fichamento do livro cibercultura

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Fichamento do livro Cibercultura, de Pierre Lvy Rodrigo Gomes da PaixoIntroduo - Dilvios A proposta do livro pensar a cibercultura. Lvy comenta que consideram-no um otimista, mas faz a ressalva de que seu otimismo no est baseado no fato de que a internet resolver os problemas scio-culturais do planeta. Tal otimismo consiste apenas em reconhecer dois fatos: a) que o crescimento do ciberespao resulta de um movimento de jovens vidos por experimentar coletivamente formas de comunicao diferentes das que as mdias clssicas propem; b) que estamos vivendo a abertura de um novo espao comunicacional, e cabe a ns explorar as potencialidades deste espao nos planos econmico, poltico, cultural e humano. Para o autor, aqueles que denunciam a cibercultura se assemelham muito com os que desprezavam o rock na dcada de 1950. Tal gnero musical era de origem angloamericana e logo se tornou uma indstria. Mas isso no o impediu de se tornar portavoz dos anseios de enorme parte da juventude mundial. A msica pop dos anos 1970 conscientizou uma ou duas geraes, contribuindo para o fim da Guerra do Vietn. O autor argumenta que nem um nem outro gnero musical resolveu o problema da misria ou da fome no mundo, mas que isso no motivo suficiente para ser contra eles. Lvy conta que durante uma mesa-redonda sobre os impactos das novas redes de comunicao teve a oportunidade de ouvir um cineasta denunciar a barbrie dos videogames, do mundo virtual e dos fruns eletrnicos. O autor diz que respondeu que aquele era um discurso estranho vindo de um representante da stima arte, uma vez que o cinema, ao nascer, foi desprezado como meio de emburrecimento das massas por quase todos intelectuais, assim como pelos porta-vozes oficiais da cultura. Hoje o cinema reconhecido como uma arte, dotado de todo reconhecimento cultural possvel. Ao autor parece-lhe que o passado no capaz de iluminar tais crticos. O mesmo fenmeno do qual o cinema foi vitima se reproduz hoje com prticas scioartsticas baseadas nas novas tecnologias. So denunciadas como influncias estrangeiras (principalmente em regimes autoritrios), inumanas, emburrecedoras, dessocializantes, desrealizantes, etc. O autor deixa claro que, de forma alguma, tudo o que feito com as redes digitais seja bom. Isso seria to absurdo quanto supor que todos os filmes sejam timos. O importante, frisa, que permaneamos abertos, benevolentes, receptivos em relao novidade. Que possamos compreend-la, pois a real questo no ser contra ou a favor, e sim reconhecer as mudanas qualitativas, o ambiente indito resultante da extenso das novas redes de comunicao para a vida social e cultural. Apenas assim, diz Lvy, poderemos ser capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista. Mas falar em humanismo, defende o autor, visto como uma caracterstica dos sonhadores. Para os crticos, a questo j est definida: o ciberespao entrou na era comercial. Tornou-se questo de dinheiro envolvendo pesos-pesados. O tempo de utopistas j acabou. Se voc tentar explicar o desenvolvimento de novas formas de

comunicao transversais, interativas e cooperativas, ouvir como resposta um discurso sobre os ganhos de Bill Gates. Para tais crticos, o crescimento do ciberespao servir apenas para aumentar ainda mais o abismo entre ricos e pobres, pases desenvolvidos e subdesenvolvidos. Para eles, qualquer esforo que fizer para apreciar a cibercultura o coloca automaticamente do lado da IBM, do capitalismo financeiro, do governo americano, tornando-o um apstolo do neoliberalismo selvagem, um arauto da globalizao disfarado de humanista. O autor enuncia alguns argumentos que considera sensatos: - O fato de que o cinema e a msica sejam indstrias e parte de um comrcio no impede sua apreciao, nem de falar deles numa perspectiva cultural ou esttica; - O telefone gerou e ainda gera milhes para as companhias de telecomunicaes. Isso no altera o fato de que as redes de telefonia permitem uma comunicao planetria e interativa. Ainda que apenas um quarto da humanidade tenha acesso a essa tecnologia, isso no constitui argumento contra ela. Dessa forma, ele no entende o motivo pelo qual a explorao econmica da internet ou o fato de que atualmente nem todos tm acesso a ela constiturem, por si s, uma condenao cibercultura ou impedir que se pense ela de qualquer forma que no seja crtica. Lvy admite que h cada vez mais servios pagos e que tal tendncia vai crescer nos prximos anos. Mas demonstra, por outro lado, que os servios gratuitos proliferam ainda mais rapidamente. Ele defende que no h por que opor o comrcio de um lado e a dinmica libertria e comunitria - que consolidou o crescimento da rede - de outro. Os dois so complementares, para desgosto daqueles que o autor chama de maniquestas. A questo da excluso digital crucial par ao autor e, por esse motivo, no ser deixada de lado no livro. Mas essa questo, afirma Lvy, no deve nos impedir de contemplar as implicaes culturais da cibercultura em todas suas dimenses. Ele ressalta que no so os pobres que se opem internet - mas sim aqueles cujas posies de poder, de privilgio (sobretudo cultural) e monoplios encontram-se ameaados pela emergncia dessa nova configurao de comunicao, mais libertria e independente que as anteriores. Lvy conta que, durante entrevista na dcada de 1950, Albert Einstein disse que trs grandes bombas explodiram durante o sculo XX: a atmica, a demogrfica e a das telecomunicaes. Essa ltima foi chamada de segundo dilvio por Roy Ascott, um dos principais tericos da arte em rede. Esse dilvio foi gerado por conta do crescimento exponencial, explosivo e catico das telecomunicaes. A quantidade bruta de dados disponveis se multiplica e acelera. A densidade dos links entre as informaes aumenta vertiginosamente nos bancos de dados, hipertextos e redes. Os contatos transversais entre indivduos proliferam anarquicamente. O autor argumenta que a bomba demogrfica tambm representa um crescimento espantoso. A Terra possua um pouco mais de um bilho e meio de habitantes em 1990, e hoje j so mais de seis bilhes. Tal crescimento to acelerado no tem precedentes histricos. Frente inundao humana, h duas opes, Levy afirma. Uma delas a guerra, o extermnio pela outra bomba (a atmica). Nesse caso, a vida humana perde seu valor. A outra a exaltao do indivduo, o humano considerado como valor maior, recurso maravilhoso e sem preo. Para tal valorizao, diz o autor, h de ser feito um grande esforo a fim de tecer incansavelmente relaes entre idades, sexos, naes e

culturas, apesar das dificuldades. Esta soluo, afirma, simbolizada pelas telecomunicaes e implica o reconhecimento do outro, a aceitao e ajuda mtuas, a cooperao, a associao, a negociao, para alm dos diferentes pontos de vista e interesses. As telecomunicaes, argumenta Lvy, so responsveis por estender de uma ponta do mundo outra as possibilidades de contato amigvel, transmisso de saber, trocas de conhecimentos e de descoberta pacfica das diferenas. Para o autor, o enredamento dos humanos de todos os horizontes num nico e imenso tecido aberto e interativo gera uma situao absolutamente indita e portadora de esperana. Ele acredita se tratar de uma resposta positiva ao crescimento demogrfico, mas que tambm traz seus problemas (alguns deles, principalmente ligados cultura, sero abordados no livro). Lvy acha que, na aurora do dilvio informacional, uma comparao com o dilvio bblico possa ajudar a compreender melhor os novos tempos. No caos, No construiu um pequeno mundo organizado. Enfrentando o desencadeamento dos dados, protegeu uma seleo. Ele est preocupado em transmitir, recolhe pensando no futuro. A arca simboliza a totalidade reconstruda. Quando o universo est desenfreado, o microcosmo organizado reflete a ordem de um macrocosmo por vir. Mas o mltiplo, para o autor, jamais cessar e a arca no repousar no topo de um monte. Lvy acredita que o segundo dilvio jamais acabar, pois no h fundo slido no oceano das informaes. A ns, diz, resta aceit-lo como nossa nova condio de vida, ensinando a nossos filhos a nadar, flutuar, navegar nele. Quando cada um de ns olhamos atravs da escotilha de nossas arcas informacionais, vemos outras tantas, no oceano agitado da comunicao digital. Cada uma delas quer preservar a diversidade, quer transmitir. Elas estaro eternamente deriva na gua, defende o autor. Uma das principais hipteses do livro a de que a cibercultura expressa o surgimento de um novo universal, diferente das formas culturais que o precederam, no sentido de que ele se constri sobre a indeterminao de um sentido global qualquer. preciso, afirma Lvy, coloc-la dentro da perspectiva das mutaes comunicacionais anteriores. O autor aprofunda sua hiptese: Nas sociedades orais, as mensagens so recebidas no mesmo conceito em que so produzidas. Aps o surgimento da escrita, os textos se separam do contexto em que foram produzidos. Para vencer essas dificuldades, algumas mensagens foram concebidas para preservar o mesmo sentido em qualquer contexto de recepo: so mensagens universais. Essa universalidade, adquirida graas escrita esttica, s pode ser construda ao custo de uma reduo ou fixao do sentido: um universal totalizante. A hiptese que levanto a de que a cibercultura leva a co-presena das mensagens de volta a seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala. A nova universalidade no depende mais da auto-suficincia dos textos, de uma fixao e de uma independncia das significaes. Ela se constri e se estende por meio da interconexo das mensagens entre si, por meio de sua vinculao permanente com as comunidades virtuais que lhe do sentidos variados em uma renovao permanente. A operao de salvamento de No, argumenta Lvy, parece cmplice de um extermnio. A totalidade com pretenses universais afoga tudo que no pode reter. desta foram que as civilizaes so fundadas. Na China, o imperador amarelo mandou destruir quase todos textos anteriores a seu regime. A Inquisio espanhola colocava

