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Ficha Técnica 4Introdução à Eletrónica
7. Análise de circuitos em Corrente Alternada
7.1 Grandezas variáveis no tempo
Nas fichas técnicas anteriores, os circuitos fo-
ram analisados considerando que a fonte de
tensão apresenta caraterísticas contínuas,
originando uma Corrente Contínua confor-
me a Figura 47. Existem, no entanto, outras
formas de corrente elétrica, como por exem-
plo, a disponibilizada pela Rede Elétrica Na-
cional ao consumidor final que apresenta
as caraterísticas de uma Corrente Alternada
sinusoidal. A Figura 48 representa esta forma
de onda.
Corrente Contínua
O valor da corrente elétrica é sempre cons-
tante ao longo do tempo. É usual utilizar
abreviadamente DC para designar esta cor-
rente.
Figura 47. Gráfico de uma Corrente Contínua.
Corrente Alternada sinusoidal
O valor da corrente elétrica apresenta va-
lores positivos e negativos (bidirecional). É
usual utilizar abreviadamente AC para de-
signar esta corrente.
Figura 48. Gráfico de uma Corrente Alternada sinu-
soidal.
Em termos gerais podemos dividir as correntes elétricas em unidirecionais, onde está inclu-
ída a Corrente Contínua e onde os eletrões se movimentam sempre na mesma direção, e
bidirecionais onde está integrada a Corrente Alternada sinusoidal e onde o movimento dos
eletrões se dá nos dois sentidos.
O esquema seguinte apresenta a classificação em função do tempo das grandezas bidi-
recionais:
As ondas alternadas puras distinguem-se das ondas ondulatórias porque possuem um valor
médio algébrico nulo. Nestas ondas, o conjunto dos valores assumidos em cada sentido
designa-se por alternância, teremos assim uma alternância positiva e uma alternância nega-
tiva. O conjunto de duas alternâncias consecutivas designa-se por ciclo. O valor assumido,
em cada instante, por uma corrente (i) ou tensão (u) é chamado valor instantâneo, que se
representa por uma letra minúscula.
A Figura 49 representa dois sinais ondulatórios, à esquerda um sinal obtido à saída de um
retificador de onda completa e à direita um sinal em dente de serra.
Figura 49. Sinais periódicos ondulatórios ou pulsatórios.
Na Figura 50 são representados os sinais triangulares e quadrados.
Figura 50. Sinal alternado triangular e alternado quadrado.
7.2 Caraterísticas da Corrente Alternada sinusoidal
As correntes e tensões alternadas sinusoidais assumem uma particular importância uma vez
que qualquer sinal periódico alternado se pode considerar como a soma de sinais alternados
Pa
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Pe
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sinusoidais de frequências múltiplas. Iremos
definir de seguida as grandezas que carate-
rizam um sinal sinusoidal.
Período da onda
É o tempo em que ocorrem duas alternân-
cias consecutivas, ou seja, é o tempo gasto
num ciclo. Representa-se por T e exprime-se
em segundos.
Frequência da onda
É o número de ciclos efetuados num segun-
do. Representa-se por f e a sua unidade é
o Hz (Hertz). A frequência do sinal está as-
sociada à sua utilização. A rede elétrica na-
cional disponibiliza uma Corrente Alternada
sinusoidal com uma frequência de 50 Hz,
o que significa que apresenta 50 ciclos ou
períodos por segundo. Cada ciclo apresenta
um período de 20 ms e pode ser calculado
pela expressão matemática que relaciona a
frequência e o período:
f =1
T
Amplitude ou valor máximo
É o valor instantâneo mais elevado atingi-
do pela onda. Há amplitude positiva e am-
plitude negativa. Ao valor medido entre os
valores de amplitude positiva e amplitude
negativa chama-se valor de pico a pico.
Valor médio
O valor médio representa o valor que uma
Corrente Contínua deveria ter para trans-
portar a mesma quantidade de eletricidade,
num mesmo intervalo de tempo. A expres-
são matemática para determinar o valor mé-
dio de uma Corrente Alternada sinusoidal é
dada pela seguinte fórmula:
Imédio
=2
π· I
máx. = 0,637 · I
máx.
Notas
A expressão para o valor médio da tensão será
idêntica com a alteração da variável.
Deverá ser considerado apenas metade do
ciclo de uma Corrente Alternada sinusoidal, pois
o valor médio de um ciclo é nulo, já que este se
repete na parte positiva e na parte negativa.
Valor e�caz
O valor eficaz de uma Corrente Alternada é
o valor da intensidade que deveria ter uma
Corrente Contínua para, numa resistência,
provocar o mesmo efeito calorífico no mesmo intervalo de tempo. O valor eficaz representa-
se por I ou U. A expressão matemática que o define é apresentada de seguida:
I =Imáx. = 0,707 · I
máx.√2
O valor eficaz da tensão da rede elétrica nacional é de 230 V. Este é o valor apresentado pelo
voltímetro na medição desta grandeza. Os aparelhos de medida (voltímetros e amperíme-
tros) registam o valor eficaz da tensão ou da corrente quando em medição de um sinal alter-
nado sinusoidal. Para a visualização da forma de onda da tensão é utilizado o osciloscópio. A
Figura 51 representa as caraterísticas desta tensão.
