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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

Título: TRABALHANDO A LEITURA CRÍTICA ATRAVÉS DO HUMOR

Autora Elenir Simoneli de Souza Rodrigues

Disciplina Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto

CEEBJA de Assis Chateaubriand

Município da escola Assis Chateaubriand

Núcleo Regional de Educação

Assis Chateaubriand

Professor Orientador Clarice Lottermann

Instituição de ensino superior

Unioeste

Relação interdisciplinar Filosofia, História

Resumo Este projeto apresenta uma proposta de ensino cujo foco seja a leitura de textos cômicos, literários ou não, destacando o importante papel do professor como mediador de leituras. Além de estimular o contato do aluno com os textos, ele deve prepará-lo para ser leitor crítico e ativo, utilizando o humor, o riso e a ironia como forma de aliviar as tensões e provocar reflexões sobre a realidade, lançando mão de vários textos que circulam na sociedade. Para isso, propõe-se que sejam considerados os três eixos articuladores da Educação de Jovens e Adultos: Cultura, Trabalho e Tempo, para que os alunos de EJA compreendam o quanto é importante a leitura na aquisição de conhecimentos. Por intermédio da leitura de obras que apresentam humor e ironia, objetiva-se motivá-los a lerem mais e a compararem textos de diversos gêneros de modo que construam significados e consigam confrontá-los com sua experiência de vida, contribuindo para que ampliem seus conhecimentos e tenham mais autonomia para conviver, trabalhar e relacionar-se socialmente. As atividades serão desenvolvidas por meio de leituras de textos, análises e produções. Serão utilizados recursos tecnológicos para as pesquisas, vídeos e músicas.

Palavras-chave Leitura. Ironia. Humor

Formato do Material Didático

Produção Didático-Pedagógica

Público Alvo Ensino Médio – EJA

APRESENTAÇÃO

Esta unidade didática tem origem em algumas inquietações que permeiam o

ambiente escolar, sobretudo no que diz respeito aos alunos-trabalhadores que

frequentam a Educação de Jovens e Adultos – EJA: de que forma trabalhar os três

eixos articuladores da Educação de Jovens e Adultos – Cultura, Trabalho e Tempo –

nas aulas de literatura? Através da leitura de textos que explorem o humor é

possível levar os alunos a se interessarem mais por textos literários? Através do riso

é possível levar os alunos a fazerem leituras mais críticas dos textos e da própria

realidade? O trabalho com a interpretação da ironia contribui para que o aluno de

EJA faça uma leitura mais compreensiva e coerente?

Todos sabem que a leitura é fundamental para o exercício da cidadania. Ela

está presente em todos os segmentos sociais e é necessária como forma de

comunicação humana formal. No entanto, é comum uma leitura apenas decodificada

e alienante, onde o leitor não compreende o que lê e, ficando alheio à compreensão,

transfere a outras pessoas o que poderia ser de seu domínio. As Diretrizes

Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa (DCE) apresentam como proposta

formar leitores críticos e ativos, capazes de produzir significações para aquilo que

leem. Já as Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos (DCE, EJA)

complementam essa ideia ao enfatizar que os educandos da EJA trazem consigo

um legado cultural, conhecimentos construídos a partir do senso comum e um saber

popular, não científico, constituído no cotidiano, os quais devem ser considerados

nas práticas educativas juntamente com os três eixos articuladores da Educação de

Jovens e Adultos: Cultura, Trabalho e Tempo.

Isabel Solé (1998) considera a leitura um instrumento para a aquisição de

novas aprendizagens, uma vez que leva o leitor a um esforço cognitivo que processa

e atribui significado àquilo que está escrito em uma página, pois a compreensão que

cada um realiza depende do texto que tem à sua frente, mas também depende de

outras questões, tais como os conhecimentos prévios, os objetivos e a motivação

com respeito a essa leitura. Essas condições favorecem o êxito na compreensão da

leitura, pois

Quando um leitor compreende o que lê, está aprendendo; à medida que sua leitura o informa, permite que se aproxime do mundo de significados de um autor e lhe oferece novas perspectivas ou opiniões sobre determinados aspectos..., etc. A leitura nos aproxima da cultura, ou melhor, de múltiplas culturas e, neste sentido, sempre é uma contribuição essencial para a cultura própria do leitor. (SOLÉ, 1998, p.46).

No contexto atual, o humor tem se destacado em várias esferas de circulação

social, pois o riso é uma experiência humana capaz de representar comportamentos

diversos e tem como função a interação social, comunicação e percepção de

verdades não ditas. É também uma forma de manifestação contra a dominação na

sociedade. Por isso, nesta unidade didática, optou-se por trabalhar com textos que

privilegiem o humor, pois acredita-se que, através do humor e da ironia, pode-se

aguçar o senso crítico do leitor, uma vez que o riso é uma forma de exprimir a

verdade sobre o mundo, sobre a história e sobre o homem. Para Bakhtin

O riso tem um profundo valor de concepção do mundo, é uma das formas capitais pelas quais se exprime a verdade sobre o mundo na sua totalidade, sobre a história, sobre o homem; é um ponto de vista particular e universal sobre o mundo, que percebe de forma diferente, embora menos importante (talvez mais) do que o sério; por isso, a grande literatura deve admiti-lo da mesma forma que ao sério: somente o riso; com efeito, pode ter acesso a certos aspectos extremamente importantes do mundo. (BAKHTIN, 2002, p.57)

As atividades aqui apresentadas foram pensadas/criadas tendo como

público-alvo alunos do CEEBJA do município de Assis Chateaubriand. Através

deste material, busca-se desenvolver o interesse pela leitura e a capacidade de

pensar e agir de forma crítica e autônoma, através do riso e humor crítico, a fim de

que os alunos venham a estabelecer relações entre essas leituras e sua própria

realidade, numa perspectiva de construir conhecimentos e atuar melhor no mundo.

Espera-se, desta forma, contribuir para que os alunos ampliem seus conhecimentos

e tenham mais autonomia para conviver, trabalhar e relacionar-se socialmente.

Assim, nesta unidade didática são propostas atividades de escrita, oralidade

e reflexão, tomando como ponto de partida a leitura de crônicas, tiras, charges,

vídeos e filmes, levando o leitor a observar como se constrói o humor e a ironia e

como esses dois elementos permitem uma apreciação crítica da realidade.

