fichamento 2º semestre_metodologia da economia

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Fichamento 2º semestre: Metodologia da Economia Sumário Primeira parte L. Robbins/escolha e escassez - M. Friedman/Previsões.................................................1 Texto 0: L. Robbins, An essay on the nature and significance of economic science................................................. 1 Texto 1: A Metodologia da economia positiva (Milton Friedman).4 Segunda parte Mainstream Economics (heterodoxia x ortodoxia) 11 Economia heterodoxa..........................................11 Texto 2: Now you see it, now you don’t: emerging contrary results in economics (Robert S. Goldfarb).............................12 Texto 3: Aula magna, 38º encontro das ANPEC (Ana Bianchi).......14 Texto 4: The changing face of mainstream economics (D. Colander e outros)...........................................................17 Terceira parte Retorica na economia.........................19 Introdução à retórica........................................19 Texto 5: História do pensamento econômico como teoria e retórica (Pérsio Arida).............................................21 Texto 6: Retórica da economia (D.N.McCloskey)...................27 Quarta parte Economia comportamental........................31 Texto 7: NUDGE: O empurrão para a escolha certa (Thaler and Sunstein)......................................................... 32 Texto 8: Economistas de avental branco: Uma defesa do método experimental na economia (Ana Bianchi e Geraldo Andrade)...............35 Economia comportamental e experimental.......................36 Primeira parte L. Robbins/escolha e escassez - M. Friedman/Previsões Texto 0: L. Robbins, An essay on the nature and significance of economic science 1

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Page 1: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

Fichamento 2º semestre: Metodologia da Economia

Sumário Primeira parte L. Robbins/escolha e escassez - M. Friedman/Previsões...................................................................................................................1

Texto 0: L. Robbins, An essay on the nature and significance of economic science....................................................................................................................1

Texto 1: A Metodologia da economia positiva (Milton Friedman)......4

Segunda parte Mainstream Economics (heterodoxia x ortodoxia) 11

Economia heterodoxa.................................................................................................11

Texto 2: Now you see it, now you don’t: emerging contrary results in economics (Robert S. Goldfarb)...................................................................................12

Texto 3: Aula magna, 38º encontro das ANPEC (Ana Bianchi)..............14

Texto 4: The changing face of mainstream economics (D. Colander e outros)...........................................................................................................................................17

Terceira parte Retorica na economia..............................................................19

Introdução à retórica..................................................................................................19

Texto 5: História do pensamento econômico como teoria e retórica (Pérsio Arida)..............................................................................................................................21

Texto 6: Retórica da economia (D.N.McCloskey)...........................................27

Quarta parte Economia comportamental......................................................31

Texto 7: NUDGE: O empurrão para a escolha certa (Thaler and Sunstein)......................................................................................................................................32

Texto 8: Economistas de avental branco: Uma defesa do método experimental na economia (Ana Bianchi e Geraldo Andrade)............................35

Economia comportamental e experimental...................................................36

Primeira parte L. Robbins/escolha e escassez - M. Friedman/Previsões

Texto 0: L. Robbins, An essay on the nature and significance of economic science

Resumo Instrumentalista ou pragmatista? Friedman tem ou pouco dos dois. Instrumentalismo vê a teoria como instrumento não importando, portanto saber se uma teoria é ou não verdadeira. O pragmatismo avalia uma teoria por se esta é mais ou menos confiável se caracterizando por seu pequeno rigor filosófico.

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Debate de métodos Teoria da firma e a decisão dos empresários (não racionalidade econômica). Para Friedman a qualidade de uma teoria se mede pela confiança que podemos ter em sua capacidade de fazer previsões. O termo chave é FECUNDIDADE. Dado que o realismo descritivo seria impossível uma teoria deve ter relevância principalmente em seu aspecto analítico. Pressupostos de uma teoria duas “funções” ajudar na formulação de teorias e como evidência indireta (conclusões que viram pressupostos de uma nova teoria). Método “as if” (como se) três exemplo: 1) bilhar; 2) empresário e decisões; 3) posicionamento das folhas; todos agem como se mas não têm “consciência direta”, agem como se fossem conscientes da teoria, mas não o são, daí a não necessidade do realismo dos pressupostos.

O texto

Considerada definição neoclássica de ciência econômica. A definição clássica está relacionada à ideia de riqueza, e como obtê-la e mantê-la. Críticas a comparações interpessoais de utilidade decorrente de crença que todos nós sabemos, por introspecção, que os indivíduos têm preferências e as arranjam em determinada ordem (o “indiscutível fato da experiência”, que não precisa ser validado empiricamente.)

O pensamento de Robbins é uma reação às seguintes duas correntes:

1) behaviorismo - o indivíduo não reage a estímulos mecanicamente, ele faz escolhas; 2) hedonismo psicológico - questiona concepção do comportamento individual como simples cálculo de dor e prazer. Como reação a essas duas correntes Robbins propunha que:

a) Afastou-se dos austríacos ao não endossar plenamente subjetivismo da escolha humana. Pouca ênfase à seleção dos fins, sua futuridade, a incerteza da ação, soberania do indivíduo sobre suas escolhas etc.

b) Vê escolha econômica inteiramente circunscrita pela estrutura de fins e meios dados, que tornam necessário o comportamento alocativo sistemático.

Em relação ao aspecto metodológico:

a) Cético quanto à viabilidade e utilidade da investigação empírica. Posiciona-se ao lado dos que defendem o método hipotético-dedutivo para a economia.

b) Critica também “economia quantitativa” por ser de difícil generalização, pois as condições reais são muito diferentes das usadas nos modelos matemáticos.

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Sobre o texto em si:

Objetivo do livro é identificar e delimitar o objeto da Economia, criar uma definição operacional. Referência a Mill, definição é posterior à própria investigação econômica.A definição mais comum de economia (definição clássica) dizia que esta era estudo das causas do bem-estar material. É uma definição materialista. Robbins por sua vez era um adepto da teoria subjetiva do valor e questionava, por exemplo, como dentro dessa definição materialista se enquadrariam aspectos da economia como a definição dos salários de um músico de orquestra ou gastos com finalidade não materiais de um modo geral (discussão sobre a distinção entre trabalho produtivo e trabalho improdutivo “é produtivo se tem importância para os agentes econômicos”).Economia, para Robbins não deveria tratar das causas da riqueza material. Exemplo: Colher batatas ou conversar com o papagaio? Crusoe, resgatado, conversar com papagaio num palco e cobra por isso, então temos trabalho produtivo? É comum a todos os seres humanos que os fins são variados e diferem em importância para cada pessoa. O tempo e os meios para atingi-los são limitados e passíveis de aplicação alternativa de forma que o comportamento necessariamente assume a forma de escolha. Escolha se define como renuncia. Todo ato que envolve tempo e meios escassos para o alcance de uma meta envolve renúncia de seu uso para alcance de outra. Nem todos os meios se apresentam ou são percebidos necessariamente como limitados. Alguns existem em abundância para parecerem ilimitados, e para alguns há tão poucos meios que os que existem também aparecem como ilimitados. Porém a escassez de meios para satisfazer fins de importância variável é condição quase onipresente no comportamento humano.

Definição de economia: Economia é a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos. (lembrar teoria dos salários e da economia política das guerras)

Esta é uma definição considerada de caráter analítico. A crítica principal em relação a esta definição é a de que todo o tipo de comportamento humano pode por ela ser abordado. Não há limitações ao objeto da ciência econômica, além do fato da atividade envolver a renúncia a alternativas desejadas. Para Robbins a economia não se preocupa com um determinado tipo de comportamento humano definido, devendo abrir espaço em sua análise para a escolha individual.

Pontos importantes:

Não se deve subestimar a diferença entre as duas definições, a de Robbins, baseada na escassez, e a materialista. Não se prende à materialidade de um bem econômico, mas na forma como é valorizada, sua relação com desejos dados. Por outro lado, Robbins não rejeita o corpo de conhecimento da Economia, apenas a definição. Em suma, economistas não se preocupam com os fins, quaisquer que sejam eles, enquanto tais. Eles só se preocupam com seu impacto sobre a disposição de meios escassos.

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Ciência econômica é incapaz de decidir sobre a desejabilidade de diferentes fins e é, portanto, fundamentalmente diferente da Ética.

As críticas ao texto:

Positivismo: crença de que é possível construir uma ciência positiva, sem considerações normativas. Concepção forte de neutralidade científica.Insistência no caráter geral, abstrato, analítico do raciocínio econômico, que não requer nem possibilita integração orgânica com outras ciências sociais. CE = sistema de deduções lógicas a partir de princípios axiomáticos. Dentre eles, a ideia de que arranjamos nossas preferências em determinada ordem. Por outro lado, qualquer comportamento pode ser encarado como econômico, desde que seja uma escolha. Individualismo metodológico – economia como estudo da escolha individual em situação de escassez. E quando não há escolha propriamente dita, no sentido de escolha instrumental?

Texto 1: A Metodologia da economia positiva (Milton Friedman)

J.N.Keynes resumo: ciência positiva “corpo sistematizado de conhecimento relativo ao que é”; ciência normativa “corpo sistematizado de conhecimentos em que se analisam critérios do que deveria ser”; arte “sistema de regras para a consecução de um determinado objetivo”. A confusão entre essas três dimensões é bastante comum e fonte de erros sérios e numerosos. Importância de reconhecer uma ciência positiva autônoma. O artigo de M. Friedman busca lidar com aspectos metodológicos relativos a tentativa de se construir uma ciência positiva da economia autônoma, e mais especificamente sobre como proceder em relação a questão de como decidir se uma hipótese ou teoria deve ou não ser aceita, ainda que provisoriamente como parte dessa ciência positiva. (Nota: o autor esta escrevendo para um público a e não especializado, de forma que usa indistintamente os termos hipótese e teoria).

1. A relação entre economia positiva e economia normativa

A confusão entre os dois tipos de economia é, até certo ponto, inevitável. As conclusões da economia positiva são de relevância imediata para problemas normativos (ex. legislação). Seja um leigo ou um perito, todos tendem a acomodar as conclusões positivas aos seus preconceitos normativos, e a rejeitar essas conclusões no caso de suas consequências normativas se mostrarem desagradáveis. A economia positiva deve ser (ao menos em teoria) independente dos aspectos normativos, sua tarefa é a de provar um sistema de generalizações passível de ser utilizado para fazer previsões corretas acerca das consequências de qualquer alteração das circunstâncias. O desempenho da economia positiva só pode ser medido em termos de precisão e alcance das previsões em relação à experiência. A economia positiva pode ser objetiva tanto quanto qualquer ciência física.

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O fato de (1) considerar as interrelações entre seres humanos e (2) o pesquisador ser ele mesmo um ser humano, nenhum dos dois pontos permite que se estabeleça uma diferenciação clara entre ciência econômica e as ciências objetivas.

A economia normativa e a arte, por sua vez, não podem ser independentes da economia positiva. Não existe, no entanto uma relação unívoca e direta entre previsões positivas e as diretrizes normativas a seguir. “Duas pessoas podem concordar a respeito das consequências de uma lei, mas discordar sobre aceitar ou não tais consequências.” Exemplo da lei do salário mínimo; “o acordo sobre as consequências da lei não precisa corresponder ao acordo da desejabilidade dessa lei.” Nesse sentido o consenso na economia dependeria menos do aspecto normativo e mais do seu aspecto positivo.

2. Economia positiva

Objetivo construir uma teoria/hipótese capaz de produzir previsões válidas e significativas acerca de fenômenos ainda não observados.

Dois elementos importantes:

1) Linguagem: métodos sistematizados de raciocínio instrumento. Não possui conteúdo substantivo; sistema de arquivamento e organizador de material empírico; simplificador desse material. Depende principalmente de considerações lógicas.

2) Corpo de hipóteses substantivas: colher por abstração aspectos essenciais da realidade complexa temática. Somente a contrapartida empírica significativa serve para avaliarmos se um sistema lógico é ou não útil para avaliar um problema concreto.