fogo no Coro, no Talmude e tantas outras pginas. Horrveis fogueiras hitlerianas destruram inteligncia e cultura. Talvez a primeira tentativa de aniquilao tenha sido do imprio mesopotmico (o mais antigo de todos), de onde vem a verso do dilvio, muito antes da Bblia. O mesopotmico Sargo de Agad, primeiro imperador da histria, que mandou jogar no rio Eufrates milhares de tbuas de argila onde estavam gravados os conhecimentos de vrias geraes de escribas. Muitas vozes foram caladas para sempre. No suscitaro mais eco, tampouco resposta. Lvy acredita que o novo dilvio no ir apaga as marcas do esprito. Ao invs disso, vai carreg-las todas juntas. Fluida, virtual, ao mesmo tempo reunida e dispersa, essa biblioteca de Babel no pode ser queimada. O autor defende que as inmeras vozes que ressoam no ciberespao continuaro a se fazer ouvir e a gerar respostas, j que as guas deste dilvio no apagaro jamais os signos gravados. A tecnocincia produziu tanto o fogo nuclear quanto as redes interativas. Tais tecnologias construram a unidade concreta do gnero humano, defende o autor. Uma unidade de aniquilao enquanto espcie em relao bomba atmica, e de dilogo planetrio em relao s telecomunicaes. Nem a salvao nem a perdio residem na tcnica. Sempre ambivalentes, as tcnicas projetam no mundo material nossas emoes, intenes e projetos. Os instrumentos que construmos nos do poderes, mas a escolha est em nossas mos. Lvy explica que o livro aborda as implicaes culturais do desenvolvimento das tecnologias digitais de informao e comunicao. No foram includas questes econmicas e industriais, problemas relacionados ao emprego e questes judiciais. Foi enfatizada a atitude geral frente ao progresso das novas tecnologias, a virtualizao da informao que se encontra em andamento e a mutao da civilizao dela resultante. Abordou-se as novas formas artsticas, as transformaes na relao com o saber, as questes relativas a educao, cidadania, democracia, cultural, excluso e desigualdade. O autor define os termos ciberespao e cibercultura: - Ciberespao (que ele tambm chama de rede): novo meio de comunicao que surge a partir da interconexo mundial dos computadores. Refere-se no apenas infra-estrutura material da comunicao digital, mas tambm ao universo de informaes que ela abriga, assim como as pessoas que navegam e alimentam tal universo; - Cibercultura: neologismo que especifica o conjunto de tcnicas - materiais e intelectuais - de prticas, atitudes, modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespao. Antes de dar incio a seu livro, Lvy faz a ressalva de que as tecnologias criam novas condies e possibilitam ocasies inesperadas para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade, mas que elas no determinam, por si s, nem as trevas nem a iluminao do futuro humano. Primeira Parte - Definies Captulo Um - As tecnologias tm um impacto?

O autor destaca que se fala, muitas vezes, no impacto das novas tecnologias da informao na sociedade e na cultura, como se estas primeiras fossem um projtil e a sociedade ou a cultura um alvo vivo. Ele acha a metfora criticvel, no tanto pela pertinncia estilstica da figura de retrica, mas pelo esquema de leitura inadequado do fenmeno atravs de tal metfora do impacto. como se as tecnologias viessem de outro planeta ou do mundo frio e sem emoo das mquinas, estranho a qualquer valor humano. Ao autor, lhe parece que no somente as tcnicas so imaginadas, fabricadas e reinterpretadas durante sua utilizao pelos homens, como tambm o prprio uso intensivo de ferramentas fator que constitui a humanidade enquanto tal. O mundo humano , ao mesmo tempo, tcnico. O autor defende que a tecnologia no um autor autnomo, separado da sociedade e da cultura. Ao contrrio, ele acredita que a tcnica um ngulo de anlise dos sistemas scio-tcnicos globais, um ponto de vista que enfatiza a parte material e artificial dos fenmenos humanos, e no uma entidade real, que existiria independentemente do resto, que teria efeitos distintos e agiria por vontade prpria. As atividades humanas abrangem, de maneira indissolvel, relaes entre: pessoas vivas e pensantes, entidades materiais e artificiais e idias e representaes. Para o autor, impossvel separar o humano do ambiente material, assim como dos signos e das imagens por meio dos quais ele atribui sentido vida e ao mundo. Da mesma forma, no possvel separar o mundo material das idias por meio das quais os objetos tcnicos so concebidos e utilizados, nem dos humanos que os inventam, produzem e utilizam. As imagens, as palavras, as construes de linguagem entranham-se nas almas humanas, fornecem meios e razes de viver aos homens, so recicladas por grupos organizados e instrumentalizados, como tambm por circuitos de comunicao e memrias artificiais. Para Lvy, mesmo supondo que realmente existam trs entidades distintas (tcnica, cultura e sociedade), em vez de enfatizar o impacto das tecnologias, poderamos igualmente pensar que as tecnologias so frutos de uma sociedade e de uma cultura. Mas a distino traada entre cultura, sociedade e tcnica s pode ser conceitual. No h nenhum ator, nenhuma causa realmente independente que corresponda a ela. Encaramos as tendncias intelectuais como atores porque h grupos bastante reais que se organizam ao redor destes recortes verbais ou ento porque certas foras esto interessadas em nos fazer crer que determinado problema s tcnico, s cultural ou s financeiro. As verdadeiras relaes, portanto, no so criadas entre a tecnologia e a cultura, mas sim entre um grande nmero de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas as tcnicas. A tcnica ou as tcnicas? As tcnicas carregam consigo projetos, esquemas imaginrios, implicaes scioculturais bastante variadas, diz Lvy. Sua presena e utilizao em lugar e poca determinados cristalizam relaes de fora diferentes entre os seres humanos. No se pode falar dos efeitos scio-culturais ou do sentido da tcnica em geral, como tendem a fazer os discpulos de Heidegger ou a tradio da Escola de Frankfurt. No legtimo colocar num mesmo plano energia nuclear e eletrnica, argumenta o autor. Para Lvy, por trs das tcnicas agem e reagem idias, projetos sociais, utopias, interesses econmicos, estratgias de poder, ou seja, toda a gama de jogos dos homens em sociedade. Ele defende que qualquer atribuio de sentido nico tcnica

s pode ser dbia. A ambivalncia das significaes e projetos que envolvem as tcnicas so particularmente visveis no caso do mundo digital. O desenvolvimento das cibertecnologias encorajado por Estados que aspiram se tornarem potncias, principalmente militar. tambm uma das grandes questes de competio entre firmas gigantes da eletrnica e do software, entre os grandes conjuntos geopolticos. Mas tambm responde aos propsitos de desenvolvedores e usurios que procuram aumentar a autonomia dos indivduos e multiplicar suas faculdades cognitivas. Encarna o ideal de todos que desejam melhorar a colaborao interpessoal, que exploram e do vida a diferentes formas de inteligncia coletiva. Tais projetos heterogneos diversas vezes entram em conflito uns com os outros, mas com maior freqncia alimentam-se e reforam-se mutuamente. A dificuldade de analisar concretamente as implicaes scio-culturais da informtica multiplicada pela ausncia radical de estabilidade neste domnio. Os monstros dos anos 50, reservados para clculos cientficos, que ocupavam andares inteiros e as mquinas pessoais dos anos 80, facilmente manuseadas, tm implicaes cognitivas, culturais, econmicas e sociais muito diferentes, apesar de ambos serem computadores. O fato que o digital ainda se encontra no incio de sua trajetria. A interconexo mundial de computadores continua se desenvolvendo em ritmo acelerado. Discute-se os prximos padres de comunicao multimodal. As novas interfaces com universo de dados digitais so cada vez mais comuns. Os laboratrios travam uma disputa de criatividade ao conceber mapas dinmicos de fluxo de dados e ao desenvolver agentes de software inteligentes. Todos esses fenmenos, na opinio de Lvy, transformam as significaes culturais e sociais da cibertecnologia atualmente. Para o autor, dado a amplitude e o ritmo das transformaes ocorridas, ainda impossvel prever as mutaes que iro afetar o universo digital nos prximos anos. O certo, para ele, que suas implicaes culturais e sociais devem ser reavaliadas sempre. A tecnologia determinante ou condicionante? Lvy levanta o questionamento: as tcnicas determinam a sociedade ou a cultura? Se aceitarmos a fico de uma relao, afirma, ela muito mais complexa que uma relao de determinao. A emergncia do ciberespao acompanha, traduz e favorece uma evoluo geral da civilizao. Uma tcnica produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada por suas tcnicas. O autor deixa bem claro que est condicionada, e no determinada. Ele diz que uma diferena fundamental, utilizando como exemplo o estribo, que enquanto dispositivo, no foi a causa do feudalismo europeu (ou seja, no o determinou), mas que condicionou a cavalaria e, indiretamente, todo o feudalismo. No h, para Lvy, uma causa identificvel para um estado de determinado fato social ou cultural, mas sim um conjunto infinitamente complexo e parcialmente indeterminado de processos em interao que se autosustentam ou se inibem. Dizer que a tcnica condiciona significa dizer que abre algumas possibilidades, que algumas opes culturais e sociais no poderiam ser pensadas a srio sem sua presena. Mas muitas possibilidades so abertas e nem todas sero aproveitadas. As mesmas tcnicas podem se integrar a conjuntos culturais bastante diversos. Se, para uma filosofia mecanicista intransigente, um efeito determinado por suas causas e poderia ser deduzido a partir delas, o simples bom senso sugere que os fenmenos culturais e sociais no seguem esse esquema. A multiplicidade dos fatores e dos agentes probe qualquer calculo de efeitos deterministas. Todos os fatores objetivos nunca so nada alm de condies a serem interpretadas, vindas de pessoas e coletivos capazes de uma inveno radical.

