ficha de leitura completa

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Título: História da África Negra Autor: Joseph Ki-Zerbo Publicação: Paris Data: 1972 Páginas: 453 Tradução: Américo de Carvalho Informações sobre autor Nacionalidade: Alto Volta (Actual Burkina Faso) Nascimento: 21 de Junho de 1922 Morte: 04 de Dezembro 2006 Percurso Profissional: Diplomou-se em Paris pelo Institut de Etudes Politiques em 1954 e atingiu o grau de agregé em História pela Universidade de Sorbona. Foi um conceituado e respeitado escritor, publicando em 1972 Histoire de l´ Afrique Noire, foi membro do Comité Científico para Elaboração da História Geral da África pela UNESCO em oito volumes assumindo a direcção do I° Volume (Méthodologie et Pré- Histoire Africane) lançado em 1981. Exerceu o cargo de Director-geral da Educação Nacional do Alto Volta, também leccionou na Universidade de Ouagadougou. Desde 1958 até a sua morte, participou de forma activa na política do seu país onde foi um dos líderes do Parti pour la Democracie et le Progrés (PDP). O autor já publicou outras obras como: Histoire et conscience négres , História da África Negra Vol. I, II, Le natte des autres: Pour un developpemen endogéne en Afrique, La tradition orale en tant que source de l´Histoire africaine, e outros. 1

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Page 1: Ficha de Leitura Completa

Título: História da África Negra

Autor: Joseph Ki-Zerbo

Publicação: Paris

Data: 1972

Páginas: 453

Tradução: Américo de Carvalho

Informações sobre autor

Nacionalidade: Alto Volta (Actual Burkina Faso)

Nascimento: 21 de Junho de 1922

Morte: 04 de Dezembro 2006

Percurso Profissional:

Diplomou-se em Paris pelo Institut de Etudes Politiques em 1954 e atingiu o grau de agregé em História pela Universidade de Sorbona.

Foi um conceituado e respeitado escritor, publicando em 1972 Histoire de l´ Afrique Noire, foi membro do Comité Científico para Elaboração da História Geral da África pela UNESCO em oito volumes assumindo a direcção do I° Volume (Méthodologie et Pré- Histoire Africane) lançado em 1981.

Exerceu o cargo de Director-geral da Educação Nacional do Alto Volta, também leccionou na Universidade de Ouagadougou.

Desde 1958 até a sua morte, participou de forma activa na política do seu país onde foi um dos líderes do Parti pour la Democracie et le Progrés (PDP).

O autor já publicou outras obras como: Histoire et conscience négres , História da África Negra Vol. I, II, Le natte des autres: Pour un developpemen endogéne en Afrique, La tradition orale en tant que source de l´Histoire africaine, e outros.

O tema( História da África Negra), já foi tratado por outros autores como: Boubacar N. Keita, Elikia Mbokolo, Ibrahim B. Kaké.

Tipo do livro

É um livro de História.

Os temas abordados nesta obra estão actualizados na sua maioria.

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Page 2: Ficha de Leitura Completa

Por se tratar de um livro de História da África Negra, não escapou e não tem escapado ás críticas acesas da comunidade científica tanto africanistas ou eurocentristas, uma vez que os temas que aqui são abordados mexem e solidificam os alicerces da História Universal, bem como os seus autores.

O livro tem uma grande importância no meio científico e académico, pelo facto de tratar sem Preconceitos e ideologias exacerbadas e os temas nela contida. Trata de temas partindo da Pré-História, depois abordando o surgimento, apogeu, o declínio dos impérios e estados africanos, até a abertura do continente ao exterior para o estabelecimento dos primeiros contactos com os povos d´além mar.

As fontes utilizadas.