Como corpo de hipóteses substantivas, uma teoria será julgada pelo seu poder preditivo em relação à classe de fenômenos que pretende “explicar”. Somente a evidência factual poderá mostrar se uma teoria é “certa” ou “errada”, ou seja, se será aceita provisoriamente como válida ou se será rejeitada. “O único teste relevante para a validade de uma hipótese é a comparação das suas previsões com a experiência”. “A evidência factual jamais prova uma hipótese, pode apenas deixar de refutá-la”. Importante ficar claro que as previsões de um a determinada teoria não precisam necessariamente ser relativas a eventos futuros, mas podem dizer respeito a fenômenos já ocorridos.

Este critério de validade não é suficiente para podermos escolher uma dentre várias hipóteses. Embora os fatos observáveis sejam finitos, o número de hipóteses (compatíveis com os fatos) possíveis é infinito. Tal escolha será necessariamente arbitrária (até certo ponto), levam em conta critérios como os de simplicidade e fecundidade, porém, estes não são critérios completamente objetivos. É simples se os conhecimentos iniciais exigidos forem relativamente menores e é fecunda se as previsões são precisas se abrangem uma maior área de atuação e um maior número de linhas de investigação á sugerido.

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Completude e coerência lógica são aspectos complementares como, por exemplo, estatísticas.

A dificuldade em realizar experimentos não é um critério suficiente para se distinguir entre ciências sociais e ciências físicas. A evidência da experiência seria tão completa quanto a evidência decorrente de experimentos. Porém a evidência da experiência seria mais difícil de interpretar, sendo mais indireta, incompleta e mais complexa. Não há “experimento crucial” em economia.

Uma das consequências da dificuldade de se realizar o teste de hipóteses (por experimentos) em economia é a fuga desta na direção de análises puramente formais (tautologias). Mas se a economia pretende mais do que tautologia esta deve se relacionar com hipóteses substantivas que possam sugerir categorias com seus respectivos fenômenos empíricos.

Mal entendidos com relação ao papel da evidência empírica no trabalho teórico: A evidência empírica é vital em relação a duas fases;

a) Elaboração de hipótesesb) Teste de sua validade

A evidência empírica tratará de generalizar e “explicar”, é um veículo para a formação de novas hipóteses, assegura que a hipótese explica o que pretende explicar. As duas fases metodologicamente separadas andam na verdade juntas.

Nas ciências sociais, a dificuldade em se conseguir evidências novas sobre um conjunto de fenômenos que determinada teoria pretende explicar acaba por gerar mal entendidos devido ao fato de que se torna tentadora a ideia de que as hipóteses não admitem apenas implicações, mas também pressupostos, e que a adequação desses pressupostos à realidade é um teste de validade da hipótese que difere do teste por implicações ou a ele se adiciona. Esta concepção errônea foi causa de numerosos danos. O uso de pressupostos provoca mal entendidos em torno do significado da evidência empírica para a teoria econômica.

Quanto mais significativa uma teoria, mais não realista os seus pressupostos. Por quê? Porque, uma hipótese é importante quando “explica” com base em poucos elementos, quando é capaz de delimitar por abstração partindo de uma massa complexa que cerca o fenômeno que pretende explicar. Esse fenômeno se compõe de uma classe de elementos comuns e fundamentais, sendo, portanto, a hipótese importante aquela capaz de formular previsões válidas fundamentadas nesse conjunto crucial de elementos delimitados por abstração. (os pressupostos são delimitações arbitrárias que possibilitam a previsão eficaz, independentemente de seu realismo; aliás, como previsões partem de simplificações da realidade, pressupostos realistas seriam uma contradição à boa teoria enquanto formuladora de previsões válidas). Para que seja importante uma hipótese deve ser descritivamente falsa em seus pressupostos.

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3. Pode uma hipótese submeter-se a teste pelo realismo de seus pressupostos

O trecho se inicia com o exemplo da lei da queda dos corpos. Diz-se que serve para mostrar a impossibilidade de se submeter uma teoria a teste pelos seus pressupostos atentando para a ambiguidade do próprio conceito de pressupostos devido à dificuldade em se obter um padrão de comparação para determinar seu realismo. A fórmula para tal lei vai então pressupor a existência do vácuo, não porque o vácuo é mais realista (o que não é) mas porque assim ela funciona. O problema então é o de especificar em que condições funciona, ou seja, indicar a magnitude geral dos erros que se apresentam em suas previsões. Não há separação entre a hipótese e tal indicação dos erros, em verdade, tais indicações estarão sempre sofrendo modificações na medida em que acumulamos experiência.

Caso da queda de uma pena: neste caso os pressupostos são falsos porque a teoria não funciona e não a teoria não funciona porque os pressupostos são falsos. O pressupostos são corretamente utilizados quando ajudam a especificar aquelas situações em que a teoria não funciona, mas são erroneamente utilizados quando usados para determinar tais circunstâncias. Logo, se não determinam não podem ser usados para testar uma hipótese.

Exemplo do posicionamento das folhas de uma árvore para receber luz. Podemos pressupor que as folhas procurassem por si mesmas o melhor local. Não importa que saibamos que folhas não pensam, dado que a hipótese diz que as folhas se concentram em um determinado lado da árvore de forma a maximizar a absorção de luz, se as folhas pensam ou não isso não invalida a hipótese, pois o resultado é o mesmo. A hipótese que considera que as folhas se concentram passivamente e não ativamente num determinado lado não é melhor por que seus pressupostos são mais realistas, mas porque é parte de outra teoria de maior generalidade e que se aplica a uma maior variedade de fenômenos. Neste exemplo fica claro como os pressupostos da teoria não têm qualquer papel em sua determinação.

Exemplo de prever os pontos de um exímio jogador de bilhar/empresas que conhecessem todas as teorias: assim como podemos pressupor que um jogador que conheça todas as fórmulas matemáticas para acertar uma tacada, ou como podemos pressupor uma empresa que conheça todas as funções para acertar nos seus investimento, na realidade nem os homens de negócios nem os jogadores agem fazendo todos os cálculos. Podem ser exímios (jogador ou empresário) por simples processo de seleção natural.

4. Significado e papel dos “pressupostos” de uma teoria

Uma teoria não pode ser submetida a teste pelo realismo de seus pressupostos e o próprio conceito de pressupostos de uma teoria está cercado por ambiguidades.

Os pressupostos de uma teoria desempenhariam três papeis positivos.

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1) Modo econômico de descrever ou apresentar uma teoria2) Podem facilitar o teste indireto da hipótese e de suas implicações3) Podem ser um meio eficaz de especificar as condições de validade de uma

teoria

Os dois primeiros serão aprofundados abaixo:

a. Uso de “pressupostos” na formulação de uma teoria

HIPÓTESE/TEORIA asserção de que certas forças são importantes para uma particular classe de fenômenos; especificação da atuação de tais forças.

A hipótese envolve dois elementos:

1) Mundo conceitual/modelo abstrato mais simples do que o mundo real e que contém apenas aquelas forças que a hipótese considera importantes para a classe de fenômenos que esta tenta explicar.

2) Conjunto de regras que definem a classe de fenômenos relativamente aos quais o modelo se tornas adequada representação do mundo real, e que, a par disso, especificam a correspondência entre variáveis ou entidades do modelo e fatos observáveis.

O modelo é abstrato e completo; as regras que governam o uso do modelo nuca são abstratas e completas. As regras precisam ser concretas e por isso não podem ser completas, a completude só é possível no mundo conceitual. O modelo é a corporificação lógica da meia verdade, porém as regras de aplicação do modelo não podem ignorar a igualdade significativa meia-verdade.

Para tornar então a ciência objetiva devemos tornar claras e explicitas as regras alargando o âmbito dos fenômenos para os quais essa possibilidade se apresente.

A capacidade de selecionar os aspectos que afetam ou não a forma de associar fenômenos observáveis com modelos abstratos é algo que não se pode ensinar e que só se aprende por experiência em envolvimento em adequada atmosfera científica.

Ao falarmos de pressupostos cruciais de uma teoria o que se estaria fazendo na realidade é discorrer sobre os elementos chave do modelo abstrato.

b. O uso de “pressupostos” como teste indireto de uma teoria

Na formulação de uma hipótese parece óbvia a separação entre enunciados ligados aos pressupostos e enunciados ligados às implicações. Na realidade tal distinção não é tão óbvia ou simples, pois a distinção não é um traço comum às hipóteses em si, mas sim da maneira de empregá-la. Se há tal facilidade esta decorre da ausência de ambiguidade em relação ao alvo que a hipótese se pretende a atingir.

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Os pressupostos de uma hipótese servem para nos dar alguma evidência indireta relativa à aceitabilidade da hipótese, na medida em que estes possam ser eles mesmos considerados como implicações da hipótese, ou na medida em que lembrem outras implicações da hipótese possíveis de serem empiricamente observadas. O que torna essa evidência indireta é o fato de que tais pressupostos ou suas implicações correspondentes referem-se a uma classe de fenômenos diferentes daqueles que a hipótese pretende explicar. Aí está o critério que deve se usar para definir que enunciados considerar como pressupostos e quais considerar como implicações. Pressupostos podem também facilitar o teste indireto de uma hipótese indicando similaridades desta com outras hipóteses relevantes para a validade da hipótese inicial e tornando-a evidência corroborativa das demais hipóteses. Tal associação leva em direção à formulação de hipóteses de maior generalidade . A evidência indireta explica, por exemplo, os diferentes graus de confiança que diferentes grupos dão a uma mesma hipótese (exemplo da diferença entre economistas e sociólogos).

5. Algumas implicações de interesse para as questões econômicas

Resposta à critica a teoria da economia enquanto não realista. Podem criticar, mas somente se trouxerem outra teoria que conduza a melhores previsões em um âmbito igual ou maior de fenômenos. Caso contrário, não há motivos para abandonar determinada teoria, a qual, embora imperfeita em suas previsões, é melhor do que nada.

Uma teoria ou seus pressupostos não podem ser cabalmente realistas no sentido descritivo imediato. A ideia de uma teoria completamente realista é ilusória (se pudéssemos ter tal objeto ele seria em si uma inconsistência lógica, pois, só há teoria porque não há acesso direto à realidade).

A questão é então a de descobrir quais os critérios para avaliar se os desvios de uma teoria em relação à realidade são ou não aceitáveis. Para saber a diferença das influências de diferentes fatores há única maneira possível é comparar o efeito previsto com o observado. A crítica ao não realismo da economia incorre na confusão entre acuidade descritiva e relevância analítica. A teoria é o modo como percebemos fatos e não podemos percebê-los sem dispor de uma teoria. Os tipos ideais desenvolvidos por teóricos da economia acabam por ser vistos como categorias descritivas e que estariam em correspondência direta com o mundo real, daí a confusão entre acuidade descritiva e relevância analítica. Acontece que os tipos ideais não têm pretensão alguma à acuidade descritiva, são pensados a fim de isolar os traços relevantes (ao modelo) para a resolução de um problema específico.

6. Conclusão

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A economia, enquanto ciência positiva, é um corpo de generalizações, provisoriamente acolhidas, referentes à fenômenos econômicos, passíveis de se verem utilizadas para prever as consequências de alterações das circunstâncias.

Nas ciências sócias as dificuldades ao “progresso” científico parecem ainda maiores. A importância dos temas por ela abordados para a vida cotidiana e para as questões de interesse público dificulta a objetividade promovendo confusão entre análise científica e juízo normativo. A necessidade de confiar em experiências não controladas torna difícil a apresentação de evidência clara e concludente. Porém isso não afeta o princípio metodológico fundamental de que uma hipótese só pode ser submetida a teste analisando os acordos de suas implicações, ou previsões, com os fenômenos observados, mas torna mais complicada a tarefa de submeter a testes tais hipóteses aumentando a gama e possibilidades de confusões metodológicas. Por isso os cientistas sócias, mais do que os demais cientistas, precisam ter perfeita consciência da metodologia que adotam.

