fichamento: livro: a construção do saber cap.?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TÉCNICAS DE PESQUISA FICHAMENTO POR CITAÇÃO A CONSTRUÇÃO DO SABER LAVILLE, C.; DIONNE, J. A CONSTRUÇÃO DO SABER: Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Editora artes médicas Sul Ltda.; Belo Horizonte: Editora UFMG,1999. Capítulo 1 - O Nascimento do Saber Científico “Para sobreviver e facilitar sua existência, o ser humano confrontou-se permanentemente com a necessidade de dispor do saber, inclusive de construí-lo por si só.” (p. 17) Os Saberes Espontâneos “[...] o objetivo principal da pesquisa do saber: conhecer o funcionamento das coisas, para melhor controla-las, e fazer provisões melhores a partir daí.” (p. 17) “Inúmeros conhecimentos são assim adquiridos a partir da experiência pessoal.” (p. 18) A Intuição “Um saber desse modo construído é aceito assim que uma primeira compreensão vem à mente.” (p. 18) “Em nossa linguagem de hoje, chamam-se tais explicações espontâneas de “senso comum”, as vezes de “simples bom-senso”. [...] o senso comum é, com frequência, enganador.” (p. 18) A Tradição “Na família, na comunidade em diversas escalas, a tradição lega saber o que parece útil a todos e que se julga adequado conhecer para conduzir sua vida.” (p.19) A Autoridade “Com frequência, sem provas metodicamente elaboradas, autoridades se encarregam da transmissão da tradição.” (p. 20) “Sua força deve-se ao fato de que nem todos podem construir um saber espontâneo sobretudo o que seria útil conhecer. Dai também, em contra partida, o peso que possuem as autoridades (padres, médicos, bruxos, dirigentes, pais, professores, etc.) que o transmitem e as instituições (igrejas, escolas, etc.) que servem de quadro a transmissão desse saber.” (p. 20-21) A Escola, Tradição E A Autoridade “[...] a escola tem por missão ensinar, além disso, o modo de construção do saber, de modo que os estudantes também aprendam os princípios de sua validade e se tornem progressivamente capazes de julgar o saber oferecido e, até, eventualmente, de preferir outro ou de construir, por si mesmos, um saber diferente.” (p. 21)

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  1. 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA FICHAMENTO POR CITAO A CONSTRUO DO SABER LAVILLE, C.; DIONNE, J. A CONSTRUO DO SABER: Manual de metodologia da pesquisa em cincias humanas. Porto Alegre: Editora artes mdicas Sul Ltda.; Belo Horizonte: Editora UFMG,1999. Captulo 1 - O Nascimento do Saber Cientfico Para sobreviver e facilitar sua existncia, o ser humano confrontou-se permanentemente com a necessidade de dispor do saber, inclusive de constru-lo por si s. (p. 17) Os Saberes Espontneos [...] o objetivo principal da pesquisa do saber: conhecer o funcionamento das coisas, para melhor controla-las, e fazer provises melhores a partir da. (p. 17) Inmeros conhecimentos so assim adquiridos a partir da experincia pessoal. (p. 18) A Intuio Um saber desse modo construdo aceito assim que uma primeira compreenso vem mente. (p. 18) Em nossa linguagem de hoje, chamam-se tais explicaes espontneas de senso comum, as vezes de simples bom-senso. [...] o senso comum , com frequncia, enganador. (p. 18) A Tradio Na famlia, na comunidade em diversas escalas, a tradio lega saber o que parece til a todos e que se julga adequado conhecer para conduzir sua vida. (p.19) A Autoridade Com frequncia, sem provas metodicamente elaboradas, autoridades se encarregam da transmisso da tradio. (p. 20) Sua fora deve-se ao fato de que nem todos podem construir um saber espontneo sobretudo o que seria til conhecer. Dai tambm, em contra partida, o peso que possuem as autoridades (padres, mdicos, bruxos, dirigentes, pais, professores, etc.) que o transmitem e as instituies (igrejas, escolas, etc.) que servem de quadro a transmisso desse saber. (p. 20-21) A Escola, Tradio E A Autoridade [...] a escola tem por misso ensinar, alm disso, o modo de construo do saber, de modo que os estudantes tambm aprendam os princpios de sua validade e se tornem progressivamente capazes de julgar o saber oferecido e, at, eventualmente, de preferir outro ou de construir, por si mesmos, um saber diferente. (p. 21)