Para elaborar esta obra, o autor utilizou várias fontes onde podemos destacar as fontes escritas: dentro destas vamos encontrar algumas classificadas da seguinte forma:

-Fontes antigas (egípcias, núbias, e greco-latinas)

- Fontes árabes, fontes europeias, e finalmente fontes africanas – recentes- (meroítas, etíopes) etc…

Metodologia utilizada

Ao que se pode entender da obra quanto aos métodos ou as técnicas que ele utilizou para o tratamento das fontes, dentro desses métodos temos: o comparativo, histórico, dedutivo, estatístico, e outros…

História da África Negra

Capítulo II

A África Negra na Antiguidade

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Page 3: Ficha de Leitura Completa

-Para falarmos da antiguidade negro-africana, primeiramente devemos nos apegar em duas premissas determinantes para que possamos entender o que foi, e como foi este capítulo da História do continente africano. Assim sendo, colocam-se as seguintes questões: Aonde? Quando?

-Em termos espaciais, o imponente e poderoso Vale do Nilo, serviu de suporte físico para o surgimento e desenvolvimento da antiguidade negro-africana.

-Já em relação ao aspecto temporal, o ano de 4000 a.C, marca o início da Antiguidade, precedendo a Pré-História, tendo o seu culminar em 476 iniciando a Idade Média.

-Só assim, é que estaríamos em condições de abordar ou tratar da Antiguidade negro-africana falando especialmente do Egipto e da Núbia.

I – O Egipto antigo

As origens

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Page 4: Ficha de Leitura Completa

-No decorrer do 4º milénio a.C, o vale do rio Nilo foi palco de um desenvolvimento plurifacetado e próspero de uma vasta gama de populações que estiveram na base da elaboração da primeira civilização histórica da humanidade: a do Egipto dos Faraós.

-Ao considerarmos certas leis sociológicas e naturais, consegue-se esclarecer as origens do progresso e prestígio alcançado pelos egípcios.

-Os homens do Neolítico como agricultores natos, tinham os pontos de água permanentes como locais de preferência. Deste modo, a partir de 3500 a.C por causa de alterações meteorológicas e outras, o clima da África tropical começou a deformar-se. O Sara que até a esta altura era um enorme estaleiro com vida abundante começou a tornar-se um ponto de escassez acentuada e que dificultava a vida animal e humana.

-Com o facto, tanto os homens como os animais passaram a procurar refúgios ao longo dos rios de maiores dimensões e mais caudalosos. Em pouco tempo, já estavam aí instalados totalmente os homens do neolítico. Mas com o passar do tempo, o vale do Nilo a fervilhar de vida atraía uma vaga de emigrantes fustigados pelo deserto e vislumbrados pelas maravilhas do rio <<benfeitor>>.

-Depois de se fixarem ao longo do vale do rio Nilo e com o afluxo frequente de povos vindos de diferentes partes do mundo aglutinados na faixa verde do Nilo. Com o passar do tempo, estes povos eram forçados a progredir e a organizarem-se rapidamente sob pena de exterminarem-se pela sua própria anarquia, seu número espantoso ou á invasão estrangeira.

-O vale formava uma unidade geográfica e urgia a necessidade de se estabelecer um eixo hegemónico Uno. Durante estas lutas sucederam-se intensas e múltiplas trocas culturais e biológicas que acompanharam durante séculos o estabelecimento dos povos em volta do Nilo, e que acabaram por dar á organização do povo egípcio o estatuto ou nível de uma grande civilização.

-A partir de -5000 aparece a utilização do cobre trabalhado por martelagem e depois por moldagem. Para além do cobre, o ouro, a prata, o ferro, e o chumbo também passaram a ser trabalhados. Aí os chefes sentiram a necessidade de se aperfeiçoar esta estrutura do ponto de vista militar e diplomático para sobrepor-se ao inimigo, e no entanto iam aumentando a confiança dos chefes. Após uma tentativa frustrada dos Nortistas, o rei do sul, Narmer conseguiu finalmente unificar todo vale do nilo até a primeira catarata passando a ostentar uma dupla coroa, a vermelha e a branca representando o Sul e o Norte respectivamente.

-Saía assim das trevas da pré-história um povo amadurecido e original.