Confusão relativa ao papel dos pressupostos: Uma hipótese/teoria cientificamente significativa diz que algumas forças são importantes enquanto outras não para a compreensão de uma classe específica de fenômenos. Convém formular tal hipótese indicando que os fenômenos cuja previsão ele almeja se comportam, no mundo das observações, como se ocorressem em mundo grandemente simplificado que só contém as forças dadas como importantes (modelo ou tipo ideal) por aquela hipótese. O importante é que há mais de uma maneira de se elaborar essa descrição/tipo ideal/modelo, há mais de um conjunto de pressupostos em termos dos quais um teoria se apresenta. A escolha de um determinado conjunto de pressupostos leva em conta considerações como as de precisão e de clareza além da possibilidade de que tais pressupostos forneçam evidências indiretas para a validade da hipótese. a) apontando algumas das implicações passíveis de se verem rapidamente confrontadas com a observação; b) trazendo à tona as conexões que ela possa manter com outras hipóteses relativas à fenômenos correlatos.

Uma teoria não pode ser submetida a teste por meio da comparação direta de seus pressupostos com a realidade, não há maneira significativa de efetuar tal comparação. O realismo completo é inatingível, a questão de saber se uma teoria é ou não suficientemente realista só pode ser enfrentada verificando se conduz a previsões que sejam boas o bastante dados os objetivos, ou que sejam melhores do que as previsões decorrentes de teorias alternativos.

A ideia de que uma teoria é passível de teste através do realismo de seus pressupostos, independentemente da acuidade de suas previsões, ganhou ampla aceitação e se tornou fulcro de boa parte da crítica dirigida contra a teoria econômica, acusando-a de falta de realismo. Tais críticas, no entanto são irrelevantes e não lograram êxito em nenhuma de suas tentativas de reformulação da economia.

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Embora as críticas não tenham alcançado um alvo não quer dizer que não exista um. Todo a teoria é obrigatoriamente provisória estando sempre sujeita a modificações.

A formulação de hipóteses é um ato criativo, de inspiração, intuição, invenção, sua essência está na descoberta de algo novo em material familiar. Tal processo deve ser discutido em termos psicológicos e não em termos lógicos; deve ser examinado à luz de biografias e de autobiografias não à luz de tratados sobre método científico, deve ser promovido através da máxima e do exemplo, não dos teoremas ou dos silogismos.

Segunda parte Mainstream Economics (heterodoxia x ortodoxia)

Economia heterodoxa

Economia heterodoxa é uma categoria que se refere a abordagens ou escolas de pensamento econômico que são consideradas fora da economia ortodoxa. A economia heterodoxa é uma expressão ampla que cobre campos, projetos ou tradições separados e às vezes distantes, que incluem o (antigo) institucionalismo, a economia pós-keynesiana, feminista, marxiana e austríaca, dentre outras.

Enquanto a economia ortodoxa pode ser definida em torno do nexo "equilíbrio-racionalidade-individualismo", a economia heterodoxa pode ser definida em termos de um nexo "estrutura histórico-social-institucional". Perceba que existe uma ênfase distinta ao se distinguir as economias ortodoxas e heterodoxas dessa maneira em comparação com a interpretação dessa divisão como sendo entre um sistema-fechado em oposição a um sistema-aberto.

É difícil definir a economia heterodoxa. Poderia se dizer que sua missão é a de "promover o pluralismo na economia". Um desafio central para a heterodoxia é se auto-definir de forma mais precisa do que simplesmente economia não-neoclássica. Ao definir um denominador comum no "comentário crítico" alguns economistas heterodoxos, tem tentado fazer três coisas: (1) identificar idéias compartilhadas que gerem um padrão de crítica heterodoxa; (2) dar atenção especial a idéias que liguem diferenças metodológicas com diferenças em relação à formulação de políticas; e (3) caracterizar as semelhanças.

Os heterodoxos aceitam a intervenção do estado, enquanto que os ortodoxos acreditam no livre equilibrio entre oferta e demanda.

Rejeição da economia neo-clássica

Não há uma única "teoria econômica heterodoxa". Existem diversas "teorias heterodoxas". O que todas compartilham, no entanto, é a rejeição da ortodoxia neoclássica como a ferramenta apropriada para a compreensão dos mecanismos da vida econômica e social. Os motivos dessa rejeição variam.

Crítica ao modelo neoclássico do comportamento individual

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Um dos princípios mais amplamente aceitos da economia neoclássica é a suposição da "racionalidade dos agentes econômicos". A economia neoclássica com suposições a priori de que os agentes são "racionais" e que eles buscam "maximizar sua utilidade individual" (ou lucro) sujeitos a restrições ambientais. Essas suposições fornecem a espinha dorsal para a teoria da escolha racional e é a partir dessa base que os economistas neoclássicos desenvolveram as funções de oferta e demanda que, dentro de certas condições, levam a um determinado equilíbrio de mercado liquidado. Sob condições ainda mais estritas esse equilíbrio será eficiente. A economia heterodoxa rejeita as suposições fundamentais sobre as quais grande parte da teoria neoclássica foi construída.

Muitas escolas heterodoxas são críticas ao modelo homo economicus de comportamento humano usado no modelo neoclássico padrão.

Crítica do modelo neoclássico de equilíbrio de mercado

O conceito de "equilíbrio de mercado" foi criticado pelos austríacos, pós-keynesianos e outros, que se opuseram à aplicação da teoria microeconômica a mercados do mundo real, quando tais mercados não são aproximados a modelos microeconômicos. Economistas heterodoxos afirmam que os modelos microeconômicos raramente capturam a realidade.

Texto 2: Now you see it, now you don’t: emerging contrary results in economics (Robert S. Goldfarb)

Resumo: O texto trata da importância da comparação entre teoria e empiria e da complexidade desta relação. Os dados emitem sinais contraditórios. Padrão cíclico da literatura empírica está presente em apenas 10% dos casos analisados pelo autor. Oposição entre os discursos de Kuhn (teorias não podem ser derrubadas por empiria) X Friedman (teorias podem ser derrubadas por empiria). Questão do viés de publicação; conclusão de que tal viés não apresentou a relevância que se esperava ter apresentado. Importante que os resultados mais recentes nem sempre são os mais corretos ou os melhores.

O texto:

Há uma literatura de caráter empírico que, na economia, mostram um determinado padrão de resultados. Primeiro, um acúmulo de evidências que suportem um resultado empírico. Com o passar do tempo resultados contrários emerge desafiando os resultados iniciais. Esse fenômeno levanta importantes questões sobre 1) qual a parte dos achados empíricos em como os economistas acreditam nas coisas e 2) como inferências críveis podem ser feitas em relação a literaturas que demonstrem resultados contrários.

Uma das perguntas centrais desse artigo é a de como os economistas vem a acreditar em determinadas ideias e como lidam com as mudanças aprendendo ou não com elas.

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Há duas visões contrapostas que devem ser observadas: 1) aquela ligada a T. Kuhn e outros que diz que só se pode derrubar uma teoria com outra teoria; 2) do outro lado a visão ligada a M. Friedman que diz que uma teoria se mantém ou cai de acordo com sua capacidade de prever aquilo o que a evidência empírica revela.

Parte da resposta sobre como se inferir dado a existência de ciclos onde emergem evidências contrárias é encontrada na análise de se tais resultados são provavelmente mais ou menos críveis do que os antigos.

Implications of these results

1) pode a existência de resultados contraditórios distorcer os incentivos ao processo de disseminação de pesquisas; 2) como a existências destas pode influenciar ou afetar a forma ou consciência de como os economistas fazem inferências sobre dados empíricos e sua literatura; 3) quais as implicações dos resultados contrários na habilidade da pesquisa empírica em resolver disputas teóricas/conceituais/empíricas? Como esta condição implica nas tendências em relação à linha de Kuhn ou Friedman.

Distortion in the Research dissemination process?

Algumas das explicações estão baseadas no processo e na dinâmica de pesquisa em si, porém, há outras explicações baseadas no processo de disseminação e publicação das pesquisas.

The difficulty of making warranted inferences

Mesmo experts em determinado assunto podem fazer diferentes inferências a partir de um mesmo conjunto de dados empíricos. Como se diz “dados falam por si”.

Apesar de ser comum acreditar que os dados mais recentes – dado essa dinâmica de surgimento cíclico de evidências contrária – são mais acurados isso não ocorre necessariamente, podendo e havendo casos em que realmente dados mais antigos são mais acurados de que os novos e contrários.

To what extent will empirical work resolve conceptual/theoretical/empirical disputes?

Como os economistas passam a acreditar naquilo em que acredita, e como alterem ao longo do tempo aquilo no que acreditam? Como dados empíricos podem afetar esta rede de crenças? A relativa fragilidade dos achados empíricos torna mais provável que as pré-concepções teóricas sejam relativamente impenetráveis às investidas dos dados empíricos. Essa relativa impenetrabilidade esta alinhada com ideias do tipo: “se você torturar o suficiente os dados ele irão dizer o que você quiser que digam”. Em outras palavras, se os dados não se encaixam na teoria pior para eles.

As explicações para a emergência de resultados contrários

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Explicação 1: Mais, diversificado e/ou rico conjunto de dados. Amostras maiores, novas variáveis de cruzamento...

Explicação 2: Novas e extravagantes técnicas . Explicação 3: Fazer de uma variável exógena endógena (ao modelo de

análise). Explicação 4: Viés de publicação no nível das instituições publicantes

(jornais, periódicos). Por exemplo, tendência a publicar apenas conclusões polêmicas, ou uma única linha de pensamento...

Explicação 5: Viés de estratégia de busca do pesquisador. Quando devo para de rodar regressões para explorar um determinado conjunto de dados?

Explicação 6: Erros de cálculos, coleta e tratamento de dados, replicação (tipo 1 e tipo 2).

Explicação 7: Melhor entendimento de onde se aplicam determinados efeitos.

Explicação 8: Pressupostos teóricos fortes não suportados por novos e melhores dados.

Explicação 9: Desenvolvimentos teóricos que afetam o trabalho empírico.

Texto 3: Aula magna, 38º encontro das ANPEC (Ana Bianchi)

O artigo se divide em três partes: 1) resumo do “estado da arte” na área de metodologia econômica; 2)problemas recorrentes na construção e teste de teorias econômicas (fragmentação da discussão); 3) previsões para o futuro (três artigos).

Os rumos da metodologia econômica

A busca de uma metodologia única (regras fixas de aceitação universal) foi um empreendimento frustrado. Não há um kit-metodológico, não há a melhor teoria. A aceitação dessa condição fez com que o terreno que antes era exclusivo de heterodoxos não mas o fosse, o metodólogo passou a preocupar-se com a “recuperação da prática” dos economistas. Sua intenção é desconstruir (não destruir) o conteúdo típico das diversas correntes de pensamento. Por isso a metodologia econômica atual é fortemente ligada à história do pensamento. O objetivo é menos jugar do que conhecer.

Tal movimento deve ser compreendido dentro da superação de uma filosofia inspirada no positivismo. Esta superação significou uma mudança na visão ingênua de que a ciência seria capaz de espelhar o mundo como tal, sem distorções ou recursos juízos de valor ou mineração de dados tendenciosa.

Esse processo de superação do positivismo traz também a fragmentação da discussão metodológica (“lado bom”)

A ironia é que embora tenha o metodólogo reduzido o escopo de sua investigação, não se reduziu o tamanho dos problemas com que este se defronta. Essa restrição de foco não eliminou, por exemplo, a existência do que se chama “vício ricardiano”

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tendência da economia de saltar diretamente da teoria pura á aplicação prática.

Exemplo: economia comportamental.

Aliança entre a economia e a psicologia (separadas por um longo período) Questiona os pressupostos minimalistas da teoria tradicional ao jogar luz às anomalias empíricas que sugerem a violação do comportamento de maximização da utilidade esperada. Esta, longe de ser randômica, tenderia a ocorrer de forma sistemática e seguindo padrões.

Do ponto de vista de seus procedimentos a economia comportamental apoia-se principalmente em experimentos, mas não está a estes restrita. Seu caráter inovador não a torna imune à problemas metodológicos.

