora do Kalahari (Typhlacontias rohani); Em cima à direita: Cobra Cega Listada

sem Patas (Acontias kgalagadi); Em baixo à esquerda: Cágado do Lodo do Okavango (Pelusios bechuanicus)

A actividade dos anfíbios era reduzida. A maioria das espécies já se tinha reproduzido, embora

ocorresse a presença de algumas delas. As espécies de reprodução no inverno eram abundantes.

Foram feitas as seguintes descobertas importantes:

Sapo de Lemaire (Amietophrynus lemairii) é um sapo muito invulgar adaptado às zonas húmidas.

Está restricto a Angola, Faixa do Caprivi (Namíbia), delta do Okavango (Botsuana) e zonas

húmidas da Zâmbia e República Democrática do Congo. A história de vida (reprodução,

chamamento e girinos) desta espécie era anteriormente desconhecida. Durante o actual estudo,

recolhemos dados da história natural e estamos na fase de preparação para publicação.

Foram recolhidos exemplares invulgares da Rã do Capim (Ptychadnea sp) e uma Rã de Charco

(Phrynobatrachus sp.). As amostras de ADN foram enviadas para codificação por barras a fim de

aceder às suas afinidades taxonómicas.

Os 12 anfíbios seguintes constituem novos registos destinados à área de estudo: Amietophrynus

gutturalis, Amietophrynus lemairii, Amietophrynus poweri, Phrynobatrachus mababiensis,

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 19

Phrynobatrachus cf. parvulus, Ptychadena guibei, Ptychadena oxyrhynchus, Ptychadena cf.

schillukorum, Ptychadena taenioscelis, Xenopus muelleri, Xenopus petersii, Tomopterna cryptotis.

Figura 11. Em cima à esquerda: Sapo de Lemaire (Amietophrynus lemairii); Em cima à direita: Rã do Capim Não-identificada

(Ptychadena sp.); Em baixo à esquerda: Rã do Charco Não-identificada (Phrynobatrachus sp.)

Referências:

Branch, W.R. & McCartney, C.J. (1992) Um relatório sobre uma pequena colecção de répteis do sul de Angola. Journal

of the Herpetological. Association of Africa, 41, 1–3.

Broadley, D. G. (1974) Uma revisão do complexo das Cobras de Naja nigricollis do sudoeste de África (Serpentes:

Elapidae). Chimbebasia 2 (14):1-8.

Broadley, D.G. (1968) Uma revisão da espécia africana de Typhlosaurus Wiegmann (Sauria: Schincidae). Arnoldia

3(36): 1-20.

Conradie, W. (2012a) Herpetofauna da bacia hidrográfica do Rio Cubango-Okavango: um relatório sobre um estudo

rápido da biodiversidade realizado em Maio de 2012. Relatório não-publicado.

Haacke, W.D. (1997) Sistemática e biogeografia da espécies africana de Typhlacontias (Reptilia: Scincidae). Bonn.

Zool. Beitr. 47:139-163.

Laurent, R.F. (1964) Répteis e Anfíbios de Angola (Terceira contribuição). Publicações culturais da Companhia de

Diamantes de Angola, 67, pp. 11–165.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 20

Monard, A. (1937) Contribuição para a batraquiologia de Angola. Bulletin de la Société Neuchételoisedes Sciences

Naturelles, 62,5–59.

Crocodilos (Crocodylus niloticus)

Vincent Shacks – Programa de Monitorização dos Crocodilos do Okavango

Dr Sven Bourquin – Programa de Monitorização dos Crocodilos do Okavango

Um barco de alumínio de 5m com um motor de 30HP foi utilizado neste estudo. Os estudos diurnos

e noturnos foram efectuados ao longo do rio Cuito. A finalidade dos estudos diurnos foi avaliar o

habitat e a sua adequação aos crocodilos. Os estudos noturnos foram utilizados para efectuar a

captura de crocodilos vivos com uma potente lanterna eléctrica. Devido a uma camada de reflexo

nos olhos, o tapetum lucidum, os olhos dos crocodilos reflectem qualquer luz brilhante que incida

sobre eles, pelo que os crocodilos expostos podem ser localizados a mais de 100m de distância,

dependendo de um número de factores, designadamente a densidade de vegetação, a intensidade da

luz e a posição relativa do crocodilo.

As lanternas noturnas e o estudo da captura são geralmente realizados entre as 20h00 e 04h00,

utilizando uma equipa treinada constituída por três elementos - tripulação de quatro embarcações,

incluindo um observadore treinado com, pelo menos, um ano de experiência de farolagem

posicionado na parte da frente da embarcação. Esta é conduzida ao longo do meio do rio a uma

velocidade média de 8 - 10 km/hr-1

com o foco de luz atravessando um arco 180 0, iluminando as

margens do rio, as áreas transicionais da água-vegetação e a superfície do canal principal do rio.

Quando se observa o brilho dos olhos (isto é, um crocodilo), a aproximação ao mesmo é feita

vagarosamente e em silêncio e capturado quando possível, utilizando técnicas dependentes da sua

dimensão. A todos os exemplares capturados é dado um número de identificação individual e

sujeitos a uma série de procedimentos de medição morfométricos. Estas medições incluem o

comprimento da ponta do focinho à cloaca (SVL), comprimento total (TL), circunferência do

pescoço (NC) e circunferência da base da cauda (BTC), e as medições da cabeça incluem o

comprimento (HL), largura (HW) e altura (HD). Os recortes das escamas (tecido) são levados para

análise ao ADN e cada uma das escamas recortadas forma um sistema de marcação permanente do

crocodilo. Este sistema permite aos investigadores obterem dados comparativos excelentes dos

indivíduos no caso de serem recapturados no futuro.