UNIDADE DIDÁTICA

Pode o sério provocar riso, ou o humor tratar

de coisa séria?

Livrai-me de tudo que me trava o riso. Caio F. Abreu

É melhor escrever sobre risos que sobre lágrimas, pois o riso é o apanágio do homem.

François Rabelais

REFLITA

– Você já riu hoje?

– O que é mais agradável: sorrir ou estar sério? Rir ou provocar o riso?

– Qual a sua sensação quando sorri?

– O riso faz bem pra quê?

– Em quais situações você costuma rir?

– Você gosta de ambientes onde predomina o bom humor?

O humor amplia a consciência, desenvolve o senso crítico e a capacidade

do indivíduo de refletir. Bom humor não é simplesmente dar risada de qualquer

coisa, mas desenvolver um senso crítico.

Ouça atentamente uma piada que será contada por seu/sua professor/a!

Aparelho Auditivo

O médico atende um paciente idoso e milionário, que estava usando um

revolucionário aparelho de audição e pergunta:

— E aí, seu Almeida, está gostando do aparelho?

— É muito bom! — respondeu o velhinho.

— E a família gostou? — pergunta o médico.

— Não contei para ninguém ainda... Mas já mudei meu testamento três vezes!

Charge: o que há por trás dessas imagens de humor?

Lemos não só para adquirir informações, mas como meio de nos tornar mais

críticos e considerarmos diferentes perspectivas para transformar o próprio

conhecimento. Além dos textos escritos, temos as imagens que são apresentadas

de várias maneiras e são fontes muito importantes para serem lidas e interpretadas.

A charge é um texto apresentado por imagens que fazem referências a

acontecimentos atuais, criticando-os. Sempre foi predominantemente usada em

jornais, porém, na contemporaneidade, toma espaço no mundo virtual, promovendo

a interação entre a linguagem escrita e a visual. A caricatura é o principal recurso

utilizado neste gênero textual.

Você poderá usar o dicionário para encontrar a definição de charge e caricatura.

Charge [do fr. Charge] S.f. Representação pictórica, de caráter burlesco

caricatural, em que se satiriza um fato específico, em geral, de caráter político e

que é do conhecimento público (FERREIRA, 1999, p.455).

Caricatura [do it. Caricatura] S.f. Desenho que, pelo traço, pela escolha dos

detalhes, acentua ou revela certos aspectos caricatos de pessoa ou fato.

Representação burlesca em que se arremedam ou satirizam comicamente

pessoas e fatos. Representação deformada de algo (FERREIRA, 1999, p.410).

Assista ao vídeo “Falando de Acordo” de Maurício Ricardo. Disponível no

site: http://www.youtube.com/watch?v=6sIPqmjgHwM acesso em 15/10/2012 às 14:51 .

Registre sua compreensão!

1- Converse com um colega sobre o assunto da charge.

2- No vídeo aparecem duas personagens que representam pessoas que se

destacam no Brasil. Quem são? Que cargos ocupam ou ocupavam?

3- Há uma razão para a escolha de tais personagens ou poderiam ser outras?

4- Em uma conversa informal, elas tratam de mudanças que ocorrerão na

Língua Portuguesa. Qual é o documento que torna isso legal?

5- Uma personagem questiona sobre o uso do trema. E você, o que sabe sobre

esse documento citado na charge?

6- Pesquise na internet sobre “O novo acordo ortográfico”. Esta é uma

pesquisa rápida, apenas para você conhecer o documento. Se você já o

conhece, aproveite para rever o que foi alterado na Língua Portuguesa.

Sorria! O riso sugere cumplicidade com o outro, seja ele real

ou imaginário.

Muitas são as causas do riso e o ser humano ri por motivos diferentes. Para

Bergson (1980), tudo o que não é natural é motivo de riso. É um ato sem

reflexão consciente. A sociedade impõe modelos e comportamentos a seus

membros, e tudo o que não é aceito coletivamente torna-se objeto de riso.

Bergson (1980, p.73) afirma que “nada desarma como o riso”.

Leia, com atenção, a charge a seguir:

Imagem retirada do site <http://www.diaadia.pr.gov.br http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=141&evento=3

1- Com base na leitura da charge, você deve ter percebido a crítica irônica em

relação à falta de segurança pública. Em que consiste essa crítica? Justifique

com elementos da imagem apresentada.

2- A falta de segurança pública é um dos problemas brasileiros. Como isso

poderia ser amenizado no país? Dê a sua sugestão.

3- Que relação você faz dessa charge com a segurança pública de sua cidade?

– Você sabe o que é ironia? Defina em poucas palavras.

– Conhece alguém irônico?

– Gosta do uso desse recurso?

– Em que situações ele é usado?

– Dê alguns exemplos de ironia que você conhece.

– Agora pesquise sobre ironia. Você poderá fazer isso em livros e revistas

(em uma biblioteca) ou na internet (laboratório de informática da escola).

Outra forma de expressão que ocupa espaço significativo na linguagem é a ironia,

que também desempenha uma função crítica, e que, mesmo não estando a serviço

do riso, pode provocá-lo.

“Nem todas as ironias são divertidas (cf.Freud, 1905: 175) – embora algumas

sejam. Nem todo humor é irônico – embora algum seja. No entanto, ambos

envolvem relações de poder complexas e ambos dependem de contexto social e

conjuntural para que possam existir.” (HUTCHEON, 2000, p.48)

PARA REFLETIR

Você acha que isso é ironia?

Retirada do site <http://www.diaadia.pr.gov.br http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=21&evento=5#menu-galeria (Acesso em: 30 out. 2012, 22:53).

1- O humor da charge foi construído a partir de uma situação. Descreva–a.

2- A charge trata da injustiça penal no Brasil. É possível identificar alguma

situação atual que possa ser comparada à da charge? Discuta em grupos.

3- Opine: Como deveria ser tratada a situação do primeiro quadrinho? E no

segundo, qual seria a forma justa para resolver o problema?

E na minha cidade...

Em grupos, discutir e produzir uma charge sobre sua cidade, representando

sua opinião sobre injustiça. Lembre-se que o humor e a ironia devem estar

presentes.