O autor defende que uma tcnica no boa, nem m (depende dos contextos, dos usos e pontos de vista) e tampouco neutra (j que condicionante ou restritiva). No se trata de avaliar seus impactos, mas de situar as irreversibilidades s quais um de seus usos nos levaria, de formular projetos que explorariam as virtualidades que ela transporta e de decidir o que fazer dela. Acreditar na disponibilidade total das tcnicas e de seu potencial para os indivduos ou coletivos supostamente livres, esclarecidos e racionais seria nutrir-se de iluses, defende o autor. Enquanto se discute os possveis usos de determinada tecnologia, algumas formas de us-la j se impuseram rapidamente. Antes da conscientizao do pblico, a dinmica coletiva escavou seus atratores. Quando finalmente prestamos ateno j tarde demais. Outras tecnologias emergem na fronteira nebulosa onde so inventadas as idias, coisas e prticas. Elas ainda esto invisveis, talvez prestes a desaparecer, talvez destinadas ao sucesso. Nestas zonas de indeterminao onde o futuro decidido, grupos de criadores marginais, apaixonados, empreendedores audaciosos tentam, como todas suas foras, direcionar o por vir. Nenhum dos principais atores institucionais (Estado ou iniciativa privada) planejou deliberadamente, nenhum grande rgo de imprensa previu, tampouco divulgou, o desenvolvimento da informtica pessoal, das interfaces, dos hipertextos, da World Wide Web, etc. Essas tecnologias, impregnadas de seus primeiros usos e dos projetos de seus criadores, nascidas no esprito de visionrios, transmitidas pela efervescncia de movimentos sociais e prticas de base, vieram de lugares inesperados para os tomadores de decises. A acelerao das alteraes tcnicas e a inteligncia coletiva Para Lvy, se considerarmos seu significado para os homens, parece que o digital, fluido, em constante mutao, seja desprovido de qualquer essncia estvel. Mas a velocidade de transformao em si uma constante, paradoxal, da cibercultura. Ela explica parcialmente a sensao de impacto, exterioridade, estranheza que nos toma sempre que tentamos apreender o movimento contemporneo das tcnicas. Aos indivduos cujos mtodos de trabalho foram subitamente alterados, s profisses tocadas bruscamente por uma revoluo tecnolgica, s as classes sociais ou regies do mundo que no participam da efervescncia da criao, produo e apropriao ldica dos novos instrumentos digitais, a todos esses a evoluo tcnica parece ser a manifestao de um outro ameaador. Cada um de ns se encontra em maior ou menor grau nesse estado. A acelerao to forte e generalizada que at mesmo os mais ligados encontram-se ultrapassados pela mudana, j que ningum pode participar ativamente da criao das transformaes do conjunto de especialidades tcnicas, nem mesmo seguir essas transformaes de perto. Aquilo que concebemos como novas tecnologias, defende o autor, recobre na verdade a atividade multiforme de grupos humanos, uma complexa mudana coletiva que se cristaliza sobretudo em volta de objetos materiais. o processo social em toda sua opacidade que retorna para o indivduo sob a mscara estrangeira, inumana, da tcnica. Quando os impactos so negativos, seria preciso incriminar a organizao do trabalho ou as relaes de dominao ou a complexidade dos fenmenos sociais. Da mesma forma, quando os impactos so positivos, a tcnica no a responsvel pelo sucesso, mas sim aqueles que a conceberam, executaram e usaram determinados instrumentos. A qualidade do processo de apropriao mais importante do que as particularidades sistmicas das ferramentas, supondo que os dois sejam separveis.

Quanto mais rpida a alterao tcnica, defende o autor, mais nos parece vir do exterior. O sentimento de estranheza cresce com a separao das atividades e a opacidade dos processos sociais. Aqui intervm o papel da inteligncia coletiva, um dos princpios da cibercultura. O estabelecimento de uma sinergia entre competncias, recursos e projetos, a constituio e manuteno de uma memria comum, a ativao de modos de cooperao flexveis e transversais, a distribuio coordenada dos centros de deciso opem-se separao estanque entre as atividades, as compartimentalizaes, a opacidade da organizao social. Quanto mais os processos de inteligncia coletiva se desenvolve, defende Lvy, melhor a apropriao, por indivduos e grupos, das alteraes tcnicas, e menores so os efeitos de excluso ou de destruio humana resultantes da acelerao do movimento tecno-social. O ciberespao apresenta-se justamente como instrumento privilegiado da inteligncia coletiva. A inteligncia coletiva, veneno e remdio da cibercultura Para Lvy, o ciberespao como suporte da inteligncia coletiva uma das principais condies de seu prprio desenvolvimento. A histria da cibercultura testemunha largamente sobre esse processo de retroao positiva, afirma. um fenmeno complexo e ambivalente. O crescimento do ciberespao no determina por si s o desenvolvimento da inteligncia coletiva, apenas fornece a ela um ambiente propcio. De fato, o autor indica diversos tipos de formas novas: - de isolamento (estresse pela comunicao e pelo trabalho diante da tela); - de dependncia (vcio na navegao); - de dominao (domnio quase monopolista de potncias econmicas sobre funes importantes da rede); - de explorao (em casos de teletrabalho vigiado); - de bobagem coletiva (acmulos de dados sem qualquer informao). Lvy destaca que nos casos em que processos de inteligncia coletiva desenvolvemse de forma eficaz graas ao ciberespao, um de seus principais efeitos acelerar cada vez mais o ritmo da alterao tecno-social, o que torna a participao na cibercultura ainda mais necessria, caso no quisermos ficar para trs, e tende a excluir de maneira ainda mais radical aqueles que no entraram no ciclo positivo da alterao, de sua compreenso e apropriao. Devido a seu aspecto participativo, socializante e emancipador, argumenta o autor, a inteligncia coletiva proposta pela cibercultura constitui um dos melhores remdios para o ritmo desestabilizante e excludente da mutao tcnica. Mas a inteligncia coletiva trabalha ativamente para acelerar essa mutao. O autor conclui que a inteligncia coletiva pharmakon (palavra do grego antigo que significa tanto remdio como veneno), por agir como um veneno para aqueles que dela no participam e como um remdio para aqueles que mergulham em seus turbilhes e conseguem controlar a prpria deriva no meio de suas correntes. Captulo II - A infra-estrutura tcnica do virtual A emergncia do ciberespao

Os primeiros computadores, segundo o autor, surgiram em 1945. Por muito tempo reservados aos militares para clculos cientficos, seu uso civil se disseminou durante os anos 60. Era possvel prever, diz Lvy, que o desempenho do hardware aumentaria constantemente, mas ningum poderia prever que haveria um movimento de virtualizao da informao e da comunicao. A virada fundamental, defende o autor, ocorre nos anos 70. Naquela poca, o desenvolvimento e a comercializao de microprocessadores despertam diversos processos scio-econmicos de grande amplitude. Eles abriram uma nova fase na automao da produo industrial, alm de presenciarem o princpio da automao em setores tercirios. Desde ento, a busca de ganhos de produtividade por meio de vrias formas de uso de aparelhos eletrnicos aos poucos foi tomando conta do conjunto das atividades econmicas. Esta tendncia continua nos dias de hoje. Por outro lado, diz Lvy, um movimento social nascido na Califrnia na efervescncia da contracultura se apossou das novas possibilidades e inventou o computador pessoal (PC). Desde ento, ele iria escapar progressivamente dos servios de processamento de dados para se tornar um instrumento de criao, organizao, simulao e diverso nas mos de uma poro crescente da populao dos pases desenvolvidos. Os anos 80 viram o prenncio do horizonte multimdia contemporneo, argumenta o autor. A informtica, defende, teria perdido seu status de tcnica para comear a se fundir com as telecomunicaes, a editorao, o cinema e a TV. Os microprocessadores e as memrias digitais tendiam a se tornar a infra-estrutura de produo de todo domnio da comunicao. Formas interativas de mensagens apareceram. Na virada dos anos 80 para 90, diz o autor, um movimento scio-cultural originado por jovens profissionais de grandes metrpoles e dos campi tomou rapidamente dimenso mundial. Sem que nenhuma instncia dirigisse esse processo, as redes de computadores que se formaram desde o final dos anos 70 se integraram umas s outras, enquanto o nmero de pessoas e de computadores conectados nessa rede comeou a crescer de forma exponencial. Uma corrente cultural espontnea e imprevisvel imps um novo curso ao desenvolvimento tecno-econmico. As tecnologias digitais surgiram no s como infra-estrutura do ciberespao, mas tambm como novo mercado da informao e do conhecimento. De acordo com Lvy, os produtores de programas tm se dedicado construo de um espao de trabalho e comunicao cada vez mais transparente e amigvel. Projees sobre os usos sociais do virtual, defende ele, devem integrar o movimento permanente de crescimento de potncia, reduo dos custos e descompartimentalizao. Estas trs tendncias iro continuar no futuro, acredita o autor. Ele diz ser, entretanto, impossvel prever as mutaes qualitativas que se aproveitaro desta onda, bem como a maneira pela qual a sociedade ir se apropriar delas e as alterar. Neste ponto, defende, projetos divergentes podem se confrontar, O tratamento Do ponto de vista do equipamento, diz Lvy, a informtica rene tcnicas que permitem digitalizar a informao, armazenando-a, tratando-a automaticamente, transportando-a e a colocando disposio do usurio final, humano ou mecnico. Estas distines so conceituais. Os aparelhos concretos quase sempre misturam funes.