A avaria no nosso motor fora de bordo restringiu a equipa da sua utilização no rio Cuando.

Observações gerais da margem do rio foram, no entanto, feitas por todos os membros da equipa.

Resultados.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 21

Rio Cuito – Um total de 10 crocodilos foi apanhado em 3 noites de estudo, e ainda a observação de

9 crocodilos, que não foram capturados. Os níveis de água em Abril eram muito elevados, e isto

aumenta geralmente o número de habitats utilizados por crocodilos. Nestas condições de cheias, a

maioria dos crocodilos adultos afasta-se do canal principal para águas sazonais mais quentes das

zonas húmidas, assim como se concentram em massas de água mais profundas como as lagoas. A

actividade no canal principal é, pois, limitada e a taxa de encontro com crocodilos de grande porte

foi restricta. Apenas um crocodilo adulto foi observado no canal principal, enquanto outros dois

adultos foram observados casualmente a pé durante uma caminhada em redor de uma enorme lagoa

próximo de terra firme.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 22

Figura 12. Captura de crocodilo no Rio Cuito e mapa de observação.

O tamanho médio dos crocodilos capturados era de 87cm de comprimento total, tendo o maior

112cm de comprimento total. Foi recolhido tecido de 8 dos indivíduos capturados e será utilizado

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 23

para análise do ADN. Todos os indivíduos estavam de muito boa saúde, com excepção de uma cria

de 2013 que tinha sido mordida aparentemente por um peixe-tigre.

Habitat de Nidificação – O habitat ao longo do rio Cuito parece sugerir que a parte sul do Cuito

desde Rito até à junção com Dirico oferece um excelente habitat de nidificação de crocodilos. Isto

foi confirmado pela densidade de crias e crocodilos jovens capturados ao longo desta extensão. Um

único recém-nascido, presumivelmente da nidificação da estação de 2013, foi encontrado à deriva

no meio do canal principal. Este comportamente é típico de um recém-nascido que abandonou

recentemente a área de nidificação e está agora a afastar-se utilizando a corrente do rio.

Figura 13. Bancos de areia salientes e matagais espessos de junqueiras de Phragmites oferecem excelente habitat de nidificação

para os crocodilos.

Rio Cuando – No nosso primeiro local de acampamento no sistema fluvial do Cuando, a equipa

descobriu um canal lateral que tinha aproximadamente 30m de largura, muito profundo e bordejado

de caniços Phragmites. Neste canal, aproximadamente 15-20 crocodilos adultos foram observados a

devorar uma carcaça de hipopótamo na água. Esta oportunidade de se alimentarem conduz

obviamente a uma enorme concentração de adultos na área, mas isto proporcionou uma boa

oportunidade de observar que a população adulta saudável estava presente no sistema.

Habitat de Nidificação – Observações inicais indicaram que o habitat ao longo do rio Cuando é

muito favorável á nidificação de crocodilos.

Conclusões.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 24

A altura não foi infelizmente a ideal para o estudo dos crocodilos ao longo do canal principal do rio

em virtude dos níveis de água serem demasiado elevados. Isto obviamente reduz a taxa de

observação dos adultos de grande porte. Fomos, no entanto, muito encorajados a encontrar recém-

nascidos, crias e jovens nesta cota elevada da área de captação do Okavango. A presença destes

jovens crocodilos confirma que os adultos nidificam, de facto, nesta cota elevada da bacia

hidrográfica, o que é muito positivo do ponto de vista da ecologia da população. O nosso trabalho

no Delta do Okavango sugere que o número de ninhos decresceu dramaticamente nos últimos 20

anos devido a perturbações humanas e à recolha insustentável de ovos pelos agricultores. Todo este

sistema beneficiará bastante com o recrutamento acrescido de crocodilos jovens mais a montante do

rio. O habitat ao longo do Cuito aparenta ser muito favorável à nidificação, mas isto carece de

confirmação levando a cabo estudos de nidificação entre Setembro - Janeiro.

Entrevistas com residentes locais sugeriram a existência de um conflito intenso entre o crocodilo e o

homem na região, com os crocodilos a serem mortos sempre que a oportunidade surge. Houve

também uma indicação de um membro da comunidade de que os ovos dos crocodilos, quando

encontrados, eram comidos pelo homem. As alterações na utilização das terras no pós-guerra na

região constituem uma preocupação para os crocodilos em virtude de enormes extensões de

vegetação ribeirinha darem lugar à plantação de casava, milho e sorgo. Este tipo de desbravamento

de terras é muito intenso ao longo da parte sul do sistema fluvial do Cuito e é provável que aumente

dramaticamente quando a estrada alcatroada estiver concluída e as pessoas começarem a deslocar-

se para as grandes aldeias ribeirinhas.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 25

Relatório Botânico Timothy Harris - Royal Botanic Gardens Kew, London, UK

Frances Murray-Hudson – Herbário da Universidade do Botsuana Peter Smith (PSUB), Instituto de Pesquisa do Okavango (ORI),

Maun Botsuana.

Ainda não existe uma Flora publicada de Angola. A fonte de referência botânica mais completa é

actualmente „Plantas de Angola‟ (Figueiredo & Smith 2008). Antes desta, havia a incompleta

Conspectus Florae Angolensis (CFA), que foi iniciada em 1937, tendo o respectivo trabalho

terminado na década de ´70. Esta região geográfica de Angola ainda terá que ser descrita

botanicamente. A flora da região está fracamente representada no herbário devido à insuficiente

recolha de espécies. Por isso, a maioria das espécies recolhidas nesta expedição será provavelmente

acrescentada à informação sobre a distribuição das espécies ou ser um primeiro registo daquelas

espécies naquele local.