Você sabe o que é crônica? Já leu alguma em jornais? E em livros?

Saiba que elas aparecem também em livros. Vamos conversar um pouco sobre

esse gênero textual.

Originalmente a crônica limitava-se a relatos verídicos e nobres, memórias,

pois tratava-se da compilação de fatos históricos apresentados segundo a

ordem de sucessão no tempo, como o dia a dia da corte, as histórias dos

reis, seus atos , etc. Mais tarde entretanto, grandes escritores, a partir do

século XIX, passam a cultivá-la, refletindo a vida social, a política, os

costumes, o cotidiano, etc. do seu tempo em livros, jornais e folhetins.

Contemporaneamente, no jornalismo, em coluna de periódicos, assinada,

pode vir em forma de notícias, comentários, algumas vezes críticos e

polêmicos, abordando temas ligados a atividades culturais (literatura, teatro,

cinema, etc.), políticas econômicas, de divulgação científica, desportivas, etc.

Atualmente também abrange o noticiário social e mundano. Conforme a

esfera social que retrata, recebe o nome de crônica literária, policial,

esportiva, política, jornalística, etc.

Quanto ao estilo, geralmente é um texto curto, breve, simples, de

interlocução direta com o leitor, com marcas bem típicas da oralidade.

Quando predominantemente narrativa possui trama quase sempre pouco

definida, sem conflitos densos, personagens de pouca densidade

psicológica. Além do tipo narrativo, também pode ser do tipo argumentativo

ou expositivo, com textos de opinião sobre temas diversos. A crônica é o

único gênero literário produzido essencialmente para ser vinculado na

imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. Quer

dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e predeterminada: agradar aos

leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização,

criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade

entre o escritor e aqueles que o leem (COSTA, 2008, p. 71-73).

A crônica Manjar Branco é do cronista Luis Fernando Veríssimo. Ele é um dos

escritores mais populares e respeitados do Brasil. Com um público amplo, ele faz

rir tanto a dona de casa quanto adolescentes, intelectuais e fãs do humor.

O texto que segue será lido por seu/sua professor/a. Acompanhe

a leitura atentamente.

Manjar branco

Luis Fernando Veríssimo

Os dois estavam comendo sem falar. Só os dois na mesa, e os dois em silêncio. Aí ele fez um comentário. Só por fazer.

- Não existe nada pior do que risoto frio.

Ela só olhou para ele e continuou mastigando. Daí a pouco disse: - Bunda caída. - O quê? - Bunda caída. É pior do que risoto frio. (...) (Fragmento)

O texto completo pode ser encontrado em: VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias brasileiras de verão. Rio de Janeiro: Fontanar, 2009.

Participe da discussão para ampliar sua compreensão da crônica!

1- Quem narra o texto?

2- Esta crônica foi extraída de um jornal? Comprove.

3- Em que ambiente encontram-se as personagens? O que estão fazendo?

4- Por que o marido reclama?

5- Escreva a parte do texto em que o marido mais ofende a mulher.

6- Qual foi a atitude dela?

APROFUNDE SUA COMPREENSÃO!

1- O texto inicia revelando uma aparente monotonia. Que palavras denunciam

isso?

2- Por que o marido iniciou o diálogo?

3- A quem a mulher quis referir-se ao dizer bunda caída?

4- O marido não se sentiu ofendido, por quê?

5- O que a mulher entendeu quando ele disse: “ginástica, plástica”?

6- Qual é o modelo de valores apresentado no texto?

7- Como você analisa a narrativa?

Martha Medeiros (1961) é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde

que nasceu. Em seu livro Poesia Reunida (1998) encontramos a crônica

Vale- tudo em família que trata da mesma temática do texto anterior:

relações familiares.

BOA LEITURA!

Em grupo, leia a crônica: Vale-tudo em família

Martha Medeiros

Os únicos seres humanos que manterão você no elenco fixo até o fim dos dias são

seus pais e irmãos. Em princípio, a gente sente o impulso de dizer: não, eu nunca

fiz isso. Mas fez. E faz. E fará sempre. Ser mais condescendente com estranhos do

que com os membros da própria família. Não estou me referindo a lares

desarmônicos. Estou falando de famílias integradas, unidas, resolvidas. (...)

(Fragmento. O texto completo pode ser encontrado em: MEDEIROS, Martha. Poesia reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

“A linguagem só consegue efeitos risíveis porque é obra humana,

modelada o mais exatamente possível nas formas do espírito humano.”

(BERGSON, 1980, p.69).

1- Aprofunde sua compreensão do texto “Vale- tudo em família”, analisando como

se constrói a ironia e o humor critico. Para tanto,

1.1- localize, no texto, em que momento a autora utiliza a ironia.

1.2- destaque onde o humor acontece no texto.

1.3- explique o que o humor e a ironia podem nos revelar.

1.4- argumente sobre a forma de relacionamento familiar descrita no texto.

Qual é o efeito do vídeo?

O vídeo parte do concreto, do visível, do imediato, próximo, que toca todos os

sentidos. Mexe com o corpo, com a pele – nos toca e "tocamos" os outros,

estão ao nosso alcance através dos recortes visuais, do close, do som estéreo

envolvente. Pelo vídeo sentimos, experienciamos sensorialmente o outro, o

mundo, nós mesmos.

O vídeo explora também e, basicamente, o ver, o visualizar, o ter diante de

nós as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais

(próximo-distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-pequeno, equilíbrio-

desequilíbrio). Desenvolve um ver entrecortado – com múltiplos recortes da

realidade - através dos planos - e muitos ritmos visuais: imagens estáticas e

dinâmicas, câmera fixa ou em movimento, uma ou várias câmeras,

personagens quietos ou movendo-se, imagens ao vivo, gravadas ou criadas

no computador. Um ver que está situado no presente, mas que o interliga não

linearmente com o passado e com o futuro.

A música e os efeitos sonoros servem como evocação, lembrança (de

situações passadas), de ilustração – associados a personagens do presente,

como nas telenovelas – e de criação de expectativas, antecipando reações e

informações. (MORAN, 1995, p.27 a 35).

Disponível no site: http://www.eca.usp.br/prof/moran/vidsal.htm#tvideo. Linguagens da TV e do vídeo. Acesso em 07/11/2012 as 09:58 .