  2. 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA O valor do saber imposto repousa, portanto, em nosso consentimento em recebe-lo, e esse consentimento repousa, por sua vez, na confiana que temos naqueles que o veiculam. (p. 22) O Saber Racional [...] o ser humano sentiu a fragilidade do saber fundamentado na intuio, no senso comum ou na tradio; rapidamente desenvolveu o desejo de saber mais e de dispor de conhecimentos metodicamente elaborados e, portanto, mais confiveis. (p. 22) O Reino Dos Filsofos Os filsofos gregos [...] desenvolvem os instrumentos da lgica, especialmente a distino entre sujeito e objeto: de um lado, o sujeito que procura conhecer, e, de outro, o objeto a ser conhecido, bem como as relaes entre ambos. Igualmente, o princpio de causalidade, o que faz com que uma causa provoque uma consequncia e que a consequncia seja compreendida pela compreenso da causa. (p. 22) O sculo XVII [...] o pensamento cientfico moderno comea a se objetivar. Um saber racional, pensa-se cada vez mais, constri-se a partir da observao da realidade (empirismo) e coloca essa explicao o a prova (experimentao). O raciocnio indutivo conjuga-se ento com o raciocnio dedutivo, unidos por esta articulao que a hiptese: o raciocnio hipottico-dedutivo. (p. 23) A partir de ento, o saber no repousa mais somente na especulao [...]. Assim, poder-se-ia dizer que o mtodo cientfico nasce do encontro da especulao com o empirismo. (p. 23) Alm disso, no se trata mais apenas de encontrar uma explicao, ainda que geral, do fenmeno estudado, mas definir o princpio que fundamenta essa explicao geral. (p. 24) A Cincia Triunfante Durante o sculo XVIII, os princpios da cincia experimental desenvolvem- se por meio de mltiplas aplicaes. (p. 24) Mas no sculo XIX que a cincia triunfa. No domnio das cincias da natureza, o ritmo e o nmero das descobertas abundam. Mas, saem dos laboratrios para ter aplicaes prticas: cincia e tecnologia encontram-se. A pesquisa fundamental, cujo objetivo conhecer pelo prprio conhecimento, e acompanhada pela pesquisa aplicada, a qual visa a resolver problemas concretos. (p. 25) Tais descobertas e suas aplicaes prticas modificam profundamente a fisionomia do sculo. Todos, ou quase todos, os domnios da atividade humana so atingidos. (p. 25) O homem do sculo XIX percebe, com clareza, essas mudanas e os melhoramentos que trazem para sua vida. E, alis, provavelmente o primeiro na histria a morrer em um mundo profundamente diferente daquele que o
  3. 3. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA viu nascer. A poca lhe parece repleta de maravilhas, e isso graas a cincia que lhe surge como fonte inesgotvel de progresso. (p. 25) As Cincias Humanas e o Positivismo O mtodo empregado no campo da natureza parece to eficaz que no se ver razo pela qual tambm no se aplicaria ao ser humano. E com esse espirito e com essa preocupao que se desenvolvem[...] as cincias humanas na segunda metade do sculo XIX. (p. 26) Desenvolvem-se, segundo uma concepo da constru9ao do saber cientfico nomeada positivismo, cujas principais caractersticas sero a seguir apresentadas. (p. 26) Empirismo [...] experincia da realidade[...]