Caraterísticas do sinal
– Frequência: 50 Hz
– Período: 20 ms
– Valor eficaz: 230 V
– Valor máximo: 325 V
– Valor médio: 207 V
Figura 51. Caraterística da tensão alternada sinusoidal monofásica da Rede Elétrica Nacional.
A equação seguinte permite fazer uma representação gráfica de uma grandeza alternada
sinusoidal e calcular o valor instantâneo do sinal num determinado momento t:
i = Imáx.
· sen (ω · t + φ)
Note-se que (ω) é a velocidade angular e é caraterizada pelo número de radianos percorri-
dos pela sinusoide por segundo e apresenta a unidade de radianos por segundo (rad/s). A
expressão matemática seguinte permite calcular esta grandeza:
ω = 2π · f
O ângulo de desfasamento φ é o ângulo que a onda faz com a origem da contagem dos
ângulos, no instante inicial.
7.3 Circuitos em Corrente Alternada
A relação expressa pela Lei de Ohm, ou seja, o quociente entre a tensão e a corrente, man-
tém-se em análise de circuitos em Corrente Alternada. Este quociente assumirá a designa-
ção em Corrente Alternada de impedância (Z) e assumirá a unidade Ohm (Ω), tal como em
Corrente Contínua.
Z =U
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A diferença entre a grandeza impedância (Z) e a grandeza resistência (R) está relacionada
com a dependência da frequência da impedância. Em Corrente Alternada, a relação entre
a tensão e a corrente depende, para uma dada frequência, da impedância Z e ângulo de
desfasamento φ. Iremos introduzir ainda uma nova grandeza, a reatância (X), associada aos
condensadores e às bobinas. A Figura 52 representa esta relação.
Figura 52. Representação gráfica da resistência e reatância.
7.3.1 Circuito puramente óhmico em Corrente Alternada
Ao aplicar a Lei de Ohm aos sucessivos instantes da tensão alternada que alimenta o circuito
da Figura 53, e uma vez que Z = R (pois o circuito é considerado um circuito ideal e a reatân-
cia é nula), facilmente se verifica que, à medida que a tensão aumenta, a corrente também
aumenta e que, quando a tensão aplicada muda de polaridade, também a intensidade de
corrente muda de sentido.
Figura 53. Circuito resistivo alimentado por uma Corrente Alternada.
As curvas representativas da tensão e corrente estão em fase, ou seja, a um máximo da ten-
são corresponde um máximo da corrente, o mesmo sucedendo para os zeros. Neste caso, o
ângulo de desfasamento φ é nulo. A Figura 54 apresenta o gráfico da corrente e da tensão
no circuito.
Figura 54. Representação vetorial e cartesiana da tensão e respetiva corrente num circuito puramente óhmico.
7.3.2 Circuito capacitivo em Corrente Alternada
Na realidade não existe um circuito capacitivo puro, mas sim um circuito série entre a resis-
tência e um condensador, denominado de circuito RC. Iniciaremos a análise por considerar o
condensador puro, de forma a perceber o comportamento desta componente na presença
de uma Corrente Alternada. Neste tipo de circuitos e devido à influência da frequência tere-
mos de considerar a grandeza reatância, nesta caso reatância capacitiva (XC).
Consideremos o circuito da Figura 55 composto por uma lâmpada e por um condensa-
dor. Na edição anterior foi analisado o funcionamento do condensador em Corrente Con-
tínua e o efeito de carga e descarga deste
componente.
Figura 55. Circuito capacitivo alimentado por uma
Corrente Alternada.
O comportamento do condensador em Cor-
rente Alternada é um pouco diferente. A lâm-
pada integrada no circuito irá brilhar de forma
constante, uma vez que efetuará o efeito de
carga e descarga em cada um dos ciclos, não
perdendo totalmente a energia armazenada.
A corrente média no circuito dependerá
da frequência, que será tanto maior quanto
maior for a frequência da tensão aplicada, e da
capacidade do condensador, cujo valor médio
será tanto maior quanto maior for o valor da
capacidade do condensador.
Será fundamental definir a grandeza re-
atância capacitiva (XC) que é a oposição do
condensador à passagem da corrente elétrica,
segundo a fórmula seguinte:
XC =
1
2π · f · C
Notando que f é a frequência do sinal de
alimentação em Hertz (Hz) e C é a capacida-
de do condensador em Farad (F).