Assista, agora, ao vídeo: “Brasil, um país subdesenvolvido” disponível no

site http://www.youtube.com/watch?v=QJe1fvruWYo. Acesso em 10/09/12.

Observe com atenção e reflita.

1. Qual é o assunto (tema) do vídeo?

2. O que ele fala sobre o assunto?

3. As imagens apresentadas retratam a realidade brasileira?

4. O vídeo apresenta ironia? Explique seu ponto de vista.

5. No vídeo “Brasil, um país subdesenvolvido” há humor. Observe como o humor

foi construído.

E na música, Humor e Ironia sempre foram permitidos?

A ditadura militar aconteceu de 1964 a 1984, época em que houve muita

resistência e muita música. Esses anos foram de censura e repressão à

criação artística e também manifestações estéticas. Grande parte da

população sonhava com outra forma de governo e uma sociedade mais justa.

De acordo com Caetano Veloso, era a “canção de protesto mais bonita do

mundo”.

“A Canção do Subdesenvolvido foi a mais executada e foi proibidíssima”, diz

Carlos Lyra. Essa música falava sobre a exploração do Brasil pela Inglaterra e

Estados Unidos. Essas canções de protesto levaram o compositor a um auto-

exílio entre 1964 e 1971. “Eu tive problema depois do golpe por causa dessas

canções. Elas foram proibidas de tocar nas rádios e nos lugares pelos militares e

valeu uma perseguiçãozinha contra mim também. Se eu não tivesse me exilado,

eu teria sido preso com certeza para interrogatório. Antes que acontecesse

alguma coisa, peguei minha trouxa e fui morar na matriz, logo nos Estados

Unidos, junto aos donos do Brasil que era menos perigoso”.

Reportagem retirada do site http://www.socialismo.org.br/portal/arte-cultura/78-

noticia/848-carlos-lyra-e-seus-parceiros-fizeram-parte-da-resistencia-a-ditadura-

“No Brasil, os estudantes, músicos, artistas saíram às ruas para denunciar o

regime militar que passou a vigorar no país a partir de 1964. Em 1968 o

governo militar institui o AI-5 (Ato Institucional nº 5), através do qual

concretizou a ditadura ao decretar o fechamento do congresso, estabeleceu

a censura aos meios de comunicação e passou a prender e a julgar

arbitrariamente qualquer pessoa que fosse considerada contra o regime,

denominados de subversivos”.

“Quanto ao protesto através da produção cultural foram as músicas de

protesto que tiveram maior repercussão entre a população” (BONINI, 2006,

p.353 e 354).

MÚSICA: EXPRESSÃO DO SER HUMANO

A música, quer seja entendida como arte, magia ou ciência, sempre esteve

vinculada à vida do homem, influindo no seu progresso espiritual, sobretudo

pela função mística que tem desempenhado sobre ele em diferentes culturas

e épocas.

A educação através da música, envolvendo os aspectos dinâmico, sensorial,

afetivo, mental e espiritual do ser, não só colabora no desenvolvimento de

todas suas faculdades, com contribui para a formação de sua personalidade

individual. Isso porque a música destina-se à totalidade do homem: seus

sentidos, coração e inteligência. (CAMARGO, 1994, p.17)

Agora que você já assistiu ao vídeo “Brasil, um país subdesenvolvido”, lerá a letra da

música “Canção do Subdesenvolvido” de Carlos Lyra, que foi produzida na época da

ditadura militar. Disponível, na íntegra, no site http://letras.mus.br/carlos-lyra/576927/.

Canção do Subdesenvolvido

Letra - Carlos Lyra e Francisco de Assis

O Brasil é uma terra de amores

Alcatifada de flores

Onde a brisa fala amores

Em lindas tardes de abril Correi pras bandas do sul Debaixo de um céu de anil Encontrareis um gigante deitado

Santa Cruz, hoje o Brasil Mas um dia o gigante despertou

Deixou de ser gigante adormecido E dele um anão se levantou Era um país subdesenvolvido Subdesenvolvido, subdesenvolvido, etc. (refrão)

[...]

(Fragmento. Disponível, na íntegra, no site http://letras.mus.br/carlos-lyra/576927/).

Registre suas ideias no caderno.

1- O texto faz referências a outros textos. Comprove, com versos do texto, referências ao: a- Hino nacional brasileiro: b- Hino da Independência:

(Se necessário, pesquise esses textos na íntegra).

2- Este texto traz lembranças de fatos históricos do Brasil para você? Quais?

3- De que forma foi usada a ironia neste fragmento? [...] Estados Unidos País amigo desenvolvido País amigo, país amigo [...]

4- O texto fala de produtos de má qualidade industrializados fora do Brasil e que são importados por nós. Comprove com parte do texto.

5- Os fatos tratados na letra da música, apesar de serem reais, são apresentados de forma irônica e com humor. Em que consiste a crítica?

6- O texto faz referência a influências quanto às formas de pensar, dançar e cantar com sua origem nos Estados Unidos, um país desenvolvido. No entanto, uma realidade diferente do cenário brasileiro. Comprove com versos da música.

7- A música discute a incorporação de valores que não eram brasileiros, mas

sim norte-americanos. De que forma isso está expresso?

8- Seja criativo! Produza uma música, um poema ou uma paródia utilizando o

humor e a ironia. Você postará essa atividade no site da escola.

Stanislaw Ponte Preta, um cronista irônico.

“Samba do Crioulo Diodo” é uma composição de Sérgio Porto/Stanislaw Ponte

Preta, de 1968, que fez muito sucesso em todo o Brasil por apresentar humor e

ironia nas composições que os compositores das escolas de samba faziam para

contar os fatos históricos brasileiros. O cronista, radialista e compositor Sergio

Marcos Rangel Porto nasceu no Rio de Janeiro em 11/01/1923. Conhecido pelo

pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta foi um dos mais importantes cronistas dos

anos 50 e 60. Muito satírico e irônico. Faleceu em 30/09/1968. (Darcio Fragoso)

Para complementar as informações acima você poderá acessar o site:

http://www.paixaoeromance.com/60decada/samba_do_crioulo_doido/h_samba_do_crioulo_doido.htm

Observe a letra da música “Samba do Crioulo Doido” e converse com os colegas

sobre a forma utilizada pelo compositor para criar efeitos de humor no texto.