A evolução

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Page 5: Ficha de Leitura Completa

-O antigo Egipto existiu por quase 4 milénios e conheceu ao longo da sua história 3 grandes períodos com seus respectivos períodos intermédios.

a) O império antigo: da Iª dinastia á 12ª dinastia (-3500 a 2000 a.C).

-As duas primeiras dinastias até ao momento são muito mal conhecidas, mas ao que parece devem ter consolidado os fundamentos sociopolíticos e artísticos já existentes congregando todas as forças económicas e espirituais do vale, permitindo assim o surgimento da 3ª dinastia e da 4º com os faraós que inscreveram os seus nomes na História do Egipto com a construção das imponentes e majestosas pirâmides de Gizeh: Quéops, Quéfren e Miquerinos.

-A partir do reinado da 5ª dinastia surgem algumas revoltas (a partir do norte) mas com certeza sublevações principalmente no seio das populações para aceder ao privilégio do julgamento de Osíris até aí então concebido apenas aos faraós, tudo isto por força da tão almejada igualdade democrática no além.

b) O império médio: da 12ª á 18ª dinastia (-2000 a 1588 a.C).

-Do sul, veio o restaurador Amenhemet I que conseguiu expulsar do Egipto do Egipto os invasores Asiáticos ( Khetos ou Hicsos). Na dinastia subsequente (a 13ª) as invasões recomeçam e com mais intensidade. Os Hicsos chegaram mesmo a fundar a 17ª dinastia.

c) O império Novo (-1580 a 1100 a.C).

- Amenófis I, proveniente do sul expulsa os Hicsos, fixa-se em Tebas e instaura a paz e a prosperidade por dois séculos.

-Amenófis IV, também destacou-se por estabelecer uma reforma religiosa, se bem que efémera, mas mexeu com a estrutura da civilização egípcia. (Reforma esta na tentativa de instituir o um Monoteísmo).

A civilização Egípcia

a)- Do ponto de vista sociopolítico

-A estratificação da sociedade egípcia era feita da seguinte forma:

-Na base, o povo anónimo dos Camponeses que constituíam a maior parte da população. A vida destes homens era dura e muito sofrida.

-O Clero egípcio, estava na prática focado ao serviço dos deuses, não ocupava-se em pregar, mas vigiava os ritos e as crenças atentamente.

-O Exército egípcio era formado na sua maioria por arqueiros e piqueiros núbios.

-A Administração do Egipto surgiu da necessidade de controlar a vida social. Encarrega-se dos campos, dos soldados, do comércio, da justiça, etc…

-O Escriba constitui o elemento fulcral de todo aparelho sociopolítico, era um cobrador de impostos, e tinham acima de sí o Vizir.

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Page 6: Ficha de Leitura Completa

-No topo da pirâmide social encontrava-se o Faraó, um ser diferenciado por fazer parte da vida divina. Era visto como responsável da regularidade dos astros e das enchentes do Nilo – Dádiva da sustentação das populações e fonte de poder.

b)-A escrita

-Foi uma das maiores invenções da história da humanidade, permitiu a libertação das forças vivas da sociedade, favorecendo a capitalização e difusão de ideias.

c)-As ciências

-Embora sendo embriões, ostentavam uma profundidade fora de comum naquela altura. Dentre as variadas áreas pontificam a Matemática, Medicina, Astronomia, onde as formas para calcular várias figuras geométricas, o domínio da circulação sanguínea, uma farmacopeia riquíssima, um calendário coerente constituíam as notas de realce.

d)-As artes

-A arte egípcia era constituída pela arquitectura, escultura, gravura, pintura, etc… O eclectismo e a simplicidade aliada a imponencialidade eram as características mais marcantes e visíveis.

e)-A religião e o sentido da vida

-Heródoto, numa das viagens que fez ao Egipto, afirmou que o povo egípcio era o mais religioso do mundo. Era uma religião politeísta. Os templos constituíam o expoente máximo quanto a adoração. A religião egípcia era no fundo um vitalismo, o cosmo é um estaleiro e um campo de batalha entre as forças do caos e da perversão por um lado e as forças do equilíbrio, da ordem por outro. O coração era considerado como um ser independente em cada indivíduo e terá de prestar testemunho no dia que for pesada a alma.