Os rgos de tratamento de informao (processadores), diz o autor, efetuam clculos aritmticos e lgicos sobre os dados. Executam em grande velocidade e de forma muito repetitiva um pequeno nmero de operaes muito simples sobre informaes codificadas digitalmente. Os avanos rpidos no tratamento informao se beneficiaram de melhorias na arquitetura dos circuitos, dos progressos em eletrnica e fsica, das pesquisas aplicadas sobre materiais, etc. Os processadores se tornam menores, mais potentes, confiveis e baratos. Essa rapidez de evoluo, argumenta Lvy, far com que a potncia dos maiores supercomputadores de hoje esteja disponvel num PC ao alcance do grande pblico em dez anos. A memria Os suportes de gravao e leitura automticas de informao so geralmente chamados de memria. Desde o incio da informtica, as memrias tm evoludo em direo a uma maior capacidade de armazenamento, maior miniaturizao, maior rapidez de acesso e confiabilidade, enquanto seu custo cai constantemente. Os avanos das memrias so exponenciais. De 1959 a 1996, os discos rgidos multiplicaram por 600 sua capacidade de armazenamento e por 720 mil a densidade da informao armazenada. O custo do megabyte passou de 50 mil a 2 francos. As tecnologias de memria usam materiais e processos bastante variados, diz o autor. Ele acredita que futuras descobertas em fsica ou biotecnologia provavelmente levaro a progressos inimaginveis. A transmisso A transmisso de informao digital pode ser feita por todas as vias de comunicao imaginveis, diz Lvy. possvel transportar fisicamente os suportes, mas a conexo direta, ou seja, em rede ou on-line, evidentemente mais rpida. O aparelho que permite a comunicao de dois computadores via telefone o modem. Volumosos, caros e lentos na dcada de 1970, tm hoje uma capacidade de transmisso superior da linha telefnica do usurio mdio. Os modems so hoje dispositivos miniaturizados e muitas vezes se encontram integrados aos computadores na forma de placa ou circuito. Os progressos da transmisso dependem de diversos fatores, destaca o autor. O primeiro deles a capacidade de transmisso bruta. O segundo reside nas capacidades de compresso e descompresso das mensagens. So os sons e as imagens em movimento que mais consomem capacidade de armazenamento e de transmisso. O terceiro fator reside nos avanos em matria de arquitetura global se sistemas de comunicao. Neste sistema, as mensagens so recortadas em pequenas unidades do mesmo tamanho, cada uma das quais munidas de seu endereo de partida, seu endereo de destino e sua posio na mensagem completa, da qual representam apenas uma parte. Computadores roteadores, distribudos por toda a rede, sabem ler essas informaes. A rede pode ser materialmente heterognea, basta que os roteadores saibam ler os endereos dos pacotes e que falem uma linguagem em comum. Esse sistema particularmente resistente a incidentes, porque descentralizado e sua inteligncia distribuda.

Alguns nmeros destacados por Lvy do a idia dos progressos feitos no domnio das taxas de transmisso de informaes. Nos anos 70, a Arpanet (rede que antecedeu internet), nos EUA, possua ns que suportavam 56 mil bits por segundo. Nos anos 80, as linhas da rede que conectava cientistas americanos podiam transportar 1,5 milhes de bits por segundo. Em 1992, as linhas da mesma rede podiam transmitir 45 milhes de bits por segundo. Hoje a capacidade de muitas centenas de milhares de bits por segundo. As interfaces O termo interface utilizado pelo autor para descrever todos os aparatos materiais que permitem a interao entre o universo digital e o mundo real. Os dispositivos de entrada capturam e digitalizam a informao para possibilitar os processos computacionais. At os anos 70, boa parte dos computadores eram alimentados com dados por meio de cartes perfurados. Desde ento, o espectro de aes corporais ou de qualidades fsicas que podem ser diretamente captadas por dispositivos computacionais aumentou drasticamente. Aps serem armazenados, tratados e transmitidos sob a forma de nmeros, os modelos abstratos so tornados visveis. Para Lvy, a qualidade dos suportes de exibio (ou de sada) da informao determinante para os usurios dos sistemas de computadores e condiciona em grande parte seu sucesso prtico e comercial. A evoluo das interfaces de sada se deu no sentido de uma melhoria da definio e de uma diversificao dos modos de comunicao. A qualidade dos documentos impressos a partir de textos ou imagens digitalizados, por exemplo, passou por um avano considervel em menos de dez anos, que transformou a relao com o documento escrito. Lvy destaca que h duas linhas paralelas de pesquisa e desenvolvimento em interfaces. A realidade virtual usada, em particular, nos domnios militar, industrial, mdico e urbanstico. Nesta abordagem das interfaces, o humano convidado a passar para o outro lado da tela e interagir de forma sensrio-motora com modelos digitais. Outra direo de pesquisa a realidade ampliada. Nela, o ambiente fsico coalhado de sensores, cmeras, projetores de vdeo, mdulos inteligentes, que se comunicam e esto interconectados a servio das pessoas. Para o autor, hoje em dia no estamos mais nos relacionando com um nico computador por meio de uma interface, e sim executando diversas tarefas em um ambiente natural que nos fornece sob demanda diferentes recursos dos quais precisamos. A maioria dos aparelhos de comunicao, defende Lvy, traro, de uma forma ou de outra, interfaces com o mundo digital e estaro interconectados. A diversificao e a simplificao das interfaces, combinadas com os progressos da digitalizao, convergem para uma extenso e uma multiplicao dos pontos de entrada no ciberespao. Em seguida, o autor narra a histria do planeta Osmose, mundo virtual criado pela artista canadense Char Davies. Ela instalou, em setembro de 1995, no primeiro andar do Museu de Arte Contempornea de Montreal, uma cabine cheia de computadores, cabos e aparelhos eletrnicos, onde um assistente convidava os visitantes a subirem numa plataforma onde havia um dispositivo infravermelho capaz de captar os movimentos deles. Uma parafernlia pesada era colocada ao redor do peito das cobaias. Em seguida, era colocado um capacete, contendo culos-telas e fones de

ouvido, na cabea deles. As instrues eram: para ascender, inspire; para descer, expire. O cobaia se encontrava, ento, lanado no espao sideral. Ele parecia ter se tornado o feto que retorna Terra no final do filme 2001 Uma Odissia no Espao, d Stanley Kubrick. Esse mundo doce, orgnico, dominado por uma vegetao onipresente. A vida no planeta Osmose dura apenas 20 minutos. Os princpios que norteiam a concepo de Osmose so opostos aos que governam os videogames. No possvel agir com as mos. A postura de apreender, manipular ou combater encontra-se necessariamente contrariada. Ao contrrio, para evoluir neste mundo vegetal e meditativo, necessrio se concentrar na respirao e nas sensaes sinestsicas. preciso estar em osmose com a realidade virtual para conhec-la. Movimentos bruscos no so eficazes. Por outro lado, comportamentos suaves e atitude contemplativa so recompensados. Osmose marca a sada das artes visuais de sua matriz original de simulao realista e geomtrica. Esta obra apresenta, na viso de Lvy, um desmentido para aqueles que vem no virtual apenas a busca do projeto ocidental do domnio da natureza e manipulao do mundo. Em Osmose, defende o autor, o virtual foi concebido justamente para incitar ao retiro, autoconscincia, ao respeito natureza, a uma forma osmtica de conhecimento e de relacionamento com o mundo. A programao O ciberespao, aponta Lvy, no compreende apenas materiais, informaes e humanos. tambm constitudo e povoado por seres estranhos, meio textos meio mquinas: os programas. Um programa (ou software) uma lista organizada de instrues codificadas, destinadas a fazer com que um ou mais processadores executem uma tarefa. Os programas so escritos com o auxlio de linguagens de programao, cdigos especializados para escrever instrues para processadores de computadores. H um grande nmero de linguagens de programao com maior ou menor grau de especializao em determinadas tarefas. Desde o incio da informtica, explica o autor, se trabalha para tornar as linguagens de programao o mais prximas possvel da linguagem real. Entre as linguagens de programao, pode-se distinguir: - Linguagens hermticas muito prximas da estrutura material do computador; - Linguagens de programao avanadas menos dependentes da estrutura do hardware e mais prximas do ingls; - Linguagens de quarta gerao permitem a criao de programas por meio do desenho de esquemas e manipulao de cones na tela. So criados ambientes de programao que fornecem blocos bsicos de software pronto para montagem. O programador passa menos tempo codificando e dedica maios parte de seu esforo concepo da arquitetura do software; - Linguagens de autoria permitem que pessoas no-especializadas criem por conta prpria alguns programas simples. Os programas

