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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO

PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

Título: “Negra Brasileira e Música Popular Brasileira (1930-1945): A violência cantada e a perpetuação da injustiça”

Autor Kêmelly Agostini Duarte

Disciplina/Área (ingresso no PDE) História

Escola de Implementação do Projeto e sua localização

Escola Estadual “Moreira Salles” – Ensino Fundamental, localizada na Avenida João Adamo, nº 605 – Moreira Sales, Paraná.

Município da escola Moreira Sales

Núcleo Regional de Educação Goioerê

Professor Orientador Frank Antonio Mezzomo

Instituição de Ensino Superior Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão

Relação Interdisciplinar Artes e Língua Portuguesa.

Resumo O presente caderno pedagógico, em cumprimento à Lei Federal nº 11645/08, tem como objetivo precípuo promover estudos sobre a história e cultura afro brasileira e africana e como pano de fundo, análise de letras de algumas canções da Música Popular Brasileira no período (1930-1945). Aborda de forma contextualizada, assuntos como a escravidão negra no Brasil, os processos de contribuição cultural e econômica, de luta e resistência da mulher negra brasileira. Analisa alguns elementos e fatores históricos formadores do sexismo e do racismo brasileiro (re) construídos desde o período do escravismo negro, impregnados de preconceitos, estereótipos e discriminações, que exteriorizam-se até os dias atuais, em forma de violência e perpetuação da injustiça contra a mulher negra brasileira, manifestas no cotidiano nacional e, de forma específica, na Música Popular Brasileira do período (1930-1945). Numa relação interdisciplinar com Artes e Língua Portuguesa, propõe atividades diversas como análise e interpretação de letras de músicas, pesquisas, debates, sistematizações, produção de textos, confecção e exposição de painéis, projeção de filmes e documentários, dentre outras.

Palavras-chave Negra; Brasileira; Música; Violência; Injustiça.

Formato do Material Didático Caderno Pedagógico

Público Alvo Alunos da 8ª série da Escola Estadual “Moreira Salles” – Ensino Fundamental

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE

CAMPO MOURÃO - FECILCAM

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE CAMPO MOURÃO - NRE

CADERNO PEDAGÓGICO

HISTÓRIA

NEGRA BRASILEIRA E MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (1930-1945):

A VIOLÊNCIA CANTADA E A PERPETUAÇÃO DA INJUSTIÇA

Produção didático-pedagógica apresentada à Coordenação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em convênio com a Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, como requisito para o desenvolvimento das atividades propostas para o período de 2012/2013. Orientação: Professor Dr. Frank Antonio Mezzomo.

CAMPO MOURÃO

2012

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SUMÁRIO

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ............................................................................................ 3

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 4

ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO ...................................................................... 4

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM .................................................................................. 5

UNIDADE I CONTINENTE AFRICANO ................................................................................................. 6

UNIDADE II A ESCRAVIDÃO NO BRASIL E NO PARANÁ .................................................................. 9

UNIDADE III A CULTURA AFRO-BRASILEIRA E A MULHER NEGRA .......................................... 16

UNIDADE IV ELEMENTOS HISTÓRICOS FORMADORES DOS DISCURSOS ACERCA DA MULHER NEGRA BRASILEIRA ............................................................. 22

UNIDADE V O RÁDIO E A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA NA ERA VARGAS (1930-1945) ... 26

UNIDADE VI A MULHER NEGRA NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (1930-1945) ................. 34

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 37

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Dados de Identificação Professor PDE: Kêmelly Agostini Duarte1

Escola de Implementação: Escola Estadual Moreira Salles – Ensino Fundamental

Orientador: Frank Antonio Mezzomo2

IES Vinculada: Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão

NRE: Goioerê

Área PDE: História

Tema de Estudo: História e Cultura Afro-brasileira e Africana

Título: Negra Brasileira e Música Popular Brasileira (1930-1945): A violência cantada e a

perpetuação da Injustiça

Produção Didático-Pedagógica: Caderno Pedagógico

Duração: 32 h/a

Público Alvo: Alunos da 8ª série da Escola Estadual Moreira Salles – Ensino Fundamental

1 Professora de História da Escola Estadual Moreira Salles – Ensino Fundamental. 2 Professor do Curso de História da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam).

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Introdução

A elaboração do Caderno Pedagógico intitulado “Negra Brasileira e Música Popular

Brasileira (1930-1945): A violência cantada e a perpetuação da injustiça”, segue as

orientações e exigências estabelecidas no âmbito do Programa de Desenvolvimento

Educacional do Paraná (PDE), turma 2012. A proposta de discussão contida no caderno está

inserida na concretização da Lei Federal 11645/08 que determina a obrigatoriedade do estudo

da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e

médio públicos e privados. Entende-se que a escola é um dos ambientes mais propícios para a

implementar ações que contribuam para o respeito às diferenças e para a compreensão das

representações sociais construídas historicamente.

O Caderno Pedagógico será implementado no primeiro semestre de 2013 para os

estudantes da 8ª série, da Escola Estadual Moreira Salles – E.F, localizada no município de

Moreira Sales. Busca-se propor atividades de estudos que levem à uma compreensão sobre os

processos de contribuição cultural e econômica, de luta e resistência das mulheres negras, dos

elementos e fatores históricos formadores do sexismo e do racismo brasileiro (re) construído

desde o período do escravismo negro, impregnado de preconceitos, estereótipos e

discriminações, manifestos no cotidiano nacional e de forma específica, na Música Popular

Brasileira (1930-1945).

O caderno está estruturado em seis unidades: Unidade I: Continente Africano; Unidade

II: A Escravidão no Brasil e no Paraná; Unidade III: A cultura afro-brasileira e a mulher negra;

Unidade IV: Elementos históricos formadores dos discursos acerca da mulher negra brasileira;

Unidade V: O Rádio e a Música Popular Brasileira na Era Vargas (1930-1945); Unidade VI: A

mulher negra na Música Popular Brasileira (1930-1945).

Encaminhamento Metodológico

A presente proposta propõe-se a trabalhar os conteúdos de forma contextualizada para a

compreensão dos fatores históricos da exclusão étnico-racial e de gênero brasileira e da

institucionalização do samba como símbolo nacional no Estado Novo (1937-1945).

No desenvolvimento do trabalho, a ser desenvolvido ao longo de 32 horas, estão

previstas atividades como:

• Diálogos, questionamentos sobre o assunto, explanações orais pelo professor;

• Leitura, interpretação, análise e questionamentos (orais e escritos) de fragmentos de

textos da historiografia, documentos de época, fotos e mapas;

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• Projeção de filmes e documentários;

• Realização de pesquisas;

• Audição de músicas com interpretação e análise de algumas de suas letras;

• Confecção e exposição de painéis na escola;

• Sistematizações escritas dos conhecimentos através de sínteses, textos, resoluções de

atividades, etc.;

• Exposição de atividades realizadas no transcorrer da implementação do projeto e

apresentações artístico-culturais envolvendo todos os estudantes e a

Avaliação da Aprendizagem

Entende-se que um dos papeis do educador é de despertar no estudante a curiosidade e o

senso crítico que, a partir das experiências do mesmo, cria-se condições para que novos

conhecimentos científicos sejam acrescidos na formação do sujeito histórico. Assim, a

avaliação será realizada no transcorrer de todo o processo educativo em suas funções

diagnóstica, formativa e somativa.

Entendida como instrumento importante e parâmetro para as tomadas de decisões e

construção do conhecimento, a avaliação possibilitará o trabalho com o novo, acompanhará o

desempenho do estudante e orientará as possibilidades de mudanças nas práticas educativas

para a superação das dificuldades e dos problemas diagnosticados. No início de cada unidade

serão propostas atividades para sondagem do conhecimento inicial do estudante sobre o tema

– avaliação diagnóstica –, e, durante e ao fim do trabalho de cada unidade, serão propostas

atividades de avaliação, às quais o professor realizará cuidadosa observação e constante

acompanhamento no que tange:

• Ao comprometimento dos estudantes ao responderem os questionamentos, elaborarem

questões, realizarem pesquisas, sistematizações, relatos, bem como ao nível de carência de

suas proposições e à forma como se expressam nas questões propostas;

• À aprendizagem e às dificuldades dos estudantes, para as retomadas necessárias;

• Ao conhecimento e à compreensão dos estudantes a respeito dos conteúdos

trabalhados.

Desejamos que este material possa ser útil e contribuir com a compreensão histórica

acerca da interpretação de canções da Música Popular Brasileira (MPB) (1930-1945) que

versam sobre a negra brasileira, como expressão cultural de um Brasil racista e sexista que

passava pela experiência do primeiro governo autoritário do período republicano.

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Unidade I Continente Africano

O objetivo dessa unidade é propiciar aos estudantes o contato com um pouco da

História da África para que haja a desconstrução de “ideias” e “visões” estereotipadas acerca

do continente africano.