Observe como a mistura de personalidades de três séculos que não conviveram

cria humor.

Samba do Crioulo Doido Sergio Porto

Este é o samba do crioulo doido. A história de um compositor que durante muitos anos obedeceu ao regulamento, E só fez samba sobre a história do brasil. E tome de inconfidência, abolição, proclamação, Chica da silva, e o coitado Do crioulo tendo que aprender tudo isso para o enredo da escola. Até que no ano passado escolheram um tema complicado: a atual conjuntura. Aí o crioulo endoidou de vez, e saiu este samba:

Foi em diamantina onde nasceu j.k. E a princesa leopoldina lá resolveu se casar Mas chica da silva tinha outros pretendentes E obrigou a princesa a se casar com tiradentes Laiá, laiá, laiá, o bode que deu vou te contar

(...)

(Fragmento. Disponível, na íntegra, no site http://letras.mus.br/sergio-porto/1113833/)

- Na internet, você assistirá ao vídeo “Samba do Crioulo doido” acessando o site http://www.youtube.com/watch?v=P-5LLSWkf-A.

- Pesquise programas da televisão brasileira que apresentam humor e

ironia. Escolha um deles para discutir e analisar criticamente como esses

recursos estão sendo apresentados à população brasileira.

Observe a diferença entre mentira e ironia

Hutcheon (2000, p.101-102) observa a diferença entre a mentira e a ironia:

“usualmente não se pretende que as mentiras sejam interpretadas ou

decodificadas como mentiras; ao contrário, as ironias são realmente apenas

ironias quando alguém as faz acontecer”. A autora esclarece que os significados

irônicos se formam por meio de oscilações aditivas entre significados ditos e não

ditos. E que a ironia acontece quando ocorre a interação “deslocando a força

avaliadora da aresta da ironia para o que não é declarado, ainda que ao mesmo

tempo oscilando com o que é declarado”.

A crônica “Fora, povo!” é do cronista Luis Fernando Veríssimo e foi

publicada em 2007. Nela, o escritor assume a voz da classe média para

mostrar a incoerência do raciocínio dessas pessoas. Fique atento para a

forma como a ironia é construída no texto.

BOA LEITURA!

Fora, povo! Luis Fernando Veríssimo

Pesquisa recente concluiu que a elite brasileira é mais moderna, ética, tolerante e

inteligente que o resto da população. Nossa elite, tão atacada através dos tempos,

pode se sentir desagravada com o resultado do estudo, embora este tenha sido até

modesto nas suas conclusões. Faltou dizer que, além das suas outras virtudes, a

elite brasileira é mais bem vestida do que as classes inferiores, tem melhor gosto e

melhor educação, é melhor companhia em acontecimentos sociais e é

incomparavelmente mais saudável. E que dentes! (...)

(Fragmento. Texto completo disponível em: Veríssimo, Luis Fernando. O mundo é

bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012).

PARA PERCEBER AS ARESTAS IRÔNICAS DO TEXTO

1- Discuta as ideias do texto, em grupo;

2- A construção da ironia no texto “Fora, povo!” acontece quando o escritor assume

a voz da classe média. Justifique com partes do texto.

A ironia e suas características

Hutcheon (2000, p.91) salienta que a ironia é um processo comunicativo com três

características semânticas principais: ele é relacional, inclusivo e diferencial (2000,

p.91). É relacional quando opera entre ironistas, interpretadores e alvo, com a

intenção de criar algo novo e depois dotá-lo da aresta crítica do julgamento, não

sendo uma relação de iguais, pois o poder do não dito de desafiar o dito é a

condição semântica que define a ironia; é inclusivo quando oferece um significado

oposto ao seu significado literal; o significado da ironia diferencial está na

intenção.

3- Na crônica, o autor utiliza o humor e a ironia ao sugerir que o povo brasileiro, “por

ser tão inferior” é culpado pela situação brasileira. Qual a sua opinião sobre esse

assunto?

4- Volte ao texto e organize suas ideias, discutindo cada parágrafo, para perceber o

que não foi dito, mas que permitiu a você fazer um julgamento crítico.

Ampliando conhecimentos sobre ironia

Ao tratar sobre o reconhecimento e atribuição de ironia, Hutcheon distingue

contextos circunstanciais, textuais e intertextuais implícitos ao processo de

construção da ironia, bem como salienta que há marcadores que permitem

reconhecê-la. No caso de um texto escrito, os marcadores tipográficos e sinais de

pontuação gráficos desempenham essa função, mas dependem inteiramente do

contexto para que sejam reconhecidos como tal. Segundo a estudiosa, há cinco

categorias de sinais geralmente aceitas que funcionam estruturalmente: “(1) várias

mudanças de registro; (2) exagero/abrandamento; (3) contradição/incongruência;

(4) literalização/simplificação; (5) repetição/menção ecoante.” (2000, p. 224).

Quanto às mudanças de registro, deve-se atentar para o fato de que a súbita

mudança de registro “pode funcionar para estabelecer um enquadramento

ironizante”; no que diz respeito ao exagero, “quase todos os manuais de retórica

afirmam que a hipérbole e a litotes representam os dois extremos comuns de

sinalização irônica”; a terceira categoria se compõe de um “complexo de coisas

agrupadas em torno de noções de contradição, incongruência, contraste e

justaposição”; “no quarto tipo de sinal, é menos o contraste que a semelhança

estranha produzida ao tornar literal o figurativo que dispara e estrutura a atribuição

de ironia”; por fim, uma das categorias de marcadores mais comuns “é colocada em

jogo nos discursos verbais e não-verbais: repetição, menção ecoante, mímica.”

(HUTCHEON, 2000, p. 224-6).

LOTTERMANN, Clarice. Z. Zagalo e Brás Cubas: ironia e dissolução. In: FORTES, Rita

Felix e CRUZ, Antonio Donizeti da. Literatura brasileira: sociedade e mito. Cascavel: Edunioeste,

2012, p. 41-64.

Produza um texto em resposta à crônica “Fora, povo!” a partir do título

Fora, elite! Utilize a ironia em sua produção, aproximando-a de sua realidade!