Este campo esta fortemente amparado e relacionado com a neurociência. Tal relação traz o risco de adesão ao fisicalismo (explicar apenas pelos aspectos físicos do cérebro), como no behaviorismo, os estados da mente passam a ser vistos como meras disposições comportamentais, acionadas por estímulos puramente externos.

Outra forma de reducionismo (como o é o fisicalismo ou o behaviorismo) é o individualismo metodológico, que reduz tudo ao comportamento dos indivíduos, buscando a partir deste explicar a economia e a sociedade, sendo o bem estar social um mero resultado de agregação passiva (mas pessoas exibem, por exemplo, comportamento de manada em situações específicas, agem por culpa, por senso de justiça, recorrem a instituições).

Três olhares

The changing face of mainstream economics (Colander e outros)

O texto qualifica como simplista o rótulo que coloca o mainstream da economia como adepto da “santíssima trindade” da racionalidade do egoísmo e do equilíbrio. Este rótulo se faz indevido por não mais refletir a pesquisa de fronteira na economia. A tese do artigo é a de que a situação atual do mainstream caracteriza-se por uma grande variância nas visões aceitas, decorrente de uma atitude de maior abertura para ideias novas, inclusive aquelas provenientes de correntes heterodoxas e de outras disciplinas. A dupla fronteira da economia teria componentes intelectuais, associados a esse esforço de incorporar novas ideias, bem como uma dimensão social, ligada ao ambiente em que se dá a pesquisa e a elaboração de pesquisas e a elaboração de políticas. Nesse ambiente seria possível produzir, acolher e disseminar concepções novas ou até marginalizadas.

O importante aqui é não confundir o mainstream com a ortodoxia. O caráter “aberto” do mainstream seria derivado de este ser composto pela elite dos economistas e pelos centros de pesquisa de maior visibilidade acadêmica.

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Não se trata, porém, de uma revolução científica no sentido posto por T. Kuhn. As mudanças são vistas como adição ao conhecimento, são mudanças evolucionárias e cumulativas.

O avanço na fronteira se daria, então, na forma de diversificação.

Ao contrário da ortodoxia, fechada, conservadora, monótona, a elite tem boa vontade em relação a novas ideias, está disposta a encampar sugestões de origens diversas (inclusive provenientes de fontes heterodoxas), desde que apresentem uma linguagem considerada adequada. Sem preconceitos, porém, não sem resistências.

Menos otimista que Colander, W. Hands adverte sobre a pressão de suas forças conservadoras: 1) há muito a perder ao abrir mão de um patrimônio acumulado pela ciência econômica; 2) papel cambiante das dimensões positiva e normativa da economia.

A reação conservadora argumenta que a teoria da escolha tem caráter normativo, está consciente que as pessoas não se comportam assim na realidade, mas construir uma teoria realista nunca foi o objetivo (tipo ideal, “funciona melhor do que as outras”). A previsão de Hands é a de que no futura não haverá uma disciplina econômica unificada.

John Davis (terceira visão), também vê claras evidências de que a economia teria se tornado mais pluralista, mas diz que isto pode na verdade representar mais uma fase de um ciclo mais estendido, e que logo o pluralismo iria ceder seu lugar a uma nova ortodoxia. Gostaria que o pluralismo durasse mas não é isso o que diz a história do pensamento econômico. O que há são ciclos em que se alternam pluralismo e ortodoxia.

Texto 4: The changing face of mainstream economics (D. Colander e outros)

Resumo: Noção de fronteira; associada à ideia de mainstream como objeto dinâmico e que é capaz de absorver novos programas de pesquisa (não no sentido de kuhniano de revolução morte por morte). O mainstream se constitui pelas elites da profissão nos custos de maior prestígio. Repercussão no ensino; “gap” em relação à graduação e mestrado. Texto de Davis ideia de imperialismo reverso (em relação às demais ciências sociais); comportamento econômico enquanto aspecto do comportamento e não como tipo de comportamento. Retornos periódicos à ortodoxia (ciclos), por que não manter o pluralismo.

The profession as a complex system

Sistemas complexos não podem ser compreendidos por meio de “pressupostos” (princípios assumidos), só podem ser entendidos por meio do processo de transformação que os acompanha. A profissão do economista da mesma forma pode ser mais bem entendida por meio do processo de transformação que a caracteriza. É uma entidade dinâmica que gera uma auto reprodução evolutiva de um sistema

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complexo de ideias que interagem entre si. Toda a classificação estática esconde este processo dinâmico.

The edge (fronteira) of economics

Nas últimas décadas tem havido um aumento na variedade de visões aceitas, mesmo naqueles centros onde não há muitas mudanças.

Change within the profession

Essas mudanças não são mudanças como as descritas por Kuhn onde cai um paradigma que é imediatamente substituído por outro, ao contrário são mudanças cumulativas que só no fim do processo são reconhecidos como revolucionários. As mudanças vão sendo aceitas de forma mais gradual.

Essas mudanças muitas vezes vêm de correntes heterodoxas e não sempre do mainstream. Esses canais alternativos permitem ao mainstream expandir e desenvolver-se de forma a incluir um amplo número de abordagens e entendimentos.

Mudanças, mesmo as mais revolucionárias, sempre vêm de dentro e podem não ser notadas por anos. As mudanças são tão graduais que podem nem ser notadas.

The process of change

O trabalho na fronteira da ciência geralmente tem início com pesquisadores jovens e em alguns casos dentre aqueles que estão realizando trabalhos na linha heterodoxa. Mas, sua habilidade para fazer este trabalho e para que este afete a profissão depende da existência de pessoas cruciais presentes nos centros acadêmicos de maior liderança e que representam o mainstream da economia e que estejam abertos a considerar seriamente novas ideias.

Orthodoxy, heterodoxy, mainstream

É importante ter claro o que cada termo representa e como se relacionam com a ideia de que a dinâmica da mudança na profissão acontece na fronteira desta.

Mainstream são as ideias mantidas por aqueles indivíduos que são dominantes nos centros acadêmicas (instituições, jornais...) de referência, especialmente os centros de pesquisa que são líderes. O mainstream consiste daquelas ideias as quais a elite da profissão crê aceitáveis. Não é um termo que descreva uma escola historicamente determinada. Ele descreve as crenças vistas nas instituições top. O mainstream em geral representa uma abordagem mais ampla e eclética da economia do que aquela que caracteriza a mais recente ortodoxia.

Ortodoxia é uma categoria intelectual, um termo que “olha para traz”, uma representação estática de um processo dinâmico e por isso nunca apropriado para descrever o campo da economia em seu estado atual.

A diferença entre mainstream e ortodoxia fica mais clara ao nos atentarmos para dois aspectos do termo ortodoxia: 1) O nome e as especificações daquilo o que é a

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ortodoxia em geral vêm décadas depois do período de suas existências. Sendo assim a ortodoxia só pode ter um “olhar para traz” e nunca um olhar corrente (mainstream) ou “para frente” (heterodoxia); 2) o nome que tem uma escola ortodoxa em geral é dado por um dissidente (alguém de fora da ortodoxia, um crítico) que se opõe às ideias ortodoxas e não um apoiador destas. Dar um nome é com criar um alvo para facilitar o direcionamento das criticas.

Heterodoxia É usualmente definida em referência à ortodoxia como significando contra a ortodoxia, definindo-se em termos daquilo o não é ao invés daquilo o que é. De um ponto de vista sociológico um heterodoxo também se define como alguém que não faz parte do mainstream. Para além desta rejeição em relação a tudo o que representa a ortodoxia, a heterodoxia não possui um único elemento unificador que a distinga ou caracterize. Em fato, as correntes heterodoxas têm mais desacordos entre si do que há desacordos entre ela e a ortodoxia.

Se o campo da economia fosse estático e unidimensional os conceitos de ortodoxia e heterodoxia seriam suficientes para explica-lo, mas não é. Para se entender o aspecto dinâmico da profissão e a função dos economistas trabalhando na fronteira, a distinção entre mainstream e ortodoxia é central. A fronteira da economia é aquela parte do mainstream que é crítica á ortodoxia e aquela parte da heterodoxia que é levada a sério pela elite da profissão. A teoria dos autores é a de que o mainstream é aberto á novas abordagens desde que estas tenham um claro entendimento dos pontos fortes da ortodoxia e os levem em conta e desde que sua metodologia seja aceita pelo mainstream. A visão da elite da profissão é uma “visão para frente”, sendo esta elite um grupo muito difuso. A elite estaria aberta a novas ideias desde que suas metodologias fossem “aceitáveis”.

Lembrar-se do exemplo da enorme diferença entre o mainstream e os livros textos e aquilo o que se ensina nos cursos de graduação.

Os autores enfatizam que a complexidade é um fator determinante para o trabalho na fronteira, no entanto os modelos permanecem como elemento central da abordagem do mainstream, porém, a natureza dos modelos e suas assunções que lhes dão suporte/base estão muito mais abertos à transdisciplinariedade.

Terceira parte Retorica na economia

Introdução à retórica

Período recente: Decepção com método popperiano e emergência da retórica como programa de pesquisa.

Sofistas criaram a retórica como arte do discurso persuasivo. "Kairós".

Aristóteles e a retórica a serviço da democracia. Retórica e Razão (Logos). Retórica e Dialética

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Definição estreita. Retórica = ornamento, "mera retórica", blá-blá-blá (pode adquirir tom pejorativo)

Definição ampla (Aristóteles) Retórica = habilidade de buscar os meios disponíveis de persuasão. Retórica vs. Violência.

No século XX Reabilita sentido aristotélico do termo, retórica associada à lógica e à dialética. Esforço da filosofia do direito para superar positivismo. Enfatiza ideia de “adesão” – retórica definida como defesa de uma tese perante audiência, com o propósito de conquistar sua adesão. Auditórios particulares, auditório universal.

Na Economia - corrente(s) filosófica(s) em que se insere o programa de pesquisas retórico Neopragmatismo, Pós-Modernismo, Hermenêutica Pós-Moderna.

Pós-Modernismo – define-se por oposição ao modernismo; questiona herança do Iluminismo, inclusive universo centrado na razão. Invade vários campos: ciência, arquitetura e arte em geral, literatura etc. Com pós-modernismo chegou a vez do verdadeiro e, portanto, da ciência. Esta deve ser descontruída. Filosofia pós-moderna introduz certa incredulidade em relação ao “discurso” da ciência. Ataca a metáfora do espelho, noção de que a mente humana “espelha” o mundo. Conhecimento é representação, ciência é discurso.

McCloskey e a Retórica como alternativa ao Método – Notas complementares

• Modernismo defendido por Friedman, Machlup, Hutchison, Samuelson etc.. Crença fundamental único conhecimento real é o "científico". Ciência axiomática e matemática. Clara demarcação em relação à opinião, à literatura etc.

• Na economia produziu economistas fartos da história, que depreciam outros cientistas sociais, ignoram sua civilização, não levam em consideração a ética e são irreflexivos quanto ao método.

• Filosofia modernista é obsoleta, regras mestras são impostas, jamais argumentadas.

• Economistas seguem argumento de autoridade, erro tático ao copiar filosofia que, no entanto, mudou. Professam adesão ao positivismo e, com isso, sujeitam-se ao descrédito em relação a essa filosofia da ciência.

• Crença no teste falseador crucial, que seria a grande marca do pensamento científico. Ora, teste envolve hipóteses auxiliares, e tomar seus resultados como absolutos é interromper a conversação.

• A predição não é possível na economia e na prática outros métodos são usados, ex., simulação.

• Teste falseador decisivo: “ Se vc é tão esperto, ó, economista, por que não é + rico?”

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• Consistentemente aplicada, metodologia modernista brecaria os avanços na economia

• Tb outras ciências “cozinham” resultados para adequar-se à metodologia modernista.

• Alternativa à metodologia é anarquia? Não necessariamente. Boa ciência é boa conversação.

• Retórica é melhor maneira de entender a ciência. Outras ciências também tem retórica

• Uma das virtudes da abordagem retórica é o fato de se colocar contra dogmatismos. Nesse sentido, vai além do positivismo.