Atividade 1

� 1- O que você sabe sobre a África?

� 2- Você tem conhecimento de fatos históricos que de certa

forma proporciona uma ligação entre o Brasil e o continente

Africano? Quais são?

Atividade 2

Mapa Mundi

Mapa Mundi – Disponível em <http://www.lacasainfantil.com/materiales-y-recursos/mapa-mundi-en-blanco >. Acesso em: 06 /10/ 2012.

1 – Analisando a figura acima, desenvolva as seguintes questões:

a) Localize os continentes africano e americano e pinte-os da cor de sua preferência.

b) Localize o Brasil e faça um círculo em volta dele.

Texto I

O outro lado da África

O continente africano, cercado a nordeste pelo mar Vermelho, ao norte pelo

Mediterrâneo, a oeste pelo oceano Atlântico e a leste pelo oceano Índico, possui diversidades

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naturais que levaram estudiosos a dividi-la em duas Áfricas demarcadas pelo deserto do

Saara: a África saariana que se localiza ao norte do continente e estende-se pela região que vai

do atual Egito até Marrocos, e, a África subsaariana que fica ao sul do deserto do Saara e

estende-se do Saara até o Cabo da Boa Esperança, ao sul do continente, como podemos

observar na figura abaixo.

África Político

Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia>. Acesso: 10/10/2012.

Em virtude de sua grande extensão e de suas características geográficas, desenvolveu-se

uma grande diversidade social, política e cultural no continente Africano. Antes mesmo de os

europeus escravizarem os africanos (século XV) e colonizarem a África (século XIX),

algumas sociedades africanas já haviam ampliado suas áreas de influência, dominado outros

povos e transformado-se, assim, em impérios e reinos prósperos e organizados. Quatro desses

foram: Gana, Mali, Congo, Benin e Yorubá.

Vamos assistir aos vídeos:

• A África que nunca vimos ou que ninguém nos mostra (duração: 5:44 min).3

• Grandes Reinos da África 3ºD (duração: 3:48 min).4

Atividade 3 Dividam-se em cinco grupos. Cada grupo irá pesquisar (revistas, jornais,

internet, etc) imagens da África (da antiguidade à atualidade) em tamanho de foto:10x15 cm.

3 Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=3vllE0-Xuo0. Acesso em 30/10/2012. 4 Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=sPC6QdX6emU. Acesso em 30/10/2012.

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� Na seqüência, cada grupo deverá fazer um mapa da África na cartolina branca

com as imagens pesquisadas, para exposição na escola.

Sistematizando

1. Leia com atenção a afirmação: “O desconhecimento sobre a África levaram à

divulgação de ideias erradas e preconceituosas sobre os povos africanos”. Agora responda:

a) A afirmação acima é verdadeira? Justifique.

b) Você conhece alguma(s) dessas ideias ? Qual (is)? Comente.

c) E agora, o que você sabe sobre a África? Explique detalhadamente.

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Unidade II A Escravidão no Brasil e no Paraná

O objetivo dessa unidade é reconhecer e compreender a experiência da escravidão na

África, no Brasil e no Paraná, bem como contextualizar o processo da abolição da escravatura

e suas consequências para o escravo negro brasileiro.

Atividade 1

a) O que você entende por escravidão?

b) Quais as formas de escravidão que você conhece?

c) A escravidão ocorreu em quais locais e épocas da história da humanidade?

d) O Brasil utilizou mão-de-obra escrava? O que você sabe sobre esse fato histórico?

(Quando? Onde? Como? Por quê?).

Joaquim Nabuco em “A Escravidão”, relata como Lamennais explica de forma mítica a

origem desse fenômeno:

Trocando ideias...

Com seu colega pesquisem, reflitam e respondam:

a) O que é um mito?

b) O mito do texto acima se relaciona com a realidade? Como?

c) Você acha correto escravizar alguém? Por quê?

Escravidão: é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força. (Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o#cite_note-1. Acesso em: 30/11/2012.)

Texto: “A Escravidão” ...disse de si para si: como hei de fazer se não trabalhar, e o trabalho me é insuportável? Então um pensamento entrou-lhe no coração. Ele saiu de noite, apanho alguns de seus irmãos dormindo e carregou-os a ferro. Porque dizia ele eu os forçarei com varas e azorrague a trabalhar para mim e comerei o fruto de seu trabalho. E ele fez o que tinha pensado e outros, vendo isso fizeram o mesmo e não houve mais irmãos: houve senhores e escravos (NABUCO, 2000, p. 12).

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Texto 2

ESCRAVIDÃO

Várias civilizações fizeram uso da escravidão e só após séculos, acabaram abolindo-a

legal e oficialmente. A forma mais primária de escravização resultou das guerras, cujos

prisioneiros passavam a ser escravos. Essa era uma situação aceita e rapidamente se tornou

essencial para a economia e para a sociedade de todas as civilizações antigas.

Segundo Boulos:

Com as expedições à África iniciadas em 1415, os portugueses passaram a capturar

nativos africanos e a trocá-los com os chefes tribais africanos. Vários negros foram levados

para o Brasil e para a Europa, donde foram levados para vários países. Em busca de

enriquecimento, sob o pioneirismo português, os europeus realizaram a partir do século XV a

chamada expansão marítima e comercial europeia que mudou drasticamente a história da

humanidade com o subjugo dos continentes africano, americano e asiático. Os europeus

alcançaram o litoral atlântico da África e organizaram todo um aparato político, econômico e

militar que garantiu o controle sobre africanos e americanos – sistema colonial – que durou do

século XVI ao século XIX.5

Os europeus ainda em portos africanos, negociavam escravos caçados por grupos de

brancos especializados na obtenção de mão de obra escrava para as regiões coloniais da

América e por negociações com as tribos africanas vencedoras, através do escambo (trocas),

trocando os escravos que eram levados para a América como mercadorias valiosas, por

5 Fonte: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/historia/historia_trab/escravaturaontemehoje.htm. Acesso: 05/11/2012.

A escravidão existia na África desde a Antiguidade (...) quase sempre de forma doméstica (...). Os escravos eram integrados à vida familiar e seu uso representava prestígio e poder. Eram escravizados pelos mais variados motivos: punição por crimes, pagamento de dívidas, prisioneiros de guerra, garantia como penhor, etc. A antiga escravidão africana não tinha o sentido capitalista que lhe foi emprestado pelos europeus a partir do Século XV, interessados no lucro resultante desse comércio humano, fundamental para a acumulação de capital no mundo da Idade Moderna. Com a chegada dos islâmicos depois do Séc. VII, e principalmente dos europeus, a partir do Séc. XV, a questão da escravidão e do tráfico de escravos ganharia novas dimensões e desdobramentos. (VICENTINO, 2010, p. 129-133).

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mercadorias de pouco valor na Europa, que interessavam aos africanos como tabaco,

aguardente, tecidos, vinhos, cavalos, ferro (que era derretido e transformado em armas na

África).

Trabalhando com mapas

O Tráfico Negreiro (Séculos XVI – XIX)6

1 – Analisando o mapa acima, responda:

a) Qual é o título do Mapa?

b) Cite regiões de origem e portos de embarque dos africanos escravizados e

enviados para o Brasil.

c) Cite as principais cidades brasileiras que recebiam os escravos.

No filme "Amistad7", do diretor Steven Spielberg, mostra-se um pouco das condições

desumanas com que os escravos eram tratados na travessia da África para a América. Vamos

assistir o trailer do filme e na sequência responder:

a) Onde se passa a primeira cena do filme?

b) Qual e como era a alimentação servida aos negros?

6 Mapa Tráfico Negreiro. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.b/portals/pde/aquivos/2547-.pdf?PHPSESSID=2010012208174796. Acesso em 05/11/2012. 7 Trailer do filme “Amistad”. Disponível em: http://educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=10053. Acesso: 05/11/2012.

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c) Os negros eram tratados como mercadorias? Descreva uma cena que justifique

sua resposta.

d) Os negros resistiam de alguma forma à situação? Descreva uma cena do filme

que justifique sua resposta.

e) Identifique e descreva a cena do filme que mais chamou a sua atenção.

Ao chegarem ao Brasil, os escravos negros eram utilizados para substituir os nativos

brasileiros na produção canavieira, pois até 1850, a economia brasileira era quase que

exclusivamente movida pelo braço escravo. O cativo estava na base de toda a atividade, desde

a produção do café, açúcar, algodão, tabaco, transporte de cargas, às mais diversas funções no

meio urbano: carpinteiro, pintor, pedreiro sapateiro, ferreiro, marceneiro, entre outras. Nos

canaviais ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), eram tratados da pior forma

possível. Trabalhavam arduamente, eram severamente castigados, mal alimentados e tratados,

para evitar fugas, passavam as noites acorrentados nas senzalas (galpões escuros, úmidos e

com pouca higiene. (BOULOS, 2009, p. 12-15).