Lvy destaca que os programas aplicativos permitem ao computador prestar servios especficos a seus usurios. Eles esto, na opinio do autor, cada vez mais abertos personalizao evolutiva das funes, sem que seus usurios sejam obrigados a aprender a programar. Os sistemas operacionais, aponta Lvy, so programas que gerenciam os recursos dos computadores e organizam a mediao entre o hardware e o software aplicativo. O software aplicativo no se encontra em contato direto com o hardware. Um mesmo aplicativo pode funcionar em diferentes tipos de hardware, desde que tenham o mesmo sistema operacional. Se nem todos os dados so programas, diz o autor, por outro lado, todos os programas podem ser considerados como dados devem ser acessados, arquivados e lidos pelos computadores. Eles mesmos podem ser objeto de clculos, tradues, modificaes ou simulaes por outros programas. Como um programa pode fazer o papel de uma coleo de dados a serem traduzidos ou tratados por outro programa, afirma Lvy, ento possvel colocar diversas camadas de programas entre o hardware e o usurio final. Este s se comunica diretamente com a ltima camada e no precisa conhecer a complexidade subjacente ao aplicativo que est manipulando. O autor explica que, quanto mais espesso for o mil folhas de programas, mas as redes sero transparentes e mais facilmente sero executadas as tarefas humanas. Do computador ao ciberespao Desta forma, hoje se navega livremente entre programas e hardware que antes eram incompatveis. A tendncia geral, defende Lvy, o estabelecimento de espaos virtuais de trabalho e de comunicao descompartimentalizados, cada vez mais independentes de seus suportes. Durante muito tempo polarizada pela mquina, a informtica contempornea est desconstruindo o computador em benefcio de um espao de comunicao navegvel e transparente, centrado na informao. Um computador uma montagem particular de unidades de processamento, de transmisso, de memria e de interfaces para entrada e sada de informaes. O autor ressalta que componentes do hardware podem ser encontrados em qualquer lugar onde a informao digital seja processada automaticamente. Ele considera importantssimo ressaltar que um computador conectado ao ciberespao pode recorrer s capacidades de memria e de clculo de outros computadores da rede e tambm a diversos aparelhos distantes de leitura e exibio de informaes. Todas as funes da informtica so distribuveis e, cada vez mais, distribudas. Lvy considera que o computador no mais um centro, e sim um componente da rede universal calculante. Suas funes pulverizadas, defende, infiltram cada elemento do tecno-cosmos. No limite, h apenas um nico computador, mas impossvel traar seus limites. um computador cujo centro est em toda parte e a circunferncia em lugar algum um computador hipertextual, disperso, vivo, fervilhante, inacabado: o ciberespao em si. Captulo III O digital ou a virtualizao da informao Lvy comea o captulo narrando a histria do bezerro de ouro, instalao de Jeffrey Shaw - diretor de um importante instituto destinado criao nas novas mdias na

Alemanha - mostra em novembro de 1996 na Artifices, uma manifestao consagrada s artes digitais que ocorre a cada dois anos em Saint-Denis, na Frana. Ao entrar na exposio, a primeira coisa que se via era a instalao do bezerro de ouro. No meio da primeira sala, um pedestal feito para receber uma esttua no sustenta nada. Uma tela plana se encontra sobre uma mesa ao lado do pedestal. Ao peg-la, se descobre que esta tela de cristal lquido se comporta como uma janela para a sala: ao direcion-la para as paredes ou teto, se tem uma imagem digital das paredes ou do teto. Quando a tela era virada na direo do pedestal aparecia uma maravilhosa esttua, brilhante, magnificamente esculpida, do bezerro de ouro, o qual s existia virtualmente. Ao andar em volta do pedestal, mantendo a tela virada direcionada para o vazio acima dele, era possvel admirar todos os ngulos do bezerro de ouro. Se a tela fosse levada bem para cima do pedestal, o visitante iria entrar dentro do bezerro de ouro e descobrir seu segredo: o interior era vazio. O propsito desta instalao, em primeiro lugar, crtico: o virtual o novo bezerro de ouro, o novo dolo de nossos tempos. Mas tambm clssico, pois a obra traz a percepo da natureza dos dolos: uma entidade que no est realmente presente, uma aparncia sem consistncia, sem interioridade. O dolo no tem existncia por si mesmo, somente a que lhe atribuda por seus adoradores. A instalao de Shaw questiona a noo de representao. No um bezerro que a instalao coloca em cena, mas sim o prprio processo da representao. No lugar onde h apenas o nada, a atividade mental e sensrio-motora do visitante faz surgir uma imagem que, quando suficientemente explorada, acaba por revelar sua nulidade. Lvy dedica o capitulo s novas espcies de mensagens que proliferam nos computadores e nas redes de computadores. Como ele tenta mostrar, a virtualidade, compreendida de forma geral, constitui o trao distintivo da nova face da informao. Sobre o virtual em geral A universalizao da cibercultura propaga a co-presena e a interao de quaisquer pontos do espao fsico, social ou informacional. Neste sentido, complementar a uma segunda tendncia, a virtualizao. A palavra virtual tem ao menos trs sentidos: o primeiro, tcnico, ligado informtica, um segundo corrente e um terceiro filosfico. O fascnio pela realidade virtual decorre em boa parte da confuso entre esses sentidos. Na acepo filosfica, virtual aquilo que existe apenas em potencia e no em ato. Encontra-se antes da concretizao efetiva. No sentido filosfico, o virtual uma dimenso importante da realidade. No seu uso corrente, a palavra empregada para significar irrealidade. Em geral, acredita-se que uma coisa deva ser ou real ou virtual, que ela no pode possuir as duas qualidades ao mesmo tempo. Em filosofia, o virtual no se ope ao real, mas sim ao atual: virtualidade e atualidade so apenas dois modos diferentes da realidade. Ainda que no se pode fix-lo em nenhuma coordenada espao-temporal, o virtual real, defende Lvy. O atual nunca completamente predeterminado pelo virtual. O virtual uma fonte indefinida de atualizaes. Para o autor, a cibercultura se encontra ligada ao virtual de forma direta e indireta. Diretamente, a digitalizao da informao pode ser aproximada da virtualizao. Os cdigos de computador inscritos nos disquetes ou discos rgidos so quase virtuais,

visto que so quase independentes de coordenadas espao-temporais determinadas. No centro das redes digitais, a informao se encontra fisicamente situada em algum lugar, mas ela tambm est virtualmente presente em cada ponto da rede onde seja pedida. Lvy defende que a informao digital tambm pode ser qualificada de virtual na medida em que inacessvel enquanto tal ao ser humano. S se pode tomar conhecimento direto de sua atualizao, defende, por meio de alguma forma de exibio. Os cdigos de computador atualizam-se em alguns lugares, em textos legveis, imagens visveis, sons audveis. Um mundo virtual, diz o autor, considerado como um conjunto de cdigos digitais, um potencial de imagens, enquanto uma determinada cena, durante uma imerso no mundo virtual atualiza esse potencial em contexto particular de uso. O desenvolvimento das redes digitais interativas, argumenta Lvy, favorece outros movimentos de virtualizao que no o da informao propriamente dita. A comunicao continua, com o digital, um movimento de virtualizao iniciado h muito tempo pelas tcnicas mais antigas (como a escrita, a gravao de som e imagem, o rdio, a televiso e o telefone). O ciberespao, na viso do autor, encoraja um estilo de relacionamento quase independente dos lugares geogrficos e da coincidncia dos tempos. Apenas as particularidades tcnicas do ciberespao, diz, permitem que os membros de um grupo humano se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memria comum, e isto quase em tempo real, apesar da distribuio geogrfica e da diferena de horrios. A extenso do ciberespao acompanha e acelera uma virtualizao geral da economia e da sociedade, afirma o autor. Os suportes de inteligncia coletiva do ciberespao multiplicam e colocam em sinergia as competncias. Ubiqidade da informao, documentos interativos interconectados, telecomunicao recproca e assncrona em grupo e entre grupos essas caractersticas virtualizantes e desterritorializantes do ciberespao fazem dele, para o autor, o vetor de um universo aberto. A extenso de um novo espao universal, defende, dilata o campo de ao dos processos de virtualizao. O digital Digitalizar uma informao consiste em traduzi-la em nmeros. Uma imagem pode ser transformada em pontos (ou pixels). Um som pode ser digitalizado se for feita uma amostragem. Em geral, no importa qual o tipo de informao ou de mensagem: se pode ser explicitada, pode ser traduzida digitalmente. Todos os nmeros podem ser expressos em linguagem binria, sob forma de 0 e 1. Portanto, argumenta Lvy, todas as informaes podem ser representadas por esse sistema. Ele enumera trs motivos pelos quais essa binarizao interessa. Por um lado, h dispositivos tcnicos bastante diversos que podem gravar e transmitir nmeros codificados em linguagem binria. De fato, os nmeros binrios podem ser representados por uma grande variedade de dispositivos de dois estados (abertofechado, positivo-negativo, etc.). As informaes codificadas digitalmente podem ser transmitidas e copiadas quase indefinidamente sem perda de informao, j que a mensagem original pode ser

