ficções diárias

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FICÇÕES DIÁRIAS edição única fevereiro de 2014 PESTE BUBÔNICA ATACA CIDADE DE ORAN NA ARGÉLIA CASO JÁ É MAIS GRAVE QUE A EPIDEMIA QUE DIZIMOU PARTE DA POPULAÇÃO NA IDADE MÉDIA > PAG. 7 CIÊNCIA GLAMOUR E OSTENTAÇÃO NA MANSÃO GATSBY > PAG. 8 SOCIEDADE EMPLASTO BRÁS CUBAS: NOVO REMÉDIO PROMETE A CURA DA HIPOCONDRIA > PAG. 3 POLÍTICA PROCESSO MISTERIOSO CULMINA NA MORTE DE BANCÁRIO > PAG. 6 POLÍCIA ENTREVISTA COM RASKÓLNIKOV: ASSASSINO CONFESSO NO CASO ALYONA IVANOVNA > PAGS. 4 e 5

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FICÇÕES DIÁRIASedição única fevereiro de 2014

PESTE BUBÔNICA ATACA CIDADE DE ORAN NA ARGÉLIA

CASO JÁ É MAIS GRAVE QUE A EPIDEMIA QUE DIZIMOU PARTE DA POPULAÇÃO NA IDADE MÉDIA > PAG. 7

CIÊNCIA

GLAMOUR E OSTENTAÇÃO NA MANSÃO GATSBY

> PAG. 8

SOCIEDADE

EMPLASTO BRÁS CUBAS:NOVO REMÉDIO PROMETE A CURA DA HIPOCONDRIA

> PAG. 3

POLÍTICA

PROCESSO MISTERIOSO CULMINA NA MORTE DE BANCÁRIO

> PAG. 6

POLÍCIA

ENTREVISTA COM RASKÓLNIKOV:ASSASSINO CONFESSO NO CASO ALYONA IVANOVNA

> PAGS. 4 e 5

EDITORIAL O Ficções Diárias é um jornal experimental, resultado de

um Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação Social com habilitação em jornalismo, pela Universidade Federal de Viçosa. Todas as notícias contidas aqui são fictícias, baseadas em obras literárias.

Ao longo da história, jornalismo e literatura já se cruzaram inúmeras vezes, engrandecendo um ao outro. Esse projeto tem como objetivo permitir um novo olhar sobre a confluência des-sas duas áreas.

Os livros reproduzidos são Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; A peste, de Albert Camus; O Pro-cesso, de Franz Kafka; Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski e O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald. Consagrados como clássicos, possuem grande importância no cenário literário e são tidos como atemporais.

Um dos modos de se entender uma nação é conhecendo sua literatura. Através dela, podemos descobrir vários aspectos po-líticos, econômicos e sociais do local. Esses autores, à sua ma-neira, reproduziram fatos do contexto em que viveram, sendo, portanto, retratistas da realidade, assim como os jornalistas.

As notícias são fictícias, mas não distantes da realidade. Ape-sar de um ou outro aspecto mais fantasioso, poderiam constar em jornais tradicionais, pois assim como na ficção, o absurdo também rodeia o mundo real. ▲

EXPEDIENTE

ORIENTAÇÃOLAENE MUCCI

REDAÇÃONINA KOZIOLEKDIAGRAMAÇÃO

NINA KOZIOLEK e DANIEL FARDINREVISÃO

TAÍS PIRES, ANA LOURENÇONI e MARIANA GOUVEIA

IMAGENS NÃO CREDITADASREPRODUÇÃO

EDIÇÃO ÚNICA TIRAGEM 10 EXEMPLARES

FEVEREIRO DE 2014

FICÇÕESDIÁRIAS

VAN GOGH

Depois de anos de estudo e pesquisa, uma medição para curar todos os males do espírito, como a melancolia e a falta de

propósito, foi lançada: o Emplasto Brás Cubas. O inventor, Brás Cubas, morto devido a uma pneumonia, não pode ver seu trabalho sendo reconhecido. O emplasto só veio ao conheci-mento da medicina por causa de seu amigo de infância, Quincas Borba.