Compartilhe esta produção no site de sua escola.

O conto “A Solução” é uma nova versão da fábula “O Lobo e o Cordeiro” criada há

muito tempo por Esopo, um escravo grego. É um texto com aparência inocente,

mas, por meio do humor crítico, Luis Fernando Veríssimo desafia o leitor, levando-o

a reflexões e chamando atenção para os arranjos políticos e outros tipos de

corrupções contemporâneos.

Leia, com atenção, o texto que segue!

A solução

O Sr. Lobo encontrou o Sr. Cordeiro numa reunião do Rotary e se queixou de

que a fábrica do Sr. Cordeiro estava poluindo o rio que passava pelas terras do sr.

Lobo, matando os peixes, espantando os pássaros e, ainda por cima, cheirando mal.

O Sr. Cordeiro argumentou que, em primeiro lugar, a fábrica não era sua, era do seu

pai, e, em segundo lugar, não poderia fechá-la, pois isto agravaria o problema do

desemprego na região, e o Sr. Lobo certamente não ia querer bandos de

desempregados nas suas terras, pescando seu peixe, matando seus pássaros para

assar e comer e ainda por cima cheirando mal. Instale equipamento antipoluente,

insistiu o Sr. Lobo.(...)

(Fragmento. Disponível no site: http://pt.scribd.com/doc/7037536/Luis-Fernando-Verissimo-O-Santinho

Percebendo o poder do não dito de desafiar o dito

Discurso de preocupação com problemas ambientais

O Sr. Lobo encontrou o Sr. Cordeiro numa reunião do Rotary e se queixou de que a fábrica do Sr. Cordeiro estava poluindo o rio que passava pelas terras do Sr. Lobo, matando os peixes, espantando os pássaros e, ainda por cima, cheirando mal.

Possibilidade de ser incomodado pelo povo que procura condições básicas de sobrevivência. Percebe-se a ironia na preocupação exagerada com o

outro.

... e o SS. Lobo certamente não ia querer bandos de desempregados nas suas terras, pescando seu peixe, matando seus pássaros para assar e comer e ainda

por cima cheirando mal. ...

Sugestão maliciosa...

... Você certamente não é contra o lucro, Sr. Lobo, disse o Sr. Cordeiro, preocupado, examinando o Sr. Lobo atrás de algum sinal de socialismo latente. ...

Discurso interesseiro/ Possibilidade de arranjos políticos

... É uma agressão à Natureza e, o que é mais grave, à minha Natureza. Se ainda fosse à Natureza do vizinho...

Ameaças, caso os acordos não aconteçam

... Então, respondeu o Sr. Lobo, mastigando um salgadinho com seus caninos reluzentes, eu serei obrigado a devorá-lo, meu caro. ...

Propostas imorais feitas pensando em enriquecimento próprio, lucros altos em detrimento do bem estar comum. Lembrando que as personagens

estavam em uma reunião do Rotary, uma organização filantrópica, que prega “amor à humanidade”.

...Por que o senhor não entra de sócio na fábrica Cordeiro e Filho? Ótimo, disse o Sr. Lobo. ...

Acordos feitos, silêncio instaurado... o verdadeiro desfecho da corrupção.

E desse dia em diante não houve mais poluição no rio que passava pelas terras do Sr. Lobo.Ou, pelo menos, o Sr. Lobo nunca mais se queixou.

Faça uma representação dramática do conto “A Solução” ressaltando as características das personagens representadas para que o humor seja construído.

Para que a ironia aconteça, a interação entre ironista e interpretador é de

fundamental importância, pois alguém pode produzir uma ironia e não ser

compreendido pelo outro. Para Hutcheon (2000, p.36), “a ironia é ‘perigosa’ e

‘capciosa’ para o ironista, o interpretador e o alvo, igualmente”.

E no texto jornalístico?

Joelmir Beting nasceu em Tambaú, em 21 de dezembro de 1936 onde trabalhou e estudou até 1955. É sociólogo formado na USP e seguiu a carreira de jornalista. Faz comentários na rádio e TV Bandeirantes. Desde 2000, mantém seu próprio site na internet, dedicando-se a análise macroeconômica. Também realiza palestras, simpósios, congressos, onde compartilha sua vasta experiência realizando um sonho inicial: o magistério. Recebeu vários prêmios, destacando-se Comunique-se Mídia Eletrônica, como melhor analista da TV e mídia eletrônica.

Adaptado do site:http://www.portaldosjornalistas.com.br/perfil.aspx?id=234

Leia o texto jornalístico a seguir!

Somos menos subnutridos

Informa a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO): no Brasil, caiu de 15% para 7% o número de subnutridos, na comparação dos períodos de 1990 a 1992 e 2010 a 2012, No mundo, a queda foi de 19% a12,5%, e na América Latina, de 14% para 8% (números arredondados).

O Bolsa Família foi um dos responsáveis por esta queda, diz o estudo da FAO. Atualmente, quase 870 milhões de pessoas em todo o mundo sofre de subnutrição e 13 milhões delas são brasileiras – nas contas do governo brasileiro, quando o Plano Brasil Sem Miséria, foi lançado, no ano passado, eram 16,2 milhões.

(...)

(Fragmento. Disponível na integra no site:http://www.joelmirbeting.com.br/noticias.aspx?IDgNews=9&IdNews=37732 )

O texto “Somos menos subnutridos” é um comentário do jornalista Joelmir Betting sobre o relatório apresentado pela Organização das Nações Unidas mostrando a diminuição da miséria no mundo.

Perceba os ferrões da ironia no trecho entre aspas referindo-se ao bolsa família:

O documento também ressalta a importância dos sistemas de proteção social para que os mais vulneráveis possam "participar, contribuir e se beneficiar do

desenvolvimento”.

Na conclusão do seu texto, o jornalista apresenta dados reais, contrapondo-os aos dados citados no documento a que faz referência, deixando que o interpretador perceba o alvo, crie algo novo e se posicione criticamente.

Leia também as Crônicas: “O Povo”, “Audácia” e “Buu” de Luis Fernando Veríssimo.

Você poderá pesquisá-las na internet ou em uma biblioteca. BOA LEITURA!

Mas o riso nem sempre foi permitido...