. (p. 27) Objetividade [...] deve respeitar integralmente o objeto do qual trata o estudo; cada um deve reconhece-lo tal como . (p. 27) Experimentao A observao de um fenmeno leva o pesquisador a supor tal ou tal causa ou consequncia: a hiptese. (p. 27) Validade A experimentao e rigorosamente controlada para afastar os elementos que poderiam perturba-la, e seus resultados, graas as cincias matemticas, so mensurados com preciso. (p. 28) Leis e previso Essas leis, estima-se, esto inscritas na natureza; portanto, os seres humanos esto, inevitavelmente, submetidos. [...]. O conhecimento dessas leis permitiria prever os comportamentos social se geri-los cientificamente. (p. 28) Captulo 2 - A Pesquisa Cientfica Hoje As cincias humanas [...] sentiu, desde muito cedo, os limites desse modelo, algumas de suas ambiguidades e de suas inadequa9oes como objeto de estudo (o ser humano). Sendo assim, em seguida, questionado. (p. 31) Isso conduz a um esgotamento progressivo do positivismo e a uma redefiniao da cincia e de seu procedimento de constituio dos saberes. (p. 31) O Enfraquecimento do Positivismo Claude Bernard, [...] deixava entender que a abordagem positivista poderia ser aplicada, com sucesso, a todos os objetos de conhecimento, tanto naturais quanto humanos. [..] nas cincias humanas, isso no se deu sem problemas. Vejamos quais. (p. 32) Cincias Naturais e Cincias Humanas
  4. 4. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA As cincias naturais e as cincias humanas tratam de objetos [...] diferentes, por seu grau de complexidade e por sua facilidade de serem identificados e observados com preciso. (p. 32) A Complexidade dos Fatos Humanos Os fatos humanos so [...] mais complexos que os fatos da natureza. (p. 32) [...] o ser humano ativo e livre, com suas prprias ideias, opinies, preferencias, valores, ambies, viso das coisas, conhecimentos..., que capaz de agir e reagir. Dois corpos qumicos submetidos a experimentao reagiro conforme sua natureza, que e previsvel. Os seres humanos tambm reagiro conforme sua natureza, que, esta, no previsvel, pelo menos no tanto e nem da mesma maneira. (p. 33) porque ao receberem a provocao, a compreendero e a interpretaro diferentemente para, por fim, reagir a ela cada um sua maneira. Como ento se imagina poder retirar da experimentao uma lei da reao a uma provocao? (p. 33) O Pesquisador um Ator Se, em cincias humanas, os fatos dificilmente podem ser considerados como coisas, uma vez que os objetos de estudo pensam, agem e reagem, que so atores podendo orientar asitua9ao de diversas maneiras, e igualmente o caso do pesquisador: ele tambm e um ator agindo e exercendo sua influncia. (p. 33) A Medida do Verdadeiro O fato de o pesquisador em cincias humanas ser um ator que influencia seu objeto de pesquisa, e do objeto de pesquisa, por sua vez, ser capaz de um comportamento voluntario e consciente, conduz a uma construo de saber cuja medida do verdadeiro difere da obtida em cincias naturais. (p. 35) O verdadeiro, em cincias humanas, apenas pode ser um verdadeiro relativo e provisrio. (p. 35) O positivismo mostrou-se, portanto, rapidamente enfraquecido, quando se desejou aplica-lo no domnio do humane. Considerou-se ento outras perspectivas, que respeitassem mais a realidade dos objetos de estudo em cincias humanas; levou-se em conta outros mtodos, menos intervenientes capazes de construir o saber esperado. (p. 35) Revises em Cincias Naturais No incio do sculo, as cincias naturais tambm haviam come9ado a se sentir limitadas no quadro do positivismo. (p. 36) O Empirismo Difcil O caso do tomo [...] ilustra bem como agora se constitui o saber em cincias naturais: no sobre o modo emprico [...] isto , atravs de uma observao natural direta, uma vez que o tomo s acessvel por meio de reaes nele provocadas, [...]. (p. 36) O conhecimento do tomo e, na realidade, uma teoria do tomo. (p. 36)