• Também ajuda a perceber que muitas controvérsias na ciência se resolvem retoricamente (se tanto).

• Mas... e a preocupação com a verdade, deve ser abandonada? Verdade é 5ª roda, economia é literatura? (episteme/conhecimento x doxa/opinião).

Crítica fundamental à proposta de McCloskey:

1) 2 sentidos que McCloskey atribui à retórica podem chocar-se: discurso persuasivo vs. conversa civilizada. Querer persuadir e querer dizer a verdade não são incompatíveis, mas não são substitutos perfeitos.

2) O mercado de idéias tem muitas imperfeições, como qualquer outro.

3) Retórica não substitui método.

4) A arte retórica: ler bem, escrever bem, dar melhores aulas.

5) A análise retórica = estudo do argumento, retórica como instrumento de análise do discurso. Foco pode ser colocado no auditório que se quer atingir.

Texto 5: História do pensamento econômico como teoria e retórica (Pérsio Arida)

I. Introdução:

Estudos sobre retórica estão em moda nas ciências sociais. Retórica no sentido aristotélico “arte de converter e persuadir”. Era mais comum nas ciências jurídicas mas se expandiu para as demais ciências sócias. Práxis jurídica “interpretar com plausibilidade; explorar ao limite a ambiguidade latente de sentido”.

HERMENEUTICA “interpretação do sentido das palavras; teoria/arte da interpretação; algo que se torna compreensível; origem – deus Hermes que tornava compreensíveis as falas dos deuses; teoria geral da compreensão.

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Na economia, o deslocamento recente em direção à retórica e interpretação é mais próximo do deslocamento observado na área jurídica, o qual que apenas alicerçou posições epistemológicas latentes.

Colapso da metodologia modernista. Interpretação endógena do deslocamento é do que trata o ensaio. A economia, a despeito dos paralelos de deslocamento nas demais ciências sociais, devido a sua característica de ignorantes, só aceitaria tal deslocamento dadas exigências internas de seu próprio objeto.

De forma resumida, as próximas seções do ensaio tratarão da diferença entre o que se chamou hard science (modelo americano) e soft science (modelo europeu). A critica aos dois modelos é feita de forma que o primeiro dependeria de uma epistemologia superada e o segundo por oferecer uma imagem distorcida do passado e do presente da disciplina. Mais adiante argumenta no sentido de estudar a história do pensamento econômico como um caso aplicado de retórica.

II. Dois modelos de história e teoria

Hard science O estudante deve familiarizar-se de imediato com o estágio atual da teoria. Surge no século XX (pós-segunda guerra mundial) sendo o modelo hegemônico na academia norte americana.

Soft science O estudante deve dominar os clássicos, mesmo que em prejuízo dos desdobramentos mais recentes da teoria.

No Brasil há tendência é a de uma combinação em proporções variadas dos dois modelos. Estratégia que acaba por dificultar a criação de um currículo homogêneo.

Os dois modelos possuem concepções diversas em relação a evolução da teoria econômica.

Hard science trabalha com a ideia de fronteira do conhecimento. Não seria necessário estudar os clássicos pois a contribuição destes já estaria incorporada ao estado atual da teoria.

Soft science ideia de um conhecimento disperso historicamente. O estudante deveria estudar os clássicos pois precisaria trilhar por si o caminho das matrizes fundamentais da teoria.

A história em cada modelo:

Hard science história do pensamento é igual a história das ideias. Deixando de lado a curiosidade histórica poderia ser totalmente desvinculada da teoria econômica.

Soft science história e teoria se confundem. Estudar teoria seria algo inseparável do estudo da história.

O duplo status atribuído à história do pensamento econômico, como história de ideias como teoria leva as seguintes críticas aos dois modelos:

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Hard science a noção de fronteira do conhecimento falsifica a história do pensamento como história das ideias.

Soft science a fusão entre história e teoria é necessariamente imperfeita acarretando em distorções graves tanto a uma quanto a outra.

1. A fronteira do conhecimento

Tal noção vem das ciências exatas. A história não precisa ser revisitada pois as contribuições de relevo já estão incorporadas ao estado atual da ciência. Todo o resto consistiria em concepções errôneas e que poderiam ser ignoradas sem prejuízo para a evolução da ciência. Um horizonte de em média cinco anos bastaria para separar a fronteira da história. A educação passa a depender essencialmente do livro texto que conduz estudante de uma formação genérica à fronteira do conhecimento de onde poderia então seguir. Relega-se o estudo de história ao status de disciplina eletiva dispensável a uma formação adequada.

Dada a noção de fronteira do conhecimento a história do pensamento se afirma como história das ideias, reduzindo-se a um inventário de erros e antecipações. Qualquer mudança na teoria afetam a avaliação do passado levando-se à necessidade de reescrevê-lo. A historiografia torna-se enfadonha, um mero debate sobre quem formulou o que primeiro, sendo campo apenas para aqueles que por incapacidade ou cansaço em sua maturidade já não estão mais atuando como desbravadores da fronteira.

Tal modelo acaba por levar a elevação das taxas de obsolescência intelectual, o decaimento intelectual daqueles que não se submetem a reciclagens periódicas. Isso se dá porque em realidade não há sabedoria a ser ganha, mas apenas um senso ex post dos caminhos da fronteira do conhecimento. Por outro lado no modelo soft a sabedoria te lugar certo dada a história do pensamento econômico. Familiarizar-se com a história é um processo cumulativo de reflexão e conhecimento. A obsolescência dos estudiosos da história do pensamento econômico é portanto muito menor do que a dos demais especialistas.

2. Os dois pressupostos do modelo soft science

Este modelo desconhece a noção de fronteira. Seus pressupostos dizem que as matrizes básicas da teoria econômica são 1) de conciliação problemática e 2) intraduzíveis em seu vigor original.

O primeiro desses dois pressupostos está fundamentado na ideia de que as matrizes se deslocam mutuamente ao invés de se contraporem frontalmente. Cada matriz possui uma concepção abrangente do que seria o mundo econômico, por isso não poderiam ser interpretadas como visões diferentes de um mesmo mundo, pois cada uma tem seu próprio mundo dificilmente admitindo qualquer tipo de fusão entre matrizes.

O segundo pressuposto, o dá não tradução, defende a impossibilidade de transcrição de uma matriz sem perda significativa de seu conteúdo.

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Neste modelo o aprendizado passa obrigatoriamente pelo estudo da história do pensamento, o que vale igualmente para o avanço da teoria, entendido enquanto reflexão empreendida diretamente a partir da história do pensamento. O próprio conceito de história do pensamento acaba por se des-historizar passando a coabitar o presente enquanto fonte permanente de reflexão sobre este.

Vemos então que a dimensão temporal do conhecimento perde força em ambos os modelos, no soft está espalhado pontualmente no hard condensado num ponto presente. Nos dois modelos o caráter cumulativo do conhecimento está presente.

3. A crítica ao modelo hard science

O divórcio entre o estudo da história do pensamento e o estudo da teoria depende crucialmente da existência de uma fronteira do conhecimento marcada por dois pressupostos: 1) a fronteira é a verdade colocada pelo passado 2) o aprendizado desta verdade prescinde do estudo de sua formulação original.

Quanto a real diferença entre os dois modelos, podemos dizer que está essencialmente contida na relação entre os primeiros pressupostos. No soft não há conciliação possível entre matrizes enquanto no hard esta se espelha na sobrevivência dos conceitos que integram a fronteira.

A existência ou não de uma fronteira do conhecimento depende essencialmente da resolução ou não de controvérsias surgidas na história do pensamento. Em outras palavras, implícita na noção de fronteira está a ideia de superação positiva, onde as controvérsias terminam e são percebidas como findas por seus participantes. A superação positiva entende que a resolução de uma controvérsia faz necessariamente emergir a verdade (saldo positivo e aceito por todos os envolvidos na controvérsia). Neste sentido, em última análise é recurso à história que permite julgar o modelo hard science. No entanto, embora possamos encontrar exemplos de controvérsias resolvidas por superação positiva há também diversos exemplos de controvérsias resolvidas apenas parcialmente. O término de controvérsias devido ao cansaço ou desinteresse é também mais comum do que se possa imaginar. Há que se levar em conta também a existência de controvérsias que mudam de sentido ao longo do tempo quanto a sua resolução, e que existem doutrinas opostas que convivem simultaneamente por longos períodos de tempo. Conclui-se que os cânones da superação positiva não caracterizam a realidade histórica das resoluções de controvérsias.

4. O programa neoclássico in statu nascendi

Programa de pesquisa que busca compreender os fenômenos econômicos sob o pressuposto de que derivam de decisões individuais de agentes racionais.

Tal programa surgiu historicamente em meio a três controvérsias distintas 1) defesa do marginalismo contra a teoria clássica do valor; 2) defesa contra os

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ataques da escola histórica alemã; 3) defesa contra a escola institucionalista norte americana.

Como se deu seu triunfo e por que programa se enquadra tão bem no modelo hard science? Suas armas foram a maior generalidade e sua capacidade de subsumir as proposições adversárias em seus próprios termos.

A resolução dessas controvérsias foi determinada acima de tudo pela superioridade dos procedimentos retóricos utilizados pelo programa chamado neoclássico e pelo vigor comparativo entre os diferentes programas. O recurso à evidência empírica desempenhou papel de pouca importância pois não haviam regras de validação comparativa entre os diferentes programas envolvidos. A “verdade” do programa neoclássico se estabeleceu, portanto, devido a motivos alheios ao modelo de hard science. A consolidação do programa neoclássico não se deveu ao seu maior sucesso empírico. A evidência empírica não é invariante aos próprios programas, cada um cria sua própria evidência. O modelo hard science não se aplica à economia porque a evidência é iluminada pelos programas de pesquisa e sua retórica de competição.

5. A crítica ao modelo soft science

A inadequação do modelo de superação positiva conferiria à história do pensamento um interesse estritamente teórico. No modelo soft science, seu estudo não se distingue do estudo da própria teoria. Porém, a fusão entre teoria e história acaba por ser funesta para ambas. Em sua forma mais radical o modelo soft pode levar a que se desconfie de toda a reflexão mais recente. Neste formato o modelo soft acabaria por dissolver a teoria na história do pensamento. Tal modelo só faria sentido se o modo de resolução das controvérsias no passado tivesse sido o da superação negativa.

Se o adepto do modelo hard fia-se na noção de fronteira devido ao desconhecimento da complexidade e não linearidade da história de sua própria disciplina, não é menor a ignorância do adepto do modelo soft ao fiar-se na presunção de que o estado atual da teoria á inútil ou equivocado. O bom desenvolvimento da teoria econômica deve ser feito nas duas frentes.

Na utilização heurística da história do pensamento, o texto clássico se torna autônomo, desvinculado do momento histórico ao qual pertence. Sua leitura é orientada para questões atuais, passando a ter como referência exclusiva o presente vivido pelo pesquisador. Tal desvinculamento embora não necessariamente nocivo em geral acaba por afetar a compreensão de seu significado.

O ponto é que, desenraizados da história, os textos aparecem como auto-inteligíveis, induzindo o leitor a dissolver suas supostas contradições e recuperar sua coerência oculta através de uma exegese aperfeiçoada. Fica o leitor igualmente tentado a preencher suas lacunas; se o texto encerra os elementos necessários para a sua própria compreensão, a exegese permite completá-lo, fazendo sua a voz do

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autor no afã de preencher silêncios e eliminar omissões. Os textos do passado não devem ser lidos como auto-inteligíveis mas antes como textos cifrados cujo código de entendimento só pode ser obtido pelo confronto com a multitextualidade de seu contexto histórico. O texto figura sempre no plural, juntamente com os textos de seus comentadores, críticos e demais documentos que marcam o momento intelectual então vigente. É nos textos de seu contexto que se encontra a chave de sua decodificação.