O objectivo botânico da missão foi recolher o maior número de espécies possível de plantas e/ou

frutos. Os espécimes precisam destas características para facilitar a identificação.

Nenhumas espécies listadas no CITES estavam destinadas a ser colhidas. O governo de Angola

tinha emitido licenças para recolha geral. Um jovem representante do governo angolano

acompanhou a expedição. Botanicamente, a expedição foi considerada uma oportunidade de obter

uma “panorâmica” da flora da região. Abril é considerado o final do verão – início do inverno. As

chuvas de verão na área de estudo foram abaixo da média (ver mapa em baixo). Em termos gerais,

os campos secavam rapidamente.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 26

Figura 14. Anomalia na pluviosidade de 21 de Jan a 20 Março de 2013. Do website da SADC: Sistema de Prevenção

da Segurança Alimentar. Actualização do Agromet da Estação Agrícola 2012/2013. Datado de 17de Abril de 2013.

Para citar a secção do website da SADC dos Resumos da Agrometeorologia Nacional, de Angola:

"Recentes imagens de satélite da vegetação sugerem uma melhoria das condições da vegetação

desde o mês transacto, comparadas com as condições médias. As principais áreas de produção de

cereais na região central do país mostram condições de vegetação próximo das normais. Nas áreas

meridionais, porém, quer as imagens da vegetação quer as estimativas de pluviosidade por satélite

sugerem condições de seca que poderão afectar as colheitas e pastagens naquelas regiões do país.

Muitas partes de Angola experimentaram uma seca severa na última estação." (As palavras em

itálico são minhas)

De facto, verificámos que muitos sub-bosques e gramíneas já tinham passado o seu tempo, estando

demasiado secos e quebradiços para serem colhidos. A maioria das espécies arbóreas tinha dado

flores e frutos. De um modo geral, havia frequentes sinais do impacto do homem na flora. Muitas

áreas revelaram sinais de queimadas recentes ou repetidas no passado, madeira derrubada e

removida para agricultura. A área tem uma relativa população dispersa, mas os meios de

subsistência aí dependem quase exclusivamente do ambiente. Consequentemente, os campos de

cultura são criados onde o solo é adequado, as árvores são derrubadas para extracção de madeira

utilizada na construção de casas, vedações dos campos e noutros fins, designadamente trenós,

grades para secagem de grãos, mobiliário, ferramentas e utensílios.

Muitas áreas de bosques mistos de miombo visitadas aparentavam ter sido objecto de exploração

comercial no passado. Por exemplo: poucas árvores Pterocarpus angolensis com circunferência

significativa foram observadas. Porém, também não foram observados muitos cepos de grande

dimensão. As maiores árvores observadas eram frequentemente madeiras menos rijas, tais como a

espécie Albizia, e estas eram principalmente componentes das franjas ribeirinhas.

Esta expedição de avaliação da biodiversidade financiada pelo SAREP recolheu amostras em três

historicamente proclamadas áreas protegidas: Coutadas públicas de Luenge, Mucusso e Luiana.

Estas áreas têm sido até recentemente inacessíveis devido à prolongada guerra civil e suas

consequências: o legado das quais são centenas de quilómetros quadrados de minas de guerra,

plantadas por várias facções beligerantes. A desminagem está em curso, mas é um processo

perigoso, lento, laborioso e frequentemente dependente da doação de fundos.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 27

Figura 15. Mapa mostrando a localização de todos os acampamentos em Abril-Maio de 2013. Os locais de recolha de

amostras são indicados por pontos verdes.

A flora foi objecto de amostras mais intensivamente ao longo de quatro rios em dois sistemas: o

Cubango e o Cuito, que alimentam o Cubango, tornando-se o Okavango ao entrar na Namíbia. O

Rio Luiana corre para o Cuando (chamado Kwando na Namíbia e Botsuana). O Luiana tem uma

vasta zona húmida e a água estava a subir de nível tornando difícil o acesso àquele habitat. Os

últimos locais de amostragem no quarto rio, o Cuando, estavam a sul da confluência com o Rio

Luiana.

Figure 16. Plantas secas no campo

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 28

A expedição foi uma viagem por terra de acampamentos, totalmente equipada antes da partida com

alguma reposição de bens no caminho. Utilizámos a infraestrutura de estradas da Namíbia para

conduzir até Angola, cujas estradas interiores nesta região são ainda picadas de qualidade

imprevisível. O desenho dos locais de recolha de amostras próximo de áreas protegidas e ao longo

dos sistemas do rio tinham sido acordados antes da partida.

A logística da expedição foi habilmente montada por Simon Byron da Beagle Expeditions. Tinha

feito muito trabalho preparatório sobre itinerários possíveis e áreas de recolha de espécimes. Foi

igualmente diligente na adaptação às condições de viagem; nenhum de nós sabia como seriam as

condições, por isso a previsão acerca da distância que poderíamos percorrer era impossível. Todos

participámos em decisões sobre quando, onde e por quanto tempo pararíamos ou acamparíamos. A

equipa interagiu significantemente uns com os outros, e houve uma grande cooperação mútua.

Desde que concordo com a filosofia de que "a população de uma espécie é apenas tão boa quanto o

seu habitat", a situação de saúde da área de estudo deve considerar todos os componentes do

ecossistema. Por isso, foi importante, por exemplo, os peixes trazidos pelos peritos e amostras de

plantas aquáticas apanhadas pelos botânicos nas suas redes e armadilhas. Estas plantas eram

obviamente componentes importantes do habitat dos peixes.

Conclusões

Mais de 350 espécies foram apanhadas em toda a expedição. Na maioria dos casos, foram

apanhados quatro exemplares de cada uma destas espécies.

Uma lista completa das espécies juntamente com a descrição dos respectivos locais de recolha será

disponibilizada mais tarde.