quase sempre reconstituda integralmente apesar das degradaes causadas pela transmisso ou cpia. O que no o caso de sons e imagens gravados de forma analgica, os quais se degradam irremediavelmente a cada nova cpia ou transmisso. A informao analgica representada por uma seqncia contnua de valores. A informao digital, por outro lado, usa apenas dois valores, nitidamente diferenciados, o que torna a reconstituio da informao danificada incomparavelmente mais simples, graas a diversos processos de controle da integridade das mensagens. Os nmeros codificados em binrio podem ser objeto de clculos aritmticos e lgicos executados por circuitos eletrnicos especializados. Os processamentos em questo so sempre operaes fsicas elementares: apagamento, substituio, separao, ordenao, desvio para determinado endereo de gravao ou canal de transmisso. Aps serem tratadas, as informaes codificadas em binrio vo ser traduzidas no sentido inverso, e iro se manifestar em textos legveis, imagens visveis, sons audveis. O autor explica que h uma quantidade crescente de informaes sendo digitalizadas e diretamente produzidas neste formato devido ao fato de que a digitalizao permite um tipo de tratamento de informaes eficaz e complexo, impossvel de ser executado por outras vias. Processamento automtico, rpido, preciso, em grande escala A informao digitalizada pode ser processada automaticamente, com um grau de preciso quase absoluto, muito rapidamente e em grande escala quantitativa, afirma o autor, Nenhum outro processo, em sua viso, rene, ao mesmo tempo, essas quatro qualidades. praticamente impossvel de se obter de forma rpida e automtica fora do processamento digital. As informaes codificadas como nmeros podem ser manipuladas com muita facilidade. Os nmeros esto sujeitos a clculos, e computadores calculam rpido. As informaes podem no s ser tratadas automaticamente, mas tambm produzidas dessa forma. Programas de sntese, incorporando modelos formais dos objetos a seres simulados, fazem com que os computadores calculem sons ou imagens. Desmaterializao ou virtualizao? Lvy aborda o seguinte questionamento: a digitalizao pode ser considerada como desmaterializao da informao? A descrio de uma imagem em si no pode subsistir sem um suporte fsico: ocupa uma poro do espao, requer material de inscrio, necessita de energia fsica para ser gravada e restituda. Podemos fazer com que o computador traduza em imagem visvel essa descrio codificada sobre diversos tipos de suportes. A codificao digital da imagem no imaterial no sentido prprio, mas ocupa menos espao e pesa menos que uma foto sobre papel. A gravao digital ocupa uma posio muito particular na sucesso das imagens, anterior a sua manifestao visvel, no irreal nem imaterial, mas virtual. No apenas a imagem digitalizada pode ser modificada com mais facilidade, mas sobretudo pode se tornar visvel de acordo com outras modalidades que no a reproduo em massa. Se o computador for considerado como uma ferramenta para tratar ou produzir imagens, argumenta Lvy, ele nada mais do que um instrumento a

mais, cuja eficcia e graus de liberdade so superiores aos do pincel e da mquina fotogrfica. A imagem enquanto tal, ainda que produzida por computador, no possui nenhum estatuto ontolgico ou propriedade esttica diferente de qualquer outro tipo de imagem. Se a imagem no for considerada mais isoladamente, mas em conjunto de imagens que poderiam ter sido produzidas por computador, h um novo universo de gerao de signos. Para Lvy, o computador no apenas uma ferramenta a mais para a produo de textos, sons e imagens, , antes de mais nada, um operador de virtualizao da informao. Hiperdocumentos Um CD-ROM ou CD-I so suportes de informao digital com leitura a laser. Quem consulta o CD-ROM navega pelas informaes. Tal navegao feita por meio de cliques com o mouse sobre cones na tela. Os CD-ROMs so as formas de hiperdocumentos mais conhecidas do pblico no final da dcada de 1990. Os CDROMs foram substitudos, na dcada seguinte, pelos DVDs, cuja memria, seis vezes superior, podem comportar um filme de vdeo em tela cheia. Se a palavra texto for tomada em seu sentido mais amplo (no excluindo sons e imagens), os hiperdocumentos tambm podem ser chamados de hipertextos. A abordagem mais simples do hipertexto descrev-lo, afirma o autor, como um texto estruturado em rede. construdo por ns e links entre esses ns, indicando a passagem de um n a outro. O suporte digital, diz Lvy, traz uma diferena considervel em relao aos hipertextos que antecedem informtica: a passagem de um n a outro feita, no computador, com grande rapidez, em segundos. A digitalizao, afirma o autor, permite a associao na mesma mdia e mixagem precisa de sons, imagens e textos. O hipertexto digital definido como informao multimodal disposta em uma rede de navegao rpida e intuitiva. A digitalizao introduz uma pequena revoluo copernicana: no mais o navegador que segue os instrumentos de leitura e se desloca fisicamente no hipertexto. Agora um texto mvel, que apresenta suas facetas, gira, dobra-se e desdobra-se vontade frente ao leitor. O autor conta que est sendo inventada hoje uma nova arte da edio e da documentao, que tenta explorar ao mximo essa velocidade de navegao entre as massas de informao que so condensadas em volumes cada vez menores. A tendncia contempornea hipertextualizao dos documentos pode ser definida como uma tendncia indeterminao, mistura das funes de leitura e de escrita, diz Lvy. Para ele, se o hipertexto for definido como espao de percurso para leituras possveis, ento o texto aparece como leitura particular de um hipertexto. O navegador participa da redao do texto que l. Tudo se d como se o autor do hipertexto constitusse uma matriz de textos potenciais; o papel do navegante sendo o de realizar alguns desses textos colocando em jogo a combinatria entre os ns. O hipertexto, para o autor, opera a virtualizao do texto. Para Lvy, o navegador pode se tornar autor da maneira mais profunda do que ao percorrer uma rede preestabelecida, pois participa da estruturao do texto. Esse navegador no ir apenas escolher quais links preexistentes sero usados, mas ir criar novos links, que tero sentido para ele e que no tero sido pensados pelo criador do hiperdocumento. H sistemas igualmente capazes de gravar os percursos e reforar ou enfraquecer os links de acordo com a forma pela qual so percorridos pela comunidade de navegadores.

Os leitores podem no apenas modificar os links, mas tambm acrescentar ou modificar ns, conectar um hiperdocumento a outro e dessa forma transformar num nico documento dois hipertextos que antes eram separados. Essa pratica se encontra hoje em pleno desenvolvimento na internet, sobretudo na web. Nestas modalidades de navegao, os documentos no se encontram fixados em um CD-ROM, mas so acessveis on-line para uma comunidade de pessoas. Quando o sistema de visualizao em tempo real da estrutura do hipertexto bem concebido, ou quando a navegao pode ser efetuada de forma natural e intuitiva, os hiperdocumentos abertos acessveis por meio de uma rede de computadores so poderosos instrumentos de escrita-leitura coletiva. Do ponto de vista do autor, as grandes massas de informao reunidas pelos hiperdocumentos provm de fontes bastante diversas. O corte e a estruturao dessas informaes em rede podem ser considerados como uma de suas leituras possveis. Multimdia ou unimdia A mdia o suporte ou veculo da mensagem, explica Lvy. A recepo de uma mensagem pode colocar em jogo diversas modalidade perceptivas. As realidades virtuais podem colocar em jogo a viso, a audio, o tato e a cinestesia. Uma mesma modalidade perceptiva pode permitir a recepo de diversos tipos de representaes. A codificao, analgica ou numrica, refere-se ao sistema fundamental de gravao e transmisso das informaes. O rdio, a televiso, o cinema e a fotografia podem ser analgicos ou digitais. O dispositivo informacional qualifica a estrutura da mensagem ou o modo de relao dos elementos de informao. A mensagem pode ser linear ou em rede. Os hiperdocumentos codificados digitalmente no foram os criadores da estrutura em rede j que possuem uma estrutura reticulada. O ciberespao fez com que surgissem dois dispositivos informacionais: o mundo virtual e a informao em fluxo. O mundo virtual, argumenta o autor, dispe as informaes em um espao contnuo e no em rede, fazendo-o em funo da posio do explorador ou representante dentro deste mundo. A informao em fluxo designa dados em estado contnuo de modificao. O mundo virtual e a informao em fluxo tendem a reproduzir em grande escala uma relao no-midiatizada com a informao. A noo de dispositivo informacional independente da mdia, da modalidade perceptiva em jogo ou do tipo de representao transportada pelas mensagens. O dispositivo comunicacional designa a relao entre os participantes da comunicao. Podemos distinguir trs grandes categorias de dispositivos comunicacionais: um-todos, um-um e todos-todos. A imprensa, o rdio e a televiso so estruturados no princpio um-todos: um centro emissor envia suas mensagens a um grande nmero de receptores passivos. O correio e o telefone so exemplos do princpio um-um, de relaes recprocas entre interlocutores, para contatos de indivduo a indivduo ou de ponto a ponto. O ciberespao permite que comunidades constituam de forma progressiva e de maneira cooperativa um contexto comum (dispositivo todos-todos). O dispositivo comunicacional independe dos sentidos implicados pela recepo, e tambm do modo de representao da informao. Lvy insiste que so os novos dispositivos informacionais que so os maiores portadores de mutaes culturais. Ele acha a noo de multimdia vaga.