O medicamento é usado através da pele, como uma compressa ou cataplasma, aque-cendo assim os tecidos cutâneos e provocando efeito direto sob a hipocondria e outros males.

O inventor do emplasto, Brás Cubas, contou ao amigo que a ideia lhe ocorreu numa manhã, durante um passeio em uma chácara, e que lhe pareceu uma invenção sublime. Brás Cubas também confessou ao amigo, ainda vivo, que seu maior desejo com o emplasto não era o de curar pessoas e sim de obter fama. “O que o influiu principalmente foi o gosto de ver im-pressas nos jornais, mostradores, folhetos, es-

quinas, e enfim nas caixinhas do remédio, es-tas três palavras: Emplasto Brás Cubas.”, conta Quincas.

Infelizmente, a medicação só alcançou su-cesso após a morte do inventor e ele não viveu para poder assistir seu nome estampado, como gostaria. Quando ainda se dedicava a aprimo-rar a invenção, adoeceu e não se tratou.

Procurado para dar entrevista sobre o as-sunto, Quincas só sabia falar de sua filosofia conhecida como Humanitismo, não se mos-trando muito interessado em discorrer sobre o

medicamento do amigo.Uma pesquisa foi feita com 18.201 pacientes

e demonstrou a eficácia do novo medicamento sobre o tratamento normalmente utilizado nos pacientes que sofrem de hipocondria.

Cerca de 96% dos pacientes que fizeram uso do medicamento apresentaram significativa melhora. Destes, 54% já não apresentavam nenhum dos sintomas da doença.

Os resultados foram apresentados ontem no Congresso de Medicina Brasileira, em Brasília. Acredita-se que até o fim do ano o Emplasto Brás Cubas já esteja disponível para venda em todas as farmácias. ▲

EMPLASTO BRÁS CUBAS: DESCOBERTO NOVO MEDICAMENTO CAPAZ DE CURAR A HIPOCONDRIA E OUTROS MALES DA HUMANIDADEMedicamento criado por Brás Cubas pode ser lançado ainda esse ano

NOTÍCIA BASEADA NO LIVRO MEMÓRIAS

PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (1881),

DE MACHADO DE ASSIS.

96% dos pacientes que fizeram uso do

medicamento apresentaram significativa melhora

no tratamento

f i c ç õ e s d i á r i a s 3 c i ê n c i aROBERT TOM

O caso do assassinato de Alyona Ivanovna, que supostamente já

estava solucionado, apresen-tou uma reviravolta na última semana. Rodion Românovitch Raskólnikov, ex estudante de direito, se entregou à polícia como o assassino da agiota e re-latou detalhadamente o crime.

Nikolai Dementiev, um pintor que trabalhava no local do assassina-to, havia se confessado como culpado antes. Porfíri Pietróvitch, o encarregado da investigação do assassinato, diz que sempre acreditou na inocência de Nikolai e que sua confissão provavelmente foi ocasionada por confusões mentais.

O CRIME

No dia 25 de julho, sob o pretexto de tratar um negócio com Alyona, Raskolnikov conse-guiu entrar em seu apartamento. Ao entregar a ela uma bolsa amarrada com vários nós, ele sacou o machado e desferiu vários golpes até ter certeza de sua morte.

Alyona Ivanova, 60 anos, trabalhava con-cedendo empréstimos em troca de bens a se-rem penhorados, com juros extremamente altos. O assassino acabou matando também a irmã de Alyona, Lisavieta, que o surpreendeu na cena do crime. As duas morreram imedia-tamente após serem golpeadas.