Pretende-se que todos os exemplares sejam identificados no RBG Kew. Kew reterá um exemplar

de cada espécie e os duplicados serão distribuídos por:

PSUB no Okavango Research Institute (ORI), University of Botsuana

LUIC, ex-Centro Nacional de Investigação Científica (CNIC) em Luanda, Angola

WIND, National Botanical Research Institute (NBRI) in Windhoek, Namíbia.

Os principais locais de recolha de amostras são descritos em termos gerais em baixo. Uma lista

completa de todas as espécies será fornecida depois da determinação da identificação ter sido

concluída por Kew.

Locais 1 & 5

Calai

13 e

24 de Abril

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 29

Foram passadas duas noites nas margens do Cubango. Os locais são fortemente perturbados pelo

uso humano, criação de gado, etc. Aqui o rio estava cheio, apenas baixando após o pico das cheias,

a zona húmida é extensa.

Local 2

Rápidos de Mpupa

Figura 17. Acampamento nos rápidos de Mpupa

16 a 18 de Abril de 2013, 3 noites.

Três habitats próximos do acampamento foram objecto de recolha de amostras: S17 30' 46.8" E20

03' 39"

A água na corrente corria a aproximadamente 2m por segundo, e tinha menos de 40cms de

profundidade. O substracto era solo arenoso na rocha. A área era rodeada por bosque misto cujas

espécias arbóreas incluiam:

Combretum imberbe, Ziziphus mucronata, Peltophorum africanum, Croton gratissimus, Combretum

sp. Terminalia sericea, Diospyros lycioides, Rhus sp. Phoenix reclinata (na borda de água)

As gramíneas incluiam: Cymbopogon sp. Stipagrostis sp. Eragrostis rigidior, Panicum sp. (cf. P

máximo, Eragrostis superba, Pogonarthria sp. Melinis sp. Eriocaulon spp.,

Cyperaceae incluiam: Scleria spp., Fimbristylis spp., e Cyperus spp.

As ervas incluiam: Waltheria indica, Hibiscus spp., Albuca sp., Sida sp., Nidorella sp., Nymphaea

sp., Jasminum sp. e Scrophulariaceae

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 30

S17 30' 45.8" E20 03' 38"

Bosque mais seco. Solos castanho avermelhado com ferro manchado de 'bolhas' de pedra. O habitat

é muito predominante no sul do Botsuana próximo de Kanye. Aqui, as espécies predominantes dos

bosques eram: Peltophorum africanum dominante com Combretum imberbe, Croton gratissimus e

Combretum, sendo igualmente a segunda dominante. Outras espécies lenhosas incluiam: Guibourtia

coleosperma, Bauhinia sp., Boscia sp., Ziziphus mucronata, Baphia massaiensis, ocasionalmente a

Commiphora sp. e muito ocasionalmente a Acacia mellifera como árvores de pequeno porte.

As ervas incluiam: Indigofera spp. Waltheria indica, Acrotome inflata, Convolvulus sp., Ocimum

sp. e Vernonia sp.

As gramíneas incluiam: Digitaria spp. Eragrostis spp. e Dactyloctenium sp. cf. D. giganteum.

S17 30' 30.9" E20 03' 57.9"

Acampamento nos rápidos de Mpupa. Rio profundo e de fluxo rápido, com cerca de 60 a 100ms de

largura.

Vegetação ribeirinha /Ilha

O local é paralelo ao rio, uma margem rodeada de campos aráveis de sorgo. Existem vestígeos de

paredes de pedra e a área foi obviamente utilizada durante muitos anos como aldeamento. O

acampamento principal fica a menos de 200m e é constituído por edifícios construídos durante a

actividade de prospecção geológica-companhia mineira. As pessoas aqui queixaram-se de que os

elefantes destruiam as suas colheitas e que não tinham apoio ou aconselhamento sobre como lidar

com o problema. Também fizeram notar que existe vida selvagem muito mais diversa na margem

norte.

As espécies lenhosas incluiam: Phoenix sp. cf. P. reclinata, Ficus spp. incl. F. capreifolia, Syzygium

sp. cf. S. guineense, Piliostigma thonningii, Ricinus sp., Diospyros lyciodies, Berchemia discolor

(como um arbusto), Bauhinia sp., Rhus sp. Gymnosporia sp., uma Apocynaceae lenhosa,

Peltophorum africanum, Morella serrata, Albizia sp. (cf. A. versicolor) e Ziziphus mucronata.

As espécies de gramíneas incluiam: Pennisetum macrourum, Oryza sp., Sporobolus sp., Cynodon

dactylon, Imperata cylindrica, Digitaria sp., Setaria verticillata e Melinis repens.

Outras espécies incluiam: Leonotis sp., Persicaria sp., Achyranthes sp., Jasminum fluminense,

Bidens sp., Sida sp. (cf. S. cordifolia), Crotalaria spp., Cyperaceae spp., Indigoferae spp., Hibiscus

spp. (4 delas pelo menos), Commelina sp., Aeschynomene sp., Convovulaceae, Striga sp., Tagetes

minuta, Acanthospermum hispidum, Vernonia spp.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 31

Do lado distante do rio (margem norte) o cenário é visivelmente muito mais arborizado. Extensões

de Terminalia sericea cresciam na faixa arenosa da margem do rio. Maciços de Phoenix reclinata

crescem junto da água, em terra firme. Pterocarpus angolensis e Baikiaea plurijuga eram também

visíveis à vista desarmada. Com binóculos outras espécies tornaram-se visíveis: Garcinia

livingstonei, Combretum zeyheri, Diospyros lycioidies, Piliostigma thonningii, Peltophorum

africanum, Syzygium guineense e as distintas formas de inverno de muitas Schinziophyton

rautanenii (Mongongo em Setswana) nas encostas duras e secas.