  5. 5. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA A Teoria O conhecimento obtido permanece at ser contestado por outras interpretaes dos fatos. Refora-se, ao contrrio, se os saberes obtidos, atravs de novas manipulaes, o confirmam. (p. 36) Teoria, Lei e Previso O conhecimento total e acabado em forma de lei no e mais a suprema ambio das cincias naturais; do mesmo modo, a ideia de determinismo na natureza igualmente recua. Novos conhecimentos contribuem para esse recuo. (p. 38) Objetividade e Subjetividade [...] conceito de objetividade, que considera objetivo o que preserva o objeto, o que permite revelar sua natureza sem que esta tenha sua integridade afetada, transforma-se em consequncia. Ela cessa de pretender de pender do objeto de estudo; define-se mais em funo do pesquisador, de sua interveno, de sua relao ativa com o objeto de estudo[...]. (p. 39) O Realinhamento Da Cincia As cincias naturais e as cincias humanas encontram-se, na definio desses modos, e pode-se dizer hoje que, em seus procedimentos fundamentais, partilham essencialmente as mesmas preocupaes: 1) centrar a pesquisa na compreenso de problemas especficos; 2) assegurar, pelo mtodo de pesquisa, a validade da compreenso; 3) superar as barreiras que poderiam atrapalhar a compreenso. (p. 41) Compreender A ideia de problema est no centro do realinhamento das cincias humanas, como, alis, das demais cincias. Trata-se de compreender problemas que surgem no campo do social, afim de eventualmente contribuir para sua soluo; pouco importa se a soluo do problema refere-se a uma falta de conhecimentos, como em pesquisa fundamental, ou de intervenes eventuais, como em pesquisa aplicada. (p. 41) [...]os fenmenos humanos repousam sobrea multicausalidade, ou seja, sobre um encadeamento de fatores, de natureza e de peso variveis, que se conjuga me interagem. isso que se deve compreender, estima-se, para verdadeiramente conhecer os fatos humanos. (p.41) Objetividade e Objetivao O pesquisador disto tem conscincia: as compreenses assim produzidas so compreenses relativas. Dependem do talento do pesquisador para determinar o problema que escolhe estudar, retratar seus multiplex fatores, escolhe-los e interpreta-los. (p. 42) O que garante ento o valor desse saber? Um princpio dito de objetivao. (p. 42) [...] a mente do pesquisador que, a seu modo, e por diversas razes, efetua as escolhas e as interpretaes evocadas anteriormente. [...] esse princpio
  6. 6. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA de objetivao que fundamenta a regra da prova e define a objetividade. Poder-se-ia dizer que a objetividade repousa sobre a objetivao da subjetividade. (p. 43-44) Multidisciplinaridade O que se desenvolve [...] uma abordagem multidisciplinar, que consiste em abordar os problemas de pesquisa apelando as diversas disciplinas das cincias humanas que nos parecem uteis. (p.44) [...] os pesquisadores enclinam-se a se associarem para reunir o saber de cada um. (p. 45) Em Resumo: O Mtodo [...]. Diversos fatores influenciam o pesquisador. [...] estes fatores fazem com que o pesquisador perceba um problema, lhe fazem igualmente supor uma soluo possvel, uma explicao racional da situao a ser compreendida ou aperfeioada: a hiptese. (p. 45) Muitas vezes, o pesquisador sabe que sua hiptese no e sempre a nica possvel, e que outras poderiam ser consideradas. Mas ele retm a que lhe parece ser a melhor, a que lhe parece suficiente para progredir em direo a compreenso do problema e a sua eventual soluo. (p. 45) Se se deseja retomar o conjunto do procedimento e apresentar esquematicamente seu caminho, poder-se-ia faze-lo da seguinte maneira. PROPOR E DEFINIR UM PROBLEMA -> ELABORAR UMA HIPOTESE -> VERIFICAR A HIPOTESE -> CONCLUIR (p. 45)