O termo multimdia significa aquilo que emprega diversos suportes ou veculos de comunicao, mas raro que seja usado nesse sentido, lamenta Lvy. Hoje, refere-se geralmente a duas tendncias dos sistemas de comunicao contemporneos: a multimodalidade e a integrao digital. Em primeiro lugar, destaca o autor, seria muito mais correto, do ponto de vista lingstico, falar de informaes ou de mensagens multimodais, uma vez que estas colocam em jogo diversas modalidades sensoriais. Em segundo lugar, a palavra multimdia remete ao movimento geral da digitalizao que diz respeito, de forma mais imediata ou distante, s diferentes mdias. Se a digitalizao encontra-se em marcha acelerada, afirma Lvy, a integrao de todas as mdias continua sendo, em contrapartida, uma tendncia de longo prazo. O autor sente que para designar de maneira clara a confluncia de mdias separadas em direo mesma rede digital integrada deveria ser utilizado de preferncia o termo unimdia. O termo multimdia, diz ele, pode induzir ao erro, j que parece indicar uma variedade de suportes e canais, ao passo que a tendncia de fundo vai, ao contrrio, rumo interconexo e integrao. A palavra multimdia, quando empregada para designar a emergncia de uma nova mdia, parece inadequada a Lvy, j que chama ateno sobre as formas de representao ou de suportes, enquanto ele sente que a novidade principal se encontra nos dispositivos informacionais e no dispositivo de comunicao interativo e comunitrios (em outras palavras: num modo de relao entre as pessoas em uma certa qualidade de lao social). Simulaes Lvy conta que com o aumento da potncia de clculo dos computadores tornou-se mais rpido e barato fazer com que ele calcule o efeito dos ventos sobre as superfcies de sustentao dos modelos de avies. O computador simula a resistncia do ar para o avio. Para que sua resposta seja correta, necessrio que as descries fornecidas sejam rigorosas, precisas e coerentes. Essas descries rigorosas dos objetos ou fenmenos a serem simulados so chamadas de modelos. O sistema de simulao permite ao engenheiro modificar facilmente a forma e as dimenses do avio, e tambm visualizar imediatamente o efeito dessas modificaes. Os computadores fizeram os engenheiros passar da noo simples de simulao numrica de simulao grfica interativa. O fenmeno simulado visualizado, sendo possvel atuar em tempo real sobre as variveis do modelo e observar imediatamente na tela as transformaes resultantes. A modelagem traduz de forma visual e dinmica aspectos em geral no visveis da realidade e pertence, portanto, a um tipo particular de encenao. Lvy frisa que todas as simulaes se baseiam em descries ou modelos numricos dos fenmenos simulados e que elas valem tanto quanto as descries. Escala dos mundos virtuais Alguns sistemas de informaes, destaca Lvy, so concebidos para:

- simular uma interao entre uma situao dada e uma pessoa, - permitir que o explorador humano tenha controle rgido e em tempo real sobre seu representante no modelo da situao simulada. Esses sistemas do ao explorador, diz o autor, a sensao subjetiva de estar em interao pessoal e imediata com a situao simulada. A realidade virtual A realidade virtual especifica um tipo particular de simulao interativa, na qual o explorador tem a sensao fsica de estar imerso na situao definida por um banco de dados. Ao manter uma interao sensrio-motora com o contedo de uma memria de computador, o explorador consegue a iluso de uma realidade na qual estaria mergulhado: aquela que descrita pela memria digital. O explorar no pode esquecer que o universo sensorial em que est imerso apenas virtual. No s epode confundir a realidade virtual com a realidade cotidiana, defende Lvy. A virtualidade no sentido do dispositivo informacional (sentido mos fraco que o anterior) Um mundo virtual pode simular fielmente o mundo real, mas de acordo com escalas imensas ou minsculas. Pode simular ambientes fsicos imaginrios. Pode simular espaos no-fsicos. Um mapa uma semiotizao de um territrio. Por analogia, um mundo virtual pode ser da famlia dos mapas e no da famlia das cpias ou iluses. O territrio cartografado ou simulado pelo mundo virtual no necessariamente o universo fsico tridimensional. A noo de mundo virtual no implica a simulao de espaos fsicos nem o uso de equipamentos pesados e caros, explica o autor. As duas caractersticas distintivas do mundo virtual, em sentido mais amplo, so a imerso e a navegao por proximidade. Os indivduos ou grupos participantes so imersos em num mundo virtual, ou seja, possuem uma imagem de si mesmos e de dada situao. Cada ato modifica o mundo virtual e sua imagem nele. Na navegao por proximidade, o mundo virtual orienta os atos do indivduo ou do grupo. A virtualidade informtica (sentido ainda mais fraco) Uma imagem virtual se sua origem for uma descrio digital numa memria de computador. Mantendo um paralelo com o sentido filosfico, a imagem virtual na memria do computador e atual na tela. A imagem ainda mais virtual quando sua descrio digital no um depsito estvel na memria do computador, mas quando calculada em tempo real por um programa a partir de um modelo e de um fluxo de dados. A virtualidade resultante da digitalizao designa o processo de gerao automtica ou de clculo de uma grande quantidade de textos, mensagens sonoras, visuais ou tcteis, de resultados de todos os tipos, em funo de uma matriz inicial e de uma interao em progresso. O carter virtual do sistema especializado o torna um instrumento mais avanado do que o simples manual em papel. Suas respostas, em quantidades praticamente infinitas, preexistem apenas virtualmente. So calculadas e atualizadas no contexto.

Para Lvy, um mundo virtual, no sentido amplo, um universo de possveis, calculveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usurios o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interaes podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual se torna um vetor de inteligncia e criao coletivas. Computadores e redes de computadores surgem como a infra-estrutura fsica do novo universo informacional da virtualidade. Quanto mais se disseminam, mais os mundos virtuais iro se multiplicar em quantidade e se desenvolver em variedade. Captulo IV A interatividade A interatividade vista como problema Lvy tenta fazer, neste captulo, uma abordagem problemtica da noo de interatividade. Ele explica que o termo interatividade em geral ressalta a participao ativa do beneficirio de uma transao de informao. O autor defende que um receptor de informao, a menos que esteja morto, nunca passivo. Mesmo sentado na frente de uma televiso sem controle remoto, o destinatrio decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de muitas maneiras e sempre de forma diferente de outra pessoa. O autor tambm destaca que a possibilidade de reapropriao e recombinao material da mensagem por seu receptor um parmetro fundamental para avaliar o grau de interatividade do produto. Lvy argumenta que se ao falar de interatividade se busca um canal de comunicao que funciona nos dois sentidos ento o modelo da mdia interativa incontestavelmente o telefone, que permite o dilogo recproco. O autor argumenta que a comunicao por mundos virtuais , em certo sentido, mais interativa que a comunicao telefnica, uma vez que implica na mensagem. Mas, noutro sentido, o telefone mais interativo, pois coloca que liga em contato com o corpo do interlocutor (no apenas a imagem do corpo, mas sua voz, que a dimenso essencial de sua manifestao fsica). A voz do interlocutor est de fato presente quando recebida pelo telefone. O telefone a primeira mdia de telepresena, que hoje amplamente pesquisada. Se tenta estender e generalizar a telepresena a outras dimenses corporais. O grau de interatividade de uma mdia ou dispositivo comunicacional, de acordo com Lvy, pode ser medido em eixos bem diferentes: - as possibilidades de apropriao e de personalizao da mensagem recebida, seja qual for sua natureza; - a reciprocidade da comunicao (se um-um ou um-todos); - a virtualidade, que enfatiza o clculo da mensagem em tempo real em funo de um modelo e de dados de entrada; - a implicao da imagem dos participantes nas mensagens; - a telepresena.

A interatividade, na viso do autor, assinala muito mais um problema a necessidade de um novo trabalho de observao, de concepo e de avaliao dos modos de comunicao do que uma caracterstica simples e unvoca atribuvel a um sistema especfico. Captulo V O ciberespao ou a virtualizao da comunicao Lvy enfatiza que sua obra um ensaio sobre as implicaes culturais do desenvolvimento do ciberespao, e no um guia prtico de navegao na web. Ele pensa que o melhor guia para a web a prpria web. O autor define duas grandes atitudes de navegao opostas. Cada navegao real ilustra geralmente uma mistura das duas. A primeira a caada. Nela, o navegante procura uma informao precisa, que deseja obter o mais rpido possvel. A segunda a pilhagem. No sabendo exatamente o que procura, o navegante acaba sempre por encontrar algo, derivando de site em site, link em link, recolhendo aqui e ali coisas de seu interesse. Lvy ressalta que, como se pode achar praticamente tudo e qualquer coisa na internet, nenhum exemplo que possa citar ir dar a idia da infinidade de navegaes possveis, sendo que cada navegao nica. Citando um exemplo de caada, o autor chega concluso de que mesmo quando no possvel obter a informao diretamente na internet se pode ao menos contatar pessoas ou instituies aptas a fornec-la, eliminando drasticamente uma srie de custos e tempo gasto para tal. O virtual, aponta ele, no substitui o real, apenas multiplica as oportunidades para atualiz-lo. Aps citar um exemplo de pilhagem, o autor chega concluso de que o processo pode ser comparado apenas com o ato de vagar numa imensa biblioteca-discoteca ilustrada, de fcil acesso, onde se pode consultar tudo em tempo real, de carter interativo, participativo, impertinente e ldico. Tal midiateca mundial aumenta constantemente. Longe de se uniformizar, defende o autor, a internet abriga a cada ano mais lnguas, culturas e variedade. Cabe apenas aos usurios continuar a alimentar essa diversidade e exercer sua curiosidade para no deixar dormir, enterradas no fundo do oceano informacional, as prolas do saber e do prazer que esse oceano contm. O que ciberespao? A palavra foi inventada em 1984 por William Gibson no romance de fico cientfica Neuromante. No livro, o termo designa o universo das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econmico-cultural. O termo foi retomado pelos usurios e criadores de redes digitais. Existe hoje no mundo uma profuso de correntes literrias, musicais, artsticas e talvez at polticas que se dizem parte da cibercultura. Lvy define ciberespao como o espao de comunicao aberto pela interconexo mundial dos computadores e das memrias dos computadores. Essa definio inclui o conjunto de sistemas de comunicao eletrnicos, na medida em que transmitem informaes provenientes de fontes digitais ou destinadas digitalizao. O autor