Segundo Boulos:

Os escravos negros quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-

mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta. Apesar do medo e por sofrerem

constantemente, os escravos fugiam para as matas em lugares de acesso muito difícil. Ali

formavam o que conhecemos por quilombos.

Desde o começo do tráfico negreiro, a escravatura passou a ter uma conotação

puramente étnica que serviu de argumento para sustentar a teoria de que a escravidão não era

moralmente incorreta, pois a “raça negra” era considerada inferior a todas as outras

(principalmente em relação à “raça branca” – etnocentrismo), precisando por isso, de um

mestre/dono que a comandasse e que se servisse das suas únicas capacidades (físicas). Passou

também a estar relacionada com uma condição de inumanidade por parte dos escravos, até

então considerados hierarquicamente inferiores, mas ainda assim pessoas. Surgiria assim o

Os escravizados trabalhavam de 12 a 15 horas por dia: começavam entre 4 e 5 horas da manhã e iam até o anoitecer [...] O homem trabalhava como agricultor, carpinteiro, ferreiro, pescador, carregador e em várias outras funções. A mulher cultivava a terra, cuidava dos doentes, colhia e moía a cana, lavava, passava, fazia partos, vendia doces e salgados, etc. (BOULOS, 2009, p. 16).

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conceito de racismo.8

No Paraná, a mão-de-obra escrava indígena foi utilizada pelos bandeirantes e

portugueses para a mineração do ouro, no litoral paranaense, até o século XVII. A partir de

então, com a chegada dos negros escravos, essas duas etnias, de culturas diferentes foram

utilizadas como mão-de-obra escrava nos serviços forçados principalmente na mineração e no

plantio da cana-de-açúcar, e, a partir do século XVIII, com a consolidação da pecuária como

atividade comercial e a diminuição do índio nas áreas mais próximas, os escravos de origem

africana substituíram paulatinamente o indígena.

A escravidão negra no Paraná foi semelhante às das demais regiões brasileiras, em que o

escravo negro estava sujeito a toda espécie de trabalho, podia ser e era comprado, vendido,

alugado, rendendo lucros a seu proprietário e impostos ao governo. Em Curitiba, os escravos

realizavam serviços domésticos e participavam do cenário cultural da cidade com os “cantos”

que apresentavam no largo do mercado municipal.

Na área rural das regiões planálticas, principalmente nos Campos Gerais, a grande

maioria dos trabalhos era realizado por eles, trabalhavam na extração da erva mate e da

madeira, na pecuária, nas lavouras, na carpintaria, no artesanato e nos serviços domésticos.

No entendimento de Turma, as principais vilas escravistas eram Antonina, Guaratuba,

Paranaguá, Castro, Curitiba, Lapa, Palmeira e São José dos Pinhais.

No entendimento de Steca e Flores:

8 Disponível em: http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/historia/historia_trab/escravaturaontemehoje.htm.Acesso : 05/11/21012.

De acordo com dados do recenseamento, na Província do Paraná, em 1872, há registro de cerca de 10.500 escravizados. Em 1887, o número de escravos caiu para 3.600. Esse número diminuiu mais pela morte, venda e transferência para outras províncias do que pela libertação concedida pelos senhores escravocratas. (TURMA, 2008, p. 87).

No Paraná era comum, donos de escravos libertá-los em dias de festas religiosas ou de famílias: ou como último desejo antes da morte; Quando tinha alguém da família aniversariando ou em formaturas; para agradar o Imperador; em outros casos o próprio negro, comprava sua liberdade com seu trabalho ou com recursos acumulados ao longo dos anos. (STECA, FLORES, 2002, p. 61)

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Trocando ideias... Atividade 2

Discuta com seus colegas:

a) Até o século XVIII, índios escravos tinham uma condição comum. Qual era essa

condição?

b) Quais eram os trabalhos realizados pelos escravos negros no Paraná?

c) O número de escravos negros no Paraná sofreu uma grande redução de 1872 a 1887.

Quais foram os fatores que contribuíram para essa redução?

d) Em quais locais ocorreu a escravidão negra no Paraná até o século XVIII?

A libertação dos escravos no Brasil ocorreu por meio de um longo e gradual processo

que culminou com a Lei Áurea de 1888. Suas consequências para o negro liberto foram

drásticas. No entendimento de Boulos:

� Para compreender melhor esse processo de libertação dos escravos no Brasil e

suas consequências para o negro liberto, vamos assistir ao vídeo “A libertação dos escravos no

Brasil” (duração: 18 min.)9

Atividade 1

Com base no que estudamos nessa unidade, elabore um texto de uma a duas páginas

9 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=qdz23vzVQUg Acesso em: 01/11/2012.

Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel e seus conselheiros aprovaram a Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão no Brasil. A lei libertou cerca de 700 mil escravos, perto de 5% da população brasileira composta na época por 15 milhões de pessoas. Para os recém libertos, a abolição não trouxe os benefícios esperados. Eles não receberam terra para plantar e nenhum tipo de ajuda do governo, parte deles negociou sua permanência na fazenda em troca de modestos salários ou de parte da colheita. Muitos, porém, deixaram as propriedades onde tinham sido escravos e foram para a cidade em busca de emprego. Os empresários, porém, preferiam dar emprego aos imigrantes europeus. Diante disso, os libertos foram obrigados a aceitar os piores serviços, os mais baixos salários e a convivência com um racismo silencioso, mas carregado de violência. Sem terra, sem instrução, sem dinheiro e sem apoio do governo, muitos migraram para as cidades, onde iam morar em cortiços ou nos morros; Uns poucos, no entanto, conseguiam ascender socialmente. (BOULOS, 2009, p. 263).

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sobre a escravidão no Brasil e no Paraná, tendo como referência as seguintes questões:

• Que rota é mostrada pelo mapa : O Tráfico Negreiro (Séculos XVI – XIX)?

• Em que período ocorre a escravidão dos negros africanos?

• De quais portos africanos os negros saiam e em quais estados brasileiros desembarcavam?

• Quais trabalhos eram desenvolvidos pelos escravos no Brasil?

• Como era o cotidiano desses escravos?

• Os escravos resistiam de alguma forma à escravidão? Como?

• Quais eram os trabalhos realizados pelos escravos negros no Paraná e em quais localidades

paranaenses ocorreu o trabalho escravo.

• Como se deu a abolição da escravatura no Brasil e quais as suas consequências para o negro

liberto.

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Unidade III

A cultura afro-brasileira e a mulher negra

O objetivo dessa unidade é propiciar aos estudantes o contato com alguns dos elementos

constitutivos da cultura afro brasileira, bem como a compreensão da contribuição da mulher

negra na construção dessa cultura e da sociedade brasileira em seus mais diversos aspectos.

Observe as imagens abaixo10. O que elas representam?

• Você sabe o que é cultura?

10 Disponíveis em http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=3. Acesso em 23/11/2012.

Cultura - do latim, culere, significa cultivar. É “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. (Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura. Acesso: 11/11/2012)

Cultura Afro-Brasileira: conjunto de manifestações culturais do Brasil que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do Brasil colônia até a atualidade. (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_afro-brasileira. Acesso: 11/11/2012.)

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A contribuição do negro para a sociedade brasileira não se restringe à povoação e à

economia por meio do seu trabalho. Vindos de diversas partes do continente africano, os

escravos negros trouxeram as matrizes, as bases culturais africanas e transformaram suas

raízes em uma cultura de resistência social influenciando a cultura brasileira e contribuindo

assim para a formação da cultura afro-brasileira. Algumas dessas influências estão presentes

na culinária, na religião, na linguagem, nas festas folclóricas e religiosas, na música e na

dança.

� Para uma melhor compreensão da cultura afro-brasileira, vamos assistir ao

vídeo: Cultura Afro Brasileira.11

Atividade 1

Agora, baseado no que compartilhamos sobre a cultura afro brasileira e no conteúdo do

vídeo Cultura Afro Brasileira que acabamos de assistir, responda:

a) Você já conhecia alguma (s) dessas contribuições africanas? Qual (is)?

b) Em sua opinião, qual dessas contribuições africanas é mais conhecida no Brasil?

Qual delas chama mais a atenção e desperta sua admiração?

c) Em sua opinião por quê devemos estudar a História Africana e Afro Brasileira?

d) Escolha três palavras de origem africana usadas em nosso vocabulário.

e) Pesquise uma frase ou provérbio africano e descreva o seu entendimento sobre ele.

f) Agora, montem um mural com as palavras e os provérbios africanos pesquisados.

� O que você sabe da história das

mulheres negras?

As mulheres negras sempre tiveram

participação histórica em nossa sociedade e

contribuíram de forma especial na construção

da sociedade brasileira e na propagação da

cultura afro-brasileira.

A imagem ao lado, pintada no século XX

pelo artista francês Jean Baptiste Debret,

retrata as escravas brasileiras e suas etnias

11 Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=N3M0md9Va0A. Acesso em 28/09/2012.