Foi feita uma curta expedição botânica por barco à margem norte (a montante da área supra

descrita). Isto era uma 'ilha' de crescimento exuberante de Phoenix na lama profunda de uma

margem íngreme rodeada de bosque misto de Acacias. A presença próxima dos elefantes era

denunciada pelas suas bostas cheias de sementes de Mongongo.

Local 3

A norte de Rito, no Rio Cuito.

19 a 21 de Abril de 2013, 3 noites.

S16 37' 22.6" E19 03' 12"

Local na transição de bosque/pastagens:

Bosque misto de Miombo. Árvores mais pequenas em redor do acampamento foram queimadas

recentemente, havia algumas em recrescimento. O bosque deu lugar a zona húmida aberta: as

pastagens tornando-se junquinhos com ilhas ocasionais de árvores soltas. As queimadas podem ter

origem na zona húmida, se à semelhança do delta do Okavango as pessoas queimam erva seca para

encorajar o surgimento de erva nova para atrair a vida selvagem. Porém, suspeita-se que os animais

sejam mortos para alimentação ou comércio em lugar do turismo/caça. O gado foi visto a ser

mantido junto, outra explicação possível para as queimadas das pastagens.

O nível de água era cerca de 40cms mais baixo do que a recente cheia. O pico das cheias teria

inundado alguma pastagem. Havia depressões com nichos de junquinhos e elevações que apoiam as

espécies lenhosas como a Terminalia sericea.

No acampamento, onde o rio é distinto, a água corria entre margens bem definidas e era cristalina a

uma profundidade de 1.5m. O bosque na crista é de areia mais côr-de-rosa comparada com a areia

branca da zona húmida que tinha uma camada de matéria preta vegetativa em decomposição.

As fezes das hyenas foram vistas no cume da estrada de areia seca e as de hipopótamos observadas

na lama preta da zona húmida. A estrada para Rito está a ser melhorada com caliche, eventualmente

para ser alcatroada de acordo com a polícia local, que visitou o nosso acampamento. Foram ouvidos

tiros uma noite a alguma distância do acampamento. Muitos lugares ao longo da estrada estão a ser

limpos para fixação humana e campos aráveis. Observámos milho e sorgo.

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 32

Uma lista geral de espécies não foi compilada aqui em virtude do tempo dispendido com a recolha

de exemplares.

Local 4

22 a 23 de April de 2013, 2 noites.

O acampamento foi montado nos solos cinzentos pálidos e mais duros da margem do rio numa área

de bosque misto de Acacias. Do acampamento podiam ver-se junqueiras de Phragmites australis e

Chrysopogon nigritanus. Esta zona húmida tinha cerca de 500m de largura, sendo a margem norte

uma crista distinta. Estima-se que a água suba outros 60cms, não sobre as margens neste ponto, mas

que suba e desça através das junqueiras.

Havia um pequeno aldeamento a uns 100m de distância habitado pelo povo San. O mais velho deste

grupo foi entrevistado por outro membro da equipa. Foi visto algum gado.

As espécies arbóreas eram dominadas por Combretum imberbe (longe do acampamento) seguidas

da Acacia hebeclada e A. erioloba como a próxima dominante. Outras espécies incluiam:

Terminalia sericea (longe do acampamento/rio), Ziziphus mucronata, Acacia fleckii, Piliostigma

thonningii e Schinziophyton rautanenii.

As espécies arbustivas eram: Grewia sp., Dichrostachys cinerea, Gymnosporia sp., Diospyros

lycioidies e Euclea sp.

A espécie de gramínea dominante nos solos mais duros era a Cynodon dactylon, enquando longe do

rio uma espécie de gramínea alta e avermelhada (cf. Cymbopogon sp.) estava disseminada. Outras

espécies de gramíneas incluiam a Heteropogon contortus, Aristida sp., e Digitaria sp.

Local 8

27 a 29 de Abril de 2013, 3 noites

Page 37: Field Report Biodiversity Survey Kuando Kubango APRIL 2013 Portuguese

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 33

Figura 18. O acampamento situava-se no Rio Kwando próximo da junção com o Rio Luiana.

Fomos levados para um acampamento escolhido por membros da comunidade em Buafe.

Interessante, social e historicamente, dado que o local era um antigo aquartelamento de treino

abandonado da UNITA. Havia muitos sinais de cultura: papaieiras, preparativos para uma horta,

espigas de milho a secar, sebes de Euphorbia plantadas, Amaranthus, sisal e espécies daninhas tais

como a Setaria verticillata e Bidens sp.

Havia cães vagueando e o canto dos galos fazia-se ouvir. Havia também muito entulho de

construção, peças de metal velhas de maquinaria, etc. Os residentes locais queixaram-se da

presença de elefantes, e, embora ainda houvesse papaias verdes nas árvores, havia sinais da

actividade dos elefantes longe do rio. Os elefantes foram vistos e ouvidos durante a noite. Uma

enorme elevação próximo do acampamento aparentou ser a sepultura de uma carcassa de elefante.

Os hipopótamos podiam fazer-se ouvir todas as noites. Uma noite houve um som contínuo de

animais a passar e ou a comer nas junqueiras do lado distante do rio, que podem ter sido elefantes,

hipopótamos e/ou búfalos. A sua actividade indica talvez a importância das junqueiras na vida

selvagem. No acampamento o rio era fundo e rápido, com cerca de 15m de largura. Na margem

oposta havia um muro de Phragmites australis.