insiste na codificao digital, pois ela condiciona o carter virtual da informao, que a marca distintiva do ciberespao. Esse meio, defende, tem a vocao de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criao de informao. Ele prev que a perspectiva da digitalizao geral das informaes ir tornar o ciberespao o principal canal de comunicao e suporte de memria da humanidade no sculo atual. Em seguida, o autor ir analisar os principais modos de comunicao e da interao possibilitados pelo ciberespao. Acesso distncia e transferncia de arquivos Uma das principais funes do ciberespao, para Lvy, o acesso a distncia aos diversos recursos de um computador. O ciberespao pode fornecer uma potncia de clculo em tempo real, no sendo mais necessrio ter um grande computador no local. Basta que a potncia de clculo esta disponvel em algum lugar no ciberespao. Tambm possvel acessar o contedo de bancos de dados ou a memria de um computador distante. Torna-se possvel, ento, que comunidades dispersas possam se comunicar por meio do compartilhamento de uma telememria na qual cada membro l e escreve, qualquer que seja sua posio geogrfica. Outra funo importante do ciberespao a transferncia de dados (ou upload). Transferir um arquivo consiste em copiar um pacote de informaes de uma memria digital para outra. O correio eletrnico As funes de troca de mensagens encontram-se entre as mais importantes e usadas do ciberespao. Lvy destaca que as mensagens recebidas numa caixa postal eletrnica so obtidas em formato digital, o que significa que elas podem ser facilmente apagadas, modificadas e classificadas na memria do computador, sem passar pelo papel. No mais necessrio imprimir o texto que se deseja fazer chegar a um destinatrio; ele pode ser enviado diretamente em seu formato digital inicial. Em qualquer lugar onde haja possibilidade de conexo telefnica, ressalta o autor, possvel tomar conhecimento das mensagens recebidas ou enviar novas mensagens. O correio eletrnico permite enviar, de uma nica vez, uma mesma mensagem a uma lista de correspondentes, no sendo necessrio fazer fotocpias do documento nem digitar diversos nmeros telefnicos, um aps o outro. Se cada membro de um grupo de pessoas possui a lista dos endereos eletrnicos dos outros, surge a possibilidade de comunicao de coletivo para coletivo. As conferncias eletrnicas O sistema de conferncias eletrnicas um dispositivo sofisticado que permite que grupos de pessoas discutam em conjunto sobre temas especficos. As mensagens so normalmente classificadas por assuntos e sub-tpicos. Neste sistema, as mensagens no so dirigidas a pessoas, mas sim a temas ou sub-temas. O que no impede os indivduos de responderem uns aos outros, j que as mensagens so assinadas. Alm disso, os indivduos podem em geral se comunicar pelo correio eletrnico clssico.

As redes de redes, como a internet, permitem o acesso a um nmero enorme de conferncias eletrnicas. As conferncias especificas da internet so chamadas de newsgroup ou news. Ao dar visibilidade a estes grupos de discusso, o ciberespao se torna uma forma de contatar pessoas no mais em funo de seu nome ou posio geogrfica, mas a partir de seus centros de interesses, defende Lvy. Da conferncia eletrnica ao groupware Quando sistemas de indexao e pesquisa so integrados a essas conferncias e todas as contribuies so gravadas, elas funcionam como memrias de grupo. Obtm-se, ento, bases de dados vivas, alimentadas permanentemente por coletivos de pessoas interessadas nos mesmos assuntos e confrontadas umas s outras. No limite, fica borrada a distino entre hiperdocumento acessvel on-line e um sistema de conferncias eletrnicas avanado. Lvy argumenta que um hipertexto s desdobra todas suas qualidades quando inserido no ciberespao. Em seguida, ele cita o exemplo de dispositivos de ensino em grupo, especialmente projetados para o compartilhamento de diversos recursos computacionais e o uso dos meios de comunicao prprios do ciberespao. Tais dispositivos permitem a discusso coletiva, a diviso de conhecimentos, as trocas de saberes entre indivduos, o acesso a tutores on-line e a bases de dados. Em sistemas mais aperfeioados, os hiperdocumentos se encontram estruturados e enriquecidos em funo das perguntas e navegaes dos aprendizes. Novas formas de organizao do trabalho que exploram ao mximo os recursos de hiperdocumentos compartilhados (das conferncias eletrnicas, do acesso distancia e das transferncias, ou downloads, de arquivos) tambm esto surgindo. Os programas e sistemas a servio do trabalho cooperativo do chamados de groupware. Sob o nome de intranet, so cada vez mais usadas as ferramentas da internet para a organizao interna das empresas ou redes empresariais. A intranet, que se imps como padro, possui instrumentos para correspondncia, colaborao, compartilhamento de memria e de documentos imediatamente compatveis com a vasta rede externa. As transaes mais diversas entre os sistemas de informao das organizaes que usam a intranet se tornam transparentes. O ciberespao, defende o autor, permite a combinao de vrios modos de comunicao. Se encontra, em graus de complexidade crescente: o correio eletrnico, as conferncias eletrnicas, o hiperdocumento compartilhado, os sistemas avanados de aprendizagem ou de trabalho cooperativo e, enfim, os mundos virtuais multiusurios. A comunicao atravs de mundos virtuais compartilhados Lvy frisa que a interao com uma realidade virtual no sentido mais forte vem a ser a possibilidade de explorar ou modificar o contedo de um banco de dados por meio de gestos e perceber imediatamente, num modo sensvel, os aspectos do banco de dados revelados pelos gestos que foram executados. O que equivale a manter uma relao sensrio-motora com o contedo de uma memria de computador. As realidades virtuais servem cada vez mais como mdia de comunicao. As realidades virtuais compartilhadas, que podem fazer comunicar milhares ou at mesmo milhes de pessoas, devem ser consideradas como dispositivos de comunicao todostodos, tpicos da cibercultura. A noo de comunicao atravs de mundo virtual compartilhado, de acordo com Lvy, pode ser estendida a outros sistemas alm daqueles que simulam uma interao

no centro de um universo fsico tridimensional realista cujo aspecto visual calculado de acordo com as leis da perspectiva. possvel haver uma comunicao atravs de mundos virtuais, mesmo num sentido mais fraco do que o das simulaes por imerso. Para que determinado dispositivo comunicacional seja considerado um mundo virtual, no necessrio que ele calcule imagens e sons, conclui Lvy. Navegaes Pessoas sem nenhum conhecimento de programao podem usar as funes de correio e de conferncia eletrnica, ou consultar um hiperdocumento distncia dentro de uma mesma rede. Basta saber clicar nos botes corretos ou escolher as operaes que se quer efetuar em um menu ou, na pior das hipteses, digitar comandos que so rapidamente decorados. Em contraste, a circulao de uma rede para outra no ciberespao exigiu, durante muito tempo, competncias relativamente avanadas em informtica. Para Lvy, essa situao est para mudar. Novas geraes de programas e servios de pesquisa livram os navegadores da manipulao de cdigos esotricos e longas perambulaes durante suas buscas por informaes. Todo o progresso das interfaces hoje, acredita o autor, se dirige opacidade do ciberespao Para o autor, celulares, televisores digitais,todos terminais do ciberespao sero dotados de capacidades importantes de clculo e memria. Os sistemas operacionais desses aparelhos possuiro instrumentos de navegao e de orientao num ciberespao cada vez mais transparente. H programas atualmente capazes de caar automaticamente informaes em centenas de bancos de dados e bibliotecas dispersas no ciberespao. possvel tambm treinar agentes de softwares especializados (os knowbots) para pesquisar periodicamente no ciberespao informaes multimodais interessantes e apresent-las automaticamente sob a forma de revista estruturada interativa ou de hiperdocumentos especialmente compostos para uma pessoa. Outros programas (gophers) fornecem a seus usurios uma espcie de mapa inteligente capaz de levar aos lugares mostrados. Um sistema de interconexo e de pesquisa de documentos como a World Wide Web tem a capacidade de transformar a internet num hipertexto gigante, independente da localizao fsica dos arquivos de computador. Na web, cada elemento de informao contm links que podem ser seguidos para acessar outros documentos relacionados. A web tambm permite o acesso por palavras-chave a documentos dispersos em centenas de computadores de todo o mundo, como se fizessem parte do mesmo banco de dados ou disco rgido. Para Lvy, virtualmente todos os textos formam um nico hipertexto. A anlise tambm vale para as imagens, que constituem um nico hipercone e para as msicas, que compem, juntas, uma polifonia inaudvel (que o autor chama de sinfonia de Babel). O autor conclui a primeira parte de seu livro dizendo que as pesquisas sobre as interfaces de navegao so orientadas, direta ou indiretamente, pela perspectiva ltima de transformar o ciberespao num nico mundo virtual, imenso, infinitamente variado e perpetuamente mutante.