4 f i c ç õ e s d i á r i a s p o l í c i a

Rodion Românovitch Raskólnikov conta, em entrevista, suas motivações para o crime

HOMEM SE ENTREGA E CONFESSA ASSASSINATO DE ALYONA IVANOVNA

AMY COYLE

Alguns objetos de valor que se encontra-vam em uma arca dentro da casa foram le-vados. Entretanto, Raskolnikov conta não ter usufruído deles, já que ao deixar o local do crime os escondeu debaixo de uma pedra no pátio Próspekt Vosniessiénski. O criminoso contou ainda que teve que se esconder num cômodo vazio no prédio antes de sair, para não ser notado.

O ASSASSINO

O jovem Raskolnikov vivia em um sótão no último andar de um prédio, em São Peter-sburgo, em condição de miséria. Estudava di-reito, porém, abandonou a faculdade por falta de recursos financeiros. Planejou o assassina-

to de Alyona como uma for-ma de obter dinheiro, não apenas para ele. Acreditava fazer também um bem para a humidade, pois, em suas palavras, a agiota era um

“verme humano”. Seu relato à polícia não dei-

xou dúvidas de que ele é o cri-minoso. Toda a descrição do crime

bateu com as informações levanta-das. Os objetos roubados foram enu-

merados, assim como o lugar onde esta-vam escondidos foi revelado.

Dmitri Razumikhin, amigo de Raskolnikov, o descreve como áspero, severo, altivo e orgulhoso. “Já há meio ano que convivo com Rodka. Nos últimos tempos tornou-se rabugento e neurótico. Não gosta de exteriorizar os seus sentimentos e prefere proceder com dureza a revelar por meio de palavras aquilo que guarda no seu coração. Às vezes não é nada neurótico, mas apenas frio e de uma insensibilidade que toca a desumanidade; como se nele alternassem dois personagens desencontrados.”

Por haver confessado o crime e pelo seu bom histórico, a pena de Raskolnikov foi re-duzida para oito anos confinado numa prisão na Sibéria. Apesar de ter se entregado, o cri-minoso não apresenta arrependimento.

Antes da prisão, o Ficções Diárias conse-guiu uma pequena entrevista com ele.

f i c ç õ e s d i á r i a s 5 p o l í c i a

Ficções Diárias: O que o levou a cometer o roubo e homicídio de Alyona?

Raskólnikov: Minha tristíssima situa-ção, a miséria e o desamparo, o desejo de iniciar os primeiros passos na vida com o auxílio, pelo menos, de três mil rublos, que eu esperava encontrar na casa da víti-ma. Também devido ao meu desorientado e fraco caráter, irritado pelas privações e pelos fiascos.

FD: Em seu artigo O crime, publicado na Palavra Periódica, você faz uma se-paração das pessoas entre dois grupos. No que elas se distinguem?

R: Eu só tenho fé na minha teoria essen-cial, que é aquela que diz concretamente que os indivíduos se dividem, segundo a natureza, em duas categorias: a inferior (a dos vulgares), isto é, se me permite a ex-pressão, a material, que unicamente é pro-veitosa para procriação da espécie, e a dos indivíduos que possuem o dom da inteli-gência para dizerem no seu meio uma pa-lavra nova. É claro que as subdivisões são infinitas, mas os traços diferenciais de am-bas as categorias são bem nítidos: a primei-ra categoria, ou seja, a matéria, falando em termos gerais, é formada por indivíduos conservadores por natureza, disciplinados, que vivem na obediência e gostam de viver nela. A meu ver eles têm obrigação de se-rem obedientes, por ser esse o seu destino e não ter, de maneira nenhuma, para eles, nada de humilhante. A segunda categoria é composta por aqueles que infringem as leis, os destruidores e os propensos a isso, a julgar pelas suas qualidades. Os crimes destes são, naturalmente, relativos e mui-to diferentes; na sua maior parte exigem, segundo os mais diversos métodos, a des-truição do presente em nome de qualquer coisa melhor. Mas se necessitarem, para o bem de sua teoria, saltar ainda que seja por cima de um cadáver, por cima do sangue, então, no seu íntimo, na sua consciência,

eles podem, em minha opinião, conceder a si próprios a autorização para saltarem por cima do sangue, atendendo unicamente à teoria e ao seu conteúdo.