Afastada do acampamento existe uma enorme zona húmida coberta de erva onde a água está a

começar a subir. Na zona mais elevada do terreno havia um bosque misto. As árvores de maior

porte em redor do acampamento incluiam a Albizia sp. cf. A. versicolor, Terminalia sericea,

Kigelia africana, Acacia erioloba, A. nigrescens, Philenoptera sp. e bons exemplares de Diospyros

mespiliformis. As ervas incluiam: Ocimum sp., Leonotis nepetifolia e Jasminum fluminense.

Na estrada, passámos, uma vez mais, por áreas que tinham sido recentemente queimadas.

Figura 19. Habitats recentemente queimados

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Biodiversity Survey - Cuito and Cuando River Systems, Angola 34

Local 9

30 de Abril a 1 de Maio, duas noites.

Na estrada no sentido sul-este ao longo do Kwando. Num local chamado "Mamashota", que

aparenta ser um canal lateral do Rio Kwando. Sinais de elefantes (num buraco de lama), Búfalos e

Kudus. Não havia sinais de queimadas, embora o horizonte estivesse tingido de fumo. Serapilheiras

no chão e cestos de verga seca foram interpretados como sinais de menor perturbação do habitat.

Foram apanhadas três cobras pelos herpetologistas próximo deste local, um número recorde para a

viagem. A água do rio estava a subir e a infiltrar-se nas zonas húmidas.

As espécies incluem: Combretum hereoense, C. psidioides, C. imberbe, Acacia erioloba, A.

nigrescens, A. sieberiana, Terminalia sericea, Philenoptera sp. e uma pequena árvore Berchemia sp.,

na margem do rio, que tinha sido muito usada por elefantes, Peltophorum africanum, Commiphora

sp. (apenas um exemplar foi visto, que tinha sido morta por elefantes arrancando-a pelas raízes),

Kigelia africana, Dichrostachys cinerea, Diospyros lycioidies e Flueggea virosa.

As ervas incluiam Hibiscus sp., Ocimum sp., Leonotis nepetifolia e Heliotropium sp.

As gramíneas incluiam: Setaria verticillata, Cynodon dactylon e Eragrostis superba.

Conclusão

A equipa de botânicos estava satisfeita com o que fomos capazes de conseguir e estamos

ansiosamente a aguardar a confirmação/correcções dos nomes dos campos. A logística no terreno

paara lidar com uma quantidade acumulada de exemplares representou os seus próprios desafios

logísticos. O tempo seco neste estudo facilitou certamente a secagem dos espécimes. Qualquer

expedição futura de recolha de amostras na estação das chuvas exigirá sérias considerações sobre o

número de prensas e papéis de secagem adicionais, e isto por sua vez terá implicações de espaço

nos veículos. Estamos satisfeitos por termos feito parte desta equipa de estudo. Apreciámos o

ambiente de trabalho e esperamos poder fazer parte de qualquer possível estudo futuro semelhante.

Outras observações

A expedição constatou que o governo angolano está visivelmente a desenvolver as zonas rurais, a

qualidade das estradas está a ser melhorada, algumas com caliche, e que outras estão a ser

alcatroadas. Havia escolas do ensino básico mesmo nos aldeamentos mais pequenos, e nas

comunidades maiores instalações novas e modernas estão a ser construídas. A impressão é

certamente de progresso no sentido de uma melhor educação, saúde, administração e acesso a estas

zonas rurais mais remotas.

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Sinto que a oportunidade de manter (ou criar) áreas protegidas viáveis que beneficiam as

comunidades locais assim como a economia national, é agora e não deve ser desperdiçada. As

actuais pressões económicas sobre as pessoas residentes são fortes, motivando-as a fazer o que

podem com os recursos naturais para sobreviver. Se, por exemplo, fossem alocadas áreas para

desenvolvimento turístico e as pessoas começassem a beneficiar imediatamente de emprego, teriam

menos razões para limpar a terra para campos marginais. O envolvimento dos residentes locais em

todas as fases do futuro uso das terras é essencial e crítico. Logo que a flora e a fauna sejam vistos

como factores de atracção turística e fonte de rendimento, o ambiente será visto como tendo valor e

as pessoas terão um interesse próprio em proteger os seus bens. Os próximos anos de utilização das

terras ditarão a viabilidade de futuras oportunidades dos recursos naturais, nomeadamente o

turismo, incluindo a caça comercial, safaris fotográficos, etc.

Se o governo angolano, local e nacionalmente, for capaz de responder à oportunidade

imediatamente, protegerá as terras para as gerações futuras. O ambiente natural, tal como existe

hoje, gerará receitas a partir da flora e fauna. As populações da vida selvagem talvez sejam capazes

de aumentar. Desta vez criarão espaço para respirar, no qual planearão estrategicamente como lidar

com outras propostas de futuro uso da terra, tal como agricultura ou exploração mineira.

Se houver indecisão ou debate prolongado, a terra será mais limpa, mais queimada, o gado será

trazido para dentro, as estradas e os acessos melhorados significarão mais pessoas na área,

aumentando a procura de terras, as pessoas serão forçadas a uma vida marginal do ambiente sem

visão de futuro.

Pássaros Mark Paxton

A observação dos pássaros foi feita a partir da viatura enquanto viajávamos ao longo do rio Cuito,

entre zonas de acampamento e na vizinhança dos acampamentos onde parámos. Teria sido

impraticável realizar um estudo género pentante, em virtude de isto exigir paragens mais frequentes

e impedir o nosso modo de viajar.

Um total de 183 pássaros foi contado durante o estudo do Rio Cuito.