  7. 7. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA Captulo 04: Problema e Problemtica A pesquisa parte de um problema e se inscreve em uma problemtica. (p. 85) A fase de estabelecimento e de clarificao da problemtica e do prprio problema e frequentemente considerada como a fase crucial da pesquisa. (p. 85) O Problema de Pesquisa Um problema de pesquisa e um problema! [...] O que mobiliza a mente humana so problemas, ou seja, a busca de um maior entendimento de questes postas pelo real, ou ainda a busca de solues para problemas nele existentes, tendo em vista a sua modificao para melhor. (p. 85) Problemas: motivaes e escalas diversas
  8. 8. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA Podemos distinguir duas grandes categorias de pesquisa, as quais relacionam-se entre si. (p. 85) Uma primeira categoria tem por motivao preencher uma lacuna nos conhecimentos: melhor conhecer e compreender [...]. Trata-se ento de um tipo de pesquisa destinado [...] a aumentar a soma dos saberes disponveis[...]. Pode-se chamar este tipo de pesquisa de pesquisa fundamental. (p. 85-86) A segunda categoria de pesquisa tem por motivao principal contribuir para resolver um problema, um problema presente em nosso meio, em nossa sociedade. [...] Trata-se, ento, de uma pesquisa que tendo como caracterstica principal a aplicao de conhecimentos j disponveis para a soluo de problemas denomina-se pesquisa aplicada. Este tipo de pesquisa pode [...] sugerir novas questes a serem investigadas. (p. 86) O problema de pesquisa pode ser considerado em diversas escalas. Existe, claro, o problema do especialista, do professor-pesquisador, do pesquisador profissional, do estudante [...] ... [...]. (p. 86) O "Verdadeiro" Problema Mas nem todos os problemas que encontramos so necessariamente problemas que se prestam a pesquisa cientifica. Um problema de pesquisa e um problema que se pode "resolver" com conhecimentos e dados j disponveis ou com aqueles factveis de serem produzidos (p. 87) Um problema de pesquisa no , portanto, um problema que se pode "resolver" pela intuio, pela tradio, pelo senso comum ou at pela simples especulao. Um problema de pesquisa supe que informaes suplementares podem ser obtidas afim de cerca-lo, compreende-lo, resolve-lo ou eventualmente contribuir para a sua resoluo. (p. 88) [...] um problema no merece uma pesquisa se no for um "verdadeiro" problema um problema cuja compreenso fornea novos conhecimentos para o tratamento, de questes a ele relacionadas. (p. 88) As Interrogaes Iniciais Mas de onde vem os problemas de pesquisa? [...] vem de nossas experincias: do que somos, pois so nossas experincias que nos fizeram ser o que somos. (p. 89) Nossas experincias so, essencialmente, uma mistura de conhecimentos e de valores, dos quais nos dispomos, em maior ou menor quantidade, com mais ou menos variedade de amplitude e de domnio. Esses conhecimentos e esses valores os recebemos prontos e conservados, ou os aprendemos ou transformamos, adaptando-os; por vezes, nos mesmos os desenvolvemos. (p. 89) Conhecimentos Conhecem-se fatos brutos e, fatos construdos. Os fatos brutos so aqueles que, embora determinados e divulgados pelos seres humanos, no se constituram ainda em objeto de sua reflexo. (p. 89)
  9. 9. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA Mas os conhecimentos dos quais dispomos no so todos fatos brutos, mas construdos. So generalizaes, resultados do relacionamento de diversos fatos brutos. (p. 89) As Generalizaes As concluses ou interpretaes constituem um tipo corrente de generalizao. So conhecimentos construdos para explicar conjuntos de fatos brutos. (p. 90) Os Conceitos Ler o real social, questiona-lo e conhece-lo: precisa-se de palavras para isso. Como nomear aquilo do que se trata, distinguir uma realidade de outra, falar dela com outros havendo mutua compreenso? Com esse fim, dentre as palavras, desenvolveram-se as que chamamos conceitos. (p. 91) Os conceitos so representaes mentais de um conjunto de realidades em funo de suas