FD: Você se sente arrependido pelo seu crime?

R: Crime? Qual crime? O de ter morto um asqueroso e daninho piolho, uma ve-lha agiota, que não fazia falta a ninguém, cuja morte pode perdoar tantos pecados, e que se alimentava do sangue dos pobres? É isso um crime? Eu não creio que o seja, nem penso em lavá-lo.

FD: Você confessou ser culpado do as-sassinato de duas senhoras, o que con-figura num crime. Não concorda com isso?

R: Ah! Meu ato não se revestiu de uma for-ma estética aceitável, mas decididamente não compreendo por que é mais glorioso bombardear uma cidade assediada do que

assassinar alguém a machado. O respeito à estética é o primeiro sinal de impotência. Nunca o senti mais do que agora e com-preendo cada vez menos qual foi o meu crime. E por que meu ato lhes parece tão vil? Por ter sido uma perversidade? O que quer dizer a palavra ‘perversidade’? Minha consciência está tranquila. É claro que foi cometido um crime comum; é claro que foi violada a letra da lei e derramado sangue, mas tome a minha cabeça por letra da lei e basta! Claro, neste caso até muitos benfei-tores da humanidade, que não herdaram, mas tomaram o poder, deveriam ser execu-tados ao darem os seus primeiros passos. No entanto, aqueles homens aguentaram os seus passos e por isso estavam certos, mas eu não aguentei e, portanto, não tinha o direito de me permitir esse passo.”

FD: Então você aceita ter falhado?

R: O sangue, todos derramam. Esse san-gue corre sempre em ondas sobre a terra. Quem o derrama como champanha sobe logo ao Capitólio e é tratado como benfei-tor da humanidade. Eu, porém, desejei o bem da humanidade e centenas de milha-res de boas ações teriam amplamente res-gatado essa única tolice ou, antes, essa de-sastrada ação, pois a coisa não era tão fútil como agora parece. Quando malsucedidos, os melhores projetos parecem estúpidos! Pretendi apenas, com tal tolice, tornar--me independente, assegurar os primeiros passos na vida, depois repararia tudo com benefícios incomensuráveis. Mas saiu-me mal desde o começo. Aí está por que sou miserável! Se tivesse sido bem-sucedido, teriam me coroado, e agora mal sirvo para ser lançado aos cães. ▲

NOTÍCIA BASEADA NO LIVRO CRIME E CASTIGO (1866), DE DOSTOIEVSKI.

ENTREVISTA

"CRIME? QUAL CRIME? O DE TER MORTO UM

ASQUEROSO E DANINHO PIOLHO, UMA VELHA

AGIOTA, QUE NÃO FAZIA FALTA A NINGUÉM, CUJA MORTE PODE PERDOAR

TANTOS PECADOS, E QUE SE ALIMENTAVA DO SANGUE DOS POBRES? É

ISSO UM CRIME?"

6 f i c ç õ e s d i á r i a s p o l í t i c a

MISTERIOSO PROCESSO TERMINA COM MORTE DE BANCÁRIO

Processo, aparentemente sem motivo e acusação, continua sem solução

Na véspera de seu aniversário de 31 anos, o bancário Joseph K. foi preso e leva-do a uma pedreira onde o executaram,

sem nunca ter descoberto qual foi a sua acusa-ção e quem o acusava. O processo, cercado de mistério, está mal esclarecido até hoje.

Um ano antes, na manhã em que completou 30 anos, dia 13 de Agosto, Joseph K. teve sua casa invadida por dois guardas que lhe infor-maram que estava detido. Nenhum deles tra-java uniforme e soube informar o motivo ou mais detalhes do processo. Diante da situação, Joseph conta que pensou ser uma brincadeira dos colegas, pois os guardas tomaram seu café da manhã e ainda lhe acusaram de estar subor-nando-os.