Disponível em http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=53&evento=1. Acesso à 23/11/2012.

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africanas. Essas mulheres eram denominadas de acordo com suas origens, Marias da nação

benguela, Jacinta da nação nagô, Josefa da Angola, Anunciatas da nação mina. Em muitas

sociedades africanas as quitandeiras eram responsáveis pela subsistência e pelo comércio de

gêneros de primeira necessidade. Essas ao serem transportadas para o Brasil introduziram a

prática das feiras que existe até hoje.

Nos séculos XVIII e XIX as “negras de ganho” com seus tabuleiros ocuparam os

mercados, as ruas e praças brasileiras, comercializando os mais diversos tipos de produtos.

Vendiam peixes, carnes, frutas, hortaliças, flores, doces, aguardentes, refrescos, louças,

tecidos, charutos, velas, amuletos, bonecas, hóstias, mocotó, vatapá, caruru, pamonha, angu,

canjica, entre outras especialidades culinárias. Foi com esse trabalho árduo que muitas

escravas de ganho conseguiram poupar o suficiente para a compra de sua alforria, de seus

filhos e companheiros.

Conforme Shumaher e Brasil, as primeiras contas de poupança foram abertas no século

XIX por quitandeiras, algumas dessas, ex-escravas, tornando-se bem-sucedidas como a

Bárbara Gomes de Abreu e Lima, ex-cativa que viveu nas primeiras décadas do século XVIII,

em Minas Gerais e após sua alforria, consolidou uma ampla rede de comércio que se estendia

pelas capitanias do Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, acumulou expressiva riqueza,

estabeleceu vínculos com militares, clérigos e destacados fazendeiros (SHUMAHER e

BRAZIL, 2007, p. 64).

Hoje as feiras estão presentes em praticamente quase todo o Brasil. As baianas

vendedoras de acarajé constituem patrimônio imaterial de nação e um dos ícones mais

reverenciados de brasilidade. Além disso, os alimentos que sobravam ou eram dispensados

pela casa grande, elas transformavam em pratos que se tornaram famosos por seu sabor e

composição nutricional, feijoada, cozido, sarapatel, chouriço, entre outros, fazem parte da

cultura alimentar. Na saúde, os chás, ungüentos, emplastos e banhos usados pela sabedoria

adquirida no contato com a natureza e herdada da ancestralidade, foi e continua sendo usados

por muitos.

As atividades exercidas pelas escravas de ganho permitiam relativa liberdade de ir e vir,

para onde quisessem. Assim, as comerciantes representaram um importante elo de integração,

resistência e comunicação na trama de relações das populações negras locais, ao percorrerem

as ruas vendendo seus produtos, iam divulgando ideias de liberdade e auxiliando a fuga de

escravizados.

Muitas mulheres negras tiveram um papel importante dentro das comunidades

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quilombolas onde cultivavam produtos agrícolas para a subsistência do grupo, teciam tecidos

de algodão, realizavam o trabalho agrícola, preparavam os alimentos, acompanhavam os

guerreiros e combates, lutavam lado a lado com homens, transportavam alimentos, pólvora,

armas, removiam e cuidavam dos feridos, representavam o elo de seus ritos e práticas

litúrgicas, enraizavam o sentimento de proteção dos quilombolas em suas caçadas e

enfrentamentos com as tropas de captura. Assim, tiveram fundamental importância na

manutenção prática, no abastecimento de provisões, confecções de roupas e utensílios e na

preservação de valores religiosos e culturais.

A participação da mulher negra e afro-descendente na luta pela liberdade foi grande. De

acordo com Shumaher e Brazil:

Adelina... filha e cativa do mesmo explorador, a charuteira, como era conhecida (...) enquanto vendia charutos nas ruas de São Luis do Maranhão, conheceu estudantes abolicionistas (...) passou a colaborar permanentemente, auxiliando na fuga de escravos. Sua posição de vendedora ambulante facilitava contatos sem despertar suspeitas (SHUMAHER e BRAZIL, 2007, p. 94).

No início do século XIX, com as leis abolicionistas, alguns escravos lutam por sua

liberdade nos tribunais, onde era negociado o valor da alforria. Muitas mulheres travaram essa

luta.

Generosa, uma mulher de nação libolo (...) conhecida como Benvinda, recorreu a lei de 7 de novembro de 1831. (..) dias depois de sua chegada ao Brasil, foi abandonada por seu “senhor”, (...) doente, com bexiga, (...) socorrida por Jaime Ferrão, que cuidou de seus ferimentos e ensinou-lhe o português. Permaneceria vivendo com ele, até ouvi-lo dizer que tinha de “vendê-la” porque precisava de dinheiro. Generosa foi julgada livre em 1842, porque não era cativa por lei.” (SHUMAHER e BRAZIL, 2007, p. 100).

Mesmo perseguidas, as chamadas mães de santo, resistiram e preservaram seus ritos e

crenças religiosas de raiz africana, alcançaram importantes posições hierárquicas nos espaços

religiosos e preservaram manifestações culturais, símbolos de brasilidade.

Essas mulheres mantendo a tradição de lutar de seus antepassados, inventaram maneiras

de lutar pela liberdade diariamente. Na atualidade as afro-descendentes continuam lutando

pela superação da discriminação racial das diversas formas de preconceitos que ainda sofrem.

ATIVIDADE 2 Observe abaixo, trechos da letra do samba enredo. Pesquise a letra do samba

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na íntegra e responda:

a) A que se refere a primeira estrofe do samba? E a segunda estrofe?

b) Qual a relação estabelecida entre elas na letra desse samba?

c) Você concorda com essa relação? Justifique.

Samba Enredo 2007 - Candaces12

Salgueiro (RJ)

Candaces mulheres, guerreiras...

...Rainhas soberanas

...Novo mundo, novos tempos

O suor da escravidão...

Mães de santo, mães do samba!

Apesar das mudanças e conquistas, ainda hoje, a

mulher negra, afro-descendente é alvo de duplo

preconceito, o racial e o de gênero. Continua em último lugar na escala social, carregando

inúmeras desvantagens. Dados de pesquisas realizadas pelo DIEESE (Departamento

Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos)13 mostram que a mulher possui menor nível de

escolaridade, trabalha mais, porém com rendimento menor, e, as poucas que conseguem

romper as barreiras do preconceito e discriminação racial e ascender socialmente, têm menos

possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial. Muitas das poucas que

possuem diploma universitário, não conseguem exercer a profissão e continuam exercendo as

mesmas profissões que exerciam antes da formação acadêmica.

Na saúde as mulheres negras possuem menos expectativa de vida, menor acesso a

exames, à anestesia durante o parto e à esterilização cirúrgica, se comparada às mulheres

brancas. São também as maiores vítimas da violência. A pobreza e a marginalidade a que é

submetida a mulher negra reforça o preconceito e a interiorização da condição de

inferioridade, que em muitos casos inibe a reação e luta contra a discriminação sofrida.

De acordo com Munanga

12 Disponível em: http://salgueiro-rj.musicas.mus.br/letras/810871/. Acesso em 10/11/2012. 13 Disponível em: http://www.sinap.org.br/canais/temp_mulher.php?id=100. Acesso em 10/11/2012.

Figura 3: Cleópatra Disponível em:

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/2010/historia/cleo.jpg

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Discriminação: comportamento manifesto que se exprime através da adoção de padrões de preferência em relação aos membros do próprio grupo e/ou de rejeição em relação aos membros dos grupos externos. Preconceito: conceito formado com base em julgamento próprio que exige tom depreciativo da diferença; análise tendenciosa; discriminação provocativa. Racismo: doutrina que afirma que uma raça é superior a outra num dado lugar ou país. Sexismo: ato discriminante ou preconceituoso em função do sexo; uso da distinção sexual (masculino vs. feminino) para elaborar um argumento; associação de capacidades, atitudes, tendências ou disposições ao sexo de um indivíduo ou de um grupo. Quilombo: Esconderijo de negros fugitivos. Alforria: Liberdade concedida ao escravo. Casa-grande: Casa do senhorio nas grandes propriedades rurais do Brasil Colonial. Senzala: Local onde eram alojados os escravos de uma fazenda. Sarapatel: Prato típico do nordeste brasileiro, preparado à base de carne e sangue coalhado. Ungüento: Medicamento utilizado sob a forma de papa, extraído de plantas, gorduras animais ou resíduos minerais, que se aplica sobre alguma parte do corpo dolorida ou inflamada. Chouriço: Enchido feito após a matança do porco com as entranhas desse animal temperadas de forma variável consoante a região; tradicionalmente enche-se um bocado de tripa do porco com o sangue, miúdos, cebola, salsa e sal. Clérigo: Membro integrante do Clero.

Fonte: http://pt.wiktionary.org

...enquanto sujeito social importante na construção da história do nosso país, as mulheres negras vêm construindo uma trajetória de luta, perseverança e sabedoria. E, as vozes das nossas antepassadas negras, com suas dores e lutas ainda ecoam e servem de exemplo para a construção de uma sociedade digna. (MUNANGA, 2006, p. 133).