Os Negros no vale do Nilo

-A respeito da participação dos negros na história do Egipto, pode-se evocar argumentos geográficos, antropológicos e culturais. De forma resumida, apresenta-se agora alguns dados que provam de forma clara o importante papel desempenhado pelos negros.

a)-Argumentos geográficos

-A mais antiga população do Sara até ao período histórico era formada na sua maior parte por negros. O estilo antropométrico e sociológico das gravuras e pinturas do Sara neolítico, e se tivermos em conta que no momento em que o Sara se desertificou, os negros aí estavam na sua maior parte e foram os primeiros a partir em busca de terrenos mais húmidos tendo encontrado esses terrenos no Nilo.

b)-Argumentos antropológicos

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Page 7: Ficha de Leitura Completa

A efígie do Egipto histórico verifica-se a frequência dos tipos negróides em todos os níveis da sociedade. Os Faraós Quéfren e Djoser apresentam também características negróides. Numa paleta, um Faraó é representado com a mesma cor que os prisioneiros núbios.

Um outro dado é que os Egípcios, os Colquídios e os Etiópes são os únicos homens que se circuncidam desde tempos imemoriais.

c)-Parentescos culturais

-O parentesco é notável tanto nas culturas materiais, como na sociedade e na sociedade e na concepção de cultura do mundo. O costume dos presentes aos sogros do noivo, a circuncisão, o incesto real, as tranças, etc… O nome Ámon existe na Costa do Marfim. As insígnias do exército egípcio e as do mani Congo eram ídolos levantados sobre hastes.

A Núbia

-A sul da primeira catarata do Nilo, estendia-se um país chamado Cuxe pelos gregos. Foi povoado da mesma maneira que o Egipto, mas era menos favorecido pela natureza (numerosas cataratas, relevo acidentado e pedregoso. Serviu de território de exploração para o Egipto durante muito tempo, mas depois conseguiu submeter os Egipto.

-Ao longo da sua história, a Núbia passou por três etapas fundamentais, a saber:

a)- A Núbia, terra de exploração

-O próprio termo Núbia provém da raiz Noub, que significa <<ouro>>. Desde as primeiras dinastias egípcias, parece que os Faraós se empenharam na exploração comercial. Foram construídos fortes para proteger este tráfico.

b)- Cuxe á conquista do Egipto.

-Este longo período de trocas comerciais mais ou menos pacífico deve ter reforçado ainda o poder da Núbia. A partir de 1100 a.C, começa no Egipto uma nova fase de perturbações e já o vice-rei de Cuxe, agora Vizir de Tebas, controlava a maior parte do Egipto.

-Na história da Núbia destacaram-se inúmeros reis, como são os casos de: Khasta, sucedido pelo seu filho Piankhy (-750 á 716 a.C). Ainda temos a destacar Shabaka (-716 á 701), irmão e sucessor de Piankhy.

c)-Cuxe depois do Egipto

Os descendentes de Tanwetamani (um dos últimos reis da Núbia com algum protagonismo) continuaram a instalar-se reis do Alto e do Baixo Egipto. Mas o destino da Núbia será separado do destino do Egipto, dominado pela dinastia Saíta.

Conclusão

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Page 8: Ficha de Leitura Completa

-Depois de ter lido e compreendido o capítulo, posso dizer que o autor tem um estilo simples de escrever, mas o livro ou o capítulo lê-se com dificuldade.

-Deu para aprender muita coisa que nem com a metade do espaço que utilizei para elaborar esta fixa de leitura daria para esboçar o que pude aprender. Mas posso citar algumas coisas:

-Aprendi que não se deve confundir cultura e raça, aprendi também que dos contactos entre os povos da antiguidade, o continente africano transformou-se totalmente, etc…

-E finalmente quanto a críticas e perguntas, o capítulo em que trabalhei no momento não vejo razões para faze-las.

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