6. A avaliação dos dois modelos

Soft science o estudo da história do pensamento desempenha um papel crucial na formação teórica; a leitura dos textos do passado como expediente heurístico profícuo; exagera na ênfase atribuída ao papel da história do pensamento enquanto teoria, a tentativa de reinventar a teoria dado um contexto histórico diferente carece de sentido. Não é possível fugir da necessidade de estudar o estado atual da ciência sem que se incorra em regressão do conhecimento.

Hard science cria uma ruptura indevida entre a teoria e a história do pensamento.

A atitude ideal segundo o artigo é a de fazer uso das duas perspectivas colimadas em uma terceira e mais ampla opção.

III. Retórica

No modelo soft a história do pensamento é valorizada por sua utilização heurística como provedora de insights úteis para a teoria. Nesta seção se argumenta que a contribuição genuína da história do pensamento está no estudo do passado como um caso aplicado de retórica na ciência; e que a importância da retórica deriva do colapso da epistemologia falseacionista.

1. Falseacionismo

Nenhuma controvérsia importante na teoria econômica foi resolvida através da mensuração empírica. Não há regras comuns de validação aceitas por todos os participantes em controvérsias de relevo. Disto não decorre que o teste empírico não tenha importância, servem para tornar determinadas posições mais robustas do que suas rivais. A crescente sofisticação dos testes faz parte do processo de se angariar o consenso, mas não é através dele que se resolvem as controvérsias. Na história do pensamento econômico as controvérsias são resolvidas não porque uma das teses foi falsificada, mas sim porque a outra comandou maior poder de convencimento. Controvérsias se resolvem retoricamente; ganha quem tem maior poder de convencer, quem torna suas ideias mais plausíveis, quem é capaz de formar consenso em torno de si. Convence a tese que melhor se conforma a um conjunto de regras de retórica prefixadas e consensualmente aceitas. O conceito relevante de evidência é muito mais amplo do que apenas a evidência empírica; a

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conformidade de um discurso às regras de boa retórica é em si uma evidência de verdade. É a retórica que provê o substrato comum que permite a homogeneidade do discurso, de suas formas de argumentação e portanto de evolução.

2. As regras de retórica

Primeiro vale lembrar que as “regras de retórica” estão sujeitas a certa historicidade.

Simplicidade: explicações simples têm maior plausibilidade. Coerência: capacidade de auto definição. Abrangência: o argumento incapaz de explicar a evidência empírica

disponível perde plausibilidade, embora não exista evidência empírica que desqualifique um programa de pesquisa.

Generalidade: argumento que inclui seu rival como um caso particular adquire maior plausibilidade.

Redução de metáforas: todo argumento retórico é irremediavelmente metafórico; sendo a metáfora um instrumento do pensamento e não um recurso de exposição; o argumento que se apresente como menos carregado de metáforas tem maior plausibilidade. A metáfora atinge o máximo de eficiência retórica no início do debate ou na apresentação de certas proposições originais.

Formalização: esta regra pressupõe um público capaz de entender a formalização, porém todo argumento bem formalizado tem um maior poder de convencimento.

Reinventar a tradição: recortar o passado de forma a reivindicar para si uma tradição de pensamento e isolar o oponente como fruto de um desvio da tradição correta.

Texto 6: Retórica da economia (D.N.McCloskey)

Resumo: Retórica e neopragmatismo; conceitos de orador, auditório (central no neopragmatismo) e texto. Retórica sofista (fica suspensa a capacidade do discurso falar sobre o que é; verdade = consenso) x retórica de Platão (preocupação de ligar a retórica à lógica e à dialética; retórica enquanto instrumento de pensar; linha do neopragmatismo não é possível apreender o mundo como um todo; associação com a corrente de pensamento pós-moderna). McCloskey radicalização; retórica enquanto substituto do método; visão negativa da matematização enquanto aspecto isolacionista da economia; tudo é conversação porque o método é limitador, mas ele própria diz que determinadas conversações por não serem mais “produtivas” deveriam ser deixadas de lado; nem toda a contenda se resolve e as que se resolvem na maioria o fazem no nível retórico. Retórica não trata da verdade, mas da conversação (volta ao argumento sofista). Três níveis: a) conversação civilizada (Habermas); b) Metodologia (burguesa; não se respeita; subserviente à filosofia “ultrapassada” do positivismo); c) metodologia (trabalhar com dados; técnica; estatística...).

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Conversação

Burguesia

Povo

Introdução

Dois termos chaves no artigo: conversação; tradução.

Dificuldade de se compreender a conversação em economia (modelos matemáticos). Se pudessem ser “traduzidos” seriam mais plausíveis para o público geral. Os discursos técnicos/matemáticos parecem menos “estranhos” à pessoa mais comum se os consideramos como figuras retóricas, estas não são meros adornos mas sim pensam por nós.

“Bons cientistas também fazem uso da linguagem (objeto e ato social)”.

Retórica “prestar atenção ao próprio público”; na tradição grega estudo de todos os meios para conseguir coisas com a linguagem.

Sentido vulgar “palavreado; adornos”.

O erudito fala retoricamente? Sim. Porque sempre fala para uma comunidade de vozes.

Hipótese os economistas são como as demais pessoas ao conversarem; desejam que os escutem.

Tema a conversação que os economistas mantém entre si com o fim de convencer-se mutuamente.

A conversação entre economistas tem forte influência sobre a vida das demais pessoas em nossa sociedade, a maneira como falam tem consequências sócias fortes.

Porém, a economia seria uma ciência mais histórica do que premonitória, e devido a interpretações equivocadas quanto a este ponto se acaba por criticar erroneamente a economia enquanto pouco realista ou demasiadamente matemática.

Todavia não deveríamos culpar apenas os observadores da economia por entendê-la mal quando nem mesmo os próprios economistas parecem vê-la claramente. Deveriam compreender mais claramente sua própria maneira de conversar.

I. A pobreza do modernismo econômico

Os economistas estão de acorda principalmente em falar como economistas, disso não há dúvida. Estão de acordo em várias outras coisas, mas não de forma tão clara. Esta conversação teve início há dois séculos, mas atualmente suas passagens mais convincentes têm um teor claramente matemático. A principal

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consequência desse estilo de conversação foi uma incapacidade de falar claramente na qual o preço que se pagou foi o de a economia se tornar inacessível para o público de não economistas. Isto, dado que o que o economista fala importa nos aspectos cotidianos da sociedade, é algo bastante prejudicial.

Ao converterem-se a um modo matemático de falar, os economistas adotaram uma fé própria das cruzadas, um conjunto de doutrinas filosóficas que lhes torna propensos ao fanatismo e à intolerância. O que deve ser questionada é se está “fé” por traz deste tipo de conversação mantém alguma função social, se a conversa sobre ciência em economia, que tanto ajudou a acrescentar clareza e rigor ao campo, tem sobrevivido em sua utilidade.

a. A metodologia oficial da economia é modernista

Discurso dos economistas oficial x não-oficial

A atitude oficial dificulta que os economistas entendam como eles mesmos na realidade argumentam. “Não podem ver o que fazem porque o cenário está oculto por filosofias”.

Suas regras oficiais de falar bem os declaram científicos à sua maneira moderna.

Obs.: O artigo associa o termo modernista ao positivismo.

Modernismo noção de que conhecemos unicamente o que não podemos colocar em dúvida e de que não podemos conhecer aquilo o que apenas podemos sentir; o único conhecimento real é o científico; à medida que diminuía a fé religiosa introduzia-se a fé modernista (somente hipóteses refutáveis são científicas); é anti-histórico e pouco interessado em tradições culturais ou intelectuais; é matemático e axiomático e não se importa com forma, valor ou beleza.

Porém (vem a crítica/reação à teoria modernista) o racionalista e o irracionalista rezam para o mesmo deus.

Na filosofia, de um modo geral, o alcance da ideia de que o fato é algo mais que um experimento e de que o argumento é algo mais que um silogismo já é grande. Não obstante, ainda não alcançou a economia, mais especificamente a economia neoclássica.

Os economistas foram beber na filosofia, mas não acompanharam as mudanças na própria filosofia, atendo-se a pensamentos ultrapassados em seu interior.

“Os dez mandamentos modernistas”: 1- previsão; 2 – implicações observáveis; 3 - experimentos reproduzíveis e objetivos; 4 – se e somente se a implicação de uma teoria demonstra ser falsa a teoria também o é; 5 – objetividade, subjetividade não é científica; 6 – se não pode ser expresso com números é fraco; 7 – as justificativas não estão condicionadas nem pelo tempo nem pela comunidade científica; 8 – é a metodologia que deve separar o pensamento

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científico do não científico e o positivo do normativo; 9 – a explicação científica de um fato o ampara como uma lei protetora; 10 – os cientistas não devem, como cientistas, ter nada a dizer sobre o valor moral ou artístico.

Porém cada vez menos filósofos e creem nestes mandamentos, entretanto entre os economistas a maioria crê.

O texto de M. Friedman (acima resumido) é o documento fundamental do modernismo na economia. Friedman tentava escapar da doutrina positiva, mas não teve sucesso. Porém uma interpretação mais acertada seria a de que ele estava seguindo na verdade a doutrina pragmática norte americana de J. Dewey, mais interessado na utilização do conhecimento do que em seus fundamentos. A teoria deveria se avaliar por suas conclusões e não por seus pressupostos. O realismo dos pressupostos pouco importa se as implicações forem consistentes com o observado explicando assim a realidade.

“O modernismo é uma fé revelada com rituais próprios.” Os economistas são filosoficamente modernistas.

b. O modernismo é um mau método

Aspectos equivocados do modernismo. Seus argumentos filosóficos não são convincentes. “Os economistas parecem ler tanto filosofia quanto os filósofos economia.” Por isso a notícia do ocaso do modernismo não tenha chegado aos ouvidos dos economistas. Os filósofos concordam entre si que o positivismo lógico está morto o que coloca a questão de porque os economistas insistem em defendê-lo. A confiança na filosofia foi um erro tácito, já que a própria filosofia estava mudando no mesmo tempo em que falavam.

c. O próprio modernismo é impossível e não se respeita

O modernismo promete um conhecimento sem dúvidas, sem metafísica, sem moral e sem convicções pessoais. MAS, o que é capaz de proporcionar dá o nome de metodologia científica exatamente à metafísica. Em verdade não pode proporcionar aquilo o que promete. A aplicação literal da metodologia modernista não pode produzir uma economia útil, e provavelmente frearia os progressos da economia.

Para que uma afirmação econômica seja contestada por alguns economistas é preciso que se interessem por ela o suficiente para se incomodar em fazê-lo. Ao economista somente interessa quando outros economistas creem na afirmação, só assim passa a haver uma demanda por exames (e não por motivos de observação empírica ou mensurações). Os próprios estudos quantitativos dependem de uma pré-argumentação qualitativa. As leis procedem de uma tradição científica. Os modernistas, ao negaram os mecanismos mentais que realmente são pelos cientistas utilizados por estes se torna por sua vez impraticável.

II. Da metodologia á retórica

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a. Toda metodologia limitada por regras é criticável

A maior objeção que se pode fazer ao modernismo na economia é que sustenta uma metodologia limitada por regras. O filósofo assume guiar a comunidade científica, mas termina por limitar a conversação ajustando-a a sua filosofia última como único caminho á verdade. O metodólogo considera a si mesmo como juiz do profissional. Contudo, não está claro porque vale a pena considerar algo que não está relacionado com a prática real. O que a metodologia pode fazer é proporcionar critérios para a aceitação e a rejeição de programas de investigação, estabelecer normas que ajudem a discriminar o joio do trigo.

b. A metodologia é burguesa

Hierarquia metodológica. metodologia com “m” minúsculo “caixa de ferramentas; Sprachethik (Habermas) regras da conversação civilizada: não minta, preste atenção, não burle, coopere, não grite, deixe os outros falarem, dê respostas às perguntas, não recorra a violência ou conspiração... A maioria das justificações científicas obtém sua força de um desses dois níveis hierárquicos.