Para desenharmos as curvas da tensão e da
corrente iremos analisar o funcionamento do
circuito. Ao iniciar-se a carga do condensador,
a tensão aos seus terminais é nula tendo, ao
contrário, a corrente o seu valor máximo. À
medida que a carga vai aumentando, aumen-
ta a tensão nos seus terminais, diminuindo
consequentemente a corrente até se anular, o
que sucede quando a tensão aos terminais do
condensador atinge o valor máximo. Na des-
carga, as curvas decrescem simultaneamente.
No instante em que se inicia a descarga, a ten-
são parte do seu máximo positivo e a corrente
do seu mínimo valor (nulo). O condensador
descarrega-se quando as armaduras têm igual
número de eletrões atingindo, nesta altura, a
corrente o seu máximo negativo.
A Figura 56 apresenta o desfasamento da
onda da tensão e da corrente num circuito pu-
ramente capacitivo onde poderemos analisar
que a corrente está avançada 90º em relação
à tensão.
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Figura 56. Representação vetorial e cartesiana da tensão e respetiva corrente num circuito puramente capacitivo.
7.3.3 Circuito capacitivo real – Circuito RC
Como analisado anteriormente, nos circuitos não encontramos condensadores puros ou
ideais, mas sim condensadores reais que são equivalentes à série de um condensador ideal
e de uma resistência. Para a análise deste tipo de circuitos consideremos a Figura 57 onde
iremos calcular os seguintes parâmetros:
– A reatância capacitiva;
– A frequência da tensão;
– A tensão aos terminais da resistência;
– A tensão aplicada ao circuito;
– A impedância do circuito.
– O ângulo de desfasamento entre a tensão e a corrente.
Figura 57. Circuito RC.
Figura 58. Representação vetorial e cartesiana da tensão na resistência e no condensador.
A tensão de alimentação é uma onda alternada sinusoidal. Iremos começar por calcular a
reatância capacitiva do circuito utilizando a Lei de Ohm generalizada:
XC =
UC
I=
32
160 x 10-3= 200 Ω
A frequência da tensão alternada de alimentação será calculada da seguinte forma:
XC =
1
2π · f · Cf =
1
2π · Xc · C
1
2π · 200 · 2 x 10-6= = 36,2 Hz
A tensão aplicada à resistência é dada pela
aplicação direta da Lei de Ohm da seguinte
maneira:
UR = 330 · 160 x 10-3 = 52,8 V
Para o cálculo da tensão total iremos utilizar
o diagrama vetorial analisado na Figura 52
que é obtido do circuito considerando os
seguintes pressupostos:
– A tensão e a corrente na resistência es-
tão em fase (desfasamento de 0°);
– A tensão e a corrente apresentam um
desfasamento de 90° relativamente ao
condensador, estando a tensão em atraso;
– A tensão no condensador está, por con-
seguinte, atrasada 90° em relação à ten-
são na resistência.
O diagrama vetorial assume a seguinte con-
figuração onde, pelo Teorema de Pitágoras,
obtemos a equação para a tensão total. Este
é também denominado de triângulo das
tensões.
U2T = U2
R + U2
C
UT = √ U2
R + U2
C = √ 52,82 + 322 = 61,7 V
Figura 59. Triângulo das tensões.
Nota Matemática
O teorema de Pitágoras relaciona os três lados do
triângulo retângulo e enuncia que, em qualquer
triângulo retângulo, o quadrado do comprimento
da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos
comprimentos dos catetos:
C2 = A2 + B2
A impedância do circuito poderá ser calcu-
lada através da Lei de Ohm generalizada ou
artigo técnico
do triângulo das impedâncias, que se obtém dividindo cada um dos lados do triângulo das
tensões pela corrente que percorre o circuito.
Z2 = R2 + X2C Z = √ R2 + X2
C = √ 3302 + 2002 = 385,9 Ω
Figura 60. Triângulo das impedâncias.
Para finalizar a análise do circuito, iremos calcular o ângulo de desfasamento entre a tensão
e a corrente. Poderemos utilizar o triângulo das impedâncias para este cálculo e utilizar uma
das razões trigonométricas, conforme se pode ver a seguir:
cos φ = R
Z=
330
385,9= 0,855 φ = -31,2º
Figura 61. Cálculo do ângulo de desfasamento entre a tensão e a corrente.
Nota Matemática
As razões trigonométricas serão apresentadas con-
siderando o triângulo retângulo Δ [ ABC ], retângu-
lo em B, onde está representado o cateto adjacen-
te, o cateto oposto e a hipotenusa.
cos α = cateto adjacente
hipotenusa
sen α = cateto opostohipotenusa
tg α = cateto oposto
cateto adjacente
Na próxima edição serão analisados os cir-
cuitos puramente indutivos, circuitos RL e
circuitos RLC em Corrente Alternada.
Bibliogra�a do artigo – A. Silva Pereira, Mário Águas, Rogério Baldaia, Curso
Tecnológico de Eletrotecnia/Eletrónica - Eletricida-
de, Porto Editora, ISBN 972-0-43540-2.
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