Em cada um dos acampamentos foram erigidas redes e colocados aneis nos seguintes pássaros:

Chirping Cisticola. 5x (3x Adultos e 2x Sub-adultos)

Tawny-flanked Prinia. 1x Adulto

Common Waxbill. 1x Adulto

Village Weaver. 8x (3x Adulto macho, 3x Adultos fêmeas e 2x Sub-adultos)

Luapula‟s Cisticola. 3x ( 1x Adulto e 2x Sub-adultos)

Little Rush-warbler. 1x Adulto

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Fan-tailed Widowbird. 9x (1x Adulto macho, 2x adultos fêmeas e 6x Sub-adultos)

Eurasian Reed Warbler. 1x Adulto

Observações interessantes e opiniões:

Os estorninhos de cauda ponteaguda em grandes grupos misturados com os jovens eram

surpreendentemente comuns em toda a área percorrida por nós ao longo do Rio Cuito, e foram os

estorninhos mais vulgarmente vistos. Porém, na vizinha Namíbia com tipos de vegetação

semelhantes são considerados como extremamente raros e muito escassamente associados ao rio,

mas encontrados em maior número nas zonas de bosques.

O Scimitarbill Negro nesta zona revelou características semelhantes aos “Scimitarbill Comuns” da

região de Shamvura na Namíbia ao longo do Rio Okavango. Isto indica que o Scimitarbill Negro

ocorre naquela zona, tornando-o um novo pássaro importante para a sub-região da África austral, ou

existe alguma hibridização entre o Scimitarbill Negro e Comum.

As zonas húmidas ao longo do rio eram excepcionalmemte baixas em termos de número de fauna

avícola e diversidade, e isto não se deve à interferência humana. A erva e outras espécies de

vegetação aqui eram completamente diferentes das do vizinho Rio Okavango, onde a fauna avícola

em zonas húmidas semelhantes é muito mais rica. Aparentemente, o Rio Cuito sobe apenas um

metro durante as cheias e está essencialmente estagnado e pobre em nutrientes, o que pode

justificar, em última análise, o reduzido número de pássaros e a sua diversidade.

Embora o factor perturbador da presença humana seja muito reduzido presentemente, existem

indícios de que isto poderá alterar-se radicalmente num futuro próximo. As aldeias anteriormente

desertas estão a ressurgir com edifícios mais novos subsidiados pelo Governo, novas e sofisticadas

estradas estão a ser construídas e as pessoas estão a ser encorajadas a fixar-se nestas áreas, como

pode ser observado pelos novos campos de sorgo lavrados subsidiados pelo Governo.

Existe uma área de Conservação/Protegida despovoada na margem oriental do Rio Cuito, prova de

que o elefante e outras formas de vida selvagem são abundantes. No entanto, a presença de Chango,

Kudu, Sitatunga, Raficero-comum e até de elefante foi também notada no lado ocidental povoado

do rio, o que foi inesperado e encorajador. No rio havia hipopótamos, crocodilos, manguços da água

e lontras de pescoço pintalgado, embora não numa concentração significativa.

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Libélulas e Zigópteros

Um cancelamento de última hora feito pelo especialista em libélulas significou que a equipa teve

que contribuir colectivamente para a recolha de exemplares de libélulas e zigópteros nesta

expedição. Os exemplares foram recolhidos na maior parte dos locais de estudo e processados em

conformidade. Estas espécies estão presentemente a ser identificadas pelo especialista, das quais

serão produzidos uma lista e um relatório detalhado.

Observações generais

Cuito

Acesso – Enquanto esta região tinha significativamente menos campos de minas do que as aldeias a

oeste do rio Cubango, a ameaça de minas constituia ainda um factor neste estudo. A estrada

principal na margem ocidental do Cuito é um trilho único que não é mantido nem limpo. A

superfície é geralmente sólida com algumas secções de areia grossa. A única travessia perigosa que

encontrámos foi próximo da aldeia de Maue, onde contornámos a passagem a caminho do norte e

atravessámos o rio a caminho do sul.

A construção numa nova estrada alcatroada está presentemente em curso do lado ocidental do rio

Cuito. Discussões com membros da comunidade pareceram indicar que a estrada irá desde a

fronteira com a Namíbia até Nankova. Este acesso melhorado estimulará muito provavelmente o

crescimento da região e conduzirá a um aumento da população na aldeia. A estrada está

actualmente a uma distância apreciável das margens do rio e atravessa, na sua maior parte, o habitat

denso de Miombo.

Aldeias – As aldeias ao longo da margem ocidental do Cuito aparentam ser bem populosas com a

presença razoavelmente comum de instalações básicas, tais como escolas e clínicas. O movimento

de veículos do Governo aparentou estar muito activo em toda esta região, viajando na picada entre

Nankova e Calai. A maior parte das terras nos arredores das aldeias tem sido lavrada e semeada

com várias culturas, nomeadamente o milho, kasava e sorgo. A falta óbvia de bens materiais dos

estabelecimentos comerciais significa que o lixo dentro e em redor das aldeias não era excessivo.

Esta situação será aparentemente alterada depois de concluída a estrada alcatroada e melhorado o

acesso a esta zona.

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Utilização dos recursos do Rio Cuito – Enquanto a utilização de pirogas (Mokoro‟s) era aparente,

a de embarcações não pareceu ser muito popular. Isto parece sugerir que poucas pessoas fazem uso

do ambiente do rio para a pesca ou recolha de recursos. A maioria dos recursos naturais utilizados

pareceram ser provenientes de habitats mais secos, incluindo troncos de árvore das florestas de

miombo, erva das pastagens circundantes e lodo dos terrenos mais elevados. Este padrão de

utilização de recursos parece sugerir maior dependência dos recursos terrestres do que dos

existentes próximo do rio. Nenhum outro barco a motor foi observado no Cuito em qualquer altura

da expedição. O número de cabeças de gado aumentou em redor das aldeias maiores. Todo o gado

tinha pastores permanentes e era clara a existência de bebedouros fixos utilizados pelo gado em

virtude de os pastores terem construído um número de vedações à prova de crocodilos ao longo do

rio onde o gado podia beber em segurança sem o risco de ser atacado por um crocodilo. Estas

vedações foram construídas com arbustos espinhosos das acácias colocadas em redor de uma

margem de pouca profundidade do canal principal.