Porém, na prática, a metodologia é fundamentalmente um elemento que serve para diferenciar o nós dos outros, a ciência da não ciência. A metodologia e seu derivado corolário da demarcação são nada mais do que maneiras de se fazer cessar a conversação.

c. A boa ciência é a boa conversação

O que distingue o bom do mau no discurso erudito não é a adoção de uma metodologia particular, senão o intento sincero e inteligente de contribuir com uma conversação. A educação é uma iniciação em que adquirimos os hábitos intelectuais e morais apropriados para a conversação.

“Não necessitamos que nos falem de ética pois a ética de conversar basta”.

d. A retórica é uma maneira melhor de entender a ciênciae. As piadas que contam os economistasf. Outras ciências são retóricas

Quarta parte Economia comportamental

Texto 7: NUDGE: O empurrão para a escolha certa (Thaler and Sunstein)

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Pessoas podem ser muito influenciadas com pequenas mudanças (exemplo cantina escolas/disposição do s alimentos), para o bem ou para o mal.

Arquiteto de escolhas aquele que tem a responsabilidade de organizar o contexto no qual as pessoas tomam decisões (muitos são arquitetos de escolha, nem todos são conscientes de que estão nessa posição, nem sempre há a opção de não o ser).

Um arquiteto de escolhas deve estar ciente de que não existe design neutro, todo o arquiteto de escolhas tem de fazer uma escolha. Deve ter como regra geral que “tudo importa”, inclusive os menores detalhes. Desenhar um contexto de escolha é como “dar cutucões” que representem algum tipo de orientação pré determinada.

Paternalismo libertário

Palavras carregadas de estereótipos, tendo o problema de serem compreendidos de forma dogmática. Libertário as pessoas devem ser livres para escolher. O uso de libertário para modificar paternalista visa introduzir este elemento de liberdade de escolha. Paternalista É legitimo que os arquitetos de escolhas tentem influenciar o comportamento a fim de tornar suas vidas mais longas, saudáveis e melhores. Orientar escolhas sem limitar (paternalismo “brando”). Pressupões que as pessoas não tem as informações completas e necessárias sobre tudo para poder tomar as melhores decisões, e busco orientar no sentido de suprir esta deficiência.

A questão é o que é melhor. Uma das linhas de discussão gira em torno dos exemplos dados no texto. Os cutucões funcionam em exemplos ligados a hábitos cotidianos como alimentação, questões de saúde organização. Talvez as ideias de cutucões em contextos de política econômica internacional, ou de ética não sejam tão simples ou não aceitem tão bem a ideia de um paternalismo.

A cutucada/orientação é qualquer aspecto da arquitetura de escolhas que altera o comportamento das pessoas de maneira previsível sem proibir nenhuma opção nem mudar significativamente seus incentivos econômicos; a intervenção deve ser fácil e barata de evitar.

Muitas das políticas de “cutucadas” foram implementadas pelo setor privado (estas geram menos conflitos e parecem ser mais bem aceitas pela opinião das pessoas; ajudas em escolhas de planos de saúde ou previdência...); os mesmos argumentos deveriam justificar a aplicação do paternalismo libertário no setor público.

Humanos e econos: por que cutucadas podem ajudar

Homo economicus noção de que cada indivíduo seria capaz de escolher infalivelmente bem.

Mas as pessoas reais não apresentam esta características quando olhamos para suas ações reais. Não são econos mas sim humanos (homo sapiens). Para serem qualificadas como econos as pessoas não precisam fazer previsões perfeitas, mas

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precisam fazer previsões imparciais. Suas previsões podem estar erradas, mas não sistematicamente erradas em uma direção previsível. Ao contrário dos econos os humanos erram de forma previsível. (o paternalismo libertário trabalha dentre do limite desta previsibilidade)

Previsões e tomadas de decisão humanas são falhas. Por uma série de razões os humanos tendem a se deixar levar pelo status quo (inércia) ou pela opção predefinida. Sejam quais forem as opções predefinidas muitas pessoas as mantém. Duas lições: 1)nunca subestime o poder da inércia; 2) esse poder pode ser domado.

Cutucadas alteram o comportamento de humanos e não de econos, estes reagem apenas a incentivos, enquanto os humanos reagem a incentivos e a cutucadas.

Uma suposição falsa e duas concepções errôneas

A suposição falsa é a de que todo mundo, quase o tempo todo, faz as melhores escolhas para si, ou que pelo menos essas escolhas são melhores do que as que outra pessoa faria. Porém, qualidade das escolhas é uma questão empírica, as pessoas tendem a fazer boas escolhas em campos onde têm experiência, onde não têm, cutucadas poderiam ser bem úteis se arquitetadas por outras pessoas com experiência naquele campo.

A primeira concepção errônea é a de que é possível não influenciar a escolha das pessoas. Em muitas situações não há como evitar tomar decisões que de uma forma ou de outra irão influenciar escolhas de outros.

A segunda concepção errônea é a de que o paternalismo sempre envolve algum tipo de coerção. Mas, como estamos falando de um paternalismo modificado pelo termo libertário não há como dizer que exista coerção, pois há a liberdade de escolhas com nenhum ou ínfimo custo nas alternativas. A liberdade de escolhas é a melhor salvaguarda contra uma arquitetura de escolhas ruim.

As escolhas são feitas por humanos, portanto os designers deveriam facilitar essas escolhas. O que significa facilitar? Esta ideia de facilitar mostra que os cutucões estão ligados a atividades práticas e cotidianas e parecem ser mais úteis e inofensivos quando estão vinculados a este tipo de atividade.

Para os autores o paternalismo libertário não é nem de esquerda nem de direita. Para mim isso mostra que realmente o que estão dizendo os autores está relacionado as esferas mais micro ou cotidianas da sociedade, e não a grandes discussões ou a polêmicas decisões.

Como nós pensamos: dois sistemas

Existem dois tipos de raciocínio, 1) intuitivo e automático; 2) reflexivo e racional

Sistema automático x Sistema reflexivo

O sistema automático é rápido e instintivo; não envolve aquilo o que chamamos de pensamento; está associado às partes mais antigas do cérebro.

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Page 33: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

O sistema reflexivo é mais intencional e consciente.

Exemplo: quando falamos nossa língua nativa usamos o sist. Automático, se alguém é realmente bilíngue usa este sistema para falar as duas línguas.

Muitas vezes cometemos erros por confiar demasiadamente em nosso sist. automático. Isso se dá porque diferentemente do econos que nunca toma uma decisão sem antes consultar o sistema reflexivo o humano na maioria das vezes o faz (tendência à inércia do status quo).

Regras práticas

O cotidiano da vida é algo rápido e complexo, não temos tempo para analisar e ponderar todas as nossas ações e decisões. Quando necessitamos realizar tais julgamentos recorremos as regras práticas e simples que facilitem e nos direcionem com relativa segurança nessa tomada de decisões. Regras práticas são, na maioria das vezes, rápidas e úteis. Apesar disso seu uso pode acabar por gerar vieses sistemáticos.

Existiriam três heurísticas/regras práticas naturais aos seres humanos: 1) ancoragem; 2) disponibilidade; 3) representatividade; e cada uma pode acabar gerando um determinado tipo de viés sistemático. Essas heurísticas e seus respectivos vieses seriam fruto de um jogo entre os sistemas automático e reflexivo.

ANCORAGEM ancoragem e ajuste; parte de algo que se conhece como uma estimativa de algo e se realiza um ajuste na direção que se considerar apropriada. O viés surge porque de modo geral os ajustes não são suficientes.

DISPONIBILIDADE aqui as pessoas avaliam a probabilidade dos riscos perguntando a si mesmas com que rapidez os exemplos vêm à mente; se conseguem pensar mais facilmente em exemplos há maior probabilidade se se sentirem ameaçadas por determinado risco. Exemplos de homicídios estão mais disponíveis do quede suicídios, logo as pessoas têm maior probabilidade de temerem os primeiros do que os segundos. Eventos recentes têm o mesmo efeito, pois estão mais disponíveis na memória. O viés gerado por esse tipo de heurística é o de que eventos muito facilmente lembrados podem ser supervalorizados e os pouco lembrados podem ser subestimados.

REPRESENTATIVIDADE “heurística da semelhança”; quando devem julgar a probabilidade de A (negões altos) pertencer a B (times de basquete), as pessoas respondem perguntando a si mesmas até que ponto A é semelhante à imagem ou estereótipo que possuem de B (até que ponto A é representativo de B?). Os vieses da divergência entre semelhanças reconhecidas e frequência. Exemplo da caixa de banco x caixa de bacon militante (a segunda é menos provável pois temos uma probabilidade condicional limitando, mas a descrição da caixa nos leva a crer, devido aos nossos estereótipos, que seria mais provável do que ser simplesmente caixa de banco). Outro risco do viés nesse tipo de heurística é o de uma percepção errônea da aleatoriedade.

Otimismo e confiança excessiva

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O otimismo irrealista pode explicar uma boa parte dos riscos assumidos individualmente, especialmente em relação à vida e à saúde. É uma característica generalizada da vida humana, e que pode ser contornada com a aplicação de cutucadas adequadas às situações de risco.

Ganhos e perdas

De modo geral a tristeza de uma perda supera a alegria de um ganho de um mesmo elemento. Ou seja, as pessoas não atribuem valores específicos às coisas. A aversão à perda ajuda a produzir a inércia. Ela funciona como uma cutucada cognitiva que nos impele a não realizar mudanças mesmo quando estas são de nosso interesse.

Viés do status quo

A aversão à perda não é a única razão para a inércia. Uma das causas do status quo é a falta de atenção.

A combinação de aversão à perda e escolhas desatentas sugere que, se uma opção é designada como predefinida, ela atrairá uma participação de mercado maior. Por isso, a configuração das melhores escolhas predefinidas é um tema de grande interesse àqueles envolvidos com arquiteturas de escolhas.

Enquadramento

É a ideia de que as escolhas dependem, em parte, da maneira como os problemas são colocados. Funciona porque as pessoas tentem a tomar decisões de forma distraída e passiva.

Texto 8: Economistas de avental branco: Uma defesa do método experimental na economia (Ana Bianchi e Geraldo Andrade)

O que distingue os experimentos da psicologia em relação aos da economia é que estes utilizam incentivos monetários para induzir os sujeitos a determinadas decisões.

O objetivo dos experimentos é testar teorias empiricamente. Criar um ambiente abstrato que isole todas as variáveis significativas. O experimento não precisa ser realista, disso não se deduz que qualquer coisa serve. A comparação relevante se dá entre a teoria e a situação de laboratório. Importância da evidência experimental na descoberta de hipóteses novas.

A principal meta é criar um ambiente microeconômico manipulável que lhe permita um controle adequado das variáveis a serem testadas.

Precauções a serem tomadas:

a) Não saciedade retornos equivalentes

b) Saliência direito a reivindicar um recompensa positiva ou negativa

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Page 35: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

c) Dominância a estrutura do experimento compensa todos os custos subjetivos

d) Privacidade cada jogador recebe informação apenas sobre suas próprias alternativas de recompensa

Com essas precauções se garante os aspectos relevantes da relação entre o ambiente artificial de teste e a realidade.

Se uma teoria apresenta falha de previsão em condições de experimento não se pode esperar que apresente bons resultados em ambientes mais complexos. A dificuldade de controla das variáveis auxiliares é comum a todos os métodos empíricos e não apenas aos experimentos. Ao contrário da física a economia não gera leis naturais tornando o falseasionismo decisivo muito difícil, sendo este impossível com ou sem experimento.

Quanto aos incentivos monetários é importante que sejam suficientes para que o jogador se disponha a participas.

Diferença entre economia e astronomia, a segunda esta baseada no princípio do paralelismo na hipótese de que as leis físicas valem em todo o lugar.

A economia experimental propicia um arena útil para a busca de um diálogo continuado entre teoria e evidência. O emprego do método experimental na economia tende a consolidar a teoria tradicional nos contextos em que ela funciona bem e inspira sua revisão naqueles contextos em que não funciona bem.

Procedimentos experimentais são apenas instrumentos pelos quais se julga o ajuste empírico de uma teoria.