caractersticas comuns essenciais. (p. 91) Frente a totalidade do real humano e social, um tal conjunto de conceitos fornece um instrumento de base para a observao, e at o questionamento, na medida em que cada um dos conceitos sugere pistas para um conjunto de questes. (p. 92) Esses conceitos e as questes [...] chamam, por vezes, de conceitos e questes analticas. (p. 93) As Teorias As teorias so igualmente generalizaes da ordem das concluses ou das interpretaes, mas de grande envergadura. So generalizaes de generalizaes. (p. 93) O valor de uma teoria , primeiramente, explicativo: uma generalizao de explicaes concordantes tiradas dos fatos que foram estudados para sua construo. Mas, para o pesquisador, seu valor sobretudo analtico, pois ela lhe servir para o estudo e a anlise de outros fatos da mesma ordem. (p.93) Valores Os valores so tambm representaes mentais, representaes do que e bom, desejvel, ideal, de como as coisas deveriam ser ou procurar ser; so preferencias, inclinaes, disposies para um estado considerado desejvel. (p. 94) So nossos valores, mais que nossos conhecimentos, que fazem de ns o que somos. Pois nossos conhecimentos, quer sejam fatuais, conceituais ou tericos, ganham seu sentido atravs de nossos valores, tanto para ns como para o pesquisador. A validade do saber produzido e, portanto, grandemente tributaria desses ltimos, uma vez que, de um lado, o jogo dos valores influencia a produo do saber e, de outro, a objetividade depende da conscincia desse jogo e, de seu controle pelo pesquisador. (p. 94) As Cores do Saber
  10. 10. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA Deve-se compreender bem que, quando um pesquisador conscientiza-se de um problema assim que exprime suas interrogaes iniciais , o faz a partir de uma observao do real ou de uma leitura sobre o real e por meio de um quadro de referencia determinado. [...] mas este confere a esses saberes, devido a seus valores pessoais, um peso varivel. (p. 95) Assim, entre os conhecimentos, h alguns para os quais o pesquisador dirige mais ateno. (p. 95) Os Valores Metodolgicos Os valores metodolgicos so os que nos fazem estimar que o saber construdo de maneira metdica, especialmente pela pesquisa, vale apena ser obtido, e que vale apena seguir os meios para nele chegar. Isso exige curiosidade e ceticismo, a confiana na razo e no procedimento cientifico e, tambm, a aceitao de seus limites. (p. 96) Em suas pesquisas, o pesquisador aceita que os dados colhidos no conduzam aos resultados previstos, que os fatos contradigam seus pontos de vista, que suas hipteses no sejam verificadas... Dispe-se ento a se reorientar, a revisar suas perspectivas, como a tolerar que outros, com perspectivas diferentes ou outros procedimentos, possam ter sobre os resultados de sua pesquisa opinies diferentes, e que possam eventualmente produzir, por sua vez, saberes divergentes. (p. 97) A Problemtica Sentida A primeira preocupao do pesquisador e ento passar dessa percepo intuitiva do problema a ser resolvido e de sua eventual soluo para seu domnio metdico, racional. Em resumo, objetivar sua problemtica. (p. 98) Poder-se-ia definir a problemtica simplesmente como o quadra no qual se situa a percepo de um problema. (p. 98) A problemtica e o conjunto dos fatores que fazem com que o pesquisador conscientize-se de um determinado problema, veja-o de um modo ou de outro, imaginando tal ou tal eventual soluo. (p. 98) Na sada, portanto, acha-se uma problemtica sentida, imprecisa e vaga; na chegada, uma problemtica consciente e objetivada, uma problemtica racional. (p. 98) Captulo 05: O Percurso Problema-Pergunta-Hiptese O presente captulo trata, portanto, dessas operaes que conduzem da problemtica sentida a problemtica racional e que passam geralmente pelo que se costuma nomear a reviso da literatura. (p. 103) O "Bom" Problema, A "Boa" Pergunta [...]. Um pesquisador no pode, muitas vezes, abordar um problema sob todos os ngulos, sobre tudo se e um iniciante. Que ngulo ento escolher? (p. 103) Escolher Seu ngulo de Abordagem