Joseph K tinha um cargo de grande respon-sabilidade em um famoso banco. Seus colegas de trabalho descrevem seu desempenho como ótimo e responsável e que, em sua vida, não havia nada de suspeito ou incorreto, que o pu-desse levar a sofrer um processo.

O primeiro interrogatório se realizou num domingo de manhã. Joseph não fora informado

do lugar exato nem da hora. O tribunal ficava num tipo de cortiço, com muitas salas. O juiz de instrução conduziu o inquérito de maneira grossa e rude, segundo os presentes no local. Seus pedidos por esclarecimentos foram inú-

teis. A única instrução que recebeu foi aguar-dar o “Comitê de Questões”, do qual desconhe-cia a existência.

Joseph K. seguiu tentando saber o motivo de seu processo e quem o teria denunciado, porém não encontrou respostas para nenhuma de suas perguntas. Ao tentar entrar em contato com o judiciário, Joseph não obteve sucesso. Seu pro-

cesso era apenas um dentre muitos não resol-vidos.

Um tio de K. chamado Karl conta que tentou fazê-lo dar mais atenção ao processo e o acon-selhou a procurar por um advogado. Porém, este não deu atenção ao caso, não tendo nem mesmo apresentado a petição aos tribunais.

Relatos de pessoas próximas dizem que Joseph, ao final, se encontrava angustiado e sem esperanças, mas que mantinha a lucidez e tentava estudar o que poderia ser feito. O processo se manteve sem solução e sem explicações. No dia 12 de Agosto, um ano depois do início do processo, os guardas invadiram novamente sua casa. Joseph foi levado a uma pedreira onde foi executado com uma facada no coração. ▲

Bancário teve sua casa invadida por dois guardas que, sem mais

detalhes, lhe informaram que estava detido

NOTÍCIA BASEADA NO LIVRO O PROCESSO (1925),

DE FRANZ KAFKA.

JHON

MOR

GAN

NOTÍCIA BASEADA NO LIVRO A PESTE (1947), DE

ALBERT CAMUS.

A confirmação de que as mortes em Oran, cidade localizada na Argélia, foram causadas pela peste bubônica tem as-

sustado moradores. Os especialistas da área da saúde afirmam tratar-se da mesma peste que dizimou parte da população na Idade Média.

A peste bubônica, também conhecida como Peste Negra, é causada pela bactéria Yersinia pestis e transmitida do rato para o ser huma-no, através da picada de pulga. Ao se instalar na pele, ela entra e se espalha para os gânglios linfáticos, onde se multiplica.

Entre os sintomas estão febre alta, olhos vermelhos, dor de cabeça, gânglios inchados, manchas no corpo, sede intensa, delírio e mal estar gastrointestinal. A doença já matou cer-ca de 25 milhões de pessoas na Idade Média e apesar de ter sido extinta na maior parte do mundo, casos ainda acontecem em regiões com saúde precária.

O médico de Oran, Dr. Bernard Rieux, rela-ta que o primeiro aparecimento de rato morto aconteceu no dia 16 de Abril, pela manhã, em seu prédio. Ele conta que não deu tanta atenção ao fato, mas na mesma noite, outro apareceu.

Logo depois do aparecimento do cadáver do rato, o primeiro caso da peste surgiu, mas não foi identificado como Peste. Só com a aparição de novos doentes, 11 em 18 horas, é que foi percebido que se tratava de uma epidemia, em-bora alguns ainda relutassem em aceitar o fato.

A primeira vítima fatal foi o porteiro do Dr. Rieux, Michel. A partir dele, inúmeras outras se seguiram.

A partir do dia 18 de Abril, a situação come-çou a ficar alarmante. Dezenas de ratos foram achados pelas escadas e em caixotes de lixos das cidades vizinhas. A preocupação tomou conta da população, que não podia mais dar uma volta pela cidade sem notar os ratos mor-tos.