Cuando

Acesso – A equipa entrou nesta região através do posto fronteiriço de Buabuata, que só pode ser

acedido através de um caminho sujo pouco utilizado a caminho do norte a partir de Bagani na faixa

do Caprivi. A estrada é uma picada sinuosa com areia muito grossa e densas florestas de Miombo.

O acesso por viaturas ao longo desta via é extremamente difícil e vagaroso. Este trilho permanece

pobre durante todo o trajecto até à aldeia da Jamba, a partir da qual o trilho é sólido e

frequentemente utilizado pelo exército e fiscais de caça. A estrada desde a aldeia da Jamba até ao

rio Cuando é muito pitoresca com um conjunto de habitats mais diversos. As lagoas de água doce

naturais estão dispersas nesta região e fornecem uma boa fonte de água potável para a vida

selvagem circundante. Os trilhos da vida selvagem em redor destas lagoas eram extensos, incluindo

rastos de predadores, tais como o leão, hiena e leopardo.

Aldeias – A Jamba e Boafe são as maiores aldeias desta região e albergam muitas pessoas. Estas

aldeias e a região, de um modo geral, têm uma presença forte de militares e fiscais de caça, com

patrulhas regulares ao longo da estrada desde a fronteira até à Jamba. Um número de aldeias

agrícolas periféricas mais pequenas estão espalhadas entre as duas grandes aldeias da Jamba e

Boafe. Estes aldeões vivem dentro e em redor dos campos lavrados a fim de proteger as culturas

dos elefantes e hipopótamos.

Rio Cuando – Uma vez mais, a utilização dos recursos ao longo do rio Cuando é aparentemente

muito limitada. Não havia sinais de actividade piscatória, de recolha de recursos ou embarcações de

qualquer espécie. Isto parece indiciar que os membros da comunidade não dependem fortemente do

peixe ou de outros recursos naturais do rio.

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Ameaças observadas à

biodiversidade

A ameaça mais pressionante à biodiversidade local será a dramática alteração do uso da terra na

margem ocidental do canal fluvial do Cuito. A margem oriental do Cuito e a margem ocidental do

Cuando inserem-se nos maiores parques nacionais protegidos desta região. A margem ocidental do

Cuito está presentemente a ser transformada em campos lavrados para milho e sorgo usando

técnicas de corte e queimadas. Estes campos estão situados próximo do canal fluvial a fim de

aproveitarem os solos mais produtivos e também de terem bom acesso aos recursos hídricos

permanentes.

A caça furtiva ao longo da margem ocidental do Cuito era frequente e os tiros de espingarda

ouviam-se durante a noite enquanto estivémos acampados ao longo desta extensão do rio. A nossa

equipa conseguiu dispender algum tempo com um dos elementos de caça e aparentemente os

caçadores utilizavam espingardas de grande calibre para caçar herbíveros de grande porte, mais

especificamente espécies de antílopes, tais como o Kudu e, quando possível, o búfalo.

Aparentemente os caçadores também recolhiam vários produtos da vida selvagem para venda nos

mercados tradicionais. Mostraram-nos um Pangolin vivo (Smutsia temminckii), que aparentemente

renderia R4000 num mercado em Rundu (Namíbia). É muito provável que uma grande quantidade

de outros produtos da vida selvagem sejam recolhidos ao longo desta extensão isolada de vida

selvagem destinados a um crescente mercado de medicina tradicional.

O conflito entre o Homem e a Vida Selvagem na região era frequente. Este conflito deve-se

principalmente à destruição de culturas pelos elefantes. Os aldeões utilizam regularmente armas tais

como espingardas e carabinas nos elefantes que invadem as culturas. As comunidades que vivem

próximo da água, nomeadamente a pequena comunidade da ilha de Mpupa, queixou-se do ataque

regular dos crocodilos ao seu gado perto do rio. Sempre que possível, todos os animais

problemáticos são mortos quando enfrentados.

A maioria dos habitats objecto de estudo também evidenciaram uma recente e regular história de

queimadas, que tem afectado negativamente o número de répteis e pequenos mamíferos nestes

ambientes.

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Rumo a seguir

O Programa Ambiental Regional da África Austral (SAREP) em parceria com o MINAMB e INIP

levaram recentemente a cabo dois estudos da biodiversidade dentro da maior área da bacia do

Okavango. O último estudo incluiu alguns pontos de estudo dentro das recentemente proclamadas

áreas protegidas no canto sudeste de Angola e ao longo do sistema fluvial do rio Cuando. Os

estudos até à data conduziram à descrição de numerosas novas espécies e actualizaram a

distribuição das espécies. A calendarização das últimas duas expedições dependeu em larga medida

de muitas questões logísticas e não de uma selecção da calendarização ideal dos estudos. No

entanto, a recolha de espécies foi boa e os resultados destes estudos forneceram provavelmente a

melhor informação possível sobre todas as espécies capturadas nesta região até ao presente.

Espera-se que um terceiro estudo se realize nos últimos meses de verão de 2014 ou no primeiro mês

de verão de Novembro de 2014. Este período é considerado ideal para a maioria dos especialistas

em espécies. Um terceiro estudo visitaria provavelmente os mesmos locais do primeiro estudo

(Abril 2012) a fim de proceder a um relevantamento de certos locais “críticos” da biodiversidade e

recolher mais espécimes de novas espécies. Tendo trabalhado nesta área anteriormente, o

planeamento logístico deste estudo está provavelmente mais racionalizado, permitindo aos

especialistas trabalhar em locais específicos por períodos mais longos.