Na Idade Média, o que era considerado importante, verdadeiro, sagrado não

poderia ser objeto de riso, ou seja, a sociedade dominante não admitia o riso

em relação aos ritos oficiais. O filme “O nome da Rosa” (adaptação do

romance homônimo de Umberto Eco) revela como a proibição do humor era

utilizada como forma de manter o povo temente e fiel às leis da igreja. É

também uma crítica ao poder, que impedia o acesso ao conhecimento, e ao

esvaziamento de valores.

- Assista ao filme “O Nome da Rosa” para perceber com se dava a proibição

do riso na Idade Média.

A ironia em obra literária

Um dos mestres no uso do discurso irônico, na literatura de língua portuguesa, é

Eça de Queirós. Na sua obra O conde de Abranhos (que foi publicada em 1879), o

autor faz “o impiedoso retrato de uma figura paradigmática do Constitucionalismo,

através da pena do seu secretário Z. Zagalo, que lhe redige as memórias. Este

secretário, mais imbecil ainda do que o amo que serve, julgando fazer o elogio do

estadista dá-nos, pelo contrário, a total dimensão de um político ávido de Poder,

videiro, trapaceiro, enfatuado e oco. (MATOS, 1988, p. 155).

Na obra O conde de Abranhos, a ironia cumpre a função de descortinar

máscaras: ao apresentar a biografia do patrão, o secretário acaba expondo-lhe

todas as mesquinharias, falhas de caráter, defeitos. Através de uma linguagem

extremamente irônica, Eça de Queirós mostra como um narrador, aparentemente

idiota e com a pretensão de enaltecer o falecido patrão, surpreende ao desmascará-

lo em todas as suas abjeções. (LOTTERMANN, 2012, p. 41-64).

Leia a obra observando como o secretário acaba revelando a

verdadeira face do deputado!

A benevolência de Alípio é desmascarada e seu caráter interesseiro é

revelado sem meias palavras:

Eram freixenses que vinham à Capital e ali encontravam uma hospitalidade benévola, e que, de volta à sua montanha, celebravam o poder do deputado e a sua grande afabilidade. Naturalmente, logo que o conde foi nomeado par do reino, esta benevolência sistemática findou, e ele, segundo a sua engraçada expressão, ‘livrou-se para sempre daquela horda de carrapatos!’” (Conde de Abranhos, 1962, p. 436).

Quando Alípio trai o partido, depois de o narrador discorrer sobre todos os

interesses pessoais que o motivaram, sintetiza dizendo que o deputado “tinha

enfim deveres para com o país, ao qual não podia negar os serviços do seu alto

entendimento! (...) Ia fazer-se oposição! (...) Muitas vezes este grande ato político

foi chamado uma ‘indecente traição’. Nada mais absurdo” (Conde de

Abranhos,1962, p.446). Revelar os interesses pessoais de Alípio para, em seguida,

afirmar que sua decisão de mudar de partido dera-se porque tinha “deveres para

com o país”, funciona como estratégia irônica porque acentua a incongruência

entre uns (os reais interesses) e outros (os usados como justificativa para a

traição). O contraponto, seguido da expressão indignada diante da “suposta”

traição – “Nada mais absurdo” –, é de uma carga irônica tal que acentua o caráter

hipócrita do deputado (LOTTERMANN, 2012, p. 41-64).

Segundo Lottermann (2012), Z. Zagalo também aponta o tratamento que

o deputado Alípio dispensa aos pobres e suas ideias sobre justiça social:

Já então revelava o seu gosto pelo luxo, pelas largas habitações tapetadas, pelo serviço harmonioso de lacaios disciplinados. A pobreza e os seus aspectos era-lhe odiosa. Quanta vez, mais tarde, quando ele subia o Chiado pelo meu braço, eu me vi forçado a afastar com dureza os pobres (...) o conde, se os via muito perto, “ficava todo o dia enjoado”. Todavia a sua caridade é bem conhecida, e o asilo de S. Cristóvão, a que em parte deveu o seu título, aí está como um atestado glorioso da sua magnanimidade. (Conde de Abranhos,1962, p. 378).

E o que vem a ser o tal asilo? Uma forma de caridade regulamentada

pelo Estado:

O Estado forneceria grandes casarões, com celas providas de uma enxerga, onde seriam acolhidos os miseráveis. Para conseguir a admissão, deveriam provar serem de maior idade, haverem cumprido os seus deveres religiosos, não terem sido condenados pelos tribunais (isto para evitar que operários de idéias subversivas que, pela greve e pelo deboche, tramam a

destruição do Estado, viessem, em dias de miséria, pedir a esse mesmo Estado que os recolhesse). Deveriam ainda provar a sobriedade dos seus costumes, nunca terem vivido amancebados nem possuírem o hábito de praguejar e blasfemar. (...) todo o pobre admitido seria forçado a uma considerável soma de trabalho, segundo as suas aptidões. (Conde de Abranhos, 1962, p. 379)

De acordo com Lottermann, no regulamento para essa instituição,

elaborado por Alípio Abranhos, constava, para gáudio de seu secretário, um

parágrafo particularmente “delicioso”:

O mais útil parágrafo, a meu ver, é aquele que determina que grupos de pobres sejam forçados a calçar as ruas, colocar as canalizações de gás, trabalhar em monumentos públicos, etc. Tais serviços, todos em favor da Câmara Municipal, obriga-lá-iam a concorrer para a despesa desta instituição, aliviando assim o Estado de uma grande parte dos gastos. Uma vez admitidos, os recolhidos perderiam o direito de sair – a não ser que provassem que iriam dali ser empregados, de tal sorte que não lhes fosse possível recair nos acasos da miséria. (Conde de Abranhos, 1962, p. 379).

LOTTERMANN, Clarice. Z. Zagalo e Brás Cubas: ironia e dissolução. In: FORTES, Rita Felix e CRUZ, Antonio Donizeti da.

Literatura brasileira: sociedade e mito. Cascavel: Edunioeste, 2012, p. 41-64.