Mesmo tendo contribuído muito para a formação da sociedade brasileira e da cultura

afro brasileira como vimos, a mulher negra brasileira, nos dias atuais, ainda sofre a

discriminação, o preconceito, racismo, sexismo, que têm se manifestado de diversas formas

ao longo da história. Uma dessas formas foi a construção de discursos que representam as

“visões” da sociedade brasileira acerca da mulher negra, manifestas no cotidiano e nas letras

de canções populares no período de 1930 a 1945, como veremos nas próximas unidades.

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Unidade IV

Elementos históricos formadores dos discursos

acerca da mulher negra brasileira

O objetivo dessa unidade é propiciar aos estudantes a compreensão de elementos

históricos do período escravista brasileiro, formadores dos discursos acerca da mulher negra

brasileira.

Atividade 1 a) Leia em silêncio a poesia “Mulher Negra”14, de Francisca Sena.

14SAÚDE, Ministério da. Raças e Etnias – Saúde e Prevenção nas Escolas, v. 6. Brasília, 2011, p. 39.

Mulher Negra

Francisca Sena – Fórum Cearense de Mulheres

Eu, considerada a mais vil das mulheres: negra!

Como tantas e tantas mulheres,

O que mereço nesta vida?

Desprezo? Solidão? Silêncio? Anonimato? Violência?

A mim, foi reservada a porta dos fundos, o elevador de serviço,

os encontros secretos, as relações sem compromisso.

Atribuem que me falta dignidade suficiente para

Aproximar-me das pessoas brancas, puras e inocentes.

(...)

Pasmem! Minha existência e presença ameaçam

a ordem, a moral e os bons costumes.

Ameaçam o mundo.

Motivos mil haverá

Para justificar todo este infortúnio a mim cometido:

Defesa da moral, respeito à estética, ciúmes,

Preservação da propriedade e da decência.

Estes são alguns disfarces do racismo.

(...)

Jamais calarei e ignorarei

Tamanha discriminação, tamanho racismo.

Sei que a indignação não é suficiente

Pra romper com as estruturas e fazer o novo acontecer.

É preciso atitude!

Mas neste momento não existe outro sentimento que me mova

Além do vazio e da impotência.

Juntar-me a outras e outros pode ser o caminho.

Alguém se habilita???

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b) Na sua opinião, as mulheres, em especial as negras, sofrem algum tipo de

discriminação pelo fato de serem negras? O que explica essa situação de desigualdade?

Atividade 2 Analisem materiais produzidos pelas mídias impressa ou eletrônica, a fim

de perceber se há manifestação de discriminação étnico-racial. Para tanto, dividam-se em 4

grupos. Cada grupo receberá um determinado tipo de material:

Grupo 1 – panfletos de propaganda de lojas, carro, apartamento etc;

Grupo 2 – números do jornal local de maior circulação;

Grupo 3 – encartes sobre programas de TV, principalmente sobre novelas e programas

de auditórios;

Grupo 4 – revistas e cadernos de esporte.

Para realizar a análise do material, siga o roteiro abaixo:

a) Identificar quem ocupa o lugar mais importante do material: negro ou não

negro?

b) Comparar como o/a jovem branco/a e o/a negro/a aparecem na mídia e

contabilizar as aparições de cada grupo.

c) Observar o número de aparições positivas e negativas de jovens negros(as) e o

número de aparições positivas e negativas de jovens brancos/as.

d) Avaliar em que proporção essas populações estão representadas ou seja, se

aparecem em quantidades semelhantes nas mesmas mídias.

Atividade 3 Promovam, sob a orientação do professor, um debate comentando sobre os

modos sutis e evidentes da manifestação do racismo e do sexismo. Registre a situação que

mais lhe chamar a atenção.

Para refletir...

Texto1

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O lugar da negra escrava na sociedade brasileira e a formação de discursos

Nos três séculos de escravismo no Brasil, as escravas negras desempenharam inúmeras

tarefas e funções. Na agricultura semeavam, removiam as ervas daninhas, capinavam,

cortavam, enfeixavam e moíam a cana, coziam o melado, faziam o açúcar, descaroçavam o

algodão e descascavam a mandioca. Na casa-grande eram lavadeiras, arrumadeiras,

costureiras, cozinheiras, amas-de-leite. Na senzala, além de realizar as tarefas que realizavam

na casa-grande, muitas tornavam-se benzedeiras e parteiras. Nas cidades como escravas de

ganho, realizavam o comércio diverso dos gêneros de primeira necessidade, comidas diversas,

roupas usadas e aviamentos de costura.

A mulher negra também funcionava como objeto sexual,

pois tanto servia aos desejos sexuais de seus senhores, como na

iniciação sexual dos jovens brancos, sendo muitas vezes

alugadas por seus senhores para realizarem esses atos. Assim,

as negras escravas tornam-se as amantes despertando às vezes,

ciúmes e raiva da mulher branca, à qual era destinada a funções

de esposa e mãe. A escrava Anastácia é um exemplo de

resistência ao “estupro legalizado”, corriqueiro na época.

Das relações sexuais entre negras (os) e brancos(a) surge

o mulato(a). Assim, a castidade das mulheres brancas de camada

social mais elevada resguardou-se graças à prostituição forçada

das negras escravas. Estas foram reduzidas à condição de meras

mercadorias, objetos, coisas.

O lugar da negra escrava na sociedade brasileira nos três séculos de escravismo contribuiu

para a formação de discursos que representam as “visões” da sociedade brasileira acerca da

mulher negra. Tais discursos forma embasados em sentidos criados durante a escravidão, se

manifestaram no cotidiano e nas letras de canções populares no período de 1930 a 1945,

evidenciando um prolongamento da realidade vividas por essas mulheres que manifestam-se

ainda hoje. Exemplos desses discursos:

• Mulher negra é boa reprodutora.

• Mulher negra é objeto, bem de consumo,

animal e não é mulher.

• Mulher negra como ícone de sensualidade e

prazer sexual.

• Mulher negra é mulher sem família.

Figura 1: Escrava Anastácia. Disponível em:

http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conte

udo=346

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Pela liberdade sexual nas senzalas imposta pelos próprios senhores, surgiram ainda os

falsos conceitos de libertinagem e promiscuidade negra e, outro discurso surgido foi o da

figura da mulata, esta, que não tem a mesma formação étnica da negra nem a da branca, como

mestiça, teria a sensualidade herdada da negra e uma maior atração sexual. É concebida como

mulher que não serve para o casamento, pois é cheia de manhas, ambiciosa, dengosa e

preguiçosa. É o símbolo da sensualidade feminina nacional.

� Vejamos o vídeo “Vinhetas Globeleza”.

Após a abolição (1889) os negros foram jogados às margens da sociedade, sem

indenização, sem qualquer assistência ou garantia, alguns disputaram o trabalho nas lavouras

cafeeiras e a maioria se deslocou para as cidades, onde sem emprego e numa vida marginal,

relegados à própria sorte foram morar em casarões abandonados e posteriormente, com a

reurbanização da cidade do Rio de Janeiro ocorrida no início do século XX, nas favelas, à

época, chamadas de morros. O homem negro não encontrou trabalho para garantir o mínimo

sustento da família, foi a mulher negra, que com seus conhecimentos de trabalhos domésticos,

arcou com o sustento inclusive moral, dos ex-escravos, servindo agora à patroa em lugar da

sinhá e sendo perseguida pelo patrão em lugar do antigo senhor. Nos serviços de babá ou

empregada, a negra contribuiu para o início da emancipação da mulher branca que com o

progresso da indústria passou a ocupar um novo espaço social.

Entretanto, a mulher negra continuou sujeitando-se e sofrendo o preconceito racial e de

gênero, situação herdada do período da escravidão em que era criada dos sobrados e mulher

do eito. Mesmo com todas essas dificuldades, muitas delas tornaram-se destaque nacional.

Atividade 4 Dividam-se em grupos de três. Cada grupo irá pesquisar a biografia e uma

imagem de uma mulher negra que tornou-se destaque nacional e trazer o resultado da

pesquisa na próxima aula, quando montaremos um painel com os resultados da pesquisa.

Sites sugeridos:

http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/mn_mn_t_biografia_a.htm http://poderosamentemulher.blogspot.com/2007/10/mulheres-negras-na-historia.html

http://movimentonegropb.vilabol.uol.com.br/brevehistoriamn.htm http://www.overmundo.com.br/overblog/a-mulher-negra-e-pobre-no-brasil

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Unidade V O Rádio e a Música Popular Brasileira na Era Vargas (1930-1945)

O objetivo desta unidade é propiciar aos estudantes a compreensão do contexto

histórico do período (1930-1945), bem como a importância da música na construção do

imaginário social acerca da mulher negra no período.