  11. 11. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA Poder-se-ia, por exemplo, tratar o problema da evaso escolar sob cada um dos seguintes ngulos [...]. (p. 104) O ngulo econmico [...]. (p. 104) O ngulo social [...]. (p. 104) O ngulo psicolgico [...]. (p. 104) O ngulo pedaggico [...]. (p. 104) O ngulo histrico [...] (p. 104) Perguntas Orientadas Assim que um pesquisador deseja circunscrever mais estreitamente um problema elevado a questionar seus elementos, o que, para ele, um meio cmodo de precisar o problema, reformulando-o em forma de perguntas. (p. 105) A "Boa" Pergunta [...] o pesquisador tem tambm cuidado para que a pergunta mantida (as vezes vrias) permanea significativa e clara para ele e para os outros, e que a pesquisa a fazer seja exequvel. (p. 106) Significativa A funo de uma boa pergunta ajudar o pesquisador a progredir em sua pesquisa; ela lhe fornece um fio condutor para o desenrolar de seu trabalho, guia-o nas operaes futuras. (p. 106) Clara Uma pergunta de pesquisa deve ser clara. Primeiro, para o prprio pesquisador que dela se serve para precisar seu problema e traar seu itinerrio posterior, e, em seguida, para os quais ser eventualmente comunicada (p. 108) Os conceitos so termos utilizados para compreender e se compreender. Da o fato de que o esforo visando a tornar clara uma pergunta de pesquisa consiste, em boa parte, em objetivar seus conceitos. (p. 111) Exequvel Assegurar-se da exequibilidade da pesquisa , portanto, considerar as diversas dificuldades praticas que pesam na coleta das informaes. (p. 111) Reviso Da Literatura Fazer a reviso da literatura em torno de uma questo , para o pesquisador, revisar todos os trabalhos disponveis, objetivando selecionar tudo o que possa servir em sua pesquisa. [...]. (p. 112) [...] a reviso da literatura [...]. um percurso critico, [...]. Deve-se fazer consideraes, interpretaes e escolhas, explicar e justificar suas escolhas. (p. 112-113) Guias Bibliogrficos [...] Numerosos instrumentos bibliogrficos existem para guiar o pesquisador por essa documentao (p. 113) Bibliografias Gerais De Referncia
  12. 12. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA [...] recobrem amplos conjuntos de disciplinas e de reas do saber. [...]. (p. 113) Bibliografias Gerais Em Cincias Humanas [...] recobrem conjuntos menos vastos de campos disciplinares, aprofundando-se mais nos campos disciplinares especficos [...]. (p. 113) Bibliografias Gerais Por Disciplina [...] centram-se em uma disciplina ou um campo disciplinar e nele se aprofundam ainda mais; [...]. (p. 115) Bibliografias Temticas Designamos assim uma bibliografia que se relacione a um tema ou a uma determinada questo. [...]. (p. 115) Dicionrios e Enciclopdias [...] enciclopdias especializadas consagradas a uma disciplina ou a uma determinada rea do saber, como o Dicionrio de cincias sociais, da Fundao Getlio Vargas [...]. [...] lxicos ou glossrios especializados que oferecem curtas definies dos termos em campos cientficos mais ou menos vastos, tal como o Glossrio de tecnologia educativa, de Clifton Chadwick (p. 115) Index e Inventrios [...] index, (por vezes denominados ndices) e dos inventrios, tambm conhecidos por repertories, (p. 116) Os index e os inventrios que renem os artigos de revistas tambm fazem, frequentemente, o levantamento dos livros, dos relatrios de pesquisa, das teses, por vezes at das comunicaes cientificas; outros se dedicam as resenhas de obras, as teses e as monografias, aos artigos de jornais, aos documentos governamentais, as estatsticas, etc. (p. 116) Artigos Existem index e inventrios de artigos de revista em quase todos os domnios das cincias humanas e sociais. [...]