Segundo o regulamento, os mendigos teriam abrigo e três refeições

diárias e, em troca, trabalhariam ser receber nada. Em outras palavras, o

ilustre deputado idealizava um sistema de caridade pública graças ao trabalho

escravo de miseráveis. O que leva seu secretário a uma contundente

declaração:

Em nenhuma legislação humana conheço instituição tão justa, tão eficaz, tão

profundamente cristã, tão beneficamente social (...) o pobre fica prisioneiro da

caridade! Perde o direito de ter fome. E as classes dirigentes, tendo a certeza de

que os seus pobres lá estão, bem aferrolhados, com uma razoável enxerga e um

caldo diário, podem dormir descansadas, sem receio de perturbações da ordem ou

de revoltas do pauperismo. (Conde de Abranhos, 1962, p.380).

Nessa primorosa passagem, as repetições “tão justa, tão eficaz, tão

profundamente cristã, tão beneficamente social”, pelo evidente exagero e contraste

ao que de fato era o sistema prodigalizado pelo deputado, salientam seu teor

sarcástico, deixando o ferrão – a cutilada – bem exposto. A exclamativa – “o pobre

fica prisioneiro da caridade!” – acentua o caráter irônico de uma tal instituição que

permitira – dentre outras grandes contribuições para o progresso da nação, decerto!

– ao deputado ser agraciado com o título de conde. (LOTTERMANN, 2012, p. 41-

64).

E algumas situações que estão bem perto de você podem ser alvo de

ironia? Pense nisso!

Eça de Queirós, em sua obra O conde de Abranhos, que foi publicada em

1879, retrata a condição de um político cujas ações eram imorais e escandalosas.

No entanto, ele continuou impune.

• Você percebe alguma proximidade desta obra literária com alguma situação

atual brasileira?

• No Brasil existem condes? Quem são?

• O texto menciona o caráter interesseiro de Alípio quando troca de partido.

Escreva um parágrafo tecendo suas considerações sobre o comportamento

de alguns políticos frente a esta situação.

• Releia o fragmento da obra de Eça de Queirós, perceba seu teor irônico e

faça associações com o real contexto brasileiro.

Em nenhuma legislação humana conheço instituição tão justa, tão eficaz, tão profundamente cristã, tão beneficamente social (...) o pobre fica prisioneiro da caridade! Perde o direito de ter fome. E as classes dirigentes, tendo a certeza de que os seus pobres lá estão, bem aferrolhados, com uma razoável enxerga e um caldo diário, podem dormir descansadas, sem receio de

perturbações da ordem ou de revoltas do pauperismo. (Conde de Abranhos, 1962, p.380).

- Que palavras revelam exagero, sarcasmo?

- Que políticas sociais são implantadas para diminuir a pobreza no Brasil?

- Elas são reais ou merecem ser atingidas pelo ferrão da ironia?

Compartilhando conhecimentos

Sob a orientação de seu professor, elabore, com os colegas de classe, um

painel com as produções feitas, destacando os temas polêmicos contidos nos

textos de humor e ironia para visitação dos demais alunos da escola.

ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

Caro colega:

Este material foi produzido com o intuito de desenvolver o interesse pela

leitura e a capacidade de pensar e agir humanamente de forma crítica e autônoma

através do riso e humor crítico. Por isso, os textos e as atividades selecionadas

primam pela construção do conhecimento no processo social, a fim de que os alunos

venham a fazer ligações dessas leituras com a própria realidade, tendo

envolvimento crítico e constante em sua aprendizagem.

Sendo a escola um espaço privilegiado, onde o ato de ler deve ser

democratizado, torna-se relevante proporcionar momentos de reflexão, para que o

aluno, especialmente aqueles que não tiveram acesso à leitura na idade escolar,

percebam a literatura e o riso como uma forma de arte, capaz de humanizar a

sociedade.

Assim, optou-se por trabalhar com gêneros mais curtos e com textos que

privilegiem o humor e a ironia. Tais textos foram selecionados levando em

consideração um processo contínuo e gradativo, de textos mais simples para os

mais complexos, para que os alunos deem conta de ler textos imprescindíveis para a

sua realização profissional e pessoal, face às novas exigências que surgem ao

longo do tempo.

Com sua experiência profissional você poderá estimular os alunos a refletirem

sobre os diversos gêneros textuais que circulam na sociedade e que são

apresentados no decorrer das atividades. Incentive-os a se posicionarem perante as

diversas situações de forma alicerçada, para que desenvolvam o espírito crítico com

capacidade de analisar. Você poderá expandir as estratégias que foram sugeridas.

Para atender aos dispositivos legais, pertinentes à Lei de Direitos Autorais, nº

9.610/98, foram indicados, nesta Unidade Didática, endereços de sites, vídeos,

filmes e obras, onde poderão ser encontrados, integralmente, os materiais

necessários para que as atividades sejam realizadas.

REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 2000. BERGSON, Henri. O riso: ensaio sobre a significação do cômico. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BONINI, Altair. História. Movimentos sociais, políticos e culturais na sociedade contemporânea: é proibido proibir? Curitiba: SEED-PR, 2006. CAMARGO, Maria Lígia Marcondes de. Música/movimento: um universo em duas dimensões; aspectos técnicos e pedagógicos na Educação Física. Belo Horizonte: Villa Rica, 1994. CEREJA, William Roberto. Ensino de literatura: uma proposta dialógica para o trabalho com literatura. São Paulo: Atual, 2005. COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo horizonte: Autêntica, 2008. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI. 3. ed. Rio de Janeiro, 1999. HUTCHEON, Linda. Teoria e política da ironia. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. LOTTERMANN, Clarice. Z. Zagalo e Brás Cubas: ironia e dissolução. In: FORTES, Rita Felix e CRUZ, Antonio Donizeti da. Literatura brasileira: sociedade e mito. Cascavel: Edunioeste, 2012, p. 41-64. MEDEIROS, Martha. Poesia reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999. MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Comunicação & Educação. São Paulo, ECA. Moderna, [2]: 27 a 35, jan./abr. de 1995. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretrizes curriculares estaduais de educação de jovens e adultos. Curitiba, 2006. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretrizes curriculares estaduais de língua portuguesa para educação básica. Curitiba, 2008. QUEIROZ, Eça de. O conde de Abranhos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1962. TODOROV, Tzevtan. A literatura em perigo. 2. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias brasileiras de verão. Rio de Janeiro: Fontanar, 2009.

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Acesso em 07/11/2012.