Você sabe quem é o homem da figura ao lado?

Algumas pistas sobre este personagem:

� Ele foi presidente do Brasil.

� Esteve no poder como presidente por mais de 15 anos.

� Foi chamado de “pai dos pobres e trabalhadores”.

� Foi uma das figuras mais polêmicas da História Brasileira.

� Governou o Brasil sob uma ditadura de 1930 a 1945. Foi

novamente presidente eleito pelo voto direto de 1951 a 1954.

� Autor da frase: “Saio da vida para entrar na História”.

O homem da figura é Getúlio Vargas, uma das figuras mais polêmicas da história

nacional, para alguns, um ditador, para outros, um “salvador”. Getúlio Dornelles Vargas,

esteve na presidência do Brasil de 1930 a 1945. Esse período ficou conhecido como A Era

Vargas e foi dividido em: Governo Revolucionário ou Inconstitucional (1930-1934); Governo

Constitucional (1934-1937); Governo Ditatorial ou Estado Novo (1937-1945). Vargas

retornaria à presidência do Brasil, em 1951, pelo voto direto e democrático.

Neste período (1930-1945) ocorreram profundas transformações econômicas, culturais

e políticas no cenário nacional e houve uma grande utilização pelo Estado Brasileiro de

Disponível em: http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo

.php?conteudo=346. Acesso em 23/11/2012.

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canções de diversos compositores e intérpretes, dos estilos musicais predominantes da época

(o samba e a marchinha), que reforçam uma imagem estereotipada da mulher negra brasileira.

No campo econômico ocorria a transição do sistema agrícola ao urbano industrial

capitalista em decorrência do crescimento industrial que provocara o aumento da mão-de-

obra, do mercado consumidor e o florescimento da vida urbana, que desencadeara o

surgimento da modernidade a qual se opunha a tudo que era tradicional, inclusive à música

que com a expansão do rádio ocorrida no período, tornava-se cada vez mais presente no

cotidiano social, tornando-se importante agente formador e representativo do imaginário

social.

No âmbito cultural, havia a influência do Modernismo que, opondo-se aos modelos

culturais europeus vigentes até então e ao modelo norte americano que tentava se impor,

buscava as raízes culturais e históricas nacionais e sua valorização.

No campo político vivíamos a Era Vargas que buscava uma modernização ligada à

construção de uma identidade nacional e de uma brasilidade, utilizava o nacionalismo como

objeto de ideologia política e o mito da democracia racial para promover a autoimagem do

Brasil interna e externamente e beneficiar seu governo. Havia também a Política de Boa

Vizinhança, que criada pelo governo norte-americano Franklin D. Rosevelt, referiu-se ao

período das relações políticas estadunidenses com os países da América Latina (1933-1945), e

consistia em investimentos e venda de tecnologia norte-americana para os países latino-

americanos, mas em troca, estes deviam dar apoio à política norte-americana e promover uma

aproximação cultural entre EUA e América Latina. Praticada em diversas frentes,

principalmente pelo cinema e pelo rádio. Porém, na prática enquanto na América Latina

propagavam-se as qualidades da cultura norte-americana, como o industrialismo e

modernização, nos EUA caracterizava-se a cultura Latina pelas belezas naturais e o exotismo.

O personagem brasileiro Zé Carioca, por exemplo, foi criado nesse período.

� Vejamos o desenho animado “Pato Donald & Zé Carioca em Aquarela do

Brasil (Filme Alô Amigos - Disney)” com duração de 10 minutos.

A Música Popular Brasileira (MPB) viveu seu período mais rico, considerado como a

Época de Ouro por muitos historiadores na década de 1930, fato ocorrido graças à mudança

tecnológica do sistema de gravação mecânica para a elétrica que possibilitava o registro de

vozes de curta extensão típicas do samba e à expansão do rádio como primeiro veículo de

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Disponível em: http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=797&evento=5. Acesso em 22/11/2012.

comunicação de massa. O gênero musical por excelência da época era o samba.

(PELLEGRINI, 2009, p. 108)

O gênero musical por excelência da época era o samba, que em regra, eram compostas

por negros e afro descendentes dos morros cariocas, que na posição sócial desfavorecida em

que viviam, viam no samba uma das únicas oportunidades de ascensão social. Na maioria das

vezes eram interpretadas por cantores que não eram seus próprios compositores. Nessa época,

milhares de aparelhos foram vendidos e as noticias do Brasil e do mundo passaram a chegar

com maior rapidez aos ouvintes brasileiros, esse poderoso meio de comunicação alterou

antigos hábitos populares e influenciou as tendências da moda na época. (PELLEGRINI,

2009, p. 108-114).

Vargas, percebendo o poder do rádio em transmitir, influenciar e padronizar os valores

culturais brasileiros, passou a usá-lo para a afirmação da cultura nacional tentando criar uma

identidade nacional, e, para a afirmação da política getulista, levando diariamente ao ar

noticias referente ao Estado Novo e privilegiando os programas que valorizassem a cultura

brasileira.

No entendimento de Lenharo:

Dos dispositivos utilizados em larga escala, o rádio foi o principal deles pelo clima e pelo teor simbólico que alcançava entre emissores e receptores. (...) O rádio permitia uma encenação de caráter simbólico e envolvente. (...) de ilusão participativa e de criação de um imaginário homogêneo de comunidade nacional. (...) para se atingir determinadas finalidades de participação política. (LENHARO, 1986, p. 40-41)

Vamos assistir alguns vídeos para melhor compreendermos o panorama sócio

cultural da Era do Rádio no Brasil.

A Era do Rádio15

A Época de Ouro do Rádio - Parte 1.16

A Época de Ouro do Radio - Parte 2.17

Trecho da radionovela O direito de nascer (Rádio Nacional - Anos

1950). 18

15 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=1kwkh3zL980. Acesso em: 24/11/2012. Duração: 5:38min. 16 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=1qxcyAdcKDQ. Acesso em: 24/11/2012. Duração:4:40min. 17 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=htiIEP6s4ZQ. Acesso em: 24/11/2012.. Duração: 6:55min. 18 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=xUjfFY4BgwY. Acesso em: 24/11/2012.Duração: 2:10min.

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No período compreendido como Estado Novo (1937-1945) adotava-se a política de

nacionalização do samba e de utilização deste como recurso de propaganda política veiculada

no rádio. Assim, mediante as adequações que lhe são impostas pelo Estado Novo, o samba,

elemento da cultura negra até então reprimido torna-se símbolo nacional e principal estilo

musical desse período, coadunando com o surgimento da figura da “mulata” como símbolo de

brasilidade.

Atividade 1 Responda as questões abaixo:

a) A música faz parte de seu cotidiano? Explique.

b) Na década de 1930-1945 a música fazia parte do cotidiano das pessoas? Encontre no

texto acima um fragmento que justifique sua resposta.

c) Na sua opinião, as canções têm o poder de influenciar a vida das pessoas? Justifique.

Temos abaixo, um breve histórico de canções populares do período (1930-1945). Essas

canções apresentam discursos formados no período escravista brasileiro que expressam a

violência e a perpetuação da injustiça sofrida pelas mulheres negras brasileiras.

No entendimento de Roberto Catelli Júnior, uma canção pode tornar-se uma fonte

histórica, desde que contextualizada e interpretada, pois permite conhecer aspectos da história

do homem. (CATELLI, 2009, p.122-123).

As canções não apresentam um texto informativo e sim uma linguagem poética, repleta

de símbolos, por isso, ao interpretar uma canção, devemos considerar algumas questões,

dentre elas:

• A que gênero ou estilo musical pertence a canção?

• Em que época foi composta?

• Por quem foi composta?

• Que relação a canção tem com o contexto cultural, político e econômico de uma

determinada época?

• O que sua letra expressa em relação à época de sua composição e interpretação?

• A que grupo social pertence o autor da canção?

• O autor pertence a algum movimento específico de ordem política, musical ou de

qualquer outra ordem?

• Qual a linguagem da canção?

• Que visão de mundo a canção incorpora, traduz?

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Temos abaixo, um breve histórico de canções populares do período (1930-1945).

Essas canções apresentam discursos formados no período escravista brasileiro que expressam

a violência e a perpetuação da injustiça sofrida pelas mulheres negras brasileiras.Observe.

Canção: Eu fui no mato crioula”19

Gênero Musical: Marcha carnavalesca

Compositor: Gomes Júnior

Ano: 1928

Intérprete: Francisco Alves .

Trechos da letra:

Eu fui no mato...

Eu vi um bicho...

...Era uma velha

Crioula

Muito assanhada

Canção: “Teu cabelo não nega”20,

Gênero Musical: Marcha carnavalesca

Compositor: Lamartine Babo e Irmãos Valença.

Ano: 1932

Intérprete: Bando da Lua

Trechos da letra:

O teu cabelo não nega

Mulata...

...Mas como a cor não pega, mulata,

Mulata quero o teu amor.