. (p. 116) Resenhas Antes de ler um livro de 400 pginas, muitas vezes se gostaria de saber o que contem e ter uma opinio esclarecida a seu respeito. Para responder a essa necessidade, as revistas cientificas publicam resenhas. (p. 116) Teses As teses so, com frequncia, consideradas como os trabalhos de pesquisa por excelncia. (p. 118) Jornais Os index de artigos de jornais so instrumentos ideais de serem achados na atualidade. (p. 118) Outros Index e Inventrios Muitos outros index e inventrios existentes poderiam ser uteis ao pesquisador. Assim, os pesquisadores apressados poderiam apelar para
  13. 13. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA Current Contents: publicaes que reproduzem semanalmente os ndices de centenas de revistas recentes ou ainda inditas. [...]. (p. 118) Bancos de Dados Informatizados Muitos desses index e inventrios esto agora reunidos em bancos de dados. [...]. (p. 118) Pesquisa-se neles com a ajuda das palavras-chaves tambm chamadas de descritores que so escolhidas visando a cobrir o campo de pesquisa desejado. [...]. (p. 119) A arte do pesquisador esta ento em associar essas palavras ate que conduza mas informaes desejadas. [...]. (p. 119) Peridicos Os peridicos so publicaes editadas com frequncia regular. (p. 121) Revistas As revistas cientficas so essenciais a pesquisa. O pesquisador sabe que nelas encontrara, cuidadosamente selecionados por especialistas, os artigos que se relacionam com as pesquisas mais recentes. (p. 122) Balanos De Pesquisas E Anurios Existem revistas especializadas nos balanos de pesquisas. So, em sua maioria, americanas. [...] So dirigidas por uma equipe de redao encarregada de convidar especialistas renomados para prepararem artigos que faam um balano de alguns aspectos da pesquisa em seu campo. Esses artigos so geralmente acompanhados por referncias bibliogrficas muito uteis. (p. 122) A Problemtica Racional [...] j 1) conscientizou-se de um problema e o traduziu em forma de pergunta; 2) fez uma reviso da literatura para melhor considera-la: resta-lhe, agora, tirar as consequncias de seu procedimento inicial: clarificar, precisar e reformular, ainda se necessrio, seu problema e sua questo, depois o que antecipa como eventual compreenso e explicao do problema no final da pesquisa, ou seja, sua hiptese. (p. 123) A Problemtica Racional Enunciada
  14. 14. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI UFCA CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DISCIPLINA DE METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA A problemtica racional a elaborada no movimento que vai em direo da janela da direita, onde est se enuncia. (p. 123) Em seu relatrio de pesquisa e o contedo dessa segunda janela que o pesquisador divulgara; explicara como nele chegou e o que isso implica. Ou seja, enunciara sua problemtica racional. (p. 124) A Hiptese A hiptese [...] o ponto de chegada de todo o primeiro movimento de um itinerrio de pesquisa. Torna-se, em seguida, o ponto de partida do segundo movimento, indicando a direo a seguir para que se possa resolver o problema de partida, verificar sua soluo antecipada. (p. 124) Seu encaminhamento at aqui o fez ver claramente o problema, delimita-lo, privilegiar um determinado aspecto atravs de sua pergunta. (p. 124) Poderamos reduzir a evaso escolar suprimindo o trabalho paraescolar remunerado? (p. 124) [...] o pesquisador enuncia sua hiptese. (p. 125) [...] suprimindo-se o trabalho paraescolar remunerado, o ndice de evaso diminuir. (p. 125) Qualquer que seja o modo de formulao, a hiptese sempre ser necessria para direcionar a continuidade da pesquisa; como afirmou um brincalho, s se acha o que se procura! (p. 126)