Economia comportamental e experimental

Economia comportamental e economia experimental são programas de pesquisa que estão atualmente nas fronteira da pesquisa econômica. Não são, porém, sinônimos, mas possuem uma grande interface de contato. No entanto a economia é o mais amplo dos dois termos (ligado ao campo da psicologia econômica e neurociência), podemos, por exemplo, fazer experimento s em economia comportamental.

Convergências entre os dois programas: 1) ambos os programas questionam as concepções tradicionais d racionalidade; 2) fazem parte de um reencontro da economia com a psicologia; 3) tendência a multidisciplinariedade; 4) em alguns casos questionam o individualismo metodológico por meio, por exemplo, da existência de escolhas determinadas por compromissos e não por racionalidade individualidade a utilidade marginal.

Economia experimental

Há no meio ambiente econômico um ceticismo em relação aos experimentos, decorrente, por exemplo, da visão de M. Friedman, no entanto vem se desenvolvendo desde a década de 1970.

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Page 36: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

Em seu inicio baseava-se principalmente na teoria dos jogos.

Tipos de jogos Definição Exemplos da vida real

Predição com jogadores egoístas e racionais

Regularidades

experimentais

Interpretação

Dilema dos prisioneiros

Dois jogadores podem ou

não cooperar

Produção de externalidades

negativas

Não cooperam 50% escolhem cooperar.

Comunicação aumenta

cooperação

Cooperação recíproca esperada

Jogos de bens públicos

“N” jogadores decidem

coletivamente sobre sua contribuição

Produção cooperativa,

superutilização de recursos comuns

Jogadores não contribuem nada

Jogos de uma única rodada

jogadores contribuem 50%.

Comunicação aumenta

cooperação e oportunidades de

punição

Cooperação recíproca esperada

Jogos de ultimato Divisão de dinheiro

entre ofertante e

respondente

Preço de monopólio de um

bem perecível

Oferecimento mínimo. Qualquer oferta maior que

0 é aceita

Maioria das ofertas entre 30% e 50%.

Ofertas menores do que 25% são

rejeitadas metade das

vezes

Respondentes punem ofertas injustas.

Reciprocidade negativa

Jogos de ditador Divisão do dinheiro

entre ofertante e

respondente. Este não

pode rejeitar

Compartilhamento caridoso de um ganho inesperado

Não há compartilhament

o

Proponentes oferecem 20%. Muita variação

entre experimentos e

indivíduos.

Altruísmo puro

Jogo de confiança Regras complexas, investidor e

curador

Troca sequencial sem contratos

Curador não devolve o dinheiro;

investidor não investe

Investidor investe 50% e procurador

devolve um pouco menos de

50%

Curadores mostram reciprocidade positiva

Jogo de troca de presentes

Empregador oferece

salários para trabalhadores e anuncia um

nível de esforço

desejado. Se trabalhador

aceita ambos lucram, mas se rejeita...

Não contratabilidade

de ou não enforceability do

desempenho.

Trabalhador escolhe esforço

mínimo, empregador paga

salário mínimo

Esforço aumenta com o salário e

na reciprocidade positiva. 30% dos

trabalhadores aceitam baixos

salários mas respondem com esforço mínimo

Trabalhadores reciprocam ofertas

generosas. Empregadores apelam para esta reciprocidade

oferecendo salários generosos

Punição de terceiros

A e B jogam um jogo de ditador. C observa quanto é

alocado para B. Pode punir

A mas isto lhe custa

Desaprovação social de

tratamento inaceitável de

outrem

A aloca 0 para B. C nunca pune A

Punição de A é mais alta quanto menos oferece

para B

C sanciona a violação de um norma compartilhada

Dilema do Prisioneiro

O dilema do prisioneiro é um famoso problema da teoria dos jogos, que retrata uma situação em que dois criminosos são presos por cometerem um crime, a policia tem evidências para mantê-los presos por um ano, porém não para

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Page 37: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

condená-los, os presos são colocados em celas separadas, para que não haja acordos prévios. O dilema do prisioneiro é um jogo não cooperativo, mas poderia ser modelado como cooperativo se fosse permitido que os dois criminosos não somente se comunicassem como também fizessem compromissos obrigatórios. As decisões são simultâneas e um não sabe nada sobre a decisão do outro. O dilema do prisioneiro mostra que, em cada decisão, o prisioneiro pode satisfazer o seu próprio interesse, não confessar, ou atender ao interesse do grupo, confessar. A Figura 3 demonstra as possibilidades de ganhos e perdas desse jogo.

B ConfessaB Não

confessa

A Confessa1 ano para A1 ano para B

B fica livre; 3 anos para A

A Não confessaA fica livre;

3 anos para B2 anos para A 2 anos para B

Para qualquer um dos prisioneiros, o melhor resultado possível é não confessar e seu parceiro ficar calado. E até mesmo se seu parceiro trair, o prisioneiro ainda lucra por não cooperar também, já que ficando em silêncio pegará três anos de cadeia, enquanto que, confessando, só pegará dois. Em outras palavras, seja qual for à opção do parceiro, o prisioneiro se sai melhor traindo. O único problema é que ambos chegarão a essa conclusão: a escolha racional é trair. Essa lógica vai, desta forma, proporcionar a ambos dois anos de cadeia. Se os dois confessassem, haveria um ganho maior para todos, mas a otimização dos resultados não é o que acontece.

Experimento simula artificialmente aspectos do mundo real; mantém um grupo de controle em relação ao grupo experimental; em economia costuma-se usar incentivos monetários ao se realizar experimentos.Ao final da década de 60 o programa da economia experimental já estava mais sedimentado; possuía ambientes mais controlados e regras do jogo mais claras.

Economia comportamental

Emergiu como crítica à economia neoclássica, ao behaviorismo e metodologias associadas. Tem origens na psicologia. Investiga o papel do conhecimento e dos estados afetivos (emoções, humores e sentimentos) no julgamento e tomada de decisões.

Meta aumentar poder explicativo e preditivo da teoria econômica por meio de fundamentos psicológicos mais plausíveis e realistas.

Para behavioristas estados mentais são disposições comportamentais, acionadas por estímulos puramente externos.

Primeiros neoclássicos: fundamento hedônico da economia, escolha norteada por dor e prazer.

Na economia, neoclássicos do pós-guerra repudiaram psicologia, afastaram referência a estados de consciência e passaram a desconfiar da introspecção.

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Page 38: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

“A teoria ortodoxa (da escolha racional) não envolve nada além de consistência interna. Para escolha ser considerada racional basta que seja explicável em termos de uma relação de preferências consistente com a definição. Rationale dessa abordagem = a única maneira de entender as preferências de uma pessoa é examinar suas escolhas efetivas, nas quais se revelam.” (A. Sen)

Outras diretrizes de escolha podem ser:

Simpatia preocupação com outrem afeta diretamente o bem estar da pessoa.

Compromisso Escolha é feita a partir do senso de dever, mesmo que não equivalha a maximização de bem estar antecipado.

Sobre a tomada de decisão

O ser humano de um ponto de referência determinado pelo contexto para: 1) evitar o risco no domínio do ganho; 2) buscar o risco no domínio da perda.

Pessoas atribuem pesos diferenciais a resultados certos e apenas prováveis.

Questão do enquadramento/framing de decisões (sua não neutralidade)

Exemplos:

Ganho certo x perda certa mesma situação

Decisão 1 – Escolher entre:

Um ganho certo de $ 240. (84%)

25% probabilidade de ganhar $ 1000 e 75% de não ganhar nada. (16%)

Decisão 2 – Escolher entre:

Perda certa de $ 750. (13%)

75% probabilidade de perder $ 1000 e 25% de não perder nada. (87%)

Conclusões:

Economia comportamental é ppc em andamento. Enfrenta o núcleo duro da economia neoclássica (o "granito" do auto-interesse), mas nem sempre se lhe opõe. Natureza trans/multidisciplinar. Resistências: críticas à experimentação e, sobretudo, contra

"complicação" decorrente de visão mais realista. Procurar chave onde existe um poste.

Desenvolvimentos e exemplos práticos

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Page 39: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

Efeitos de enquadramento, moldura (framing) ocasionam mudanças significativas nas escolhas. Estruturas de decisão diferentes em face de ganhos ou perdas potenciais. Maior aversão ao risco em relação a ganhos do que a perdas.

Autores observam que pessoas são significativamente mais avessas ao risco em relação a ganhos do que em relação a perdas. Teoria da perspectiva (prospect) estimulou estudo de heurísticas (“atalhos mentais”) que as pessoas adotam para simplificar seu processo decisório: ancoragem, representatividade, viés de status quo etc..

Humanos (Homer Simpson) x Econos (Spok) lembrar texto Nudge

Tentações

Escolhas dinamicamente inconsistentes: preferem inicialmente A (saudável) a B (guloseimas), depois o contrário. Resistindo à tentação, auto-controle, estados frios e quentes. Planejador vs. Fazedor.

Alguns nudges do dia a dia:

Give more tomorrow; Stickk.com (compromissos financeiros e não); Deixar de fumar; Capacetes para motociclistas; Auto-banimento de apostadores; Um dólar por dia; Civilidade nos e-mails; Uso de eletricidade e comparação com vizinhos; Contagem de calorias em NYC; Nudges de prescrição de medicamentos; Relógio do proscratinador; “Por favor me interrompa se eu falar mais do que x minutos”; Influência social na reciclagem; Mosca no vaso (aeroporto de Amsterdã).

Temas atuais da economia comportamental

Desenvolvimentos teóricos:

Escolhas intertemporais e função de desconto hiperbólica. Economistas + antropólogos e preferências não exógenas, influenciadas

pelo ambiente. Mudanças na distinção positivo-normativo. Regras universais de decisão e

teorias com sustentação empírica. Nova base metodológica – teoria econômica descreve mal; economistas

devem ajudar agentes a comportar-se + de acordo com os princípios da teoria normativa de racionalidade plena.

“Realinhamento metodológico” - uma saída razoável para o mainstream neoclássico, em contraste com uma completa revisão. (?)

Paternalismo – nova abordagem na economia do bem-estar com base no fundamento normativo-descritivo. Desenvolvim/ econômico, programas de microcrédito. Políticas paternalistas para levar as pessoas a tomar melhores decisões (preferências reveladas vs. “verdadeiras”).

Paternalismo libertário? Economista como terapeuta que ajuda as pessoas a fazerem escolhas racionais baseadas nas suas “verdadeiras” preferências?

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Page 40: Fichamento 2º semestre_metodologia da economia

Ecletismo metodológico – não + apenas experimentos de laboratório, mas uma ampla gama de fontes: mercados de ações, fundos de pensão, experimentos de campo, simulações, modelagens matemáticas etc.

Pesquisas comparativas motivadas pela preocupação com a robustez dos resultados experimentais.

“Experimentos de campo” – Filipinas, serviço de poupança oferecido a indivíduos.

Últimos 15 anos, adesão crescente à modelagem matemática, mas sempre apoio na pesquisa empírica, em contraste com neoclássicos de pós-guerra.

Impacto sobre mensuração de bem-estar preocupação antiga, mas agora ênfase em medidas subjetivas. Ex: medidas de felicidade, estados mentais subjetivam/ experimentados.

Estudos sobre felicidade estimularam interesse na análise das relações interpessoais, evidência robusta de vínculo com “socialidade genuína”.

Paradoxo da felicidade ou paradoxo de Easterlin relação complexa entre renda e felicidade.

Neuroeconomia - Ressonância magnética do cérebro, partes do mesmo são acionadas nas tarefas prescritas.

Neuroeconomia estuda bases neurais do comportamento econômico. Comportam/, inclusive econômico, resulta da interação múltipla de sistemas neurais especializados. Fazedor vs. planejador. Risco de fisicalismo.

Papel do afeto no julgamento e na escolha – ex., pessoa pode agir de forma auto-destrutiva no calor do momento. Desenvolvimentos paralelos na psicologia, neurociência afetiva.

Programa de pesquisas em andamento, muitos caminhos ainda por percorrer e questões metodológicas a enfrentar.

Atenção indevida a normas sociais.

Previsivelmente irracional?

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