Canção: “Da cor do pecado”21

Gênero Musical: Samba

Compositor: Bororó

19 Disponível em http://www.vagalume.com.br/pixinguinha/eu-fui-no-mato-crioula.html. Acesso em 23/11/2012. 20 Disponível em http://www.vagalume.com.br/marchinhas-de-carnaval/o-teu-cabelo-nao-nega.html. Acesso em 23/11/2012. 21Disponível em http://www.vagalume.com.br/luciana-mello/da-cor-do-pecado.html. Acesso em 23/11/2012.

Até 1927 as gravações eram mecânicas e sua qualidade deixava muito a desejar, o canto só era compreendido na sua totalidade, com a ajuda da letra. Em 1927, surgiu a gravação elétrica, então, os intérpretes tinham que saber dominar a voz para se adaptar ao novo processo e nem todos conseguiram no início. Francisco Alves logo conseguiu e em 1928 gravou Eu fui no mato Crioula, que tornou-se um dos principais sucessos do ano.

(Fonte: http://www.collectors.com.br/CS06/cs06_03fe.shtml. Acesso:30/11/2012.)

Curiosidades

O Teu Cabelo Não Nega, uma das maiores marchas de todos os tempos, em sua forma original era um frevo intitulado “Mulata”, dos irmãos pernambucanos Raul e João Valença. A composição foi oferecida à gravadora Victor para eventual aproveitamento em disco. Aproveitando em parte a melodia, mas achando que a letra tinha um teor excessivamente regional, a direção da gravadora encarregou, então, Lamartine Babo de adaptar “Mulata” ao gosto carioca. Especialista na arte de melhorar canções alheias, ele logo pôs mãos à obra, transformando o frevo na vitoriosa marchinha. Conforme análise do maestro Roberto Gnattali, o ritmo é semelhante, mas o adaptador lhe deu mais balanço e aproveitou da letra o que tinha de aproveitar.

(Fonte: http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/04/o-teu-cabelo-no-nega.hmtl. Acesso:30/11/2012.)

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Ano: 1939

Intérpretes: Silvio Caldas, Fagner e outros

Trechos da letra:

Este corpo moreno

Cheiroso, gostoso que você tem

É um corpo delgado

Da cor do pecado que faz tão bem

Canção: “Aquarela do Brasil”22

Gênero Musical: Samba

Compositor: Ary Barroso

Ano: 1939

Intérpretes: Francisco Alves, Elis Regina,

Frank Sinatra e outros.

Trechos da letra:

Brasil,...

...Terra boa e gostosa

Da morena sestrosa

De olhar indiscreto

Canção: “Morena boca de ouro”23,

Gênero Musical: Samba

Compositor: Ary Barroso

Ano: 1941

Intérpretes: Silvio Caldas, Roberta Sá e outros.

Trechos da letra:

Morena boca de ouro

Samba, morena, e me desacata

Morena, uma brasa viva

Canção: “Nega do cabelo duro”24. 22 Disponível em http://www.vagalume.com.br/ary-barroso/aquarela-do-brasil.html. Acesso em 23/11/2012. 23 Disponível em http://www.vagalume.com.br/cauby-peixoto/morena-boca-de-ouro.html. Acesso em 23/11/2012

Música de 1939, gravada originalmente por Sílvio Caldas, foi música tema da novela da TV Globo. Este samba possui melodia e harmonia bastante elaboradas e uma das letras mais sensuais da MPB. Segundo o autor “a inspiradora desta letra chamava-se Felicidade, uma mulher de vida pregressa pouco recomendável”. Teve inúmeras outras gravações por Elis Regina, Nara Leão, João Gilberto, Ney Matogrosso, Fagner e muitos outros. O compositor e violonista Bororó, nome artístico de Alberto de Castro Simões da Silva, nasceu em 15/10/1898 no Rio de Janeiro RJ. Iniciou sua carreira de compositor por volta de 1920. Teve pequena produção como compositor, destacando-se “Da cor do pecado” e “Curare”. Era sobrinho-neto da Marquesa de Santos. Faleceu em 7/6/1986 no Rio de Janeiro.

(Fonte: www.paixaoeromance.com/30decada/da_cor_do_pecado/h_da_

cor_do_pecado.html. Acesso: 30/11/2012.)

A canção “Aquarela do Brasil” recebeu esse título porque foi composta numa noite de 1939 na qual Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte tempestade. Antes de ser gravada, “Aquarela do Brasil”, inicialmente chamada de “Aquarela Brasileira”, foi apresentada por Cândido Botelho à então primeira dama e, originalmente foi gravada por Francisco Alves. Foi também gravada por Aracy Cortes e, apesar da popularidade da cantora, a canção não fez sucesso. Em 1940, não conseguiu ficar entre as três primeiras colocadas no concurso de sambas carnavalescos. O sucesso só veio após a inclusão no filme de animação Saludos Amigos, lançado em 1942 pelos Estúdios Disney, quando a canção ganhou reconhecimento nacional e internacional. Devido à enorme popularidade conquistada nos Estados Unidos, a canção recebeu uma letra em inglês do compositor Bob Russel, escrita para Frank Sinatra em 1957. A canção, por exaltar as qualidades e grandiosidades do país, marcou início do movimento que ficaria conhecido como samba-exaltação, visto por vários como sendo favorável à ditadura de Getúlio Vargas. No entanto, a família do compositor nega que ele algum dia tenha sido favorável à política de Vargas.

(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/aquarela_do_brasil. Acesso:30/11/2012.)

A canção Morena Boca de Ouro tornou-se obrigatória em qualquer antologia (conjunto do que há de melhor) de samba que se possa imaginar. Em 2007, foi interpretada por Roberta Sá no programa “Som Brasil” da Rede Globo de Televisão em homenagem a Ary Barroso.

(Fonte: http://canalviva.globo.com/programas/som-

brasil/materias/daniela-mercury-roberta-sa-e-casuarina-cantam-ary-barroso.html.

Acesso:30/11/2012.)

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Gênero Musical: Batucada/carnaval

Compositor: Rubens Soares e David Nusser

Ano: 1942

Intérpretes: Anjos do Inferno

Trechos da letra:

Nega do cabelo duro

Qual é o pente que te penteia?

Quanto tu entras na roda

O teu corpo serpenteia

Teu cabelo permanente,

Qual é o pente que te penteia?

Canção: “Mulata brasileira”25

Gênero Musical: Samba

Compositores: Custódio Mesquita e Joraci Camargo.

Ano: 1944

Intérprete: Linda Batista

Trechos da letra:

Eram três os continentes

E três raças diferentes

A mulata brasileira

Produziram essa mistura

Esta estranha criatura

Que nem Deus soube criar.

Atividade2 Dividam-se em sete grupos. Cada grupo irá pesquisar nos sites indicados a letra, na íntegra, de uma dessas canções e apresentar de forma criativa o resultado da pesquisa para toda a turma.

Grupo1: Canção: Eu fui no mato crioula.

24 Disponível em http://letras.mus.br/zizi-possi/1718462/. Acesso em 23/11/2012. 25 Disponível em http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/custodio-mesquita/mulata-brasileira/2123250. Acesso em 23/11/2012.

A canção “Nega do cabelo duro” foi destaque do carnaval de 1942. A composição satirizava o cabelo da personagem (“Nega do cabelo duro/Qual é o pente que te penteia?...”) e a moda feminina, então no auge, de frizar os cabelos (“Misampli a ferro e fogo/Não desmancha nem na areia...”), a chamada ondulação permanente. Aliás, os temas capilares predominaram no carnaval de 42, pois, além de “Nega do Cabelo Duro”, fizeram sucesso as marchinhas “Nós, Os Carecas” e “Nós Os Cabeleiras”.

(Fonte: http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/nega-do-cabelo-duro.html. Acesso:30/11/2012.)

A letra dessa canção faz menção à mulata como resultado, produto da mistura das etnias formadoras do povo brasileiro, e, à contribuição de cada uma dessas etnias na formação da “mulata”.

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Grupo2: Canção: Teu cabelo não nega.

Grupo3: Canção: Da cor do pecado.

Grupo4: Canção: Aquarela do Brasil.

Grupo5: Canção: Morena boca de ouro.

Grupo6: Canção: Nega do cabelo duro.

Grupo7: Canção: Mulata brasileira.

Sites indicados: http://www.vagalume.com.br

http://letras.mus.br http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/home

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Unidade VI A mulher negra na Música Popular Brasileira (1930-1945)

O objetivo dessa unidade é propiciar aos estudantes identificar os discursos acerca da

mulher negra brasileira presentes nas letras das canções da Música Popular Brasileira (MPB)

no período de 1930-1945.

Nas letras de muitas canções da Música Popular Brasileira do período de 1930-1945

havia discursos construídos no período da escravidão negra, que atribuíam representações,

(re)formavam o imaginário social e expressavam a violência e a perpetuação da injustiça

sofrida pela mulher negra brasileira.