Uma ordem de desratização foi dada para recolhimento dos ratos durante as madrugadas. Os cadáveres foram conduzidos até o forno de incineração de lixo e queimados.

Nos dias seguintes, a situação se tornou alar-mante. O número de roedores mortos cresceu sem controle e a coleta era insuficiente para as grandes proporções existentes.

No dia 25 de Abril, a Agência Ransdoc anunciou que já se contabilizavam 6231 ratos apanhados. No dia 28, o número já havia subi-do para 8 mil. O número de doentes só cresceu a partir daí.

Na terceira semana da peste, já se somavam 302 mortos. Na quinta, 321. Na sexta, 345. No início, a peste causava mais vítimas nos bairros periféricos e mais pobres. Com o tempo, ela se alastrou para o centro da cidade.

A doença provocou mudanças drásticas na cidade de Oran. Depois da sexta semana, me-didas relativas à limitação da circulação de

veículos e ao racionamento da gasolina foram tomadas. Com a decisão, o fluxo de trânsito diminuiu consideravelmente, chegando a ser quase nulo. Em contrapartida, o fluxo de pes-soas aumentou. Foi instituído o toque de reco-lher - a partir das 23 horas, nenhum cidadão poderia sair às ruas. O estado de sítio foi decre-tado, nenhum cidadão poderia sair ou entrar da cidade.

O caso da peste em Oran já é considerado o mais preocupante desde o acontecido na Euro-pa. Por enquanto, todas as medidas possíveis estão sendo tomadas. O estado de sítio perma-nece e o terror também.

O depoimento do Dr. Rieux resume o sen-timento da cidade: “Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acredi-tar neles quando se abatem sobre nós. Hou-ve no mundo tantas pestes quanto guer-ras. E contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas”. ▲

ORAN É ATINGIDA POR EPIDEMIA DE PESTECaso de peste em Oran já é considerado o mais grave desde a Peste Negra

PIETER BRUEGEL

f i c ç õ e s d i á r i a s 7 s a ú d e

f i c ç õ e s d i á r i a s 8 s o c i e d a d e

A mansão de Jay Gatsby, localizada em Long Island, tem sido sinônimo de gla-mour e ostentação. Lá acontecem gran-

diosas festas, com a presença de vários convi-dados da alta sociedade.

O Grande Gatsby, como também é conheci-do o dono da casa, é cercado de mistério. Mi-lionário e ex-oficial da marinha, suas festas são regadas a jazz, muito champanhe e apresenta-ções extravagantes. Há boatos de que ele esteja envolvido com tráfico, contrabando, esteliona-to, no entanto, nada é confirmado.

Uma frequentadora das festas, que preferiu não se identificar, diz: “Foram definitivamente as melhores festas a que já fui. Tudo o que sei de Gatsby é que ele tem um carro Rolls-Royce e suas roupas são da grife Brooks Brother.”

Os frequentadores da mansão não recebem convites. As festas são divulgadas – sabe-se lá como – e as pessoas aparecem. O próprio an-fitrião raramente é visto e sua figura desperta muitos comentários entre todos.

Não se sabe o motivo de tantas festas, mas uma história envolvendo Daisy Buchanan, mu-lher com quem Gatsby teve um relacionamento amoroso antes de ir para a Guerra, circula por aí. Dizem que as festas são uma tentativa de rever a amada, que hoje é casada. Porém, assim como todas as histórias envolvendo o misterio-so homem, nada foi confirmado.

O único fato comprovado é o de que as festas na mansão do Grande Gats-by são inesquecíveis. E se você deseja ver com os próprios olhos, nem precisa de convite, basta aparecer. ▲

FESTAS DO MILIONÁRIO GATSBY VEM CHAMANDO ATENÇÃO

NOTÍCIA BASEADA NO LIVRO O GRANDE GATSBY (1925), DE F. FITZGERALD

BEAT

RIJS

BRO

UWER