Atividade 1 Na atividade anterior vocês dividiram-se em sete grupos e cada grupo pesquisou

a letra na íntegra, de uma canção. Agora, cada um desses grupos irá interpretar a canção

pesquisada , de forma a identificar qual(is) o (s) discurso(s) formados no período da

escravidão negra que expressa (m) a violência e a perpetuação da injustiça sofrida pela mulher

negra brasileira, encontra (m)-se presente (s) na canção.

Para realizar a interpretação:

• Pesquise o significado das palavras desconhecidas.

• Respondam às questões expostas acima que, segundo Roberto Catelli Junior, devemos

considerar ao interpretar uma canção.

• Verifique se há ambiguidade ou ironia para compreender o sentido dado à letra.

• Verifique se há e quais são os indicativos de violência, sexismo, erotismo, preconceito,etc.

Grupo 1 Canção: Eu fui no mato crioula. Gênero Musical: Marcha carnavalesca Compositor: Gomes Júnior Ano: 1928 Intérprete: Francisco Alves.

Trechos da letra: Eu fui no mato... Eu vi um bicho... ...Era uma velha Crioula Muito assanhada

Grupo 2 Canção: Teu cabelo não nega. Gênero Musical: Marcha carnavalesca Compositor: Lamartine Babo e Irmãos Valença. Ano: 1932 Intérprete: Bando da Lua

Trechos da letra: O teu cabelo não nega Mulata... ...Mas como a cor não pega, mulata, Mulata quero o teu amor.

Grupo 3

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Canção: Da cor do pecado. Gênero Musical: Samba Compositor: Bororó Ano: 1939 Intérpretes: Silvio Caldas, Fagner e outros

Trechos da letra: Este corpo moreno Cheiroso, gostoso que você tem É um corpo delgado Da cor do pecado que faz tão bem

Grupo 4 Canção: Aquarela do Brasil. Gênero Musical: Samba Compositor: Ary Barroso Ano: 1939 Intérpretes: Francisco Alves, Elis Regina.

Trechos da letra: Brasil,... ...Terra boa e gostosa Da morena sestrosa De olhar indiscreto

Grupo 5

Canção: Morena boca de ouro. Gênero Musical: Samba Compositor: Ary Barroso Ano: 1941 Intérpretes: Silvio Caldas, Roberta Sá e outros.

Trechos da letra: Morena boca de ouro Samba, morena, e me desacata Morena, uma brasa viva Pronta pra queimar

Grupo 6

Canção: Nega do cabelo duro. Gênero Musical: Batucada/carnaval Compositor: Rubens Soares e David Nusser Ano: 1942 Intérpretes: Anjos do Inferno

Trechos da letra: Nega do cabelo duro Qual é o pente que te penteia? Quanto tu entras na roda O teu corpo serpenteia Teu cabelo permanente, Qual é o pente que te penteia?

Grupo 7

Canção: Mulata brasileira. Gênero Musical: Samba Compositores: Custódio Mesquita e Joraci Camargo. Ano: 1944 Intérprete: Linda Batista Trechos da letra:

Eram três os continentes E três raças diferentes A mulata brasileira Produziram essa mistura Esta estranha criatura Que nem Deus soube criar.

Atividade 2 Façam a exposição à turma da interpretação da canção.

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Atividade 3 Dividam-se em quatro grupos. Dois deles irão pesquisar se ainda hoje existem canções com letras que expressam os mesmos discursos expressos nas canções populares de 1930-1945, e, dois irão pesquisar uma música que critique qualquer forma de preconceito. Na próxima aula, iremos socializar os resultados. Use sua criatividade apresentando a música em áudio, vídeo, ilustração, slides, etc.

Atividade 4 Essa é um desafio! A turma irá pesquisar uma(s) mulher(es) negra(s) de nossa

comunidade e convidá-la(s) para uma conversa, um depoimento em nossa sala, na ocasião

ela(s) irá(ão) relatar como é ser mulher negra brasileira, nos mais diversos aspectos de sua(s)

vida(s).

Atividade 5 Essa é outro desafio! Para finalizarmos nossos trabalhos, formem duplas e

apresentem pelo menos uma sugestão para a superação do racismo e do sexismo sofridos pela

mulher negra brasileira do século XXI.

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Referências BOULOS Júnior, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 8º ano /Alfredo Boulos Júnior, - São Paulo : FTD, 2009. (Coleção História: sociedade & cidadania.) CATELLI JÚNIOR, Roberto. Temas e linguagens da história: ferramentas para sala de aula no ensino médio / Roberto Catelli Junior. – São Paulo: Scipione, 2009. (Coleção Pensamento e ação na sala de aula). GIACOMINI, Sonia Maria. Mulher e escrava – uma introdução histórica ao estudo da mulher negra no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1988. LENHARO, Alcir. Sacralização da política.Campinas, Papirus,1986. MUNANGA, Kabengele. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2006. (Coleção para entender). NABUCO, Joaquim. A Escravidão. Acervo Digital, Recife: Massanga, 1988. Disponível em: http://digitalização.fundaj.gov.br/. Acesso em 07/11/2012. 15::06h. PELLEGRINI, Marco César. Vontade de saber história, 9º ano / Marco César Pellegrini, Adriana Machado Dias, Keila Grinberg. – 1. Ed – São Paulo: FDT, 2009. – (Coleção vontade de saber). SAÚDE, Ministério da. Raças e Etnias. Saúde e Prevenção nas Escolas, v. 6. Brasília, 2011. SCHMIDT, Mario Furley. Nova história crítica / Mario Furley Schmidt. – 2. ed rev. e atual. – São Paulo: Nova geração, 2002. STECA, Lucinéia Cunha; FLORES, Mariléia Dias. História do Paraná: do século XVI à década de 1950. Londrina: UEL, 2002. TUMA, Magda Madalena Peruzin. Viver é descobrir – História do Paraná. São Paulo: FDT, 2008.

Mapas

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Filmografia A África que nunca vimos ou que ninguém nos mostra. Disponível em

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http://www.youtube.com/watch?v=3vllE0-Xuo0. Acesso em 30/10/2012. A Época de Ouro do Rádio - Parte 1. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=1qxcyAdcKDQ. Acesso em: 24/11/2012. Duração: 4:40min. A Época de Ouro do Radio - parte II. http://www.youtube.com/watch?v=htiIEP6s4ZQ. Acesso em: 24/11/2012.. Duração: 6:55min. A Era do Rádio. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=1kwkh3zL980. Acesso em: 24/11/2012. Duração: 5:38min. Cultura Afro Brasileira. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=N3M0md9Va0A. Acesso em 28/09/2012.. Grandes Reinos da África 3ºD. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=sPC6QdX6emU. Acesso em 30/10/2012. Pato Donald & Zé Carioca em Aquarela do Brasil (Filme Alô Amigos - Disney). Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=tduIrd9Qd2k. Acesso em 23/11/2012. Trailer do filme “Amistad” - Disponível em: http://educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=10053. Acesso: 05/11/2012. Trecho da radionovela O direito de nascer (Rádio Nacional - Anos 1950). Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=xUjfFY4BgwY. Acesso em: 24/11/2012. Duração: 2:10min. Vinhetas Globeleza. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=BSMtF02Ltfc. Acesso em 23/11/2012.

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O teu cabelo não nega. Letra disponível em: <http://www.vagalume.com.br/marchinhas-de-carnaval/o-teu-cabelo-nao-nega.html>. Acesso em 23/11/2012. Curiosidade disponível em: < http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/04/o-teu-cabelo-no-nega.html.> Acesso:30/11/2012. Da Cor do Pecado. Letra disponível em: <http://www.vagalume.com.br/luciana-mello/da-cor-do-pecado.html>. Acesso em 23/11/2012. Curiosidade disponível em: <www.paixaoeromance.com/30decada/da_cor_do_pecado/h_da_cor_do_pecado.html>. Acesso: 30/11/2012. Aquarela do Brasil. Letra disponível em: <http://www.vagalume.com.br/ary-barroso/aquarela-do-brasil.html>. Acesso em 23/11/2012. Curiosidade disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/aquarela_do_brasil>. Acesso:30/11/2012. Morena boca de ouro. Letra disponível em: <http://www.vagalume.com.br/cauby-peixoto/morena-boca-de-ouro.html>. Acesso em 23/11/2012. Curiosidade disponível em: <http://canalviva.globo.com/programas/som-brasil/materias/daniela-mercury-roberta-sa-e-casuarina-cantam-ary-barroso.html>. Acesso:30/11/2012. Nega do cabelo duro. Letra disponível em: <http://letras.mus.br/zizi-possi/1718462/>. Acesso em 23/11/2012. Curiosidade disponível em: <http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/nega-do-cabelo-duro.html>. Mulata brasileira. Letra disponível em: <http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/custodio-mesquita/mulata-brasileira/2123250>. Acesso em 23/11/2012.

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